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A sociedade do Antigo Regime era tripartida (Clero, Nobreza e Terceiro Estado), rigidamente
hierarquizada, estratificada e com uma reduzida mobilidade social.
O Clero, ou Primeiro Estado, era a ordem social mais digna pois encontrava-se mais próxima
de Deus. Tinha como funções a vida religiosa e a salvação das almas. Era isento do pagamento
de impostos e da prestação do serviço militar. Regia-se por leis próprias (direito canónico) e
possuía foro próprio (tribunais eclesiásticos). Esta ordem social usufruía de grandes
propriedades e recebia ofertas/doações dos crentes. Cobrava o dízimo e gozava do direito de
imunidade (não era obrigado a franquear as suas casas aos soldados do Rei) e de asilo (que
podia conceder aos fugitivos).
O Clero, estava subdividido em Clero Regular e Clero Secular. Ao Clero Regular pertenciam
abades, abadessas (alto clero), frades, freiras e monges (baixo claro), que obedeciam a uma
ordem religiosa. Já ao Clero Secular pertenciam bispos, cardeais, papa (alto claro) e párocos
(baixo claro) que se responsabilizavam pelas paróquias.
Na base da sociedade do Antigo Regime está o Terceiro Estado, grupo não privilegiado. Era o
único grupo que estava sujeito ao pagamento de impostos. A sua inferioridade é visível na
pouca consideração social que gozavam (profissões braçais/ vis), no traje e forma de
tratamento a que tinham direito e nas sanções penais e civis a que estavam sujeitos.
Cerca de 80% da população desta ordem social eram camponeses e dedicavam se aos
trabalhos braçais. Da burguesia faziam parte 15% e dedicavam se ao comércio. Os restantes
5% eram mendigos, vagabundos e ciganos.
Mesmo numa estrutura social rígida como esta, existe mobilidade social. É protagonizada
pela burguesia, grupo que sempre se procurou elevar acima da sua condição, fosse pelo
estudo, pelo trabalho, pelo mérito, pelo casamento, pela atribuição de títulos nobiliárquicos
ou pela dedicação aos cargos que exercia no aparelho de Estado. Claro que o dinheiro
desempenhou aqui um papel fundamental. A esperança de obter mobilidade social por uma
destas vias era o garante da ordem social e da resignação dos grupos considerados inferiores.
O absolutismo régio
No topo da hierarquia social estava o rei, o garante da ordem social. A legitimidade deste
poder supremo só podia ser sustentada na vontade de Deus, de quem provinha (acreditava-se
que por dádiva e escolha) a autoridade real bem como a concessão das qualidades necessárias
ao exercício do cargo.
O Rei era considerado uma figura sagrada, paternal, absoluta e racional. Era uma figura
sagrada pois o poder real provinha de Deus, que dava aos reis para que estes governassem em
seu nome. Os reis só prestavam contas a Deus e atentar contra o monarca era sacrilégio. Os
reis tinham, contudo, um limite; só deviam usar o seu poder em prol do bem comum.
Também, o monarca, era paternal pois devia governar brandamente, à semelhança de um pai;
devia proteger os fracos e, sobretudo, igualar, perante si, todas as ordens sociais. Era uma
figura absoluta pois não havia poder superior ao seu. O seu poder era independente, não
prestava contas a ninguém. Era considerada uma figura racional pois o seu poder era
submetido à razão, à sabedoria e à inteligência do rei, que, escolhido por Deus, possui outras
qualidades como a bondade, a firmeza, o carater, a prudência, a infalibilidade, propiciadoras
de um bom governo e da felicidade do povo.
Em França, a corte régia funcionava no palácio de Versalhes (onde chegaram a viver 5000
pessoas). Aí reuniam-se, desde 1682, os órgãos político-consultivos, funcionavam as
repartições da administração central, o supremo tribunal do reino, a tesouraria e o estado-
maior do exército; era também frequentada por diplomatas estrangeiros, assim como por um
enorme número de funcionários. Mas Versalhes era também o centro da vida galante,
funcionando como um espelho e uma encenação do poder.
Este “jogo” permitia ao rei um apertado controlo sobre a nobreza conseguindo assim a sua
submissão.
A sociedade portuguesa do Antigo Regime estava organizada em três grupos sociais: Clero,
Nobreza e Terceiro Estado. Existiam grandes contrastes na organização e forma de vida de
cada grupo social. A mobilidade social era rara. Contudo, podia verificar-se com a atribuição de
títulos de nobreza pelo rei, por casamento ou até mesmo pelo desempenho de cargos
administrativos.
Dos três grupos sociais, só dois é que eram privilegiados, o Clero e a Nobreza. O Clero tinha
um papel social significativo, pela sua função religiosa, pelo auxílio que prestava na doença e
por de dedicar ao ensino. Muitos membros deste grupo social eram descendentes de famílias
nobres. Já a Nobreza era protegida pelo rei. Os nobres foram adquirindo propriedades e
palacetes, onde realizavam festas semelhantes às existentes na corte, e participavam nos
eventos organizados pelo rei. Continuavam a ser os detentores dos cargos político-
administrativos, do Reino e das colónias.
O Terceiro Estado, grupo não privilegiado, era composto pela burguesia e pelo povo. A
burguesia continuava ligada à atividade comercial, mas o seu trabalho não era reconhecido
socialmente. Não tinham acesso à corte. O povo constituía a grande maioria da população e
vivia em condições desfavoráveis. Dedicava-se, sobretudo, à agricultura, embora também se
dedicasse ao artesanato, aos trabalhos domésticos e aos pequenos negócios. Pagavam muitas
impostos.
Esta nobreza mercantilizada investia a riqueza na compra de mais terras e em bens de luxo e
de ostentação.
Em 1568, sete Províncias dos Países Baixos do Norte, movidas por um forte desejo de
liberdade [política e religiosa], revoltam-se contra o domínio espanhol.
Nesta pequena “república de mercadores” (assim chamada depreciativamente por Luís XIV),
os interesses do Estado unem-se com os do comércio, união que fez da Holanda (estado
burguês, constitucional e liberal) a grande potência marítima e colonial do século XVII, não
receando confronto com qualquer outro estado europeu.
No fim do século XVI, os holandeses irromperam pelos oceanos, numa expansão marítima
que depressa os levou a familiarizarem-se com as grandes rotas comerciais do Atlântico e
Índico, passando a explorá-las em proveito próprio. Mas as pretensões holandesas vinham
colidir com direitos antigos, estabelecidos a favor de portugueses e espanhóis, e sustentados
juridicamente em bulas e doações papais (como era o caso do Tratado de Tordesilhas,
assinado em 1494, no qual os dois países ibéricos dividiam entre si os mares e terras do
mundo, arrogando-se o direito exclusivo da sua exploração territorial e económica).
Estes direitos dos estados ibéricos relativos à navegação e posse das terras eram desde há
muito desrespeitados através da concorrência e do corso empreendido pelas outras nações
europeias. Mas a contestação jurídica só surge em 1602, na sequência do apresamento da nau
portuguesa Sta. Catarina, pela Cia. Das Índias Orientais holandesa, no estreito de Malaca. A
captura desta embarcação suscitou vivos protestos no nosso país, mas também viva
indignação um pouco por toda a Europa.
Foi em resposta a estas críticas que o jurista holandês Hugo Grotius elaborou vários textos
onde procurou legitimar a atuação da Companhia. Num deles, publicado em 1608, Mare
Liberum – A liberdade dos Mares –, Grotuis rejeitava o direito das nações ibéricas à
exclusividade das navegações oceânicas, alegando que os mares eram inesgotáveis e
necessários à vida, pelo que constituíam propriedade comum da Humanidade, sendo
totalmente absurdo advogar o seu domínio. Era a doutrina do Mar Livre.
A contestação desta tese coube ao português Serafim de Freitas, que refutou minuciosamente
na obra De justo Imperio Lusithanorum, concebendo o melhor tratado de defesa do mare
clausum. Segundo Freitas os portugueses não reclamavam a soberania dos oceanos, mas
apenas o controlo das rotas por si descobertas, sobre as quais possuíam direitos históricos.
Claro que mais tarde, aquando da consolidação do seu poderio comercial, também os
holandeses não seguiram à letra a liberdade dos mares por si antes tão veementemente
defendida, ao invocarem o domínio sobre áreas reservadas de comércio e procedendo à sua
defesa pela força das armas.
Esta polémica ficou, contudo, como sinal da decadência dos países ibéricos, ultrapassados
por um pequeno país em que a burguesia se colocara à cabeca do Estado.
Conceitos importantes:
Monarquia Absoluta: Forma de governo em que impera a vontade de um só. Regime político
que se afirmou na Europa no decurso do Antigo Regime e em que o soberano concentrava a
totalidade dos poderes do Estado, não reconhecendo poder superior ao seu.
Sociedade de corte: Formação social típica do Antigo Regime organizada em torno da vida do
palácio e do poder patriarcal do Rei, de quem eram fiéis servidores. Estes cortesãos
(funcionários conselheiros, diplomatas, criados e outros) estavam ligados entre si por uma
rede de obrigações definida numa ordem hierárquica mais ou menos rígida e por uma etiqueta
pormenorizada que os posicionava numa complexa rede de relações de dependência em que o
grupo mais respeitado era a alta nobreza da corte.