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Ficha 1

Lê o texto e responde aos itens.

A primeira sensação é de desconforto, a água está fria. Abro os olhos, mas tudo à
minha volta se apresenta turvo. Sinto-me afundar naquela água. Engulo um pouco dela e
não lhe reconheço o sabor. Aquela água é fria, turva, funda e sabe a estranho. Então,
esbracejo, esbracejo muito, mas os meus gestos não me sustentam à tona. Olho em todas
5 as direções, à procura de uma mão amiga, de algo a que possa agarrar-me, só que tudo é
igualmente difuso, imperscrutável. Estas linhas poderiam dizer respeito àquela infância
distante em que me vi numa piscina enorme, escura e a feder a cloro, para aprender a
nadar, mas referem--se ao tempo presente e procuram refletir o que primeiro senti ao ler
um romance.
1 Apesar de se afastar do hiper-realismo do romance histórico, As Doenças do Brasil, a
0 mais recente obra de Valter Hugo Mãe, possui uma dimensão histórica clara e conduz o
leitor a uma reflexão em torno do colonialismo. Executa-o, todavia, através da
poderosa ferramenta que é a imaginação, e que este autor muito preza, usando o trabalho
de linguagem enquanto meio, na medida em que reconfigura a sintaxe e o léxico, como
amiúde faz a poesia. E o golpe de asa, a esse nível, deu-se quando Valter Hugo Mãe
1 optou por colocar essa sua característica autoral, uma exuberante naturalidade do dizer
5 poético, no expressar de índios, que em tantas narrativas, históricas ou ficcionais, nos
habituámos a ver exprimirem-se de modo simultaneamente desconforme e sapiente. […]
O que rapidamente se percebe é que as doenças do Brasil, expressão de forma muito
apropriada pedida de empréstimo ao padre António Vieira, são as doenças brancas, isto é,
os males que os colonizadores europeus impuseram na vida dos povos vermelhos e
2 negros. […]
0 Apesar de conhecer bem o escritor e a pessoa, o que me espanta em Valter Hugo
Mãe – quase tanto como a evidente capacidade de se relacionar com a língua portuguesa
como pouquíssimos conseguiram – é a coragem que evidencia. […] Um escritor que se
põe à prova a cada livro, fazendo de forma diversa do que sempre fizera, que explora as
possibilidades da literatura, criando livros diferentes de todos os que já se escreveram, e
2 que desafia os leitores, propondo-lhes novas sensações, só pode merecer a minha
5 admiração. […]
[…] Sucede que não duvido de que, hoje como ontem, a intrepidez do artista passa
justamente por não perder a liberdade criativa e é essa que tem regido o percurso de
Valter Hugo Mãe, um autor que, com As Doenças do Brasil, me demonstrou que, mesmo
para quem como eu até pratica natação, nunca é tarde para reaprender a nadar.
3 Rui Couceiro, in Visão, n.º 1502, 16 a 22 de janeiro de 2021 (texto com supressões, consultado a 20/12/2021)
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1. No contexto em que ocorre, “dela” (linha 2) retoma “água” (linha 1) por


(A) catáfora.
(B) anáfora.
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(C) substituição por hiperonímia.


(D) substituição por holonímia.

2. A oração “Apesar de conhecer bem o escritor e a pessoa” (linha 21) é


(A) subordinada substantiva completiva.
(B) subordinada substantiva relativa.
(C) subordinada adverbial consecutiva.
(D) subordinada adverbial concessiva.

3. Entre os pares de vocábulos “doenças” (linha 19) e “males” (linha 19), bem como “escritor” (linha 23) e
“autor” (linha 30), verificam-se os processos de coesão lexical de
(A) reiteração e substituição por sinonímia, respetivamente.
(B) substituição por sinonímia e reiteração, respetivamente.
(C) substituição por sinonímia, nos dois casos.
(D) reiteração, nos dois casos.

4. A oração “que é a imaginação” (linha 12) é


(A) subordinada adjetiva relativa restritiva, com função de modificador do nome restritivo.
(B) subordinada adjetiva relativa explicativa, com função de modificador do nome apositivo.
(C) subordinada substantiva completiva, com função de complemento oblíquo.
(D) subordinada substantiva relativa, com função de complemento do nome.

5. No contexto em que ocorre, a palavra destacada em “Executa-o, todavia, através da poderosa


ferramenta que é a imaginação” (linhas 11 e 12) contribui para a coesão
(A) temporal.
(B) frásica.
(C) interfrásica.
(D) referencial.

6. Em “um autor que, com As Doenças do Brasil, me demonstrou que, mesmo para quem como eu até
pratica natação, nunca é tarde para reaprender a nadar.” (linhas 30 e 31), as palavras sublinhadas são
(A) um pronome e uma conjunção, respetivamente.
(B) uma conjunção e um pronome, respetivamente.
(C) conjunções, em ambos os casos.
(D) pronomes, em ambos os casos.

7. Identifica as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões:


a) “que” (linha 20);
b) “com a língua portuguesa” (linha 22).
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8. Indica o antecedente de “os”, presente na linha 25.


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1. (B);

2. (D);

3. (C);

4. (A);

5. (C);

6. (A);

7. a) Complemento direto; b) Complemento oblíquo.

8. “livros” (linha 25).

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