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O próximo pesquisador apresentado por Lauren Slater (em Opening Skinner's Box: Great Psychological
Century é Stanley Milgram, que realizou
Experiments of the Twentieth Century) lizou um dos mais perturbadores
Experimentos em Psicologia de que se tem notícia. Enquanto cursava Ciências Políticas no Queens
College,, Nova Iorque, ele participou como assistente de Solomon Asch em algumas de suas pesquisas.
Da admiração pelo seu mentor, Milgram decidiu mudar de área. E do mais famoso estudo de Asch - o
efeito da pressão social na conformidade - buscou o tema central do seu próprio experimento.
Vejamos, então, que extraordinárias teorias o teriam levado a tomar tais decisões.
Imagine a leitora numa sala com mais sete outros estudantes, cuja tarefa no experimento sobre
acuracidade visual, para o qual se ofereceram como voluntários, era olhar
olhar a linha vertical da figura mais
à esquerda e encontrar sua correspondente
dentre as três linhas da outra figura. Moleza!,
você pensa. E todos respondem letra "C". No
próximo par de figuras, nenhum problema e
todos respondem a mesma óbvia opção.
Na próxima rodada você já não tem tanta certeza se está certa. Sua insegurança
insegurança começa a dar lugar à
angústia. Será que você não está enxergando direito? Que constrangimento responder de maneira
diferente de todos! Ah, quer saber? posso até errar, mas acho melhor responder igual aos outros. Não
estou me sentindo bem discordandodo de todo mundo, divergindo dessa estranha unanimidade.
No fim do experimento você descobre, porém, que o único voluntário de verdade era você.. Os outros
sete ali presentes eram atores que faziam parte da pesquisa. Todos foram orientados para dar as
respostas erradas para ver até que ponto você resistiria sendo a única dissidente da sala. Pouco, muito
pouco. Você não agüentou ser a única respondendo diferente e passou a acompanhar o grupo, mesmo
tendo certeza (ao menos no início) de que estava dando a resposta
resp errada.
Mas espere um pouco! Como reagiram os outros voluntários? Quantos deles teriam capitulado ante à
pressão do grupo e passado a dar respostas erradas também? Curiosamente, os resultados do
experimento
o haveriam de lhe trazer algum conforto...
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No total, 123 voluntários (reais) participaram da pesquisa e eles sempre eram os últimos ou penúltimos
a responder. Nos dois primeiros testes os assistentes respondiam de forma correta, para deixar o
voluntário à vontade, confiante. Mas nos quatorze seguintes eles deveriam errar doze, de modo que o
voluntário não desconfiasse de alguma armação - o que ocorreu em poucas ocasiões e os resultados
foram desconsiderados no cômputo final. Além disso, eles erravam juntos, apontando a mesma linha.
Considerando que a estimativa de respostas erradas nesse tipo de teste é de menos de 1 em 35
(menos de 3%), os resultados foram assombrosos:
Asch e seus colegas ficaram intrigados com o efeito opressor que um grupo poderia exercer sobre seus
indivíduos e resolveu investigar mais a fundo os fatores que mais determinavam esse tipo de influência.
.: O tamanho do grupo influi negativamente de forma diretamente proporcional e até um certo limite.
Quando confrontado com apenas um outro participante, o indivíduo praticamente não mudava de
opinião. Contra dois assistentes, o voluntário aceitava a resposta errada em 13,6% das vezes. Se fossem
três adversários, o erro subia para 31,8% e permanecia estável. Isto é: a partir de três oponentes o
tamanho da unanimidade já não
fazia mais tanta diferença.
.: Um aliado aumenta a resistência, pois quando o inocente voluntário tinha o apoio de outro indivíduo
na sua discordância, as chances de ele mudar de opinião em favor da maioria caíam em 75%. O
interessante era que o aliado nem precisava escolher a resposta certa. Bastava que ele divergisse da
maioria. No caso ilustrado anteriormente, por exemplo, se todos escolhessem "A" e o aliado escolhesse
"B", já era suficiente para que o voluntário se sentisse mais à vontade para apontar a correta resposta
"C".
Mas a importância desse aliado está em sua convicção, não em sua presença física. Se após discordar
da maioria nas primeiras respostas o aliado
mudasse de lado e passasse a errar junto
com os demais, o voluntário perdia sua
coragem. Após a deserção do seu aliado, os
índices de erro passavam a ser iguais ao do
experimento original. Por outro lado, se o
aliado fosse retirado da sala no momento
em que ainda dava respostas corretas, o
voluntário mantinha-se independente,
respondendo diferente da maioria.
Particularmente considero essa variação uma das mais intrigantes, pois ela ilustra como somos sensíveis
à opinião de estranhos quando nos encontramos numa situação de desvantagem ou de informações
insuficientes. Este é, basicamente, o formato mais comum dos chamados Contos-do-Vigário, onde um
desconhecido oferece ajuda, convencendo a vítima a confiar no golpista que lhe aborda.
Ela sustenta, também, a importância da heterogeneidade dos grupos, como destaca James Surowiecki
em The Wisdom of Crowds. Surowiecki lembra que a diferença não só contribui trazendo novas
perspectivas para o ambiente, mas também ajuda os integrantes a expressarem mais livremente suas
opiniões - sejam elas divergentes ou não (pp. 38-39).
Mas a mais pitoresca de todas as adaptações do estudo de Asch foi realizada por Vernon Allen.
(Infelizmente não encontrei a fonte original nem a referência do artigo/livro e, assim, baseio-me na
descrição de Ori e Rom Brafman em Sway: The Irresistible Pull of Irrational Behavior.) Antes de iniciar os
supostos experimentos de acuracidade visual, os voluntários tinham que preencher um formulário
qualquer isolados numa sala. Assim que iniciavam essa tarefa, um dos pesquisadores alegava falta de
salas e introduzia um segundo "voluntário" na sala.
Isso significa que, independente do absurdo da situação, a cega imitação das atitudes de um grupo pode
nos levar a comportamentos que sequer cogitaríamos individualmente.
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Nas entrevistas posteriores ao experimento, os 25% que se mantiveram firmes em suas decisões em
todos os testes mostraram uma grande capacidade de se recuperar das dúvidas que experimentaram ao
confiar em seus julgamentos. E, diga-se de passagem, sentiram-se aliviados ao saber que o estudo
continha uma pequena farsa...
Já dentre os que mais se conformavam com o grupo, suas principais características eram a baixa auto-
estima ("devo estar errado") e o desejo de não comprometer o estudo discordando nas respostas. O
mais intrigante, porém, era o fato de eles não se considerarem conformistas.
Em seu brilhante Iconoclast: A Neuroscientist Reveals How to Think Differently*, o neurologista
americano Gregory Berns chega a questionar a influência do grupo sobre a percepção das pessoas.
Apesar de os voluntários garantirem terem dado a resposta incorreta (mesmo sabendo a verdadeira),
eles honestamente questionavam suas convicções. Alguns duvidavam daquilo que estavam
vendo. Aparentemente as percepções permaneciam intactas, mas a fé das pessoas nos seus sentidos,
esta sim, parece irremediavelmente abalada pela influência externa alterando, aí sim, as decisões
tomadas. E, no fim do dia, o que importa mesmo são as decisões.
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O estudo de conformidade de Solomon Asch dá indícios sobre o poder de influência que os grupos
exercem sobre os indivíduos. Mostra que o simples desejo de pertencer a um ambiente homogêneo faz
com que as pessoas abram mão de suas opiniões, convicções e individualidades.
Imagine crianças e adolescentes que são forçados a permanecer longos períodos de tempo convivendo
em grupos a que eles não escolheram pertencer, como a classe da escola, por exemplo. Em ambientes
onde o diferente acaba marginalizado ou ridicularizado, a pressão por seguir o grupo pode ser
irresistível a um jovem com pouca maturidade ou personalidade. E, assim, muitos começam a fumar,
beber e usar drogas.
Fato é que, de maneira consciente ou não, estamos todos sujeitos às pressões do ambiente, seja ele
físico ou psicológico. Há várias situações em que nossas atitudes são fortemente influenciadas por essas
pressões e muitas formas de explorar tal comportamento - para o bem e para o mal. O que precisamos é
estar atentos a essas armadilhas e identificar - de forma sincera, humilde e desprendida - que tipo de
decisões tomamos por nossa própria e independente vontade e quais as que visam a paz de espírito de
não ir contra a multidão.
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O experimento de Asch mostra uma forma de tomar decisões inocentes quando sob efeito da influência
do comportamento do grupo. Mas o que acontece quando as decisões não são assim tão inocentes?
Como reagem as pessoas que são instigadas a inflingir dor e sofrimento a um desconhecido? A seguir, os
perturbadores estudos de Stanley Milgram.