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12.973/2014
Resumo: O presente artigo examina os aspectos jurídicos relativos ao laudo de avaliação exigido
pela Lei nº 12.973/2014 para a determinação do valor justo dos ativos adquiridos e dos passivos
assumidos em operações de combinação de negócios.
Palavras-chave: Laudo de Avaliação. Participações Societárias. Mais-valia de ativos. Ágio de
Rentabilidade Futura.
1 Introdução
Como se sabe, no regime jurídico da Lei nº 12.973/2014, o contribuinte que
avaliar investimento de acordo com o método da equivalência patrimonial (“MEP”)
deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição
em:
i) Valor de patrimônio líquido na época da aquisição, apurado segundo o
procedimento estabelecido na legislação em vigor.
ii) Mais ou menos-valia, que corresponde à diferença entre o valor justo dos
ativos líquidos da investida, na proporção da porcentagem da participação
adquirida, e o valor de que trata o item (i) acima.
iii) Ágio por rentabilidade futura (“goodwill”) ou ganho proveniente de com-
pra vantajosa, que corresponde à diferença entre o custo de aquisição do investi-
mento e o somatório dos valores de que tratam os itens (i) e (ii) acima.
Assim, após a edição da Lei nº 12.973/2014, a mensuração e a alocação
do ágio por rentabilidade futura passou a seguir a sistemática do Pronunciamento
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O laudo de avaliação na Lei nº 12.973/2014
Edmar Oliveira Andrade Filho critica a redação do texto legal, pois a socie-
dade investidora, ao adquirir a participação societária, não se torna titular dos
ativos e responsável pelos passivos da sociedade adquirida, até que haja a efe-
tiva confusão patrimonial entre as duas pessoas jurídicas. Ao contrário, como as
sociedades possuem personalidades jurídicas distintas e autonomia patrimonial,
não seria o caso de mencionar ativos adquiridos e passivos assumidos, mas
apenas de exigir a preparação de um laudo de avaliação a valor justo dos ativos e
passivos existentes na sociedade adquirida.1
Deixando de lado a impropriedade redacional do texto normativo, o importan-
te é que, após o advento da Lei nº 12.973/2014, a mais ou menos-valia relativa
aos ativos líquidos da sociedade investida deverá ser baseada em laudo elabo-
rado por perito independente, a ser protocolado na Secretaria da Receita Federal
do Brasil ou cujo sumário deverá ser registrado em Cartório de Registro de Títulos
e Documentos, até o último dia útil do 13º mês subsequente ao da aquisição da
participação.2
Esse laudo de avaliação decorre do Purchase Price Allocation realizado para
fins contábeis, na forma do Pronunciamento Técnico CPC nº 15, o qual deverá
tratar somente da mais ou menos-valia dos ativos e passivos da sociedade adqui-
rida, em linha com o caráter residual do ágio por rentabilidade futura (goodwill) no
regime atual.3
A exigência de laudo técnico pretende evitar manipulações no valor do ágio
de rentabilidade futura, que passou a ser apurado de forma residual, com base
na diferença entre o valor do patrimônio líquido da sociedade investida avaliado a
valor justo e o valor pago ou transferido na aquisição do investimento.4
Além disso, é de se reconhecer que a Lei nº 12.973/2014 promove a se-
gurança jurídica ao exigir o laudo de avaliação e estabelecer requisitos formais
específicos, tendo em vista que, no regime anterior, o tema suscitava diversas
1
ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira. O Regime Jurídico Tributário da Mais-Valia sobre Investimentos e do Ágio
por Rentabilidade Futura na Vigência da Lei nº 12.973/2014. Direito Tributário, Societário e a Reforma da
Lei das S/A. Vol. IV. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 137. (Coord. Sergio André Rocha).
2
Art. 20, parágrafo 3º, do Decreto-Lei nº 1.598, de 26.12.1977: “O valor de que trata o inciso II do
caput deverá ser baseado em laudo elaborado por perito independente que deverá ser protocolado na
Secretaria da Receita Federal do Brasil ou cujo sumário deverá ser registrado em Cartório de Registro de
Títulos e Documentos, até o último dia útil do 13º (décimo terceiro) mês subsequente ao da aquisição da
participação”.
3
Como aponta Sergio André Rocha: “Uma vez que, no novo regime, o ágio é diferença, agora só é necessário
demonstrar a mais ou menos valia, de modo que não se terá mais demonstrações de rentabilidade
futura para fins de fundamentação do ágio” (ROCHA, Sergio André. As Novas Regras do Ágio e suas
Repercussões Intertemporais. In: ROCHA, Sergio André (Coord.) Direito Tributário, Societário e a Reforma
da Lei das S/A. Vol. IV. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 598).
4
ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira. O Regime Jurídico Tributário da Mais-Valia sobre Investimentos e do Ágio
por Rentabilidade Futura na Vigência da Lei nº 12.973/2014. In: ROCHA, Sergio André (Coord.) Direito
Tributário, Societário e a Reforma da Lei das S/A. Vol. IV. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 141.
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5
SCHOUERI, Luís Eduardo. Ágio em Reorganizações Societárias (Aspectos Tributários). São Paulo: Dialética,
2012. p. 33.
6
ROCHA, Sergio André. As Novas Regras do Ágio e suas Repercussões Intertemporais. In: ROCHA, Sergio
André (Coord.) Direito Tributário, Societário e a Reforma da Lei das S/A. Vol. IV. São Paulo: Quartier Latin,
2015. p. 598.
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Outro ponto que suscitava debates, no regime anterior, era a suposta extem-
poraneidade do laudo técnico apresentado pelo contribuinte.
O artigo 20, parágrafo 3º, do Decreto-Lei nº 1.598/1977 não exigia que a
demonstração a ser arquivada para justificar o fundamento do ágio fosse feita de
forma prévia ou concomitante ao seu registro contábil. Porém, na ausência de um
prazo específico, a jurisprudência administrativa, em diversos precedentes, en-
tendeu que o laudo técnico deveria ser anterior ou contemporâneo à aquisição da
participação societária, pois é neste momento que o ágio deve ser desdobrado e
fundamentado. Apenas para fins de ilustração, é possível colacionar as seguintes
decisões:
• Acórdão nº 9101-003.345, de 17.1.2018:
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Em sentido semelhante, confira-se o entendimento de Luís Eduardo Schoueri e Roberto Codorniz Leite
Pereira: “[...] revela-se correto o entendimento de que o demonstrativo pode ser feito a qualquer momento
desde que seja fiel às circunstâncias do negócio, respaldando-se em elementos de prova contemporâneos
à operação. O importante é que a demonstração permita aferir qual foi a motivação do adquirente na data
da aquisição da participação societária” (SCHOUERI, Luís Eduardo; PEREIRA, Roberto Codorniz Leite. A
Figura do Laudo nas Operações Societárias com Ágio: do Retrato da Expectativa de Rentabilidade Futura
para o Retrato do Valor Justo. In: MANEIRA, Eduardo; SANTIAGO, Igor Mauler. O Ágio no Direito Tributário
e Societário. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 184).
8
Em sentido semelhante, cabe mencionar o Acórdão nº 1101-000.899, de 11.6.2013, e o Acórdão nº
1102-001.018, de 12.2.2014.
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9
BENTO, Sergio. Tratamento Tributário do Ágio. In: VIEIRA, Marcelo Lima et al. (Coord.). Lei 12.973/14 –
Novo Marco Tributário: Padrões Internacionais de Contabilidade. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 131.
10
O art. 224 do Código Civil dispõe que “os documentos redigidos em língua estrangeira serão traduzidos
para o português para ter efeitos legais no País”. O art. 18 do Decreto nº 13.609, de 21.10.1943,
que regulamentou o ofício de tradutor público e intérprete comercial no Brasil, dispõe que: “Art. 18.
Nenhum livro, documento ou papel de qualquer natureza, que for exarado em idioma estrangeiro, produzirá
efeito em repartições da União, dos Estados ou dos Municípios, em qualquer instância, Juízo ou Tribunal
ou entidades mantidas, fiscalizadas ou orientadas pelos poderes públicos, sem ser acompanhado da
respectiva tradução feita na conformidade deste regulamento”.
11
DONIAK JR., Jimir. Laudo da Mais ou Menos-Valia de Ativos. In: ROCHA, Sergio André. Direito Tributário,
Societário e a Reforma da Lei das S/A. Vol. IV. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 281.
12
ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira. O Regime Jurídico Tributário da Mais-Valia sobre Investimentos e do Ágio
por Rentabilidade Futura na Vigência da Lei nº 12.973/2014. ROCHA, Sergio André. Direito Tributário,
Societário e a Reforma da Lei das S/A. Vol. IV. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 148.
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cisão. Não fosse assim, o aproveitamento fiscal da mais-valia não seria viável,
dada a impossibilidade de aferição do valor alocado a cada ativo, bem como do
momento e do prazo a serem observados pela pessoa jurídica na apropriação da
mais-valia alocada a cada ativo.
13
DONIAK JR., Jimir. Laudo da Mais ou Menos-Valia de Ativos. In: ROCHA, Sergio André. Direito Tributário,
Societário e a Reforma da Lei das S/A. Vol. IV. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 287.
14
O caso mais comum envolve os ativos intangíveis desenvolvidos internamente (e.g., uma marca ou patente
que não foi reconhecida como ativo nas demonstrações contábeis da adquirida, em razão do registro dos
respectivos dispêndios como despesas).
15
Segundo Alessandra Hirano Fuji e Valmor Slomski: “A subjetividade é inerente a todo processo de
mensuração, encontra-se presente em diversos aspectos do processo decisório e não deve constituir
obstáculo para a precificação e o reconhecimento de ativos devido ao problema da objetividade” (FUJI,
Alessandra Hirano; SLOMSKI, Valmor. Revista Contabilidade & Finanças – USP, São Paulo, n. 33, 2003,
p. 42).
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16
COMPARATO, Fábio Konder. A Natureza Jurídica do Balanço. Ensaios e Pareceres de Direito Empresarial,
Rio de Janeiro, Forense, 1977, p. 32.
17
Na lição de Sérgio de Iudícibus: “[...] temos de ter capacidade de exercer um subjetivismo responsável,
aprendermos a lidar com valores [...] e [...] não nos acomodar, apenas, numa falsa noção de objetividade”
(IUDÍCIBUS, Sérgio de. A Contabilidade como Sistema de Informação Empresarial (SIE). Boletim do
Ibracon, São Paulo, 1998, p. 3).
18
Nas palavras de Alessandra Hirano Fuji e Valmor Slomski: “Um consenso profissional de experts
qualificados sobre um procedimento ou mensuração não é resultado de um processo totalmente objetivo,
sendo decorrente de um processo psicossocial de percepção e julgamento, nem sempre suportado por
evidências objetivas” (FUJI, Alessandra Hirano; SLOMSKI, Valmor. Revista Contabilidade & Finanças –
USP, São Paulo, n. 33, 2003, p. 37-38).
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Veja-se: “O laudo de que trata o inciso I do §1º será desconsiderado na hipótese em que os dados nele
constantes apresentem comprovadamente vícios ou incorreções de caráter relevante”.
20
TIPKE, Klaus; LANG, Joachim. Direito Tributário (Steuerrecht). Vol. I. Tradução de Luiz Dória Furquim. Porto
Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2008. p. 245.
21
ÁVILA, Humberto. Segurança Jurídica – Entre Permanência, Mudança e Realização no Direito Tributário.
São Paulo: Malheiros, 2012. p. 129.
22
LOBATO, Valter de Souza. O Novo Regime Jurídico do Ágio na Lei nº 12.973/2014. In: MANEIRA, Eduardo;
SANTIAGO, Igor Mauler. O Ágio no Direito Tributário e Societário. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 106-
107.
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DONIAK JR., Jimir. Laudo da Mais ou Menos-Valia de Ativos. In: ROCHA, Sergio André (Coord.). Direito
Tributário, Societário e a Reforma da Lei das S/A. Vol. IV. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 287.
24
DONIAK JR., Jimir. Laudo da Mais ou Menos-Valia de Ativos. In: ROCHA, Sergio André (Coord.). Direito
Tributário, Societário e a Reforma da Lei das S/A. Vol. IV. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 288.
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Processo nº 19515.003259/2004-72. Embargos de declaração sem efeitos infringentes julgados por
meio do Acórdão nº 1401-000.942, de 06.03.2013.
26
ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira. O Regime Jurídico Tributário da Mais-Valia sobre Investimentos e do Ágio
por Rentabilidade Futura na Vigência da Lei nº 12.973/2014. In: ROCHA, Sergio André (Coord.). Direito
Tributário, Societário e a Reforma da Lei das S/A. Vol. IV. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 120.
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Essa decisão foi mantida pela CSRF.
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ROCHA, Sergio André. Processo Administrativo Fiscal – Controle Administrativo do Lançamento Tributário.
4. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. p. 106.
29
Segundo Jimir Doniak Jr.: “[...] é insuficiente a desconfiança e a suposição de vício ou incorreção. Eles
devem estar comprovados” (DONIAK JR., Jimir. Laudo da Mais ou Menos-Valia de Ativos. In: ROCHA,
Sergio André (Coord.). Direito Tributário, Societário e a Reforma da Lei das S/A. Vol. IV. São Paulo: Quartier
Latin, 2015. p. 287).
30
Nas palavras do autor: “[...] nunca é demais repetir que se o Fisco não atender ao seu duplo ônus da
prova, se não demonstrar a qualificação jurídica pertinente ou se houver um insuperável ‘empate’ como
acima exposto, o critério de decisão do caso deve ser o de prestigiar a liberdade do contribuinte de
organizar seus negócios” (GRECO, Marco Aurélio. Planejamento Tributário. 3. ed. São Paulo: Dialética,
2011. p. 540-541).
31
Sobre o tema dos standards de prova, vide: CLERMONT, Kevin M. Standards of Proof Revisited. Vermont
Law Review, Vermont, v. 33. n. 3, p. 469-487, 2009.
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32
Observe-se que não é possível exigir certeza para a prova do vício ou da incorreção, pois a verdade
processual é sempre provável (grau de probabilidade), tendo em vista que o raciocínio a partir das provas
é necessariamente indutivo (para uma análise mais ampla do raciocínio a partir das provas, vide: COSTA,
Pedro Jorge. Dolo Penal e sua Prova. São Paulo: Atlas, 2015. p. 153-199).
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Jimir Doniak Jr. parece seguir uma posição distinta, ao afirmar que “[...] seria inviável para a Administração
supor quanto deveria ser realocado do montante antes indicado como goodwill para uma ou mais marcas:
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o valor integral, parte dele, qual o montante exato? Bem se vê que não se trata de uma mera troca de
posição de valores, a ser feito sem um conhecimento detido da empresa envolvida e do mercado em que
ela atua. Ao final, a realocação de valores entre itens distintos é, de certa forma, um novo laudo, algo que
a Administração não está autorizada a fazer [...]” (DONIAK JR., Jimir. Laudo da Mais ou Menos-Valia de
Ativos. In: ROCHA, Sergio André (Coord.). Direito Tributário, Societário e a Reforma da Lei das S/A. Vol. IV.
São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 292).
34
MACHADO, Hugo de Brito. Comentários ao Código Tributário Nacional. Vol. III. São Paulo: Atlas, 2005.
p. 146.
35
MACHADO, Hugo de Brito. Comentários ao Código Tributário Nacional. Vol. III. São Paulo: Atlas, 2005.
p. 147.
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ANDRADE FILHO, Edmar Oliveira. O Regime Jurídico Tributário da Mais-Valia sobre Investimentos e do Ágio
por Rentabilidade Futura na Vigência da Lei nº 12.973/2014. In: ROCHA, Sergio André (Coord.). Direito
Tributário, Societário e a Reforma da Lei das S/A. Vol. IV. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p. 151-152.
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8 Conclusões
As considerações precedentes permitem chegar às seguintes conclusões:
i) Após o advento da Lei nº 12.973/2014, a mais ou menos-valia dos
ativos líquidos da sociedade investida deverá ser baseada em laudo de
avaliação elaborado por perito independente.
ii) Esse laudo de avaliação decorre do Purchase Price Allocation realizado
para fins contábeis, na forma do Pronunciamento Técnico CPC nº 15, o
qual deverá tratar somente da mais ou menos-valia dos ativos e passivos
da sociedade adquirida, em linha com o caráter residual do ágio por
rentabilidade futura.
iii) O laudo de avaliação deve ser protocolado na Secretaria da Receita
Federal do Brasil ou ter o seu respectivo sumário registrado no Cartório
de Registro de Títulos e Documento.
iv) Esse prazo legal busca alinhar a legislação tributária às novas práticas
contábeis, tendo em vista que, no âmbito do Pronunciamento Técnico CPC
nº 15, a pessoa jurídica adquirente dispõe de um período de mensuração
de 12 meses para efetuar ajustes nos valores provisórios reconhecidos
em uma operação de combinação de negócios.
v) O laudo de avaliação deve ser elaborado por perito independente, com
habilitação técnica, idoneidade e imparcialidade.
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Abstract: This article examines the legal requirements related to the appraisal report required by
Law No. 12,973/2014 to determine the fair value of assets acquired and the liabilities assumed in
business combinations.
Keywords: Appraisal Report. Equity Investments. Surplus value of assets. Goodwill.
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