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AULA 04

ASPECTOS DA CRIMINOLOGIA

PERÍODO PRÉ-CIENTÍFICO
- Textos esparsos da Antiguidade, como, por exemplo, Sócrates (importância da
ressocialização), Hipócrates (premissas de inimputabilidade penal ao insano mental), Platão
(fatores econômicos geram criminalidade).

Características: 

* Ausência de estudo sistematizado (crime e criminoso);


* Explicações sobrenaturais ou religiosas - delito era pecado;
* Demonismo personificado pelo criminoso;
* Divisão: enfoques criminológicos clássicos (filosofia, ideário do iluminismo, reformadores e
direito penal clássico) e empírico (investigações sobre o crime, fragmentada e com fontes
diversificadas, temáticas e isoladas, mas que buscam entender o crime, o porquê de existir –
porém, não há sistematização e não há um projeto ou tentativa de estudo organizado das causas
do crime). 

[ENFOQUE EMPÍRICO]

Idade Média: Europa feudal e religião dominante era o Cristianismo, com poder político da
igreja. O dellito era pecado e o delinquente, pecador. Na produção de provas, admitiam-se
ordálios (juízos de deus - ex: teste paternidade bacia com óleo, pegar pedra, queimaduras -
prova era feita com base na força e sofrimento perante a Deus).

- Santo Agostinho (354 a 430 d.C): pena é medida de defesa social, intimida e promove a
ressocialização do delinquente --> pena é proteção da sociedade.

- São Tomás de Aquino (1.226 a 1.274 d.C): Pobreza grande casa do roubo e deveriam ser
levadas em consideração as condições de miséria. Ideia de justiça distributiva "dar a cada um o
que é seu".

- Demonologia: explicação do mal pela existência do demônio. Existência da natureza e da


qualidade dos demônios - seriam 7 milhões de diabos.
Bernaldo de Quirós considera a demonologia a "mãe' em linha reta da criminologia;
Indivíduos mais afetados: doentes mentais (possessão). Confundidos com demônios.Tratamento
curativo para expulsar o demônio (água gelada e fogo);
Teoria da tentação: criminoso era tentado pelo espiríto do mal. 

Século XVI: Thomas Morus (Utopia, de 1516): o delito conectava-se a vários motivos, mas
destacavam-se a desorganização social e a pobeza (fator socioeconômico).Proposta de que os
poderes públicos arbitrassem medidas para que delinquentes trabalhassem para as vítimas, para
compensar o dano. 

Fisionomistas (séc. XVII e XVIII): como Della Porta e Joahnn Kaspar Lavater, estudavam
aparência externa dos delinquentes (relação entre somático - corpo - e psíquico), buscando
verificar características físicas de matriz criminosa. 

Beleza (não há propensão á prática delituosa) x Feiura (há propensão á prática delituosa)

Referências: Código de Manu, Eximenes. São Jerônimo: "a face é o espelho da alma e os olhos,
mesmo calados, confessam os segredos do coração);
Utilizavam o "Édito de Valério" - presunção de culpabilidade pela feiura;
Marquês de Moscardi (juiz napolitano) - beleza do condenado para aferir o julgamento;
Lavater: "homem de maldade natural" (retrato robô) - homem semelhante a animal.
--> Protagonismo do criminoso: ele é a principal pessoa a ser investigada.
--> Juízes sentenciam pessoas, não casos. 
Obs: no fundo guarda uma carga grande de preconceito e descriminação pelos estrangeiros.

CRANIOSCOPIA (Franz Gall e Jonh Gaspar Spurzhem): medição da cabeça e a forma externa


do crânio determinaria o caráter e personalidade.

FRENOLOGIA (Franz Gall): análise interna da mente, para identificar a localização física de


cada função anímica do cérebro (teoria do crânio - localização). Mapara cerebral.

Criminosos condenados à morte tinham instito de defesa extraordinária, coragem e tendência a


agressividade (localização atrás das orelhas). Tendência homicida (acima e à fente das orelhas).
Tendência a discutir (cabeças mais largas).

Problema: analisa-se as pessoas que foram condenadas, logo, nao analisa-se as que não foram
condenadas. Porém existem pessoas que cometeram crimes e não foram condenadas, e é
possível que pessoas condenadas não tenham cometido crimes. 

Da frenologia irá se desenvolver, mais recentemente, a neurofisiologia e neuropsiquiatria.


AULA 05
[ENFOQUE EMPÍRICO]
CIÊNCIA PENITENCIÁRIA (século XVIII): análise, descrição e denuncia da realidade
penitenciária europeia. Reforma do delinquente deve ser a principal finalidade.
John Howard (1726-1790):
Contra o sistema de comunidades (prisões não diferenciavam presos, apenas retirava da
sociedade e os punia), sem higiene, espaços superlotados.
Buscou reformas legais (educação religiosa, trabalho regular organizado, condições
alimentícias e higiênicas, isolamento parcial e inspeções periódicas) → Impacto nos EUA (1ª
prisão celular, 1797, Newgate prison)
Jeremy Bentham (1748-1832):
Enfoque na prevenção e punição de delitos (utilitarismo). Recusa a pena de morte.
Panopticon: com arquitetura específica para disciplinar o detento (vigilância constante).
Necessidade de utilizar a estatística. Regime penitenciário assentado na doçura (pois são seres
humanos - separação de sexos, higiene e vestuário, alimentação apropriada), rigor (no regime
disciplinar - pela necessidade de ofertar uma resposta pela prática delituosa) e severidade (na
imposição das penas).

PSIQUIATRIA (pré-cientifica) (séc. XVIII) : desenvolvimento da psiquiatria como ciência


autônoma a partir de Philippe Pinel. – rompe com pensamento demonológico e distingue
criminosos de enfermos mentais.
Esquirol: sistematização e classificação de enfermidades.
Morel: ponto de partida para a psicopatologia infantil, pelos estudos entre delinquência e
loucura – doença mental (delito é fenômeno patológico, resultante da interação entre fatores
biológicos hereditários e sociológicos ambientais)

ANTROPOLOGIA (no período pré-científico): estudos com ênfase no ser humano e na


degeneração presente nos delinquentes. Estudos de Broca ou Wilson (crânios de assassinos) e
Thompson (reclusos).
Nicholson: criminoso é variedade mórbida da espécie humana. (teríamos homens e outra
variedade morta)
Lucas (1805-1885): conceito de atavismo: tendência criminosa transmite-se de pai para filho
(hereditariedade) e está presente desde seu nascimento.
Virgílio: “criminoso nato” (2 anos antes de Lombroso): a partir do estudo de 300 condenados
analisou anomalias congênitas, estigmas corporais e enfermidades orgânicas

ESCOLA CARTOGRÁFICA (OU ESTATÍSTICA MORAL) – Quetelet e Garry →


Adolphe Quételet (1796-1864): cria a estatística criminal. Mapas geográficos da criminalidade
(base do que hoje chamamos de “hot spot”).
→ . Teoria das leis térmicas: determinados delitos correspondem a estações do ano – crime
patrimonial no inverno, crime contra a pessoa no verão e crimes contra a dignidade sexual na
primavera.
Indica algo que conseguimos ver bem nas teorias criminológicas atuais: as estatísticas podem
indicar determinados comportamentos de uma determinada cultura – através das estatísticas
posso verificar o que o sistema visualiza, quais são os crimes que chegam até no sistema e
como determinada região tem mais ou menos crimes de determinado tipo.

→ . Delito é fenômeno social – periódico – relacionado a determinados fatores (miséria,


analfabetismo, clima etc) e deve ser estudado pelas estatísticas. → . Concebeu a figura do
homem médio. (é a ficção que volta e meia aparece no direito, que não existe, mas é para fins
estatísticos)
AULA 06
[ENFOQUE CLÁSSICO]

Final do Século XVIII: surgimento da Escola Clássica (“iluminismo penal”) Cesare Beccaria,
Francesco Carrara e Giovanni Carmignani.
Legado liberal, racionalista e humanista do iluminismo.
 Inspirações iluministas que se voltam para a base do iluminismo – ser humano como o centro
da terra – racionalismo – há uma busca de regras gerais quanto ser racional – poder de
gerenciamento. Legado liberal, racionalista e humanista – LOGO vai ser contrário a vários
pressupostos que haviam até então, ex: o juízo de Deus (ordálios);
 A razão que guia o pensamento humano, que deve ser científico (abstrato);
Pensamento mágico e sobrenatural (idade média) cede espaço para o pensamento abstrato
(racional). = grande rompante.
Montesquieu: política criminal deve enfatizar primeiramente a prevenção do delito – é mais
importante prevenir do que castigar – há uma decisão, homem não é guiado apenas aos seus
impulsos. Homem que será punido é um ser racional, e como ser racional ele pode aprender a
não cometer mais crimes, pois uma hora ele irá voltar para a sociedade, e é melhor que tenha
aprendido algo.
Voltaire: Pela legalidade e redução do arbítrio; juízes devem ser escravos da lei, não seus
arbítrios. Pena deve ser proporcional (à personalidade criminosa do autor, natureza do ato,
escândalo produzido e necessidade de exemplo à sociedade)
Rousseau: crime surge com “O contrato social”, etapa necessária da passagem do estado natural
à sociedade organizada pelo Estado. O homem é naturalmente bom, a sociedade o perverte.
Crime demonstra má-estruturação do pacto social e da desorganização estatal. (o crime advém
porque a sociedade ainda não está plenamente organizada, decorre de sua má estruturação,
problemas).

ESCOLA CLÁSSICA

Cesare Beccaria – “Dos delitos e das penas”  grande protagonista  análise de como se
apresentava o direito penal daquele momento (idade média) e defendia postulados
iluministas, voltados para a razão/razoabilidade das penas, voltados para a condição humana.

- Método lógico-abstrato e dedutivo, a partir do silogismo.

- Fundamentação da responsabilidade penal no livre arbítrio = pena advém do livre arbítrio –


eu aplico a pena porque a pessoa poderia não ter praticado o crime (código do delinquente –
sei exatamente quando o estado pode ou não me punir)

- Crítica às arbitrariedades anteriores, da idade média, já que o contrato social pautava a


sociedade civil, a autoridade e o próprio direito de castigar. (Na idade média o “Estado sou
eu”, com o iluminismo isso tende a sumir – o contrato social vincula também o soberano,
aquele que vai organizar a sociedade vai também se vincular a punição).

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