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A Europa dos Estados absolutos e a Europa dos parlamentos:

Luís XIV, símbolo do absolutismo

França

A Europa em 1789.

Luís XVI Maria Antonieta Palácio de Versalhes


Encenação e poder na corte de Luís XIV: o absolutismo régio

Monarquia absoluta (…) A autoridade real é sagrada. Deus estabeleceu os reis como seus ministros
Poder do rei: sagrado, e reina, através deles, sobre os povos. (…) É por isso que nós vemos que o
paternal, absoluto e trono real não é o trono de um homem mas o trono do próprio Deus. (…) A
submetido à razão pessoa dos Reis é sagrada.

Bossuet, A Política Tirada das Sagradas Escrituras, 17

Luís XIV - França Por muito mau que possa ser um príncipe, a revolta dos seus súbditos é
O Rei é garantia da ordem sempre infinitamente criminosa. Deus, que enviou o rei aos homens, quis que
estabelecida (poder eles o respeitassem (…), apenas Ele reconhece o poder de julgar os seus atos.
executivo, legislativo e
judicial) Luís XIV, Mémoires pour l’année, 1667

Absolutismo régio

Poderes
• Executivo: administração
do reino, controlo da economia, Origem do poder Apoiantes
comando do exército Divina Complexa rede de funcionários régios
• Legislativo: promulgação das leis (o poder vem de Deus) na corte e espalhados por todo o reino
• Judicial: aplicação da justiça

Monarquia absoluta: Sistema político que vigorou na Europa no período correspondente ao Antigo Regime. Consistia
numa forma de governo concentrada na pessoa do rei. Segundo os teóricos do absolutismo, o monarca recebia o poder
das mãos de Deus, que lhe conferia a legitimidade para governar em seu nome. No entanto, o rei estava obrigado a
respeitar a propriedade e direitos dos súbditos e das corporações.
Encenação e poder na corte de Luís XIV: o absolutismo régio

O pensamento político de Luís XIV

É somente na minha pessoa que reside o poder


soberano… é somente de mim que os meus tribunais
recebem a sua existência e a sua autoridade; a
plenitude desta autoridade, que eles não exercem
senão em meu nome, permanece sempre em mim, e o
seu uso nunca pode ser contra mim voltado; é
unicamente a mim que pertence o poder legislativo,
sem dependência e sem partilha; é somente por minha
autoridade que os funcionários dos meus tribunais
procedem, não à formação, mas ao registo, à
publicação, à execução da lei, e que lhes é permitido
advertir-me, o que é do dever de todos os úteis
conselheiros; toda a ordem pública emana de mim, e
os direitos e interesses da nação, de que se pretende
ousar fazer um corpo separado do Monarca, estão
necessariamente unidos com os meus e repousam
inteiramente nas minhas mãos.
O Rei Sol (1638-1715)
(FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de História. Luís XIV, rei da França (c.1701),
Lisboa, Plátano, 1976. v. II, p. 201-2.) óleo sobre tela de Hyacinthe Rigaud
A figura do rei, o primeiro dos cortesãos

A majestade do rei, instrumento do poder

“O que me dá um prazer supremo é


viver quatro horas inteiras com o rei…é o
suficiente para contentar todo um reino que
deseja apaixonadamente ver o seu
amo…”(Mme de Sévigné, 1683). (…) A
Grande Mademoiselle, prima do rei,
escreve: “Ele é como Deus, é necessário
esperar da sua justiça e da sua bondade
sem impaciência, para sermos mais
merecedores”. (…)
O espetáculo mais profundamente
revelador é o da missa do rei, na capela,
onde a multidão de cortesãos, frente à
tribuna real, volta as costas ao padre e ao
altar, e “parece adorar o príncipe e o
príncipe adorar Deus”. Luís XIV e sua família
Pintura atribuída a Nicolas de Largillière, c. 1710, óleo sobre tela.
Mme. de Ventadour e quatro gerações de príncipes franceses, da
Hubert Methivier, Le Siécle de Louis XIV, esquerda para a direita: Luis, duque de Bretanha (vestido de
Paris, 1980 menina); o Grande Delfim; seu pai Luis XIV e o jovem Luís, duque
de Borgonha.
O palácio real, palco de projeção social da corte régia

A corte régia A autoridade dos reis enquanto senhores da sua corte tem o seu
• Morada do rei correspondente no caráter patrimonial do Estado absolutista
• Local central de funções cujo órgão central é a «casa do rei» no sentido amplo do termo,
representativas do ou seja, a «corte»
Estado absoluto
• Polo de atração e Norbert Elias, A Sociedade de Corte, Editorial Estampa, 1995 (adaptado)
palco de encenação
do poder

A Corte de Versalhes
• Modelo de todas as
principais cortes régias
europeias da época
• Grandiosidade, luxo e
riqueza
• Modelo de encenação
do poder

Palácio de Versalhes, gravura da época


Encenação e poder na corte de Luís XIV: a corte régia

A importância da corte para a encenação do poder

A corte revestia-se, na maior parte dos países


europeus, nos séculos XVII e XVIII, de um caráter
representativo e central. Nessa época, não era a
cidade que irradiava sobre todo o país mas a «corte»
e a «sociedade de corte».A cidade era, como se dizia
no Antigo Regime «o macaco de imitação da corte».
(...) A «corte» do antigo regime é um derivado
altamente especializado de uma forma de governo
patriarcal cujo germe «se situa na autoridade de um
senhor no seio de uma comunidade doméstica».

Norbert Elias, A Sociedade de Corte,


Editorial Estampa, 1995

O vestuário, símbolo de distinção


dos grupos privilegiados
O culto dos cortesãos à majestade real: o acordar do rei e da rainha

Encenação de poder na corte régia

Os cortesãos assíduos vão todas as


manhãs ao acordar do rei; há, não
obstante, diversos graus para se ser
admitido neste cerimonial. Em
primeiro lugar, vêm os que têm direito
a assistir ao petit lever (despertar).
(…) Este privilégio, ou direito da
primeira entrada, atribui ao seu titular
notável importância. (…) Houve
mesmo príncipes de sangue, cardeais
e outros grandes senhores, presentes
na antecâmara, que não tiveram este
direito da “primeira entrada”.
Réparation faite au roi par le doge de Gênes por Hallé.
Spanheim, Obra que serviu para cartão de uma tapeçaria
Relação da Estada da França, 1690.

@ O absolutismo - A ascensão de Luís XIV


O culto dos cortesãos à majestade real: o acordar do rei e da rainha

O acordar do rei Um cerimonial ordenado e meticuloso


Luís XIV era acordado em geral às oito horas da (…) Tudo estava impecavelmente organizado.
manhã (…) pelo primeiro criado de quarto que Os dois primeiros grupos eram admitidos quando
dormia junto ao leito real. Abriam-se as portas o rei estava deitado, mas já tinha vestida uma
para deixar entrar os pajens de câmara. Um pequena cabeleira: nunca se apresentava sem
destes ia avisar o camareiro-mor e o primeiro peruca, mesmo na cama. (…)
fidalgo de quarto, (…), um terceiro ficava de Calçados os sapatos, o rei chamava os oficiais
guarda à porta do quarto para só deixar entrar de câmara e abriam-se as portas para a segunda
senhores que tivessem esse privilégio. entrada. O rei pegava então as suas roupas. O
O acesso ao quarto do rei estava rigorosamente guarda-roupa-mor despia-lhe a camisa pela
hierarquizado. Havia seis categorias de pessoas manga direita, o primeiro criado de quarto pela
(…) por ordem de precedência (…) em primeiro manga esquerda. Depois de enfiada a camisa de
lugar os filhos e os netos legítimos (os dia, o rei levantava-se da cadeira, o guarda-
«infantes» da França), os príncipes e princesas roupa-mor apertava-lhe os sapatos e ajudava-o a
de linhagem, o médico-mor, o cirurgião-mor, o vestir-se, ajustava-lhe a espada, etc. Já vestido o
primeiro criado de câmara e o primeiro pajem rei rezava durante uns minutos, enquanto o
do rei. esmoler (…) ou outros, recitava em voz baixa
A segunda entrada (…) estava reservada aos uma oração. Durante este tempo, a corte inteira
grandes oficiais da câmara real e do guarda- ia-se reunindo na grande galeria. (…) O que
roupa e aos nobres a quem o rei concedia esse mais impressiona neste cerimonial é o seu
favor. (…) ordenamento meticuloso. (…)
Norbert Elias, A Sociedade de Corte, Idem
Luís XIV, o Rei-Sol Editorial Estampa, 1995
Encenação e poder na corte de Luís XIV: o levantar da rainha

O ritual na toilette da rainha

O levantar da rainha tinha um cerimonial idêntico ao


do rei. A dama de honor de serviço tinha o direito de
vestir a camisa à rainha. A dama do palácio vestia-lhe a
combinação e o vestido. Se por acaso surgia uma
princesa real, cabia a esta a cerimónia da camisa. Ora
sucedeu um dia que, depois de a rainha ter sido despida
pelas suas damas, a camareira entregou a camisa à
dama de honor para que esta a passasse à rainha. Nesse
preciso momento entrou na câmara a duquesa de
Orleães. A dama de honor devolveu a camisa à camareira
que se apressava a entregá-la à duquesa quando uma
dama de grau de nobreza ainda superior entrou: era a
condessa de Provença. Imediatamente a camisa foi
devolvida à camareira que a entregou à condessa, pois
cabia-lhe a honra de a vestir à rainha. Enquanto as
damas passavam assim a camisa umas às outras, a
rainha, completamente nua, esperava o fim da cerimónia.
Rainha Maria Antonieta, retrato realizado (…)
por Elisabeth Vigée Le Brun em 1783 Idem, ibidem
Encenação e poder na corte de Luís XIV: etiqueta e honrarias

A sociedade de corte

A etiqueta assumia nesta sociedade e neste tipo de


governo uma função simbólica do maior alcance.
(…)
O rei precisava de despir a camisa de noite e de
vestir a camisa de dia. Mas este gesto
indispensável fora revestido de significado social.
O rei transformara-o num privilégio com que
honrava os seus nobres. (…)
Cada gesto do cerimonial tinha o valor de um
prestígio hierarquizado (…). A hierarquia dos
privilégios foi criada no quadro da etiqueta e esta
vai ser mantida pela emulação entre os indivíduos
(…) preocupados em salvaguardar os seus
privilégios e vantagens sociais.

Idem, ibidem

Luís XIV, O Grande, em 1661


Encenação e poder na corte de Luís XIV: O papel da sociedade de corte

Sociedade de corte
• Vida quotidiana ao serviço do rei
• Hierarquia rígida
• Etiqueta minuciosa
• Honras e privilégios
• Reconhecimento público

Sociedade de corte – formação social típica


do Antigo Regime organizada em torno da vida
do palácio e do poder patriarcal do rei de quem
eram fiéis servidores. Estes cortesãos
(funcionários, conselheiros, diplomatas,
criados e outros) estavam ligados entre si por
uma rede de obrigações definida numa ordem
hierárquica mais ou menos rígida e por uma
etiqueta minuciosa que os posicionava numa
complexa rede de relações de dependência
em que o grupo mais respeitado era a alta
nobreza de corte.
A avaliação no Horizonte…

1. Selecione a afirmação correta. 2. Complete o esquema.

O absolutismo régio foi: A corte régia


• ___________do
MORADA rei
A. um sistema político que se demarcou pela
• Local central de funções representativas
aplicação de série de medidas de fortalecimento do Estado __________________
ABSOLUTO
do Estado. • Polo de atração e palco de ENCENAÇÃO
___________
B. um sistema político que vigorou na Europa no do poder
Antigo Regime. Consistia numa forma de
governo concentrada na pessoa do rei e que
segundo os teóricos do absolutismo recebia o Sociedade de corte
poder das mãos de Deus, que lhe a legitimidade • REI
Vida quotidiana ao serviço do _____
para governar em seu nome, embora ficasse • HIERARQUIA
________________ rígida
obrigado a respeitar o direito de propriedade • Etiqueta minuciosa
dos seus súbditos e das corporações. • Honras e ____________
PRIVILÉGIOS
Reconhecimento público
C. período que marcou uma etapa do absolutismo
em Portugal, através do reforço do aparelho de
Estado no reinado de D. João V.
A Corte de Versalhes
D. poder divino dos reis que, durante o Antigo
Regime, consideravam que só tinham de • Modelo de todas as principais CORTES
_______
régias europeias da época
prestar contas a Deus pela sua governação,
assegurando a liberdade de escolha dos seus • GRANDIOSIDADE
______________, luxo e riqueza
súbditos. • Modelo de encenação do poder
O Património no Horizonte: curiosidades da história

@ Visita virtual ao Palácio de Versalhes:


Palácio de Versalhes, património munidal (UNESCO) (locução em espanhol)

@ Vídeos (locução em espanhol)


Aposentos e símbolos de Luís XIV

@ Imagens do palácio e jardins com música da época

@ História do palácio – locução em inglês

@ Maria Antonieta (documentário em português)

@ Filmes:
O Absolutismo - A Ascensão de Luís XIV - filme completo (legenda em português)

@ Maria Antonieta - filme completo (legenda em português)

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