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AULA 3
CONTEXTUALIZANDO
Art. 171. A lei pode facultar, nas condições que estabeleça, aos sujeitos
ativo e passivo da obrigação tributária celebrar transação que,
mediante concessões mútuas, importe em determinação de litígio e
consequente extinção de crédito tributário.
Parágrafo único. A lei indicará a autoridade competente para autorizar
a transação em cada caso. (Brasil, 1966)
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Administração Tributária Federal e os contribuintes com débitos em face da
União, regulamentando o instituto da transação tributária. Essa transação é uma
alternativa ao que era praticado por meio da concessão de parcelamentos
especiais (pelo Refis). A MP n. 899/2019 prevê a concessão de benefícios fiscais
nos casos de comprovada necessidade e mediante avaliação individual da
capacidade contributiva (Brasil, 2019a).
Saiba mais
Para entender mais sobre o assunto, acesse os links a seguir e leia uma
matéria a respeito da MP e seu próprio conteúdo, respectivamente em:
<http://www.pgfn.fazenda.gov.br/noticias/2019/mp-do-contribuinte-legal-
negociacao-de-dividas-junto-a-uniao> (Brasil, 2019b);
<http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/medida-provisoria-n-899-de-16-de-outubro-
de-2019-222374340> (Brasil, 2019a). Acesso em: 19 fev. 2020.
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Art. 126. A capacidade tributária passiva independe:
I - da capacidade civil das pessoas naturais;
II - de achar-se a pessoa natural sujeita a medidas que importem
privação ou limitação do exercício de atividades civis, comerciais ou
profissionais, ou da administração direta de seus bens ou negócios;
III - de estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando que
configure uma unidade econômica ou profissional. (Brasil, 1966)
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O Código Tributário Nacional, por seu turno, fecha um pouco mais o
espaço para definição da figura do contribuinte, ao exigir que ele tenha
a discutida relação pessoal e direta com o fato gerador, o que
significa que, conforme seja a descrição do fato gerador, o contribuinte
já poderá ser caracterizado a partir dessa descrição.
Não é por outro motivo que este princípio sinaliza que os impostos
haverão de ter caráter pessoal. De fato, a capacidade contributiva deve
manifestar-se, sempre que possível, na pessoalidade destes tributos,
hipótese em que o legislador, ao estrutura-los, determinará à Fazenda
Pública que, por ocasião do lançamento, leve em conta especificidades
do contribuinte (idade, filhos menores, condições de saúde etc.). Tudo
para que – tornamos a dizer – venham a efetivamente atender ao
primado da isonomia. (Carrazza, 2006, p. 106)
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Para alguns doutrinadores, o lançamento seria apenas um ato
administrativo, não sendo considerado um procedimento, pois, conforme os art.
147, 149 e 150 do CTN, existem três espécies de lançamento: o lançamento
de ofício (realizado pela administração independentemente da participação ou
provocação de terceiros interessados; ex.: Imposto sobre a Propriedade Predial
e Territorial Urbana – IPTU); o lançamento por declaração (ocorre quando é
levado ao conhecimento da autoridade administrativa o acontecimento de um
fato tributável e sua dimensão econômica pelo sujeito passivo, que aguarda o
cálculo do tributo devido e sua notificação por parte da administração, para que
enfim efetue o pagamento correspondente ou para que apresente a sua
impugnação; ex.: Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis e de Direitos a
eles Relativos – ITBI); e o lançamento por homologação (quando a apuração
do montante devido cabe ao sujeito passivo, que também deve realizar o
pagamento do tributo antes da manifestação da autoridade fazendária acerca
dessa apuração; ex.: Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI) (Brasil,
1966).
O lançamento possui natureza declaratória em face da obrigação
tributária e constitutiva do crédito tributário quanto à realidade formal autônoma,
de maneira a ser aplicada ao lançamento a legislação que era vigente
quando da ocorrência do fato gerador. Mas, em relação aos aspectos
materiais da relação tributária a ser acertada e em relação aos aspectos formais
do procedimento, deve ser aplicada a legislação vigente na data em que foi
realizado o lançamento, conforme disposto no art. 144 do CTN (Brasil, 1966).
É necessário, no lançamento, a sua devida fundamentação, para que ele
não seja considerado inválido, da mesma forma que são indispensáveis a
comprovação e a notificação do sujeito passivo, determinando a ele um prazo
para efetivação do pagamento ou impugnação administrativa. Tal impugnação
pode ser realizada pelo sujeito passivo em razão do direito de petição e das
garantias do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa (art. 5º,
incisos XXXIV, alínea a, LIV e LV da CF) (Brasil, 1988), ou seja, o direito
fornecido ao contribuinte de provocar a Administração Pública para que ela
exerça sobre esse ato administrativo a autotutela vinculada ou o seu
autocontrole, decorrente do princípio da legalidade.
Essa autotutela deve ser exercida por intermédio de um processo
administrativo, no qual é assegurada a participação em contraditório do cidadão,
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com amplas possibilidades de defesa. Para que o sujeito passivo provoque o
exercício de autotutela ou autocontrole da Administração Pública é necessário
dar início ao processo administrativo por meio da impugnação, que é o
instrumento utilizado para o exercício do seu direito de defesa.
O lançamento configura um ato administrativo que externa a exigibilidade
da obrigação tributária, dando ensejo à inscrição na dívida ativa como respaldo
de uma eventual execução fiscal. Pela notificação do lançamento ao sujeito
passivo (art. 145 do CTN) (Brasil, 1966), o Fisco demonstra sua pretensão
tributária de modo formal ao contribuinte, de forma a dinamizar a relação
obrigacional. Se, nesse momento, o sujeito ativo (Estado) não tiver formalizado
sua pretensão em face do sujeito passivo (contribuinte); e se, no procedimento
tributário, não houver caráter litigioso, não incidirão as regras de processo
tributário. No entanto, se demonstrada a litigiosidade na relação tributária, diante
da existência de uma pretensão fiscal do Estado (notificação de lançamento); e
se houver a resistência do sujeito passivo (mediante impugnação administrativa
formal), iniciará a etapa de transformação do procedimento de lançamento no
chamado processo administrativo fiscal, presidido pelas garantias processuais
do contribuinte.
Por exemplo: um prestador de serviços deve emitir uma nota fiscal, a cada
prestação de serviço, sobre a qual irá incidir o Imposto sobre Serviços (ISS).
Considerando que o profissional presta serviços no seu município de origem e
também em municípios ao redor, pelo tipo de serviço há a definição de qual
município deverá recolher o ISS. Nesse caso, o prestador realizou o
recolhimento do ISS somente em seu município, em razão de sua atividade,
porém, se vê surpreendido ao receber uma notificação de lançamento por
arbitramento (já com fixação do valor) do município vizinho, para que
apresente as notas fiscais emitidas nos últimos cinco anos, por não ter verificado
o pagamento, desconsiderando a atividade prestada ou considerando que a
atividade prestada não se encaixa no pagamento do município em que está
fixado o estabelecimento do prestador, informando que o ISS deveria ter sido
recolhido no local da prestação do serviço.
O prestador de serviços apresenta sua impugnação administrativa,
juntando todas as notas fiscais emitidas, comprovando o recolhimento do ISS no
município do local de seu estabelecimento. Sendo assim, esse trâmite é o
chamado processo administrativo fiscal, que irá apurar a resposta do
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contribuinte. Caso não haja uma decisão favorável ao contribuinte, será possível
a discussão judicial da situação.
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que, enfim, efetue o pagamento correspondente ou para que
apresente a sua impugnação; ex.: ITBI)
c. Lançamento por homologação (quando a apuração do montante
devido cabe ao sujeito passivo, que também deve realizar o
pagamento do tributo antes da manifestação da autoridade fazendária
acerca dessa apuração; ex.: IPI)
3. Crédito tributário: após a ocorrência da obrigação tributária principal e do
ato administrativo que é o lançamento, está constituído o crédito tributário
e, somente após essa constituição, ele poderá ser cobrado (exigido)
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TEMA 4 – SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO
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incidência de multas e juros, mas em que ainda se queira discutir o valor que
está sendo cobrado (Brasil, 1966). Todas essas hipóteses não fazem com que a
dívida esteja quitada, mas sim suspensa e, durante esse período, o crédito
tributário não poderá ser cobrado, ou seja, o crédito estará com sua exigibilidade
suspensa. Comprova-se aqui que a existência do direito nada tem a ver com seu
exercício ou exigibilidade.
A ocorrência de ao menos uma das causas presentes no art. 151 do CTN
e enquanto ela(s) durar(em) acarretará(ão) a suspensão da exigibilidade do
crédito tributário, tendo como consequência: o bloqueio do ajuizamento de
execução fiscal; ou a suspensão da contagem do prazo prescricional para que
seja ajuizada a ação fiscal, se ela já tiver sido iniciada, causando um efeito
suspensivo, ou impedindo o início da contagem, gerando um efeito impeditivo;
ou, ainda, a não importância, em dispensa do cumprimento de obrigação
acessória ou principal (como preceitua o parágrafo único do mesmo artigo)
(Brasil, 1966).
Outra causa suspensiva da exigibilidade do crédito tributário são as
reclamações e recursos em processo tributário administrativo, de acordo com os
termos das leis que os disciplinam, já que, se o contribuinte apresentar uma
impugnação/recurso, não poderá o órgão administrativo lhe cobrar o valor que
está em discussão. Isso não evita a incidência de multas e juros, caso sejam
julgadas improcedentes as tentativas do contribuinte; mas, enquanto durar o
processo administrativo, não há o dever de pagar, o que pode acontecer ao fim
do processo, pois o crédito tributário tornar-se-á exigível. Dessa forma, cabe
identificar que as leis que regulam o processo administrativo tributário, no que
se refere ao art. 151 do CTN, são as leis das pessoas competentes para legislar,
ou seja, a União, os estados, os municípios e o Distrito Federal. Assim sendo,
não podem negar efeito suspensivo às impugnações e recursos administrativos
as leis federais, estaduais ou municipais, pois o CTN consagra a norma de raiz
constitucional, inafastável, ainda que por meio de lei complementar (Brasil,
1966).
O CTN trata da suspensão da exigibilidade do crédito tributário no seu art.
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III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do
processo tributário administrativo;
IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança;
V - a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras
espécies de ação judicial;
VI - o parcelamento. (AC)
Parágrafo único - O disposto neste artigo não dispensa o cumprimento
das obrigações acessórias dependentes da obrigação principal cujo
crédito seja suspenso, ou dela consequentes.
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dívida, enquanto o parcelamento, introduzido pela Lei Complementar n.
104/2001, figura hipótese de suspensão, existindo a possibilidade da concessão
de tal instituto em normas incompatíveis com o regime jurídico de moratória,
como nas normas que determinam a incidência de juros e multas (Brasil, 2001).
Dessa forma, diferencia-se o parcelamento como espécie de moratória e o
parcelamento em sentido estrito.
Sendo assim, a suspensão da exigibilidade do crédito tributário ocorre
quando o sujeito ativo admite que o cumprimento da obrigação tributária deixe
de ser exigido, sem suspender a obrigação em si ou o crédito tributário.
1. Pagamento.
2. Imputação do pagamento: escolha do devedor, quando houver dois ou
mais débitos da mesma natureza, por um só credor, para indicar a qual
deles oferecerá pagamento, caso todos forem líquidos e vencidos. O
sujeito passivo indica qual débito pretende saldar em primeiro lugar.
3. Compensação: quando duas pessoas são credoras e devedoras uma da
outra ao mesmo tempo, há a possibilidade de suas prestações serem
extintas, dependendo dos seus valores.
4. Transação: acordo celebrado entre duas ou mais pessoas com finalidade
de extinguir o crédito tributário.
5. Remissão: depende de lei expedida pelo ente competente para legislar
sobre o tributo a que se aplica. Consiste na dispensa do pagamento total
ou parcial do crédito tributário e não se aplica às penalidades relativas à
falta de pagamento, mas sim ao tributo devido.
6. Prescrição: perda do direito de ação, perda do prazo para que se ajuíze
uma ação destinada a assegurar um direito; esse não exercício configura
prescrição se, no prazo de cinco anos, contados da data do lançamento
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válido (constituição definitiva do crédito tributário), o credor não cobrar,
mediante via administrativa, seu crédito.
7. Decadência: tem como sinônimo a caducidade, correspondente ao prazo
para o exercício de um direito. Em matéria tributária, refere-se ao
exercício do direito de constituir o crédito tributário por meio do
lançamento. Se, em cinco anos, não se houver realizado o lançamento, o
direito decai e é considerada a sua decadência.
8. Conversão de depósito em renda: o sujeito passivo, ao discutir a validade
da cobrança do crédito tributário, poderá fazer depósito em juízo dos
valores até se apurar se o tributo é ou não devido.
9. Homologação do lançamento: refere-se a tributos sujeitos ao lançamento
por homologação. A lei permite ao sujeito passivo realizar o lançamento
e, se em cinco anos a Administração Pública não se manifestar, se
considerarão extintos os créditos tributários em razão da confirmação.
10. Consignação em pagamento: consiste no depósito judicial do valor devido
e tem efeito de pagamento; ocorre quando a Administração Pública se
recusar a receber o pagamento.
11. Decisão administrativa irreformável: ocorre ao término de um processo
administrativo que não pode mais sofrer alteração em âmbito
administrativo, podendo se extinguir o crédito por não ser considerado
devido o pagamento.
12. Decisão judicial transitada em julgado: decisão proferida por juízo ou
tribunal da qual não cabe qualquer recurso pode provocar a extinção da
exigência do crédito.
TROCANDO IDEIAS
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constituído um crédito tributário; cabe ao sujeito ativo cobrá-lo e ver seu crédito
satisfeito. Não havendo causa de sua suspensão ou extinção, o crédito tributário
pode ser exigido pela via judicial, por meio da execução fisca, porém, o mero
inadimplemento de um tributo não configura cometimento de um crime ou pelo
menos não o deveria configurar.
Saiba mais
NA PRÁTICA
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confessar o débito de forma irrevogável e irretratável, configurando a confissão
extrajudicial.
No curso do parcelamento havido, com o correspondente adimplemento
de parcelas, o contribuinte fica sabendo que a exação fiscal que lhe foi
perpetrada é totalmente insubsistente, em decorrência da isenção de Imposto de
Renda a que tinha direito, diante de ter tido acesso a decisões judiciais sobre a
matéria. Verifica-se que a jurisprudência está se pacificando no sentido de
considerar que a confissão de débitos na via administrativa não implica a
impossibilidade de discutir sua legalidade ou inconstitucionalidade em ação
judicial.
Depois de referidos os conceitos anteriores, cabe mencionar a suspensão
da exigibilidade do crédito tributário, mais especificamente as figuras da
moratória e do parcelamento tributário. A suspensão ocorre quando o sujeito
ativo admite que o cumprimento da obrigação tributária deixe de ser
exigido, sem suspender a obrigação em si ou o crédito tributário, conforme
art. 151 do CTN (Brasil, 1966).
A moratória se exprime pela concessão de melhores condições e prazo
para a execução da dívida (art. 152 e seguintes do CTN), mediante dois
requisitos obrigatórios, que são: o prazo de duração do favor e os tributos a que
se aplica (Brasil, 1966).
Assim, com base na análise dos conceitos abordados, verifica-se que,
ainda que haja confissão, como um requisito para se aderir ao parcelamento;
ainda que a exigibilidade do crédito esteja suspensa, é possível discutir os efeitos
da confissão por via judicial, a fim de verificar que o tributo foi pago
indevidamente, extinguindo o crédito tributário a que se refere o parcelamento e
tendo direito o sujeito passivo à restituição dos valores porventura já pagos.
FINALIZANDO
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Verificamos, também, a diferença entre competência tributária e
capacidade tributária ativa e passiva e entre as figuras de contribuinte de fato e
contribuinte de direito, bem como o princípio da capacidade contributiva.
Acerca da relação jurídica ocorrida em decorrência da incidência da
norma disposta na lei tributária, depois de acertada, quantificada e liquidada,
remete-se a outra fase, denominada crédito tributário. A constituição do crédito
tributário ocorre mediante lançamento, que é um ato praticado pela
Administração Pública. Ainda que a obrigação tributária tenha surgimento com o
fato gerador, o crédito só é constituído e exigível a partir do seu lançamento.
Ainda falando sobre crédito tributário, estudamos as causas de suspensão
da sua exigibilidade e também as suas causas de extinção.
Após nossos estudos desta aula, continuaremos a construção dos
institutos abordados pela disciplina. Bons estudos!
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REFERÊNCIAS
AMARO, L. Direito tributário brasileiro. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
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antigas/2018/2018-08-28_07-51_Nao-recolhimento-de-ICMS-pode-caracterizar-
crime.aspx>. Acesso em: 8 fev. 2020.
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