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A Natureza dos valores e a diversidade cultural

Os juízos de facto distinguem-se claramente dos juízos de valor.

Os juízos de facto:

·São descritivos pois descrevem um facto ou situação tal qual ela é;

·São verificáveis porque aquilo que se afirma ou nega neles pode ser comprovado:

·São unânimes/consensuais uma vez que não são objeto de discussão;

·São objetivos porque não dependem da avaliação do sujeito.

Os juízos de valor:

·São opinativos porque exprimem uma apreciação de um facto ou situação:

·Não são verificáveis porque não se pode comprovar se o que neles se afirma ou nega

é verdade ou mentira;

·São polémicos porque é impossível obter um consenso ou unanimidade. No entanto

através do diálogo podemos atingir um acordo;

·São subjetivos pois variam de acordo com a apreciação de cada sujeito.

A natureza dos valores

Há 2 grandes teorias em relação à natureza dos valores:

O objetivismo axiológico:

Afirma que o valor existe independentemente de cada pessoa e para reconhecer e aceitar

determinado valor apenas temos de considerar valiosas as coisas que o incorporam.

Assim os valores são objetivos, dotados de universalidade e de intemporalidade. Os críticos

desta teoria contestam a legitimidade da separação do valor, não só do bem que


o corporiza, mas também do sujeito que valoriza.

Subjetivismo axiológico:

Para esta teoria, o valor depende dos sentimentos de agrado ou desagrado, do facto de

serem ou não desejados, isto é da subjetividade humana individual ou coletiva.

Assim defendem o caráter subjetivo dos valores e reconhecem que estes são mutáveis e

temporais ou transitivos. Os críticos desta teoria, contestam que se esqueça completamente

as propriedades do objeto que o tornam valioso.

Esta teoria procura conciliar quer as propriedades do objeto que o tornam valioso quer os

sentimentos de agrado ou desagrado que cada sujeito reconhece no objeto, retirando 3

conclusões:
·Não há valores fora da apreciação humana, pois é o ser humano que reconhece os

valores incorporados nos objetos;

·Há valores em que o elemento subjetivo é fundamental dependendo dos gostos,

desejos ou interesses pessoais;

·Há valores éticos e políticos como a igualdade, a liberdade, a tolerância, a

solidariedade e a paz que são valores básicos consagrados na declaração dos Direitos

Humanos que não podem depender da subjetividade. São princípios orientadores da

ação, universais e absolutos que temos obrigação de reconhecer e defender.

A diversidade e o diálogo de culturas

Cada ser humano é único. O respeito pela diversidade individual significa que devemos

estar abertos, abertura nascida do conhecimento, da compreensão e do espírito crítico às

múltiplas diferenças.

Face à diversidade cultural frequentemente manifestam-se atitudes que não desenvolvem

esse sentimento de justiça e compreensão. São os casos do etnocentrismo e relativismo

cultural.

O etnocentrismo é uma atitude que tende a considerar a cultura de outros povos como
inferior. Esta atitude tem uma longa tradição na Europa. Os gregos, por exemplo,
consideravam a cultura de outros povos como inferior. Os romanos assumiram idêntica
atitude. Foi, todavia nos séculos XIX e XX esta atitude acabou por provocar enormes conflitos à
escala mundial. As principais potencias europeias consideravam outros povos, em particular os
africanos e os asiáticos, como culturalmente inferiores, sentindo-se por essa razão no direito
de os dominarem e governarem, tendo criado grandes impérios coloniais.

Relativismo Cultural

O relativismo tem as suas raízes nas conceções sofistas, para os quais não havia verdade, nem
mentira, tudo não passa de convenções, dependentes da nossa capacidade de persuasão para
levar outros a acharem que o nosso ponto de vista é o mais correto.

No século XX, com o desenvolvimento do estudo dos "povos primitivos atuais" na antropologia
cultural surge conceção de relativismo cultural, como uma abordagem descritiva das culturas
humanas, segundo a qual nenhuma cultura devia ser considerada "superior" ou melhor do que
outra. Cada uma devia ser entendida a partir das suas próprias regras e sistema de
significações.

Do relativismo cultural passou-se ao relativismo moral, segundo não existe um padrão


definitivo de bem ou mal, nem "valores universais". Neste sentido os julgamentos sobre o
certo e o errado são sempre produto de uma dada sociedade, podendo também afirmar-se
que a moralidade ou ética está sujeita à perspetiva cultural de cada pessoa. Todos os
julgamentos são aceitáveis, dado que não temos num critério para nos permita dizer que um é
melhor do que outro.

O "pluralismo", "tolerância" e o "respeito pelo Outro", baseados nesta conceção relativista,


assumiram uma importância crescente nas nossas sociedades levando a uma situação
insustentável: a impossibilidade de qualquer julgamento sobre as ações humanas já que todas
são aceitáveis.

Filosofia Política - resumo

O contratualismo explica a origem das regras morais e leis, quais são nossas obrigações e
direitos, e porque devemos agir moralmente através da ideia de um contrato social.

Poderíamos perguntar: e quais os termos desse contrato social? Que regras as pessoas
escolheriam se efetivamente fizessem um contrato? O que seria certo e o que seria errado?

Na filosofia contemporânea existem várias respostas diferentes para essa questão. Uma das
mais conhecidas foi apresentada por John Rawls. O filósofo afirma, por exemplo, que para esse
contrato social ser justo e as regras geradas nele serem aceitáveis para todos, as pessoas
deveriam se encontrar numa situação em que todas fossem iguais. Para que isso acontecesse,
imaginou elas discutindo sob um “véu de ignorância”. Rawls acredita que nessa condição todos
concordariam em aceitar uma série de regras, como a ideia de que todos devem ser livres para
expressar suas opiniões, ter direito à vida, à igualdade de oportunidades, entre outros direitos.

John Rawls pensa que muitas das diferenças na distribuição da riqueza acontecem por critérios
arbitrários, isto é, razões que as pessoas não dominam, como os seus talentos naturais ou
circunstância e contexto social. Se não somos responsáveis pelos talentos naturais, nem pelo
contexto em que nascemos, então justifica-se uma correção na justiça – Princípio da Diferença.

Rawls sugere que, para encontrar os princípios da justiça corretos, devemos fazer uma
experiência mental: Temos de imaginar uma situação em que os membros de uma sociedade
sejam levados a avaliar princípios da justiça sem se favorecerem indevidamente a si próprios
pelo facto de serem ricos, pobres, talentosos ou poderosos. Ou seja, temos de imaginar que os
membros de uma sociedade estão a avaliar princípios da justiça numa situação que garanta a
imparcialidade da sua avaliação. Rawls designa essa situação imaginária por posição original.

Aquilo que as caracteriza na posição original é o facto de estarem sob um véu de ignorância:
sofreram uma espécie de amnésia que as faz desconhecer quem são na sociedade e quais são
as suas peculiaridades individuais. Por isso, são forçadas a avaliar princípios da justiça com
imparcialidade. Como quem está na posição original não sabe, por exemplo, se é rico ou
talentoso, não vai escolher princípios da justiça que favoreçam indevidamente os ricos ou os
talentosos.

Os princípios da justiça corretos são aqueles que seriam escolhidos na posição original. Nessa
posição, os membros da sociedade, estando todos sob o mesmo véu de ignorância, ficam
numa situação equitativa — daí que Rawls nos esteja a propor uma teoria da justiça como
equidade.

Princípio da liberdade igual: O mais importante e que se sobrepõe aos outros dois, pois não há
diferença nem oportunidade justa se não houver primeiro liberdade.
• Princípio da oportunidade justa - Menos importante que o anterior, mas mais que o
seguinte.

• Princípio da diferença - Que vem em consequência dos dois anteriores

Se apenas houver liberdade, coloca-se em causa a justiça social (porque necessariamente uns
indivíduos possuirão sempre mais bens do que outros e os que possuem mais possuirão
sempre mais — a riqueza gera riqueza); se apenas houver justiça social, coloca-se em causa a
liberdade (porque limita-se a liberdade dos indivíduos para poderem possuir mais bens do que
o número de bens que possuem). Torna-se assim necessário a conjugação da liberdade e da
justiça social, para que uma sociedade possa ser justa.

Por que razão pensa Rawls que, na posição original, as partes escolheriam os princípios da
justiça por si indicados? Afinal, por que razão não escolheriam antes, por exemplo, um
princípio da justiça de carácter utilitarista? Se o fizessem, conceberiam uma sociedade justa
simplesmente como aquela em que há um maior total de bem-estar, sem que interesse o
modo como este se distribui pelas diversas pessoas.

Então qual a razão que afasta Rawls do utilitarismo? Para o utilitarismo se uma ação maximiza
a felicidade não importa se a felicidade é distribuída de modo igual ou desigual. Desníveis entre
ricos e pobres são justificados pelo utilitarismo (desde que seja satisfeita a felicidade da
maioria.

O utilitarismo vê a igualdade como um meio e não um fim em si mesmo. Para o utilitarista a


igualdade é um meio para satisfação da maioria das pessoas. Ora, Rawls entende que a
igualdade é um princípio inviolável. Para Rawls a igualdade é o ponto de partida e não de
chegada. É um princípio de toda a justiça e, por isso, inviolável. Mas o utilitarismo parece
aceitar violar a igualdade se em causa estiver o maior bem para um maior número de pessoas.

Princípio Maximin a estratégia para uma sociedade mais justa maximizar todas as
oportunidades e calcular o risco previsível para as diferentes opções. De acordo com este
princípio é sempre preferível escolher a opção mais segura que implica o menor risco para
todos.

AS DUAS OBJEÇÕES A RAWLS

•Objeção libertarista de Nozick ao Princípio a diferença

Nozick defende que essa interferência do estado é eticamente inaceitável. Respeitar a


liberdade dos indivíduos implica não violar os seus direitos de propriedade. Ora, para
concretizar o padrão de justiça do princípio da diferença, o estado tira a alguns indivíduos, sem
o seu consentimento, parte daquilo que possuem legitimamente, para beneficiar os mais
desfavorecidos. Segundo Nozick, isto viola os seus direitos de propriedade — e, portanto,
desrespeita a sua liberdade.
•Objeção comunitarista de Sandel à posição original e véu da ignorância

Para os comunitaristas o erro de Rawls está em considerar os indivíduos como sujeitos políticos
isolados. A ideia de justiça deve decorrer do bem comum, inserida na comunidade. Ora, se é a
comunidade que está em causa, então a metodologia de Rawls (posição original e véu da
ignorância) para encontrar os princípios da justiça não são adequados, dado que parte na
posição original dos interesses individuais e não dos interesses comunitários.

A crítica, porém, não vai no sentido de contestar os princípios propriamente ditos, mas no
modo como devemos chegar à definição desses mesmo princípios.

Como comunitarista que é, não concorda com a ideia liberal de que o bem comum resulte da
simples combinação das preferências individuais, como defendia Nozick. Pelo contrário, os
comunitaristas entendem o bem comum como aquilo que deve determinar e avaliar as
preferências individuais. Ou seja, o bem comum não é uma espécie de síntese resultante
daquilo que cada um considera o melhor, como defendem os libertaristas, mas a ideia geral
que deve inspirar o modo como cada um gere a sua vida. O mesmo é dizer que só a
comunidade permite encontrar, em conjunto, o modo de vida que define uma vida boa, que é
afinal o bem comum. Como acontece, por exemplo, nas famílias: não escolhemos a nossa
família, mas é esta que molda muitas vezes as nossas opções, preferências, fidelidades... Até
aqui, nada que Ralws não aceitasse. Em relação ao modo como deverão as comunidades
definir a ideia de bem comum, já o mesmo não podemos dizer. É aí, exatamente, que as
divergências entre os autores se estabelecem, como veremos de seguida.

Ainda que a noção de família não seja universal - há diferentes tipos de família -, é à família que
vamos buscar os princípios orientadores das nossas vidas. O mesmo se passa com os mais
diversos grupos que frequentamos ao longo da vida - grupo de amigos, de trabalho... -. Mesmo
que tenhamos um espírito crítico e às vezes não concordemos com as regras impostas pelo
grupo, é por referência a essas regras que vivemos e não o contrário. Ou seja, a ideia de bem,
logo de justiça, deriva sempre das comunidades concretas em que vivemos. Pelo que a
definição dos princípios de uma sociedade justa nunca deveriam resultar de um exercício
abstrato, hipotético e desenraizado, como a "posição original" e o "véu da ignorância"
propostos por Rawls. Segundo Sandel, a razão é simples: não basta que as nossas escolhas
sejam imparciais, como propõe Rawls, para que sejam boas. Avaliar uma escolha como boa ou
como má será sempre uma questão moral, isto é, de acordo ou em desacordo com a ideia de
bem reconhecida por todos os elementos de uma mesma comunidade. O que não acontece na
situação hipotética de Rawls, uma vez que coloca as pessoas numa situação de ignorância
anterior a qualquer moral, como seres racionais convidados a ter apenas em conta os seus
interesses individuais.

Ainda que Sandel tenha uma certa razão, uma vez que um acordo justo dificilmente poderá
resultar de um exercício exclusivamente racional e hipotético - um acordo é justo porque é
bom e não apenas porque as pessoas concordam -, ficam algumas questões por resolver.
Ficamos sem saber, de facto, como é que a ideia de bem comum poderá inspirar de modo
universal e chegar a todos de igual maneira. Quem é que define, desde logo, o que é
moralmente correto de modo a constituir uma sociedade justa? A tradição?

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