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RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS

POR DÉBITOS TRIBUTÁRIOS

Sociedade limitada: art. 1.052, CC.


limitam sua responsabilidade aos aportes que realizam para a formação do capital social -
objetivando restringir sua participação no pagamento dos débitos sociais, desde que não
pratiquem atos com excesso de mandato, violação da lei ou do contrato social.

Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de


tributo ou penalidade pecuniária.

Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se:

I – contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o
respectivo fato gerador;

II – responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação


decorra de disposição expressa de lei.

As Fazendas Públicas ao iniciarem o procedimento que resultará na execução fiscal de tributos,


no momento da inscrição do débito na dívida ativa ou ainda quando da elaboração da petição
inicial do processo executivo, em regra determinam a inclusão dos sócios ou administradores
da empresa executada.
Entretanto, por expressa determinação do artigo 135 do CTN, a responsabilidade destas
pessoas somente ocorrerá quando demonstrados de forma inequívoca os elementos ligando
tais pessoas aos fatos, ou seja, o fato de os sócios haverem agido com excesso de poderes ou
infração à lei, contrato social ou estatutos:

Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações


tributárias resultantes de  atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei,
contrato social ou estatutos: 

I – as pessoas referidas no artigo anterior;

II – os mandatários, prepostos e empregados;

III – os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado


Isto significa que, se o empresário ou administrador agir dentro da lei e do contrato social ou
estatuto e, por circunstâncias do mercado, a empresa da qual é sócio ou administrador não
cumprir com suas obrigações tributárias - seus bens particulares não respondem pela dívida
tributária. Trata-se do caso de simples inadimplência de tributos, e não de sonegação ou
infração à lei.
Portanto, é nula a pretensão da Fazenda em apropriar-se do patrimônio particular de sócios,
sem demonstrar que estes praticaram infração à lei ou ao contrato social de sociedade
limitada. Neste sentido, a seguinte decisão do STJ:

A divergência, na espécie, é no tocante à natureza da responsabilidade do sócio-gerente na


hipótese de não-recolhimento de tributos. Esclareceu o Min. Relator que é pacífico, neste
Superior Tribunal, o entendimento acerca da responsabilidade subjetiva daquele em relação
aos débitos da sociedade. A responsabilidade fiscal dos sócios restringe-se à prática de atos
que configurem abuso de poder ou infração de lei, contrato social ou estatutos da sociedade
(art. 135, CTN). O sócio deve responder pelos débitos fiscais do período em que exerceu a
administração da sociedade apenas se ficar provado que agiu com dolo ou fraude e que a
sociedade, em razão de dificuldade econômica decorrente desse ato, não pôde cumprir o
débito fiscal. O mero inadimplemento tributário não enseja o redirecionamento da execução
fiscal. Isso posto, a Seção deu provimento aos embargos. Precedentes citados: REsp 908.995-
PR, DJ 25/3/2008, e AgRg no REsp 961.846-RS, DJ 16/10/2007. EAG 494.887-RS, Rel. Min.
Humberto Martins, julgados em 23/4/2008.

Especificamente, o STJ, em súmula 430, assim se manifestou:

Súmula 430: “O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não gera, por si
só, a responsabilidade solidária do sócio-gerente”.

Nesta regra, há exceções, como expresso pelo próprio STJ na seguinte súmula:

Súmula 435: "Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar


no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes, legitimando o
redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente".

Observe-se, ainda, que é de 5 (cinco) anos, contados da citação da pessoa jurídica


devedora, o prazo de execução contra os administradores por dívida tributária: 
A Fazenda Pública tem o prazo de cinco anos, contados da citação da pessoa jurídica devedora,
para promover o redirecionamento da execução fiscal contra os responsáveis tributários
relacionados no art. 135, III, do CTN. Precedentes citados: EREsp 41.958-SP, DJ 28/8/2000, e
REsp 142.397-SP, DJ 6/10/1997.  REsp 205.887-RS,  Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado
em 19/4/2005.

pelo princípio da autonomia patrimonial, é que o sócio pessoa


física possui personalidade distinta da pessoa jurídica havendo
uma separação patrimonial entre ambos.
Porém, existem situações atípicas na esfera cível e tributária
que permitem a desconsideração da pessoa jurídica para
alcançar o patrimônio do sócio-dirigente e administradores a
fim de amparar as dívidas da empresa.

Antes cabe relembrar que existem ainda modalidades de


pessoa jurídica com responsabilidade ilimitada, a exemplo do
MEI e Empresa Individual, nas quais o sócio pessoa física
compartilha com as mesmas obrigações da pessoa jurídica,
respondendo diretamente pelo passivo desta com seu
patrimônio pessoal.

Na área cível, determinados contextos fáticos, com a chancela


do Poder Judiciário, autorizam a oneração dos bens e direitos
dos sócios por dívidas da pessoa jurídica. Nesse sentido:

a) má administração ou prática de ato ilícito praticados por


sócios-dirigentes e/ou administradores;

b) confusão patrimonial ou desvio de finalidade;

c) dívidas trabalhista e previdenciárias.


d) práticas lesivas ao consumidor

No âmbito tributário, independentemente, da forma


de constituição da pessoa jurídica, o Fisco pode onerar o
patrimônio dos sócios-dirigentes e/ou administradores através
da inscrição de seus nomes na Dívida Ativa ou mediante o
redirecionamento da execução fiscal da pessoa jurídica.
Tal possibilidade está amparada pelo instituto da
responsabilidade tributária, instituído pelo legislador para
assegura à Fazenda Púbica o efetivo recebimento do crédito
tributário, mediante a atribuição do dever de terceiro arcar
com o ônus de efetuar o pagamento do tributo, quando o
contribuinte se torna incapaz deste mister.
A relação jurídica tributária passa a ter dois integrantes no
polo passivo como exemplificado na literalidade dos
artigos 121 e 128 do CTN. In verbis:
“Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa
obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária.

Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-


se:

I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a


situação que constitua o respectivo fato gerador;

II - responsável, quando, sem revestir a condição de


contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de
lei.”

“Art. 128. Sem prejuízo do disposto neste capítulo, a lei pode


atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito
tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da
respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do
contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do
cumprimento total ou parcial da referida obrigação.”

Os artigos 134 e 135 do CTN regulam a responsabilidade de
terceiros. O primeiro dispõe sobre atuação regular, dentro da
lei, e o último, uma infração legal, ato contrário ao contrato
social/estatutos ou um agir com excesso de poderes.
A responsabilidade de terceiros decorrente de atuação regular
recai sobre pessoa que falhou no cumprimento de um dever
legal de gestão ou vigilância do patrimônio do contribuinte
inadimplente com o qual mantém um vínculo jurídico, sem
contrariar à lei, contrato social/estatutos. Neste caso, deverá
haver ao menos uma vinculação indireta do terceiro com o fato
gerador da obrigação tributária.

O art. 134 do CTN nomina de forma exaustiva os terceiros que


assume essa responsabilidade por transferência, solidária com
o contribuinte quando este descumpre a obrigação tributária,
sem se perquirir as razões do inadimplemento:
Art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigência do
cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte,
respondem solidariamente com este nos atos em que
intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis:

I - os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores;

II - os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus


tutelados ou curatelados;

III - os administradores de bens de terceiros, pelos tributos


devidos por estes;

IV - o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio;

V - o síndico e o comissário, pelos tributos devidos pela massa


falida ou pelo concordatário;
VI - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício,
pelos tributos devidos sobre os atos praticados por eles, ou
perante eles, em razão do seu ofício;

VII - os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas.

Parágrafo único. O disposto neste artigo só se aplica, em


matéria de penalidades, às de caráter moratório.

Assim, por se tratar de responsabilidade solidária, a cobrança


independe da verificação da impossibilidade de cumprimento
da obrigação principal pelo contribuinte. Por esta razão, o
terceiro arca com o principal e multa de caráter moratório, mas
não com as multas punitivas.

Por fim, resta dizer que o artigo trata de uma responsabilidade


ilimitada. É regra geral, que, inexistindo disposição em
contrário, é aplicada a qualquer obrigação tributária.

Por sua vez, o artigo 135 do CTN, dispõe sobre uma relação de


caráter pessoal e exclusivo, resultante de atos praticados em
excesso de
poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos. É dizer,
vincula-se ao cometimento de ato ilícito, in verbis:

“Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos


correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos
praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato
social ou estatutos:

I - as pessoas referidas no artigo anterior;

II - os mandatários, prepostos e empregados;

III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas


jurídicas de direito privado.”
A responsabilidade é pessoal, tanto na infração, como na
sanção. A sua aplicação enseja a imputação de multa punitiva
e, eventualmente, implicações penais. Trata-se de regra de
aplicação excepcional devendo ser comprovadas a prática do
ato ilícito e a intenção dolosa do agente.

Trata-se de uma espécie de responsabilidade por substituição


pois a obrigação tributária já nasce para o terceiro desde o fato
gerador. É subjetiva pois o termo “pessoalmente” do artigo
exige a prática por agentes com poderes de representação da
pessoa jurídica.

Há três correntes distintas que tratam do tema da


responsabilidade do administrador, sob a égide do
art. 135 do CTN, relevantes para a definição do ônus probatório
das partes:
1ª - pressupõe a responsabilidade solidária entre o
administrador e a sociedade. Em caso de dissolução irregular
da sociedade o sócio-dirigente é responsabilizado e cabe a este
comprovar a ausência do elemento volitivo na prática do ilícito.

2ª – prevê que a responsabilidade do sócio-gerente é


subsidiária a obrigação tributária da sociedade. O Fisco
executa primeiro a empresa e não logrando êxito, redireciona a
execução fiscal para as pessoas físicas administradoras.

3ª – responsabiliza exclusivamente os sócios-dirigentes,


exonerando a pessoa jurídica do pagamento da obrigação
tributária e atribuindo ao Fisco o ônus probatório da intenção
do agente e a prática do ilícito.

Do exposto, pode-se extrair as seguintes conclusões:

a) O administrador poderá responder solidariamente com a


sociedade pelos débitos tributários desta junto ao fisco.

b) a responsabilidade será exclusiva do sócio-dirigente se


apenas este se beneficiou do ilícito, não logrando a pessoa
jurídica quaisquer vantagens decorrentes da ação delitiva.
Neste caso, estará desonerada da obrigação tributária.

c) o sócio-dirigente deve possuir poderes de representação


vigentes à época do fato gerador. Em caso de imputação em
face da dissolução irregular da sociedade, deverá ter
procuração válida, também, nesse momento para fins de
responsabilização.

Cabe destacar que o mero inadimplemento tributário não


enseja na responsabilização do sócio-dirigente e
administradores. Esse é o entendimento do STJ consolidado no
teor da súmula 430:

"O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não


gera, por si só, a responsabilidade solidária do sócio gerente".

Portanto, cabe ao Fisco a comprovação de que o agente


(administrador) agiu com excesso de poderes ou infração à lei,
ao contrato social ou estatutos (elemento objetivo) e que tinha
a intenção deliberada de praticar o ato ilícito (fator volitivo).

É dizer que se o sócio ou administrador agir dentro da lei e do


contrato social ou estatuto e, por circunstâncias do mercado, a
empresa da qual é sócio ou administrador não cumprir com
suas obrigações tributárias, os seus bens particulares não
respondem pela dívida tributária. Nesta hipótese, haverá a
simples inadimplência de tributos e não de sonegação ou
infração à lei.

Porém, a execução fiscal será redirecionada para o sócio,


mediante o mero indício de ocorrência de dissolução irregular
da sociedade cabendo a este a comprovação de que agiu de
boa-fé e dentro das normas.

Explica-se: a dissolução irregular da sociedade é uma hipótese


de responsabilização do sócio-gerente, nela ocorre a inversão
do ônus da prova, de tal modo que, cabe ao sócio a
demonstração de que não houve o cometimento de ilícito.

Segundo jurisprudência do STJ, emanado da súmula 435,


“presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar
de funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos
órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da
execução fiscal para o sócio-gerente".

Daí a importância de se comunicar às autoridades fazendárias


a mudança de endereço da empresa, sob pena de incorrer na
presunção relativa de dissolução irregular da sociedade e a
responsabilização pessoal do sócio-gerente/administrador.

Vale destacar a exigência de procuração válida do


administrador no momento do inadimplemento do tributo
(fato gerador) e na dissolução irregular da sociedade, sob pena
do Fisco não poder atribuir a responsabilização de terceiros.
Nesse sentido o julgado:

Ainda, embora seja necessário demonstrar quem ocupava o


posto de gerente no momento da dissolução, é necessário,
antes, que aquele responsável pela dissolução tenha sido
também, simultaneamente, o detentor da gerência na
oportunidade do vencimento do tributo. É que só se dirá
responsável o sócio que, tendo poderes para tanto, não pagou o
tributo (daí exigir-se seja demonstrada a detenção de gerência
no momento do vencimento do débito) e que, ademais,
conscientemente, optou pela irregular dissolução da sociedade
(por isso, também exigível a prova da permanência no
momento da dissolução irregular) (AgRg no Resp
147.4570/SP – Relator (a) Ministro SÉRGIO KUKINA (1155) –
PRIMEIRA TURMA – Dje 17.12.2014).
Outra questão relevante na execução do sócio-dirigente ou
administrador é

a inclusão do seu na certidão de dívida ativa. Se na CDA


constar o nome do sócio, cabe a este o ônus probatório de não
cometimento do ilícito e boa-fé, pois há a presunção legal de
veracidade do título extrajudicial emitido pela fazenda pública.

Porém, se não houver a inclusão do nome do


administrador/sócio-gerente, cabe ao Fisco a comprovação do
agir com excesso de poderes, contrariedade à lei, contrato
social ou estatuto ou da ocorrência da dissolução irregular da
empresa.

Cabe acrescentar-se que na execução fiscal, a eventual penhora


de bem do sócio, não poderá atingir a meação de seu cônjuge.
Assim, mesmo havendo a desconsideração da personalidade
jurídica para alcançar a pessoa do
sócio-gerente/administrador, a penhora não se atinge os bens
do cônjuge.

Por fim, é importante registrar que o artigo 135 do CTN alcança


as pessoas físicas que representam pessoas jurídicas no caso de
desconto de contribuições previdenciárias descontadas dos
empregados e não repassados à autoridade fazendária. No caso
há infração legal com o crime de apropriação indébita. Logo, as
pessoas físicas respondem pessoalmente com seu patrimônio.

Em síntese, na responsabilização dos sócios-dirigentes ou


administradores é recomendável ao intérprete identificar se o
fato se encontra regulado na área cível ou tributário. Se no
âmbito deste, deve-se proceder a subsunção do fato jurídico ao
disposto nos artigos 134 e 135 do CTN, atentando-se para a
existência ou não da dissolução irregular da sociedade.

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