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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS

LABORATÓRIO DE SOCIOLOGIA
Autora: Prof. Dra. Nelissa Peralta Bezerra

ORIENTAÇÕES PARA ELABORAÇÃO DO PROJETO DE


EXTENSÃO

BELÉM
2023

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ORIENTAÇÕES PARA ELABORAÇÃO DO PROJETO DE EXTENSÃO

INTRODUÇÃO
Um princípio constitucional que rege a Educação Superior é a “indissociabilidade
entre ensino, pesquisa e extensão” (BRASIL, art. 207) – o que chamamos de tripé
acadêmico. Para diversificar a experiência da formação acadêmica, as atividades de
ensino e aprendizagem não devem se limitar à sala de aula. Por isso as atividades de
extensão estão integradas ao currículo das graduações. O Ministério da Educação define
extensão como:
atividade que se integra à matriz curricular e à organização da
pesquisa, constituindo-se em processo interdisciplinar, político,
educacional, cultural, científico, tecnológico, que promove a interação
transformadora entre as instituições de ensino superior e os outros
setores da sociedade, por meio da produção e da aplicação do
conhecimento, em articulação permanente com o ensino e a pesquisa
(Res. No. 7, dezembro de 2018, art. 3º).

A disciplina de Tópicos Temáticos em Sociologia (2022.4) tem por objetivo


promover a interação dos cientistas sociais em formação com setores da sociedade, por
meio de práticas e ferramentas de diálogo próprias da profissão.
Por meio de uma técnica de Grupo Focal, as turmas desenvolveram seus
próprios conceitos e entendimentos comuns sobre a prática de extensão, conforme
abaixo:

"Extensão é uma prática de interação e diálogo para o desenvolvimento de


habilidades, construção de conhecimentos e atendimento de demandas para mudanças
sociais". (Turma Ciências Sociais, 2019, matutino).
"Extensão é um processo de trocas, produções e aplicações dos conhecimentos para
soluções de problemas nas comunidades". (Turma 2019 licenciatura Ciências Sociais,
noturno).
“Extensão é um conjunto de práticas que, por meio de pesquisas, vivências e diálogos
com grupos sociais e comunidades, produz conhecimento a fim de transformar a
realidade” Turma 2020/21 de bacharelado em Ciências Sociais, noturno).
Partindo dessas premissas, a prática de extensão pressupõe quatro passos
principais:
1 – A identificação e diagnóstico do problema
2 – A elaboração de proposta de intervenção
3 – A intervenção para mudança social
4 – A avaliação de resultados
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1. Diagnóstico social para identificação do problema

O Diagnóstico Rápido Participativo tem como objetivo fazer uma investigação


exploratória sobre a realidade social da comunidade ou da organização alvo da
intervenção.
O DRP é uma família de métodos dirigidos a permitir que a
população local compartilhe, aumente e analise seus
conhecimentos sobre a realidade, com o objetivo de planejar
ações e atuar nesta realidade (CHAMBERS,1994).
Primeiro deve-se montar uma equipe e elaborar um roteiro do diagnóstico pensando nas
ferramentas a serem utilizadas. As equipes devem ser formadas por mediador(a),
relator(a), observador(a).

A EQUIPE

O Mediador ou mediadora tem a função-chave da técnica, pois é responsável pelo


início, pela motivação, pelo desenvolvimento e pela conclusão dos debates, sendo a
única pessoa da equipe que neles pode intervir e que pode interagir com os
participantes. A qualidade dos dados está relacionada ao seu desempenho: no
favorecimento da integração dos participantes; na garantia de oportunidades
equânimes a todos; no controle do tempo; no incentivo aos debates; na valorização da
diversidade de opiniões; no respeito à forma de falar dos participantes; na abstinência
de posturas influenciadoras e formadoras de opinião.
O observador ou observadora é o braço direito do mediador e deve avaliar o
processo de condução do Grupo Focal: se cada participante está à vontade diante dos
profissionais; se há integração entre os participantes; se eles compreenderam
corretamente o intuito da pesquisa; quais discursos dominaram o debate.
O relator ou relatora deve registrar as discussões, os temas principais, as principais
polêmicas e divergências. Se possível deve-se gravar a discussão e transcrevê-la, caso
contrário a relatoria deve registrar tudo que for possível in loco.

O diagnóstico pode ser feito de forma coletiva ou a partir do diálogo com as famílias
separadamente.
Como ferramentas de diálogo coletivo, podemos usar: a árvore de problemas, o grupo
focal, a matriz comparativa, a travessia, o mapeamento participativo. Veja no link
abaixo a descrição destas ferramentas.
https://www1.icmbio.gov.br/educacaoambiental/images/stories/biblioteca/gestao_partici
pativa/Ferramentas_de_Di%C3%A1logo.pdf
Os debates são estimulados por meio da produção de um artefato – um mapa,
diagrama, matriz, etc. O mais importante, entretanto, é o processo de discussão, onde as
pessoas envolvidas refletem sobre os temas, trocam informações e entram em diálogo

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umas com as outras. Esse processo de diálogo deve ser cuidadosamente registrado, pois
é a fonte principal das informações que vão compor o diagnóstico.
A entrevista aberta ou semiestruturada pode ser usada com informantes-chave,
lideranças comunitárias e famílias. A entrevista é uma técnica de pesquisa social que, a
partir da interação entre duas pessoas, procura produzir informações sobre determinados
tópicos de investigação. As entrevistas permitem apreender as motivações que orientam
e conferem significado aos comportamentos das pessoas (individual ou coletivamente).
Na entrevista o que importa é a visão do entrevistado. Portanto, a interferência do
entrevistador deve ser a mínima possível. Este deve manter postura de ouvinte; deve
tentar não interromper a fala do entrevistado
1.1 Análise das informações
A sistematização das informações deve ser feita reunindo relatórios, diagramas,
fotografias, transcrições de entrevistas. A análise de dados deve ser por temas e além da
identificação dos problemas, os analistas devem buscar compreender suas causas,
efeitos e as alternativas viáveis para a resolução a partir da integração dos participantes
com a equipe mediadora do processo. O ideal é que ao menos uma parte dos
participantes esteja presente e tome parte no processo de análise dos dados.
O Diagnóstico deve responder minimamente as seguintes perguntas:
Quem são os integrantes do grupo social que é o público-alvo da ação? (homens,
mulheres, crianças, agricultores)
Qual o contexto socioambiental, econômico ou cultural local? Como esse contexto
afeta a comunidade?
Quais atividades o grupo realiza?
Quais os principais problemas enfrentados pelo grupo? Quais são suas causas e
seus efeitos?
Como o grupo se articula com demais instituições? Que organizações são
importantes para interação com o grupo?
Quais as principais ações que podem ser desenvolvidas pelo grupo para
transformar a situação atual?
A partir da sistematização das informações do diagnóstico, deve-se iniciar um diálogo
para a construção de uma proposta de atuação ou projeto de intervenção.

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2. Elaboração de proposta de intervenção

A proposta de intervenção pode seguir diferentes modelos dependendo do tema da


proposta e/ou do edital a que esta responde. A seguir temos dois modelos de projeto de
intervenção. O modelo do Quadro 1 tem os seguintes elementos: Título, resumo,
apresentação, contextualização, público-alvo, justificativa, objetivos geral e específicos,
atividades, metodologia, riscos ou pressupostos, monitoramento e avaliação de
indicadores, parceiros, cronograma e orçamento. O modelo seguinte tem algumas
poucas alterações. Qualquer um destes modelos pode ser usada na elaboração do seu
projeto de intervenção.

Quadro 1: MODELO 1 - Elementos de uma proposta de intervenção. Fonte: Silva et al.


2014.

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MODELO 2 PROJETO DE INTERVENÇÃO
TÌTULO
Deve ser simples e atrativo. Deve ser elaborado ao final do projeto.
RESUMO EXECUTIVO
Síntese dos objetivos e da metodologia do projeto, bem como dos principais resultados
esperados.
INTRODUÇÃO
Apresentar o tema principal a que se refere o projeto, conceitos principais, políticas e
direitos previstos na legislação referentes ao tema objeto da intervenção.
CONTEXTUALIZAÇÃO

Aqui apresenta-se o retrato da realidade. Devemos identificar, apresentar e


contextualizar o problema, as causas do problema e os efeitos do problema (incluir
dados secundários; relatos; referências). Neste item deve-se apresentar os principais
resultados do diagnóstico rápido participativo. Podem ser citados estudos anteriores
sobre a região, dados do IBGE, como IDH, rendimento per capita, etc. Finalize a
contextualização apresentando uma justificativa para realização do projeto
OBJETIVO GERAL
O que se pretende atingir com o projeto? Como o projeto vai contribuir para a mudança
social?
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
O que o projeto pretende alcançar e como deve contribuir para o alcance do objetivo
geral.
Os objetivos específicos devem ser produzidos a partir das causas do problema
identificadas no diagnóstico, conforme o exemplo abaixo:

Figura 1: Elaboração de objetivos específicos a partir das causas. Fonte: Silva et al,
2014.
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METODOLOGIA

A metodologia é o coração da proposta de intervenção. Aqui vamos identificar,


descrever e quantificar o público-alvo, ou seja, quem serão os beneficiários do projeto
(local de atuação; incluindo fotos, mapas e dados qualitativos e quantitativos do perfil
dos beneficiários).
Devem-se elencar todas as atividades necessárias para realização de cada objetivo
específico do projeto. A metodologia descreve COMO serão realizadas cada atividade
prevista no projeto de forma detalhada. Exemplo, se está previsto um curso de
capacitação deve-se detalhar como será feita a mobilização dos participantes, o espaço
onde será realizado, os facilitadores do curso, etc. Aqui deve-se detalhar também o
papel das instituições parceiras.
Para obter resultados esperados existem fatores que estão fora do nosso controle. São as
condições necessárias para o sucesso do projeto. Essas condições são chamadas de
pressupostos. Precisamos entender essas condições para levarmos adiante o projeto.

Na metodologia devemos também incluir os indicadores de êxito dos objetivos e das


atividades. Os indicadores são medidas quantitativas que servem para mostrar se as
atividades estão sendo executadas (indicadores operacionais ou indicadores de
processo) e se os resultados estão sendo alcançados (indicadores de impacto).

Os indicadores devem incluir qualidade, quantidade e tempo.

10 oficinas de teatro do oprimido para jovens do bairro do Guamá


até dezembro de 2022.

Quantidade Qualidade Tempo

40 cartilhas sobre direitos humanos distribuídas para jovens do bairro do Guamá


até outubro de 2022.

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CRONOGRAMA
No cronograma apresentam-se as atividades previstas e o mês ou semana de realização
da atividade.

ORÇAMENTO
O orçamento deve ser detalhado por atividade e depois consolidado em uma só planilha,
conforme linha de custo ou de acordo com as orientações do edital.
É importante incluir no orçamento qual será a contrapartida da organização executora
do projeto e quais recursos estão sendo buscados. O oferecimento de contrapartida é um
sinal que a organização confia no processo e na equipe do projeto.
Tabela 1: Planilha de Custos.

Fonte: Proex, UFPA.


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MATRIZ LÓGICA
A matriz lógica ou marco lógico é a representação gráfica de uma síntese geral do
projeto contendo informações relevantes de forma clara e prática, incluindo atividades,
indicadores, pressupostos, meios de verificação e responsáveis pela atividade.
A matriz lógica estabelece relações de causa e efeito entre atividades, objetivos
específicos ou intermediários e objetivo geral do projeto no sentido VERTICAL.
No sentido HORIZONTAL estabelece relações entre atividades, indicadores, meios de
verificação e responsáveis pela atividade.

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OBJETIVOS ATIVIDADES Indicadores Meios de Pressupostos Responsáveis
verificação
Objetivo específico 1 Aumentar em 50% a oferta Relatórios Todos
Aumentar a oferta e de vagas para práticas do estágios
melhorar a qualidade do estágio.
estágio da licenciatura
Atividade 1: criar um banco de dados com 40 formulários respondidos Banco de Respostas dos Fulano.
estágios já realizados a partir de formulários com as seguintes variáveis: dados com alunos
google. nome e endereço da escola, respostas
nome do professor, data do
estágio, turno doa oferta,
avaliação, etc.

Atividade 2: Mapear e visitar as escolas que 15 escolas identificadas e Relatórios Disponibilidad Beltrano e Ciclano.
já receberam estagiários da FACS no turno visitadas com das visitas e dos gestores
da noite. estabelecimento de proposta e/ou
de acordo para oferta de professores
estágio. para a visita.
Objetivo específico 2 Comunicação entre escolas e Relatórios e Todos
Aperfeiçoar a comunicação FACs reestabelecida estágios
entre os discentes, as realizados
escolas e a FACS.

Atividade 3: promover um acordo entre a Acordo estabelecido entre as Acordo e ata Disponibilidad Beltrano
SEDUC e a FACS para acolhimento de instituições. da reunião e da FACS e Gestão da FACS
estagiários nas escolas identificadas. da SEDUC.

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Atividade 4: estabelecer um canal de Grupo de whatsapp e planilha Relatórios Disponibilidad Fulano
comunicação direto entre FACS e escolas do google e dos gestores
para registro e divulgação de vagas de das escolas e
estágio professores

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A EXECUÇÃO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO

O momento-chave do projeto é o momento de atuar, quando se executa e se desenvolve


o planejamento. A atuação deve seguir os planos e acordos pré-estabelecidos e as
atividades planejadas. Entretanto, durante a execução do projeto, descobrem-se
situações imprevistas e se aprende. Com base na experiência real, modifica-se o
planejamento, introduzindo as modificações necessárias.
Ao desenvolver e ao terminar o projeto, é preciso revisar o caminho percorrido e avaliar
criticamente os resultados. Essa reflexão crítica conduz à avaliação do projeto,
apontando as ações corretivas necessárias e a formulação de novos projetos.

3. AVALIAÇÃO DO PROJETO

A avaliação deve ser contínua durante o desenvolvimento do projeto para investigar se


as atividades estão sendo realizadas conforme planejado e se modificações são
necessárias. Esse tipo de avaliação utiliza-se dos indicadores de processo ou indicadores
operacionais.
Entretanto, após a finalização do projeto uma avaliação geral deve ser feita para
entender se os objetivos foram alcançados. Os indicadores usados aqui são
principalmente os indicadores de impacto e resultados.

REFERÊNCIAS

Corrêa, Edison José. Planejamento e elaboração de projetos para grupos comunitários.


Belo Horizonte: NESCON – Núcleo de Educação em Saúde Coletiva, 2009.

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