Você está na página 1de 2

Neste ensaio, o problema filosófico em apresso é o problema da Justiça Social.

Este problema,
da filosofia política, visa determinar como deve a sociedade estar ordenada, de modo a garantir que
todos os seus membros sejam tratados como cidadãos simultaneamente livres e iguais. As principais
questões relacionadas com este problema são: «Como devemos distribuir, de modo justo, os bens
em sociedade?» e «Como é possível uma sociedade justa?». O problema da justiça social é um dos
problemas mais importantes da Filosofia Política, visto que procura saber como é que podemos
tornar as sociedades mais justas e como devem ser distribuídos os bens sociais (liberdades, justiça,
educação, saúde, riqueza) em sociedade. Para além disso, a justiça social é um conceito fundamental
para a coexistência pacífica e próspera entre sociedades.
Existem quatro teorias fundamentais que procuram responder ao problema: o utilitarismo, o
igualitarismo, o liberalismo e a teoria de Rawls. Passo a descrevê-las: o utilitarismo defende que a
distribuição dos bens deve ser feita de forma a maximizar a utilidade, ou seja, a maior felicidade para
o maior número de pessoas, sendo que os direitos individuais estão sujeitos ao cálculo do interesse
social, permitindo desigualdades. Já a resposta do igualitarismo ao problema é que as distribuições
desiguais são sempre injustas, visto que todos os indivíduos devem ter os mesmos bens sociais, sendo
que o valor mais importante é a igualdade. Por sua vez, o liberalismo defende que as liberdades
individuais são o valor mais importante numa sociedade e, por isso, defende, também, que as
distribuições desiguais são justas, desde que todos tenham liberdades individuais absolutas. Por fim,
a teoria de Rawls, que tem por base três princípios, defende que a distribuição desigual da riqueza
só é justa se a sociedade distribuir oportunidades iguais por todos e se beneficiar os que menos têm
na sociedade, sem nunca aceitar desigualdades sobre liberdades básicas.
Neste ensaio vou defender a teoria do utilitarismo.
Na perspetiva de um utilitarista, uma sociedade justa deve organizar-se de modo a maximizar
a utilidade, sendo que para J.S. Mill a utilidade, isto é, o bem mais útil, não é a liberdade nem a
igualdade, mas sim a felicidade geral. O princípio da utilidade, também designado por princípio da
maior felicidade, é o critério ético objetivo utilizado por utilitaristas, como Mill e Bentham, para
determinar o valor ético de uma ação. Este princípio, segundo Mill, significa que uma ação é
moralmente correta se e só se proporcionar a maior felicidade para o maior número de pessoas, e é
incorreta caso proporcione o contrário, isto é, infelicidade para o maior número de pessoas. Para
Mill, felicidade significa prazer e ausência de dor e infelicidade significa dor e privação de prazer.
O critério milliano de identificação da ação moral funciona da seguinte forma: antes de agir,
o individuo deve ponderar, ou seja, “calcular” entre as consequências possíveis a melhor
consequência, que será aquela cujo efeito ou resultado alcançará a maior utilidade. Por outras
palavras, o resultado que proporcionará mais prazer e menos dor ou sofrimento possíveis, para o
maior número de pessoas. No contexto do problema da justiça social, se aplicarmos o princípio da
utilidade podemos afirmar que os bens sociais, como por exemplo liberdades, riqueza e educação,
devem ser distribuídos de modo a proporcionar a maior felicidade ao maior número de pessoas,
permitindo desigualdades, se essas desigualdades alcançarem a maior utilidade possível.
O princípio milliano da utilidade combina três aspetos: o consequencialismo, o hedonismo
qualitativo e a imparcialidade. Por outras palavras, a moralidade de uma ação depende apenas das
consequências dessa mesma ação (consequencialismo) ; uma ação tem valor ético se maximiza
prazeres sobretudo os alcançáveis pela mente humana – prazeres superiores e minimiza dores ou
sofrimentos (hedonismo qualitativo); a consequência de uma ação deve ser ‘calculada’ de modo
imparcial e geral, isto é, do ponto de vista da humanidade, sendo que Mill defende que cálculos
egoístas são os maiores obstáculos à felicidade de todos (imparcialidade). Sendo assim, aplicando
estes três conceitos ao problema da justiça social temos que: a distribuição dos bens sociais numa
sociedade é considerada justa ou injusta dependendo das suas consequências; a distribuição deve
maximizar prazeres e minimizar sofrimento; ao pensar na forma como devem ser distribuídos os bens
sociais na sociedade temos de pensar nas consequências de forma imparcial e geral, não pensando
apenas nos nossos próprios interesses e na nossa própria felicidade.
O utilitarismo é a melhor teoria para responder a este problema visto que promove a
harmonia e o progresso social. Ao pensar no bem comum, o utilitarismo milliano exige que
equilibremos os nossos interesses com os dos outros, promovendo uma sociedade menos egoísta e
mais altruísta. Para além disso, Mill não aplica rótulos às nossas ações: nenhuma ação é
absolutamente certa ou errada, propondo, assim, uma teoria flexível e adaptável às circunstâncias
reais que envolvem as nossas ações e que, no contexto deste problema, envolvem, também, a dura
realidade de muitas sociedades. A melhor característica da teoria de Mill é a imparcialidade perante
interesses individuais. A teoria milliana considera que a felicidade das outras pessoas é tão
importante como a nossa própria felicidade, não favorece pessoas ou grupos, o que é crucial para
tentar responder a este problema. Como neste problema o objetivo é perceber como é que é possível
ter uma sociedade justa temos de pensar nos interesses de todos e considerar os efeitos das nossas
ações perante outros membros da sociedade. A teoria de Rawls tem várias desvantagens, sendo que
a maior delas é objeções do acordo. Todos acordos implicam negociação e informação. Na Posição
Original, que é uma experiência puramente mental, em que envolve uma situação hipotética entre
sujeitos hipotéticos para tentar descobrir e justificar que princípios básicos de justiça seriam
acordados entre seres racionais, livres e imparciais, não existe uma negociação genuína. Como não
sabemos exatamente o que temos para oferecer nem o que vamos receber em troca, não podemos
determinar o que será justo. Para além disso, nós nunca podemos ter a certeza do que será realmente
justo se não tivermos a opinião e os relatos das pessoas que vivem no mais baixo escalão da
sociedade e das que vivem no mais alto escalão, pois só temos a certeza do que já vivemos e, a menos
que nós já tivéssemos experienciado o que é ser pobre e rico não podemos afirmar o que será justo
para ambas as partes. Na Posição Original, a definição da situação e dos sujeitos é tão escassa em
detalhes que não é possível imaginar um acordo real.
Em suma, considero, pelas razões apresentadas, que a teoria do utilitarismo é a mais correta
para responder ao referido problema.

Você também pode gostar