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Síntese de ideias dos 3 autores

Corrente

Michael Sandel  - O Comunitarismo

Michael Sandel defende a teoria dos comunitaristas, que consideram


que o indivíduo se define sobretudo pela sua pertença a uma comunidade (em
termos psicológicos e sociológicos). Isto é, existe um primado da comunidade
sobre o indivíduo – o indivíduo só é o que é em função da comunidade onde se
insere.

Para os comunitaristas, as desigualdades sociais colocam em causa o


Bem Comum e constituem fonte de injustiças, pelo que o Estado deve intervir
para as combater, redistribuindo bens essenciais de forma igualitária pelos
cidadãos: dinheiro, emprego, saúde, educação, poder político.

Sandel não é um comunista, mas sim um comunitarista: pertencemos


não apenas a nós próprios, mas também à comunidade onde nos inserimos.

John Rawls  - O Liberalismo moderado

John Rawls é um liberal igualitário, isto é, defende que as liberdades


básicas do indivíduo não podem ser sacrificadas em nome de princípios
distributivos, mas concede que, sendo o indivíduo racional e razoável, estará
aberto à cooperação com os outros, pelo que a solidariedade é um valor
fundamental para a aceitação do segundo princípio da justiça: devemos
partilhar com os outros as eventuais vantagens da lotaria natural e social.

Se um igualitarista consideraria a Igualdade como valor fundamental,


Rawls posiciona-se como liberal ao eleger a Liberdade como valor prioritário.

Robert Nozick - O Libertarismo (liberalismo radical)

Segundo o pensamento de Robert Nozick, o Estado não tem o direito de


interferir na vida de alguém sem o seu consentimento. Os impostos constituem
uma forma de coerção. Nozick defende um liberalismo em que as
desigualdades podem ser muito profundas: a existência de pessoas muito ricas
na mesma sociedade em que vivem pessoas muito pobres nada tem de injusto,
desde que a riqueza seja adquirida de forma lícita.

Portanto, as funções do Estado devem restringir-se ao mínimo


indispensável, o que não deixa de implicar a cobrança de impostos: defesa
perante ameaças externas (exército), segurança dos cidadãos e dos seus bens
(polícia) e cumprimento dos contratos e das leis (tribunais). Esta é a defesa de
um Estado Mínimo.
Teoria

Perfeccionismo

Para Michael Sandel, os perfeccionistas afirmam que devemos procurar


aquilo a que possamos chamar “uma vida boa”. Assim, determinadas coisas
(ações, objetos, ideias) são boas em si mesmas e devem ser procuradas por
todos os indivíduos. 

Teoria da justiça como equidade

Seguindo as ideias de Rawls, na adoção dos princípios de justiça, todas


as partes que estabelecem este contrato social estão numa situação de
igualdade de circunstâncias. Mas, todos os contratantes sabem que haverá
pessoas mais e menos talentosas, mais e menos ricas, homens e mulheres,
crentes e ateus.

Trata-se de uma justiça como equidade, porque os princípios da justiça


social são escolhidos numa situação inicial equitativa, sem que nenhum
indivíduo ou grupo social seja beneficiado ou prejudicado.

Teoria da titularidade

Para Robert Nozick, a autonomia das pessoas é fundamental. Ao


contrário de Rawls, não aceita uma distribuição padronizada da riqueza, pois
isso implica uma intervenção constante do Estado na liberdade individual de
enriquecer de forma lícita. O indivíduo é o titular legítimo dos bens que adquire
legalmente.

O indivíduo é dono de si mesmo: do seu corpo, da sua vida, mas


também dos bens materiais que a sua liberdade individual lhe permite
acumular, pelo que o Estado não deve interferir nessa liberdade individual.

Conceitos, argumentos e suas críticas

Crítica ao Véu de Ignorância

Na opinião de Michael Sandel, o véu de ignorância transforma-nos em


seres fictícios, desprendidos de laços sociais. Escolhas feitas por seres
hipotéticos não são credíveis, pois todas as nossas escolhas decorrem do
enraizamento numa comunidade específica. O nosso próprio “Eu” é construído
em sociedade, pelo que o Véu de Ignorância nos obrigaria a esquecermo-nos
não apenas da nossa condição, mas do nosso próprio “Eu”.

O Véu de Ignorância coloca os indivíduos numa situação anterior a


qualquer moral, isto é, obrigando sujeitos individuais a tomar decisões tendo
em conta apenas os interesses individuais (e não os da comunidade onde se
inserem).
Véu de Ignorância

Já para John Rawls, este defende a situação cognitiva em que se


encontram todos os sujeitos na Posição Original: não sabemos qual será a
nossa posição social na futura sociedade: sexo, etnia, inteligência, força,
profissão estatuto social, riqueza. Isso obriga-nos a avaliar os princípios de
justiça de forma imparcial, sem atender à nossa circunstância particular.
Portanto, os princípios de justiça são avaliados numa situação de equidade.

Refutação da Regra Maximin

Para Michael Sandel, a estratégia maximin defendida por Rawls implica


que os sujeitos apenas têm em consideração os seus interesses egoístas e
tem em conta conceitos morais. Por exemplo, é relevante saber como a riqueza
é produzida, pois pode acontecer que a riqueza seja produzida de forma imoral.

Regra Maximin
“Maximizar o mínimo”

Na posição original e com o véu de ignorância, Rawls acredita que


chegaríamos a acordo, optando por princípios que garantissem que, por muito
má que fosse a nossa condição social, ela nunca nos privaria de certas
liberdades básicas, como as oportunidades de melhorar a nossa condição e a
garantia de um rendimento mínimo aceitável.

A regra maximin é uma estratégia de decisão que permite maximizar o mínimo.

Rejeição do utilitarismo

Os utilitaristas defendem que devemos maximizar o bem-estar geral. Tal


regra permitiria uma sociedade em que a maioria vive muitíssimo bem à custa
de trabalho escravo. Ora, Rawls rejeita a escravatura, pois trata-se de uma
violação da liberdade individual, colocando em causa a prioridade do Princípio
da Liberdade.
Por isso, Rawls considera que os princípios (de justiça, de perfeição ou
de utilidade) a escolher para o ordenamento da sociedade devem ser aqueles
que todas as partes representadas possam aceitar.

Princípio da liberdade

Sandel contesta que o Princípio da Liberdade tenha prioridade sobre a


Igualdade. Para Sandel,  o erro de Rawls consiste em ter uma noção metafísica
do Homem – ou seja, tem uma conceção do ser humano que não é real, no
sentido em que se encontra desenraizada de tudo aquilo que lhe é anterior,
designadamente a sociedade, a comunidade da qual faz parte.

 
Princípio da liberdade

“Cada pessoa deve ter um direito igual ao mais extenso sistema de liberdades
básicas que seja compatível com um sistema de liberdades idêntico para todas
as outras”

Os membros da sociedade devem ter todos os mesmos direitos e


liberdades. Por “liberdades básicas”, Rawls entende coisas como os direitos
cívicos (liberdade de opinião, de expressão, de reunião), direitos políticos
(direito de voto e de participação na vida pública) e direitos da pessoa (direito à
integridade física e psicológica).

Este princípio tem prioridade sobre os restantes, pelo que Rawls é um


liberal moderado. Isto significa que cada um tem a liberdade de escolher a sua
própria conceção de bem, desde que compatível com a justiça.

Sendo um libertário, Nozick estaria de acordo com o Princípio da


liberdade de Rawls.

Princípio da Igualdade de oportunidades

Rawls é de opinião que as desigualdades não serão aceitáveis se


decorrerem das oportunidades que são dadas a uns, mas não a outros. Isto é,
o Estado deve intervir para garantir que todos tenham as mesmas
oportunidades no acesso à saúde, à educação, à cultura, etc. Isto seria uma
forma de corrigir a lotaria social, isto é, a sorte de nascer numa família com
mais recursos.

Rejeição do princípio da igualdade de oportunidades

Nozick afirma que nada existe de errado com a desigualdade social e


económica.

Qualquer intervenção do Estado consiste numa violação dos direitos


absolutos das pessoas. Tirar a uns para dar a outros sem o consentimento dos
primeiros é tratar as pessoas como se não fossem pertença de si próprias, isto
é, como meros meios e não fins em si mesmos, violando os seus direitos mais
básicos.

Aceitação do Princípio da Diferença

O Princípio da diferença obedece a uma lógica comunitarista, pois


preconiza a correção das desigualdades introduzidas pela lotaria social e
natural. Sandel não critica este princípio, mas sim a prioridade dada à
prioridade da Liberdade sobre a Igualdade.
Cabe ao Estado promover algumas conceções de Bem em relação a
outras, se essas conceções contribuem para o Bem Comum de uma
determinada sociedade.
Princípio da diferença

Rawls admite que exista uma desigualdade na distribuição da riqueza na


condição de essa desigualdade favorecer os mais desfavorecidos. Este
favorecimento conduz a uma sociedade mais estável, equitativa e
consequentemente mais justa para todos. 

Rejeição da redistribuição de riqueza

Redistribuir implica violar a liberdade dos cidadãos.


Os indivíduos têm direito ao que adquirem e que inicialmente não
pertence a ninguém (jazidas de petróleo, patente farmacêutica por eles
descoberta, etc.). Também têm direito à totalidade das heranças ou doações
que recebam ou de quaisquer negócios e contratos que venham a realizar.
Assim, se os indivíduos enriquecem de forma justa, o Estado não deve interferir
para criar quaisquer padrões de distribuição de riqueza.

Consequentemente, o Estado não deve cobrar impostos para proceder a


qualquer distribuição de riqueza, ainda que os impostos sejam necessários
para assegurar as suas funções mínimas (defesa, segurança e cumprimento
das leis).

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