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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO (UNIFESP)

CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


DISCIPLINA ANTROPOLOGIA III
PROFESSOR: RODRIGO RIBEIRO
ALUNA: CAMILA LOURES BARREIRA MEVIS – 120.571 NOTURNO

Avaliação
Questão 4.

Nas sociedades estudadas por Marcel Mauss, o fenômeno da troca e do contrato


não se realizava entre indivíduos, mas sim entre comunidades que podiam ser famílias,
clãs, tribos, por intermédio do chefe. Tais trocas também não eram de apenas coisas
economicamente úteis, mas de banquetes, ritos, danças, serviços militares, visitas,
crianças, mulheres, etc., no qual o mercado era apenas um momento. Ainda que essas
prestações aparecessem como voluntárias elas eram obrigatórias sob o risco de guerras.
Assim, o presente recebido gerava uma obrigação, formando um vínculo
jurídico através das coisas, que é um vínculo também espiritual. O individuo que não
retribui é desqualificado, perde a honra, o prestígio e em alguns locais pode até perder a
condição de homem livre.
Logo, esse sistema de trocas não consiste apenas em comércio, mas tem uma
finalidade entes de tudo moral, na qual se busca firmar um sentimento de amizade entre
os envolvidos. Neste tipo de contrato e troca tudo se mistura, as pessoas, as coisas, as
almas nas coisas, as coisas nas almas.

Para Levy Strauss as trocas matrimoniais e as trocas econômicas funcionavam


baseadas num sistema de reciprocidade. Neste sentido, ele retoma Mauss, para o qual as
trocas em forma de dádivas vão além do simples escambo, mas possuem um sentido
moral que dá significado às relações sociais. Isto porque não são trocados apenas
objetos valiosos, mas toda uma sorte de festas, ritos, danças, pessoas, que demonstram
que a finalidade primeira não é o mercado, mas sim estabelecer e fortalecer alianças e
comunhões.
Os fatos observados sobre a dádiva demonstram que ela vai além da questão
econômica, comtemplando um conjunto de relações sociais dando sentido ao todo
social. Assim, para o autor, esses são fatos sociais totais, pois englobam ao mesmo
tempo distintas instituições sociais: econômicas, religiosas, jurídicas e até estéticas,
envolvendo questões morais e hierárquicas, políticas e domésticas.
Levy Strauss retoma a afirmação de que o sistema de reciprocidade vai
estabelecendo uma teia de vínculos sociais na medida em que uma dádiva recebida
requer uma contraprestação gerando uma obrigação contínua. Neste sentido, o
casamento representava um momento crucial para o desenvolvimento de um ciclo de
trocas e estabelecimento de alianças entre os grupos. Visto que a mulher é considerada
um bem do grupo, a proibição do incesto tem como objetivo a circulação constante dos
bens do grupo, pois ao proibir o casamento consanguineo, os homens são obrigados a
buscar mulheres em outros grupos, estabelecendo assim novas alianças. Devido a isso,
todos os sistemas de parentesco possuem regras de incesto, pois estas delimitam o
acesso às mulheres, permitindo o acesso a outros grupos.
Assim, o princípio de reciprocidade garante a interrelacao entre os grupos
através das trocas.

Bibliografia
Marcel Mauss. Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas
[1923-24]. In: Sociologia e Antropologia. São Paulo, Cosac & Naify, 2003 –
Introdução, “As dádivas trocadas e a obrigação de retribuí-las” e “Extensão desse
sistema”. p. 185-264; Conclusão. p. 294-314.

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