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UMA INTRODUÇÃO NECESSÁRIA: ASPECTOS GERAIS

DA “EVOLUÇÃO” DO DIREITO PORTUGUÊS (do


século XII até os séculos XV/XVI)
PERÍODO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DO DIREITO PORTUGUÊS (ou período do DIREITO
CONSUETUDINÁRIO E FOREIRO): etapa que se estende de meados do século XII (1148 –
independência de Portugal frente ao Reino de Leão) a meados do século XIII (1248 - início do reinado
de D.Afonso III);

 Época de recepção do direito romano


renascido e do direito canônico renovado -
Periodização e difusão do direito comum em Portugal (de meados
caracterização do do século XIII até meados do século XV);
Direito português da
primeira
independência  Época das Ordenações:
(meados do século
XII – 1140) até Ordenações Afonsinas (1446/1447);
meados da segunda Ordenações Manuelinas (1521);
metade do século Coletânea de Leis Extravagantes de
XVIII: Duarte Nunes de Leão (1569);
Ordenações Filipinas (1603) e
confirmadas por D. João IV (1643)

PERÍODO DO DIREITO DE INSPIRAÇÃO ROMANO-CANÔNICA (ou período de influência do jus


comune): etapa que se inicia com o reinado de D.Afonso III (meados do século XII) e que se
estende até o início do reinado de D.José I (reinado este marcado pelo consulado do Marquês de
Pombal);
Este período decorreu da fundação da nacionalidade (etapa que se estende de 1140, ano em
que Afonso Henriques passa a intitular-se Rei de Portugal até os primórdios do governo de
D.Afonso III, em 1248);

Durante esta fase, verificou-se a manutenção do


PERÍODO DA sistema jurídico herdado do Reino de Leão e
INDIVIDUALIZAÇÃO DO somente, aos poucos, foram surgindo fontes
DIREITO PORTUGUÊS tipicamente portuguesas – constituiu-se assim o
(ou período do DIREITO direito português, em seus primórdios, em um
CONSUETUDINÁRIO E direito de base CONSUETUDINÁRIA e FORALEIRA,
FOREIRO – de meados marcado pelo EMPIRISMO JURÍDICO, com
do século XII a meados predomínio da atividade dos TABELIÃES em sua
evolução;
do século XIII):

FONTES DO DIREITO PORTUGUÊS


POSTERIORES À INDEPENDÊNCIA:
FONTES DO DIREITO DO REINO DE LEÃO
QUE SE MANTIVERAM EM VIGOR após a  Leis gerais dos primeiros
independência de Portugal (século XII): monarcas, forais, concórdias e
 Código Visigótico (direito germânico), concordatas (acordos efetuados
leis geradas pelas Cúrias (assembleias de entre o rei e as autoridades
natureza política) e pelos Concílios eclesiásticas, comprometendo-se,
(assembleias de natureza religiosa), forais reciprocamente, a reconhecer
de terras portuguesas anteriores à direitos e obrigações relativas ao
independência, costume (permaneceu por Reino e à Igreja)
um bom tempo como fonte do direito
privado).
A recepção do direito romano “renascido” ocorreu em escala relevante em Portugal, a partir de
meados do século XIII – com a crescente difusão do direito romano justinianeu (direito romano
“reorganizado e compilado” por Justiniano, imperador do Império Romano do Oriente, como
resultado de intensa atividade legislativa desenvolvida entre 529 e 565) e cuja emergência, durante a
Idade Média, ter-se-ia produzido a partir dos séculos XI / XII, por força de um ambiente jurídico-
político-econômico-cultural que passou a demandar uma retomada dos estudos de direito romano
justinianeu;

Dentre os principais fatores que favoreceram a penetração do


direito romano “renascido” na esfera jurídica portuguesa,
Época da recepção do podemos assinalar:
direito romano  A ida de estudantes peninsulares para as escolas jurídicas
renascido e do direito italianas e francesas e a presença de jurisconsultos estrangeiros
canônico renovado em Portugal;
(direito comum) em
 A difusão do “Corpus Iuris Civilis” com a respectiva Glosa em
Portugal (de meados Portugal;
do século XIII até
meados do século  O ensino do direito romano na universidade portuguesa;
XV):  A influência romanística na legislação e na prática jurídica;
 A produção de obras doutrinais e legislativas de conteúdo
romano

O direito canônico teve um significado valioso para o quadro histórico do sistema jurídico
português, especialmente o direito canônico renovado que se estabeleceu a partir de meados do
século XII, com o predomínio das fontes do direito humano sobre as chamadas “fontes do direito
divino” – em Portugal a penetração do direito canônico se deu por sua aplicação nos tribunais
eclesiásticos, por sua aplicação nos tribunais civis, primeiro como fonte imediata (no início do
século XIII) e logo depois como fonte subsidiária.
CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES A RESPEITO DO DIREITO ROMANO RENASCIDO
E DO DIREITO CANÔNICO RENOVADO E DE SUA RECEPÇÃO EM PORTUGAL
OCORRIDA NO SÉCULO XIII
• A fase de recepção do direito romano “renascido” e do direito canônico renovado, encontra-se
relacionada à entrada avassaladora do chamado direito comum (Ius Commune) em Portugal;
• Costuma-se designar de DIREITO COMUM, o sistema normativo, de fundo romano (baseado nas
coletâneas de Justiniano – o CORPUS IURIS CIVILIS, um conjunto de fontes de direito romano, bastante
heterogêneo, promulgadas ao tempo de Justiniano, imperador do Império Romano do Oriente, como
resultado de intensa atividade legislativa desenvolvida entre 529 e 565) e cuja emergência, durante a
Idade Média, ter-se-ia produzido a partir dos séculos XI / XII, por força de um ambiente jurídico-
político-econômico-cultural que passou a demandar uma retomada dos estudos de direito romano
justinianeu;
• Pode-se falar também em um DIREITO COMUM ROMANO-CANÔNICO ou em DIREITOS COMUNS (Iura
Comunia) que salientam a relevância do Ius Canonicum;
• Ao Direito Comum, ou aos Direitos Comuns, contrapunham-se os Direitos Próprios (Iura Propria), ou
seja, os ordenamentos locais ou das várias “Estados” formados por normas legislativas e
consuetudinárias;
• Assim, durante os séculos XII e XIII, o direito comum (ou os direitos comuns), pelos menos no plano
teórico, se sobrepôs às fontes que lhe eram concorrentes – nos dois séculos seguintes (séculos XIV e
XV) os direitos próprios foram se firmando como fontes primeiras dos respectivos ordenamentos
enquanto que o direito comum tendeu à condição de fonte jurídica subsidiária e, a partir do século XVI,
os direitos próprios se tornaram fontes exclusivas normativas imediatas, enquanto que o Ius Commune
(ou os Iura Comunia) assumiu (ou assumiram) a condição de fonte subsidiária por condescendência da
autoridade ou legitimidade conferida pelo soberano.
Presume-se que os anos de 1446 e 1447 foram os anos da entrega do projeto
concluído e da publicação das Ordenações, sendo mais difícil determinar a data de
sua entrada em vigor, uma vez que, à época, não havia uma regra prática definida
sobre a forma de dar publicidade aos diplomas legais e o início de sua vigência;

Além da não existência de regras de definição da


publicidade e do início da vigência dos diplomas
Época das Ordenações
legais, havia dificuldades técnicas para sua
(iniciada em meados do
difusão, já que isto exigiria a produção de cópias
século XV) – As
manuscritas, trabalhosas e dispendiosas - por
Ordenações Afonsinas
outro lado havia grandes desníveis de preparação
(1446-1447) I
técnica entre os magistrados e intervenientes na
vida jurídica dos centros urbanos e das
localidades deles afastadas;

Assim, a efetiva generalização das Ordenações Afonsinas (e a intensidade em que


isso ocorreu se constitui em um problema) deve ter-se operado somente no início da
segunda metade do século XV;
Com as Ordenações Afonsinas buscou-se, essencialmente, sistematizar e atualizar o direito
vigente à época, em Portugal, tendo sido utilizadas em sua elaboração várias espécies de
fontes anteriores, tais como: leis gerais, resoluções régias, concórdias, concordatas, bulas,
inquirições, costumes gerais e locais, estilos da Corte e dos tribunais superiores (ou seja,
jurisprudência), preceitos de direito romano (designados “leis imperiais” ou “direito
imperial”) e de direito canônico (designados “santos cânones” ou “decretais”), encontrando-
se alusões ao “direito comum”;

Quanto à técnica legislativa, empregou-se na maior das


vezes, o ESTILO COMPILATÓRIO, no qual se
Época das Ordenações transcrevem integralmente as fontes anteriores,
(iniciada em meados do declarando-se depois os termos em que esses preceitos
século XV) – As eram confirmados, alterados ou afastados – utilizou-se,
Ordenações Afonsinas todavia, o ESTILO DECRETÓRIO ou LEGISLATIVO em
(1446-1447) II quase todo o LIVRO I das Ordenações, que consiste na
formulação direta das normas sem referência às suas
eventuais fontes precedentes;

Por possível influência das Decretais de Gregório IX (coletânea de normas canônicas


promulgada em 1234), as Ordenações Afonsinas foram divididas em cinco livros, cada um
deles compreendendo um certo número de títulos, com rubricas indicativas de seu objeto e
freqüentemente subdivididos em parágrafos.
O Livro I abrange 72 títulos que se ocupam dos regimentos dos diversos cargos públicos
(tanto régios como municipais), compreendendo o governo, a justiça, a fazenda e o exército
– este livro apresenta um conteúdo de natureza jurídico-administrativa;

O Livro II apresenta 123 títulos bastante heterogêneos,


disciplinando-se os bens e privilégios da Igreja, os
direitos do rei, a jurisdição dos donatários, as
prerrogativas da nobreza, o estatuto dos Judeus e dos
Época das Ordenações Mouros, consagrando assim providências de natureza
(iniciada em meados do política ou constitucional - O Livro III, com 128 títulos,
século XV) – As trata do processo civil, incluindo a execução, regulando-
Ordenações Afonsinas se nele extensamente os recursos, havendo, contudo
(1446-1447) III alusões ao processo criminal;

O Livro IV, ao longo de 112 títulos, se ocupa do direito


civil substantivo, especialmente temas de direito das
obrigações, direito das coisas, direito da família e direito
das sucessões, sem grande ordem sistemática e com a
inclusão de alguns temas estranhos ao seu conteúdo
básico;

O Livro V contém 121 títulos sobre direito criminal e processual criminal – todavia alguns
atos processuais criminais encontram-se também regulados no Livro III.
A IMPORTÂNCIA DAS ORDENAÇÕES
AFONSINAS
 As Ordenações Afonsinas assumem uma posição significativa na história
do direito português, uma vez que constituem uma síntese da trajetória
deste ordenamento jurídico que, desde a primeira independência, e mais
aceleradamente, desde o reinado de Afonso III, afirmou e consolidou a
autonomia do sistema jurídico português no conjunto peninsular;

 Ainda que não apresente uma estrutura orgânica comparável à dos


códigos modernos, as Ordenações Afonsinas se constituem como uma
obra meritória quando vista no contexto de sua época;

 A publicação das Ordenações Afonsinas encontra-se relacionada ao


movimento geral de luta pela centralização jurídico-político-
administrativa, acentuando-se, por outro lado, a independência do direito
próprio do Reino em face do direito comum (ius commune), que ficaria na
condição de fonte subsidiária mercê da vontade do monarca.
As Ordenações Afonsinas tiveram relativamente pouco tempo de vigência e já em 1505
tratava-se de sua reforma – neste ano, D. Manuel encarregou três importantes juristas
(Rui Boto, Rui da Grã e João Cotrim) de procederem à atualização das Ordenações do
Reino, alterando, suprimindo e acrescentando o que entendessem ser necessário,
ainda que, somente em 1521, ano da morte de D. Manuel, é que se verificou a edição
definitiva das Ordenações Manuelinas;

Manteve-se a estrutura básica de cinco Época das


livros, integrados por títulos e parágrafos e Ordenações (iniciada
conservou-se a distribuição das matérias, em meados do século
ainda que nas Ordenações Manuelinas sejam XV) – As Ordenações
verificadas algumas notáveis diferenças de Manuelinas (1521)
conteúdo;

Dentre estas diferenças podemos citar: a


supressão dos preceitos aplicáveis a Judeus Do ponto de vista formal, os
e Mouros e das normas autonomizadas nas preceitos se apresentam
Ordenações da Fazenda, e a inclusão da sistematicamente redigidos em
disciplina vinculativa da lei através dos ESTILO DECRETÓRIO, sem
assentos da Casa de Suplicação, além de referência a eventuais fontes
alterações em matéria de direito subsidiário; precedentes.

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