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Organização

André Cabral de almeida cardoso (UFF)


Júlia Braga neves (UFRJ)
Natalia López (universidade do chile)
Pedro sasse (UERJ/FFP)

Apoio
Programa de pós-graduação em estudos de Literatura
Da universidade federal fluminense
Programação
SEGUNDA-FEIRA – 12 DE SETEMBRO
Remoto: canal Estudos de literatura UFF

10h-12h / Conferência de abertura (Em inglês) – acessar

Profa. Dra. Raffaella Baccolini (Universidade de Bologna)


Hope as Resistance: Countering Crises through Critical Dystopia

14h-16h / Mesa 1 – acessar


Dr. Pedro Sasse (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
Cartografia de uma nova América: distopia em art-based research
Dra. Ana Rüsche (Universidade de São Paulo)
Representações do ecocídio em Floresta é o nome do mundo, de
Ursula Le Guin, e Não verás país nenhum, de Ignácio de Loyola
Brandão

16:30 / Distopias brasileiras contemporâneas – acessar


Roda de Conversa com Bernardo Carvalho, Daniel Galera e Natalia
Borges Polesso. Mediação: Júlia Braga Neves (UFRJ).

TERÇA-FEIRA – 13 DE SETEMBRO
Remoto: canal Estudos de literatura UFF

10h-12h / Distopias latino-americanas (em espanhol) – acessar


Roda de conversa com Claudia Aboaf, Emiliano Monge e Giovanna
Rivera. Mediação: Natalia López (Universidade do Chile).
14h-16h / Mesa 2 – acessar
Profa. Dra. Marina Pereira Penteado (Universidade Federal do Rio
Grande)
A Psalm for the Wild-Built (2021), de Becky Chamber, e construção de
outros mundos no Antropoceno
Ms. George Amaral (Universidade de São Paulo)
Fraturas e fragmentos: perspectivas do Sul Global em distopias
ecológicas brasileiras

16:30 / Conferência – acessar


Prof. Dr. Eduardo Marques de Marks (Universidade Federal de Pelotas)
O horror e (é) o riso: distopia e apocalipse em Terra Nullius (2017), de
Claire G. Coleman, e The Down Days (2020), de Ilze Hugo.

QUARTA-FEIRA – 14 DE SETEMBRO
Presencial: Campus da UFF – Gragoatá
Sala 505, bloco C

10h-12h / Mesa 3
Ms. Fabiane Alves Martins (Universidade Federal Fluminense)
A distopia em Oshima de Serge Lamothe: A transposição de territórios
na literatura quebequense
Ms. Cássia Farias (Universidade Federal Fluminense)
“Nos abrigamos uns nos outros”: o papel do afeto em Ninguém nasce
herói
Lucas Tardin (Universidade Federal Fluminense)
Quando a distopia alimenta o escapismo: O gênero isekai

14h-16h / Mesa 4
Profa. Dra. Rejane de Souza Ferreira (Universidade Federal do
Tocantins)
The Earlie King & The Kid in Yellow: uma versão pós-apocalíptica da
Irlanda
Ms. Bárbara Ferreira (Universidade Federal Fluminense)
Apagão e apagamento: a trajetória pós-apocalíptica em Moon of the
Crusted Snow
Beatriz Costa Lopes Gonçalves Sosinho (Universidade Federal
Fluminense)
Eles não eram inumanos: A Distopia Concreta em Coração das Trevas

QUINTA-FEIRA – 15 DE SETEMBRO
Presencial: Campus da UFF – Gragoatá
Sala 505, bloco C

10h-12h / Mesa 5
Prof. Dr. André Cardoso (Universidade Federal Fluminense)
Subindo o rio e atravessando o mar: o retorno do passado em A morte
e o meteoro e Tejer la oscuridad
Profa. Dra. Júlia Braga Neves (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Uma história sem futuro? Representação histórica em O último gozo
do mundo de Bernardo Carvalho
Ms. Mateus de Novaes Maia (Universidade Federal Fluminense)
A retrotopia emancipadora como chave interpretativa da ficção
sertãopunk

14h-16h / Mesa 6
Profa. Dra. Alice de Araujo Nascimento Pereira (Instituto Federal
Fluminense)
Distopias tropicais: Bacurau e Medida Provisória como elaboração de
trauma histórico brasileiro
Samuel Rede (Universidade de São Paulo)
Timequake (1997): A distopia temporal de Kurt Vonnegut
Ms. Mykaelle Ferreira (Universidade Federal Fluminense)
A trilogia distópica de Ignácio de Loyola Brandão: uma análise sobre
“Deus, o que quer de nós?”
SEXTA-FEIRA – 16 DE SETEMBRO
Remoto: canal Estudos de literatura UFF

10h-12h / Conferência (em inglês) – acessar


Profa. Dra. Elana Gomel (Universidade de Tel Aviv)
Spaces of Discord: Fractured Cities, Climate Change, and the end of (a)
History in Contemporary Speculative Fiction

17h / Conferência de encerramento – acessar


Profa. Dra. Elizabeth Ginway (Universidade da Flórida)
Ciborgues, Sexualidade e os Mortos-Vivos
RESUMOS DAS
MESAS
CARTOGRAFIAS DA CRISE
2º encontro do grupo de estudos distopia e contemporaneidade

CARTOGRAFIA DE UMA NOVA AMÉRICA: DISTOPIA EM ART-BASED


RESEARCH
Pedro Sasse

RESUMO: A medida em que crescem os campos transdisciplinares no


meio acadêmico e entram em crise os meios tradicionais de divulgação
científica, abre-se espaço para abordagens não ortodoxas da pesquisa
científica, tais com a chamada art-based reasearch (ABR) – pesquisa
baseada em arte. Como apontam Shaun McNiff (1998), Patricia Leavy
(2008) e mais recentemente, Kate Hanzalik (2021), o surgimento da ABR
responde a uma demanda por modos de saber alternativos,
objetivando não desafiar, mas complementar as epistemologias
tradicionais da comunidade científica por meio dos processos criativos
cujo resultado é apresentado por meio de objetos artísticos, tais como
romances, pinturas, filmes ou performances. Além de renovar
perspectivas muitas vezes engessadas, a ABR possibilita uma
comunicação mais eficaz com a comunidade não especializada,
propiciando maior circulação para saberes que, de outra maneira,
acabariam restritos ao meio acadêmico. Dessa forma, esse trabalho visa
apresentar as reflexões e resultados obtidos por uma experiência em
ABR centrada na produção e recepção da literatura distópica no Brasil,
tomando como base o romance A nova América (SASSE, 2021).
Transpondo reflexões centrais da ficção distópica e pós-apocalíptica
desenvolvidas na minha pesquisa mais ortodoxa à mídia literária,
busquei investigar através da ficção como certos temas dessa tradição
dialogam com um contexto de produção que muito se difere do seu de
origem – e como tal diálogo é recebido pelo público aqui.
PALAVRAS-CHAVE: Art-based Research; Distopia; Pós-apocalipse;
Brasil.

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CARTOGRAFIAS DA CRISE
2º encontro do grupo de estudos distopia e contemporaneidade

REPRESENTAÇÕES DO ECOCÍDIO EM FLORESTA É O NOME DO MUNDO, DE


URSULA LE GUIN, E NÃO VERÁS PAÍS NENHUM, DE IGNÁCIO DE LOYOLA
BRANDÃO
Ana Rüsche

RESUMO: Considera-se ecocídio um conceito internacionalista e


multidisciplinar, capaz de expressar a destruição de ecossistemas,
comprometendo a vida pacífica em determinado habitat, termo-chave
para a discussão sobre as mudanças climáticas, destacando-se as
contribuições de David Zierler e Polly Higgins. O trabalho proposto
investiga duas representações de ecocídios na literatura: Floresta é o
nome do mundo (The Word for World Is Forest, 1972), novela da
estadunidense Ursula K. Le Guin; e Não verás país nenhum (1981),
romance do brasileiro Ignácio de Loyola Brandão. A partir do contraste
dos momentos históricos que foram estopim das obras,
respectivamente a Guerra do Vietnã e a redemocratização brasileira,
parte-se da hipótese de que a ficção científica devolve-nos, a partir de
alteridades radicais, estranhamentos e lógicas novas, uma versão
decantada de nossa própria realidade, conforme Darko Suvin e Fredric
Jameson, capaz de alterar nossa ótica a respeito de certos assuntos.
Dessa forma, pretende-se investigar elementos formais e de conteúdo
em ficções científicas ecológicas, com o objetivo de ressaltar como
essas literaturas reapresentam nossa própria realidade. Examinar
representações do estado de catástrofe é relevante para constituirmos
um léxico capaz de nomear o pesadelo e procurar quebrar nossa
dissociação cognitiva atual diante da mudança climática, permitindo-
nos sair da posição apática em que nos encontramos e incutindo-nos o
senso de “response-ability”, nos termos de Donna Haraway, para o
cultivo de responsabilidades e respostas coletivas.

PALAVRAS-CHAVE: Ficção Científica; Ecocrítica; Mudanças Climáticas;


Antropoceno.

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CARTOGRAFIAS DA CRISE
2º encontro do grupo de estudos distopia e contemporaneidade

A PSALM FOR THE WILD-BUILT (2021), DE BECKY CHAMBER, E


CONSTRUÇÃO DE OUTROS MUNDOS NO ANTROPOCENO
Marina Pereira Penteado

RESUMO: A partir de uma leitura do romance A Psalm for the Wild-Built


(2021), de Becky Chambers, o presente trabalho busca refletir sobre a
capacidade da ficção científica de criar mundos diferentes do que
habitamos e como essa literatura pode nos auxiliar a pensar
alternativas para vivermos – e morrermos – no Antropoceno
(HARAWAY, 2016). O romance, que se passa em um momento
indeterminado do futuro e acompanha a trajetória de Irme Dex e do
robô Mosscap, narra um mundo que conseguiu evitar uma catástrofe
ambiental e se reorganizou com base em princípios que giram em
torno do cuidado. Para desenvolver tal reflexão, serão abordados textos
teóricos de Ursula Le Guin sobre a ficção científica, bem como os
estudos de Donna Haraway sobre o Antropoceno e as reflexões sobre
cuidado, de Maria Puig de la Bellacasa, a fim de entender como o
gênero da ficção científica tem conseguido apontar para outras formas
de vida mais harmônicas, inclusivas e cuidadosas.

PALAVRAS-CHAVE: Ficção Científica; Antropoceno; Cuidado.

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CARTOGRAFIAS DA CRISE
2º encontro do grupo de estudos distopia e contemporaneidade

FRATURAS E FRAGMENTOS: PERSPECTIVAS DO SUL GLOBAL EM


DISTOPIAS ECOLÓGICAS BRASILEIRAS
George Augusto do Amaral

RESUMO: As alterações ambientais que caracterizam a crise ecológica


que marca o Antropoceno são, muitas vezes, consideradas de maneira
uniforme, como se afetassem o planeta todo de maneira idêntica. Cada
ecossistema, porém, reage de uma forma específica, de acordo com as
condições não apenas físicas, mas também sociais, culturais e
econômicas de cada espaço, criando o que pode ser denominado como
Antropoceno fragmentado (Tsing et al, 2019). Dessa forma, proliferam
especificidades e contradições, conforme aspectos locais e globais se
entrelaçam, provocando reações naturais ferais. O Brasil, por exemplo,
onde se localiza a maior bacia hidrográfica do planeta, na Amazônia,
tem sofrido constantes crises hídricas e diversas capitais mantêm-se
em ameaça de falta de água devido ao nível baixo dos seus
reservatórios. A partir disso, esta comunicação pretende analisar como
os romances Não verás país nenhum (1981), de Ignácio de Loyola
Brandão, e Sob os pés, meu corpo inteiro (2018), de Márcia Tiburi, trazem
visões específicas e fragmentadas, advindas de uma perspectiva do Sul
Global, a respeito de futuros transformados pela catástrofe ambiental,
favorecendo a contestação do Antropoceno universalizante. Nesses
cenários distópicos, o capitalismo periférico frágil entra em colapso
frente à burocracia, à corrupção e ao autoritarismo, expondo as
contradições e consequências da dupla fratura colonial e ecológica
(Ferdinand, 2022), que, muitas vezes, permanece naturalizada nos
modos de viver e pensar propagados pela modernidade ocidental.

PALAVRAS-CHAVE: Antropoceno; Distopia; Ecocrítica; Sul Global;


Mudanças Climáticas.

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CARTOGRAFIAS DA CRISE
2º encontro do grupo de estudos distopia e contemporaneidade

A DISTOPIA EM OSHIMA DE SERGE LAMOTHE: A TRANSPOSIÇÃO DE


TERRITÓRIOS NA LITERATURA QUEBEQUENSE
Fabiane Alves Martins

RESUMO: Em uma Paris decadente advinda de uma crise ambiental e


econômica, um personagem toma a decisão de partir em uma jornada
ao Japão, seu país de origem. Ao descobrir que seu pai está à beira da
morte, ele percebe uma última chance de se reconciliar com o seu
passado. Porém, é preciso que ele passe por um caminho de miséria e
destruição causado pela cegueira da humanidade diante dos sinais de
uma mudança climática irreparável. O romance Oshima (2019) aborda
questões em torno da estrangeiridade de um personagem que transita
por culturas distintas. O autor quebequense, Serge Lamothe, situa seu
personagem em uma realidade poucas décadas após a atual, que
sofreria as consequências do aquecimento global, atuando como uma
crítica aos governos e sua falta de empenho em implementar políticas
ambientais. Uma vez que o romance aborda o fim do Antropoceno, sua
análise aparecerá em diálogo com as ideias de Donna Haraway (2016),
assim como de Gregory Claeys (2017) e Frank Kermode (1968) para
investigações em torno da noção de distopia proposta pelo autor.
Lamothe apresenta, assim, em sua narrativa, uma visão de distopia
ligada à literatura das Américas, em uma trama que combina exílio,
identidade e fim.

PALAVRAS-CHAVE: Distopia; Antropoceno; Exílio; França; Japão.

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CARTOGRAFIAS DA CRISE
2º encontro do grupo de estudos distopia e contemporaneidade

"NOS ABRIGAMOS UNS NOS OUTROS": O PAPEL DO AFETO EM NINGUÉM


NASCE HERÓI
Cássia Farias

RESUMO: Ninguém nasce herói de Eric Novello é uma distopia jovem


que acompanha o protagonista Chuvisco enquanto ele tenta entender
qual pode ser seu papel na resistência ao mesmo tempo em que luta
para manter sua conexão com a realidade. Chama atenção, na leitura
da obra, a importância dada pelo jovem ao afeto e aos laços
interpessoais, e seu potencial transformador. Essa ênfase pode ser vista
como uma continuidade de uma tendência vista nas obras distópicas
da literatura juvenil em língua inglesa – uma grande influência para os
escritores brasileiros de livros para jovens – onde os sentimentos no
geral aparecem como estopim para a atividade revolucionária e como
contraponto às forças de dominação, marcadas pela crueldade. O
motivo para isso, porém, pode estar relacionado à própria estrutura da
distopia: nessas narrativas há uma tendência para um comunitarismo
compulsório, marcado por uma falsa sociabilidade (CLAEYS, 2017). O
isolamento dos sujeitos é, historicamente, uma estratégia de controle e
dominação, especialmente no totalitarismo, uma vez que a capacidade
humana para ação e poder está relacionada à ação coletiva, o que faz
com que laços solidários se tornem uma ameaça (ARENDT, 2013).
Partindo desse ponto, o trabalho pretende analisar a forma como o
afeto aparece na obra como força capaz de mudar a realidade, tanto no
nível coletivo quanto no nível individual.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura Jovem; Distopia; Afeto; Literatura


Brasileira.

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CARTOGRAFIAS DA CRISE
2º encontro do grupo de estudos distopia e contemporaneidade

QUANDO A DISTOPIA ALIMENTA O ESCAPISMO: O GÊNERO ISEKAI


Lucas Tardin

RESUMO: Vivemos em uma época em que usar a palavra distopia


suscita uma necessidade de desambiguação – falamos de uma distopia
do ponto de vista literário, ou de uma realidade contemporânea cada
vez mais sombria? O que podemos concluir do panorama em que um
termo, que supostamente deveria ser utilizado para descrever futuros
imaginados com tons de pesadelo, torna-se um adjetivo para descrever
a vida cotidiana? Partindo das ideias lançadas por Bauman em
Retrotopia (2017), podemos conjecturar que no momento em que o
medo acerca do futuro se configura como presente inescapável, a
esperança precisa de outra saída, seja ela em um passado idealizado,
ou em outro lugar ainda mais fantástico. Esse outro lugar, ou outro
mundo, nós vamos encontrar na produção de light-novels, quadrinhos
e animações nipônicas, em que a percepção da inevitabilidade
distópica de uma realidade japonesa parece ter sido uma das bases
para a ascensão do gênero isekai, uma válvula de escape de fantasia
juvenil, que conjura um mundo de escapismo motivado pelo peso
hermético da sociedade distópica sobre o indivíduo médio. Para tal,
elencaremos algumas obras distópicas de origem nipônica (Neon
Genesis Evangelion, Psycho-Pass, 86) e uma série de obras em que o
presente distópico funciona como premissa para a fuga do
protagonista para um novo mundo.

PALAVRAS-CHAVE: Distopia; Fantasia; Escapismo; Isekai; Japão.

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CARTOGRAFIAS DA CRISE
2º encontro do grupo de estudos distopia e contemporaneidade

THE EARLIE KING & THE KID IN YELLOW: UMA VERSÃO PÓS-
APOCALÍPTICA DA IRLANDA
Rejane de Souza Ferreira

RESUMO: O advento dos Estudos Culturais, na segunda metade do


século XX, e a globalização da Irlanda, iniciada na década de 1990,
permitiram ao país olhar para si mesmo, reinventar sua história a partir
de seu próprio ponto de vista e rejeitar o discurso dominante de sua ex-
colonizadora, Inglaterra. Por um momento, enquanto o país vivenciava
seu apogeu econômico, anos após a independência, acreditou-se que
o pesadelo da colonização, da fome e do atraso econômico vivenciado
por séculos estava superado. Se antes dessa fase o país pouco tinha
alterado sua condição ambiental e a alteração da natureza era culpa do
Reino Unido, monopolizador das plantations, a Irlanda acostumou-se a
se desresponsabilizar de suas próprias desgraças e não esperava que
sua modernização desenfreada se desacelerasse, nem que as
consequências de sua própria negligência (ao ecossistema) viessem à
tona. É nesse contexto que surge The Earlie King & The Kid in Yellow
(2018), de Danny Denton. A obra narra o mito de refazimento da Irlanda
através da água e do fogo após a catástrofe ambiental deixada
principalmente pela indústria farmacêutica e o colapso digital do país.
O propósito desta pesquisa é investigar como essa obra coaduna e
desafia ao mesmo tempo a tradição ecocrítica e distópica produzida na
língua inglesa dos centros hegemônicos e a tradição literária de seu
próprio país. Para tanto eu utilizo quatro divisões didáticas. 1) Breve
resumo de como o Antropoceno tem sido representado na literatura de
língua inglesa; 2) a contribuição da distopia para representação das
alterações climáticas na literatura; 3) panorama histórico da literatura
da Irlanda e 4) contextualização da obra de Denton em análise.

PALAVRAS-CHAVE: Pós-apocalipse; Irlanda; Antropoceno; Distopia.

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CARTOGRAFIAS DA CRISE
2º encontro do grupo de estudos distopia e contemporaneidade

APAGÃO E APAGAMENTO: A TRAJETÓRIA PÓS-APOCALÍPTICA EM MOON


OF THE CRUSTED SNOW
Bárbara Ferreira

RESUMO: No romance Moon of the Crusted Snow (2018), Waubgeshig


Rice nos apresenta uma visão de pós-apocalipse que afeta uma
comunidade indígena remota. A narrativa acompanha os residentes
desse território, diante da crise que se inicia com um apagão, e segue
suas consequências com o tempo. Então, buscamos através deste
trabalho estabelecer um diálogo com certas convenções da literatura
pós-apocalíptica, tais como as apontadas por Curtis (2010) e Hicks
(2016), para articular novas ideias a respeito do gênero, diante da
pluralidade de perspectivas de fim do mundo que acompanham o
romance. Além disso, consideramos a necessidade de refletir sobre
alguns aspectos da modernidade que podem se relacionar com o
apocalipse, atravessados também por referências ao processo de
colonização que são expostas pelo próprio autor. Por fim, defendemos
a importância da análise de narrativas especulativas, especialmente
das que são produzidas e protagonizadas por indígenas, possibilitando
a expansão do campo de estudos do apocalipse e pós-apocalipse, para
além de uma visão eurocêntrica.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura indígena; Pós-apocalipse; Apocalipse.

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CARTOGRAFIAS DA CRISE
2º encontro do grupo de estudos distopia e contemporaneidade

ELES NÃO ERAM INUMANOS: A DISTOPIA CONCRETA EM CORAÇÃO DAS


TREVAS
Beatriz Costa Lopes Gonçalves Sosinho

RESUMO: Publicado em 1899, o romance Coração das Trevas, de


Joseph Conrad, segue sendo uma das obras mais emblemáticas sobre
os efeitos do Imperialismo britânico na África. A partir do relato de
Marlow, um marinheiro enviado a uma terra africana não-nomeada,
mas implicitamente determinada como o Congo belga, somos levados
por sua narração a acompanhar a atrocidade da colonização. A
percepção de Marlow na África é de horror, frente a algumas das piores
imagens de degeneração humana, tanto incorporadas por colonizados
quanto pelos colonizadores, incluindo ele próprio. No entanto, para
alguns, tal situação pode ser vista como o oposto: um cenário almejado,
em que algumas pessoas ganham pela exploração de outras. A partir
deste choque de percepções e dos conceitos e elementos de utopia,
distopia, utopia concreta e distopia concreta, este trabalho busca
analisar o romance de Conrad através de seus elementos distópicos e
como um exemplar da possibilidade distópica de desdobramento da
realidade, a partir dos conceitos apresentados por Varsam (2003) e por
Sargent (1994).

PALAVRAS-CHAVE: Joseph Conrad; Distopia Concreta; Distopia;


Colonialismo.

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CARTOGRAFIAS DA CRISE
2º encontro do grupo de estudos distopia e contemporaneidade

SUBINDO O RIO E ATRAVESSANDO O MAR: O RETORNO DO PASSADO EM A


MORTE E O METEORO E TEJER LA OSCURIDAD
André Cardoso

RESUMO: Tradicionalmente, as narrativas apocalípticas e pós-


apocalípticas apontam para uma transformação radical, um momento
de refundação da ordem social (agora purificada pelo sacrifício
representado pela destruição em massa), ou da constituição de novos
arranjos de convivência em comum. Assim, apesar de girarem em torno
da ideia de fim, essas narrativas costumam apresentar uma forte
abertura para o futuro e, em muitas delas, o apocalipse pode ser visto
como uma representação alegórica do desmantelamento do
capitalismo tardio e das estruturas de poder a ele ligadas. O passado,
porém, permanece na forma de resquícios que podem ou não ser
recuperados – para Heather Hicks, essa escolha significa decidir quais
elementos da modernidade devem ser preservados. Por outro lado,
romances como A morte e o meteoro, de Joca Reiners Terron, e Tejer la
oscuridad, de Emiliano Monge, colocam em questão o impulso
moderno rumo ao futuro ao empregar o apocalipse não como um
apagamento, mas como um evento que desencadeia um retorno do
passado e uma intensa revisão crítica da história. Ao fazer isso, buscam
resgatar o legado dos povos nativos do Brasil e do México assim como
a lembrança de seu extermínio, ao mesmo tempo em que propõe
formas de temporalidade alternativas àquelas que se consolidaram na
modernidade. Nessas obras, o passado histórico se mistura à formação
cultural das nações latino-americanas, cuja fundação é reexaminada à
luz de um histórico de dominação colonial, contrapondo narrativas
oficiais aos relatos, em grande parte suprimidos, dos povos nativos.
Nesse processo, as próprias noções de passado, presente e futuro se
desestabilizam, ocasionando, ao mesmo tempo, o tensionamento de
outras categorias, como aquelas de nacional e estrangeiro, realismo e
fantasia, registro histórico e tempo mítico, ou as de autenticidade e
simulacro, uma vez que a memória e suas narrativas se tornam um
terreno de disputa.

PALAVRAS-CHAVE: Literatura Pós-apocalíptica; Literatura Brasileira;


Literatura Latino-americana; Modernidade; Memória.

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CARTOGRAFIAS DA CRISE
2º encontro do grupo de estudos distopia e contemporaneidade

UMA HISTÓRIA SEM FUTURO? REPRESENTAÇÃO HISTÓRICA EM O ÚLTIMO


GOZO DO MUNDO DE BERNARDO CARVALHO
Júlia Braga Neves

RESUMO: Nesta apresentação, pretende-se discutir a perspectiva


histórica do último romance de Bernardo Carvalho. Trata-se de uma
distopia que se passa não em um futuro distante, mas em um presente
possível de um Brasil pós-pandemia, no qual noções modernas de
passado e de futuro são postas em xeque. A partir de uma suspensão
do tempo, da ausência de um passado factual e de uma falta de futuro,
Carvalho constrói uma realidade na qual a experiência é substituída por
ideias ou até mesmo simulacros. Nesse romance, a proximidade
histórica entre o mundo distópico ficcional e a realidade brasileira atual
aponta para uma característica comum a muitas distopias
contemporâneas: a sua semelhança com o presente histórico,
principalmente no contexto da crise gerada pela pandemia e pelo
avanço do neoliberalismo. Esta apresentação busca, portanto, analisar
como O último gozo do mundo (2021) reflete as limitações da
experiência individual e a própria relação da experiência individual com
a realidade histórica contemporânea. Como pode-se definir a história
quando esta não apresenta mais uma perspectiva futura de progresso?
O que acontece com o entendimento de passado, quando “um terço
da população [se] tornou [...] imune à realidade” (Carvalho, 2021, p. 28) e
as pessoas, como o passado, simplesmente desaparecem? Essas são as
questões que serão abordadas nesta comunicação a partir de leituras
sobre as relações entre passado e futuro na história moderna
(Koselleck, 1979) e sobre a questão da experiência individual durante o
governo de Jair Bolsonaro (Nunes, 2022).

PALAVRAS-CHAVE: Bernardo Carvalho; Bolsonarismo; Neoliberalismo;


Distopia.

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CARTOGRAFIAS DA CRISE
2º encontro do grupo de estudos distopia e contemporaneidade

A RETROTOPIA EMANCIPADORA COMO CHAVE INTERPRETATIVA DA


FICÇÃO SERTÃOPUNK
Mateus de Novaes Maia

RESUMO: O Movimento Sertãopunk, iniciado em 2020 por G. G. Diniz,


Alec Silva e Alan de Sá, caracteriza-se pela instrumentalização de
elementos do cyberpunk e seus subgêneros na concepção de
narrativas ambientadas em um Nordeste brasileiro do futuro. A partir
da apropriação crítica desses aportes da ficção científica, os autores
partícipes do movimento intentam subverter estereótipos
estigmatizantes – e distópicos – associados à região, como a seca, as
retiradas, o coronelismo e o cangaço. Ora compondo histórias que
tipificam de maneira exemplar a categoria de distopia crítica (MOYLAN,
2000), ora alinhando-se a ramos da ficção científica orientados por uma
ótica crítica em relação ao futuro – como o solarpunk e o afrofuturismo
– a ficção sertãopunk reafirma reiteradamente seu substrato utópico.
Dado que essa imaginação utópica procede de uma celebração e um
enraizamento profundos em elementos culturais tradicionais do
Nordeste brasileiro, associados a um passado idealizado, propõe-se
interpretar o conteúdo do sertãopunk como correspondente a um
desdobramento da retrotopia, tal como entendida por Bauman (2017);
não estritamente reacionária, mas de um caráter emancipador
pautado na pluralidade de vivências afirmadas a partir da retomada de
relações pré-capitalistas perdidas diante do horizonte de
homogeneização inescapável da experiência do capitalismo tardio que
configura o cyberpunk.

PALAVRAS-CHAVE: Sertãopunk; Retrotopia; Distopia Crítica;


Cyberpunk.

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CARTOGRAFIAS DA CRISE
2º encontro do grupo de estudos distopia e contemporaneidade

DISTOPIAS TROPICAIS: BACURAU E MEDIDA PROVISÓRIA COMO


ELABORAÇÃO DE TRAUMA HISTÓRICO BRASILEIRO
Alice de Araujo Nascimento Pereira

RESUMO: Bacurau (2019) e Medida Provisória (2022) são recentes


filmes brasileiros movidos por um impulso distópico, retratando
sociedades futuras nas quais questões políticas e sociais do presente
são extrapoladas. No entanto, essas obras não se limitam a representar
anseios sobre o que já é ou que está por vir, mas também repensar e
ressignificar o passado. Tanto o racismo estrutural que perdura em
nossa sociedade como consequência da escravidão de pessoas negras,
quanto as desigualdades sociais profundas em nosso país tão centrais
para a constituição da identidade nacional brasileira são evidentes
nesses filmes. Suas implicações são fundamentais para as narrativas;
porém, para além do resgate dessas memórias traumáticas, ambos os
longa-metragens imaginam possibilidades de resistência e
reorganização social. Eles funcionam como elaboração de traumas
históricos e como projeções futuras de certo ideal utópico, semelhante
ao que acontece em outras obras latino-americanas desse gênero
(MERCIER, 2019). Outrossim, ao lançarem luz sobre a recuperação da
memória coletiva ao invés de se limitarem a uma nostalgia individual
como nas distopias clássicas, tais ficções prefiguram um horizonte de
esperança como projeto social (BACCOLLINI, 2004). Além disso,
buscamos refletir de que maneira esses filmes dialogam com nossa
experiência contemporânea. Nesse sentido, pretendemos investigar
como essas obras se apropriam das convenções da distopia clássica,
oriunda dos países hegemônicos, para retratar o Brasil, ampliando
metaforicamente circunstâncias contingenciais do sul global.

PALAVRAS-CHAVE: Cinema Brasileiro; Memória; Sul Global.

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CARTOGRAFIAS DA CRISE
2º encontro do grupo de estudos distopia e contemporaneidade

TIMEQUAKE (1997): A DISTOPIA TEMPORAL DE KURT VONNEGUT


Samuel Rede

RESUMO: Uma definição tradicional do que constituiria uma distopia


em literatura frequentemente a associa a um “mau lugar”, apartado
temporalmente e espacialmente da sociedade na qual foi concebida
por seu autor, uma extrapolação do presente que traz, com ela, um
aviso (SARGENT, 1994). Kurt Vonnegut foi um sobrevivente do
bombardeio de Dresden na Segunda Guerra Mundial e um dos maiores
escritores de Ficção Científica norte-americanos, particularmente
reconhecido por sua linguagem simples e didática que
frequentemente informa diretamente a moral de seu texto ao invés de
descortiná-la através da narrativa (OLDERMAN, 1972). Na literatura de
Vonnegut não faltam avisos, e a guerra e a modernização andam de
mãos dadas. Em Timequake (1997), um “tremor de tempo” transporta o
mundo inteiro uma década no passado, sentenciando todos a
repetirem cada ação tomada ao longo de dez anos novamente. Embora
realize o movimento tipicamente distópico de advertir contra forças
modernizadoras, a distopia de Timequake não se constrói em um outro
lugar, mas sim em um outro tempo, que não é projetado em direção ao
futuro, mas que faz do passado seu momento opressivo e inescapável.
Com Timequake, Vonnegut concluiu sua carreira como escritor
chamando atenção para a característica mais recorrente da dimensão
temporal de seus romances: a repetição que priva suas personagens do
livre-arbítrio. Este trabalho busca explorar, através do(s) conceito(s) de
distopia, a escrita distópica de Vonnegut não como a criação de um
“mau lugar”, mas de uma lenta erosão da capacidade de agir em nossa
própria sociedade, em nosso próprio tempo.

PALAVRAS-CHAVE: Kurt Vonnegut; Distopia; Tempo.

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CARTOGRAFIAS DA CRISE
2º encontro do grupo de estudos distopia e contemporaneidade

A TRILOGIA DISTÓPICA DE IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO: UMA ANÁLISE


SOBRE DEUS, O QUE QUER DE NÓS?
Mykaelle Ferreira

RESUMO: No conjunto da vasta obra literária produzida por Ignácio de


Loyola Brandão é possível verificar a construção de uma trilogia
distópica, composta pelos títulos Não verás país nenhum, publicado
originalmente em 1981, Desta terra nada vai sobrar, a não ser o vento
que sopra sobre ela (2018), e Deus, o que quer de nós? (2022). A respeito
do romance recém-publicado, considero que o escritor tece uma
distopia nefasta, ambientada em um futuro impreciso e com ares de
retrocesso. Em síntese, a história gira em torno do casal Evaristo e
Neluce, personagens que habitam um Brasil devastado pela crise
sanitária oriunda da pandemia “Funesta”, cuja disseminação é
celebrada pelo negacionismo científico do ser “Destemperado” que
governa o país. Trata-se de uma representação distópica da sociedade
brasileira contemporânea, a partir da perspectiva de personagens
fragilizadas e desconcertadas diante do horror derivado de situações
limítrofes, sem abdicar do humor cínico e do olhar perspicaz que
caracterizam as ficções distópicas do escritor. Para essa apresentação,
portanto, proponho um breve passeio pela trilogia distópica produzida
por Ignácio de Loyola Brandão, de modo que possamos comentar os
pontos de contato identificados nas obras, com o objetivo de elaborar
uma análise sobre o seu recente livro. Como aporte teórico, utilizo os
trabalhos de Ginway (2004), Tally Jr. (2019), Rosenfeld (2021), entre
outros.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Brasileira Contemporânea; Literatura
Brasileira; Distopia.

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