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24/05/2014

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Resenha do livro 'Relativizando: uma introdução


a Antropologia' de Roberto DaMatta
Roberto Damatta graduou-se e fez Licenciatura em História pela Universidade Federal Fluminense
(1959 e 1962). Especializou-se em Antropologia Social do Museu Nacional (1960); Mestrado (M.A)
e Doutorado (Ph.D) em, respectivamente, 1969 e 1971 pelo Peabody Museum da Universidade de
Harvard. Foi Chefe do Departamento de Antropologia do Museu Nacional e Coordenador do seu
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (de 1972 a 1976). É Professor Emérito da
Universidade de Notre Dame (USA), onde ocupou a Cátedra Rev. Edmund Joyce, c.s.c., de
Antropologia de 1987 a 2004. Atualmente é Professor Titular da Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro. Realizou pesquisas Etnológicas entre os índios Gaviões e Apinayé. Foi pioneiro
nos estudos de rituais e festivais em sociedades industriais, tendo investigado o Brasil como
sociedade e sistema cultural por meio do carnaval, do futebol, da música, da comida, da cidadania,
da mulher, da morte, do jogo do bicho e das categorias de tempo e espaço. 

Na obra aqui resenhada, o autor, já em seu início, tenta aclarar a Antropologia como ciência. Para
tanto, estabelece uma diferenciação entre ciências naturais (ou da natureza) e ciências sociais (ou
humanas).

Destaca que as ciências naturais consagram estudos de fatos simples, com causas de fácil
identificação e que poderão facilmente ser isoladas, e partindo de observações, a teoria que dela
se origina poderá ser testada várias vezes por diferentes observadores, em locais diversos, o que
lhe inflige um caráter objetivo. 

Assim, um cientista natural pode presenciar os modos de reprodução de


formigas (já que pode ter um formigueiro em seu laboratório), pode estudar
os efeitos de um dado conjunto de anticorpos em ratos e pode, ainda,
analisar o quanto quiser a composição de um dado raio luminoso
(DAMATTA, 2000, p. 18).

Não obstante esta facilidade observativa e de manipulação dos fenômenos das ciências naturais, a aplicabilidade de
suas teorias é carregada de dificuldades, pois “na maioria dos casos, o cientista natural resolve um problema
simplesmente para criar tecnologias indesejáveis e, a longo prazo, mortíferas e daninhas ao próprio ser humano” (p. 20).

Em contrapartida, Damatta nos mostra que as ciências humanas trabalham com fenômenos mais
complexos, com causa e determinação complicadas. Quase sempre é improvável ser criada uma
teoria que se digne a ser a única causa de determinado fenômeno, bem como, inexiste a 
possibilidade de compartilhamento deste fenômeno em locais distintos com o mesmo resultado,
pois eles não podem ser produzidos da mesma forma que ocorreram. 

De fato, como poderemos nós reproduzir a festa do aniversário do Serginho?


Ou o ritual do carnaval que ocorreu em 1977 no Rio de Janeiro? Mesmo que
possamos reunir os mesmos personagens, músicas, comidas, vestes e
mobiliário do passado, ainda assim podemos dizer que está faltando alguma
coisa: a atmosfera da época, o clima do momento (DAMATTA, 2000).              
      

Com efeito, estes eventos que não poderão mais ser reproduzidos com as mesmas características
e intensidade de outrora, ou seja, que já ocorreram, mas, que não estão mais ocorrendo, passam
então a ser objeto de estudo das ciências humanas. Eles não gerarão fontes tecnológicas ou
ideológicas passíveis de mudanças drásticas na população em curta escala como os fazem os
fenômenos advindos das ciências naturais, pelo contrário, suas reconstruções são incompletas e
dependentes de documentos, de observações, e mais ainda, serão dependentes do ponto de vista
subjetivo e da bagagem de quem os observará (experiências de vida, educação, preconceitos,
interesses).

(...) temos de enfrentar a nossa própria posição, história biográfica,


educação, interesses e preconceitos (...). Assim, classes de homens diversos
observaram fatos e os registraram de modo diverso, segundo os seus
interesses e motivações; de acordo com aquilo que julgavam importante.
(DAMATTA, 2000, p. 22).

Assim, os resultados das ciências ditas humanas não possuem a mesma dimensão das
produzidas pelos fenômenos das ciências naturais. A imediatividade reacional da população ao
confrontar com as inovações tecnológicas (aquisição de um computador) se contrapõe a lentidão
pelo aceite de novos valores simbólicos ou políticos (inserção de ideologias anti-homofóbicas).

Em continuidade, o autor contempla uma diferença fundamental entre as ciências naturais e


sociais, ou seja, na primeira o objeto de estudo é completamente diverso do pesquisador. Damatta
nos traz o exemplo das baleias explicando que ao estudá-las, o pesquisador nunca saberá de fato
o que sente uma baleia, pois ele nunca será um ser daquela espécie. Neste mesmo raciocínio,
pode-se teorizar sobre elas, pois elas nunca contestarão as teorias. É um conhecimento objetivo e,
 portanto, externo. Já nas ciências sociais, “tanto o pesquisador quanto sua vítima compartilham,
embora muitas vezes não se comuniquem, de um mesmo universo das experiências humanas”
(2000, p. 23). Assim, observando uma cultura diversa, percebe-se á própria cultura. Desta
comparação, relativiza-se o sistema a que pertencemos.

Damatta dá continuidade dividindo a Antropologia em três esferas de interesse: Antropologia


Biológica, Arqueologia e Antropologia Cultural. A primeira esfera, em poucas palavras, diz respeito
à visão do homem como um ser biológico, com ênfase em sua forma física, sua carga genética,
sua forma de evolução e como se interage com os demais seres vivos. “Hoje, o especialista em
Antropologia Biológica dedica-se á análise das diferenciações humanas utilizando esquemas
estatísticos (...)” (2000, p. 28). Já a Arqueologia concentra-se em estudos de sociedades
pretéritas, e para tanto, fazem uso de pistas deixadas por estas sociedades, como “pedaços de
cerâmica, cemitérios milenares, cacos de pedras e restos de animais (...)” (2000, p. 29).  Estes
resíduos permitirão ao pesquisador deduzir como eram as relações sociais existentes nestes ambientes antes de sua
extinção.

                              O Arqueólogo estuda esses resíduos deixados por uma sociedade, depois que
seus membros pereceram. E sua tarefa é a de reconstruir o sistema agora que                               ele
somente existe por meio de algumas de suas cristalizações. (DAMATTA, 2000, p. 29).

Por derradeiro, temos a Antropologia Cultural. Também denominada Antropologia Social, esta
facção antropológica acastela a idéia de que cultura e sociedade que foram ao longo do tempo
formadas por um determinado povo não se deram somente através de superação dos obstáculos
naturais, mas ocorreram principalmente pela capacidade do homem de refletir sobre os
acontecimentos e sobre o ambiente em que vive. Damatta relata e subdivide esta esfera da
Antropologia em dois grupos: Instrumental (onde as respostas dadas pelos indivíduos são diretas,
sem reflexão aprofundada sobre suas ações) e Cultural/Social, onde, não obstante haver a
interação homem/ambiente, este reflete sobre seus atos, não os fazendo apenas pelo impulso
momentâneo.

Dando seqüência, o autor nos traz três planos de Consciência Antropológica. No primeiro, o da
consciência física, constitutivo da Antropologia Biológica, aborda e estuda as mudanças calhadas
no corpo humano e suas conseqüentes evoluções. O estudo é feito por comparação com demais
espécies e contempla uma época longínqua (milhões de anos), onde as transformações eram
realizadas lentamente.  A segunda consciência é a arqueológica, e já pertence a uma escala
temporal mais próxima da atualidade, pois trata-se de milhares de anos, onde os acontecimentos
já possuem uma importância mais estabelecida, permitindo a diferenciação de civilizações, de
suas produções e mesmo de regimes políticos já formalizados por algumas delas, embora ainda
apresentem uma evolução relativamente lenta de seus costumes.

A terceira consciência pertence à Antropologia Cultural ou Social, o tempo a que se refere é o da


história atual e os fatos e as sociedades passam a serem vistos de uma forma complexa e
racional.

Continuando, Damatta passa a mostrar como existe quase que uma necessidade de correntes
Antropológicas em  colocarem o Biológico em contraposição ao social. Explica que o senso-
comum vê o homem como saindo da natureza e depois voltando-se contra ela. Numera uma
cadeia de acontecimentos, que ainda na atualidade, é defendida com vigor por cientistas sociais,
contemplando: 1 – a natureza é hostil e ameaçadora, reinando absoluta, possuindo em seu interior
animais monstruosos e fenômenos perigosos como vulcões e vendavais; 2 – aqui aparece o
homem (ser único e universal), está nu e é frágil, porém, tem inteligência superior; 3 – Sua
inteligência é estimulada pela hostilidade do mundo, e vai aprendendo pela experiência (o fogo
pela fagulha das lavas vulcânicas, as armas pelo ódio dos animais); 4 – percebendo a dimensão
da natureza e sua fragilidade, resolve o homem agrupar-se, formando a sociedade; 5 – já em
sociedade, carrega impulsos anti-sociais e individualistas de outrora, inventa as instituições como
o direito, a família, o trabalho. (2000, p. 41/42).  O autor chama esta forma classificativa de teatro
da origem do homem, apresentando ao leitor os vários enganos desta enumeração. Diz que o
homem é uma invenção social, e quando se fala em homem, deve-se falar em sociedades e
culturas. Acrescenta que não se referindo á sociedade e cultura, oculta-se as diferenças ali
existentes, e não explicando as diferenças, o homem torna-se um ser que apenas reage ao mundo
á sua volta, deixando de contemplar e pensar. Ainda, Damatta contempla que ao se fazer esta
classificação da origem humana na forma de uma evolução cultural e social, acaba por reduzir-se
as diferenças sociais e respostas culturais, sem o devido pensar voltado para a diversidade
humana.

(...) tomar instituições culturais e sociais e tratá-las como um biólogo, em


termos de conceitos como adaptabilidade, estímulo, etc. a mudanças
supostamente ocorridas no meio exterior, é evitar penetrar na razão crítica
das diferenças entre as sociedades e penetrar nesta área é estar começando
a ficar preparado para discutir o mundo social e cultural – o mundo da
diversidade, da história e da especificidade. (DAMATTA, 2000, p. 44/45).

Agora, dando continuidade ás suas explanações, Damatta diferencia o social do cultural. Como
são temas que se complementam, para um melhor entendimento, o usa o exemplo das formigas
para explicar o contexto:

Posso ver uma sociedade de formigas em funcionamento. Mas formigas não


falam e não produzem obras de arte que marquem diferenças entre
formigueiros específicos. (...) esse ambiente é modificado sempre do mesmo
modo e com o uso das mesmas matérias químicas (...) Existe sociedade,
mas não existe cultura. Ou seja, existe uma totalidade ordenada de
indivíduos que atuam como coletividade (...) Mas não há cultura porque não
existe uma tradição viva, conscientemente elaborada que passe de geração
para geração, que permita individualizar ou tornar singular e única uma dada
comunidade relativamente á outras (...) (DAMATTA, 2000, p. 47/48).

Esta diferenciação era necessária, pois em seqüência, o autor trataria do tema do racismo, e para
tanto, o conceito de sociedade e cultura deveria estar fluindo na cabeça do leitor. 

Damatta, entre outras observações, vai traçando o ambiente que originaria o que ele denominou
de racismo à brasileira, e para tanto, faz explanações sobre o modo de vida da sociedade
hierarquizada portuguesa no quinhentismo, e de como aquela sociedade se acoplou ao modo de
vida dos nativos brasileiros. Ensina que nos Estados Unidos não existem mistificações, “ou você é
índio ou negro ou não é” (2000, p. 63). Relata o autor que “o marco histórico das doutrinas raciais
brasileiras é o período que antecede a proclamação da República e a Abolição da Escravatura” (p.
68), e que a real intenção da elite quando libertou os escravos seria “manter o status quo,
libertando os escravos juridicamente, mas deixando-o sem condições de libertar-se social e
cientificamente” (p. 69), e o fez através do mito das três raças (branco, amarelo, negro), pois este
mito “une a sociedade num plano biológico e natural, domínio unitário, prolongado nos ritos de
umbanda, na cordialidade, no carnaval, na comida, na beleza da mulher, na música ...(...) (2000, p.
70).

O autor contempla as narrativas apocalípticas de alguns autores, sobretudo de Gobienau, que em


meados do século XIX via a mistura das raças no Brasil como forma de extinção de toda a
sociedade em um curto espaço de tempo. Difere a escravidão Brasileira da Americana, onde lá
possuía a característica de regionalizada, e define como ponto crítico do sistema brasileiro a
desigualdade: “o ponto crítico de todo o nosso sistema é a profunda desigualdade, ninguém é
igual entre si ou perante a lei (...)” (DAMATTA, 2000, p. 76).

Damatta coloca como diferença crucial entre o racismo Brasileiro e o Norte Americano o fato de
que na América o mestiço era visto como peça indesejável, considerado como inferior ao inferior.
Enxergava-se alguns pontos positivos nas demais cores e raças, mas não se aceitava de forma
alguma a mistura entre elas, pois “o mal não está nas diferenças entre as raças, diz o racismo
arianista, mas nas suas relações” (2000, p. 77). Nos Estados Unidos, após a libertação dos
escravos, a massa de negros livres tornou-se um grande problema, pois estes negros doravante
competirão com os pobres, principalmente sulistas, para sobreviverem na sociedade pós
sesseção. Desta feita, o caminho americano para convivência entre as raças em um país que
pregava a igualdade foi a segregação. Lá todos tinham direitos iguais, porém, negros e índios eram
socialmente separados dos brancos, enquanto no Brasil, embora a raça branca permanecesse
como superior, todos se contatavam. Enquanto lá a diferença de sangue estigmatizava negros e
índios, aqui se aturava e de certo modo, se nivelava o negro com posses quase ao patamar do
branco, porém, a posição de superioridade política e social dos brancos sempre foram protegidas
pela engrenagem do sistema, pois:

Em nosso sistema, portanto, o branco está sempre unido e em cima,


enquanto que o negro e o índio formam as duas pernas da nossa sociedade,
estando sempre embaixo e sendo sistematicamente abrangidos (ou
emoldurados) pelo branco. (DAMATTA, 2000, p. 82).

Damatta contempla que as nossas autoridades sempre permitiram a criação de religiões


intersticiais (como a Umbanda), para manter a ideologia dominante, evitando desta feita “o
conflito e o confronto” (p. 83).

Conclui desta maneira:

Por que, colocando tudo em termos de raças e nunca discutindo suas


relações, reificamos um esquema onde o biológico se confunde com o social
e o cultural, permitindo assim realizar uma permanente miopia em relação á
nossa possibilidade de autoconhecimento. Num mundo social determinado
por motivações biológicas, desconhecidas de nossas consciências, pouco ou
quase nada há para se fazer em termos de libertação e esperança de dias
melhores.

E assim, é o caminhar, que como o próprio autor dissertou, cria-se uma cortina de fumaça, em uma
sociedade fundada na hipocrisia, onde até os diferentes acabam por se contaminar com o
preconceito, e muitos deles o aceitam e vivem o dia a dia em cima de uma ideologia das
diferenças, pois desta ideologia, alguns deles e em algumas oportunidades, acabam tirando
alguma vantagem, seja social ou política da própria ideologia combatida.

__________________________________________

DAMATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução à antropologia social. 6. ed. Rio de Janeiro:
Rocco, 2000.

                        
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