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Palestra

A relevância do pensamento de David Kopenawa para as ciências


ambientais no Brasil
Renzo Taddei
Universidade Federal de São Paulo - Unifesp

Renzo inicia sua fala explicando que seu recorte de pesquisa foca nas “condições de diálogo”
especificamente em relação ao IPCC (mudanças climáticas) e o que ele chama de arquitetura
ontológica ameríndia. Ele faz um paralelo com o IPBES, considerando que este Painel já nasce
em outra perspectiva, já que para a racionalidade científica é mais aceitável que o
conhecimento dos povos originários seja mais útil para compreender a biodiversidade do que
para entender o clima.

Renzo começa sua exposição com uma crítica ao uso de conceitos como “visão de mundo” e
“cultura” para significar as formas de ver o mundo dos povos originários. Para ele tais
conceituações geram um “esvaziamento”. Ele defende que é preciso questionar: o mundo pe o
mesmo para todo mundo? O que muda é a forma de acessá-lo?

Renzo contrasta as arquiteturas ontológicas ameríndias como o que seria uma arquitetura
ontológico do Mercado Livre de Adam Smith ou do sistema econômico atual. E traz o termo
“precipitado ontológico” como algo inerentemente resultante de cada uma dessas
arquiteturas.

Existem alianças possíveis entre diferentes ontologias (nem todas!), algo que poderíamos ler
como uma compatibilidade onto-epistémica. Ele traz o exemplo da briga de casal para ilustrar
como não é necessário explicar estritamente determinada perspectiva onto-epistémica, ou
seja, não é necessário que ambas as partes compreendam e concordem plenamente entre si
para que haja um “acordo pragmático” (termo cunhado por Mario Almeida).

Em relação às compatibilidades onto-epistémicas ou de arquiteturas ontológicas, Renzo cita


Viveiros de Castro, Donna Haraway e Ana Tsing, como pessoas que estão produzindo
conhecimentos na mesma perspectiva que David Kopenawa. Ao longo da sua argumentação se
fundamenta em Tomas Kunh e Nitche.

Ele pediu uma rodada de apresentações, onde cada um contou seu caminho para a
interdisciplinaridade, para compreender o público. Seus slides estavam estruturados a partir
dos seguintes tópicos:

 Kopenawa e as ciências ambientais


 Redes de Monitoramento
 Conhecimento e cuidado

Utilizou a imagens do artista indígena Jader Esbell: http://www.jaideresbell.com.br/site/sobre-


o-artista/
Sugestões de Leitura para tratar o tema ontológico (desde a perspectiva
da Filosofia e Sociologia da ciência e outras vertentes):
1. Uma Ecologia Decolonial – Malcon Ferdinand
“coisa inconcebíveis acontecem nas fronteiras da sociedade” diálogo com racismo
ambiental. O que acontece na fronteira amazônica não acontece no Sudeste. (O que
acontece em Chiapas não acontece na Cidade do México.)
 https://www.nexojornal.com.br/estante/trechos/2022/05/20/%E2%80%98Uma-
ecologia-decolonial%E2%80%99-elos-entre-ra%C3%A7a-e-meio-ambiente
 https://www.casadellibro.com/ebook-uma-ecologia-decolonial-ebook/
9786586497984/13057531
 https://www.fflch.usp.br/47115
 https://gamarevista.uol.com.br/achamos-que-vale/ir/malcom-ferdinand-fala-
sobre-ecologia-decolonial-pelo-brasil/

2. Viveiros de Castro
a. Castro, Eduardo Viveiros de (1996). OS PRONOMES COSMOLÓGICOS E O
PERSPECTIVISMO AMERÍNDIO. MANA 2(2):115-144
b. A antropologia perspectivista e o método de equivocação controlada pdf
c. Entrevista para Pública 2019: https://apublica.org/2019/10/viveiros-de-castro-
estamos-assistindo-a-uma-ofensiva-final-contra-os-povos-indigenas/
d. Viveiros de Castro, Eduardo (2013). La mirada del jaguar: introducción al
perspectivismo amerindio. - 1a ed. - Buenos Aires: Tinta Limón.
e. Viveiros de Castro: ‘sociedades tradicionais podem servir de exemplo’:
https://www.ufmg.br/90anos/viveiros-de-castro-sociedades-tradicionais-podem-
servir-de-exemplo/
f. Entrevista com Viveiros de Castro ComCiencia Scielo:
http://comciencia.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-
76542009000400013&lng=e&nrm=iso
I. Levi Strauss: O cru e o cozido (1964) até História de Lince
(1991): “onde o caráter equívoco, ambivalente e problemático
da separação entre Natureza e Cultura, vai predominando
sobre um discurso "antropológico" ou hominizante. Esse
deslocamento ecoa, por sua vez, a crescente indignação de
Lévi-Strauss com as consequências suicidas da metafísica
ocidental a respeito da "separação" entre Natureza e Cultura -
estou-me referindo aqui à crise ecológica planetária.”
II. O pensamento selvagem (1962)
g. “Vi então que o perspectivismo era na verdade uma teoria geral da alteridade”
h. Live de lançamento do livro “Mil faces de Gaia” em coautoria com a filósofa Debora
Danowski (sua esposa): https://www.youtube.com/watch?v=VMGOmmJESkQ
Espaço Gaia e tempo Antropoceno.
3. Mauro Almeida
a. Anarquismo Ontológico e Verdade no Antropoceno:
file:///C:/Users/Graziela/Downloads/78405-Texto%20do%20Artigo-289322-3-
10-20210225%20(1).pdf
b. Guerras culturais e relativismo cultural:
https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/Q6HmqGBWc6RDFFf9TWz7VmF/?lang=pt
c. Caipora e outros confitos ontológicos (Palestra publicada):
http://www.rau.ufscar.br/wp-content/uploads/2015/05/vol5no1_01.MauroAl
meida.pdf
d. Relativismo Antropológico e Objetividade Etnográfica:
file:///C:/Users/Graziela/Downloads/Relativismo_Antropologico_e_Objetivida
de_Etnografi.pdf
e. A coexistência de múltiplos mundos depende da reabilitação das noções de
verdade e razão. Entrevista especial com Mauro Almeida:
https://www.ihu.unisinos.br/categorias/159-entrevistas/618711-a-
coexistencia-de-multiplos-mundos-depende-da-reabilitacao-das-nocoes-de-
verdade-e-razao-entrevista-especial-com-mauro-almeida
f. Relativismo estrutural, virada ontológica e verdades pragmáticas: uma
alternativa à guerra cultural (Eduardo Barros Mariutti):
https://www.eco.unicamp.br/images/arquivos/artigos/TD/TD420.pdf
g. Entre Chico Mendes e Quine: uma conversa com Manuela Carneiro da Cunha e
Mauro Almeida: https://journals.openedition.org/aa/6661
4. Anna Tsing
a. Futuros possíveis dos mundos sociais mais que humanos: entrevista com Anna
Tsing: https://journals.openedition.org/horizontes/5569
b. Uma antropologia que dança: algumas notas sobre paisagens de conceitos em
Anna Tsing: https://journals.openedition.org/aa/6653?lang=pt

Sugestões de livros com discussões para enriquecer o debate:


 O Antropoceno. Autoria: Stelio Marras e Renzo Taddei (ORGs.) Páginas: 310.
Publicação: 2022.
i. Aula ministrada em 30 de outubro de 2020 no curso Antropoceno: Abordagens
Transdisciplinares. Curso "O Antropoceno: abordagens transdisciplinares" (2020)
Curso oferecido em modo online no segundo semestre de 2020. Docentes
participantes: Eduardo Neves (Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de
São Paulo), Karen Shiratori (pós-doc Departamento de Antropologia, Universidade
de São Paulo), Joana Cabral de Oliveira (Departamento de Antropologia,
Universidade Estadual de Campinas), Pedro Paulo Pimenta (Departamento de
Filosofia, Universidade de São Paulo), Renato Sztutman (Departamento de
Antropologia, Universidade de São Paulo), Renzo Taddei (Instituto do Mar,
Universidade Federal de São Paulo) e Stelio Marras (Instituto de Estudos
Brasileiros, Universidade de São Paulo). O curso contou ainda com a participação
de Rita Natálio. Felipe Figueiredo deu suporte nas atividades de monitoria. As
imagens de abertura e fechamento do vídeo são parte da série Natureza Morta, de
autoria de Denilson Baniwa. A música usada na abertura e fechamento é
Libertação, de Russo Passapusso, na interpretação de Elza Soares e Virgínia
Rodrigues, com produção de BaianaSystem: https://www.youtube.com/watch?
v=OBq2frSc8Ek
 NUDGE (cuja tradução seria algo como estratégias para que as pessoas façam o que vc
quer)
 Não exatamente um livro, mas a ideia de “Olombionte”. Um arquipélago de seres vivos
que somente sobrevivem em conjunto. Analogia aos seres vivos do Planeta Terra.
 A Serpente Cósmica:
https://www.professores.uff.br/ricardobasbaum/wp-content/uploads/sites/
164/2021/05/Narby_A-Serpente-C%C3%B3smica.pdf
 Cris Seixas comentou também sobre o trabalho de Monica Sharman da OMS
(campanha contra AIDS) estar fazendo um trabalho de
desconstrução/autoconhecimento com os pesquisadores do IPBES justamente com o
intuito de melhor trabalhar junto com as ontologias dos povos originarios.

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