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ANÁLISE - INSTRUÇÃO NORMATIVA RFB Nº 1700, DE 14 DE MARÇO DE

2017

A IN 1700/2017 revogou a IN 1515/2014 e outras instruções. A nova IN dispões


sobre a apuração do IRPJ e da CSLL, bem como disciplinou o tratamento
tributário do PIS e da COFINS em relação as alterações propostas pela Lei
12973/14.

Como houve uma reunião de diversas disposições em um único ato normativo


(adições e exclusões do lucro líquido, taxas anuais de depreciação, adoção
inicial e utilização de subcontas etc.). Entretanto, como nada é perfeito, há
disposições controvertidas entre o ato e sua aplicação, que será melhor
desenvolvida a seguir.

Inicialmente, a primeira polemica se da na venda dos imóveis por empresas do


Lucro Presumido, isso porque há dois cenários de tributação sendo (i) sobre a
receita da venda será aplicado os percentuais de 8% (IRPJ) e 12% (CSLL) e
após isso se calcula as alíquotas de 25% e 9% mais PIS/COFINS ou (ii) deverá
respeitar o ordenamento do art. 215, paragrafo 14 da IN 1700/17 em que a
tributação será sobre o ganho de capital.

Quanto ao cenário dois, é aplicado para as pessoas jurídicas que não se


dedicam as atividades imobiliárias ou caos o imóvel tenha sido registrado no
ativo não circulante e foi reclassificado para ativo circulante diante da intenção
de venda.

Por estar fundamentado em tributação o cenário dois, a Receita Federal optou


por flexibilizar por meio da Solução de Consulta Cosit n. 07/2021. Portanto,
passou a permitir a tributação pelo Lucro Presumido na operação de alienação
de imóvel que fora utilizado anteriormente para locação a terceiros, desde que
a atividade constitua objeto social da pessoa jurídica.

O caso desta forma é apenas esclarecido apenas se o imóvel foi classificado


no ativo não circulante durante o período de locação, assim, a RFB oferta a
oportunidade de reclassificar do ativo circulante e a tributação será como
receita operacional da empresa que atue no ramo imobiliário.
A polêmica se dá quando a Pessoa Jurídica optar por vender esse imóvel
locado, como deverá apurar o ganho de capital?

A resposta se dá nos art. 200, paragrafo 1 e art. 215, parágrafo 14 da IN


1700/17, que determina a tributação sobre o ganho de capital, que constituirá
na diferença entre o valor da venda com o valor contábil (recebido), com as
deduções de depreciação, amortização ou exaustão acumulada e das perdas
estimadas no valor de ativos.

No caso, a tributação se dá sobre 25% (IRPJ) e 9% (CSLL) sobre o ganho de


capital, já que não é possível a inclusão na base de presunção do Lucro
Presumido, nos termos do art. art. 25 da Lei nº 9.430/96 e art. 595 do Decreto
nº 9.580/18 (RIR/18). Assim, fazendo um planejamento tributário, a empresa
acaba optando por transferir contabilmente tais imóveis de seu ativo não
circulante para o ativo circulante, visto que a presunção do IRPJ e CSLL
poderá ser mais vantajoso do que a tributação direta no ganho de capital.

A polemica se dá em razão do cálculo do ganho de capital, isso porque, em


tese deveria ser incluído as deduções de depreciação, amortização ou
exaustão acumulada das perdas estimas no valor de ativos. Entretanto, as
empresas optantes do Lucro Presumido não podem realizar essas deduções
na apuração do IPRJ/CSLL e tal imposição é extremamente onerosa.

Nesse sentido, a Câmara Superior do CARF em acórdão n. 9101-005.436


autorizou que a empresa no Lucro Presumido não descontasse a depreciação
do valor contábil dos bens do ativo imobilizado ao que foram alienados, eis que
a depreciação dos bens integrantes do ativo de pessoas jurídicas optantes pelo
regime do Lucro Presumido não interfere, de forma direta e específica, na
apuração da base de cálculo do IPRJ e da CSLL.

A segunda polemica da IN 1700/2017 se dá em razão da restrição da


dedutibilidade dos Royalties. Isso porque, dispõe no art. 86, I, II e III da
mencionada IN o que não é possível deduzir na apuração do Lucro Real.

Isso porque, não é esclarecido no Inc. I qual sócio seria sendo o Sócio de
Pessoa Jurídica ou Sócio Pessoa Física? Ao seguir a leitura da própria IN é
possível verificar que trata-se de pessoa física. Levo a crer que essa restrição
se deu para que não ocorresse uma distribuição disfarçada de lucros e assim
evitar a respectiva tributação?

Em relação a Pessoa Jurídica não haveria evasão do imposto, eis que por mais
que ocorresse a transação por valor inferior ao mercado há a possibilidade de
cruzamento de informações, diferente de quanto ocorre a pessoa física.

O E. TRF3 1já se manifestou no sentido de que “a vedação de dedução de


royalties pagos à pessoa jurídica, prevista no artigo 353, I, do RIR/99, de
fato, não parece ter amparo legal. Isso porque o artigo 71, da Lei 4.506/64,
que prevê as hipóteses de vedação de dedução de despesas com
royalties para efeito de apuração de lucro real sujeito ao imposto de
renda, não dispõe acerca de royalties pagos a sócios pessoas jurídicas.
Desse modo, é possível concluir que o artigo 353 do RIR/99 trouxe
inovação não prevista em lei".

Por fim, a última polêmica da IN 1700/2017 está vinculada ao período em que a


empresa poderá realizar o pagamento do JCP, isso porque, por se tratar de
despesa dedutível é uma manobra para as empresas realizarem essa
distribuição quando for o melhor momento financeiro/econômico para elas.

Porém, a polêmica se dá em relação ao período, eis que a RFB entende pela


aplicação do art. 4° § do art. 75 da IN RFB 1700/2017, sendo o valor relativo ao
JCP deverá ser pago no mesmo ano calendário para que seja dedutível, já os
contribuintes, por sua vez entendem da inexistência da limitação temporal, de
acordo com a Lei n. 9.249/1995.

Apesar de embates, em julgamento na 1 Turma da Câmara Superior de


Recursos Fiscais – CARF 2
reconheceu pela possibilidade de dedução
extemporânea dos juros sobre capital próprio da base de cálculo do IPRJ e
CSLL, relativo aos períodos anteriores.

1
Processo de n° 5001394-39.2017.4.03.0000 - 3ª Turma do TRF3 em 8/3/2018
2
Acórdão 9101-005.757, publicado em 04/10/2021
Isso porque, foi reconhecido a tese de ausência de limitação temporal no art. 9
da Lei n. 9249/1995, sendo, portanto, a dedução dos juros não estaria
submetida ao regime de competência, ora alegado pela RFB.

Ainda, o próprio STJ em julgamento do RESP 1.086.752/PR reconheceu pela


inexistência de imposição legal para a dedução dos juros sobre capital próprio
sobre o mesmo exercício financeiro em que fora realizado o lucro da empresa.

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