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1
Doutor e Mestre em Direito Penal pela Universidade Federal de Pernambuco; Professor Adjunto de
Direito Penal, Direito Penal Constitucional e Criminologia da Graduação e do Mestrado em Direito da Universidade
Federal de Alagoas. Juiz de Direito em Maceió/AL.
2
CUNHA, Antônio Geraldo da, Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, p. 592. Há autores como Roberto Lyra, in Comentários
ao Código Penal. Rio de Janeiro: Forense, 1955, p. 09, que afirmam ser a palavra derivada de pondus, que
significa peso.
3
REALE, Miguel, Lições Preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 75, acredita ter
havido primeiramente o período da vingança social, para só depois surgir a vingança privada.
supressão da antecedente. Caraterísticas de determinados períodos são sempre observadas
nos precedentes ou nos ulteriores.
A vingança privada teve como marco o talião que representa um avanço, pois
implica, de regra, uma lógica de proporcionalidade, vale dizer a pena não pode ser maior
que o crime. Neste período o ofendido ou os seus parentes, fazia executar a pena contra
o ofensor. Nos costumes primevos de Roma, da Gália e nas chamadas “leis” de Moisés
revela-se a primazia desta fase.
4
LYRA, Roberto, Comentários ao Código Penal, vol. II. Rio de Janeiro: Forense, 1955, p. 13.
5
Arts. 229 e 230, Código de Hamurabi, supervisão editorial Jair Lot Vieira. São Paulo: Edipro,
2000, p. 38.
doméstica6. Após, a pena converteu-se, em regra, pública. Em Roma a Lei das XII Tábuas
adotava, ainda, o talião e a vindita. Mas, em legislação penal posterior (Justiniano) a
salvaguarda do Estado era o fundamento da punição. É a laicização do Direito Penal.
Assevera Aníbal Bruno que "a verdadeira pena é a pena pública, que surge na comunidade
organizada sob o comando de um chefe capaz de aplicá-la e de fazê-la executar segundo
as leis ou os costumes admitidos" 7.
6
LYRA, Roberto, ob. cit., p. 15.
7
In Direito Penal, p. 22.
8
BECCARIA, Cesare, Dei Delitti e Delle Pene, 4a edizione. Milano: Rizzole Editore, 1950.
9
In ob. cit. p. 138, traduzi.
Finalmente, o período científico foi prefaciado pelos estudos do médico italiano
Cesare Lombroso. No que pesem as críticas ao precursor da Escola Positiva, foi ele o
responsável pela progênie da antropologia criminal. Suas teorias sobre o determinismo, o
criminoso nato, encontraram ressonância até os nossos dias, entretanto, a atual
criminologia, esquecendo os devaneios do moderno atavismo lombrosiano, examina não
só o homem "criminoso", mas os processos de criação das normas penais e das normas
sociais que estão relacionadas com os comportamentos desviantes; “os processos de
infração e desvio destas normas; e a reação social, formalizada ou não, que aquelas
infrações ou desvios tenham provocado: o seu processo de criação, a sua forma e conteúdo
e os seus efeitos”10.
A ideia de pena privativa de liberdade tampouco foi conhecida na Idade Média, não
obstante a influência nesta época do Direito Canônico na justiça punitiva. Não é errôneo
identificar, pelo menos, o gérmen da pena privativa de liberdade nas sanções aplicadas
aos clérigos, obrigados a penitências de isolamento em seus claustros.
10
ANIYAR DE CASTRO, Lola, Criminologia da Reação Social, trad. E. Kosowski, Rio de
Janeiro: Forense, 1983, p. 52.
11
ULPIANO. DIGESTO, liv. 1º, tit. 48, cap. 9º.
conservavam a riqueza da época, e de segurança contra bandos armados que os
assaltavam, bem como contra os senhores feudais, que os exploravam através de
impostos. A solução para este problema constituiu-se no apoio dado pela burguesia às
tentativas de centralização de poder nas mãos de monarcas feudais.
12
MELOSSI, Dário e PAVARINI, Massimo. Cárcere e Fábrica – As origens do sistema
penitenciário. Trad. Sérgio Lamarão, Rio de Janeiro: Revan, 2006.
13
MELOSSI & PAVARINI, cit. p. 168.
14
BITENCOURT, Cezar Roberto, Falência da Pena de Prisão. São Paulo: Saraiva, 2015, p.
65.
mundo que o cerca, para que ele desça à sua consciência, interrogue-se e sinta despertar
em si o sentimento moral que nunca perece inteiramente no interior do homem15.
Fig 117
15
FOUCAULT, Michel, Vigiar e Punir. Rio de Janeiro: Vozes, 1993, p 213.
16
MELOSSI & PAVARINI, cit. p. 169.
17
Panoptican de Bentham.
18
FOUCAULT, Michel, .Vigiar e Punir, cit., p. 212.
As regras de silêncio absoluto impostas aos detentos fizeram com que eles
conversassem com as mãos, forçando-os à adoção de sinais próprios para comunicação,
prática ainda existente nos cárceres. Como nos diz, poeticamente, Galeano:
Melossi e Pavarini, em sua visão marxista, destacam como essencial nos dois
sistemas, a função desempenhada pela pena privativa de liberdade como instrumento de
dominação e controle das forças produtivas, enxergando-os semelhantes, sobretudo no
modo como tencionam a aniquilação, via isolamento, de toda relação paralela (entre
internos-operários, entre os “iguais”), realçando, através da ostensiva disciplina, as
relações verticais (entre superior e inferior, entre os “distintos”)22.
19
, Idem, Ibidem.
20
FOUCAULT, Michel, Vigiar e Punir , cit. p. 214.
21
Idem, ibidem.
22
MELOSSI E PAVARINI, cit., p. 197
23
Idem, ob. cit., p. 197
como a econômica, permitindo inclusive o alojamento de mais presos, além do que era
mais favorável às condições imperantes do desenvolvimento produtivo24.
Menos de meio século sobreviveram estes sistemas em sua forma original25. Com
o seu declínio surgiram tentativas de individualização do tratamento prisional
tencionando trabalhar com o senso de responsabilidade do preso, fazendo-o participar do
processo que ensejaria sua liberdade26, estimulando sua “boa conduta”, com o intento de
sua “reforma moral” e “preparação para vida em sociedade”27. Aparecem, assim, os
sistemas progressivos, voltados ao comportamento dos reclusos, como fator determinante
na melhoria das condições do cumprimento da pena até a própria libertação. Segundo
indicam os autores28, o sistema progressivo foi iniciado em uma prisão inglesa na ilha
australiana de Norfolk. Em 1840, o capitão inglês Alexander Maconochie adotou para
colônia penal um sistema de marcas (mark system)29, no qual, pelo rendimento no labor
e boa conduta, o apenado adquiria marcas ou vales responsáveis pela redução de sua pena.
A duração da pena dependia basicamente da conduta do recluso. O cumprimento da
sanção era, portanto, indeterminado. O sistema progressivo inglês, como ficou conhecido,
dividia-se em três estágios: o primeiro era o de provas, do isolamento celular do
condenado; o segundo, do trabalho em comum, dividido em várias classes, nas quais os
condenados iam ascendendo quando adquiriam certo número de marcas até a obtenção
do ticket of leave que os alçava ao terceiro e último estágio, o da liberdade condicional30.
24
BITENCOURT, Cezar Roberto, Falência da Pena de Prisão..., cit. p. 80
25
BRUNO, Aníbal, Direito Penal, cit. p. 69
26
Idem, p. 70.
27
BITENCOURT, Cezar Roberto, Falência da Pena de Prisão..., cit. p. 81.
28
Vide BRUNO, Aníbal, Direito Penal, cit. p. 70 e BITENCOURT, Cezar Roberto , Falência
da Pena de Prisão..., cit. p. 82
29
BRUNO, Aníbal, Direito Penal, cit. p. 70
30
BITENCOURT, Cezar Roberto, Falência da Pena de Prisão..., cit., p. 83.
onde o detento trabalhava no exterior do estabelecimento, ao ar livre, preferencialmente
com atividades agrícolas31.
31
Idem, p. 84.
32
BRUNO, Aníbal, Direito Penal, cit., p. 72.