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Será uma distribuição igual da riqueza uma violação da liberdade individual?

Hoje em dias vivemos num mundo que é conhecido com “globalizado”, contudo as
desigualdades sociais, económicas permanecem como um tema extremamente preocupante,
á qual não devemos olhar de forma indiferente. Surgindo, assim, um dos problemas mais
centrais da filosofia política: o problema da Justiça Social, que pode ser formulado da
seguinte forma: O que é realmente uma sociedade justa? Ou seja, quais os princípios gerais
em que se deve basear uma sociedade justa?

Imaginemos uma sociedade em que a maioria vive em grande pobreza apesar de existir uma
pequena elite de pessoas multimilionárias. Será esta sociedade justa? Imaginemos outra
sociedade em que as pessoas têm exatamente a mesma riqueza e em que tudo é distribuído
igualitariamente. Será justa uma tal sociedade onde todos têm o mesmo independentemente
do que trabalharem, do que se esforçarem ou dos dons que tenham?

Afinal, o que é efetivamente uma sociedade justa? E não será uma distribuição padronizada
da riqueza uma violação da liberdade individual? Será este a questão filosófica que irá ser
trabalhada neste Ensaio.

Para este problema pode pensar-se em várias respostas, porém neste ensaio pretendo apoiar a
perspetiva de John Rawls um liberal igualitário, tentando refutá-la com a apresentação das
críticas feitas por Nozick, um libertista radical, a esta.

Para este problema pode pensar-se em duas respostas opostas: por um lado, pode defender-
se uma teoria igualitarista em que se defende que a melhor situação social é aquela em que
há maior igualdade de bens sociais distribuídos entre a sociedade. Dando-se uma importância
primordial ao valor da Igualdade (perspetiva defendida por Sandel nos anos 80). Por outro
lado, pode pensar-se numa teoria libertista em que se defende que a melhor situação social é
aquela em que se respeita a liberdade individual. De acordo com esta teoria, dá-se uma
importância primordial ao valor da Liberdade individual e aos direitos de propriedade. Esta
última perspetiva será a defendida por Nozick.

Acredito que a resposta de John Rawls defende é bastante mais promissora, dado que
apresenta uma teoria intermédia entre o Libertismo e o Igualitarismo, a qual ficou conhecida
como “liberalismo social”. Esta teoria é uma forma de liberalismo porque defende que é de
uma importância primordial assegurar a liberdade, mas é igualmente social porqu e numa
sociedade justa deve assegurar-se Iguais Liberdades e oportunidades para todos e a
redistribuição do rendimento e da riqueza deve ser feita à luz deste objetivo.

Rawls apresenta alguns princípios que devem ser tidos em conta para a conceção de uma
sociedade Justa, um deles será o Princípio da Diferença. Este consiste na promoção de uma
distribuição igual da Riqueza, por exemplo, através da implementação de impostos ou
tributações, dado que distribuí-la de forma desigual seria limitar consideravelmente as
liberdades e oportunidades dos mais pobres.

Nozick, por outro lado, critica esta conceção, e este Principio, acreditando que uma tal
conceção padronizada da justiça viola a liberdade individual e os direitos de propriedade.
Para defender essa ideia, Nozick apresenta o caso de Wilt Chamberlain. Suponha-se que
Chamberlain é o melhor jogador de basquetebol e que a sociedade em que vive distribui a
riqueza segundo o Princípio da Diferença. Wilt assina um contrato que contempla um salário
de 25 000 euros. Segundo Rawls, gerar-se-ia uma distribuição muito desigual de riqueza na
sociedade, violando-se o Princípio da Diferença. Sendo necessário redistribuir o dinheiro
existindo uma inevitável interferência do Estado que iria redistribuir o dinheiro de
Chamberlain, de forma a retornar-se á conceção padronizada da distribuição da Riqueza. É
importante ter em conta que a atribuição de iguais Liberdades a todos é também defendida
por Rawls como o Principio mais importante para a conceção de uma sociedade justa.
Contudo, Nozick sustenta que não é possível defender simultaneamente este dois Princípios.
Pois, para Nozick esta interferência do Estado, através da cobrança de impostos, é eticamente
inaceitável, visto que viola direitos de propriedade e desresp eita a liberdade individual, dado
que iria ser necessário tirar a alguns indivíduos (sem o seu consentimento) parte daquilo que
possuem legitimamente, para beneficiar os mais desfavorecidos.

Tendo um calculado esta visão, Rawls aceita uma desigual distribuição da Riqueza, na
medida em que esta traga benefícios para todos, especialmente para os mais desfavorecidos.

No seguimento desta ideia e defendendo um Justiça como Equidade, Rawls apresenta o


Princípio da Oportunidade Justa na qual as desigualdades económicas e sociais devem estar
ligadas a posições acessíveis a todos em condições de igualdade de oportunidades. As
desigualdades económicas, na distribuição da Riqueza, são aceitáveis na medida em que
resultam desta igualdade de oportunidades e, na medida, em que seja legitima, aspeto que
Nozick não aborda. Assim, é dever do Estado fazer face á lotaria social, isto é, a aleatoriedade
de nascer numa família com determinadas condições, o que impede que todos estejam no
mesmo ponto de partida. Interferindo de forma a garantir que todos têm acesso á educação, á
cultura, bem como o acesso a cuidados básicos de saúde. Ou seja, de forma a compensar
aqueles que por motivos exteriores, sem peso moral nenhum (fé, género, condições
financeiras,…) não conseguiriam aceder a cargos, nem seriam promovidos
profissionalmente, nem socialmente sem esta “ajuda”/compensação. Acreditando que esta
iria ser promotora de um incentivo, e geradora de uma maior riqueza coletiva.

Nozick, de maneira a refutar este Princípio, e tendo ainda por base a critica anteriormente
referida, defende que o Estado deve puder cobrar impostos para garantir a proteção das
pessoas, para manter o exército, a polícia e tribunais, visto que estes devem ser imparciais. Já
as escolas, os hospitais, as reformas, os subsídios devem ser sustentados por iniciativa
privada. Desta maneira, os mais desfavorecidos iriam ser ajudados, apenas pela generosidade
de cada membro da sociedade. Criando uma sociedade que não se importa com as
desigualdades sociais. Afirmando que “a tributação dos rendimentos (para terceiros) é
equiparável ao trabalho forçado”.

Ora, retomando a ideia exposta na introdução “as desigualdades sociais, económicas


permanecem como um tema extremamente preocupante, á qual não devemos olhar de forma
indiferente”, eu acredito, e tendo em conta a perspetiva de Rawls, que uma sociedade não
deve estar á mercê da generosidade do outro e que de facto as desigualdades sociais só devem
ser aceites se beneficiar um maior número de pessoas. Pois, faz parte do ser Humano o
egoísmo, preferindo ter mais para si do que para dar aos outros. Sendo necessário definir
Princípios Justos, como os apresentados por Rawls, definidos de maneira imparcial e em
Equidade, como defende a Teoria apresentada por este filósofo. Distribuindo a riqueza tendo
em conta as características da sociedade em questão. Permitir que exista quem nada tenha, e
permaneça com muito pouco, isso sim deveria ser uma violação á liberdade.

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