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1-Expor os factos
Tribunal 1 instancia
Disse o arguido que o ofendido teria pedido a AA para dormir em sua casa, já que
depois de beber, alegou não estar em condições para ir embora. O arguido teria então
negado tal dormida, mas depois de muita insistência, deixado. Foi então que enquanto
fazia a cama, o ofendido lhe teria dado dois empurrões contra a parede e agarrado seu
pescoço.
deslocou-se para a cozinha da sua residência onde pegou numa machada com
cabo de madeira, com comprimento total de 30 cm, com cabo em madeira,
torneado, com cerca de 18 cm e na face lateral uma lâmina de superfície
cortante com cerca de 10 cm de comprimento;
2- Tipo Ilícito
3- Tipo de Culpa
Jorge de Figueiredo Dias, ao contrário do defendido por Maria Fernanda Palma, não
aceita já as circunstâncias como um tipo de ilicitude agravada, mas antes como
elementos constitutivos do tipo de culpa.
Num sentido oposto que Figueiredo Dias está Fernando Silva para quem (…) a
qualificação do homicídio tem como fundamento a culpa agravada que o agente
revela com a sua actuação, sendo um tipo de culpa. (…) o tipo do artigo 132º do
Código Penal integra elementos da culpa, traduzidos na maior censurabilidade ou
perversidade reveladas pelo agente, correspondendo a um grau de censura agravado
conformado através destes conceitos.
No fundo, estamos em presença de um tipo de culpa agravada assente numa
cláusula geral de culpa com recurso a conceitos indeterminados, que serão
explicados a seguir:
Sendo assim , pode - se afirmar que mesmo as circunstancias que respeitam a forma do
cometimento do crime , ou seja, o amior desvalor da conduta , são sempre mediadas por
um especial tipo de culpa. Exemplo: o veneno utilizado para matar não revela em si que
é homicídio qualificado e somente acompanhado de perversidade e censurabilidade de
acordo com Margarida silva pereira
Sendo assim, o homicídio qualificado nunca entra numa relação e concurso com o
homicídio simples já que a cada um desses preceitos prevalece um tipo especial e
diferente de culpa
Tendo isso em conta , o 131 e o 132 NÃO são dois tipo ilícitos autônomos como
sustenta souza e brito.O 132 estabelece uma pena agravada para caso especialmente
censuráveis ou perversos do homicídio
Assim sendo, cabe concluir que de outra forma que quando olhamos para o artigo
132º do Código Penal está em causa uma culpa agravada e não um maior grau de
ilícito. Parece-nos que de outro modo não faria sentido uma vez que tratando-se o
homicídio qualificado de um crime intimamente ligado ao homicídio simples e
tendo na base o mesmo tipo de ilícito, a agravação só poderia provir de uma culpa
agravada
Exemplo de jurisprudência :
Alínea h )
4- Meio perigoso - Argumento 1
Como pondera Figueiredo Dias - In Comentário Conimbricense do Código Penal, Tomo I, pág.
37., a propósito do crime de homicídio, a exigência legal de que o meio seja
particularmente perigoso determina, por um lado, que ele revele uma
perigosidade muito superior à normal nos meios usados para matar – não
cabendo no exemplo padrão e na sua estrutura valorativa os revólveres,
pistolas, facas ou vulgares instrumentos contundentes – e por outro, é
necessário determinar, com particular rigor, se da natureza do meio
utilizado – e não de outras circunstâncias coexistentes – resulta já uma
especial censurabilidade ou perversidade do agente.
Meio particularmente perigoso é, assim, sinónimo de meio muito
desproporcional a causar o resultado pretendido pelo agente, ou seja, que
para além deste resultado visado, coloca ou tem virtualidade de colocar em
perigo outros bens jurídicos, em enorme desproporção com aqueles que era
necessário e suficiente colocar em perigo para obter o fim pretendido pelo
agente. É, pois, meio diferente dos instrumentos usuais de agressão, que são
aptos a produzir o resultado querido pelo agente e que são insuscetíveis de
colocar em perigo outros bens que não são objeto de referência do dolo do
agente. É aquele meio que, quando usado na prática de ofensa à integridade
física, encerra uma potencialidade de dano muito superior aos meios e
instrumentos normalmente usados na prática de agressões físicas.
“Depois, o ofendido teria pedido para dormir em sua casa já que alegava não
estar em condições de ir embora, dizendo o arguido que negou tal dormida,
mas como o ofendido insistia, acabou por lhe oferecer a cama no barracão.
Foi então que, enquanto fazia a cama que o ofendido lhe teria dado dois
empurrões contra a parede e agarrado o pescoço. Tendo "sacudido" o
ofendido, na sua expressão, com os nervos, foi à cozinha buscar a machada
e deu-lhe com ela assim que o avistou novamente à entrada do barracão.”
“Mais disse que o ofendido caiu e que pensou que o tivesse matado, indo
chamar o António à cama para chamar os bombeiros, indo aquele até casa
de uma vizinha, já que a casa do arguido não dispõe de telefone nem
telemóvel, mas o António disse que a vizinha não o tinha atendido. Referiu
ainda o arguido que voltou ao barracão mas já não estava lá o ofendido,
pensando que alguém o tivesse socorrido.”
“ Como não existia na residência qualquer meio de comunicação,
designadamente telefone ou telemóvel, CC foi a casa de uma vizinha a fim de
pedir ajuda”
Defesa
Impulsividade
Tentou socorrer
Meio simples
Sem grande cultura
Não podemos admitir que cresceu em um meio que não incitava a violência
Não tem antecedentes
CONCLUSÃO:
No entanto, segundo esta interpretação que tem, como se disse, por base uma conceção
de tipo especial de ilícito, que tem em conta não como o agente ou a vítima
percecionam que as circunstâncias se verificaram, mas ao qual está associada uma ideia
que não há “linguagens privadas”, que as circunstâncias devem ser aferidas em atenção
à maior ofensividade do bem jurídico vida ou mesmo de outros bens jurídicos e, assim,
ao maior desvalor da ação e do resultado, como critérios de ilicitude material,
poderíamos ponderar se, no caso, apesar de não considerar que foi utilizado um meio
particularmente perigoso, estaria presente a utilização de um meio insidioso. Ora, desde
logo, o meio insidioso não pode ser confundido com o simples veneno, pois o próprio
veneno apenas indicia a utilização de um meio insidioso, que se podem naturalmente
referir a outros.
A utilização de um meio insidioso para a prática de um homicídio deve referir-se a
circunstâncias que integram o tipo de ilícito e operam a qualificação do crime. Logo,
para definir o que seja um meio insidioso o foco encontra-se essencialmente no desvalor
objetivo da ação, no sentido de uma mais intensa ofensividade do bem jurídico vida,
percecionado pela sociedade, que se revela essencialmente por o agente atuar,
atendendo às circunstâncias que envolvem a sua ação, de modo simulado ou traiçoeiro,
dificultando as possibilidades de defesa da vítima. Ora, neste caso, o agente, ao dar
guarida à vítima, criou a expectativa de lealdade e proteção, enquanto permanecesse no
lugar indicado para passar a noite, que não seria alvo de um ataque por parte de quem
tivesse acesso a esse lugar, tal como o arguido e, neste sentido, existiria também uma
afetação significativa das possibilidades de defesa da vítima, na medida em que não se
encontrava e nem sequer se poderia esperar que estivesse em modo alerta contra
eventuais ataques que viessem a ocorrer enquanto estivesse naquele local naquela noite.
Para além de que, quando o agente a atacou, ter utilizado um meio que, apesar de ser
comum, pois o agente usava a machada normalmente para cortar lenha, se concretizou
em circunstâncias que dificultaram a possibilidade de defesa da vítima, na medida em
que o agente atacou a vítima com uma machada, às escuras, pois, como se viu, o
barracão não tinha qualquer iluminação, o que não permitiria à vítima poder escapar ou
reagir contra o eventual ataque, como se viu, apenas conseguiu pôr os braços à frente do
corpo para evitar que as tais intensas lesões no bem jurídico vida pudessem culminar na
verificação do resultado típico do homicídio, a morte.
A uma interpretação diferente se poderia chegar, se partisse da conceção do Art. 132º
como um tipo especial da culpa, na medida a que se referia a uma especial
censurabilidade da conduta do agente e, que, na verificação do exemplo-padrão previsto
no n.º 2, al. i), da utilização de meio insidioso, se manifestaria especialmente numa
espécie de “desvalor da motivação”, em que se exigiria que o próprio agente o tivesse
praticado o crime de homicídio tivesse percecionado as circunstâncias que rodearam a
sua ação como contendo em si uma pré-determinação de traição, engano e ocultação.
No caso, o agente utilizou um meio comum, que utilizava habitualmente para cortar
lenha, encontrando-se na sua residência. Por outro lado, quando o arguido atacou a
vítima, ao entrar no barracão, que não tinha, desde logo, a possibilidade de ter
iluminação por si, não implicaria uma afetação significativa das possibilidades de
defesa da vítima, já que esta estaria já às escuras e em modo alerta quanto a um eventual
ataque, visto encontrar-se num barracão, não sendo a sua residência permanente. Assim,
nem seria suscetível de revelar especial censurabilidade esta circunstância, pois o agente
deixou o arguido ficar no barracão, por sua insistência, estando com receio quanto ao
comportamento deste perante a sua pessoa, nomeadamente, perante o risco que este o
atacasse.
Assim sendo, o homicídio qualificado como um tipo especial de culpa, tendo de revelar
as circunstâncias uma especial censurabilidade do agente, levaria à aferição do dolo em
sede de culpa, partindo do pressuposto que essas circunstâncias agravantes deveriam
revelar uma intenção e representação pelo agente e seriam objeto de um juízo de uma
especial culpa do agente. O agente não pode representar ou representou que a utilização
da machada, naquelas circunstâncias de ausência absoluta de iluminação no barracão,
configurasse um meio especialmente insidioso; mas, somente, representou que se
verificasse o resultado típico morte, que é comum ao homicídio simples. Assim, esta
conceção de tipo especial de culpa, levaria a concluir pela verificação do dolo do tipo,
mas já não do dolo da culpa, em que incluiria a tal indeterminada especial
censurabilidade do agente na realização da circunstância agravante, o que permitiria
punir por homicídio simples, de facto, mas já não por homicídio qualificado.
Como se pode ver esta conceção revela fragilidades que podem e devem ser superadas
através de uma objetivação das circunstâncias agravantes do n.º 2 do Art. 132º, como
revelando um maior desvalor da ação, nomeadamente, um maior desvalor subjetivo da
ação, que ainda se identifica com um critério de ilicitude material e se reconduzirá, em
termos práticos, à aferição do dolo em sede de imputação objetiva, não relevando em
sede de culpa, para efeitos da qualificação do homicídio. Ora, agora partindo de uma
conceção extrovertida da vontade, segundo uma leitura social do facto praticado pelo
agente se pode extrair que a circunstância agravante de utilização de um meio insidioso,
se verifica, em sede de dolo do tipo, pois o agente teve intenção e representou a
verificação dessa mesma circunstância agravante, ao atacar a vítima, embora com uma
machada que não deve ser considerada meio particularmente perigoso, mas em
circunstâncias tais que afetam as possibilidades fácticas de defesa da vítima, ao tirar
vantagem de que o barracão a que conduziu a vítima não tivesse qualquer instalação
elétrica, pelo que seria difícil de reagir contra um eventual ataque seu, colocando-a,
então, numa especial situação de vulnerabilidade, a qual, como se disse, só pode relevar
em sede de imputação objetiva.
Podemos ainda fazer um paralelo com casos semelhantes que foram decididos como
prática de um homicídio qualificado por utilização de um meio insidioso,
nomeadamente, o Acórdão do STJ de 27/09/2000, em que o agente age de surpresa,
seguindo à frente da vítima, se vira e a ataca. Ora, no caso em apreço, o que sucede, em
termos factuais, é precisamente o oposto, o agente indica a futura vítima a um lugar e,
sabendo que se irá manter naquele lugar, vai lá e ataca, adicionando o elemento da
escuridão que, definitivamente, põe em causa seriamente as possibilidades de defesa da
vítima.
Assim, ao contrário da conceção do Art. 132º como tipo especial de culpa, se pode
concluir pela verificação da circunstância agravante, por um maior desvalor da ação, da
utilização de meio insidioso, punindo o agente por homicídio qualificado.
Agente que age dissimuladamente ou traiçoeiramente, sem permitir que a vitima uma
possibilidade razoável de defesa.
I - O meio insidioso compreende não tão-só o meio particularmente perigoso usado pelo
agente mas também as condições escolhidas pelo mesmo para utilizá-lo de jeito a que,
colocando a vítima numa situação que a impeça de resistir em face da surpresa, da
dissimulação, do engano, da traição, lhe permita tirar vantagem dessa situação de
vulnerabilidade.
MEIO INSIDIOSO