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renda sobre tais rendimentos.


Publicado em nosso site em 13/10/2009
II. Posição da PGFN
Férias não gozadas e licença-prêmio -
Tributação do Imposto de Renda - Posição Em decorrência das súmulas expedidas pelo STJ, a
do fisco e da jurisprudência Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional - PGFN autorizou a
Comentário - Federal - 2009/2195 dispensa de interposição de recursos e a desistência dos já
Introdução interpostos, desde que inexista outro fundamento relevante
I. Posição do STJ com relação às decisões que afastaram a incidência do
II. Posição da PGFN imposto de renda das pessoas físicas sobre as verbas
III. Posição da Receita Federal recebidas em face da conversão em pecúnia de
III.1 Histórico licença-prêmio e férias não gozadas por necessidade do
III.1.1 Procedimentos para a DIRF 2009 serviço, por trabalhadores em geral ou por servidores
IV. Conclusão públicos (Pareceres PGFN/CRJ nºs 921/99, 1.458/99 e
1.905/2004).
Introdução Portanto a PGFN, em harmonia ao STJ, também é favorável
à não incidência do imposto sobre tais verbas.
O imposto de renda é um tributo de competência da União, A PGFN, em novo pronunciamento sobre o assunto (Ato
que incide sobre o auferimento de renda, assim entendido o Declaratório PGFN nº 6/2006), reiterou sua posição inicial
acréscimo financeiro apurado pelo contribuinte em acerca da não incidência do imposto em relação a tais
determinado período. rendimentos.
Tendo por fato gerador o auferimento de renda, esse tributo Seguindo esta orientação, como determina o artigo 19, II, da
não deveria incidir sobre rendimentos relativos a Lei nº 10.522/2002, foram expedidas as seguintes decisões
indenizações, que não são mais que a reposição de um pelas Superintendências Regionais da Receita Federal,
prejuízo sofrido pelo contribuinte. mantendo o entendimento inicial:
Nesse sentido é defendido que o imposto de renda não "Os valores relativos ao abono pecuniário de férias de que
alcançaria o pagamento de férias e licença-prêmio não trata o art. 143 da CLT não estão sujeitos à retenção na fonte
gozadas, pois essas expressões não representariam um e não constituem rendimento sujeito à tributação na
ingresso de renda, mas apenas a reposição de um direito não declaração de ajuste anual." (Processo de Consulta nº 2/08 -
usufruído. SRRF / 9a. RF)
No presente comentário apresentaremos o atual entendimento "(...) os valores pagos a título de abono pecuniário de que
do Fisco e da jurisprudência sobre o tema. trata o art. 143 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT,
não estão sujeitos à incidência do Imposto de Renda na
I. Posição do STJ Fonte." (Processo de Consulta nº 551/07 - SRRF / 8a. RF).

Conforme a Súmula 125 do Superior Tribunal de Justiça


(STJ), "o pagamento de férias não gozadas por necessidade III. Posição da Receita Federal
do serviço não está sujeito à incidência do imposto de renda".
Por meio da Súmula 136 do STJ, ainda foi disposto que "o Após longa discussão em relação ao abono pecuniário de
pagamento de licença-prêmio não gozada por necessidade do férias, a Receita Federal, por meio da Instrução Normativa
serviço não está sujeito ao imposto de renda". RFB nº 936, publicada no DOU de 06.05.2009, se
Ainda nesse sentido, dispõe a Súmula 386, de 26.08.2009, pronunciou favoravelmente ao contribuinte, ficando em
que são isentas de imposto de renda as indenizações de férias sintonia com o entendimento do STJ e da PGFN.
proporcionais e o respectivo adicional. Conforme passou a ser previsto, os valores pagos a pessoa
Ou seja, o STJ é favorável ao não-alcance do imposto de física a título de abono pecuniário de férias de que trata o

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artigo 143 da Consolidação das Leis do Trabalho ("venda de fruto de uma longa discussão, conforme é detalhado no
10 dias"), não serão tributados pelo imposto de renda na histórico a seguir.
fonte nem na Declaração de Ajuste Anual.
Esse novo posicionamento é importante, pois até então, no III.1 Histórico
entender da Receita Federal, a não incidência do imposto de
renda era restrita às férias não-gozadas em decorrência de A Secretaria da Receita Federal do Brasil - RFB, por meio do
aposentadoria, rescisão de contrato de trabalho ou Ato Declaratório Interpretativo nº 5/2005, em consonância ao
exoneração. STJ e à PGFN, estabeleceu que "os Delegados e Inspetores
A pessoa física que recebeu tais rendimentos com desconto da Receita Federal deverão rever de ofício os lançamentos
do imposto de renda na fonte e que incluiu tais rendimentos referentes ao Imposto sobre a Renda incidente sobre os
na Declaração de Ajuste Anual como tributáveis, poderá valores pagos (em pecúnia) a título de licença-prêmio e férias
pleitear a restituição da retenção indevida. Para tanto, deverá não gozadas, por necessidade do serviço, a trabalhadores em
apresentar declaração retificadora do respectivo exercício da geral ou a servidor público, desde que inexista qualquer
retenção, excluindo o valor recebido a título de abono outro fundamento relevante, para fins de alterar, total ou
pecuniário de férias do campo "rendimentos tributáveis" e parcialmente, o respectivo crédito tributário".
informando-o no campo "outros" da ficha "rendimentos Também estabeleceu que "a autoridade julgadora, nas
isentos e não tributáveis", com especificação da natureza do Delegacias da Receita Federal de Julgamento, subtrairá a
rendimento. matéria de que trata o art. 1º na hipótese de crédito tributário
Para a elaboração e transmissão da declaração retificadora já constituído cujo processo esteja pendente de julgamento."
deverão ser utilizados o Programa Gerador da Declaração Posteriormente, entretanto, por meio do Ato Declaratório
(PGD) relativo ao exercício da retenção indevida e o mesmo Interpretativo nº 14/2005, a Receita Federal dispôs que "o
modelo (completo ou simplificado) utilizado para a Ato Declaratório Interpretativo SRF nº 5, de 27 de abril de
declaração original, bem como deverá ser informado o 2005 (...), tratou da não incidência do imposto de renda
número constante no recibo de entrega referente a esta somente nas hipóteses de pagamento de valores a título de
declaração original. férias integrais e de licença-prêmio não gozadas por
Se da declaração retificadora resultar saldo de imposto a necessidade do serviço quando da aposentadoria, rescisão de
restituir superior ao da declaração original, a diferença entre contrato de trabalho ou exoneração (...), a trabalhadores em
o saldo a restituir referente à declaração retificadora e o valor geral ou a servidores públicos".
eventualmente já restituído, será objeto de restituição No entendimento do Fisco Federal à época, "sofrem a
automática. incidência do imposto de renda (...) as demais formas de
No caso de ter havido recolhimento de imposto no respectivo pagamento em pecúnia a título de férias e de licença-prêmio
exercício, se da retificação da declaração resultar pagamento não gozadas".
indevido, a restituição ou compensação do imposto pago Com isso, as férias não gozadas pelo beneficiário ainda
indevidamente na declaração original deverá ser requerida vinculado à empresa estavam sujeitas ao imposto de renda.
mediante a utilização do programa PER/DCOMP. Ainda nesse sentido, foi publicada no DOU de 06 de janeiro
O prazo para pleitear a restituição é de 5 (cinco) anos, de 2009 a Solução de Divergência nº 1 de 2009, transcrita a
contados da data da retenção indevida. seguir:
"Solução de Divergência nº 1/09
Nota: Órgão: Coordenação-Geral do Sistema de Tributação -
A fonte pagadora dos referidos rendimentos poderá
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apresentar a Declaração do Imposto de Renda Retido na
Assunto: Imposto sobre a Renda Retido na Fonte - IRRF
Fonte (DIRF) retificadora. A retificação, neste caso, não se
Ementa: FÉRIAS NÃO-GOZADAS CONVERTIDAS EM
enquadra no disposto no artigo 7º da Lei nº 10.426/2002,
PECÚNIA - Rescisão do contrato de trabalho, aposentadoria
que prevê multa pela entrega da declaração com
ou exoneração.
incorreções (Instrução Normativa RFB 936/2009).
As verbas referentes a férias - integrais, proporcionais ou em
Advertimos, todavia, que a não retificação da DIRF por parte
dobro -, ao adicional de um terço constitucional, e à
da fonte pagadora poderá implicar na retenção da
conversão de férias em abono pecuniário compõem a base
Declaração Retificadora da pessoa física em malha, pois a
de cálculo do Imposto de Renda. Por força do § 4º do art. 19
Receita Federal não terá como evitar a discrepância entre os
da Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002, a Secretaria da
rendimentos tributáveis informados na DIRF e aqueles
Receita Federal do Brasil não constituirá os créditos
declarados pelo contribuinte.
tributários relativos aos pagamentos efetuados por ocasião
É importante observar que o novo posicionamento do Fisco é

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da rescisão do contrato de trabalho, aposentadoria, ou pecuniário de férias ("venda de 10 dias"), pois ao dispor que
exoneração, sob as rubricas de férias não-gozadas - o valor correspondente a essa indenização deveria ser
integrais, proporcionais ou em dobro - convertidas em informado na DIRF como rendimento isento do Imposto de
pecúnia, de abono pecuniário, e de adicional de um terço Renda, não delimita esse rendimento à rescisão ou à
constitucional quando agregado a pagamento de férias, aposentadoria. Ou seja, com esse procedimento emanado
observados os termos dos atos declaratórios editados pelo pelo ADI nº 28, mesmo o rendimento decorrente de abono
Procurador-Geral da Fazenda Nacional em relação a essas pecuniário para contrato de trabalho ainda vigente (sem
matérias. A edição de ato declaratório pelo Procurador-Geral rescisão), terá tratamento de rendimento isento, permitindo
da Fazenda Nacional, nos termos do inciso II do art. 19 da ao contribuinte o recebimento desse valor em restituição
Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002, desobriga a fonte ainda esse ano.
pagadora de reter o tributo devido pelo contribuinte Conforme estabelecido, no preenchimento da DIRF e do
relativamente às matérias tratadas nesse ato declaratório. Comprovante de Rendimentos relativos ao ano-calendário de
DISPOSITIVOS LEGAIS: Art. 19, II, e § 4º, da Lei nº 10.522, 2008, entregues no começo de 2009, os valores pagos a título
de 19 de julho de 2002; Arts. 43, II, e 625 do Decreto nº de abono pecuniário de férias deveriam ser informados na
3.000, de 26 de março de 1999; Atos Declaratórios subficha "Rendimentos Isentos", e o Imposto Retido na
Interpretativos SRF nº 5, de 27 de abril de 2005 e nº 14, de Fonte (IRF), relativo a esse abono pecuniário, deveria ser
1º de dezembro de 2005;Atos Declaratórios PGFN nºs 4 e 8, informado na subficha "Rendimentos Tributáveis",
ambos de 12 de agosto de 2002, nº 1, de 18 de fevereiro de juntamente com o IRF relativo aos demais rendimentos
2005, nºs 5 e 6, ambos de 16 de novembro de 2006, nº 6, de pagos no mesmo período.
1º de dezembro de 2008, e nº 14, de 2 de dezembro de Com esse procedimento, foi possível a restituição, por meio
2008; e Parecer PGFN/PGA/Nº 2683/2008, de 28 de da Declaração de Ajuste Anual entregue entre março e abril
novembro de 2008. de 2009, do imposto de renda retido sobre os valores pagos a
OTHONIEL LUCAS DE SOUSA JÚNIOR - título de abono pecuniário de férias, referentes à conversão
Coordenador-Geral - Substituto de 1/3 (um terço) do período de férias do empregado.
(Data da Decisão: 02.01.2009 06.01.2009)"
IV. Conclusão
Atente-se que a SD nº 1 de 2009 determina expressamente a
desobrigação da fonte pagadora em reter o tributo sobre Como demonstrado, a RFB, seguindo orientação do STJ e da
valores pagos relativos a férias recebidas em pecúnia. PGFN, se posicionou, inicialmente, pelo não cabimento do
Contudo, da mesma forma que o ADI SRF nº 14 de 2005, imposto de renda em relação à licença-prêmio e às férias não
dispõe que tal dispensa ocorre somente nos casos de rescisão gozadas (todas elas).
do contrato de trabalho, exoneração ou aposentadoria. Por meio do ADI 14/2005 e da SD nº 1/2009, entretanto, a
O abono pecuniário ("venda de 10 dias") passou a ser RFB inseriu uma limitação ao seu entendimento, em
reconhecido como não tributado pela Receita Federal contraponto à posição do poder judiciário e da
somente com a Instrução Normativa RFB nº 936/2009, já Procuradoria-Geral, limitando a não incidência do imposto
analisada no tópico III. aos casos de rescisão do contrato de trabalho, aposentadoria,
III.1.1 Procedimentos para a DIRF 2009 ou exoneração.
Por meio do ADI nº 28 de 2009, a RFB acabou estendendo o
Relativamente ao ano-calendário de 2008, exercício de 2009, benefício também ao abono pecuniário de férias a que se
o Ato Declaratório Interpretativo nº 28 de 2009 permitiu um refere o art. 143 da CLT. Este posicionamento, todavia,
procedimento um pouco distinto dos apontados repercutiu somente em relação ao ano-calendário de 2008,
anteriormente pela Receita Federal no que se refere ao abono exercício de 2009.
pecuniário do art. 143 da CLT ("venda de 10 dias de férias"). Somente com a Instrução Normativa RFB nº 936 o Fisco
Por esse ato, o fisco federal determinou procedimentos a finalmente passou a abranger, literalmente, a não incidência
serem observados por ocasião do preenchimento da em relação ao abono pecuniário de férias a que se refere o
Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte - DIRF art. 143 da CLT ("venda de 10 dias").
2009 (entregue em fevereiro de 2009), que permitiu ao Assim, é possível agora afirmar que o entendimento da
contribuinte pessoa física receber o montante retido sobre o Receita Federal está em sintonia com o posicionamento
abono pecuniário em restituição. emanado pelo STJ e pela PGFN.
O ADI nº 28 não trouxe conteúdo idêntico ao da SD nº 1 de Os contribuintes que sofreram alguma constrição em relação
2009 ou do ADI nº 14 de 2005 em relação ao abono ao posicionamento restritivo do Fisco possuem, como

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detalhado neste Comentário, mecanismos eficazes para
ressarcir os valores retidos ou recolhidos indevidamente.

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