Você está na página 1de 28

John Rawls e o problema da

distribuição da riqueza

Uma sociedade é justa quando:


- aumenta o bem-estar de todos os cidadãos.

- se segue por uma conceção de justiça aceite por


todos os cidadãos.
J. Rawls (1921-2004): o filósofo político mais importante do séc.
XX

 Contratualista;

 liberalista social ou igualitário;

 A sociedade justa é aquela que combina o máximo de


liberdade com o máximo de igualdade.
J. Rawls (1921-2004): o filósofo político mais importante do séc.
XX

 Crítico:
 do liberalismo selvagem e da ideia de Estado
minimalista;
 do socialismo autoritário (igualitarismo);
 do utilitarismo .
A resposta de J. Rawls para o problema
da justiça social:

Para Rawls, o problema é, então, o seguinte:

Como construir uma sociedade justa conciliando


liberdade e igualdade? Sobre que princípios de
justiça? E como é que deve ser perspetivada a
relação entre esses princípios?
Rawls considera que uma sociedade justa deve
garantir a todos de forma equitativa o acesso a
três bens sociais básicos/primários:
- as liberdades (de expressão, de voto, de
escolha, etc.);
- as oportunidades (de carreira, etc.);
- o rendimento.

Bens sociais e conflitos de


valor
1. Princípio da Liberdade Igual
A sociedade deve assegurar a máxima
liberdade a cada pessoa que seja
compatível com uma liberdade igual para
todos os outros.

2. Princípio da Oportunidade Justa


As desigualdades económicas e sociais
devem estar ligadas a profissões acessíveis
a todos tendo como pressuposto a igualdade
de oportunidades.

Os princípios da justiça 3. Princípio da Diferença


social
A sociedade deve promover uma distribuição
igual da riqueza, exceto se a existência de
desigualdades económicas beneficiarem os
de menores recursos.
PRINCÍPIOS DE JUSTIÇA PROPOSTOS POR
RAWLS

1ºo direito ao mais amplo sistema de liberdades


básicas deve ser igual para todas as pessoas.

2º as desigualdades económicas e sociais devem ser distribuídas de


modo que, simultaneamente:
- sejam a consequência do exercício de cargos e funções abertos a
todos em circunstâncias de igualdade equitativa de oportunidades.
- redundem em benefícios para os menos favorecidos.
Bens de tipos distintos podem entrar em conflito,
tornando-se necessário saber quais devem ser
atendidos em primeiro lugar (que bens devem ter
prioridade).

Que princípio se sobrepõe, em caso de conflito?

Bens sociais e conflitos de


valor
A liberdade tem prioridade absoluta sobre a
igualdade de oportunidades e o bem-estar
económico.
A liberdade de expressão, por exemplo, não
pode ser sacrificada por razões de ordem
económica: não é permissível limitar essa
liberdade mesmo que isso contribuísse para
tornar a sociedade mais igualitária.

Hierarquia dos princípios Além disso: a igualdade de oportunidades


também não pode ser alcançada à custa da
limitação das liberdades básicas
A ausência de médicos em algumas regiões
do país representa um prejuízo para os seus
habitantes, que ficam desfavorecidos em
relação a quem vive em zonas com mais
atrativos.

Uma forma de eliminar esta desvantagem,


beneficiando os que vivem nas regiões mais
desfavorecidas, consiste em pagar mais aos
médicos que aceitem ir trabalhar para essas
regiões.

Este tratamento desigual é permitido


porque promove a igualdade,
Desigualdades e benefícios favorecendo os de menores recursos.
para os menos favorecidos
Desigualdades que contribuam para diminuir
os rendimentos, liberdades e oportunidades
dos que têm menos recursos não podem ser
permitidas.
O primeiro argumento de Rawls a favor da
sua teoria parte da seguinte ideia (bastante
plausível):
O nosso destino social (a vida que
teremos) deve depender das nossas
escolhas, e não das circunstâncias em
que por acaso fomos colocados.
Não é justo, segundo esta ideia, que
alguém não possa ter acesso a certas
profissões por ser homem ou mulher, por
pertencer a uma raça ou a outra, por ter
nascido numa família pobre, etc.

É injusto que o destino


Ser homem ou mulher não depende de nós,
social seja determinado por tal como não depende de nós ser europeu,
desigualdades sociais africano ou asiático.
(lotaria social)
Também a circunstância de ter nascido
numa família rica ou pobre é fruto do acaso
e não de uma escolha.
A ideia de que o nosso destino social (a vida
que iremos ter) deve apenas depender das
nossas escolhas, e não das circunstâncias
em que o acaso nos colocou, implica que
todos tenhamos as mesmas oportunidades,
independentemente das circunstâncias de
partida.
A exigência de oportunidades iguais para
todos destina-se a evitar a influência social
do acaso na situação social de cada um.
Assim, se estiver garantida a igualdade de
O argumento da igualdade oportunidades, as desigualdades de riqueza
de oportunidades que se observam na sociedade terão de ficar
a dever-se a outros fatores, como, por
exemplo, ao mérito de cada um.
Questão: o reconhecimento do mérito
individual, em conjunto com a igualdade de
oportunidades, não é suficiente para falar em
justiça social? Isto é, é necessário que as
desigualdades económicas favoreçam
especialmente os mais desfavorecidos?

O argumento da igualdade
de oportunidades
Por vezes pensa-se que, estando garantida
a igualdade de oportunidades, o mérito e os
talentos individuais justificam as diferenças
de rendimento (é tido como justo que
aqueles que mais mérito têm beneficiem dos
frutos do seu trabalho).
Não estará isto certo? Ninguém nega que o
talento e os méritos individuais devem ser
premiados, sendo justo usufruir do que se
conquistou.
Mas, será justo que aqueles que não têm
talentos naturais sejam privados desses
É injusto que o destino
benefícios?
social seja determinado por O problema é: será justo que um deficiente
desigualdades naturais ou uma pessoa com um baixo QI sejam
(lotaria natural)
desfavorecidos por força dessa condição?
Partimos da ideia de que o nosso destino
social deve depender das nossas escolhas,
e não das circunstâncias em que o acaso
nos coloca.
Não é justo não ter acesso a uma profissão,
por exemplo, apenas por termos nascido
numa família pobre, por sermos homem ou
mulher, por pertencermos a uma raça A ou
B, porque nenhuma destas circunstâncias foi
escolhida por nós.
Mas ter nascido com um certo talento, com
um QI baixo ou com uma deficiência também
não é uma escolha pessoal: é algo que nos
aconteceu, que não pudemos evitar, que não
É injusto que o destino
controlamos.
social seja determinado por
desigualdades naturais Se é injusto que o nosso destino social seja
(lotaria natural) determinado por desigualdades sociais,
também parece injusto que o seja devido a
desigualdades naturais, de que não somos
responsáveis.
Se é injusto que o nosso destino social seja
determinado por desigualdades naturais, de que
não somos os responsáveis, que propõe Rawls
para o evitar?
Que as desigualdades sociais e naturais tragam
benefícios a todos e não apenas a alguns.
Portanto, ninguém deve ser o único beneficiário
dos seus talentos: quem teve a sorte de ser
beneficiado deve contribuir para quem foi menos
favorecido.
Se queremos que o nosso destino social dependa
apenas das nossas escolhas, e não das nossas
circunstâncias sociais ou naturais (lotarias social e
natural), temos de aceitar que:
A justificação para o
princípio da diferença A sociedade deve promover uma distribuição igual
da riqueza, excepto se a existência de
desigualdades económicas e sociais beneficiar os
de menores recursos.
Isto é o que estabelece o princípio da diferença.
Em síntese, o argumento proposto por Rawls é o
seguinte:
(1) Começamos por aceitar que somos livres na
mesma medida de todos os outros (princípio da
liberdade igual).
(2) Em seguida, aceitamos que só as nossas
escolhas devem importar para decidir o nosso
destino social.
(3) Assim, as circunstâncias que não dependem
de nós (lotarias social e natural) não devem influir
na posição social que viremos a alcançar
(princípio da igualdade de oportunidades).
J. Rawls
(4) Por fim, se não escolhemos a nossa situação
social de partida e os nossos talentos (ou a falta
deles), então não devemos ser os únicos a
beneficiar deles: é justo contribuir para os que não
tiveram tanta sorte (princípio da diferença).
A RESPOSTA DE J. RAWLS PARA O
PROBLEMA DA JUSTIÇA SOCIAL:

A sociedade justa é aquela que combina o máximo de liberdade


com o máximo de igualdade.

Mas:
O que é que isso exige das partes contratantes na negociação dos
princípios de justiça corretos?
O que propõe J. Rawls para definir os princípios de justiça
corretos?
O problema da justiça
Social

Rawls:
Teoria da justiça como equidade

Princípios da justiça:
Posição original: sob um
1- P. da liberdade;
véu de ignorância , permite
2- P. da oportunidade
a escolha dos princípios
justa;
da justiça corretos.
3- P. da diferença.
POSIÇÃO ORIGINAL (SUBJACENTE À NEGOCIAÇÃO
DO CONTRATO SOCIAL HIPOTÉTICO):

 Situação imaginária onde os membros de


uma sociedade, a coberto de um véu de
ignorância, escolhem os princípios da
justiça corretos. Porquê?

Princípio maximin:

Princípio de escolha que determina que, entre


as várias alternativas, se escolha aquela que
assegura o melhor (menos mau) entre os piores
resultado possíveis.
NA SITUAÇÃO HIPOTÉTICA ABAIXO, SOB O EFEITO DO
VÉU DE IGNORÂNCIA, QUE OPÇÃO SERIA FEITA POR
TODOS OS INDIVÍDUOS? E A QUE PRINCÍPIO
OBEDECERIA?
Pior resultado Melhor resultado
possível possível

Opção A Pobreza extrema Riqueza extrema

Opção B Pobreza acentuada Riqueza acentuada

Opção C Pobreza moderada Riqueza moderada

Porque é que a escolha não seria feita de acordo com o critério


utilitarista?
Nozick (libertarista, proposta mais radical do liberalismo)

 O que é justo é distribuir os bens em função dos


contributos de cada pessoa para a produção desses bens
– não se deve tirar mais aos ricos, instrumentalizando-
os, para dar aos pobres;

 A função do Estado deve ser mínima – deve limitar-se a


proteger os direitos e liberdades individuais.

 Além disso: o estado protecionista não estimula o


desenvolvimento e a iniciativa individual porque não
cria motivação para as pessoas trabalharem e
empreenderem.
Nozick: a crítica a Rawls (incide sobre o 3º princípio)
A teoria da justiça de Rawls não é boa, uma vez que o princípio da diferença é
mau;
A aplicação do princípio da diferença retira liberdade às pessoas, uma vez que
as impede de fazerem o que bem entendem com o rendimento do seu
trabalho e a sua riqueza.
Um exemplo disso: o imposto sobre o trabalho retira liberdade às pessoas,
uma vez que estabelece que para podermos trabalhar temos de aceitar que
parte do rendimento do nosso trabalho não seja para nós, mas sim para os
outros, o que constitui uma situação de escravidão, de trabalho forçado, não
remunerado.

Conclusão: a teoria de Rawls é inconsistente, uma vez que nela defende-se


que o princípio da liberdade se sobrepõe ao da diferença, quando, na
realidade, a aplicação do princípio da diferença se sobrepõe ao princípio da
liberdade.
A crítica de R. Nozick
 
- Resposta à objeção de Nozick: A crítica de Nozick à teoria da justiça
social de Rawls ignora os efeitos nefastos da distribuição
profundamente desigual da riqueza. Um mundo marcado por
profundas desigualdades é um mundo inseguro, onde ninguém se vê
protegido, nem mesmo os mais poderosos (os mais ricos). Assim, é do
interesse de todos, e neste caso em particular dos mais ricos, que a
distribuição da riqueza seja mais equilibrada. Só assim a sua liberdade,
nomeadamente as suas liberdades básicas, estarão protegidas. Neste
sentido, o que se revela protetor das liberdades básicas não poderá ser
percecionado como um atentado às mesmas liberdades. Porquanto, o
princípio da diferença não é mau e não viola o princípio da liberdade
igual.
JOHN RAWLS E A CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE JUSTA

Críticas à proposta de Rawls


2. Sandel (comunitarista)
 Não considera que o bem comum seja simplesmente o resultado
de preferências individuais, como Nozick considera.
 Pelo contrário, considera que o bem comum é aquele em nome
do qual se avaliam as preferências individuais. O bem comum
tem prioridade moral sobre as preferências individuais das
pessoas.
 As pessoas não se autodeterminam visto haver escolhas que
decorrem dos laços comunitários preexistentes que moldam as
nossas preferências.
Por exemplo, as pessoas não escolhem a sua família e agem e
escolhem em função dos laços que criam com ela. Por isso, não
pertencemos a nós próprios mas à comunidade em que estamos
enraizados.
JOHN RAWLS E A CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE JUSTA

Críticas à proposta de Rawls


2. Sandel (comunitarista)
 Sandel critica Rawls e a posição original, sob o véu de
ignorância, para escolher os princípios justos (racionais e
imparciais) uma vez que considera que, para serem justos têm de
ser bons e são bons, não por nos “esquecermos de quem somos e
da posição em que estamos ou quem nos rodeia” (racionalidade e
imparcialidade) mas por nos lembrarmos dessa nossa mesma
condição de seres cuja identidade se constrói, reconhece e existe
na dependência da comunidade a que pertencemos.

Você também pode gostar