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Capítulo 13

Sistema Tributário Nacional

1. Definição de tributo
Conforme ensina Ruy Barbosa Nogueira, “os tributos (...) são as receitas
derivadas que o Estado recolhe do patrimônio dos indivíduos, baseado no
seu poder fiscal (poder de tributar, às vezes consorciado com o poder de
regular), mas disciplinado por normas de direto público que constituem o
Direito Tributário” (1995, p. 155).

1.1 A prestação pecuniária


O tributo é prestação pecuniária, isto é, a obrigação de prestar dinheiro
ao Estado. O art. 3º do CTN, em sua parte inicial, dispõe que “tributo é toda
prestação pecuniária compulsória, em moeda (...)”. Não obstante a
redundância no dispositivo, é possível asseverar que o dispositivo objetivou
evitar o tributo in natura (em bens) ou o tributo in labore (em trabalho, em
serviços). A pecúnia representa a prestação em dinheiro, em moeda corrente
(Real, no Brasil) ou em cheque, conforme o art. 162, I, CTN.
Este preceptivo dispõe que, além da moeda e do cheque, pode-se pagar
o tributo por meio de vale postal (inciso I) e, havendo previsão em lei, por
estampilha, papel selado ou por processo mecânico (inciso II).
O caráter pecuniário é requisito inafastável para a configuração do
fenômeno tributário. Não há como estabelecer associação entre tributo e a
obrigação que não seja pecuniária, v.g., a de prestar serviço militar
obrigatório, ou a de trabalhar no Tribunal do Júri ou nas eleições. Por
derradeiro, insta mencionar que a obrigação de pagar o tributo – ou a multa
– é chamada de obrigação principal (art. 113, § 1º, CTN).
Além disso, o art. 114 do CTN reza que “o fato gerador da obrigação
tributária principal é a situação definida em lei como necessária e suficiente
à sua ocorrência”. Assim, é possível correlacionar o caráter pecuniário do
tributo com o princípio da legalidade tributária.

1.2 A prestação compulsória


O tributo é prestação compulsória, logo, não contratual, não voluntária
ou não facultativa. Com efeito, o Direito Tributário pertence à seara do
direito público, e a supremacia do interesse público dá guarida à imposição
unilateral de obrigações, independentemente da anuência do obrigado.
A prestação pecuniária é dotada de compulsoriedade, ou seja, de
coercibilidade, não dando azo à autonomia de vontade. Traduz-se o tributo
em receita derivada, uma vez cobrada pelo Estado, no uso de seu poder de
império, tendente a carrear recursos do patrimônio do particular para o do
Estado.

1.3 A prestação diversa de sanção


O tributo não é multa, e a multa não é tributo. Entretanto, sabe-se que a
multa deve estar prevista em lei, uma vez que é ela componente adstrito à
reserva legal, consoante se depreende da dicção do art. 97, V, do CTN.
A multa é a reação do Direito ao comportamento devido que não tenha
sido realizado. Trata-se de penalidade cobrada pelo descumprimento de
uma obrigação tributária, possuindo nítido caráter punitivo ou de sanção.
Em face do descumprimento de uma obrigação tributária, quer seja
principal (art. 113, § 1º, CTN), quer seja acessória (art. 113, § 2º, CTN),
ensejar-se-á a aplicação da penalidade (ver art. 113, § 3º, in fine, CTN).
Vale lembrar, ainda, que o tributo não resulta de sanção por ato ilícito,
ou seja, “não se paga tributo porque se praticou uma ilicitude, embora se
possa ter de pagá-lo com abstração do fato de ela ter sido praticada”
(AMARO, 2008, p. 25).

1.4 A prestação instituída por lei


O tributo é prestação instituída por meio de lei, sendo, portanto,
obrigação ex lege. Seu nascimento se dá pela simples realização do fato
descrito na hipótese de incidência prevista em lei, sendo a vontade das
partes de todo irrelevante (ver art. 123 do CTN). A legalidade avoca (I) o
caráter pecuniário do tributo e (II) sua compulsoriedade, sendo, portanto,
atributos dela decorrentes. Vale dizer que a legalidade e estes atributos se
inter-relacionam, reflexamente.
1.5 A prestação cobrada por lançamento
Definido conceitualmente no art. 142 do CTN como atividade
administrativa plenamente vinculada, o lançamento mostra-se como
procedimento de exigibilidade do tributo. Consuma-se em ato documental
de cobrança, por meio do qual se pode quantificar (quantum debeatur) e
qualificar (an debeatur) a obrigação tributária que lhe é preexistente.
Por ser ato vazado em documento escrito, não se admite lançamento
verbal. Além disso, o lançamento é ato vinculado, logo, não discricionário.
De fato, o lançamento é balizado ou regrado na lei, vedando-se ao
administrador tributário, na ação estatal de exigir tributos, a utilização de
critérios de oportunidade ou conveniência (discricionariedade). O tributo
deve ser carreado aos cofres públicos, uma vez que a estes se mantém
afetado, sob pena de responsabilização do agente público, caso tome
caminho dessemelhante (ver art. 142, parágrafo único, CTN).

2. Competência tributária
A competência tributária é a habilidade privativa e constitucionalmente
atribuída ao ente político para que este, com base na lei, proceda à
instituição da exação tributária.
Em outras palavras, “competência tributária é a aptidão para criar
tributos. (...) O poder de criar tributo é repartido entre os vários entes
políticos, de modo que cada um tem competência para impor prestações
tributárias, dentro da esfera que lhe é assinalada pela Constituição”
(AMARO, 2008, p. 93).
A Constituição Federal consagrou o princípio do federalismo (art. 60, §
4º, I, da CF), delimitando entre as pessoas políticas (União, Estados-
membros, Distrito Federal e Municípios) o poder de tributar.
A atribuição da competência tributária às pessoas jurídicas de direito
público está prevista nos arts. 153 a 156 da Constituição Federal, dividindo-
se, entre elas, o poder de instituir e cobrar tributos. Desse modo, cada
entidade impositora está obrigada a comportar-se nos limites da parcela de
poder impositivo ou potestade tributária que lhe foi atribuída pela
Constituição.

2.1 Competência tributária e capacidade tributária ativa


A competência tributária é indelegável, intransferível, inalterável e
irrenunciável, uma vez que admitir a delegação de competência para
instituir um tributo é admitir que seja a Constituição alterada por norma
infraconstitucional.
A competência tributária é política e indelegável (art. 7º, caput, CTN),
não se confundindo com a capacidade tributária ativa, que é “administrativa
e delegável”.
O exercício da competência tributária, conquanto irrenunciável e
intransferível, pode ser considerado facultativo. De fato, no plano da
conveniência, cada ente tributante decide sobre o exercício da competência
tributária.

2.2 Detalhando a classificação da competência


tributária
A competência tributária pode ser classificada em: (I) privativa; (II)
comum; (III) cumulativa; (IV) especial; (V) residual; e (VI) extraordinária.
É vital ao estudioso do Direito Tributário que conheça os detalhes de
cada espécie.

2.2.1 Competência privativa


É o poder que têm os entes federativos para instituir os impostos que são
enumerados exaustivamente na Constituição Federal. Nesse passo,
“designa-se privativa a competência para criar impostos atribuída com
exclusividade a este ou àquele ente político” (AMARO, 2008, p. 95).

2.2.2 Competência comum


A competência tributária comum está relacionada aos tributos chamados
vinculados, isto é, às taxas e às contribuições de melhoria. Para eles, não se
estipularam “listas” enumeradas na Constituição Federal, indicando, com
exclusivismo, a entidade tributante correspondente ao plano de instituição
do tributo vinculado respectivo.

2.2.3 Competência cumulativa


A competência cumulativa ou múltipla, prevista no art. 147 da CF,
prende-se ao poder legiferante de instituição de impostos pela União, nos
Territórios Federais, e pelo Distrito Federal, em sua base territorial.

2.2.4 Competência especial


A competência especial traduz-se no poder de instituir os empréstimos
compulsórios (art. 148, CF) e as contribuições especiais (art. 149, CF),
justificando-se tal classificação pelo fato de terem subsistido, durante largo
período, inúmeras polêmicas acerca da natureza tributária desses dois
tributos.

2.2.5 Competência residual


A competência residual ou remanescente encontra guarida em dois
dispositivos do texto constitucional: o art. 154, I, e o art. 195, § 4º. A
temática afia-se ao poder de instituir o tributo diverso daqueles já
existentes. Daí se falar em competência residual, na acepção “daquilo que
resta, de algo genuinamente restante ou residuário”.

2.2.6 Competência extraordinária


A competência extraordinária é o poder de instituição, pela União, por
lei ordinária federal, do imposto extraordinário de guerra (IEG), conforme
se depreende do art. 154, II, da CF c/c o art. 76 do CTN. A instituição por
lei ordinária não inviabiliza a possível criação por medida provisória, uma
vez que esta, como se sabe, é vedada tão só para os casos adstritos à lei
complementar (ver art. 62, § 1º, III, CF).

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