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Fotomontagem: Ca Aulucci/JOTA

RELATÓRIO ESPECIAL JOTA PRO TRIBUTOS | FEVEREIRO.2024


ENTREGUE PARA ASSINANTES JOTA PRO EM 24 DE FEVEREIRO DE 2024

Subvenções de ICMS:
sobe para 251 o número
de ações monitoradas pela
PGFN
Do total, 236 questionam especialmente a cobrança de
IRPJ/CSLL sobre créditos presumido de ICMS

Por Cristiane Bonfanti


Design original de Lucas Gomes
Edição de Bárbara Mengardo
©2024 JOTA Jornalismo
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A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) monitora até o


momento 251 ações com questionamentos à Lei 14.789/2023,
decorrente da conversão da MP 1.185/2023, que prevê a tributação
das subvenções de ICMS e cria um crédito fiscal sobre incentivos
de ICMS. A procuradora-geral adjunta responsável pela
representação judicial da PGFN, Lana Borges, informou ao JOTA
que, do total, 236 questionam especialmente a cobrança do IRPJ e
da CSLL sobre créditos presumidos de ICMS. As outras 15 tratam
de outros temas, entre eles o pedido dos contribuintes para afastar
a tributação sobre os benefícios de ICMS de modo geral, não
apenas sobre os créditos presumidos.

Ainda segundo a PGFN, em se tratando da controvérsia


envolvendo os créditos presumidos de ICMS, nove liminares
foram deferidas integralmente – ou seja, afastando a tributação
sobre os créditos presumidos de ICMS – e outras três parcialmente.
Além disso, há uma sentença favorável aos contribuintes. Por
outro lado, 31 liminares foram indeferidas, ou seja, nestes casos o
juiz manteve a cobrança dos tributos sobre os créditos presumidos
de ICMS. Em relação aos outros temas, das 15 ações contabilizadas,
houve até agora duas liminares deferidas integralmente a favor
dos contribuintes, duas parcialmente e quatro indeferidas.

Borges afirma que a Fazenda Nacional tem monitorado de perto as


ações envolvendo a aplicação da Lei 14.789/23. A procuradora-geral
adjunta ressalta que a controvérsia envolvendo a tributação dos
benefícios fiscais de ICMS não nasceu com essa lei e que já foi
objeto de vários recursos que chegaram ao Superior Tribunal de

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Justiça (STJ). "A discussão não é nova. O que temos monitorado,


para além das ações que já existiam, são os pedidos dos
contribuintes a partir da nova legislação. Eles têm questionado a
aplicação da lei e, de modo geral, não têm alcançado um grande
número de liminares", afirma a procuradora-geral adjunta da
PGFN.

Por meio da Lei 14.789/23, o governo federal definiu que, em vez de


abater os benefícios estaduais da base de cálculo do IRPJ, da CSLL,
do PIS e da Cofins, as empresas terão direito a um crédito fiscal
sobre esses incentivos para poder usar por meio de ressarcimento
ou compensação com outros débitos. O benefício, entretanto, está
restrito às subvenções para investimento, nas quais há uma
contrapartida à concessão do incentivo

Argumentos

Nas liminares favoráveis aos contribuintes, os juízes têm usado


como argumento principal o precedente fixado pelo STJ em 2017
no julgamento do EREsp 1517492/PR. Neste caso, o tribunal
superior definiu que os créditos presumidos de ICMS não
integram a base de cálculo do IRPJ e da CSLL em respeito ao pacto
federativo.

Em um caso envolvendo a empresa Laticínios Catupiry LTDA (MS


5038077-98.2023.4.03.6100), por exemplo, a 11ª Vara Cível Federal
de São Paulo concedeu uma liminar para afastar a tributação sobre
os créditos presumidos de ICMS. A favor da empresa, a juíza

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Regilena Emy Fukui Bolognesi cita justamente o precedente de


2017 do STJ.

Ao conceder liminar ao Sindicato Nacional da Indústria de


Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), o juiz Marcelo Guerra
Martins, da 13ª Vara Cível Federal de São Paulo, também citou
jurisprudência do STJ. No processo (MS
5012462-09.2023.4.03.6100), o magistrado retirou da base de
cálculo do IRPJ e da CSLL não apenas o crédito presumido, mas
todos os benefícios de ICMS. "A jurisprudência, inclusive do
Superior Tribunal de Justiça, inclina-se por reconhecer a
inexigibilidade da tributação do IRPJ e da CSLL com a inclusão no
resultado dos valores decorrentes dos incentivos fiscais e
financeiros de ICMS", concluiu.

Na primeira sentença de que se tem notícia sobre o assunto,


proferida nesta quarta-feira (21/2), o juiz Marcelo Barbi Gonçalves,
da 6ª Vara Federal do Rio de Janeiro, concluiu que,
independentemente da alteração legislativa promovida pela Lei
14.789/23, o STJ entendeu em 2017 que os créditos presumidos de
ICMS não devem ser tributados em respeito ao pacto federativo.
Desse modo, sob o fundamento de violação a esse princípio,
ressaltou, é irrelevante discutir se o benefício e subvenção para
custeio ou para investimento ou mesmo recomposição de custos. A
decisão beneficia a Engetech Comércio e Indústria de Plásticos é
foi tomada no MS 5132861-84.2023.4.02.5101.

Para a advogada Fernanda Tarsitano, sócia regional do Martinelli


Advogados em São Paulo, que representa a Laticínios Catupiry

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LTDA em um dos casos, as decisões favoráveis aos contribuintes


refletem a jurisprudência histórica sobre o tema, construída a
partir do precedente do STJ no EREsp 1517492/PR. A seu ver, a
tributação pretendida pela União Federal, mesmo após a
publicação da Lei 14.789/2023, ofende conceitos constitucionais,
notadamente o pacto federativo, a imunidade recíproca e a
autonomia dos estados para conceder benefícios fiscais de ICMS.
Além disso, viola o conceito constitucional e legal de renda.
Tarsitano ressalta que a tributação dos créditos de ICMS “ocasiona
o esvaziamento deste incentivo em todo ou em parte, ferindo o
princípio da autonomia dos entes federados”.

Apesar de o precedente do STJ de 2017 ser o principal argumento


favorável aos contribuintes no que diz respeito aos créditos
presumidos de ICMS, o cenário pode mudar diante de uma
alteração de entendimento do próprio tribunal superior sobre o
tema. Sobre este ponto, a Corte elencou três processos (REsps
2091200/SC, 2099847/SC e 2091206/PR) que podem ser julgados sob
a sistemática de recursos repetitivos. Nesta metodologia, o
julgamento obrigará os tribunais inferiores a aplicar o
entendimento do STJ em casos idênticos. Não está descartada uma
mudança de jurisprudência para autorizar a tributação dos
créditos presumidos de ICMS.

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Objetivo dos incentivos é estimular empreendimentos, diz


PGFN

A favor da nova legislação e da tese da Fazenda Nacional, Lana


Borges destaca que o objetivo histórico do incentivo fiscal federal
relativo às subvenções, desde sua criação nos anos 1970, sempre foi
estimular a implantação e expansão do empreendimento.

Segundo a procuradora-geral adjunta, receitas decorrentes de


subvenções sempre integraram a receita bruta das empresas e
estiveram sujeitas à tributação. Por se tratar de competência
privativa da União, diz, as receitas decorrentes de subvenções para
investimento, embora sujeitas à tributação, podiam ser excluídas
da base de cálculo dos tributos federais se atendidos os requisitos
vigentes na égide da Lei 12.973/2014. Por isso, ressalta, a Lei
14.789/2023 condiciona a concessão de um crédito fiscal sobre esses
incentivos quando há uma contrapartida das empresas
relacionada à implantação ou expansão dos empreendimentos
econômicos.

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