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Casos Práticos Direito Penal III

Direito Penal III (Universidade Lusófona de Humanidades e Technologias)

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Casos Práticos
Caso Prático 1
O José vivia com o seu padrasto e a sua mãe, desde pequeno.
Desde sempre, assistia às agressões físicas do seu padrasto à sua mãe. Certo
dia, quando o seu padrasto chegou a casa alcoolizado e, novamente, agrediu a
sua mãe, José, alcançou uma forquilha que tinha ao seu alcance e disferiu um
golpe no padrasto, vindo este a falecer.
Quid iuris quanto à responsabilidade criminal de José?
Resposta:
Antes de enquadrar esta situação num dos crimes de homicídio, importa mencionar que
estamos perante um crime de violência doméstica, previsto e punido no art. 152.º CP.
No entanto, a morte do padrasto de José constitui um crime de homicídio.
Todos os crimes de homicídio que se sucedem ao art. 131.º CP, encontram-se num concurso
aparente de normas numa relação de especialidade.
No âmbito do concurso aparente de normas, na relação de subsidiariedade, se
subsidiariamente praticar um crime como o da violência doméstica mas existir uma outra
norma que não esta, que tenha uma moldura penal mais grave, esses dois crimes irão
concorrer entre si mas o agente irá ser punido apenas por um deles. Quer isto dizer que,
dentro da conduta descrita na norma incriminadora do crime de violência doméstica (art.
152o), é possível que "pena maior lhe seja aplicada". Ou seja, se se estivermos perante um
crime de violência doméstica mas do mesmo resultar a morte da vítima, trata-se não só de um
crime de violência doméstica mas também de um crime de homicídio qualificado. O autor do
crime não deixa de praticar um crime de violência doméstica mas é possível que pena maior
lhe seja aplicada- art. 132.º, n.º 2 e n.º1. (princípio da subsidiariedade).
O direito penal é um direito penal de bens jurídicos. Quer isto dizer que todas as normas
incriminadoras têm de proteger o bem jurídico.
A situação supra descrita no enunciado do caso prático é passível de se enquadrar tanto no
homicídio qualificado como no homicídio privilegiado, desde que fundamentadas ambas as

DIREITO PENAL III 1

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hipóteses.
É a partir do crime de homicídio "simples", art. 131.º CP, onde a conduta típica (base) é
"quem matar outra pessoa" e o bem jurídico protegido é a vida de pessoa humana já nascida,
que o legislador cria várias ramificações do homicídio.
Quer isto dizer que e, voltando ao concurso aparente de normas, todas essas ramificações que
se sucedem ao homicídio do art. 131.º se encontram numa relação de especialidade, podendo
derrogar a norma "base" do art. 131.º.
Dadas as circunstâncias do presente caso prático, para se poder qualificar o homicídio é
necessário apreciar-se, nos termos do artigo 132.º, n.º 2 se estamos na presença de algum dos
exemplos-padrão (ou uma outra situação substancialmente análoga) e, se e só se for esse o
caso, analisar o critério generalizador presente no art. 132.º, n.º1 CP para verificar se se trata
de uma culpa agravada por parte de José, passível desta revelar uma especial censurabilidade
ou perversidade.
Não é por a conduta de José revelar essa especial censurabilidade ou perversidade (n.º1 do
art. 132.º), ou até mesmo preencher um dos exemplos-padrão ou uma situação
substancialmente análoga como prevê o n.º 2 (132.º) que o homicídio que este cometeu seja
efetivamente qualificado.
No n.º2 do art. 132.º CP, a expressão "entre outras", significa dizer que o legislador admite
que um homicídio (na vertente da aplicação da técnica dos exemplos padrão), seja qualificado
furto de uma outra circunstância que não esteja prevista em nenhuma das alíneas. Significa
isto dizer que, apesar de José não ser filho da vítima, a nomenclatura da norma do n.º 2
permite-nos analogicamente enquadrar esta situação na alínea a) do n.º 2 do 132.º, uma vez
que se trata de conteúdo análogo e o bem jurídico violado é o mesmo
O recurso a estas situações análogas não viola o princípio da legalidade, desde que as mesmas
sejam devidamente analisadas pelo juiz e se, a mesma situação substancialmente análoga,
tiver uma estrutura valorativa idêntica à prevista no exemplo-padrão.
Por estas razões, é possível afirmar que a relação de José com o padrasto se pode,
analogicamente, enquadrar na alínea a) do n.º 2 do art. 132.º CP.
Analisada a técnica de exemplo-padrão, resta verificar se José agiu ao abrigo de uma culpa
agravada passível de revelar especial censurabilidade ou perversidade. Se esse critério estiver
presente, então, o comportamento de José será passível de consubstanciar um crime de
homicídio qualificado, previsto e punido pelo art. 132.º, n.º 2 e n.º 1 e este seria condenado a
uma pena de prisão de 12 a 25 anos.

DIREITO PENAL III 2

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Na hipótese de homicídio privilegiado (uma outra ramificação do art. 131.º CP, art. 133.º CP,
José poderia beneficiar de uma atenuação especial da pena se se concluísse que este cometeu
o homicídio ao abrigo de um estado de afeto. Está diminuição não é sinónimo de uma
imputabilidade diminuída nem de uma diminuída consciência do ilícito mas sim uma
exigibilidade (no âmbito da culpa do agente) diminuída.
Diante dos 4 estados de afeto estudados, José poderia ter agido ao abrigo de um estado de
afeto de desespero que constitui um estado de afeto (neste caso pela mãe) ligado a um
sentimento de angústia, depressão e revolta (a mãe ser vítima de violência doméstica por
parte do padrasto).
Em suma, se se comprovasse que estas circunstâncias (exteriores a José) atuaram sobre a sua
culpa, levando-o por isso, a cometer o crime sob um estado de afeto, a sua culpa poderia ser
especialmente atenuada.

Caso Prático 2
Maria é benfiquista e Manuel, seu namorado, é adepto do FCP.
Certo dia, Maria, decide retirar a vida ao namorado. Para tal, Maria resolve
pendurá-lo de cabeça para baixo, até que o sangue desça na sua totalidade,
atinja a cabeça e, por fim, após algumas horas, venha a falecer (o que acontece
de facto).
Pergunta-se, de acordo com aquilo que estudou, acerca do homicídio simples
qualificado, prenuncie-se relativamente ao enquadramento desta situação
jurídico penal.
Resposta:
A conduta descrita na norma penal incriminadora do art. 131.º CP foi preenchida
(Maria matou o namorado). Ou seja, a conduta típica "quem matar outra pessoa" foi
preenchida por Maria e, em consequência desta, resultou a violação do bem jurídico vida
(que se traduz na morte do namorado). Todas as ramificações que se sucedem ao homicídio
do art. 131.º encontram-se numa relação de especialidade, podendo derrogar a norma "base"
do art. 131.º.
Quer isto dizer que, para além de Maria ter morto o seu namorado, a hipótese revela
que esta o fez com um tipo agravado de culpa, revelando por isso, uma especial
censurabilidade ou perversidade.

DIREITO PENAL III 3

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No entanto, para que se possa efetivamente derrogar o 131.º CP e enquadrar esta situação no
art. 132.º CP, não basta que se verifique esse critério generalizador.
Para que um homicídio seja qualificado, é necessário a articulação entre a técnica dos
exemplos-padrão das diferentes alíneas (presentes no n.º2 do art. 132.º) e do critério
generalizador que prevê a culpa agravada (como conta no n.º 1 do art. 132.º ).
Ou seja, este homicídio não poderá ser qualificado única e exclusivamente por se verificar
uma especial censurabilidade ou perversidade, ou apenas por ser possível encaixa-lo num dos
exemplos-padrão que nos são fornecidos pelo n.º 2 do art. 132.º.
Assim sendo, a qualificação do homicídio passa por, em primeiro lugar, verificar se a
conduta de Maria é passível de enquadrar algum dos exemplos-padrão (ou uma situação
substancialmente análoga a estas). No n.º 2 do art. 132.º CP, a expressão "entre outras",
significa dizer que o legislador admite que um homicídio seja qualificado furto de uma outra
circunstância que não esteja prevista em nenhuma das alíneas. Significa isto dizer que, apesar
de Maria não ser cônjuge ou ex cônjuge da vítima, a nomenclatura da norma do n.º 2
permite-nos analogicamente enquadrar esta situação na alínea b) do n.º 2 do 132.º, uma vez
que se trata de conteúdo análogo e o bem jurídico violado é o mesmo.
Posto isto, podemos entender que a relação que Maria mantinha com o namorado era
uma relação séria que assumia os contornos de uma união semelhante àquela que existe no
casamento.
O recurso a estas situações análogas não viola o princípio da legalidade, desde que as mesmas
sejam devidamente analisadas pelo juiz e se, a mesma situação substancialmente análoga,
tiver uma estrutura valorativa idêntica à prevista no exemplo.
Para além da identificação de um exemplo-padrão, é possível mencionar também a
alínea e) e j).
Alínea e) pelo facto de o principal motivo que levou Maria a matar Manuel foi por este ser
adepto de um clube de futebol diferente do seu, o que constitui um motivo fútil.
Alínea j) por Maria ter agido com frieza de ânimo.
Analisado o conteúdo do n.º 2 do art. 132.º, importa verificar se a "forma" como Maria
matou o seu namorado revela ou não a especial censurabilidade ou perversidade (n.º 1 do art.
132.º).
Tendo em conta que o que nos é dito que Maria pendura Manuel de cabeça para baixo até
que o sangue desça na sua totalidade, não parece restar dúvidas de que este é um
comportamento susceptível de revelar essa culpa agravada que prevê o n.º1 do art. 132.º CP.

DIREITO PENAL III 4

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Caso prático 3
Eduarda, rapariga de bons constumes, namorava com Francisco, atleta de
alta competição. Francisco, por ser atleta, era portador de um corpo esbelto, o
que fazia com que fosse muito assediado pelas raparigas da sua terra. Certo
dia, após um jogo de futebol, Gabriela, uma das cheerleaders resolveu ir
cumprimentar Francisco e, fê-lo abraçando contra si, deixando uma marca do
seu batom no pescoço de Francisco. Mais tarde, quando Francisco foi buscar
Eduarda para jantar, esta observa o pescoço de Francisco e, deparou-se com o
dito beijo no pescoço. Furiosa, Eduarda quanto Francisco se dirigiu ao Wc
durante o jantar, coloca veneno no sumo de Francisco. Francisco regressa,
ingere o sumo e morre.
Quid iuris?
Resposta:
Estamos no âmbito da prática de 1 crime de homicídio tendo sido violado o bem
jurídico vida.
O art. 131.º CP (parte especial do CP) tem aquilo que designamos por conduta típica "quem
matar outra pessoa".
Dadas as circunstâncias concretas do caso, é necessário apreciar se, nos termos do art. 132.º,
n.º 2, estamos na presença de algum dos exemplos padrão ou, de outros substancialmente
análogos. E, depois disso, de acordo com a conduta revelada por Eduarda, perceber se
estamos perante uma culpa agravada, ou seja, uma conduta passível de revelar especial
censurabilidade ou perversidade (art. 132.º, n.º1 do CP).
Neste caso não é necessário recorrer a nenhuma situação análoga à os exemplos-padrão que
as diferentes alíneas prevêem, uma vez que o comportamento de Eduarda é facilmente
enquadrado na alínea e), por se tratar de um motivo fútil (ciúmes) e até mesmo na alínea i),
por ter sido utilizada como "arma" o veneno".
Passando ao critério generalizador, Eduarda agiu com uma culpa agravada passível de revelar
especial censurabilidade ou perversidade (n.º1 do 132.º do CP).
Logo, feita a conjugação do n.º2 do art. 132.º do CP com o n.º 1 do mesmo artigo, é possível
concluir que o Eduarda cometeu um crime de homicídio qualificado.

DIREITO PENAL III 5

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