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O argumento da igualdade
Ser homem ou mulher não depende de nós,
de oportunidades tal como não depende de nós ser europeu,
africano ou asiático.
Também a circunstância de ter nascido
numa família rica ou pobre é fruto do acaso
e não de uma escolha.
A ideia de que o nosso destino social (a vida
que iremos ter) deve apenas depender das
nossas escolhas, e não das circunstâncias
em que o acaso nos colocou, implica que
todos tenhamos as mesmas oportunidades,
independentemente das circunstâncias de
partida.
A exigência de oportunidades iguais para
todos destina-se a evitar a influência social
do acaso.
Assim, se estiver garantida a igualdade de
oportunidades, as desigualdades de riqueza
O argumento da igualdade que se observam na sociedade terão de ficar
de oportunidades a dever-se ao mérito de cada um, aos seus
talentos naturais, às suas escolhas (certas
ou erradas).
E isto parece-nos justo.
Rawls pensa que devemos garantir a
igualdade de oportunidades e, ao mesmo
tempo, que as desigualdades de rendimento
apenas se justificam se forem benéficas para
os menos favorecidos. Mas isto não parece
ser compatível.
O reconhecimento do mérito individual, em
conjunto com a igualdade de oportunidades,
convida-nos a concluir que as desigualdades
de rendimentos se justificam mesmo se não
beneficiam os que menos têm. Afinal, cada
um obteve o que os seus méritos permitiram,
sendo inteiramente justo que beneficie dos
O argumento da igualdade seus esforços.
de oportunidades
Bastaria, ao invés do que pensa Rawls, que
os maiores rendimentos resultassem apenas
do esforço individual de alguns para estarem
justificados.
Por vezes pensa-se que, estando garantida
a igualdade de oportunidades, o mérito e os
talentos individuais justificam as diferenças
de rendimento.
A ideia é a seguinte: é justo que aqueles que
mais mérito possuem beneficiem dos frutos
do seu trabalho.
Não estará isto certo? Ninguém nega que o
talento e os méritos individuais devem ser
premiados, sendo justo usufruir do que se
conquistou.
Mas, seguindo a mesma linha de raciocínio,
temos de concluir que é justo aqueles que
O argumento da igualdade não têm talentos naturais serem privados
de oportunidades desses benefícios.
O problema é: será justo que um deficiente
seja desfavorecido só por ser deficiente, ou
alguém com um QI baixo apenas por ter um
QI baixo?
Partimos da ideia de que o nosso destino
social deve depender das nossas escolhas,
e não das circunstâncias em que o acaso
nos coloca.
Não é justo não ter acesso a uma profissão,
por exemplo, apenas por termos nascido
numa família pobre, por sermos homem ou
mulher, por pertencermos a uma raça A ou
B, porque nenhuma destas circunstâncias foi
escolhida por nós.
Mas ter nascido com um certo talento, com
um QI baixo ou com uma deficiência também
não é uma escolha pessoal: é algo que nos
aconteceu, que não pudemos evitar, que não
O argumento da igualdade
controlamos.
de oportunidades
Se é injusto que o nosso destino social seja
determinado por desigualdades sociais,
também parece injusto que o seja devido a
desigualdades naturais, de que não somos
responsáveis.
Se é injusto que o nosso destino social seja
determinado por desigualdades naturais, de que
não somos os responsáveis, que propõe Rawls
para o evitar?
A ideia é que as desigualdades sociais e naturais
só se justificam se isso trouxer benefícios aos
mais desfavorecidos.
Portanto, ninguém deve ser o único beneficiário
dos seus talentos: quem teve a sorte de ser
beneficiado deve contribuir para quem foi menos
favorecido.
Se queremos que o nosso destino social dependa
apenas das nossas escolhas, e não das nossas
circunstâncias (sociais ou naturais), temos de
O argumento da igualdade
aceitar que:
de oportunidades
A sociedade deve promover uma distribuição igual
da riqueza, excepto se a existência de
desigualdades económicas e sociais beneficiar os
de menores recursos.
Mas este é o princípio da diferença.
Em síntese, o argumento proposto por Rawls é o
seguinte:
(1) Começamos por aceitar que somos livres na
mesma medida de todos os outros (princípio da
liberdade igual).
(2) Em seguida, aceitamos que só as nossas
escolhas devem importar para decidir o nosso
destino social.
(3) Assim, as circunstâncias que não dependem
de nós não devem influir na posição social que
viremos a alcançar (princípio da igualdade de
oportunidades).
(4) Estas circunstâncias são externas (sexo, raça,
O argumento da igualdade classe social de partida, etc.) e internas (talentos
de oportunidades naturais).
(5) Por fim, concluímos que se não escolhemos
os nossos talentos (ou a falta deles) não devemos
ser os únicos a beneficiar deles: é justo contribuir
para os que não tiveram tanta sorte (princípio da
diferença).