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TEORIA GERAL DA INFRAÇÃO PENAL

OU TEORIA DO CRIME

FATO TÍPICO – 1º substrato


- O Direito Penal só se preocupa com os fatos (crimes).
- Os fatos precisam ser humanos e indesejados pela sociedade.
- Princípio da Intervenção Mínima:
a) subsidiário: o Direito Penal não age em todos os aspectos da vida humana, ele só
entra em cena se outro ramo do direito não for capaz de resolver o conflito.
b) fragmentário: o Direito Penal não pune todas as condutas, somente alguns bens
jurídicos determinados. Ex.: alguém que infringe o sinal vermelho não é preso, recebe
uma multa.
CONDUTA: 1º ELEMENTO DO FATO TÍPICO
“É a ação ou omissão humana, consciente e voluntária, dirigida a uma finalidade”.
*Para entender “dirigida a uma finalidade” podemos citar a discussão nos tribunais a
respeito de se no caso houve uma lesão corporal ou uma tentativa de homicídio, por
exemplo.
-Hipóteses que excluem a conduta:
a) Caso Fortuito/de Força Maior: raio que mata alguém, coação física irresistível ou
inundação.
b) Sonambulismo: ato obsceno.
c) Movimento Reflexo: susto que gera um movimento involuntário de um braço que
lesiona alguém.
d) Desmaio: alguém desmaia e cai sobre uma criança.

Formas de Conduta
a) Conduta por ação ou Comissão: comportamento positivo, movimentação corpórea.
Ex.: agredir com socos alguém.
b) Conduta por omissão ou Omissiva: comportamento negativo, abstenção de
movimento. Essa conduta se divide em:
I. Crimes omissivos próprios ou puros: Art.135 – deixar de prestar assistência, quando
possível fazê-lo sem risco pessoal, ou não pedir o socorro da autoridade pública.
II. Crimes omissivos impróprios ou impuros: Art. 13, § 2º - A omissão é penalmente
relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir
incumbe a quem:
1. Tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância. Ex.: pai em relação aos
filhos, salva-vidas em relação a quem se afoga etc.
2.De outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado. Ex.: vigia
contratado pelo condomínio observa ladrão furtando um apto. e nada faz para evitar o
resultado - responde por furto também.
3.Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. Ex.: “A”
joga “B” na piscina ciente de que “B” não sabe nadar. “A” responde por homicídio
doloso por omissão se não pular na piscina para salvar “B” e evitar o resultado morte.
* Um salva-vidas que vê alguém se afogando e não age responde por homicídio doloso
por omissão (crime omissivo impróprio). Um banhista que vê alguém se afogando e
não age, é julgado por omissão de socorro (crime omissivo próprio).
ESPÉCIES DE CONDUTA

Conduta dolosa
Art. 18 inciso I do Código Penal
Dolo: “vontade consciente dirigida a realizar (ou aceitar realizar) a conduta descrita no
tipo penal”.

Elementos que Compõem o Dolo:


a) elemento volitivo: vontade
b) elemento intelectivo: consciência

Teorias Sobre Dolo:


a) Teoria da Vontade: é o querer praticar o tipo penal. Ex.: “A” atira para matar “B”,
matando-o.
b) Teoria do Assentimento ou Consentimento: o agente prevê o resultado e assume o
risco de produzi-lo. Ex.: “A” atira para matar “B”, percebe que pode matar “C” com o
disparo e aceita a possibilidade. “A” agiu em dolo, com base na Teoria do
Consentimento.  Dolo eventual.

Conduta culposa
Art. 18 inciso II do Código Penal
Culpa: quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou
imperícia.

Elementos da Conduta Culposa:


Violação de um dever de cuidado objetivo que se manifesta pela:
a) Imprudência: é a forma positiva da culpa, tem forma ativa. Ex.: Dirigir em alta
velocidade em dia de chuva.
b) Negligência: é omitir a ação cuidadosa que as circunstâncias exigem. Ex.: Conduzir
um veículo com pneus gastos.
*Na dúvida entre imprudência e negligência, essa última deve ser eleita.
c) Imperícia: acontece no exercício de arte, profissão ou ofício. Ex.: Médico realiza
parto com imperícia e causa morte da gestante.

Espécies de Conduta Culposa


a) Culpa Inconsciente, Sem Previsão ou Ex Ignorantia: o agente não prevê o resultado
objetivamente previsível. Ex.: “A” negligentemente esquece seu filho no banco traseiro
do veículo, vindo este a óbito devido ao calor.
b) Culpa Consciente, Com previsão ou Ex Lascívia (por divertimento, por brincadeira): o
agente prevê o resultado, mas espera que ele não ocorra supondo poder evitá-lo com
suas habilidades ou com a sorte. Ex.: “A” atira na caça consciente que pode atingir seu
amigo que está próximo ao alvo, mas confia na sua pontaria e que o pior não vai
acontecer. “A” atira, erra o alvo e certa o amigo  Há homicídio culposo.

Espécies de Conduta

CONDUTA DOLOSA OU CULPOSA QUALIFICADA PELO RESULTADO


- Artigo 19 do Código Penal

Dolo na Conduta Anterior + Dolo na Conduta Posterior

* “A”, mediante ameaça com arma, subtrai o celular de “B”. Ao reagir, “B” é morto por “A”. Há
dolo na subtração e dolo no resultado agravador (morte).

* Dolo na Conduta Anterior: Art.157, caput, do CP – pena: reclusão de 4 a 10 anos e multa.

* Dolo na Conduta Posterior: Art. 157 § 3º do CP – pena: [...] se resulta morte, a reclusão é de
20 a 30 anos e multa.
Culpa na Conduta Anterior + Culpa na Conduta Posterior

* “A”, negligentemente, esquece uma vela acesa e incendeia o local. O fogo se espalha e mata
um vizinho. Há culpa no incêndio e culpa na conduta de matar – incêndio culposo com vítima
fatal.

* Culpa na Conduta Anterior: Art. 250 § 2º do CP – pena: detenção de 06 meses a 02 anos.

* Culpa na Conduta Posterior: Art.258 do CP – pena: se resulta morte, aplica-se a pena


cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço.

Culpa na Conduta Anterior + Dolo na Conduta Posterior

* “A”, com imprudência, atropela uma vítima. Após, dolosamente deixa de socorrê-la. No
atropelamento há culpa e omissão de socorro há dolo.

* Culpa na Conduta Anterior: Art. 303, caput, da Lei 9.503/97 – pena: detenção de 06 meses a
02 anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
automotor.

* Dolo na Conduta Posterior: Art. 303, § único da Lei 9.503/97 – pena: aumenta-se a pena de
1/3 à metade.

Dolo na Conduta Anterior + Culpa na Conduta Posterior (CRIME PRETERDOLOSO)

“A”, irritado, dá um soco em “B”, que cai, bate a cabeça na calçada e morre. A lesão corporal
(soco) foi dolosa, a morte foi culposa.

Dolo na Conduta Anterior: Art. 129, caput, do CP – pena: detenção de 03 meses a 01 ano.

Culpa na Conduta Posterior: Art. 129 § 3º do CP – pena: reclusão, de 04 a 12 anos se resulta


em morte e as circunstâncias revelam que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco
de produzi-lo.

ERROS ESSENCIAIS SOBRE OS ELEMENTOS DOS TIPOS PENAIS QUE EXCLUEM A


CONDUTA DOLOSA
Artigo 20, caput, do Código Penal

ERRO DE TIPO ESSENCIAL: Art. 20 do CP – “O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal
de crime exclui o dolo, mas permite a punição culposa, se previsto em lei”.

FORMAS DE ERRO DE TIPO


a) ERRO DE TIPO ESCUSÁVEL, INEVITÁVEL ou INVENCÍVEL: efeito penal é a absolvição do
agente infrator.

b) ERRO DE TIPO INESCUSÁVEL, EVITÁVEL ou VENCÍVEL: efeito penal é a condenação do agente


infrator por um crime culposo se houver previsão legal. Se não houver, há absolvição.

DESCRIMINANTE PUTATIVA: Art. 20 § 1º do CP – É isento de pena quem, por erro


plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a
ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como
crime culposo.

Ex.: policial confunde furadeira com arma e mata cidadão.

ERROS ACIDENTAIS SOBRE OS TIPOS PENAIS QUE NÃO EXCLUEM A CONDUTA


DOLOSA
Artigo 20, § 2º do Código Penal

ERRO DE TIPO ACIDENTAL DETERMINADO POR TERCEIRO: Artigo 20, § 2º do CP –


“Responde pelo crime o terceiro que determina o erro”.

Ex.: Médico induz a enfermeira a injetar substância letal no paciente sem ela saber. O médico
responde por homicídio doloso (autor mediato). A enfermeira não pratica crime.

Ex. 2: Maria injeta vaselina líquida ao invés de soro no braço do paciente que sofreu
queimaduras e está internado no hospital. Maria alegou que o vidro de vaselina era idêntico
ao de soro. Quem colocou o vidro de vaselina no lugar em que ficavam os vidros de soro é que
responde por crime culposo – erro acidental culposo determinado por terceiro.

ERRO DE TIPO ACIDENTAL SOBRE A PESSOA: Art. 2º, § 3º do CP – “O erro quanto à pessoa
contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, nesse caso, as
condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o
crime”.

Ex.: Pedro queria matar o próprio irmão. Põe-se de emboscada e, percebendo a aproximação
de alguém, efetua disparos vindo a matar um terceiro que achava ser seu irmão. Pedro
responderá por homicídio doloso como se tivesse matado seu próprio irmão, incidindo a
agravante genérica do Art. 61, II, e – crime cometido contra irmão.

ERRO DE TIPO ACIDENTAL SOBRE O OBJETO (CONSTRUÇÃO DA DOUTRINA)

RESULTADO: 2º ELEMENTO DO FATO TÍPICO


Resultado Naturalístico/Material: é a modificação provocada no mundo exterior perceptível
pelos sentidos. Ex.: a morte. Nem todos os crimes possuem esse resultado.

- Classificação dos crimes quanto ao Resultado Naturalístico ou Material

a) Crimes materiais: dependem de um resultado naturalístico para sua consumação – ex.: se


não houve o resultado naturalístico morte, o crime foi uma tentativa de homicídio e não um
homicídio propriamente dito.

b) Crimes formais: não é necessário que o resultado naturalístico ou material ocorra para que
haja consumação do crime – ex.: no crime de corrupção passiva, a vantagem indevida não
precisa ser recebida pelo funcionário público: basta ele solicitá-la para que o crime se
consume.

Resultado Jurídico/Normativo: é a lesão ou ameaça de lesão a um bem jurídico penal. Todo


crime possui resultado jurídico ou normativo porque todo crime fere um bem jurídico
protegido.

- Classificação dos crimes quanto ao Resultado Jurídico ou Normativo

a) Nos crimes de dano é necessária a lesão ao bem jurídico protegido pela lei penal – ex.: no
crime de homicídio é preciso que a vítima seja atingida para ocasionar a morte.

b) Nos crimes de perigo é necessária a exposição do bem jurídico a uma situação de perigo –
ex.: o crime de posse ilegal de armas pune quem tem uma arma sem registro para evitar que
ela seja utilizada contra alguém de modo errado.

RELAÇÃO DE CAUSALIDADE/NEXO CAUSAL: 3º ELEMENTO DO FATO TÍPICO


Artigo 13 do Código Penal

“O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe causa.
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”.

- A teoria adotada pelo art.13 é a Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causais, também
chamada de teoria da conditio sine qua non. Causa é toda ação ou omissão sem a qual o
resultado não teria ocorrido.

Ex.: um motorista do carro “A” atropela um ciclista, que fica levemente ferido e é levado ao
hospital por uma ambulância. Durante o trajeto, um motorista de um outro carro “B” fura o
sinal vermelho, colide com a ambulância e mata o ciclista  o culpado pela morte é o
motorista do carro “B”.

TIPICIDADE: 4º ELEMENTO DO FATO TÍPICO


É o enquadramento da conduta ao tipo penal (tipicidade formal) + a lesão ao bem jurídico
protegido pela lei penal (tipicidade material).

*tipicidade formal: ideia de que se precisa ter uma lei que considera o fato como crime.

*tipicidade material: ideia de que se precisa ter uma lesão a um bem jurídico protegido pela lei
para o fato ser considerado crime.

Iter Criminis: Fases do Crime


Cogitação e Preparação: em regra, fases impuníveis do crime.

a) Cogitação: “A” pensa em matar “B”.

b) Preparação: “A” se coloca de emboscada e compra uma arma (legal).

Execução e Consumação: em regra, fases puníveis do crime.

a) Execução: “A” atira em “B”.

b) Consumação: “A” atira e mata “B”.

Crime Tentado x Crime Consumado


Art.14 – Diz-se o crime:

I. Consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal.

II. Tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade
do agente.

*Pena de Tentativa: salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com pena


correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.

TIPOS DE CRIME QUE NÃO ADMITEM TENTATIVA

a) Crime Culposo: nele não existe dolo de consumação (elemento da tentativa).

b) Crime Preterdoloso: o resultado que agrava ou qualifica o crime não é alcançado pelo dolo
do agente (e sim a título de culpa).

c) Crime Unissubsistente: consumam-se com um único ato – ex.: crime de omissão de socorro.

TENTATIVA IMPUNÍVEL, ABANDONADA OU QUALIFICADA


DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA

- Art.15 do CP, 1ª parte: “O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução,


só responde pelos atos já praticados.”

Ex.: João levanta uma faca para golpear Pedro. Nesse instante, desiste, recolhe o movimento
do braço e não ataca a vítima. João pode responder por porte de arma branca, mas não há
tentativa de homicídio.
ARREPENDIMENTO EFICAZ

- Art.15 do CP, 2ª parte: “O agente que, voluntariamente, impede que o resultado se produza,
só responde pelos atos já praticados.”

O arrependimento eficaz ocorre quando os atos executórios já foram todos praticados, porém,
o agente, abandonando o intento, desenvolve nova conduta para impedir o resultado. Ex.:
Eduardo atira em seu primo Tobias, mas se arrepende. Ele conduz Tobias a um hospital, onde
este é salvo, mas sofre lesões graves. Eduardo não responde por tentativa de homicídio, mas
tão somente por lesão corporal grave - crime menos grave pois evitou que o crime de
homicídio se consumasse.

ARREPENDIMENTO POSTERIOR

- Art.16 do CP: “Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o
dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do
agente, a pena será reduzida de um a dois terços”.

O sujeito já consumou o crime, se arrepende posteriormente.


TENTATIVA IMPUNÍVEL ou CRIME IMPOSSÍVEL
Art. 17 do CP – “Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por
absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.”

- Por ineficácia absoluta do meio: Henrique, querendo matar Paulo, pega um pote de açúcar
pensando ser de veneno. Após servir a comida com açúcar a Paulo, Henrique percebe que
errou o produto. Não há crime de tentativa de homicídio de Henrique contra Paulo.

- Por impropriedade absoluta do objeto: Pietra, pensando estar grávida, toma remédio
abortivo. Na realidade, não está grávida. Não será punida por tentativa de autoaborto por força
do art. 17 do CP.

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