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John Rawls e o problema da distribuição da riqueza

Para alguns filósofos, a igualdade só tem um


valor instrumental: é apenas um meio para
atingir um fim. O valor da igualdade depende
unicamente das consequências que esta
promove.
Para Rawls, a igualdade vale por si mesma,
tem valor intrínseco, e deve ser desejada
pelo que é e não por promover as melhores
consequências.
As liberdades (de expressão, de voto, etc.),
O valor da igualdade o rendimento e as oportunidades devem ser
distribuídas de maneira igual excepto se a
sua distribuição desigual beneficiar os que
menos têm.
A ausência de médicos em algumas regiões
do país representa um prejuízo para os seus
habitantes, que ficam desfavorecidos em
relação a quem vive em zonas com mais
atrativos.

Uma forma de eliminar esta desvantagem,


beneficiando os que vivem nas regiões mais
desfavorecidas, consiste em pagar mais aos
médicos que aceitem ir trabalhar para essas
regiões.

Este tratamento desigual é permitido porque


promove a igualdade, favorecendo os de
Desigualdades e benefícios menores recursos.
para os menos favorecidos
Desigualdades que contribuam para diminuir
os rendimentos, liberdades e oportunidades
dos que têm menos recursos não podem ser
permitidas.
Rawls considera que a sociedade deve garantir a
todos de forma equitativa o acesso a três bens
sociais básicos. São os chamados bens sociais
primários.
O rendimento, as liberdades (de expressão, de
voto, de escolha, etc.) e as oportunidades (de
carreira, etc.) são considerados os bens sociais
primários.
Bens de tipos distintos podem entrar em conflito,
tornando-se necessário saber quais devem ser
atendidos em primeiro lugar, ou que bens devem
ter prioridade.
Se uma sociedade garante o acesso à educação
e, em simultâneo, exige que ela seja assegurada
Bens sociais e conflitos de numa escola da área de residência, no caso de
valor uma pessoa preferir uma escola fora da sua área
de residência por considerar que essa escola lhe
dará maior preparação, há um conflito entre a
igualdade de oportunidades e a liberdade de
escolha.
Qual deve ser considerado o mais importante?
1. Princípio da Liberdade Igual
A sociedade deve assegurar a máxima
liberdade a cada pessoa que seja
compatível com uma liberdade igual para
todos os outros.

2. Princípio da Oportunidade Justa


As desigualdades económicas e sociais
devem estar ligadas a profissões acessíveis
a todos tendo como pressuposto a igualdade
de oportunidades.

Os princípios da justiça 3. Princípio da Diferença


social
A sociedade deve promover uma distribuição
igual da riqueza, exceto se a existência de
desigualdades económicas beneficiarem os
de menores recursos.
A partir de um nível de bem-estar situado
acima da luta pela sobrevivência, a liberdade
tem prioridade absoluta sobre o bem-estar
económico ou a igualdade de oportunidades.
A liberdade de expressão, etc., não pode ser
sacrificada por razões de ordem económica:
não é permissível limitar a liberdade mesmo
se isso contribuísse para tornar a sociedade
mais igualitária.
Desigualdades (de liberdade, de rendimento,
etc.) só são permitidas se beneficiarem os
de menores recursos.
A doação de benefícios fiscais, por exemplo,
Hierarquia dos princípios a regiões menos desenvolvidas de modo a
permitir-lhes aproximarem-se da média das
regiões mais avançadas corresponde a esta
ideia.
Isto justifica o princípio da discriminação
positiva.
O primeiro argumento de Rawls a favor da
sua teoria parte da seguinte ideia (bastante
plausível):
O nosso destino social (a vida que teremos)
deve depender das nossas escolhas, e não
das circunstâncias em que por acaso fomos
colocados.
Não é justo, segundo esta ideia, que alguém
não possa ter acesso a certas profissões por
ser homem ou mulher, por pertencer a uma
raça ou a outra, por ter nascido numa família
pobre, etc.

O argumento da igualdade
Ser homem ou mulher não depende de nós,
de oportunidades tal como não depende de nós ser europeu,
africano ou asiático.
Também a circunstância de ter nascido
numa família rica ou pobre é fruto do acaso
e não de uma escolha.
A ideia de que o nosso destino social (a vida
que iremos ter) deve apenas depender das
nossas escolhas, e não das circunstâncias
em que o acaso nos colocou, implica que
todos tenhamos as mesmas oportunidades,
independentemente das circunstâncias de
partida.
A exigência de oportunidades iguais para
todos destina-se a evitar a influência social
do acaso.
Assim, se estiver garantida a igualdade de
oportunidades, as desigualdades de riqueza
O argumento da igualdade que se observam na sociedade terão de ficar
de oportunidades a dever-se ao mérito de cada um, aos seus
talentos naturais, às suas escolhas (certas
ou erradas).
E isto parece-nos justo.
Rawls pensa que devemos garantir a
igualdade de oportunidades e, ao mesmo
tempo, que as desigualdades de rendimento
apenas se justificam se forem benéficas para
os menos favorecidos. Mas isto não parece
ser compatível.
O reconhecimento do mérito individual, em
conjunto com a igualdade de oportunidades,
convida-nos a concluir que as desigualdades
de rendimentos se justificam mesmo se não
beneficiam os que menos têm. Afinal, cada
um obteve o que os seus méritos permitiram,
sendo inteiramente justo que beneficie dos
O argumento da igualdade seus esforços.
de oportunidades
Bastaria, ao invés do que pensa Rawls, que
os maiores rendimentos resultassem apenas
do esforço individual de alguns para estarem
justificados.
Por vezes pensa-se que, estando garantida
a igualdade de oportunidades, o mérito e os
talentos individuais justificam as diferenças
de rendimento.
A ideia é a seguinte: é justo que aqueles que
mais mérito possuem beneficiem dos frutos
do seu trabalho.
Não estará isto certo? Ninguém nega que o
talento e os méritos individuais devem ser
premiados, sendo justo usufruir do que se
conquistou.
Mas, seguindo a mesma linha de raciocínio,
temos de concluir que é justo aqueles que
O argumento da igualdade não têm talentos naturais serem privados
de oportunidades desses benefícios.
O problema é: será justo que um deficiente
seja desfavorecido só por ser deficiente, ou
alguém com um QI baixo apenas por ter um
QI baixo?
Partimos da ideia de que o nosso destino
social deve depender das nossas escolhas,
e não das circunstâncias em que o acaso
nos coloca.
Não é justo não ter acesso a uma profissão,
por exemplo, apenas por termos nascido
numa família pobre, por sermos homem ou
mulher, por pertencermos a uma raça A ou
B, porque nenhuma destas circunstâncias foi
escolhida por nós.
Mas ter nascido com um certo talento, com
um QI baixo ou com uma deficiência também
não é uma escolha pessoal: é algo que nos
aconteceu, que não pudemos evitar, que não
O argumento da igualdade
controlamos.
de oportunidades
Se é injusto que o nosso destino social seja
determinado por desigualdades sociais,
também parece injusto que o seja devido a
desigualdades naturais, de que não somos
responsáveis.
Se é injusto que o nosso destino social seja
determinado por desigualdades naturais, de que
não somos os responsáveis, que propõe Rawls
para o evitar?
A ideia é que as desigualdades sociais e naturais
só se justificam se isso trouxer benefícios aos
mais desfavorecidos.
Portanto, ninguém deve ser o único beneficiário
dos seus talentos: quem teve a sorte de ser
beneficiado deve contribuir para quem foi menos
favorecido.
Se queremos que o nosso destino social dependa
apenas das nossas escolhas, e não das nossas
circunstâncias (sociais ou naturais), temos de
O argumento da igualdade
aceitar que:
de oportunidades
A sociedade deve promover uma distribuição igual
da riqueza, excepto se a existência de
desigualdades económicas e sociais beneficiar os
de menores recursos.
Mas este é o princípio da diferença.
Em síntese, o argumento proposto por Rawls é o
seguinte:
(1) Começamos por aceitar que somos livres na
mesma medida de todos os outros (princípio da
liberdade igual).
(2) Em seguida, aceitamos que só as nossas
escolhas devem importar para decidir o nosso
destino social.
(3) Assim, as circunstâncias que não dependem
de nós não devem influir na posição social que
viremos a alcançar (princípio da igualdade de
oportunidades).
(4) Estas circunstâncias são externas (sexo, raça,
O argumento da igualdade classe social de partida, etc.) e internas (talentos
de oportunidades naturais).
(5) Por fim, concluímos que se não escolhemos
os nossos talentos (ou a falta deles) não devemos
ser os únicos a beneficiar deles: é justo contribuir
para os que não tiveram tanta sorte (princípio da
diferença).

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