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Luca Salvoni: “O governo consegue, de uma vez só, fazer caixa e ter o controle da operação” — Foto: Silvia Zamboni/Valor
Parte do pacote do governo federal
para reforçar o caixa, a Medida
Provisória nº 1185, publicada nesta
quinta-feira (31), muda as regras
de tributação dos incentivos
fiscais de ICMS. Se o texto for
aprovado pelo Congresso, a partir
de 2024 as empresas ficarão
obrigadas a pagar Imposto de Renda (IRPJ), CSLL, PIS e Cofins sobre os
valores concedidos pelos Estados.
Advogados ouvidos pelo Valor afirmam que a nova regra provoca uma mudança
brusca de rota e, se passar pelos parlamentares da forma como está, vai gerar
uma enxurrada de ações judiciais.
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E não será algo automático. A empresa terá que fazer um pedido de habilitação
na Receita Federal e comprovar que recebeu o benefício em troca do
investimento e que cumpriu com a sua parte.
Diz expressamente no texto da MP, além disso, que só vira crédito o valor exato
dos custos. Se a empresa gastou R$ 1 bilhão para construir a fábrica, por
exemplo, mas recebeu R$ 1,5 bilhão do Estado - por meio de redução de
alíquota, redução de base, isenção, dentre outros benefícios de ICMS -, ela terá
direito a crédito sobre o que pagou de Imposto de Renda em relação a R$ 1
bilhão somente.
“O governo consegue, de uma vez só, fazer caixa e ter o controle da operação.
Porque, hoje, ele não consegue controlar muito bem os incentivos estaduais.
Cabe ao contribuinte fazer as exclusões [da base de cálculo dos tributos
federais] dentro dos seus livros”, diz Luca Salvoni, do Cascione Advogados.
Só que, além de apresentar recurso - o que joga a conclusão do caso mais para
frente -, advogados de contribuintes também têm uma interpretação diferente da
União em relação ao que ficou decidido.
Essas normas afirmam que ganhos com os incentivos têm de ser “registrados
em reserva de lucros”. Significa que só podem ser utilizados na própria empresa
ou para abater prejuízo fiscal. Não é permitido, por exemplo, distribuir aos sócios
como dividendos ou juros sobre capital próprio.
A Receita, por outro lado, tem uma interpretação mais criteriosa. Diz que, dentre
os requisitos, “está a está a ocorrência de efetivo benefício tributário decorrente
da norma estadual que concedeu o benefício”.
Ela quer dizer que em casos como isenção, redução de base de cálculo ou de
alíquota, por exemplo, o benefício fiscal não é dirigido ao vendedor da
mercadoria e sim ao destinatário, que, em muitas operações é o consumidor
final.
Parte dos advogados consultados pelo Valor entendem que, por conta disso,
nada muda se a MP for aprovada pelo Congresso. Outros se mostraram mais
receosos com a atuação do Fisco e dizem que esse pode ser um foco de
judicialização.
Outro fator que pode levar as empresas ao Judiciário, dizem, é a tributação das
subvenções de investimento. Segundo advogados, haverá discussão se, nesse
caso, a União também estaria violando o pacto federativo.