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ISSN: 1984-3097
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24/05/2014
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Na obra aqui resenhada, o autor, já em seu início, tenta aclarar a Antropologia como ciência. Para
tanto, estabelece uma diferenciação entre ciências naturais (ou da natureza) e ciências sociais (ou
humanas).
Destaca que as ciências naturais consagram estudos de fatos simples, com causas de fácil
identificação e que poderão facilmente ser isoladas, e partindo de observações, a teoria que dela
se origina poderá ser testada várias vezes por diferentes observadores, em locais diversos, o que
lhe inflige um caráter objetivo.
Não obstante esta facilidade observativa e de manipulação dos fenômenos das ciências naturais, a aplicabilidade de
suas teorias é carregada de dificuldades, pois “na maioria dos casos, o cientista natural resolve um problema
simplesmente para criar tecnologias indesejáveis e, a longo prazo, mortíferas e daninhas ao próprio ser humano” (p. 20).
Em contrapartida, Damatta nos mostra que as ciências humanas trabalham com fenômenos mais
complexos, com causa e determinação complicadas. Quase sempre é improvável ser criada uma
teoria que se digne a ser a única causa de determinado fenômeno, bem como, inexiste a
possibilidade de compartilhamento deste fenômeno em locais distintos com o mesmo resultado,
pois eles não podem ser produzidos da mesma forma que ocorreram.
Com efeito, estes eventos que não poderão mais ser reproduzidos com as mesmas características
e intensidade de outrora, ou seja, que já ocorreram, mas, que não estão mais ocorrendo, passam
então a ser objeto de estudo das ciências humanas. Eles não gerarão fontes tecnológicas ou
ideológicas passíveis de mudanças drásticas na população em curta escala como os fazem os
fenômenos advindos das ciências naturais, pelo contrário, suas reconstruções são incompletas e
dependentes de documentos, de observações, e mais ainda, serão dependentes do ponto de vista
subjetivo e da bagagem de quem os observará (experiências de vida, educação, preconceitos,
interesses).
Assim, os resultados das ciências ditas humanas não possuem a mesma dimensão das
produzidas pelos fenômenos das ciências naturais. A imediatividade reacional da população ao
confrontar com as inovações tecnológicas (aquisição de um computador) se contrapõe a lentidão
pelo aceite de novos valores simbólicos ou políticos (inserção de ideologias anti-homofóbicas).
O Arqueólogo estuda esses resíduos deixados por uma sociedade, depois que
seus membros pereceram. E sua tarefa é a de reconstruir o sistema agora que ele
somente existe por meio de algumas de suas cristalizações. (DAMATTA, 2000, p. 29).
Por derradeiro, temos a Antropologia Cultural. Também denominada Antropologia Social, esta
facção antropológica acastela a idéia de que cultura e sociedade que foram ao longo do tempo
formadas por um determinado povo não se deram somente através de superação dos obstáculos
naturais, mas ocorreram principalmente pela capacidade do homem de refletir sobre os
acontecimentos e sobre o ambiente em que vive. Damatta relata e subdivide esta esfera da
Antropologia em dois grupos: Instrumental (onde as respostas dadas pelos indivíduos são diretas,
sem reflexão aprofundada sobre suas ações) e Cultural/Social, onde, não obstante haver a
interação homem/ambiente, este reflete sobre seus atos, não os fazendo apenas pelo impulso
momentâneo.
Dando seqüência, o autor nos traz três planos de Consciência Antropológica. No primeiro, o da
consciência física, constitutivo da Antropologia Biológica, aborda e estuda as mudanças calhadas
no corpo humano e suas conseqüentes evoluções. O estudo é feito por comparação com demais
espécies e contempla uma época longínqua (milhões de anos), onde as transformações eram
realizadas lentamente. A segunda consciência é a arqueológica, e já pertence a uma escala
temporal mais próxima da atualidade, pois trata-se de milhares de anos, onde os acontecimentos
já possuem uma importância mais estabelecida, permitindo a diferenciação de civilizações, de
suas produções e mesmo de regimes políticos já formalizados por algumas delas, embora ainda
apresentem uma evolução relativamente lenta de seus costumes.
Continuando, Damatta passa a mostrar como existe quase que uma necessidade de correntes
Antropológicas em colocarem o Biológico em contraposição ao social. Explica que o senso-
comum vê o homem como saindo da natureza e depois voltando-se contra ela. Numera uma
cadeia de acontecimentos, que ainda na atualidade, é defendida com vigor por cientistas sociais,
contemplando: 1 – a natureza é hostil e ameaçadora, reinando absoluta, possuindo em seu interior
animais monstruosos e fenômenos perigosos como vulcões e vendavais; 2 – aqui aparece o
homem (ser único e universal), está nu e é frágil, porém, tem inteligência superior; 3 – Sua
inteligência é estimulada pela hostilidade do mundo, e vai aprendendo pela experiência (o fogo
pela fagulha das lavas vulcânicas, as armas pelo ódio dos animais); 4 – percebendo a dimensão
da natureza e sua fragilidade, resolve o homem agrupar-se, formando a sociedade; 5 – já em
sociedade, carrega impulsos anti-sociais e individualistas de outrora, inventa as instituições como
o direito, a família, o trabalho. (2000, p. 41/42). O autor chama esta forma classificativa de teatro
da origem do homem, apresentando ao leitor os vários enganos desta enumeração. Diz que o
homem é uma invenção social, e quando se fala em homem, deve-se falar em sociedades e
culturas. Acrescenta que não se referindo á sociedade e cultura, oculta-se as diferenças ali
existentes, e não explicando as diferenças, o homem torna-se um ser que apenas reage ao mundo
á sua volta, deixando de contemplar e pensar. Ainda, Damatta contempla que ao se fazer esta
classificação da origem humana na forma de uma evolução cultural e social, acaba por reduzir-se
as diferenças sociais e respostas culturais, sem o devido pensar voltado para a diversidade
humana.
Agora, dando continuidade ás suas explanações, Damatta diferencia o social do cultural. Como
são temas que se complementam, para um melhor entendimento, o usa o exemplo das formigas
para explicar o contexto:
Esta diferenciação era necessária, pois em seqüência, o autor trataria do tema do racismo, e para
tanto, o conceito de sociedade e cultura deveria estar fluindo na cabeça do leitor.
Damatta, entre outras observações, vai traçando o ambiente que originaria o que ele denominou
de racismo à brasileira, e para tanto, faz explanações sobre o modo de vida da sociedade
hierarquizada portuguesa no quinhentismo, e de como aquela sociedade se acoplou ao modo de
vida dos nativos brasileiros. Ensina que nos Estados Unidos não existem mistificações, “ou você é
índio ou negro ou não é” (2000, p. 63). Relata o autor que “o marco histórico das doutrinas raciais
brasileiras é o período que antecede a proclamação da República e a Abolição da Escravatura” (p.
68), e que a real intenção da elite quando libertou os escravos seria “manter o status quo,
libertando os escravos juridicamente, mas deixando-o sem condições de libertar-se social e
cientificamente” (p. 69), e o fez através do mito das três raças (branco, amarelo, negro), pois este
mito “une a sociedade num plano biológico e natural, domínio unitário, prolongado nos ritos de
umbanda, na cordialidade, no carnaval, na comida, na beleza da mulher, na música ...(...) (2000, p.
70).
Damatta coloca como diferença crucial entre o racismo Brasileiro e o Norte Americano o fato de
que na América o mestiço era visto como peça indesejável, considerado como inferior ao inferior.
Enxergava-se alguns pontos positivos nas demais cores e raças, mas não se aceitava de forma
alguma a mistura entre elas, pois “o mal não está nas diferenças entre as raças, diz o racismo
arianista, mas nas suas relações” (2000, p. 77). Nos Estados Unidos, após a libertação dos
escravos, a massa de negros livres tornou-se um grande problema, pois estes negros doravante
competirão com os pobres, principalmente sulistas, para sobreviverem na sociedade pós
sesseção. Desta feita, o caminho americano para convivência entre as raças em um país que
pregava a igualdade foi a segregação. Lá todos tinham direitos iguais, porém, negros e índios eram
socialmente separados dos brancos, enquanto no Brasil, embora a raça branca permanecesse
como superior, todos se contatavam. Enquanto lá a diferença de sangue estigmatizava negros e
índios, aqui se aturava e de certo modo, se nivelava o negro com posses quase ao patamar do
branco, porém, a posição de superioridade política e social dos brancos sempre foram protegidas
pela engrenagem do sistema, pois:
E assim, é o caminhar, que como o próprio autor dissertou, cria-se uma cortina de fumaça, em uma
sociedade fundada na hipocrisia, onde até os diferentes acabam por se contaminar com o
preconceito, e muitos deles o aceitam e vivem o dia a dia em cima de uma ideologia das
diferenças, pois desta ideologia, alguns deles e em algumas oportunidades, acabam tirando
alguma vantagem, seja social ou política da própria ideologia combatida.
__________________________________________
DAMATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução à antropologia social. 6. ed. Rio de Janeiro:
Rocco, 2000.
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