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Para a Autora, os requisitos que uma teoria da justiça deve preencher incluem
chamar à cena a razão para que desempenhe o seu papel no diagnóstico acerca da justiça
e da injustiça.
Ao longo dos anos, os autores que, em diferentes partes do mundo, foram
escrevendo sobre a justiça têm tentado providenciar a base intelectual que permita
passar de um sentido geral de injustiça para um seu diagnóstico particular e raciocinado,
e, a partir daí, para a análise dos meios para se fazer progredir a justiça.
As tradições da argumentação acerca da justiça e da injustiça têm uma longa e
espantosa história em todo o mundo, e dela podemos retirar sugestões iluminantes sobre
as razões da justiça.
Em relação ao tema da justiça social, este tem sido discutido ao longo dos
tempos.
Esta matéria recebeu um impulso particularmente forte durante o período do
Iluminismo europeu, com o encorajamento que provinha de um clima político de
mudança e com a transformação econômica e social que então ocorria na Europa e na
América.
Quanto aos filósofos que discorrem a temática, nota-se para a corrente liderada
por Thomas Hobbes no século XVII, e seguida de maneiras diferentes por pensadores
tão notáveis como o era Jean-Jacques Rousseau, que se concentrava na identificação das
combinações ou arranjos institucionais que mostrassem ser justos para uma sociedade.
Assim, aponta-se que para esta perspectiva, há uma concentração naquilo que pode
caracterizar a justiça perfeita, mais do que em comparações relativas entre justiça e
injustiça.
Assim, ela tenta apenas identificar as características sociais que, em termos de
justiça, não são passíveis de ser transcendidas. O seu foco de atenção não consiste em
comparar sociedades que existam na realidade, que sempre poderão ficar aquém dos
ideais da perfeição.
A sua investigação aponta para a identificação da natureza do que é “o justo”,
ao invés de tentar encontrar critérios para uma alternativa que fosse “menos injusta” do
que outra.
Para a autora, ao tentar encontrar a perfeição, o institucionalismo
transcendental aposta, a título primário, em tentar que as instituições sejam as certas,
não se ocupando diretamente das sociedades efetivas que, em última análise, possam
acabar por emergir.
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Por vezes, refletir detidamente sobre qual seria o passo inteligente a dar poderá
ajudar no agir melhor em relação aos outros. Tal qual pode ser o caso em muitas
circunstâncias foi mostrado muito claramente pela moderna teoria dos jogos.
Entre as razões prudenciais que levam ao bom comportamento poderá, com
certeza, contar-se o ganho que para si próprio se retirará de tal comportamento.
Poderá gerar-se um grande ganho para todos os membros de um grupo, quando
se opta por seguir as regras daquele bom comportamento que poderá trazer ajuda para
todos. Nem seria especialmente inteligente que um grupo de pessoas agisse de uma
maneira que causasse a ruína de todas elas.
É certo que aquilo que se devem uns aos outros é um importante tema para
uma reflexão inteligente, já que a tal reflexão pode levar para além da prossecução de
uma visão do interesse própria demasiado estreita, e até pode acabar por descobrir que
esses objetivos, que tão bem ponderamos exigem que atravesse por completo as
estreitas fronteiras da busca exclusiva do interesse individual.
Pode ainda haver casos em que tem razões para refrear a exclusiva prossecução
dos nossos objetivos (sejam eles ou não, em si mesmos, exclusivamente votados à busca
do próprio interesse), para poder seguir regras de comportamento decente que permitam
contemporaneamente a prossecução de objetivos (ligados ou não ao interesse próprio)
por parte de outras pessoas que compartilham o mundo.
É difícil fazer generalizações acerca de qualquer avassalador predomínio da
razão no pensamento prevalente do período dito do Iluminismo.
De fato, também já se aventou que a excessiva confiança na razão, que a
tradição iluminista ajudou a instilar no pensamento moderno, influiu na propensão para
cometer atrocidades que vimos acontecer no mundo saído do Iluminismo.
Para a autora, havia uma razão quando se salienta que a razão é indispensável.
Até mesmo a importância das emoções é passível de ser apreciada no âmbito
da operação da razão.
O lugar significativo que as emoções ocupam nas nossas deliberações pode ser
explicado por meio das várias razões que fazem levá-las a sério.
Se o homem é movido por uma emoção particularmente forte, tem-se toda a
razão em perguntar que conclusão pode tirar daí.
A razão e emoção desempenham papéis complementares na reflexão humana.
Observar que os juízos éticos requerem sempre o uso da razão.
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Porém, questiona-se porque é que o homem tem que aceitar que a razão deve
ser a última instância a funcionar como árbitro das convicções éticas? Haverá algum
especial papel que o uso da razão deva desempenhar e que deva ser visto como crucial
para os juízos éticos, como se fora a chave de volta dos mesmos? Pois que a simples
existência de um fundamento dado pela argumentação, em si mesma, não arde ser
necessariamente uma qualidade atributiva de valor, tem então de nos perguntar o
seguinte: porque será tão crítico que exista um fundamento argumentado? O escrutínio
racional é capaz de fornecer qualquer espécie de garantia quanto à possibilidade de
alcançar a verdade?
Nota-se que tal tese seria difícil de manter, não só porque a natureza da
verdade em matéria de convicções morais e políticas é um objeto cheio de dificuldades,
mas, sobretudo porque, em ética como em qualquer outra disciplina, no fim mesmo as
mais rigorosas investigações podem falhar.
Pode acontecer às vezes que um procedimento mais dúbio, acidentalmente,
acabe por produzir uma resposta mais acertada do que uma argumentação extremamente
rigorosa.
Em epistemologia, isto é até bem óbvio: muito embora um procedimento
científico tenha uma maior probabilidade de sucesso, quando comparado com
procedimentos alternativos, pode sempre acontecer que um procedimento aloucado
venha fornecer a resposta certa para um caso particular.
Uma pessoa que depõe a sua confiança num relógio parado para saber as horas,
terá sempre a hora certa duas vezes ao dia, e se desse o caso de querer saber as horas
num desses momentos, este seu relógio, conquanto imobilizado, bem poderia levar a
melhor sobre todos os relógios mobilizados a que pudesse deitar a mão.
Importante mencionar que faz sentido pensar que existe um argumento
semelhante quando toca a escolher o melhor de entre os procedimentos de
argumentação, conquanto continue a não haver garantia de que ele venha a estar
invariavelmente certo, como não haverá garantias de que ele venha a estar mais certo do
que outro que seja menos argumentativo.
A defesa do recurso a um escrutínio argumentado assenta não numa noção de
que dispor de um meio à prova de fogo que nos permita obter conclusões absolutamente
certas, mas na possibilidade de se ser tão objetivo quanto se possa razoavelmente ser.
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