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1

V EFIBA
XXII SEMANA DE FILOSOFIA DA UESC

INTERFACES
CONTEMPORÂNEAS
DA FILOSOFIA

ILHÉUS
2023
2
V Encontro de Filosofia da Bahia – EFIBA /
22ª Semana de Filosofia da UESC
Ilhéus-BA: UESC, 2023.

Anais do V EFIBA. Interfaces Contemporâneas da Filosofia. /


Organização: Josué Cândido da Silva; Malcom Guimarães Rodrigues –
Ilhéus: UESC, 2023.
210p.

1. EFIBA. 2. Filosofia. 3. Ciências


Humanas. 4. Contemporâneo.

ISSN: 2358-5862

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COMISSÕES
Coordenação Geral
Josué Cândido da Silva (UESC)
Malcom Guimarães Rodrigues (UEFS)
Comissão organizadora
Alan da Silva Sampaio (UNEB)
Giovana Carmo Temple (UFRB)
Josué Cândido da Silva (UESC)
Juliana de Orione Arraes Fagundes (UESC)
Juliana Ortegosa Aggio (UFBA)
Malcom Guimarães Rodrigues (UEFS)
Paulo Gilberto Bertoni (UESB)
Roberto Sávio Rosa (UESC)
Simone Borges dos Santos (UFBA)
Zoêmia Núbia Sampaio de Souza (UESC)
Comitê Científico
Ademar Bogo (UESC)
Antônio Augusto Caldasso Couto (UESC)
Antônio Balbino Marçal Lima (UESC)
Antônio Janunzi Neto (UEFS)
Carlos Roberto Guimarães (UESC)
Caroline Vasconcelos Ribeiro (UESB)
Elizia Cristina Ferreira (UNILAB)
Frederik Moreira dos Santos (UFRB)
Jarlee Oliveira Silva Salviano (UFBA)
José Luiz de França Filho (UESC)
Juliana da Silva Pinheiro (UESC)
Júlio Celso Ribeiro de Vasconcelos (UEFS)
Laurênio Leite Sombra (UEFS)
Rafael dos Reis Ferreira (UFRB)
Roberto Sávio Rosa (UESC)
Rogério Tolfo (UESC)
Sagid Salles Ferreira (UESC)
Wagner Teles de Oliveira (UEFS)

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Promoção
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC)
Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)
Apoio Institucional
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC)
Apoio técnico
Amanda Moanna Santiago Ciriaco
Antonio Marco Borges
Flávia Silva Brasil
Mateus Santana Silva
Maria Luiza Nascimento

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Lista de Ilustrações
Todas as Ilustrações são fotografias de quadros do artista plástico
Almaques Gonçalves, disponíveis no Instagram @almaques.art.

1. Os dois Davis. 50x50 cm. 2023 (Capa)


2. Cabeça de Medusa. 60x60 cm. 2021. (Apresentação)
3. A Sibila Délfica. 100x100 cm. 2022. (Mesa I)
4. A morte de Marat. 100x100 cm. (II.)
5. Davi com as obras de arte. 80x100 cm. 2023. (III.)
6. Fragmento de São Jerônimo. 70x70 cm. 2023. (IV.)
7. Casa de couro da Carlos Gomes. 60x80 cm. 2022. (V.)
8. A rua é o museu do povo. 80x100 cm. 2019. (VI.)
9. São João Batista. 80x100 cm. 2022. (VII.)
10. A Estrela na Manhã. 100x100 cm. 2023. (VIII.)
11. O Jovem Baco. 100x100 cm. 2019. (IX.)
12. Ivan o Terrível. 100x100 cm. 2023. (X.)
13. A Vendedora de Temperos. 80x100 cm. 2023. (XI.)
14. Judith e Holofernes. 100x100 cm. 2022. (XII.)
15. O Malabarista. 80x100 cm. 2020. (XIII.)
16. São João Batista. 80x100 cm. 2023. (XIV.)
17. O Mito de Narciso. 80x10 cm. 2022. (Contracapa)

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SUMÁRIO

Lista de Ilustrações
Índice de Autores
APRESENTAÇÃO
PROGRAMAÇÃO
MINICURSOS
MESAS DE COMUNICAÇÕES

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I. FILOSOFIA ANTIGA E MEDIEVAL

O Existente Possível e o Existente Necessário em Avicena


Enzo Kleber Costa de Santana
A importância da dialé�ca em Aristóteles como método de
inves�gação filosófica
Érliton dos Santos Rocha
O conceito de verdade em Tomás de Aquino
Felipe Roque dos Santos
A primeira construção do cogito em Agos�nho de Hipona e a
cons�tuição de iden�dade fragmentada
Isabela de Jesus Neves
Os atributos divinos em Agos�nho de Hipona: Sobre o primeiro
parágrafo de Confissões
Leandro Texeira Daltro
Agos�nho de Hipona e a deificação como imersão na luz
imutável
Messias Nunes Correia
Sobre a relação entre a harmonia, o amor e o mundo n’O
Banquete
Nalanda Oliveira Lopes
Eros Pândemos, Eros Urânios e Eros Filosófico: um estudo sobre
o papel pedagógico do filósofo no “Banquete”
Alexia Oliveira Rodrigues

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II. FILOSOFIA MODERNA

O ce�cismo e a religião em Montaigne: Uma análise das


contraposições argumenta�vas
Beatriz Iva de Sales
Kant e o problema da afecção: um impasse entre o idealismo e o
realismo transcendentais
David Barroso Braga
Notas acerca da loucura na filosofia de Condillac
Kayk Oliveira Santos
É a linguagem ar�culada condição para o pensamento? Uma
análise da relação entre pensamento e linguagem à luz da
filosofia de Condillac
Mariana Moreira da Silva
A ilegi�midade e a origem da propriedade em J. J. Rousseau
Osmar dos Anjos Santos
Figura materna em Rousseau: notas sobre Confissões, I
Alice Pereira dos Santos
A comparação entre o homem e os animais: sobre a capacidade
de pensar DOS ANIMAIS
Sineone Kélvim Oliveira de Farias

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III. ÉTICA E ESTÉTICA

Nietzsche e Fernando Pessoa: Corpo, filosofia, literatura e


poé�ca
Enock O. S. Neto
O Casamento e o Sofrimento Feminino em Murasaki Shikibu
Através do Conto de Genji
Emilly de Souza Rodrigues
Enquadramento e fotos de guerra em Butler e Sontag
João Augusto Aquino Rocha
Corpos abjetos: Entre a narra�va e a navalha
Matheusa Lima dos Anjos
Correlações entre a espiritualidade, o feminino e o sagrado nas
obras de bell hooks e Hildegarda de Bingen
Fabia Fernanda Moura Ferreira
Filosofia e É�ca da Informação: análise filosófica-interdisciplinar
da Infosfera na autonomia humana
Gabriel Fefin Machado
Memória e emoção criadora na canção Cajuína, de Caetano
Veloso
Cátia Brito dos Santos Nunes
Jorge Garcia Marín

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IV. MARXISMO E TEORIA CRÍTICA

Jovem Karl Marx: luta de classes, ideologia e emancipação


Carlos Alberto Nunes Junior
Notas sobre o conhecimento em Lênin
Fernando Pereira dos Santos
Fe�chismo em Marx
Noel Vieira da Silva Neto
O desvio revolucionário ou do giro sobre si mesmo
Roberto Kennedy de Lemos Bastos
A modernidade benjaminiana: choque, aura e técnica
Filipe E. S. Silva
Passagens Baudelairianas: alegoria, ruína e transitoriedade em
Walter Benjamin
Francisco Gabriel Soares da Silva
Notas sobre o vínculo entre antagonismos sociais e sofrimento
em Theodor Adorno
Gabriel Kugnharski
Beauvoir dialoga com o marxismo: materialismo histórico e a
opressão da mulher
Larissa Fernandez de Andrade Santos

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V. TEORIA DO CONHECIMENTO E FILOSOFIA DA CIÊNCIA

Cartografia como prá�ca epistêmica indisciplinar: as


intensidades que se mobilizam por entre as fronteiras
hegemônicas
José Roberto Silva de Oliveira
Algumas reflexões sobre o caráter dialé�co da epistemologia
química bachelardiana
Lisandro Bacelar da Silva
O que há de exploratório na exploração epistêmica?
Milena Oliveira Pires
Princípios do entendimento: o papel secundário da razão
Regiane Rodrigues Oliveira Novais
O problema pragmá�co da indução e o racionalismo crí�co de
Popper
Emily de Oliveira Ovalhe
Raciocínio abdu�vo e as prá�cas de ciência aberta
Mariana Vitti Rodrigues
Conexões e desconexões acerca da teoria do método cien�fico
na micro-epistemologia de Gaston Bachelard e na epistemologia
de Karl Popper
Ângelo Márcio Macedo Gonçalves

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VI. FILOSOFIA E EDUCAÇÃO

Licenciatura em Filosofia: alguns dilemas no processo forma�vo


Edna Furukawa Pimentel
Infância e Filosofia: o pensamento acerca do brincar
Ana Paula Silva dos Santos
Conhecimentos tradicionais e ancestralidades: Por uma Filosofia
do Encantamento
Lincoln Nascimento Cunha Júnior
Educação con�nuada: as discordâncias entre os fundamentos
polí�cos e o curso de licenciatura
Marília Gabriella Emidio Dos Santos
Educação Decolonial
Angelis Freitas Ribeiro Silva
Questões de gênero no currículo de filosofia: análise do livro
didá�co PNLD-2021
Romualdo Batista Malaquias
Kayo Henrique Farias de Araujo Ferreira
Gênero e Sexualidade: a ausência do debate nos espaços
escolares e nos livros didá�cos
Edinei Araujo Santos
Filosofia para um ensino feminista
Rebeca Paixão Barreto dos Santos

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VII. FILOSOFIA E QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS

Racismo e cultura a par�r de Frantz Fanon


David Passos Dantas
Sobre a violência: uma leitura de Frantz Fanon
Filipe Santos de Melo
A iden�dade de estudantes quilombolas na UFBA: um enfoque
metodológico
Paulo Alberto Sobral de Moraes
Temas e questões étnico-raciais para crianças: Imagens e
conceitos através de contos filosófico-literários
Eliene Macedo Silva
A este�zação do mundo e um afrofuturo ameaçado
Ana Beatriz de Lima Correia
Blues como fonte de reconhecimento, força e poder da mulher
negra: uma apresentação do pensamento de Angela Davis
Julia Coelho Gomes Seixas da Fonseca
Para acabar com o mito das “cités guetos” – A referenciação das
terminologias norte-americanas como apagamento das
realidades periféricas ao redor do globo
Ivonei Guedes Evangelista
Silêncio como uma forma de opressão. A máscara Meta�sica
Kelly Santos Marques

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VIII. FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA I

A segunda pessoa: uma possível caracterização unificada?


Felipe Eleutério Pereira
A linguagem no Tractatus de Witgenstein: da ontologia aos
indiscerníveis
Juan Erlle Cunha de Oliveira
Intencionalidade e convencionalidade dos atos de fala na teoria
da interpretação de Quen�n Skinner
Pedro Augusto Dias Rocha
Mar�n Heidegger: a interpretação tradicional da linguagem e
seus limites
Hércules Pedreira Oliveira
A experiência da linguagem na poesia Segundo Heidegger
Paulo Cesar do Nascimento Costa
O existencialismo em Sartre: o que diz respeito ao homem
discute sobre a escolha de si mesmo
Gelzania Silva de Santana
Ero�smo e morte em Georges Bataille
Matheus Almeida Lopes

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IX. ENSINO DE FILOSOFIA

O processo de ensino aprendizagem na Filosofia através do


Cinema: Formação de Professores de Filosofia no Pibid-UNEB
Cláudio Magalhães Batista
Moral fechada e moral aberta: Uma reflexão nas aulas filosofia
do ensino médio
Iranildes Oliveira Delfino
O uso de crônicas de Machado de Assis na abordagem de
questões étnico-raciais
Daiane Soares dos Santos
Por um Ensino de Filosofia Intercultural Crí�co a par�r dos
povos sertânicos mediado pela pedagogia do fuxico
Jorge Luiz Nery de Santana
A pedagógica da libertação
Lucélia Novaes Lima
A relação entre filosofia intercultural e pluriversalidade:
contribuições para o ensino de filosofia
Ludimila de Araújo Pereira
A importância de um currículo decolonial na Filosofia
Ludymila Sena dos Santos
Uma reflexão sobre a relevância do PIBID na formação inicial de
professores: ao analisar os desafios do ensino de filosofia na
contemporaneidade
Mateus Santana Silva

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X. FILOSOFIA, CULTURA E POLÍTICA

A mí�ca contemporânea impressa no universo dos heróis


Emerson Cruz dos Santos
Espetacularização, privacidade e consumo explorados pela
mídia: uma ar�culação entre o filme O show de Truman, a
televisão e o esclarecimento
Renivalda Jesus Santos
Cinema e anime
Douglas Ferreira Reis
Uma análise filosófica: o cinema em questão
Julio Marcelo Leite Patriota
Yasmin Lira da Silva
Biopolí�ca e Neoliberalismo
Paulo Gilberto Bertoni
Sentenciado à morte: a tanatopolí�ca em decisões penais
condenatórias
Aglaé Caroline Santos Carneiro
Crí�ca à filosofia eurocentrada: noções para uma filosofia
insurgente
Cleiton de Aragão Alves
A Filosofia do Direito de Hans Kelsen: uma análise crí�ca
Ednan Galvão Santos

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XI. FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA II

Michel Foucault: a crí�ca como a�tude


João Vitor dos Santos Cruz
O perspec�vismo nietzschiano sob a ó�ca da vontade de
potência
Mônica Souza de Oliveira
Entre a resistência, a desistência e a reinvenção de gênero:
perspec�vas à luz de Foucault e Butler
Stefano Dazzi
Tensão entre cuidado e renúncia de si em Michel Foucault: a
emergência da espiritualidade cristã
José Adriano Santana de Jesus
Ensaio sobre a liberdade: a situação
Daila Ataíde dos Santos
O conceito de liberdade em Luiz Gama
Ivanildo Soares Dos Santos
O conceito de vontade livre na Filosofia do Direito de Hegel
Geovane Rocha da Silva
A exterioridade como categoria fundamental da filosofia da
libertação de Enrique Dussel
Bianca da Silva
Marianne da Silva Nascimento
Direito à vida em Hegel
Taiane Andrade Ornelas

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XII. FENOMENOLOGIA E PSICANÁLISE

A compreensão existencial de corpo: considerações a par�r do


pensamento de Heidegger
José Isaac Costa Júnior
Caroline Vasconcelos Ribeiro.
Uma possível análise heideggeriana da tela “Sem esperança” de
Frida Kahlo
Marília Santos Silva
Caroline Vasconcelos Ribeiro.
A psicanálise de Winnicot obje�fica o ser humano? Um olhar a
par�r das discussões de Heidegger nos Seminários de Zollikon
Naiane Santos Matos
Caroline Vasconcelos Ribeiro
A dicotomia corpo-mente na filosofia cartesiana e a
pareceria psique-soma na psicanálise winnico�ana
Nicole Dias da Silva
Caroline Vasconcelos Ribeiro
Conhecimento e Interesse: A Psicanálise como Autorreflexão
Paula Mariana Entrudo Rech
Vincent van Gogh à luz de Winnicot e Nietzsche: a arte como
cuidado e afirmação do exis�r
Abraão Vinicius Vieira Guimarães
O lugar da afe�vidade no envio do ser
Mariana Marcelino Silva Alvares
A espacialidade e a corporeidade no ser-no-mundo de
Heidegger
Arlindo Antonio do Nascimento Neto

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XIII. FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA III

Sobre a hipótese de uma teoria geral do julgamento em Paul


Ricoeur
José Carlos da Silva Simplício
Roberto Roque Lauxen
A primazia do tempo sobre a mudança na caracterização da
teoria do reconhecimento em Paul Ricoeur
Leidiane Ribeiro Silva
Elton Moreira Quadros
O emo�vismo e u�litarismo e a decadência da é�ca
contemporânea segundo Alasdayr Macyn�re
Gilvane Silva Nascimento
A crí�ca de Sartre a Husserl como crí�ca possível à compreensão
moderna de subje�vidade
Valério Cássio Silva de Oliveira Junior
A questão do perdão: diferenças entre Paul Ricoeur e Hannah
Arendt
Vitor Otavio Santos dos Anjos
Sobre o conceito de droga. E algumas notas acerca da sua
proibição
Flávio Rocha de Deus

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XIV. FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA IV

Ques�onar o cânone filosófico: uma possibilidade de filosofia a


par�r de Gloria Anzaldúa
Ianna Laura Ferreira Simões de Almeida
Vanessa de Araújo Elisbão
A transa entre tudo o que contém pensamento
João Victor Damião Gordiano
As condições da expressão subje�va e do autoconhecimento
Rafael Fernandes Mendes dos Santos
Dialé�ca como apropriação e devoração: para uma filosofia
modernista
Rodrigo Ornelas
A concepção de pessoa no personalismo mounieriano em
comparação às correntes marxista e existencialista
Gabriel Sousa Suzart

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Índice de Autores
Abraão Vinicius Vieira Guimarães
Aglaé Caroline Santos Carneiro
Alexia Oliveira Rodrigues
Alice Pereira dos Santos
Ana Beatriz de Lima Correia
Ana Paula Silva dos Santos
Angelis Freitas Ribeiro Silva
Ângelo Márcio Macedo Gonçalves
Arlindo Antonio do Nascimento Neto
Beatriz Iva de Sales
Bianca da Silva
Carlos Alberto Nunes Junior
Caroline Vasconcelos Ribeiro
Cátia Brito dos Santos Nunes
Cláudio Magalhães Batista
Cleiton de Aragão Alves
Daiane Soares dos Santos
Daila Ataíde dos Santos
David Barroso Braga
David Passos Dantas
Douglas Ferreira Reis
Edinei Araujo Santos
Edna Furukawa Pimentel
Ednan Galvão Santos
Eliene Macedo Silva
Elton Moreira Quadros
Emerson Cruz dos Santos
Emilly de Souza Rodrigues
Emily de Oliveira Ovalhe
Enock O. S. Neto
Enzo Kleber Costa de Santana
Érliton dos Santos Rocha
Felipe Eleutério Pereira
Felipe Roque dos Santos
Fernando Pereira dos Santos
Filipe E. S. Silva

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Filipe Santos de Melo
Flávio Rocha de Deus
Francisco Gabriel Soares da Silva
Gabriel Fefin Machado
Gabriel Kugnharski
Gabriel Sousa Suzart
Gelzania Silva de Santana
Geovane Rocha da Silva
Gilvane Silva Nascimento
Hércules Pedreira Oliveira
Hildegarda de Bingen
Ianna Laura Ferreira Simões de Almeida
Iranildes Oliveira Delfino
Isabela de Jesus Neves
Ivanildo Soares dos Santos
Ivonei Guedes Evangelista
João Augusto Aquino Rocha
João Victor Damião Gordiano
João Vitor dos Santos Cruz
Jorge Garcia Marín
Jorge Luiz Nery de Santana
José Adriano Santana de Jesus
José Carlos da Silva Simplício
José Isaac Costa Júnior
José Roberto Silva de Oliveira
Juan Erlle Cunha de Oliveira
Julia Coelho Gomes Seixas da Fonseca
Julio Marcelo Leite Patriota
Kayk Oliveira Santos
Kayo Henrique Farias de Araujo Ferreira
Kelly Santos Marques
Larissa Fernandez de Andrade Santos
Leandro Texeira Daltro
Leidiane Ribeiro Silva
Lincoln Nascimento Cunha Júnior
Lisandro Bacelar da Silva
Lucélia Novaes Lima

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Ludimila de Araújo Pereira
Ludymila Sena dos Santos
Mariana Marcelino Silva Alvares
Mariana Moreira da Silva
Mariana Vitti Rodrigues
Marianne da Silva Nascimento
Marília Gabriella Emidio Dos Santos
Marília Santos Silva
Mateus Santana Silva
Matheus Almeida Lopes
Matheusa Lima dos Anjos
Messias Nunes Correia
Milena Oliveira Pires
Mônica Souza de Oliveira
Naiane Santos Matos
Nalanda Oliveira Lopes
Nicole Dias da Silva
Noel Vieira da Silva Neto
Osmar dos Anjos Santos
Paula Mariana Entrudo Rech
Paulo Alberto Sobral de Moraes
Paulo Cesar do Nascimento Costa
Paulo Gilberto Bertoni
Pedro Augusto Dias Rocha
Rafael Fernandes Mendes dos Santos
Rebeca Paixão Barreto dos Santos
Regiane Rodrigues Oliveira Novais
Renivalda Jesus Santos
Roberto Kennedy de Lemos Bastos
Roberto Roque Lauxen
Rodrigo Ornelas
Romualdo Batista Malaquias
Sineone Kélvim Oliveira de Farias
Stefano Dazzi
Taiane Andrade Ornelas
Valério Cássio Silva de Oliveira Junior
Vitor Otavio Santos dos Anjos
Yasmin Lira da Silva

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APRESENTAÇÃO

O Encontro de Filosofia da Bahia (EFIBA) reúne as seis


Universidades Públicas da Bahia que possuem curso de filosofia:
UESC, UEFS, UESB, UNEB, UFBA e UFRB. Chegamos à sua quinta
edição com o tema “Interfaces Contemporâneas da Filosofia”,
sediada pela UESC/Ilhéus unindo forças à vigésima segunda
Semana de Filosofia da UESC, de 16 e 20 de outubro de 2023. Sobre
o EFIBA, especificamente, a primeira edição ocorreu em 2014, foi
em Feira de Santana (UEFS). A segunda, no ano seguinte, em
Salvador (UFBA). Em função do con�ngenciamento de verbas
públicas, a terceira só ocorreu em 2019, desta vez, em Salvador
(UFBA) e em Feira de Santana (UEFS). Em 2022, ainda
correspondendo a medidas de contenção da pandemia, e liderados
pela UFRB, a quarta edição ocorreu de modo virtual, com o tema
“Filosofia, Ciência Humana e o Ensino da Filosofia”. Oxalá,
doravante, consigamos realizar edições bienais.
O EFIBA cumpre o papel de fomentar a produção cien�fica da área
de Filosofia. Ao divulgar esta produção, favorece, sobretudo, o
debate, o intercâmbio e a atualização dos pesquisadores baianos
entre si – graduandos, bolsista PIBIC e PIBID, mestrandos e
doutorandos, professores do Ensino Médio e do Superior –, e
destes com os pesquisadores convidados ao evento ou nele
inscritos (da EXETER/Inglaterra, UEL, UFC, UFCG, UFMG, UFRS, UFS,
UnB, UnDF, UNESP, UNESP-FFC, UNIFESP, UP/Portugal,
USC/Espanha, e USP). Neste ano, mais de uma centena de estudos,
dispostas em 14 mesas de comunicações, além das palestras e de
5 minicursos. Caravanas partem de Amargosa, Feira de Santana,
Salvador e Vitória da Conquista para uma tal celebração.

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A rigor, toda filosofia, todo comentário filosófico apresentado no
encontro é contemporâneo. Platão, Aristóteles, Avicena, Tomás de
Aquino são de novo revisitados, mas quando escutamos os
comentários, eles são contemporâneos, talvez mais claramente
quando se fala sobre cons�tuição de iden�dade fragmentada, mas
também quando se ques�onam os atributos divinos. No mesmo
sen�do, os estudos sobre Montaigne, Descartes, Condillac,
Rousseau, Kant, quer por falar da representação maquinal,
cartesiana, dos animais ou confrontar o ce�cismo com a religião ou
ainda destacar a figura materna nas confissões de um filósofo. Eles
são contemporâneos aos estudos sobre corpo feitos a par�r de
Judith Butler. Apresentam-se na mesma sala pesquisas sobre
corpos abjetos, des�tuídos de ontologia. Assim ainda,
contemporâneos do estudo sobre a emergência da espiritualidade
cristã conforme Foucault. Mas também se pode encontrar em um
pensamento an�go, medieval ou moderno uma atualidade, por
exemplo, na relação entre a espiritualidade, o feminino e o sagrado
em bell hooks e Hildegarda de Bingen.
Por outro lado, em sen�do estrito, filosofia contemporânea seria
aquela que, tal qual um centauro, tem como alvo este nosso
tempo, como no caso das pesquisas sobre: a linguagem a par�r de
Heidegger ou de Witgenstein; a discursividade dos corpos a par�r
da teoria da performa�vidade; sobre o método cien�fico;
representação e opressão; cinema e teoria crí�ca; marxismo e
feminismo; violência e descolonização desde Frantz Fanon; música
e reconhecimento da mulher negra segundo Angela Davis; as
relações entre neoliberalismo, biopolí�ca e necropolí�ca; o caráter
polí�co da educação, com enfoque especial às questões étnico-
raciais, e de gênero e sexualidade.
Mesmo a mais misógina e colonial das áreas, quase exclusivamente
eurocêntrica, sofre uma mudança significa�va. Na Filosofia,
sempre foram tema�zadas as questões de raça, classe, gênero e
sexualidade, desde Platão pelo menos. O que é propriamente

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contemporâneo é seu acento, que deixa de servir a representações
castradoras para contestar o caráter opressivo dessas
representações e descrever as estratégias de resistência e
superação. É nesse sen�do que é próprio de nosso tempo e local
inves�gar o conceito de liberdade em Luiz Gama, advogado e
intelectual abolicionista do século XIX, indagar sobre a expressão
do corpo e o desterro existencial em Frida Kahlo, pintora mexicana
da primeira metade do século XX, ou reler a crí�ca “feminista” ao
casamento de Murasaki Shikibu, escritora e aristocrata japonesa
do início do milênio passado. Este movimento contemporâneo
aponta para uma quebra com a tradição ocidental, para explodir,
como dizia Benjamin, o continuum da história, neste caso, da
História da Filosofia.
Para cada seção, há uma ilustração do ar�sta baiano Almaques
Gonçalves. Seus quadros retratam o Centro da Cidade da Bahia,
com seus ambulantes, construções históricas, pixações, e colado
ou encostado na paredee, quadros, ilustrações, esculturas de
pintores, escultores, fotógrafos. Assim, muitas vezes pintores
clássicos como Bo�celli, Leonardo, Michelangelo, Rafael, e
sobretudo Caravaggio) estão do lado de Carybé, Verger, Mario
Cravo Jr., Ismael Nery, Por�nari, Rubem Valen�m, Carlos Bastos.
Suas pinturas são contemporâneas porque atualizam o clássico a
par�r da vida urbana e provocam uma experiência esté�ca a par�r
de uma historicidade da pintura que se abre no encontro entre
Ivan, o terrível (1885) de Ilia Repin e o grafite de mulheres rosas
libertárias de Taliboy, ou como se autoin�tula, Guerrilheira Urbana
e Ar�sta de Fachada. Ou a Medusa (1596) de Caravaggio pintada
em alguma parede velha, ainda por terminar, um azulejo
português, cartazes com Iaôs de Oxumarê, Ogum, Oxóssi, Yemanjá
e Oxum por Carybé, faces do surrealismo sombrio de Ismael Nery,
fotografia em preto e branco de Robert Mapplethorpe, e uma
pixação soteropolitana do verme de LVC.

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O EFIBA, ao buscar as interfaces contemporâneas da Filosofia, quer
ser um espaço de abertura a outras formas de saber, sen�r e
pensar em um diálogo crí�co que busca uma compreensão mais
ampla dos desafios de nossa época, e, ao mesmo tempo, contribuir
para o movimento de revisão de nossos currículos.
Boas leituras, bons encontros!

Comissão Organizadora

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PROGRAMAÇÃO

16/10 – Segunda-Feira

14-18h – Credenciamento
19h – Abertura – Magnífico reitor da UESC – Alessandro
Fernandes de Santana
19h30 – Conferência de abertura – A ironia e o jogo com os
limites da razão
Sílvia Faustino de Assis Saes (UFBA)

17/10 – Terça-Feira

8-12h – Minicurso
14-18h – Sessões de comunicações
18-19h – Lançamento de livros no foyer do auditório Paulo Souto
19h – Mesa redonda – Ética e Política: Violências
Contemporâneas
Relação entre neoliberalismo, prisões e raça
Simone Borges (UFBA)
A face oculta da democracia: violência e política
Edson Teles (UNIFESP)
Crítica da faculdade de punir
Alan Sampaio (UNEB)

18/10 – Quarta-Feira

8-12h – Minicurso
14-18h – Sessões de comunicações
18-19h – Lançamento de livros no foyer do auditório Paulo Souto
19h – Mesa redonda – Filosofia, ensino e extensão
Mediadora: Zoêmia Núbia Sampaio de Souza (UESC)
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Filosofia, ensino e extensão
Carlos Alberto Albertuni (UEL)
A experiência extensionista no curso de Licenciatura em
Filosofia da UFRB
Geovana da Paz Monteiro (UFRB)

19/10 – Quinta-Feira

8-12h – Minicurso
14-18h – Sessões de comunicações
18-19h – Apresentação musical no foyer do auditório Paulo Souto
19h – Apresentação teatral
19h30 – Mesa redonda – Filosofia, arte e cultura
Mediador: Roberto Sávio Rosa (UESC)
Wagnerianas: A teatralidade como argumento e ação
Marcus Santos Mota (UNB)
Arte e Filosofia como Políticas Culturais
Fabrício Silva de Brito (Coordenador do EFITEBA)

20/10 – Sexta-Feira

8-12h – Minicurso
14-18h – Sessões de comunicações
18-19h – Apresentação musical no foyer do auditório Paulo Souto
19h – Conferência de encerramento – Abordagens pluralistas
da Filosofia: Interfaces da reflexão sobre o sentido da vida
Maria Eunice Quilici Gonzales (UNESP)

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MINICURSOS
Complexidade, Informação e Criatividade na Era dos Big Data –
Profa. Dra. Maria Eunice Quilici Gonzales (UNESP)
Profa. Dra. Mariana Vitti Rodrigues (EXETER – Inglaterra)
Data: 17 e 18/10 – 9h -12h
Local: Auditório do Pavilhão Max Menezes

Razão Prática e falibilidade moral em Tomás de Aquino – Prof. Dr.


Carlos Alberto Albertuni (UEL)
Data: 17 e 18/10 – 8-12h
Local: Sala de Reuniões do DFCH – 2º andar Pavilhão Adonias Filho

O Ensino em Tomás de Aquino –


Prof. Dr. Antonio Janunzi Neto (UEFS)
Data: 18 e 19/10 – 8-12h
Local: Sala de Multimeios da Comunicação Social – 1º andar
Pavilhão Adonias Filho

Introdução ao estudo de Richard Wagner: Contextos,


Dramaturgia e Música –
Prof. Dr. Marcus Santos Mota (UnB)
Data: 19 e 20/10 – 8-12h
Local: Sala Multimeios de Economia – Sala 1113 1º andar Pavilhão
Pedro Calmon

Filosofias Contemporâneas da Natureza: Ontologia e Políticas


Ecológicas –
Prof. Dr. Otávio Souza e Rocha Dias Maciel (PPGFIL-UnB/UnDF)
Data: 19 e 20/10 – 8-12h
Local: Sala de Reuniões de Reuniões do DFCH – 2º andar Pavilhão
Adonias Filho

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MESAS DE COMUNICAÇÕES

I. Filosofia An�ga e Medieval


II. Filosofia Moderna
III. É�ca e Esté�ca
IV. Marxismo e Teoria Crí�ca
V. Teoria do Conhecimento e Filosofia da Ciência
VI. Filosofia e Educação
VII. Filosofia e Questões Étnico-Raciais
VIII. Filosofia Contemporânea
IX. Ensino de Filosofia
X. Filosofia, Cultura e Polí�ca
XI. Filosofia Contemporânea
XII. Fenomenologia e Psicanálise
XIII. Filosofia Contemporânea
XIV. Filosofia Contemporânea

33
FILOSOFIA ANTIGA E MEDIEVAL

17/10
Terça
Sala
221

34
O EXISTENTE POSSÍVEL E O EXISTENTE NECESSÁRIO EM AVICENA

Enzo Kleber Costa de Santana


Graduando em Filosofia - UFRB
enzo.kcs@gmail.com

Nessa apresentação, meu obje�vo é inves�gar os conceitos de


“Existente Possível” e “Existente Necessário” propostos por
Avicena. Estes conceitos são desenvolvidos no sexto capítulo do
primeiro livro da Metafísica da Shifá. Para uma compreensão mais
precisa desses conceitos, examinarei também o primeiro capítulo
desse mesmo livro, a fim de estabelecer um contexto adequado
para o que será abordado posteriormente. No primeiro capítulo,
Avicena aborda a divisão da ciência filosófica em duas categorias
principais: teórica e prá�ca. Além disso, explicita a ciência teórica
em três subdivisões para, por fim, tratar do sujeito da ciência
divina, apresentando uma visão mais pormenorizada sobre o
sujeito dessa ciência. Nessa perspec�va, apresentarei a dis�nção
aviceniana entre existente possível e existente necessário no sexto
capítulo em confronto com o que se apresenta no primeiro
capítulo. Meu intuito será, nessa comparação, analisar a dis�nção
entre os �pos de “existente” e o mo�vo pelo qual Avicena
apresenta o existente como sujeito da ciência divina.
Palavras-chave: Avicena; Existência; Necessidade; Possibilidade;
Ciência.

35
A IMPORTÂNCIA DA DIALÉTICA EM ARISTÓTELES COMO MÉTODO
DE INVESTIGAÇÃO FILOSÓFICA

Érliton dos Santos Rocha


Graduando em Filosofia - UFRB
erlitonrochkllk@gmail.com

Segundo Aristóteles, a Dialé�ca possui um papel propedêu�co nas


ciências filosóficas. No livro Tópicos, o filósofo aborda a Dialé�ca
como método de inves�gação que nos capacita a raciocinar e não
cair em contradições, par�ndo das opiniões geralmente aceitas.
Dialé�ca é um �po de raciocínio donde se parte de opiniões
geralmente aceitas e não necessariamente de premissas
verdadeiras e primeiras, a fim de se iden�ficar suas partes, isto é,
os atributos de uma proposição resultante ou uma tese, que
corresponde ao gênero, à peculiaridade e ao acidente, para, com
isso, apreender as categorias dos predicados, permi�ndo
compreender a natureza do objeto em discussão. É proposto,
então, por Aristóteles, com a Dialé�ca, a necessidade de um
método analí�co, no sen�do em que consiste em compreender as
partes que compõem uma proposição que formam uma tese. A
Dialé�ca é, portanto, essencial tanto para a�vidades que
promovem o raciocínio, exercício para o intelecto e encontros
casuais, quanto para as próprias ciências filosóficas. Nosso obje�vo
nesta comunicação é, então, com base nos Tópicos de Aristóteles,
apresentar e explicar essa definição de Dialé�ca, exemplos de sua
aplicação e, com isso, mostrar sua relevância para a Filosofia. Essa
comunicação é parte dos resultados da pesquisa de iniciação
cien�fica in�tulada “Dialé�ca, Lógica e Retórica em Aristóteles”
que estamos desenvolvendo.
Palavras-chave: Dialé�ca; Aristóteles; Método de Inves�gação;
Argumentação; Aristóteles; Ciência filosófica.

36
O CONCEITO DE VERDADE EM TOMÁS DE AQUINO

Felipe Roque dos Santos


Graduando em Filosofia - UFRB
roquesantos820874@gmail.com

Nessa apresentação, pretendo inves�gar o conceito de verdade em


Tomás de Aquino. Para tanto, examinarei de veritate, q. 1, a. 1.
Nesse texto, Tomás se propõe a fazer uma análise sobre as
caracterís�cas do ente e da verdade, inicialmente considerando
que ente e verdade são idên�cos por razão. Para cumprir seu
propósito, Tomás se u�liza de um grupo de autoridades da época,
visando, estrategicamente, discu�r qual definição de verdade seria
mais apropriada. Além disso, no mesmo texto, Tomás discute sobre
alguns conceitos que, posteriormente, foram designados como
transcendentais, mas que ele denomina como noções gerais do
ente. Meu intuito nessa apresentação consiste, portanto, em
explicitar, por um lado, a importância do De veritate, q. 1, a. 1 para
a definição de verdade em Tomás e, por outro lado, inves�gar o
alcance da apresentação da noção de verdade como um modo
geral do ente ou como transcendental.
Palavras-Chave: Ente; Verdade; Definição.

37
A PRIMEIRA CONSTRUÇÃO DO COGITO EM AGOSTINHO DE
HIPONA E A CONSTITUIÇÃO DE IDENTIDADE FRAGMENTADA

Isabela de Jesus Neves


Graduanda em Filosofia - UFRB
Isabela5657bel@gmail.com

Este presente trabalho visa através da obra Confissões de


Agos�nho de Hipona, compreender a primeira construção do
cogito agos�niano e a cons�tuição de iden�dade fragmentada,
inves�gando especificamente o livro I. Neste contexto, em seus
escritos Agos�nho realiza um ques�onamento sobre: “o que eu
sou?”. A questão levantada por Agos�nho parte de uma
inves�gação sobre seus escritos autobiográficos, que apresentam
Deus como o fundamento para a felicidade, sabedoria e verdade,
enquanto ao “homem” imperfeição e fragmentariedade.
Consequentemente, Agos�nho de Hipona inicia uma inves�gação
baseada na comprovação do cogito, tendo em vista que por meio
da validação da existência de si mesmo não se pode negar
nenhuma outra verdade cognoscível, inclusive do divino. Além
disso, esta inves�gação agos�niana visava não apenas a
comprovação da existência de Deus, como promove o encontro
com a primeira natureza do eu, que será nosso objeto de análise.
Com efeito, Agos�nho ao desenvolver em sua autobiografia o
conjunto de questões apresentadas, demonstra através de seu
método inves�ga�vo, como que a par�r da comprovação do cogito
ocorre o primeiro passo para o conhecimento de si e
consequentemente a cons�tuição de iden�dade fragmentada. O
obje�vo do presente trabalho consiste, portanto, em analisar por
meio da comprovação do cogito, como o primeiro ques�onamento
da natureza do eu e primeira noção de iden�dade se cons�tui.
Palavras-chave: Cogito; Iden�dade; Agos�nho de Hipona.

38
OS ATRIBUTOS DIVINOS EM AGOSTINHO DE HIPONA: SOBRE O
PRIMEIRO PARÁGRAFO DE CONFISSÕES

Leandro Texeira Daltro


Graduando em Filosofia - UFRB
leandrotaltro6@gmail.com

Nessa apresentação, meu obje�vo consiste em examinar o


estatuto dos atributos divinos em Agos�nho de Hipona. Para tanto,
examinarei o primeiro parágrafo do livro 1 da obra Confissões.
Nesse parágrafo, Agos�nho retrata a divindade como superior e
expressa isso com termos superla�vos em comparação às
criaturas. De acordo com Agos�nho, o verbo invocar é usado para
diferenciar a relação entre a divindade e as criaturas, uma vez que
o ser humano, criatura, é caracterizado como fragmento, pecador
e que, ao esboçar uma aproximação invoca�va com a divindade,
acaba incorrendo num círculo incontornável. A divindade, por sua
vez, é caracterizada como grande, potente, imortal, sábia e
inumerável. Diante dessas caracterizações, Agos�nho se ques�ona
sobre o alcance do louvor e da invocação. Nessa apresentação,
pretendo, portanto, explicitar como o parágrafo inicial, com as
caracterizações dos atributos divinos em relação com as criaturas,
torna-se determinante para a jus�fica�va argumenta�va de
Agos�nho na redação de Confissões.
Palavras-chave: Superioridade; Inferioridade; Relação; Agos�nho.

39
AGOSTINHO DE HIPONA E A DEIFICAÇÃO COMO IMERSÃO NA LUZ
IMUTÁVEL

Messias Nunes Correia


Doutorando em Filosofia - UFS
messiasnc@hotmail.com

O ar�go evidencia um dos meios pelos quais Agos�nho situa o


processo de deificação do ser humano, que é a imersão na Luz
Imutável. Para o hiponense, não pode haver divinização da criatura
agindo esta por si, como se encontrasse, em suas próprias ap�dões
e vontade, o caminho suficiente de união com o divino. Nesse
sen�do, o i�nerário deificante é mediado pela ação da graça que
atua na natureza humana transformando-a, para que, uma vez
iluminada pela Luz do Verbo, alcance a perfeita união com a
divindade. Nessa direção, a deificação seria a meta a ser alcançada
pela natureza humana em seu i�nerário para Deus. Para isso, o
filósofo de Hipona realiza uma dis�nção entre a luz criada e a
incriada e chega afirmar que a existência de todas as coisas se dá
pela impressão e ordenamento da Luz Imutável, que no fiat lux cria
e organiza o cosmo. É essa Luz que deifica a criatura humana e, sem
ela, a natureza estaria em estado permanecente de aversio e de
miséria. Diante disso, essa comunicação pretende responder como
o doutor da graça constrói esse i�nerário de iluminação do homem
todo deificado.
Palavras-Chave: Agos�nho; Natureza humana; Iluminação;
Deificação.

40
SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A HARMONIA, O AMOR E O MUNDO
N’O BANQUETE

Nalanda Oliveira Lopes


Graduanda em Filosofia - UFBA
nalandalopes159@hotmail.com

A pesquisa, que se encontra em progresso, tem como base o


diálogo O Banquete de Platão, mais especificamente inves�ga
sobre como a harmonia aparece no elogio de Erixímaco ao Eros.
No intento de inves�gar, de modo geral, o termo harmonia e a sua
importância para o exercício filosófico explicitado no discurso de
Dio�ma, a pesquisa perpassa por obje�vos específicos, como a
inves�gação do termo em dois pensadores anteriores a Platão. O
ponto de par�da tomado é a tradição pitagórica, tendo em vista
entender como o termo harmonia era pensado nesse contexto.
Para isso, os fragmentos de Filolau são analisados. Ademais, ao
decorrer do estudo, uma análise dos fragmentos de Heráclito é
feita, com o obje�vo de observar como este autor da an�guidade
pensa a harmonia. A análise de como a harmonia é desenvolvida
nas tradições citadas decorre da necessidade de entender como a
concepção de harmonia se apresenta n’O Banquete, uma obra
posterior. É possível por meio do estudo dos fragmentos, tanto de
Filolau quanto de Heráclito, traçar um panorama compara�vo para
o exame da concepção de harmonia na obra de Platão, além de
possíveis diferenças e similaridades. Ao passo que o discurso de
Erixímaco, um médico, é desenvolvido almejando elogiar Eros e
explicitar sua concepção sobre este, que se apresenta com tantas
faces sob tantos discursos ao decorrer d’O Banquete. A análise
deste processo é um dos principais núcleos da inves�gação. Para o
médico, o Eros é duplo e presente em todas as coisas, e para
explicar como a dinâmica amorosa ocorre, Erixímaco u�liza de
algumas artes: a medicina, a música, a astronomia e a arte
divinatória. Ao decorrer da elucidação executada por Erixímaco

41
acerca do funcionamento das artes, o termo grego que dá origem
à palavra harmonia se apresenta, e entender a sua relevância para
compreensão que o médico tem sobre Eros é um dos obje�vos da
pesquisa. As artes são u�lizadas por Erixímaco para explicar a
dinâmica amorosa em todas as coisas, a qual se apresenta em
alguma medida no discurso de Dio�ma. Ao decorrer do seu elogio
que também descreve a natureza de Eros, Dio�ma dialoga com os
conteúdos dos discursos anteriores. Neste processo, o exercício
filosófico é descrito pela sacerdo�sa na medida em que ela
demonstra, por meio dos progenitores de Eros, a sua posição
intermediária, originada por um movimento de busca e gestante
daquele que perpetuo ao empenho incessantemente, pois esta
seria a natureza de Eros. Ao trajar a pele do filósofo, Eros, que está
sempre em processo, contempla o conhecimento e o deseja. Neste
caso, a inves�gação está pautada em estudar como a harmonia,
presente nas artes do discurso de Erixímaco, pode ser
indispensável para a busca do conhecimento que é descrita por
Dio�ma.
Palavras-chave: Platão; Amor; Erixímaco; Harmonia.

42
EROS PÂNDEMOS, EROS URÂNIOS E EROS FILOSÓFICO: UM
ESTUDO SOBRE O PAPEL PEDAGÓGICO DO FILÓSOFO NO
“BANQUETE”

Alexia Oliveira Rodrigues


Graduanda em Filosofia - UEFS
rodriguesalexia33@gmail.com

A presente comunicação visa analisar a distinção entre Eros


Pandêmio e Eros Urânio no discurso de Pausânias, bem como
ponderar como Eros se manifesta no discurso socrático e de que
forma ele baseia na razão, superando o Eros do corpo. Trata-se de
uma análise hermenêutica de dois dos sete discursos, Pausânias e
Sócrates/Diotima, no livro O Banquete de Platão. No discurso de
Pausânias, Eros é representado como duplo, por existir duas
Afrodites e Eros sendo acompanhante da deusa, logo existe dois:
Eros Pandêmio e Eros Urânio. Pausânias invoca a dualidade de Eros
para formular a justificativa do amor pederástico-pedagógico na
educação da cidade. Em contrapartida, Sócrates/Diotima
desenvolve seu elogio a Eros apresentando-o como um daimon,
intermediário entre deuses e homens. Aqui Eros se manifesta de
dois modos: segundo o corpo e segundo o espírito.
Sócrates/Diotima reformula o problema da educação defendendo-
a como amor filosófico-pedagógico, indo contra o amor
pederastico-pedagógico proposto por Pausânias. Amor esse
condenado por Platão, o que acabada caindo em um problema
pedagógico e político.
Palavras-chave: Educação; Eros; Política.

43
FILOSOFIA MODERNA
17/10
Terça
Sala
222

44
O CETICISMO E A RELIGIÃO EM MONTAIGNE: UMA ANÁLISE DAS
CONTRAPOSIÇÕES ARGUMENTATIVAS

Beatriz Iva de Sales


Graduanda em Filosofia - UFMG
beatrizxsales@gmail.com
PET Filosofia UFMG

O presente trabalho pretende averiguar a relação entre o


ceticismo e a religião no pensamento de Montaigne, considerando
algumas das principais contraposições interpretativas propostas
desde o estudo pioneiro de Popkin, cuja primeira edição de sua
História do Ceticismo é de 1960. Para isso, levaremos em conta o
contexto - para explicar por que Montaigne u�lizou noções cé�cas
durante as disputas teológicas. Nosso estudo se pautará na
“Apologia de Raymond Sebond” (Ensaios, II, 12), considerando
tratar-se do ensaio no qual Montaigne mais detalha a ar�culação
entre o cris�anismo e o ce�cismo. Começaremos com uma breve
retomada das raízes do ce�cismo, para que, em seguida, possamos
ver como acontece a entrada dos argumentos cé�cos no contexto
da modernidade, a fim de inves�gar, por úl�mo, a proposição do
ce�cismo como uma propedêu�ca à incorporação da fé.
Palavras-chave: Ceticismo; Cristianismo; Fideísmo; Crença;
Montaine.

45
KANT E O PROBLEMA DA AFECÇÃO: UM IMPASSE ENTRE O
IDEALISMO E O REALISMO TRANSCENDENTAIS

David Barroso Braga


Doutorando em Filosofia - UFBA
davidbarroso123@hotmail.com
IFPI

Para Immanuel Kant (1724-1804), o conhecimento humano


legí�mo envolve a mistura de dois �pos de elementos: um que o
sujeito possui a priori e é puro, outro que é adquirido a posteriori
e é impuro. Enquanto o primeiro precede e independe de qualquer
“objeto”, o segundo além de ser empírico é dependente da afecção
por objetos. Ora, como o elemento puro expressa a parte formal
do conhecimento e se iden�fica com o aparato cognosci�vo do
sujeito, ele precisa estar misturado ao elemento empírico para ser
considerado conhecimento. Entretanto, por mais que o composto
de elementos puros e impuros ou material e formal sa�sfaça
plenamente o conceito de conhecimento na perspec�va kan�ana,
a dependência do elemento empírico da afecção por “objetos”
exige o concurso de um outro elemento, quer dizer, o elemento
impuro ou material somente é possível na pressuposição
necessária de um terceiro elemento: o elemento “exterior”. Nesse
sen�do, o aparato cognosci�vo do sujeito requer a existência de
elementos reais exteriores à sua própria cons�tuição para que o
elemento impuro seja possível. Apresentaremos nessa
comunicação o problema da afecção por coisas em si na Crítica da
razão pura (1781) e nos Prolegômenos a toda a metafísica possível
(1783). Esse problema se evidencia quando confrontamos a
restrição do conhecimento humano ao âmbito fenomênico com a
necessidade da afecção da sensibilidade por coisas em si. Enquanto
as faculdades de conhecimento humanas apenas podem ser
usadas para conhecer fenômenos (tese fundamental do idealismo
transcendental), a exigência da afecção por coisas em si para que

46
possamos ter objetos dos sen�dos rompe com o fenomenalismo e
ins�tui a necessidade de objetos reais que originem os fenômenos
(realismo transcendental).
Palavras-Chave: Idealismo transcendental; Realismo
transcendental; Problema da afecção.

47
NOTAS ACERCA DA LOUCURA NA FILOSOFIA DE CONDILLAC

Kayk Oliveira Santos


Doutorando em Filosofia - UFBA
kayk.psi@gmail.com
FAPESB

Na presente comunicação, proponho examinar e explicitar aspectos


da compreensão condillaciana do fenômeno da loucura e a relação
dessa com a associação de ideias e os elementos de fisiologia. Para
tanto, concentro o escopo da inves�gação em duas obras do autor: o
seu Ensaio sobre a origem dos conhecimentos humanos (1746) e o
Dicionário de sinônimos (1951). Nos textos mencionados, Condillac
mobiliza uma concepção de loucura que está iden�ficada com o
desregramento da razão. O afastamento da razão, os erros e desvios
do raciocínio encontram a sua chave explica�va no conceito de
associação de ideias e na maneira com que essas se ligam na
faculdade da imaginação. Concomitantemente, se observa que a
explicação condillaciana apresenta certa controvérsia no que diz
respeito ao papel desempenhado pela fisiologia na configuração das
experiências da loucura. Ora o filósofo atribui relevância aos
argumentos de natureza fisiológica na compreensão das
manifestações da loucura, ora rela�viza a importância desses
argumentos e o papel da fisiologia na explicação dessas
manifestações. Ao fim e ao cabo, fica estabelecido que a explicação
do abade toma a associação de ideias como causa da loucura e não
dissociada de um componente de natureza fisiológica. Por fim, cabe
salientar no curso da comunicação que, uma vez iden�ficada a gênese
da loucura ou desregramento da razão, a explicação do autor termina
por sugerir um cuidado de ordem pedagógica como alterna�va para
prevenir a loucura e educar o espírito humano.
Palavras-chave: Loucura; Associação de ideias; Fisiologia;
Condillac.

48
É A LINGUAGEM ARTICULADA CONDIÇÃO PARA O PENSAMENTO?
UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE PENSAMENTO E LINGUAGEM
À LUZ DA FILOSOFIA DE CONDILLAC

Mariana Moreira da Silva


Doutoranda em Filosofia - UFBA
marifilosofia@gmail.com

Levando em consideração três obras de Condillac, a saber: o Ensaio


sobre a Origem dos Conhecimentos Humanos (1746), o Tratado
das Sensações (1754) e o Tratado dos Animais (1755), essa
pergunta pode ser respondida de diferentes modos. Se não
respondida em sentido estrito, podemos oferecer alguns
elementos para problematizar a relação entre pensamento e
linguagem em Condillac. Conforme o Ensaio é explícito o quanto o
par linguagem articulada/signo de instituição figura como
condição de possibilidade para o pensamento. Sendo assim,
parece não haver lugar para conceber o pensamento sem a
linguagem articulada. A partir de uma perspectiva especialmente
diferente, no Tratado das Sensações acompanhamos a gênese e
desenvolvimento dos pensamentos, das capacidades mentais e do
comportamento situados no campo pré-linguístico. Noutros
termos, no Tratado das Sensações, podemos dizer que o
pensamento está presente mesmo quando a linguagem articulada
ainda não foi adquirida. A questão nos intriga: como compreender
o pensamento animal no contexto de tais obras cujos desafios da
linguagem articulada – seja pela presença ou pela ausência – são
centrais? Longe de considerar os animais como autômatos, no
Tratado dos Animais Condillac refuta Descartes e Buffon na
tentativa de traçar uma linha de continuidade entre homens e
animais a partir da qual as diferenças que separam ambos são
apenas graduais. No entanto, justamente no capítulo sobre a
linguagem dos animais nos deparamos com uma dificuldade frente
à qual se dá o nosso impasse: Condillac declara uma distância

49
infinita entre homens e animais. A nossa questão se delineia: seria
a linguagem articulada, entendida enquanto condição de
possibilidade para o pensamento, capaz de inaugurar diferenças
tão decisivas ao ponto de ameaçar a continuidade homem-animal,
e, por sua vez, alterar o caráter da diferença concebida apenas
como gradual, até certo ponto da obra, para uma diferença de
natureza entre homens e animais?
Palavras-chave: Iluminismo; Sensualismo; Linguagem; Homem;
Animal.

50
A ILEGITIMIDADE E A ORIGEM DA PROPRIEDADE EM J. J.
ROUSSEAU

Osmar dos Anjos Santos


Graduando em Filosofia - UFBA
osmaranjosantos@gmail.com

Este trabalho visa analisar a questão da propriedade, sua


ilegi�midade e seus desdobramentos no processo de degeneração
humana, assim como sua origem, tendo como referência principal
a obra A Origem e os Fundamentos da desigualdade entre os
Homens, do autor Jean-Jacques Rousseau. A propriedade é para
Rousseau, no segundo discurso, um dos pontos principais que
marca a transição do ser humano do estado de natureza para o
estado de sociedade civil. Ela é considerada uma das causadoras
do processo de degeneração humana, pois segundo o autor o
agregamento e a vida em sociedade, fatores corruptores da
humanidade, são firmados com a invenção dela. Entretanto, o
advento da propriedade, que faz parte da fundamentação da
desigualdade, não se demonstra necessariamente como causadora
desse processo, mas como consequência também, tendo em vista
que o ser humano mesmo antes desta maldita invenção já
caminhava rumo a degeneração e se separava cada vez mais da
natureza, comum aos animais. Dito isso, este trabalho se propõe a
destacar como se fundamenta a ilegi�midade da propriedade para
Rousseau e como tais pontos e faculdades que condicionam este
processo degenera�vo dão origem a mesma.
Palavras-chave: Propriedade; Desigualdade; Rousseau.

51
FIGURA MATERNA EM ROUSSEAU: NOTAS SOBRE CONFISSÕES, I

Alice Pereira dos Santos


Graduanda em Filosofia - UFRB
alicepereira@aluno.ufrb.edu.br

Nesta apresentação, tenho por objetivo analisar a figura materna


em Rousseau. Para tanto, investigo as características atribuídas à
figura materna nas Confissões, livro I. Nesse relato autobiográfico,
Rousseau descreve sua mãe lançando mão de alguns adjetivos.
Além disso, descreve a importância crucial de sua mãe em sua
formação inicial. Meu interesse consiste nessa descrição da
importância materna em sua formação inicial, pois, de acordo com
Rousseau, sua mãe faleceu no seu nascimento. Apesar da tragédia
de sua mãe ter falecido, a figura materna permanece como figura
de destaque nas Confissões, pois há um relato descrito por
Rousseau que o vínculo com seu pai foi recuperado mediante a
leitura dos romances herdados de sua mãe. Pretendo, portanto,
investigar a representação da figura materna, bem como a
importância da herança de leitura dos romances maternos como
dispositivo de cura, tal qual se apresenta nas Confissões.
Palavras-chave: Autobiografia; Maternidade; Romance;
Moralidade; Rousseau.

52
A COMPARAÇÃO ENTRE O HOMEM E OS ANIMAIS: SOBRE A
CAPACIDADE DE PENSAR DOS ANIMAIS

Sineone Kélvim Oliveira de Farias


Graduando em Filosofia - UFCG
sineone.kelvim@estudante.ufcg.edu.br

O presente ar�go tem como obje�vo oferecer uma reflexão sobre


o compara�vo feito entre o homem e os animais, apresentado por
René Descartes (1596-1650), em sua obra Discurso do método
(1637). Nessa perspec�va, veremos como o autor se u�lizou de
argumentos da medicina junto à influência de seu pensamento
racionalista. Descartes faz uma descrição dos corpos, em
específico, do humano que nesse caso seria bem semelhante ao
nosso, salvo a exceção de que neste Deus não colocaria uma alma
racional ou algo semelhante. Para ele, a alma não tem outra função
a não ser pensar, divergindo das noções escolás�cas que atribui a
alma funções fisiológicas também. O autor inicia sua comparação
entre o funcionamento do corpo humano ao de um animal, e para
isso se u�liza do coração e do sistema sanguíneo, além do sistema
respiratório, então ele vai entrar nos mínimos detalhes do
complexo funcionamento desses sistemas, e tais diferenças entre
ambos acarretarão consequências na formação dos espíritos, que
“para Descartes, como para os escolás�cos, os espíritos, vitais e
animais, são fluidos derivados do sangue, e, portanto, puramente
materiais.” (N.T. p.93). Descartes compara esse corpo humano a
uma máquina criada pelo homem que conhecemos, e garante que
nem a mais perfeita delas poderia se comparar ao corpo humano,
mas mesmo que exis�sse ainda assim poderíamos diferenciá-las,
ao passo que se essa máquina fosse semelhante a um corpo de um
animal não poderíamos fazer tal dis�nção. Descartes após fazer
várias comparações comportamentais entre homens e animais,
destaca a principal diferença entre eles, que é a razão presente no
ser humano, e que não ocorre aos animais o dote dela, não é uma

53
diferença quan�ta�va, o autor afirma que os animais não possuem
razão nenhuma, e que apesar deles demonstrarem algumas
habilidades como, por exemplo, os papagaios que podem proferir
algumas palavras, mas que para Descartes, “eles são incapazes de
falar como nós, isto é, de testemunhar que pensam o que dizem.”.
Palavras chaves: Homem; Animal; René Descartes; Discurso do
método.

54
ÉTICA E ESTÉTICA
17/10
Terça
Sala
223

55
NIETZSCHE E FERNANDO PESSOA: CORPO, FILOSOFIA,
LITERATURA E POÉTICA

Enock O. S. Neto
Graduando em Filosofia - UNEB
en06jp04@gmail.com
PIBIC - FAPESB

Ao compararmos a filosofia de Nietzsche e a poesia de Fernando


Pessoa, encontramos questões relacionadas ao conhecimento, a
noção de iden�dade como fluida e mutável, questões de
linguagem, desilusão, nostalgia do passado, corpo e as sensações.
Nietzsche acredita que sen�mentos e emoções são tão
importantes para a tomada de decisão humana quanto a razão.
Pessoa, por outro lado, usa heterônimos para indicar a fluidez de
suas tendências impessoais e imita�vas. Nosso obje�vo nesta
comunicação é primeiro focar em suas diferentes expressões,
depois mostrar algumas semelhanças entre os dois pensadores e,
finalmente, criar a possibilidade de diálogo. Essa comparação se
concentra nos pontos de contato mais próximos entre os dois
pensadores, pois Nietzsche com sua filosofia ácida e
desconcertante introduz elementos poé�cos em seus escritos
filosóficos. E, da mesma forma, a coleção de poemas de Pessoa não
esquece a influência da filosofia em seu objeto de estudo. Por fim,
com base nesses conceitos, buscamos iden�ficar as intersecções
entre eles e possíveis meios para um diálogo mais aprofundado
sobre temas relacionados ao corpo, sensações e afetos.
Palavras-chave: Nietzsche; Fernando Pessoa; Poesia; Filosofia;
Corpo.

56
O CASAMENTO E O SOFRIMENTO FEMININO EM MURASAKI
SHIKIBU ATRAVÉS DO CONTO DE GENJI

Emilly de Souza Rodrigues


Graduanda em Filosofia - UFBA
emyemyrodrigues@gmail.com

Essa pesquisa almeja enquadrar a escritora Murasaki Shikibu,


membro da aristocracia japonesa do período Heian, no debate
filosófico a respeito do casamento, que perpassa desde a
an�guidade até o presente momento. O possível argumento de
Murasaki será fundamentado em trechos e contos do livro O Conto
de Genji que elucidam o poder desempenhado pelo sistema
matrimonial em cima das ações e percepções das personagens
femininas. Em especial, pode se apontar os contos focados na
personagem Ukifune, que coloca a vida voltada aos estudos e ao
autoconhecimento como um escape à angús�a matrimonial,
encerrando um uma corrente de mulheres cujo des�no foi
determinado pelas ações dos personagens masculinos. A
personagem em questão, ao contrário de outras personagens que
tomaram os votos para iniciar o processo de reclusão budista,
concebeu a vida monás�ca como um “renascimento” e rejeição à
miséria inerente ao casamento, e não a visou somente como um
refúgio ou uma tradição de preparo para a morte. No monastério,
Ukifune não apenas se despedia do mundo de dor e sofrimento,
como também procurava se encontrar através do estudo e
aprimoramento de suas habilidades. Nos anos 1000 o Japão
passava pelo florescimento de sua cultura, cujo cerne tornar-se-ia
a aristocracia, iniciando sua autonomia em relação aos moldes
ar�s�cos e religiosos chineses que ditavam o saber até então. A
literatura foi um dos elementos mais relevantes na solidificação da
cultura japonesa, sendo protagonizada pelas damas da corte.
Diante às limitações e às expecta�vas ditadas às mulheres nessa
época, o surgimento de novos gêneros literários, como o nikki

57
(diário), tornou-se um meio de infundir suas vozes e de relatar as
complexidades da existência feminina. Entre tais autoras, destaca-
se a responsável pelo livro reconhecido como o primeiro romance
psicológico, vulgo O Conto de Genji: Murasaki Shikibu. Recebendo
o �tulo de filósofa por Mary Waithe no segundo volume da
coletânea História das Mulheres na Filosofia, Murasaki merece tal
designação pelo seu engajamento na vida intelectual e o reflexo
deste em sua obra principal. Apesar do conhecimento dos clássicos
chineses ser visto como um tabu para as mulheres, sendo restrito
aos homens, a filósofa aproveitou o privilégio de se encontrar em
um ambiente nutrido de contatos com o cânone chinês para se
destacar nessa área de estudo. A relevância da arte desempenhada
na sociedade asiá�ca desse período possibilita uma conversa rica
entre a literatura e a filosofia no Conto de Genji, já que a prosa
narra�va era um es�lo amplamente usado, desde escritos
históricos e tratados religiosos até ensaios filosóficos. Apesar de
Genji no Monogatari (nome original) centrar-se no personagem de
Genji, o livro vai além de uma �pica jornada do herói ao abordar as
relações amorosas do protagonista, e como as ações deste
impactam as envolvidas. Por mais específico e datado o contexto
da obra trabalhada seja, o panorama traçado por Murasaki das
angús�as vivenciadas pelas mulheres, que estão à mercê das
convenções sociais e do desejo masculino, torna válida a
abordagem de elementos e questões que atravessam o tempo.
Palavras-chave: Murasaki Shikibu; Filosofia Oriental; O Conto de
Genji; Casamento.

58
ENQUADRAMENTO E FOTOS DE GUERRA EM BUTLER E SONTAG

João Augusto Aquino Rocha


Graduando em Filosofia - UNEB
profissionalcontatojoaorocha@gmail.com
PIBID – CAPES

No ensaio “Tortura e é�ca da fotografia – pensando com Sontag”,


Judith Butler apresenta suas reflexões a par�r da fotografia de
guerra em diálogo com Susan Sontag. Butler organiza suas
considerações nos desdobramentos da efe�vidade do que chama
de enquadramento. Para ela, o conceito faria valer uma norma que
funcionaria ao circunscrever a realidade a seus próprios efeitos.
Par�ndo disto, destaco principalmente este conceito do
enquadramento, tal como é apresentado no livro Quadros de
guerra, com especial atenção à reflexão sobre a fotografia de
guerra. Em relação ao pensamento de Butler, e suas oposições às
considerações de Sontag sobre o mesmo tema, relato os pontos
chave deste debate, a saber, as possíveis capacidades das imagens,
sejam elas fotográficas ou sequenciais, quando de cunho
jornalís�co, e as divergências de conclusões entre as autoras. Já no
âmbito da formação da opinião pública e implementação de
discursos polí�cos hegemônicos, apresento a abordagem de
Butler, enquanto parte da construção da sua afirmação – que o
olhar seria orientado, tornando certas vidas passíveis de luto, em
detrimento de outras que não o seriam. Finalizo reforçando as
consequências dessa exposição, sobre como quem enquadra as
imagens, e o modo como o faz, parece ter um poder, que seria o
de indicar as possibilidades discursivas à consciência, a par�r da
forma que delibera o que será exposto na mídia e cerceia o debate.
Aí, os problemas é�cos suscitados pelas imagens são orientados
pela construção de uma prevalência da comoção pública, pela
forma como se privilegia qual dor importa. A percepção da

59
violência é condicionada pelo enquadramento da cena, tanto pelo
que apresenta, quanto pelo que é invisibilizado.
Palavras-chave: �ca; Enquadramento; Fotografia; Butler; Sontag.

60
CORPOS ABJETOS: ENTRE A NARRATIVA E A NAVALHA

Matheusa Lima dos Anjos


Graduanda em Filosofia - UNEB
dosanjoslimamatheusa@gmail.com
PIBID - CAPES

A abordagem dessa comunicação visa apreender em primeira


instância o campo discursivo do gênero e do sexo a par�r do
projeto epistemológico da filósofa Judith Butler. Principalmente
para dar atenção ao modo como as iden�dades de gênero e
sexualidade que são reconhecidas pelas ins�tuições e normas
jurídicas (considerando que eles sucedem de saberes, narra�vas e
manifestações no seio cultural) acabam sendo delineadas dentro
de um limite discursivo, produzindo desta forma conhecimentos,
discursos e prá�cas é�cas, polí�cas e sociais específicas designadas
ao campo do gênero. A análise deve par�r da ins�tuição colonial
como a primeira a empreender esse projeto epistêmico sobre o
gênero e o sexo, tratando-os não somente como instrumento de
divisão do trabalho e hierarquia de papéis sociais. É por isso que a
contribuição da teórica feminista bell hooks com o conceito de
construção ficcional racializada se torna importante para destacar
o papel fundamental do gênero informado pela raça na
cons�tuição (ou des�tuição) do Ser na modernidade. Mesmo que
no campo polí�co, considerando ontológico pela Butler (por ditar
quem são e o que são) a análise da bell hooks traga um aspecto
constru�vista ao discurso do gênero, e no qual aquela pretende
expandir e dar atenção a outro viés discursivo, que é o
performá�co, para res�tuir saberes a corpos que até então não
foram materialmente construídos. O importante é que a
contribuição de ambas ajudará a refle�r, num segundo momento,
o movimento irreversível sobre a poli�zação dos corpos que
demonstra o individualismo como herança neoliberal, no qual de
um lado fortalecem algumas polí�cas de gênero e sexualidade que

61
chegam a ser disputadas dentro do discurso democrá�co. Por
outro lado, iden�dades e corpos dissidentes seguem sendo não
conciliáveis, pois a par�r do conceito de abjeção em Butler alguns
corpos são des�tuídos de ontologia desde a dimensão discursiva
que produz saberes. Desse modo conseguimos compreender a
existência de polí�cas de exceção ou como as violências
incorporadas pelo Estado, que funcionando através dos seus
disposi�vos jurídicos, médicos e culturais acabam gerindo essas
polí�cas, entre os quais negam a cidadania e colocam esses corpos
num processo de marginalização, a par�r do não reconhecimento.
Palavras-chave: Judit Butler; epistemologia; gênero e sexo;
abjeção; reconhecimento.

62
CORRELAÇÕES ENTRE A ESPIRITUALIDADE, O FEMININO E O
SAGRADO NAS OBRAS DE BELL HOOKS E HILDEGARDA DE BINGEN

Fabia Fernanda Moura Ferreira


Graduanda em Filosofia - UNEB
m.fabiafernanda@yahoo.com.br
PIBID - CAPES

Em O Feminismo é para todos, bell hooks diz que o feminismo é um


movimento de resistência que valoriza a prá�ca espiritual, e relata
que seguia uma caminhada espiritual que a ajudava na consciência
do autoamor e da autoaceitação, além disso, acrescentou que as
mulheres encontram na prá�ca espiritual um lugar de consolo, um
lugar onde podem estar com Deus, sem a intervenção do homem.
A filósofa pontuou a necessidade de mudar a forma de cultuar, e a
necessidade de repensar a espiritualidade, tendo em vista uma
espiritualidade libertadora, e uma transformação das crenças
religiosas. A Santa Hildegarda de Bingen, por sua vez, uma mulher
que se considerava a “pequena pluma que o vento carrega”, uma
transmissora das palavras de Deus, era uma filósofa e religiosa
intelectualmente forte e de impacto no século XII, que, enquanto
buscava transmi�r sua experiência de fé, lutava pelos seus ideais
reformistas. Ela declarou que a mulher contém todo o gênero
humano, a ser desenvolvido na energia da força divina, e assim deu
um protagonismo ao feminino em todas as suas obras. A mulher,
para a Santa Hildegarda, desenvolve um papel essencial no
cumprimento da obra de Deus, afinal ela é a humanidade do Filho
de Deus. Hildegarda se contrapôs ao fundamentalismo da época,
alicerçando caminhos para outras filósofas e religiosas que vieram
posteriormente. A intenção desta comunicação é tratar
brevemente sobre alguns conceitos e aspectos referentes à
espiritualidade nas obras das duas filósofas, e a relação desses
conceitos com o feminino e o sagrado, abordando a importância
da espiritualidade e do amor na luta pela liberdade da mulher.

63
Além de analisar as diferenças e similaridades de fenômenos,
como a “teologia do feminino” criada por Hildegarda, e como o
citado fenômeno pode contribuir para a proposta de bell hooks:
uma completa organização do movimento feminista, com intuito
de abordar as mul�dões de fiéis cristãos, convertendo-os ao
entendimento de que não é necessário exis�r conflito entre
feminismo e espiritualidade cristã. Quais as condições de
possibilidade para que a espiritualidade contribua com a luta pela
liberdade feminina e com o autoamor? Para isso, buscou-se pontos
de convergência nas obras das pensadoras.
Palavras-chave: Hildegarda de Bingen; bell hooks; Espiritualidade;
Feminino; Sagrado.

64
FILOSOFIA E ÉTICA DA INFORMAÇÃO: ANÁLISE FILOSÓFICA-
INTERDISCIPLINAR DA INFOSFERA NA AUTONOMIA HUMANA

Gabriel Fefin Machado


Graduanda em Filosofia - UNESP-FFC
gabriel.fefin@unesp.br
CNPq-PIBIC

O obje�vo deste trabalho é analisar questões epistemológicas e


é�cas concernentes à influência das Tecnologias de Comunicação
e Informação (TIC) nas ações humanas. Para isso, indicaremos os
possíveis problemas da Filosofia da Informação na visão de Luciano
Floridi (1964-) que envolvem a esfera informacional na qual as
ações se refletem umas nas outras por meio de informação. Nesse
contexto, analisamos também os conceitos centrais da Filosofia da
Informação, a par�r da perspec�va da É�ca da Informação (EI),
com ênfase na É�ca Intercultural da Informação (EII) proposta por
Rafael Capurro (1945). Discu�mos o conceito Floridiano de
Infosfera, propondo as noções de Infosfera Par�cular (IP) e
Infosfera Universal (IU) no domínio das ações humanas. Em
síntese, discu�remos neste trabalho uma percepção da
progressão, em graus, da ação humana, na é�ca, como manejada,
principalmente, pelas tecnologias, mas, também, por ações que
envolvam um nicho.
Palavras-chave: É�ca da Informação; É�ca Intercultural da
Informação; Infosfera.

65
MEMÓRIA E EMOÇÃO CRIADORA NA CANÇÃO CAJUÍNA, DE
CAETANO VELOSO

Cá�a Brito dos Santos Nunes


Cá�a Brito dos Santos Nunes
Doutoranda em Memória: Linguagem e Sociedade - UESB
cbsnunes@gmail.com

Jorge Garcia Marín


Doutor em Ciências da Educação pela – USC/Espanha

Neste trabalho, buscaremos compreender os postulados


bergsonianos que abordam a emoção como originária das grandes
descobertas, feitos, obras e realizações a par�r da canção Cajuína,
composta por Caetano Veloso no final dos anos 1970.
Empreendemos aqui uma tenta�va de contemplar, na medida do
possível, o acontecimento descrito por Bergson como “emoção
musical” (Bergson, 2005). Para tal finalidade, as experiências
afe�vas de amizade e parceria entre o compositor Caetano Veloso
e o poeta Torquato Neto são compreendidas a par�r da concepção
de memória em Bergson, que se propõe a compreender o tempo
de forma diferente e livre dos prováveis dualismos que, de forma
ilusória, poderiam limitá-la. Sugere-se uma ideia de um tempo sem
a imposição das costumeiras divisões cronológicas: passado,
presente e futuro. Bergson concebe que o indivíduo vive imerso no
plano da matéria, temporalmente em um presente atual. Tal
presente “passa”, transcorrendo de forma simultânea ao passado
virtual, plano no qual está con�da a memória “pura”. Desta
maneira, o passado se acumula à medida que o presente “passa”,
ampliando o acervo de memória existente na virtualidade. E o
passado se conserva - as lembranças se conservam no tempo.
Nesta concepção, estamos permanentemente inseridos em uma
coexistência entre passado e presente. E, neste presente,
atualizamos a memória de que necessitamos quando a evocamos.
66
O filósofo pensa essa “busca” pela memória de forma ontológica,
afastando a concepção de uma abordagem apenas psicológica
(Bergson, 2006). Assim, para compreender a música-homenagem
de Caetano, foi necessário considerar alguns relatos do
compositor, a par�r de suas lembranças sobre essa relação afe�va
(Veloso, 2017). O autor de Cajuína expressa, nestes relatos, um
arrebatamento ocorrido a par�r das experiências afe�vas,
demonstrando a forte emoção sen�da num encontro com o pai de
Torquato, em Teresina, levando-nos a compreender os versos que
compõem a sua criação (Veloso, 2012). Essas evocações das
imagens con�das nesse passado, a �tulo de lembranças e
percepções, foram condições indispensáveis à composição da
música-poema pela via da emoção, resultando neste movimento
de criação da música – ou seja, na abertura da consciência que
converteu a inteligência em intuição. Intuir é apreender - a si, por
si, sem a mediação do tempo, ou seja, suspender os juízos de
valores para ver as coisas. Então, podemos considerar Cajuína, a
música-poema de Caetano Veloso, como fruto da emoção criadora,
que, conforme podemos compreender a par�r dos relatos das
lembranças de seu criador, é resultado, portanto, das experiências
afe�vas experimentadas por Caetano. Esta obra de criação,
especialmente, evidencia a transfiguração dos sen�mentos de
tristeza e amargura em leveza e amor - afetos que expressam a
relação de Caetano com o amigo, parceiro e poeta Torquato Neto.
Palavras-chave: memória; emoção criadora; Cajuína.

67
MARXISMO E TEORIA CRÍTICA
17/10
Terça
Sala
224

68
JOVEM KARL MARX: LUTA DE CLASSES, IDEOLOGIA E
EMANCIPAÇÃO

Carlos Alberto Nunes Junior


Doutorando em Filosofia - UFS
carlosajrnunes@yahoo.com.br

A temá�ca em torno da qual se situa esta pesquisa é a análise de


como a ideologia funciona enquanto ferramenta produzida a par�r
dos interesses da burguesia para impedir ou atrasar perspec�vas
revolucionárias inviabilizando a emancipação humana, desse
modo a condição histórica da humanidade é tratada como algo
natural e imutável. A ideologia é a expressão ideal da dominação
material de uma classe sobre a outra, ou seja, a burguesia tem
poder sobre a produção e distribuição das ideias que devem ser
aceitas na sociedade. Além da autoridade sobre os meios de
produção, as correntes materiais, por meio da ideologia é possível
também aprisionar as consciências dos indivíduos, construindo
assim um cenário confortável para conversação desse arranjo
social dividido em classes antagônicas. Existem dois �pos
diferentes de emancipação, o primeiro deles é a emancipação
polí�ca, que se refere à aparente garan�a de direitos iguais para os
cidadãos dentro do Estado Burguês, onde a repressão, censura e
exploração de classe estão mascaradas. O segundo �po é a
emancipação humana, que consiste na criação de uma forma de
convivência e sociabilidade que supere a luta de classes e permita
que os seres humanos vivam plenamente e verdadeiramente
livres, eliminando assim a exploração de um ser humano por
outrem. No entanto, o problema é que a ideologia faz com que a
emancipação polí�ca seja considerada o único horizonte sensato,
apesar de não resolver as demandas da classe trabalhadora. O
momento histórico em que vivemos no Brasil se adequa a uma
pesquisa como essa, pois é período marcado por um crescimento
de grupos conservadores, an�comunistas e obscuran�stas, dito de

69
outro modo, uma tenta�va de amoldamento das consciências
caracterizado pela propositura de polí�cas públicas regressivas no
âmbito dos direitos sociais e das liberdades individuais. Os
retrocessos presentes na atual conjuntura dão ainda mais sen�do
a produção de Marx. O trabalho se concentrará em Sobre a questão
judaica (1843) de Marx e A Ideologia Alemã (1845-1846) de Marx
e Engels. Ao mesmo tempo que busca promover o confronto de
comentadores como Konder, Lowy, Chauí e Mészáos. Nosso
caminho inves�ga�vo buscará apropriar-se das melhores virtudes
do método estrutural da análise de texto operando-o por meio da
leitura, fichamento e exegese rigorosa do corpus da pesquisa.
Palavras-chave: Emancipação; Ideologia; Luta de classes; Marx.

70
NOTAS SOBRE O CONHECIMENTO EM LÊNIN

Fernando Pereira dos Santos


Graduando em Filosofia - UNEB
fernando.pereira@live.com

Trarei reflexões epistemológicas da filosofia an�ga para


fundamentar o ato de conhecer o mundo. Dividirei o
conhecimento em intui�vo e discursivo, demonstrando elementos
do conhecimento, como o sujeito, o objeto, o ato de conhecer e o
resultado alcançado. A par�r de um fazer filosófico voltado para a
totalidade, apresentarei algumas notas sobre o conhecimento em
Vladimir Ilyich Ulianov – mais conhecido como Lênin – na obra
“Materialismo e Empiriocri�cismo, Notas e Crí�cas Sobre uma
Filosofia Reacionária”, desenvolvendo a par�r dela o confronto das
ideias materialistas com as idealistas e como os pré-socrá�cos já
traziam perspec�vas materialistas, embora seja comum a
afirmação de que aqueles filósofos e filósofas eram
intrinsecamente idealistas. Com suas devidas mediações, por fim,
vou dialogar como o pensamento de Lênin pode ser aplicado na
realidade e prá�ca social do século XXI.
Palavras-chave: Filosofia; Conhecimento; Crí�ca; Lênin; Marxismo.

71
FETICHISMO EM MARX

Noel Vieira da Silva Neto


Graduando em Filosofia - UESC
nvsilva.fls@uesc.br

A presente apresentação, é resultado de uma pesquisa


bibliográfica que realizei como bolsista de Iniciação Cien�fica (IC),
um estudo sobre Karl Marx, mas em especial a temá�ca do
fe�chismo da mercadoria. O obje�vo da presente comunicação é
mostrar como o fe�chismo vai além do âmbito da economia,
tornando-se o espírito das ins�tuições no sistema capitalista. Então
essa análise importa à medida que as ins�tuições incidem na vida
e na morte dos homens e no livre exercício de sua liberdade. O
maior interesse da teoria do fe�chismo é responder o problema:
como está organizada e coordenada a divisão social do trabalho e
que papel desempenham, dentro dessa organização e
coordenação, as ins�tuições? A u�lidade para a teoria não é
analisar qualquer sistema de divisão de trabalho, mas
necessariamente o que tende a ocultar, a tornar invisível o efeito
da divisão do trabalho sobre a vida ou morte dos homens, ou seja,
o capitalismo. Os embasamentos teóricos dessa averiguação, é o
próprio Marx, com o seu livro O Capital e um grande teólogo que é
crí�co ao capitalismo, que é Franz Hinkelammert, com o seu livro
As armas ideológicas da morte. Desta forma, a proposta dessa
comunicação é apresentar o que é o fe�che, que para Marx é
“personalização” das mercadorias (o dinheiro e o capital) e a
“coisificação” ou “mercan�lização” das pessoas. Portanto, para
compreender essa ideia, é necessário incorporar três conceitos-
chave que estão conectados na compreensão da teoria do
fe�chismo, que são: o fe�chismo da mercadoria, o fe�chismo do
dinheiro e o fe�chismo do capital. Com base nessa pesquisa que
foi produzida no IC, quero compar�lhar com a comunidade
acadêmica.
Palavras-chaves: Ins�tuição; Fe�chismo; Capitalismo; Marx.
72
O DESVIO REVOLUCIONÁRIO OU DO GIRO SOBRE SI MESMO

Roberto Kennedy de Lemos Bastos


Doutorando em Filosofia – PPGF/UFBA
betokennedy@hotmail.com
CAPES

Esta pesquisa tem por obje�vo inves�gar, no quadro da gênese do


marxismo no terreno da filosofia, uma suposta concepção de
filosofia da emancipação no jovem Marx. Considerando a tensão
entre indivíduo, sociedade e Estado, o objeto da pesquisa tem por
hipótese uma razão prá�ca dialé�ca como desvio revolucionário
enquanto giro sobre si mesmo. Perguntamos se a emancipação (no
sen�do do humano para além do polí�co) é uma questão de
liberdade individual (polí�ca) ou uma questão de emancipação
humana integral cole�va (social)? A metodologia u�lizada segue a
orientação do próprio Marx exposta nos anexos da Contribuição à
crítica da economia política denominada O método da Economia
Polí�ca que, dida�camente, comparamos ao movimento da
sanfona (centrípeta e centrífuga) que, abrindo e fechando o fole,
faz ecoar as melodias tecladas buscando a unidade do diverso. O
jovem Marx de posse das armas da crí�ca busca realizar, também,
a crí�ca das armas com o suporte da dialé�ca hegeliana como
fundamento filosófico que extrai das determinações abstratas o
concreto e suas formas. A emancipação é, portanto, a subsunção
(Aufheben) da alienação? Esperamos, ao fim e ao cabo dessa
pesquisa, oferecer subsídios para o entendimento de que a
revolução como resultado cabal da luta de classes cuja culminância
seja o fim do modo de produção capitalista requer o que
denominamos desvio revolucionário como giro sobre si mesmo,
isto é, a transformação do mundo exterior precedida pela
transformação interior do indivíduo enquanto átomo da
sociedade.
Palavras-chave: Emancipação; Alienação; Revolução; Giro; Desvio
73
A MODERNIDADE BENJAMINIANA: CHOQUE, AURA E TÉCNICA

Filipe E. S. Silva
Mestrando em Filosofia – PPGF/UFBA
filipeemanuel27@gmail.com

Este trabalho inves�ga como Walter Benjamin explora a percepção


e os símbolos próprios à obra de arte do período moderno,
sobretudo em sua recepção pelas mul�dões urbanas, a par�r do
conceito de choque, inves�gando como este se relaciona a outras
duas noções centrais de sua compreensão esté�ca: aura e técnica.
A par�r do declínio da aura, a dimensão fe�chista da obra de arte,
associado à crescente intervenção da técnica (inserção dos
aparatos tecnológicos na arte), Benjamin revela o surgimento de
uma nova percepção que se revela desde a poesia lírica de
Baudelaire, chegando até as vanguardas europeias, tais quais o
surrealismo e o dadaísmo, a fotografia e culminando no cinema.
Tais fenômenos ar�s�cos se originaram num momento histórico
das sociedades modernas industrializadas e massificadas,
marcado, entre outros, pelo desenvolvimento acelerado da técnica
a par�r do século XIX, em especial, a cinematografia que devido a
suas par�cularidades técnicas, exige uma nova forma de percepção
e recepção da obra de arte, cuja análise de Benjamin busca
caracterizar por meio do conceito de choque. É através do choque
que a filosofia benjaminiana dialoga com a percepção das massas,
compreendendo que a destruição da aura, este involucro que
envolve os objetos ar�s�cos, ocorre pelo fato da recolocação da
técnica como uma possível experiencia de emancipação das
mul�dões em respeito às suas próprias vivências. Por fim, através
do panorama entre os conceitos de choque, aura e técnica, este
trabalho visa es�mular discussões sobre a filosofia crí�ca
benjaminiana, no intuito de trazer um diálogo entre o pensamento
do autor e a contemporaneidade.
Palavras-chave: Walter Benjamin; Choque; Aura; Técnica
74
PASSAGENS BAUDELAIRIANAS: ALEGORIA, RUÍNA E
TRANSITORIEDADE EM WALTER BENJAMIN

Francisco Gabriel Soares da Silva


Doutorando em Filosofia - UFBA
gabrielsoaresfgss@gmail.com
CAPES

A presente proposta de comunicação se assenta na perspec�va de


estabelecer um diálogo entre Walter Benjamin e a poesia de
Charles Baudelaire. Para tanto, nos propomos a estruturar nosso
percurso a par�r dos conceitos de alegoria e ruína. Tais elementos
podem ser mapeados ao longo de toda a obra do pensador
alemão. Nos é imperioso fazer um recorte destes temas levando
em consideração a Origem do drama trágico alemão. Este escrito
cumpre um papel de promover uma nova compreensão do
conceito de alegoria, em contraposição ao corriqueiro uso da
forma simbólica reivindicada, e falsamente atualizada, pelo
roman�smo alemão. No processo de apresentação do conceito
redimido de alegoria, Benjamin mostra, doravante, como há uma
herança que se assenta na manifestação de uma conscien�zação
da frágil vida do indivíduo moderno, bem como a fatalidade da
morte que se mostra sempre presente. Isso nos levaria a
compreender que a alegoria possui a capacidade de visualizar o
mundo moderno de forma crí�ca, mas também sob o signo da
catástrofe. A alegoria só ganha sen�do diante do mundo em ruínas.
Para o barroco, a alegoria cumpriria um papel de adver�r o
indivíduo cristão contra os perigos do pecado e da morte. Em
Baudelaire trata-se de um processo inverso, onde o indivíduo
moderno deve trazer para si o pecado e a morte. Há uma tensão
que se estabelece pelo duplo estado entre a vida e a morte, e é isso
que faz o indivíduo moderno se efe�var como tal. Se para o Barroco
há uma oposição destacada, temos em Baudelaire uma
necessidade de convívio com os contrários. Baudelaire parece se

75
posicionar contrário ao roman�smo quando se propõe a reler o
mundo ao avesso, reivindicando o caminho da significação
alegórica. Desse modo ele parece estabelecer uma nova relação
com a natureza, que não é a de uma consolação do indivíduo
perdido no mundo em ruínas. Baudelaire busca um novo
procedimento que expresse o desconforto com relação a
destruição do mundo imanente de sen�dos, das coisas, para
refazer de um outro modo. Seria correto dizer que Baudelaire
busca uma nova linguagem para expressar o novo mundo? Essa
linguagem nova poderia ser a própria alegoria?
Palavras-chave: Alegoria; Símbolo; Ruína; Baudelaire; Catástrofe.

76
NOTAS SOBRE O VÍNCULO ENTRE ANTAGONISMOS SOCIAIS E
SOFRIMENTO EM THEODOR ADORNO

Gabriel Kugnharski
Doutorando em Filosofia - USP
gabrielkugnharski@hotmail.com
FAPESP

O intuito da presente comunicação é expor e ar�cular os principais


elementos em torno do vínculo entre antagonismos sociais e
sofrimento nos textos sociológicos tardios de Theodor Adorno. O
intuito é interpretar a ênfase dada pelo teórico crí�co à
persistência dos antagonismos sociais – o diagnós�co em torno da
integração como uma “camada fina” sob a qual se encontra um
processo de desintegração social –, a par�r sobretudo dos danos
sobre os processos de socialização. Atento às transformações
estruturais do capitalismo, Adorno sabe que enfa�zar a
centralidade dos antagonismos sociais não significa insis�r de
forma acrí�ca na noção de “luta de classes”, e por isso ele busca
apreender o antagonismo a par�r de seus deslocamentos e efeitos
nos processos de socialização, através de um exame de elementos
extraídos da esfera privada e psicológica. As fissuras da totalidade
deverão ser procuradas na própria experiência subje�va, nas
distorções das relações interpessoais e no sofrimento individual,
que serão considerados como as marcas de uma integração que
não se completou. Aqui o argumento é de que o conflito em
nenhum momento desaparece, mas apenas se desloca para outros
âmbitos que exigirão uma noção de experiência de maior
amplitude e permeabilidade para poder alcançá-lo. Seguindo por
esse caminho, Adorno enxerga como efeitos principais da
con�nuidade dos antagonismos sociais a distorção das formas de
sociabilidade e o fomento de conflitos cujos desdobramentos não
podem ter outro resultado que não a própria destruição da
sociedade. Em úl�ma instância, os antagonismos são cri�cáveis

77
porque causam e prolongam o sofrimento. Nesse sen�do, analiso
o ensaio “Notas sobre o conflito social hoje” (1968), escrito em
colaboração com a socióloga Ursula Jaerisch, no qual os
antagonismos sociais são apreendidos a par�r de uma análise
micrológica dos detalhes da vida privada e dos fenômenos
individuais mais aparentemente desprovidos de sen�do. Defendo
que embora o exercício de decifração do conteúdo social a par�r
de fenômenos co�dianos aparentemente banais já tenha sido
empregado por Adorno em obras anteriores, – ao menos desde as
Minima Moralia (1951), – o texto de 1968, se analisado juntamente
com outros da mesma época, como Aspectos do novo radicalismo
de direita (1967), traz uma ênfase maior sobre o potencial violento
inscrito nos antagonismos sociais não resolvidos. Com isso,
veremos que, do ponto de vista metodológico, o texto de Adorno
e Jaerisch aponta para uma abordagem sociológica que seria, para
os autores, a mais apropriada para expor e cri�car os antagonismos
sociais, pois a esfera privada é apresentada como um domínio
socialmente mediado. Não por acaso, em referência clara à
psicanálise, Adorno e Jaerisch concebem os conflitos mesquinhos
como “atos falhos sociais” [gesellschaftliche Fehlleistungen], que
se mostram cruciais para a compreensão dos processos sociais
fundamentais. Por fim, procuro discu�r brevemente um aspecto
indicado no ensaio de Adorno e Jaerisch, mas pouco desenvolvido:
o fato de que a esfera privada é concebida não apenas como
atravessada pela dominação, mas também como um âmbito que
resiste e até mesmo se opõe a ela.
Palavras-chave: Theodor Adorno; Ursula Jaerisch; antagonismos
sociais; integração; sofrimento.

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BEAUVOIR DIALOGA COM O MARXISMO: MATERIALISMO
HISTÓRICO E A OPRESSÃO DA MULHER

Larissa Fernandez de Andrade Santos


Mestranda em Filosofia - PPGF/UFBA
larissa_fas@yahoo.com.br

Esta comunicação trata das aproximações, assim como das crí�cas,


de Simone de Beauvoir com o marxismo, que, reconhecendo a
influência da história e das condições sociais na formação da
iden�dade dos sujeitos, afirma sua ligação com o materialismo
histórico, combinado com o Existencialismo - a noção de que a
existência precede a essência - demonstrando que a iden�dade é
construída sob condições concretas durante a existência do sujeito.
Nesse percurso sobre a condição e opressão da mulher nas
sociedades humanas, Beauvoir iden�fica e abarca na obra de Marx
e Engels, a possibilidade do reconhecimento da mulher como uma
alteridade concretamente posi�va, em real situação de igualdade
e não mais como o “Outro”. Uma sociedade que realize o projeto
socialista, de plena igualdade e assimilação de todos os seres
humanos, impossibilitaria: “que qualquer categoria humana seja
objeto ou ídolo. Na sociedade auten�camente democrá�ca que
profe�za Marx não há lugar para o Outro.” (BEAUVOIR,1980a, p.
202). As pretensões ontológicas do sujeito só se realizam de forma
concreta a par�r das possibilidades materiais e técnicas que lhe
oferecem, porém, estas de nada valem se apartadas da totalidade
da realidade humana concreta. Nesse percurso contra a opressão
da mulher, é necessário desvelá-la, com o auxílio da biologia, da
psicanálise e do próprio materialismo histórico, pois o corpo, a
sexualidade e as técnicas só existem de forma concreta para o
sujeito, se apreendido em conjunto com a perspec�va global de
sua existência. Em A Origem da Família, Propriedade Privada e o
Estado, Engels traz que a par�r do surgimento de uma nova
sociedade com famílias monogâmicas, controlada pelo estado e

79
não mais subordinada pelas associações de parentesco, consolida-
se a dominação do sistema de propriedade. A subjugação das
mulheres está enraizada nesse processo: anteriormente na casa
comunista, as mulheres eram valorizadas pela evidente
maternidade dos filhos, enquanto a paternidade era
indeterminada. Nessa virada, a propriedade privada passa a reger
essa família e as regras de herança são alteradas para que a riqueza
recém-adquirida pudesse ser herdada de homens para homens,
deixando a mulher sem direitos. Beauvoir cri�ca a incompletude
dessa tese em definir a subjugação feminina, pois não explica o
caráter singular da opressão da mulher, reduzindo-a à luta de
classes. A condição da mulher e do proletário são diferentes: a
mulher se enxerga como o Outro, mas não tem noção de classe;
também não há uma reciprocidade como no caso do
patrão/proletário, pois a mulher não enxerga o homem como
outro. Ignorando o trabalho reprodu�vo e enxergando na mulher
apenas uma trabalhadora, desconsidera que ela é diferente do
homem, por conta da sua função enquanto reprodutora da classe
trabalhadora. O trabalho reprodutor feminino é indispensável ao
sustento da vida e à sobrevivência humana na esfera domés�ca,
mas não remunerado, é ignorado pelas ciências econômicas,
subordinando as mulheres e gerando a opressão de gênero. Assim,
a libertação das mulheres não pode ser alcançada apenas por meio
da revolução proletária: exige uma análise e transformações mais
profundas das estruturas de poder e das relações sociais.
Palavras-chave: Simone de Beauvoir, gênero, marxismo,
materialismo histórico.

80
TEORIA DO CONHECIMENTO E
FILOSOFIA DA CIÊNCIA
18/10
Quarta
Sala
221

81
CARTOGRAFIA COMO PRÁTICA EPISTÊMICA INDISCIPLINAR: AS
INTENSIDADES QUE SE MOBILIZAM POR ENTRE AS FRONTEIRAS
HEGEMÔNICAS

José Roberto Silva de Oliveira


IFBA
roberto.oliveira@i�a.edu.br

Este resumo pretende apresentar formas alterna�vas de produção


de conhecimento, desenvolvidas por disciplinas que u�lizam a
cartografia como um método de inves�gação de processo de
construção de conhecimento, opondo-se aos regimes epistêmicos
hegemônicos. Buscaremos apresentar suas caracterís�cas
essenciais e estabelecer algumas relações entre o método e as
seguintes áreas: a cartografia crí�ca, a psicologia, a sociologia e a
filosofia. A cartografia possui dois princípios direcionadores: ela é
um método de inves�gação que descreve os processos e as
circunstâncias que os viabilizam, até a�ngir o acontecimento – os
pontos moleculares (singularidades rizomá�cas) ou molares
(estra�ficações hegemônicas); ela busca se desvincular do
processo produ�vo e cultural dominante, seja qual for a sua
tendência. No campo da cartografia crí�ca (CRAMPTON; KRYGIER;
WOOD; 2008, 2009), tem-se uma ênfase no processo de
democra�zação tecnológica, gerando tanto a proximidade do
espaço com o poder e o conhecimento quanto a autonomia
tecnológica, que se direciona para além dos sistemas de
informação geográfica. A u�lização da cartografia na psicologia
viabilizou-se pela noção de subje�vidade e as implicações que lhe
são rela�vas, com o intuito de mobilizar intensidades do sujeito,
visando singularizações e agenciamentos, em oposição às
individualidades subje�vas, geradas pelo sistema capitalista
(GUATTARI; ROLNIK, 1992; PASSOS, KASTRUP, ESCÓSSIA, 2015).
Quanto à sua relação com a sociologia, Boaventura de Souza
Santos (2011) apresenta alguns traços do método cartográfico nas

82
pesquisas das representações sociais, focando na ciência social e
no direito, que se revelam como elementos hegemônicos e
centrais de percepção de mundo, em torno dos quais orbitam o
verdadeiro e o inverossímil, o legí�mo e o ilegí�mo. Nesse sen�do,
o autor privilegia o espaço como a modalidade para pensar e agir,
em meio à qual as temporalidades se instalam, pois cada uma
dessas formas de tempo confere uma mentalidade própria às
relações sociais que nele têm lugar. Do ponto de vista filosófico, o
método da cartografia busca evidenciar a mul�plicidade como o
elemento que possibilita as produções. Ao pensar a mul�plicidade
como uma teoria e não como um disposi�vo de dis�nção entre a
consciência e o inconsciente, entre a natureza e a história, o corpo
e alma, que garante a separação do aglomerado e da unidade,
Deleuze e Guatari (2011, 1992) a concebem como uma realidade,
de onde se originam as subje�vações, as totalizações e as
unificações. Como teoria, ela possui os seguintes princípios:
elementos (singularidades), relações (devires), acontecimentos
(hecceidades), dimensões (espaço-tempo); modelo de realização
(rizoma), plano de composição (platôs) e vetores (territórios e
desterritorialização). Assim, tais princípios formam os diversos
planaltos que revelam a mul�plicidade como substância
(substan�vo) e não como mera qualidade (adje�vo); e se
manifestam como outras proposições da filosofia – as linhas de
fuga que buscam abandonar as segmentaridades territoriais,
responsáveis pelos sistemas e pela organicidade, na tenta�va de
evidenciar as intensidades (conexões rizomá�cas) e os
agenciamentos (produções inorgânicas).
Palavras-Chave: método da cartografia, produção de
conhecimento, rizoma, agenciamentos

83
ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O CARÁTER DIALÉTICO DA
EPISTEMOLOGIA QUÍMICA BACHELARDIANA

Lisandro Bacelar da Silva


UFBA

Reconhecendo a categoria dialé�ca como uma instância


profundamente relevante no âmbito do pensamento
bachelardiano, este trabalho, que se insere na linha de pesquisa da
Filosofia da Química “Os Clássicos da Filosofia e a Química”,
apresenta a concepção de dialé�ca presente na Epistemologia
Química, destacando os aspectos que conferem a esta visão a sua
originalidade. Assim, elegemos as seguintes questões como
orientadoras desta pesquisa: em que medida se depreende do
pensamento bachelardiano uma dialé�ca epistemologia química?
Por que a metaquímica bachelardiana pode ser concebida como
originalmente dialé�ca? De que modo são contempladas as
dimensões da práxis química na obra bachelardiana? Neste
sen�do, contemplamos obras como A Filosofia do Não, O Novo
Espírito Científico, Racionalismo Aplicado; O Pluralismo Coerente
da Química Moderna e Materialismo Racional, u�lizando uma
metodologia qualita�va. Primeiramente, neste trabalho,
descrevemos as origens, – que remetem à concepção de campos
teóricos estruturantes da epistemologia, desenvolvida por Adúriz-
Bravo – elementos, fundamentos e tensões cons�tu�vas da
categoria dimensões da práxis química, elaborada pelo
pesquisador Marcos Ribeiro, em sua Tese de Doutorado. Em
seguida, mostrando atenção ao fato da Filosofia das Ciências de
Bachelard ser uma epistemologia histórica, perscrutamos mais
de�damente a visão bachelardiana de dialé�ca, indicando e
refle�ndo sobre os elementos que outorgam a esta sua
originalidade, como a instância Complementaridade. Destarte,
também apontamos as relações que a categoria dialé�ca
empreende com outras categorias também relevantes do
84
pensamento de Bachelard, como Razão, Real, Racionalismo
Aplicado e Númeno. Mais adiante, ressaltamos que, em seu
esforço de compreensão das dimensões da práxis química, o
filósofo francês iden�fica, explicita e analisa os complexos
processos de diale�zações conceituais, nocionais e teóricos
empreendidos pelo pensamento químico. Nesse sen�do,
destacamos que o caráter dialé�co da epistemologia química
bachelardiana apresenta-se em sua radical originalidade, quando
se elucida o modo como Bachelard apresenta, descreve e
compreende os sofis�cados movimentos de aberturas
epistemológicas, re�ficações conceituais, complexificações
nocionais, deflagrados nas dimensões da práxis química. Com
efeito, tais movimentos cons�tuem-se como vetores
potencialmente capazes de, no plano do pensamento químico,
instaurarem novos princípios, novas estruturações teóricas,
revoluções nos campos nocionais fundamentais. Por fim,
reafirmamos a originalidade da dialé�ca presente na
epistemologia química bachelardiana, na medida em que
corresponde a um �po específico de pensamento, em que às
verdades estabelecidas opõem-se novas verdades que
inicialmente aparentam negar-lhes, mas em seguida as tornam um
caso específico de uma verdade mais geral.
Palavras-chave: Filosofia da Química. Dimensões da Práxis
Química. Epistemologia Bachelardiana. Dialé�ca.
Complementaridade.

85
O QUE HÁ DE EXPLORATÓRIO NA EXPLORAÇÃO EPISTÊMICA?

Milena Oliveira Pires


UFBA
milenaoliveirapires@hotmail.com
CAPES

Para responder à pergunta apresentada no título deste trabalho,


fundamentarei minha análise na teoria desenvolvida por Nora
Berenstain (2016) a respeito da exploração epistêmica. Esse
conceito foi formulado para descrever a dinâmica em que
indivíduos privilegiados impõem aos marginalizados a
responsabilidade de educá-los sobre a natureza de sua própria
opressão. A autora caracteriza essa situação como um processo de
trabalho epistêmico não reconhecido, não remunerado, que causa
exaustão emocional e é marcado pela coerção. Por exemplo,
podemos imaginar cenários nos quais pessoas brancas esperam
que pessoas negras assumam a tarefa de educá-las sobre o
racismo, ou ainda homens que aguardam que mulheres exerçam o
papel de educadoras sobre o machismo e/ou a misoginia. O cerne
da exploração epistêmica reside na perpetuação de uma
ignorância ativa, que por sua vez é fundamental para a
manutenção das estruturas epistêmicas dominantes. Ao
conceitualizarmos a exploração epistêmica como uma variante da
opressão epistêmica, abrimos caminho para a abordagem das suas
causas estruturais. Isso implica no reconhecimento das maneiras
pelas quais essa dinâmica prejudica as comunidades epistêmicas.
Além disso, tal abordagem nos permite vislumbrar os remédios
estruturais necessários para fazer frente a essa problemática.
Palavras-chave: Exploração epistêmica; Ignorância ativa; Opressão
epistêmica.

86
PRINCÍPIOS DO ENTENDIMENTO: O PAPEL SECUNDÁRIO DA
RAZÃO

Regiane Rodrigues Oliveira Novais


UNIFESP
renovais24@gmail.com
Capes-Proap

A filosofia moderna, salvo exceções, �nha a razão (ou a tenta�va


de alcançá-la) como caminho para se a�ngir a Verdade universal,
afastada de erros e enganos obviamente causados pelos sen�dos.
O marco de dis�nção entre corpo e mente cartesianos reverberou
em gerações e gerações de filósofos que buscavam refinar e pintar
em vivas cores as vantagens de ser um ser racional, demarcando
diferenças entre seres que não apresentavam racionalidade, ao
menos não no sen�do que se pretendia. Ser dominado por
paixões, usar a experiência como método e curvar-se perante a
grandiosidade da natureza era mais que uma incapacidade
intelectual. Contudo, dentro da filosofia humeana, a razão toma
seu espaço na contramão de tais ideais, sendo muito mais uma
“fiel da balança”, isto é, a razão não tem um papel de protagonista
na inves�gação filosófica mas, embora não seja um princípio
fundamental do entendimento, é e deve ser u�lizada no processo
de conhecimento. Este será o tema do capítulo 2 da tese Do
Entendimento à moral: a modés�a cé�ca como um caminho para
uma filosofia da vida prá�ca, visando o estudo do contexto da
razão na filosofia moderna, principalmente, e as peculiaridades do
uso da razão na filosofia de Hume. Este capítulo é dividido em 2
partes, a primeira voltada à história da razão na modernidade e a
segunda parte focada na análise do conceito razão na filosofia de
D. Hume, tendo o ce�cismo e o empirismo como fundamentais na
definição do papel da razão no entendimento humano. O capítulo
é finalizado, ainda, com um tópico voltado a pensar a razão
moderna como trunfo da colonialidade e epistemicídio.
Palavras-chave: razão, modernidade, ce�cismo, empirismo,
colonialidade
87
O PROBLEMA PRAGMÁTICO DA INDUÇÃO E O RACIONALISMO
CRÍTICO DE POPPER

Emily de Oliveira Ovalhe


UFBA
emilyovalhe@hotmail.com

A par�r do problema da indução, como proposto por David Hume,


o empreendimento cien�fico se torna injus�ficado. Se
entendermos jus�ficação como requisito para racionalidade, todo
nosso conhecimento, incluindo o cien�fico, torna-se mera crença
irracional, sendo impossível de dis�ngui-lo de um delírio qualquer.
Com isso, duas possibilidades: ou realmente renunciamos à
racionalidade da ciência, abrindo espaço para a tese rela�vista, ou
tentamos reformular o conceito de racionalidade para além da
jus�fica�va suficiente, como tenta Popper, possibilitando que
tenhamos conhecimento de p sem termos uma jus�fica�va
suficiente para p. Pretendo analisar a proposta popperiana de
racionalidade, tendo em vista o problema pragmá�co da indução:
por que imaginar que as teorias cien�ficas são uma base mais
racional para a tomada de decisão do que outros métodos? Para
isso, inves�go tanto as objeções de Wesley Salmon ao racionalismo
crí�co de Popper, quanto as respostas de David Miller, em sua obra
Critical Rationalism: A Restatement and Defense. Além disso,
pretendo explorar as implicações dessa interpretação para nossa
compreensão do progresso cien�fico. Argumento que a concepção
de Popper permite uma visão mais dinâmica do progresso
cien�fico, onde a aceitação de teorias é um compromisso
pragmá�co temporário, não um endosso absoluto da verdade.
Com este trabalho, espero trazer uma nova luz sobre a filosofia de
Popper e seu impacto em nosso entendimento do
empreendimento cien�fico
Palavras-chave: Aceitação de teorias; Ciência; Corroboração;
Racionalidade.
88
RACIOCÍNIO ABDUTIVO E AS PRÁTICAS DE CIÊNCIA ABERTA

Mariana Vi� Rodrigues


UNESP
mvi�rodrigues@gmail.com
FAPESP

O obje�vo do presente trabalho é inves�gar o potencial heurís�co


das prá�cas de ciência aberta no contexto da crescente automação
da inves�gação cien�fica. As prá�cas de ciência aberta têm por
obje�vo aprimorar a acessibilidade, transparência e
reprodu�bilidade da pesquisa cien�fica a par�r do
compar�lhamento de algoritmos especializados, ferramentas de
modelagem, conjunto de dados e infraestruturas de dados, em
escala local e global. Para lidar com vasta quan�dade e diversidade
de dados, modelos algorítmicos de análise de dados foram
desenvolvidos a fim de facilitar a detecção de padrões em
estruturas de dados existentes que, idealmente, promoveriam
novos insights aos processos de descobertas cien�ficas. No
contexto da prá�ca cien�fica, a seguinte questão direciona nossa
apresentação: em que medida o processo de uso e reuso de dados
ampliaria e/ou restringiria o potencial de descobertas por abdução
que envolvem a aplicação de modelos algorítmicos de análise de
dados? Para inves�gar este problema, analisaremos o conceito de
raciocínio abdutivo, entendido como um �po de inferência
amplia�va que se inicia com a percepção de um fato
surpreendente e se encerra, provisoriamente, com a geração de
hipóteses explica�vas que direcionam o futuro da inquirição. Em
seguida, inves�garemos o papel da abdução no estabelecimento
de estratégias para seleção de padrões latentes no fluxo dinâmico
de dados digitalizados, caracterizado como jornada de dados.
Finalmente, analisaremos estudos de caso no contexto da
bioinformá�ca a fim de refle�r sobre os desafios e perspec�vas de

89
prá�cas de ciência aberta para os processos de descoberta
cien�ficas.
Palavras-chave: Raciocínio abdu�vo; Jornada de dados; Ciência
aberta.

90
CONEXÕES E DESCONEXÕES ACERCA DA TEORIA DO MÉTODO
CIENTÍFICO NA MICRO-EPISTEMOLOGIA DE GASTON BACHELARD
E NA EPISTEMOLOGIA DE KARL POPPER

Ângelo Márcio Macedo Gonçalves


UEFS
angelomgoncalves@uol.com.br

A presente comunicação visa expor a relação, relevância e


contextualização conceitual nas propostas de uma Teoria do
Método Científico na análise que Bachelard faz no texto de 1935,
Logique et épistemologie, sobre a obra Logik Der Forschung (1934)
de Karl Popper. Por meio de uma teia sustentada por um forte laço
epistemológico na primeira metade do século XX, apresentaremos
a tensão entre o critério de demarcação e desenvolvimento
científico e suas influências no ambiente que envolve as possíveis
ressonâncias do contexto conceitual desses dois autores.
Mostraremos a contundente precisão da micro-epistemologia
bachelardiana provocada pela tese de retificações de erros,
aberrações e singularidades de aplicabilidade, buscando as
relações com o que Popper chama de revisão de enunciados
empíricos e análise puramente lógica. Portanto, através de uma
metodologia comparativa/estruturalista, identificaremos as
possíveis conexões e desconexões entre eles, com o objetivo de
mostrar uma especialização epistemológica mais precisa de
Bachelard em relação a Popper.
Palavras-chave: Epistemologia Contemporânea; Lógica da Ciência;
Teoria do Método Científico.

91
FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
18/10
Quarta
Sala

222

92
LICENCIATURA EM FILOSOFIA: ALGUNS DILEMAS NO PROCESSO
FORMATIVO

Edna Furukawa Pimentel


Docente da UESB
edna.pimentel@uesb.edu.br

Esse estudo, ainda em andamento, se insere no campo da


formação de Professores para o ensino de Filosofia. Parte-se da
seguinte questão de pesquisa: quais são os principais desafios e
dilemas presentes na licenciatura em Filosofia que tem dificultado
a realização da práxis educa�va na formação do licenciando? Essa
questão suscitou os seguintes obje�vos: iden�ficar a estrutura e a
forma em que o currículo do Curso de Filosofia é implementado;
compreender de que forma as disciplinas de conteúdo específicos
se ar�culam com as disciplinas pedagógicas no Curso. Essa
pesquisa qualita�va, de cunho bibliográfico, já apresenta alguns
achados, dentre eles: a) separação entre disciplinas de conteúdo e
disciplinas pedagógicas, com pouca ou nenhuma ar�culação entre
elas; b) distanciamento entre ensino e pesquisa, com pouca ênfase
na abordagem do ensino de filosofia como problema filosófico e c)
afastamento entre formação acadêmica e realidade prá�ca. Esses
e outros elementos podem mobilizar os docentes das licenciaturas
a se aproximarem mais do acervo teórico-metodológico dos
conhecimentos didá�co-pedagógicos, construindo pontes de
diálogos e de possibilidades que permitam qualificar cada vez mais
a formação tanto do docente formador, quanto do licenciando em
formação.
Palavras-chave: Licenciatura; Ensino de Filosofia; Docência em
Filosofia.

93
INFÂNCIA E FILOSOFIA: O PENSAMENTO ACERCA DO BRINCAR

Ana Paula Silva dos Santos


Graduanda em Filosofia - UNEB
a.paulaslvs@gmail.com
PIBID/RP - CAPES

O presente trabalho tem como objetivo identificar quais as


principais concepções do brincar segundo os filósofos em relação
à ressignificação da criança com o mundo através das brincadeiras.
Na filosofia temos alguns filósofos que discorrem sobre a infância,
destacando o contexto de cada época. A palavra infância designa
o período da vida desde o nascimento até a puberdade, quando
começa a adolescência. Nem sempre a infância foi assim
compreendida. Ghiraldelli, filósofo da educação, esclarece que
somente entre os séculos XVII e XVIII se passou a tematizar a noção
de infância. No período de IV e V a criança não tinha direito a fala
e o infante tinha que passar pelo adestramento moral e educativo,
pois, a verdade que poderia sair da boca de uma criança poderia
ser considerada uma maldade. Rousseau afirma que até a sua
época a infância era desconhecida, o que se caracteriza como uma
séria dificuldade para a sociedade, tendo em vista que a concepção
humana deve principiar com a valorização da infância como parte
primordial do meio de formação do homem livre. Em tempos mais
recentes, o filósofo Benjamin, rememora a história dos brinquedos
que surgiram no âmbito de oficinas de fundidores de estanho e de
escultores de madeira. A produção de brinquedos passa a ser
artefato da indústria e o modo específico apenas no século XIX. A
estrutura metodológica do trabalho de pesquisa consistiu na
abordagem qualitativa, através da pesquisa bibliográfica e
documental. Os principais resultados e contribuições foram o
aprendizado da história da infância, sua evolução e o modo como
as crianças eram retratadas em outras épocas, como a infância foi
invisibilizada em certo tempo. Deixando o seu anonimato com a

94
mudança da sociedade e dos paradigmas de conhecimento, a
infância foi reconhecida na sua autenticidade de ser criação, e não
mais vista como adulto em miniatura. Na atualidade podemos ver
as crianças e suas particularidades sendo novamente
ressignificadas. A indústria do brinquedo, aperfeiçoada pelas
possibilidades tecnológicas e digitais, contribui para o
desenvolvimento criativo e cognitivo da criança, e outras vezes
nem tanto, acarretando prejuízos nos processos de aprendizagem
e socialização. Outra realidade a ser considerada é a criança que
não usufrui de seu direito de ser criança, lançada precocemente
no mundo adulto. Através das brincadeiras as crianças veem as
pessoas e o mundo de maneira particular, expressando suas
vivências e aprendizados no ato de brincar. Pensar o papel do
brinquedo e da brincadeira é tarefa eminentemente importante
na era da tecnologia e das interações digitais.
Palavras-chave: Criança; Infância; Brincadeira; Filosofia;
Aprendizagem.

95
CONHECIMENTOS TRADICIONAIS E ANCESTRALIDADES: POR
UMA FILOSOFIA DO ENCANTAMENTO

Lincoln Nascimento Cunha Júnior


IFBA/UFBA
lincunha@hotmail.com

Buscamos, neste trabalho, discu�r a filosofia sob algumas


perspec�vas afro-brasileiras e indígenas, tendo a Ancestralidade
como ponto principal de uma cosmopercepção do encantamento.
Nesse caminho, o tema se apresenta como uma superação em
relação à epistemologia ocidental, pois tem por base inves�ga�va
os saberes tradicionais e a ancestralidade, que se manifestam nas
encruzilhadas e nas trilhas de mato, espaços marcantes no
conhecimento indígena e afro-brasileiro. O mato e as
encruzilhadas, locais nos quais as ancestralidades são alimentadas
e fortalecidas, onde se recorrem às divindades e aos espíritos, é
também lugar de ensinamento e construção de conhecimento que
podem ser considerados puro ato da existência. E, tendo em vista
que vivenciamos a mais de 500 anos a tenta�va de apagamento
dos conhecimentos tradicionais não-europeus, sua existência
fortalece e se alimenta dos saberes, das ações, dúvidas e escolhas
construídas a par�r da experiência ancestral que valoriza a vida, a
natureza, os cruzos, as experiências e resistências polí�cas, a não-
linearidade, o inacabado, o incerto, a diversidade. Para nossa
discussão tomaremos como base pensadores e pensadoras
indígenas e afro-brasileiras, tais como Muniz Sodré e Lêda Maria
Mar�ns, Ailton Krenak e Davi Kopenawa, Eduardo Oliveira e Luiz
Rufino.
Palavras-chave: Ancestralidade; Encantamento; Pensamento
descolonial.

96
EDUCAÇÃO CONTINUADA: AS DISCORDÂNCIAS ENTRE OS
FUNDAMENTOS POLÍTICOS E O CURSO DE LICENCIATURA

Marília Gabriella Emidio Dos Santos


Graduanda em Filosofia - UESC
mgesantos.fls@uesc.br

A polí�ca de inclusão educacional, inserida no hodierno sistema de


ensino brasileiro determina o desenvolvimento da formação
con�nuada no decurso da capacitação profissional do docente. O
instrumento norma�vo da administração pública - portaria Nº
1.793, de dezembro de 1994, prescreve a integração da educação
inclusiva na grade curricular dos cursos de licenciaturas, com a
finalidade de conceber a práxis do ensino/aprendizado para uma
efe�va intervenção, mediante adversidades enfrentadas durante a
integração de alunos com deficiências, transtornos de
comportamentos ou síndromes em classes regulares. Apesar da
ascensão legisla�va que assegura o ensino igualitário com
abordagens de inserção, a ausência de ar�culação no que concerne
a disciplinas, projetos pedagógicos e discussões nos ambientes
acadêmicos, evidencia as incongruências entre os fundamentos
polí�cos e as implicações compulsórias dos cursos. A omissão do
ensino superior na reformulação de ações especializadas no
cumprimento dos requisitos das determinações norma�vas,
impacta na composição de habilidades e competências
especializadas em atender as especificidades do aluno. Assim, a
finalidade desta pesquisa é analisar a proposta pedagógica do
ensino especial, ofertada pelo curso de filosofia da Universidade
Estadual de Santa Cruz e refle�r como a escassez de implicações
adequadas inviabiliza a execução de estratégias metodológicas que
proporcionem a aprendizagem e possibilitem o acesso ao
conhecimento. A inves�gação qualita�va, u�lizada no escopo do
estudo, evidencia a insuficiência do projeto de assistência
especializada ofertado na graduação para intensificar o

97
desenvolvimento de a�vidades alterna�vas, tornando o ensino
democra�zado.
Palavras-chave: Formação de professores; Educação con�nuada;
Inclusão; Ensino filosófico; Estratégias metodológicas.

98
EDUCAÇÃO DECOLONIAL

Angelis Freitas Ribeiro Silva


Discente de Especialização em Filosofia – UEFS
angelis39@gmail.com

A colonialidade e modernidade regem as sociedades ocidentais a


bastante tempo, apesar do sistema do qual elas se originaram
(colonialismo) não ser mais vigente e estarem escancaradas as barbáries
causadas por ele. O fenômeno dito “colonialidade de poder” impacta
diretamente na vida dos colonizados e por este motivo o conhecimento
da perspectiva decolonial torna-se fundamental para a libertação do
imaginário destes sujeitos. A pedagogia decolonial apresenta-se como
um caminho à desconstrução e à decolonialidade na prática, contudo
existem ainda muitos desafios para a sua aplicação com eficácia. O
objetivo deste texto é levantar as questões da colonialidade e
modernidade e como elas impactam na educação eurocentrada-
tradicional no contexto da filosofia, em contrapartida à busca por uma
educação cada vez mais decolonial e instrumento para que a prática da
descolonialidade se aproxime cada vez dos seus objetivos teóricos.
Basearei essas reflexões nas discussões apresentadas por Aníbal Quijano
e Maria Lugones, bem como nas ideias de uma pedagogia decolonial.
Palavras-chave: Educação; Colonialidade; Decolonial; Filosofia.

99
QUESTÕES DE GÊNERO NO CURRÍCULO DE FILOSOFIA: ANÁLISE
DO LIVRO DIDÁTICO PNLD-2021

Romualdo Ba�sta Malaquias


Mestrando em Filosofia - UFCG
romualdomalaquias@gmail.com

Kayo Henrique Farias de Araujo Ferreira


Graduando em Filosofia - UFCG
kayo_42@hotmail.com

Esta comunicação analisa como os livros didá�cos de Filosofia do


ensino médio do Programa Nacional do Livro Didá�co PNLD 2021
lidam com as Questões de Gênero. O obje�vo é compreender
como a filosofia pode auxiliar na desconstrução dos papeis sociais
de gênero. A metodologia u�lizada é qualita�va de natureza
básica, exploratória e bibliográfica. O referencial teórico é uma
ar�culação entre os conceitos de injus�ça epistêmica na obra
Injusticia Epistémica: El poder y la ética del conocimiento (2017),
de Miranda Fricker, e o dualismos hierárquicos presente na obra Os
usos do mito, da imagem e do corpo da mulher na re-imaginação
do conhecimento (1997) de Donna Wilshire. Trabalhando o tema
de gênero na sala de aula podemos apresentar a ausência de
filósofas nas páginas dos livros didá�cos, muitas das vezes quando
temos a representa�vidade delas são apenas como exemplos de
nomes. São raros os casos em que o conceito filosófico delas são
apresentados nos livros didá�cos. Sem falar sobre como na História
da Filosofia ao longo dos séculos percebemos que ocorre esse
apagamento, esse epistemicídio é reproduzido dentro da academia
no ensino superior e assim o ciclo de formar pessoas licenciadas
sem ter contato com filósofas proporciona que seja perpetuado a
cultura do apagamento feminino. Percebemos que na construção
do pensamento filosófico, não vemos esses nomes femininos
sendo apresentados nos livros didá�cos de filosofia, isso não
significa que elas nãos existam, pelo contrário existem e tem seus
100
pensamentos relevantes em diversas áreas da filosofia,
simplesmente sendo apagadas sua importância e relevância. Com
base em estudos no PNLD de 2018 ob�vemos que dos oitos livros
didá�cos distribuídos nas escolas públicas brasileira apenas um
deles �nha entre suas páginas a problemá�ca sobre questão de
gênero. Desta forma, também acontece com as mulheres na
história humana, existem grandes mulheres que foram sufocadas
pela vertente da histórica masculina contada como única e
verdadeira. A escola é um espaço em constante transformação e o
professor deve ser um causador dessa transformação.
Palavras-chave: Filosofia; Questão de Gênero; Ensino de Filosofia.

101
GÊNERO E SEXUALIDADE: A AUSÊNCIA DO DEBATE NOS ESPAÇOS
ESCOLARES E NOS LIVROS DIDÁTICOS

Edinei Araujo Santos


Graduando em Filosofia - UFRB
edineiaraujo@aluno.ufrb.edu.br

O presente trabalho tem como obje�vo discu�r a conceituação de


gênero numa dimensão plural, ou seja, para além da
heterossexualidade. Consideramos que estamos marcados pela
ausência do debate de gênero e sexualidade nos espaços escolares,
assim como nos livros didá�cos, pretendemos demostrar como a
ausência, ou até mesmo a superficialidade, deste debate pode
impactar na formação e na vida dos estudantes. Contudo,
assumindo que gênero é construído a todo momento, iremos nos
debruçar em algumas questões. Como a que problema�za, do
ponto de vista educacional, como o gênero é construído até nas
coisas mais co�dianas. Sendo assim, por que a escola silencia sobre
o debate de gênero em sala de aula? Por que professores e
professoras de filosofia, que se ocupam com questões essenciais à
subje�vidade e à cons�tuição do ser humano, não abordam temas
como a homofobia? Assim, considerando os livros didá�cos como
objeto de auxílio importan�ssimo no processo de ensino, será
analisado o livro Filosofando: introdução à filosofia”, das autoras
Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helene Pires Mar�n, e a
Coleção Multiversos dos autores Alfredo Boulos Júnior, Edilson
Adão e Laercio Furquim Jr, livros do “novo modelo de ensino
médio”, a fim de compreender se esses conteúdos aparecem nos
livros e de que forma uma possível ausência ou superficialidade do
debate de gênero e sexualidade pode afetar a formação e a vida
dos estudantes brasileiros.
Palavras-chave: Educação; Filosofia; Gênero; Sexualidade.

102
FILOSOFIA PARA UM ENSINO FEMINISTA

Rebeca Paixão Barreto dos Santos


Graduanda em Filosofia - UFRB
rebecapaixao@aluno.ufrb.edu.br

Segundo o filósofo Immanuel Kant, “De um professor espera-se,


pois, que ele forme em seu ouvinte primeiro, o homem sensato,
depois o homem racional e por fim, o douto”. Dessa forma, é
percep�vel que Kant propõe um método para formação docente
de um homem sensato ou melhor, de um professor de excelência,
que deve primeiro aprender a escutar seu aluno, para depois agir
de maneira racional, orientando-o para o pensamento filosófico e
compreendendo que o processo educacional é uma troca de
conhecimentos, e a verdadeira sensatez está no ouvir e entender
que é necessário tempo para o amadurecimento desse saber.
Apesar desse método ser excelente, imediatamente conseguimos
analisar um pensamento fechado e direcionado ao gênero
masculino, tanto que Alice H. Puleo cita, “o próprio Kant, pensador
da autonomia do indivíduo, assegurou que as mulheres não eram
capazes de julgamento moral autônomo e deveriam ser
consideradas como eternas menores”. Logo, deixando evidente a
superioridade masculina e a impossibilidade do gênero feminino
ao exercer sua autonomia e uma profissão como de docente.
Portanto, o que seria necessário para se tornar uma mulher
sensata e racional ou melhor, uma professora de excelência como
pontua o filósofo? Esse sistema patriarcal e machista delimita o ser
pelo gênero, isso quando não �ra seu direito de exis�r em
determinados ambientes ou quando de maneira racional,
impossibilita e silencia sua existência. Portanto, são notáveis às
dificuldades assumidas pelas mulheres em diversos contextos e
inclusive quando assumem a docência, pois o ensino é sempre
visto como algo “feminino”, por estar ligado a essa visão de que as
mulheres educam e os homens lideram, sempre direcionam a

103
mulher para um papel empá�co, mas inferior ao homem. E quando
se trata da educação na atualidade ela é �da como precursora,
tornando a profissão “coisa de mulher”. Entretanto, em disciplinas
como de filosofia as mulheres ocupam menos espaços, isso se dá
por vários fatores, um deles seria a falta de conteúdos produzidos
e direcionados nas universidades a assuntos feminista, e por isso a
necessidades de se formar filosofas através de disciplinas
feministas filosóficas. É importante também tratar desses assuntos
na sala de aula do ensino básico, pois esse ensino deve se iniciar
desde a educação primaria para que dessa forma, seja incen�vado
o senso crí�co reflexivo sobre a sociedade machista em que
vivemos. Na sequência, como menciona bell hooks “se criarmos
teorias feministas e movimentos feministas que falem com essa
dor, não teremos dificuldades para construir uma luta feminista de
resistência com base nas massas”. Em suma se faz necessário uma
filosofia feminista nas salas de aula, tanto para um reconhecimento
da causa por meio de reflexões, como também para uma mudança
social, pois quanto mais fazermos dos espaços educacionais locais
de fala sobre assuntos discriminados, mais tornaremos pública a
urgência de uma mudança no pensamento social e na educação
como um ato emancipatório.
Palavras-chave: Filosofia; Feminismo; Educação; Kant; bell hooks.

104
FILOSOFIA E QUESTÕES ÉTNICO-
RACIAIS
18/10
Quarta
Sala
223

105
RACISMO E CULTURA A PARTIR DE FRANTZ FANON

David Passos Dantas


Graduando em Filosofia - UNEB
davidp.dantas@outlook.com

Frantz Fanon tem um breve ensaio sobre, como diz o �tulo,


“Racismo e Cultura”. Na comunicação, a par�r deste texto, retomo
o problema sobre a relação entre racismo e cultura, dialogando
com teóricos atuais da decolonialidade, como Lélia Gonzalez e
Enrique Dussel. Inicialmente, apresento o conceito de “cultura”
como o todo de uma estrutura social, englobando os aspectos
polí�cos, sociais e econômicos, além de toda produção ar�s�ca e
intelectual. Estrutura essa que contribui para a cons�tuição da
subje�vidade e determina as formas de percepção do sujeito e
determina, também, juízos de valor dos fenômenos. Logo após,
trato do problema do racismo, apresentado por Fanon não como
um todo, e sim como um elemento visível de uma estrutura de
dominação de um �po de homem sobre outro, que se instaura
sobre a violência colonial e que efetua uma cisão entre o mundo
do colonizador e do colonizado. Vale notar que tal processo se
desenvolve no terreno fér�l de toda uma tradição pré-colonialista
do século XV ao XIX, que considerava as manifestações culturais
dos povos �dos como “selvagens”, absurdas, supers�ciosas ou
exó�cas. A segregação operada no campo do espírito condiciona
determinados corpos a lugares de subalternidade através de um
projeto de alienação e violência �sica, polí�ca e cultural. O racismo,
em outras palavras, estabelece uma hierarquia racial e cultural que
opõe a “superioridade” branca ocidental à “inferioridade” negro-
africana. Depois, busco demonstrar que esse elemento não
permanece está�co, necessita modificar-se para manter as formas
de dominação. Primeiro, encontra-se um racismo biológico que
inferiorizava os indivíduos através das diferenças dos corpos, com
base em argumentos com legi�midade cien�fica. Em seguida,

106
passa a uma forma mais sofis�cada e disfarçada que condena
formas de vida, através da desvalorização dos aspectos esté�cos,
é�cos, polí�cos e epistêmicos das culturas dos povos colonizados,
determinando-os a se cons�tuir enquanto sujeitos, dentro da
cultura colonial imposta pela dominação. Uma estrutura que nega
suas formas de conhecer, de se organizar socialmente e, acima de
tudo, nega o seu ser. Portanto, esse trabalho visa analisar como o
racismo age diale�camente com a cultura e afeta, não só as
relações par�culares, mas também, desde as ins�tuições à
cons�tuição da subje�vidade do sujeito, à medida que a lógica do
sistema de dominação necessita do racismo para con�nuar se
mantendo e condicionando existências.
Palavras-chave: Cultura; Racismo; Colonização; Frantz Fanon.

107
SOBRE A VIOLÊNCIA: UMA LEITURA DE FRANTZ FANON

Filipe Santos de Melo


Graduando em Filosofia - UNEB
filipesantosdemelo@gmail.com
PIBID/RP - CAPES

A presente comunicação pretende apresentar o conceito de


violência para Frantz Fanon a par�r da leitura do capítulo em
�tulado sobre a violência no livro Condenados da Terra, designo a
importância da violência dentro do mundo colonizado, e sua
função para a colonização. Desta forma evidencio quais �pos de
violência são apresentadas por Fanon, quem são os seus
realizadores, as diferenças entre elas, o efeito e seu obje�vo. E
como essa violência permanece dentro do co�diano dos negros até
os dias atuais, sendo de forma subje�va ou sistêmica. Acrescento
colonialismo como uma estrutura operante na sociedade
colonizada, tal violência é um fenômeno vigente para essas
incursões de maneira ideológica ou �sica com o propósito de uma
repressão, ou com finalidade de uma independência econômica e
social. O fator explicito é onde atuará essa violência especificando
seu resultante, levando quem é o seu executor, assim
comprovando tendência, em suma, as intenções do seu uso.
Concluo que o fenômeno colonialismo é atuante, o mesmo alicerça
e organiza as relações do Estado com a população negra,
conduzindo ao prolongamento do racismo, que por sua vez
con�nua sendo perpetuado, equipado em sua estratégia de
genocídio do povo negro tem como zona de atuação os bairros
periféricos, conduzindo um discurso violento, sendo o mesmo qual
foi usado como jus�fica�va para escravidão no período colonial,
sobre o jugo do aparato da polí�ca da morte usada para legi�mar
suas inves�das violentas.
Palavras-chave: Violência; Colonização; Racismo; Frantz Fanon

108
A IDENTIDADE DE ESTUDANTES QUILOMBOLAS NA UFBA: UM
ENFOQUE METODOLÓGICO

Paulo Alberto Sobral de Moraes


Mestrando no PPGEISU - UFBA
paulo.sobral@u�a.br
FAPESB

Este trabalho buscará apresentar as reflexões até aqui


desenvolvidas que versam sobre os aspectos filosóficos e prá�cos
do nosso trabalho metodológico. A par�r de um recorte dos
debates sobre desdogma�zação e descolonização das
metodologias, buscaremos iden�ficar as premissas que apontam
para a necessidade de metodologias mais abertas e flexíveis para
as ciências humanas, tendo como conceito operante a iden�dade
narra�va de Paul Ricoeur. Esta primeira reflexão nos interessa, pois
encontra com o obje�vo geral da pesquisa, a saber, compreender
a presença de estudantes quilombolas na UFBA a par�r de suas
narra�vas e iden�dades. O ingresso de estudantes quilombolas na
universidade trouxe à tona desafios que se atrelam, por um lado,
aos desdobramentos da Lei 3.262 de 2004 no que se refere a
acesso e permanência e, por outro, ao modo como a presença a�va
desses estudantes reverbera os debates em torno da pluralidade
de saberes e as hierarquias de poder reproduzidas pela/na
universidade. Com isso, espera-se alcançar reflexões que nos
ajudem a pensar cri�camente nossas escolhas teórico-
metodológicas.
Palavras-chave: Metodologia; Descolonização; Desdogma�zação;
Estudantes quilombolas; Universidade.

109
TEMAS E QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS PARA CRIANÇAS: IMAGENS
E CONCEITOS ATRAVÉS DE CONTOS FILOSÓFICO-LITERÁRIOS

Eliene Macedo Silva


Mestranda em Filosofia - UFRB
lunaselene.silva@gmail.com

Com base na legislação educacional, os docentes podem trabalhar


com seus alunos questões étnico-raciais como temas transversais.
Mas, no caso da disciplina de Filosofia, esses temas têm aparecido
pouco nos cadernos, manuais ou apos�las, em par�cular no Ensino
Básico, com maior destaque para temas e questões clássicas do
pensamento ocidental. Diante disso, a questão de pesquisa que
elaboramos como proposta de discussão na presente comunicação
foi: Como ensinar filosoficamente temas e questões étnico-raciais
com crianças no Ensino Fundamental II? Esta questão surge
enquanto movimento da nossa pesquisa de mestrado no Prof-Filo,
núcleo UFRB. Par�mos da hipótese de que para ensinar
filosoficamente temas e questões étnico-raciais para crianças no
Ensino Fundamental II é necessário que pensemos em uma
proposta de intervenção didá�co-Filosófica que leve em
consideração as habilidades, disposições e formas de apreensão
conceitual da comunidade para a qual se dirige tal proposta
metodológica. Nesta direção, acreditamos que a literatura, da
forma como propomos, é uma forte aliada na construção do
pensamento filosófico para crianças, permi�ndo uma reflexão
conceitual crí�ca sobre os fundamentos e princípios de sua
iden�dade étnico-racial a par�r de situações problemas vividas e
protagonizadas por elas. A faixa etária de nosso interesse de
inves�gação são crianças de 9 a 12 anos, que corresponde ao
período que Jean Piaget (1896-1980) chama de Operatório
Concreto. Para compreender tal definição u�lizaremos o livro Seis
estudos de Psicologia (1964). Os conceitos sobre temas e questões
étnico-raciais a serem trabalhados com essas crianças são

110
extraídos dos Olhares Negros: Raça e Representação (1992) de bell
hooks (1952-2021) e de O negro visto por ele mesmo de Beatriz
nascimento (1942-1995). E o nosso entendimento do que é
Filosofia está sustentado nas caracterizações do conhecimento
filosófico dadas por Gilles-Gaston Granger (1920 - 2016) em Por um
conhecimento Filosófico. (1989).
Palavras-chave: Filosofia; Criança; Raça; Ensino; Literatura.

111
A ESTETIZAÇÃO DO MUNDO E UM AFROFUTURO AMEAÇADO

Ana Beatriz de Lima Correia


Mestre em Filosofia - UFC
delimacorreiaa@gmail.com

Um novo modo de conquista se funde a um renovado estilo de


vida, exploram-se agora as dimensões estético-emocionais, o que
importa são os mercados financeiros e o lucro máximo. A era da
hipermodernidade estetizou o mundo. Gilles Lipovetsky nos
apresenta as quatro eras desta estetização global. A máquina do
capitalismo tudo devora, as relações, as artes, a política, a
educação entre outras esferas humanas. O que está em jogo aqui
são também as aniquilações das formas de vida. Indissociável do
capitalismo, o negro é uma invenção moderna, cujo significado diz
respeito a degradação, animalismo, exclusão, abominação e
humilhação. Achille Mbembe um pensador camaronês, reflete
sobre a condição do negro, uma relação de implicação que surge a
partir e na modernidade, que em última instância, só existiu
porque fabricou-se a figura do negro. Hoje, sem conhecimento do
seu passado, vive no presente como descartável, já não é
possuidor nem do seu tempo nem do futuro. E esta é a questão
fundamental no nosso século. É a partir desse cenário que nasce o
afrofuturismo, um movimento estético, musical e literário, que
tem como premissa uma questão fundamental: por que não
conseguimos imaginar os negros no futuro? A partir das reflexões
de Achille Mbembe e Gilles Lipovetsky, o texto pretende apontar
algumas nuances acerca das produções estéticas e suas rotas de
fuga. Pode existir um afrofuturismo dentro do sistema capitalista?
Palavras-chave: Estetização; Afrofuturismo; Raça; Negro; Futuro.

112
BLUES COMO FONTE DE RECONHECIMENTO, FORÇA E PODER DA
MULHER NEGRA: UMA APRESENTAÇÃO DO PENSAMENTO DE
ANGELA DAVIS

Julia Coelho Gomes Seixas da Fonseca


Mestranda em Filosofia - PPGF/UFBA
julia.coelhogf@gmail.com
CAPES

É obje�vo desta comunicação apresentar os usos do blues no modo


como a mulher negra reconhece a si mesma e se coloca diante da
sua comunidade e da sociedade. Em Blues Legacies and Black
Feminism, Angela Davis evoca o papel das mulheres negras,
cantoras de blues, da classe trabalhadora, na construção de uma
consciência autônoma capaz de se autodefinir perante um mundo
que corrompe a sua imagem e tenta a todo custo negar o seu
direito de autodefinição, de existência, de segurança e de
liberdade. Através da música, as cantoras de blues expressavam os
seus sen�mentos mais par�culares e ín�mos, ao mesmo tempo em
que construíam e nomeavam sen�mentos que era comum a toda
comunidade. Cantar sobre si, seus desejos, inquietações e
problemas é, diante disso, uma forma de tomar poder da situação,
uma maneira de empoderar-se. Desse modo, esta comunicação
pretende-se apresentar da seguinte forma: primeiro, discu�r o
impacto da não-liberdade na mulher negra; e, segundo, apontar a
relação do blues com a pessoa, como fonte de força e poder.
Palavras-chave: Blues; Empoderamento; Liberdade.

113
PARA ACABAR COM O MITO DAS “CITÉS GUETOS” – A
REFERENCIAÇÃO DAS TERMINOLOGIAS NORTE-AMERICANAS
COMO APAGAMENTO DAS REALIDADES PERIFÉRICAS AO REDOR
DO GLOBO

Ivonei Guedes Evangelista


Graduando em Filosofia pela UNEB
shade.guedes@gmail.com
PIBID - CAPES

As questões próprias de uma sociedade precisam ser


compreendidas por um olhar sobre os fenômenos que a
cons�tuem e os que em algum ponto da história contribuíram com
a sua formação. Quando há apropriação de elementos que lhe são
alheios, não raro para sa�sfazer obje�vos escusos e fe�ches das
elites, conflagra-se um apagamento da possibilidade de
compreensão social. Para defender a tese aqui exposta, u�lizo o
ar�go “Para Acabar com o mito da cités-gueto – As diferenças entre
a França e os Estados Unidos” presente no livro As duas Faces do
gueto de Loic Wacquant. Inicialmente, trato sobre o como esse
texto do sociólogo francês iden�fica que, a par�r dos anos 1990, o
termo “gueto, capturado a par�r de seu uso em uma lógica de
marginalização das minorias na sociedade estadunidense é
atribuído aos conjuntos habitacionais das periferias urbanas
francesas cité por polí�cos de diferentes espectros ideológicos,
alguns pesquisadores da área das ciências sociais e, sobretudo, da
mídia. Em seguida, u�lizando o aprofundamento que Wacquant
realiza na concepção da palavra gueto, apresento uma
possibilidade de reorganização dos conceitos com a análise da
e�mologia da palavra. De origem italiana, advinda da Veneza de
1516, a palavra deriva de guideica ou gietto, e significava a
aglomeração de judeus em determinadas localidades, para dar
pretensa proteção aos cristãos, segundo a Igreja, da contaminação
que os assolava (ad scandala evitanda). Similar formação

114
estruturou os bairros que existem nas periferias americanas da
atualidade, sobretudo por conta do apartheid, regime de
separação racial que vigorou nos Estados Unidos. No entanto, as
cités da França não têm essa semelhança compar�lhada: de um
aspecto geográfico que separa pessoas como resultado de
restrições étnicas raciais determinadas pelo Estado. As ocorrências
policiais de pequenos delitos passam a ser tratadas nas manchetes
dos no�ciosos franceses com ares de cinema americano, tornando
uma degradante roman�zação da violência não somente como
“mercadoria”, mas projetando-a a um novo patamar: “item para
exportação”. Em segundo momento, diante dessa “inovação
exploratória”, apresento as “noções de mão esquerda” e “mão
direita” do estado, originárias de Pierre Bourdieu com as quais
Wacquant dialoga, visando compreender melhor a regulação da
classe operária e penalização da pobreza, e ainda,uma breve
reflexão da é�ca do reconhecimento, defendida por Judith Butler.
Com o quadro resultante, exponho a conceituação do aparelho
social que Wacquant chama de “gueto” que segmenta e controla
através de questões étnicas raciais. Em um breve diálogo com o
restante da obra de Wacquant, sobretudo nos livros As prisões da
miséria, Os condenados da cidade e Punir os Pobres, essa
aproximação dos autores promove uma ampliação de
entendimento da marginalidade urbana.
Palavras-chave: Gueto; Marginalidade urbana; Mídia; Filosofia;
Wacquant.

115
SILÊNCIO COMO UMA FORMA DE OPRESSÃO. A MÁSCARA
METAFÍSICA

Kelly Santos Marques


Graduanda em Filosofia - UFBA
kelly.marques@u�a.br

Esse resumo tem como obje�vo apresentar as diferentes maneiras


em que o silêncio é imposto a um determinado grupo de pessoas,
a máscara usada pela escravizada, Anastácia, �nha como função
inibir a alimentação, a fala e subjugar a sua humanidade, colocando
a ví�ma em local de subserviência ao extremo. Passados anos da
promulgação da Lei Áurea, pessoas negras permanecem com uma
espécie de máscara, não sendo mais possível impor o uso de um
apetrecho de ferro, apresento o contexto de uma máscara
meta�sica, onde a cor da pele define aquele que detém o poder de
colocar essa máscara é aquele que irá usar. O pensamento é
pautado pelas reflexões da obra da filósofa Grada Kilomba e tem
como obje�vo final retratar a aparição imaginária e sensível dessa
máscara que silencia pessoas da pele preta. Observando as
maneiras su�s em que o silêncio é imposto e como acontece a
relação entre oprimido e opressor, passando pela
educação/repreensão, arte/sen�mentos e revolta/violência.
Palavras-chave: Silêncio; Máscara; Negros.

116
FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA I
18/10
Quarta
Sala
224 –

117
A SEGUNDA PESSOA: UMA POSSÍVEL CARACTERIZAÇÃO
UNIFICADA?

Felipe Eleutério Pereira


Mestrando em Filosofia - UNESP
felipe.eleuterio@unesp.br
FAPESP

O objetivo deste trabalho é analisar até que ponto seria possível


uma caracterização unificada das relações interpessoais de
segunda pessoa. Para isso, devemos considerar que, desde a
virada do século, inúmeros trabalhos foram escritos sobre a ideia
de segunda pessoa, em várias áreas da filosofia (filosofia da mente,
filosofia da linguagem, ética e epistemologia), na psicologia do
desenvolvimento, na psiquiatria e até mesmo na neurociência,
como aponta Naomi Eilan. De acordo com a filósofa, o apelo à ideia
de relações de segunda pessoa talvez esteja nos permitindo
preencher o que muitas vezes se supõe ser uma lacuna
intransponível entre nossa consciência de primeira pessoa sobre
nós mesmos e nossa consciência de terceira pessoa sobre os
outros (Eilan). Antoni Gomila aponta três linhas iniciais de
abordagem desse tipo de interação: uma mais fenomenológica
(baseada em Husserl), uma mais existencial (proposta por Martin
Buber e Merleau-Ponty) e uma mais dialética (como a dialética
formulada por Hegel entre senhor e escravo). Em outro trabalho,
Gomila e Pérez apontam que há diversas maneiras de conceber a
perspectiva sobre essas relações e suas implicações, já que alguns
autores vêem a disposição para interagir em segunda pessoa como
capacidade de sincronização motora que não envolveria nenhuma
forma de atribuição mental entre os agentes. Outros autores
permaneceriam em uma perspectiva fenomenológica que enfatiza
como o outro aparece na consciência da pessoa, sem nenhum
interesse na interação real, no aqui-agora em que essa interação
se dá, e, por fim, outros ainda reduzem as atribuições de segunda

118
pessoa a uma forma de processo subpessoal de baixo nível, ou
meramente mecânico. Assim sendo, propomos neste trabalho
mapear os principais traços das diferentes concepções
contemporâneas de segunda pessoa, investigando a possibilidade
de uma unificação entre as diferentes perspectivas: (1) gramatical,
relacionada à dinâmica da expressão linguística (Davidson; Heal);
(2) na visão fenomenológica (Zahavi); (3) como perspectiva moral,
inspirada na ética deontológica (Darwall; Lewis); (4) de acordo com
o perspectivismo ameríndio (Castro); (5) e nativa (Di Paolo;
Thompson; Hutto & Myin); (6) sob uma visão neuronal (Schilbach
et al.); (7) como uma perspectiva de atribuição mental (Pérez &
Gomila); (7a) como uma dinâmica de atribuição de pessoalidade
(Liñan & Pérez-Jiménez; Barone at al.; Eleutério & Broens).
Palavras-chave: Pessoalidade; Relações interpessoais; Perspectiva
de segunda pessoa.

119
A LINGUAGEM NO TRACTATUS DE WITTGENSTEIN: DA
ONTOLOGIA AOS INDISCERNÍVEIS

Juan Erlle Cunha de Oliveira


Mestrando em Filosofia - PPGF/UFBA
Juan.erlle@gmail.com

Uma proposição, para ser proposição, cons�tui-se como em


relação com o mundo. De todo modo, esse �po de ar�culação, no
Tractatus, deve ser de tal maneira que faça prosperar o mesmo
estatuto lógico, seja a proposição verdadeira ou falsa. Uma
proposição falsa, por exemplo, que não alcança nenhum fato,
porque falsa, deve usufruir da mesma relação com o mundo que é
contemplada em proposições verdadeiras. Mas, perguntar-se-ia,
como se ancora uma proposição falsa se o mundo é tudo que é o
caso? (1) A diferença entre uma proposição em relação ao seu valor
de verdade não é essencial, de modo que a explicação acerca da
ar�culação com o mundo deve ser tomada por outro caminho. A
resposta talvez esteja na compreensão ontológica do Tractatus, a
algo que é anterior a cons�tuição de qualquer proposição: os
objetos. À afirmação de que Witgenstein nunca deu exemplo de
objetos simples deve ser acompanhada de algumas ponderações
extraídas do livro. Existem razões lógicas para isso: uma delas é que
tais exemplificações significariam arrematar, de uma só vez, a
referência a que os nomes estão associados. Isso contraria o
princípio tractariano no qual a iden�dade do objeto com o sinal é
determinada no contexto da proposição, onde outros objetos são
também implicados. Assim, da inecessidade de exemplificações, os
objetos são necessários à essência da proposição através de seus
símbolos. Neste sen�do, a apresentação tem como obje�vo traçar
um perfil da ontologia presente no Tractatus para compreender o
conceito de proposição, além de colocar em evidência a “ontologia
dos indiscerníveis” de 2.02331/2.024. Pretende-se mostrar que a

120
ar�culação entre mundo e linguagem é tributária da subsistência
de objetos simples e, como tais, devem ser indiscerníveis.
Palavras-chave: Ontologia; Tractatus; Witgenstein.

121
INTENCIONALIDADE E CONVENCIONALIDADE DOS ATOS DE FALA
NA TEORIA DA INTERPRETAÇÃO DE QUENTIN SKINNER

Pedro Augusto Dias Rocha


Graduando em História - UESB
pedro.augustodr98@gmail.com

Quentin Skinner (1940-), historiador da filosofia, lançou um ataque


às formas tradicionais de se escrever a história das ideias e buscou
fundamentar, ao longo da década de 1970, um novo método
baseado na teoria dos atos de fala desenvolvida por autores como
J. L. Austin e P. F. Strawson. O novo método desenvolvido por
Skinner passou a ser conhecido como “contextualismo linguístico”
e o grupo de intelectuais mais próximos dele (e que, mais ou
menos, compartilhavam seus pressupostos) levou a alcunha de
“Escola de Cambridge”. A comunicação tratará de três textos
escritos entre os anos 1970-1972 que demonstram qual era a
concepção de Skinner a respeito dos conceitos de intenção e
convenção e qual era a sua solução para a questão acerca do papel
destes conceitos na interpretação de textos. Depois de haver
publicado um texto polêmico intitulado Meaning and
understanding in the history of ideas (1969), Skinner recebeu
diversas críticas oriundas de vários autores distintos em termos de
orientação teórica. Com isso, já no início da década de 70, o
historiador britânico passou a desenvolver mais sistematicamente
a sua teoria da interpretação para, assim, melhor fundamentar o
tipo de história das ideias que ele pensava ser a mais adequada.
Há, no artigo de 1969, uma crítica aos internalistas, que viam o
significado do texto como sendo recuperáveis apenas a partir do
próprio texto, não havendo lugar para considerações acerca de
qualquer outra dimensão, e aos externalistas, que viam os textos
como meros epifenômenos de uma realidade mais fundamental.
Nos artigos do início da década de 1970, Quentin Skinner se
preocupa em retirar do conceito de intenção a conotação

122
psicologista e ainda em defender que a recuperação da intenção
do autor depende da recuperação das convenções vigentes no
momento da performance do ato de fala a ser analisado. Em outras
palavras, nos textos a serem analisados por nós, o historiador da
filosofia pretendeu manipular os conceitos de intenção e
convenção de forma a construir uma teoria da interpretação não
reducionista; sem localizar o significado apenas “dentro” ou “fora”
do texto. Os artigos discutidos serão: Conventions and
understanding of speech acts (1970), On performing and
explaining of linguistic actions (1971) e Motives, intentions and
interpretation of texts (1972). Enfim, a conclusão a que chegamos
é a de que Quentin Skinner não pode ser visto como um
intencionalista ingênuo, propagador de uma “hermenêutica
romântica”, como afirmou o historiador David Harlan em
Intellectual History and the return of literature (1989), nem como
um contextualista radical, esvaziador da autonomia e da
originalidade dos textos clássicos, conforme defendeu Margaret
Leslie em um artigo crítico publicado em 1970. É mais razoável
descrever a visão skinneriana acerca da intencionalidade autoral
não nos termos de um apelo à subjetividade do autor, mas como
uma visão da intencionalidade ancorada na dimensão
convencional dos proferimentos. Sendo Assim, Skinner arrefece o
seu intencionalismo e seu contextualismo radicais
reciprocamente, fazendo o “dentro” e o “fora” dos textos serem
interdependentes e a intenção autoral depender das convenções
compartilhadas socialmente.
Palavras-chave: Quentin Skinner; Teoria da interpretação;
Intencionalidade autoral; Teoria dos atos de fala; História das
ideias.

123
MARTIN HEIDEGGER: A INTERPRETAÇÃO TRADICIONAL DA
LINGUAGEM E SEUS LIMITES

Hércules Pedreira Oliveira


Graduando - UESC
hercules697@gmail.com
FAPESB

A presente comunicação tem por obje�vo apresentar em linhas


gerais a compreensão heideggeriana acerca daquilo que ele
denomina interpretação tradicional da linguagem, isto é, sua
interpretação lógico-grama�cal. De acordo com o filósofo, essa
interpretação teria ocultado o sen�do arcaico-originário da
linguagem enquanto uma saga do dizer, isto é, um modo de
trazer os entes à presença por meio do nome e do nomear,
transformando-a em uma mera capacidade humana, mais
precisamente, na capacidade de falar, isto é, de ar�cular sons aos
quais deve se prender um significado. A fim de esclarecer o
movimento e o sen�do das reflexões heideggerianas a respeito
dessa questão, situá-la-emos primeiro no quadro geral da
problemá�ca heideggeriana do sen�do do ser em geral;
mostraremos que, para ele, a linguagem não deve ser entendida
nem como uma mera capacidade humana nem como um
instrumento a serviço do homem, mas antes como a essência do
homem, como aquilo em virtude do qual o homem é o que é; com
isso, evidenciaremos que a pergunta heideggeriana pela essência
da linguagem não deve ser compreendida como uma questão
meramente abstrata, como um erudi�smo vão no qual filósofos de
profissão se deleitam, senão que como uma questão que toca
in�mamente a existência humana em suas profundezas mais
radicais. Isso posto, caracterizaremos a linguagem como a Casa do
Ser, quer dizer, como aquilo que concede ser aos entes, trazendo-
os à presença por meio do nome, e, por fim, determinaremos os
limites da concepção tradicional da linguagem. No pensamento de

124
Heidegger, a linguagem e o nome gozam de um pres�gio
ontológico que pode causar estranheza no leitor, pois sem o nome
– isto é, sem a palavra – os entes sequer vigoram como tais. O ente,
sem o nome, desaparece, evapora; porque é o próprio nome que
confere vigência ao ente e, ademais, o sustenta nessa vigência.
Vigência, aqui, diz: ser. Essa perspec�va não implica que, sem a
palavra nomeadora, o ente se desintegre num absoluto não-ser,
mas que, sem ela, o ente se retrai, se esconde, se vela – quer dizer,
vigora ao modo do retraimento. Em Heidegger, não está em jogo
uma relação causal entre nome e ente, pois ambos surgem ao
mesmo tempo, como uma irrupção imediata, como num clarão
que se ilumina a si próprio e àquilo que ele toca. Somente a
linguagem poé�ca – a linguagem arcaico-originária – dá conta de
dizer, entenda-se, encontrar uma palavra apropriada para dizer,
esse momento inaugural de realidade se realizando. E aqui reside
o limite fundamental da linguagem tradicional, que lida com entes
dados, cristalizados, presen�ficados, mas jamais com o seu dar-se,
o seu presen�ficar-se.
Palavras-chave: Linguagem; Ser; Homem; Fala; Saga.

125
A EXPERIÊNCIA DA LINGUAGEM NA POESIA SEGUNDO
HEIDEGGER

Paulo Cesar do Nascimento Costa


Graduando em Filosofia - UNEB
cesarpaulo283@gmail.com
PIBID - CAPES

A questão da linguagem é um dos principais temas da filosofia,


sobretudo por ser, ela mesma, a base de sustentação do fazer da
filosofia. Trata-se de uma discussão de interesse não apenas
filosófico, mas também, da ciência em suas múl�plas
referencialidades. O tema da linguagem perpassa a história da
filosofia como questão inesgotável, atual e ins�gante, haja vista
sua peculiaridade na revelação do ser humano. Mar�n Heidegger
é um dos filósofos da contemporaneidade que deu um tratamento
singular à questão, colocando-a em um viés dissonante da tradição
filosófica. Em Ser e Tempo o pensador vai tratar a linguagem como
possibilidade de comunicação, comunicar como possibilidade de
contato e abertura com o outro e o mundo. Possibilitando par�lhar
interpretações dos fenômenos existenciais. No segundo momento
Heidegger pensando sobre a história da verdade do ser, vai refle�r
sobre a linguagem não no âmbito da analí�ca existencial que
caracterizava o ser-aí como abertura, mas como uma espécie de
condição ar�culadora. No qual o pensamento sendo convocado
pelo Ser se ar�cula com o Dasein a par�r da linguagem, sendo ela
que possibilita reunir os sen�dos, interpretações e significados do
mundo. Com isso a inves�gação sobre o Ser não se funda mais com
o dasein como fundamento principal para a questão do Ser. O
obje�vo desta comunicação é apresentar, a par�r da conferência
“A Essência da Linguagem”, a reflexão de Heidegger sobre a
possibilidade de se fazer a experiência com a linguagem e, por
consequência, pontuar a diferença de sua abordagem em relação
às teorias correntes sobre a linguagem. Conforme o filósofo,

126
sempre nos encontramos na linguagem e com a linguagem, mas
não percebemos ou damos a devida atenção a esse
acontecimento. O filósofo esboça suas reflexões sobre a
linguagem, mas se distância e não tem o intuito de classificar ou dá
uma certeza sobre o tema ao contrário das abordagens correntes
provenientes da filosofia da linguagem, filologia das línguas e
linguís�ca, pois considera que em tais perspec�vas a linguagem é
unicamente tratada como objeto. Nas reflexões do filósofo, ele
busca um norte a questão: mas, onde a linguagem, como
linguagem vem a palavra? Essa comunicação se ocupa da resposta
dada pelo pensador. Para o intento desta revisão bibliográfica,
destaca-se a reflexão do filósofo sobre a experiência do poeta com
a linguagem para a efe�vação da experiência. A poesia é
apresentada como um dos caminhos para se realizar a experiência
da linguagem. Heidegger, no entanto, não encerra sua meditação
na poesia, mas a considera como um caminho demonstra�vo para
a realização da experiência pensante da linguagem.
Palavras-chave: Linguagem; Poesia; Heidegger; Experiência.

127
O EXISTENCIALISMO EM SARTRE: O QUE DIZ RESPEITO AO
HOMEM DISCUTE SOBRE A ESCOLHA DE SI MESMO

Gelzania Silva de Santana


Graduanda em Filosofia - UFRB
gelzania.santana@aluno.ufrb.edu.br

O presente resumo tem por escopo expor e explicitar o que é o


existencialismo, par�ndo do entendimento de que é um conjunto
de ideias que torna a vida humana possível. Devido a isto, a
doutrina de que trata o existencialismo, afirmação em Sartre, é um
humanismo. Pode-se compreender, então, que está relacionado a
forma de explicar o homem a par�r de si mesmo, assim como a
existência humana e a sua relação com o mundo. Em decorrência,
toda ação e verdade implicam em um meio e são subje�vidades
humanas. A crí�ca uma vez feita foi o que devemos fazer com o
lado nega�vo da vida, contudo este suposto lado, são as escolhas.
Ao explicar o que é o existencialismo, o autor, ao mesmo tempo,
nos diz que o termo está caindo em uma espécie de vulgaridade
devido ao uso errôneo ou equivocado que é empregado tornando
um modismo. Em con�nuidade, chama a atenção de dois �pos de
existencialistas: aqueles que se dizem cristãos e em contrassenso
os que se colocam como ateus. Algo que os coloca em igualdade é
o fato de ambos considerarem que a “existência precede a
essência”. O que necessitamos compreender é o que este termo
“precede” necessariamente quer dizer. Todavia, há dois �pos de
existencialistas, os cristãos e os ateus o que eles possuem em
comum é considerarem que a condição antecede a coisa. Mas o
que de fato isso quer dizer? Explicar o homem a par�r do homem,
mas o que podemos compreender diante do exposto, é o mesmo
que dizer que a princípio o homem existe, encontra-se a si mesmo,
nasce no mundo e posteriormente terá uma definição de si
mesmo, e como dito é explicar a si mesmo e só então construir um
conceito. O que é o homem? O que é a subje�vidade? O princípio

128
do existencialismo é compreendermos que o homem é aquilo que
ele faz de si mesmo, sua subje�vidade. Contudo, o primeiro passo
do existencialismo é colocar o homem como o responsável por sua
existência, não de uma forma individualista, mas como o
responsável por si mesmo e em consequência disso torna-se
responsável por todos os homens. Ao concluir que é um
humanismo porque não há como o homem se fechar em si mesmo
e isolar-se da humanidade. A figura do homem contemporâneo
encontra apoio no existencialismo para o resgate da
espiritualidade dos an�gos. Que perdeu-se ao longo da história
que compõem os eventos que estruturam as sociedades. O
existencialismo diz muito sobre o voltar-se para si mesmo, cuidado
de si incitado por Sócrates aos jovens atenienses, remete que os
jovens contemporâneos têm a escolha do si mesmo em Sartre,
como incitação para o cuidado de si, base de transformação para
acesso ao conhecimento.
Palavra-chave: homem; subje�vidade; existencialismo; Sartre.

129
EROTISMO E MORTE EM GEORGES BATAILLE

Matheus Almeida Lopes


Graduando em Filosofia - UNEB
lopesalmeida1999@gmail.com
PIBID/RP - CAPES

Única certeza da vida, objeto irresis�vel e atra�vo ao estudo da


filosofia, a morte é uma das temá�cas fundamentais abarcadas
pelo pensamento do teórico francês Georges Bataille, assim como
o estudo acerca do Ero�smo. O autor categoriza a a�vidade sexual
humana em três �pos, a saber: o ero�smo dos corpos, o ero�smo
dos corações, e o ero�smo sagrado. Agregada a cada categoria há
a relação entre morte e ero�smo, abordada através dos conceitos
de descon�nuidade e con�nuidade do ser, apresentando a
angús�a da morte enquanto motor do ero�smo. Trata-se da morte
que traz à tona a consciência da descon�nuidade do ser, bem como
do ero�smo - tendo o seu domínio na violação, violência e
transgressão -, visando à con�nuidade do ser a par�r dos corpos,
dos corações e/ou do sagrado, afinal, o sen�do úl�mo do ero�smo
é a fusão, a supressão do limite. A finalidade do ero�smo é a
con�nuidade do ser, conforme afirma Bataille. Dessa forma, estudo
a relação entre ero�smo e morte, tendo como referência principal
três obras: 1) O ero�smo; 2) A experiência anterior, ambas de
Georges Bataille; e 3) Morte, de José de Anchieta.
Palavras-chave: Con�nuidade; Descon�nuidade; Ero�smo; Morte;
Transgressão; Bataille.

130
ENSINO DE FILOSOFIA
19/10
Quinta
Sala
221

131
O PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM NA FILOSOFIA ATRAVÉS
DO CINEMA: FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE FILOSOFIA NO
PIBID-UNEB

Cláudio Magalhães Ba�sta


Professor de Filosofia SEC-BA
claudioba�sta36@hotmail.com
CAPES

Propõe a analisar a Formação de Professores de Filosofia no PIBID


(Programa Ins�tucional de Bolsas de Iniciação à Docência) na
Universidade do Estado da Bahia, no Campus I em Salvador-BA.
Formação essa que está dentro do campo do conhecimento da
Formação Inicial que é de fundamental importância na construção
dos saberes docentes tão necessários a formação profissional. O
projeto do Pibid Filosofia e Cinema na Educação Básica é
desenvolvido no Colégio Estadual Governador Roberto Santos já na
3ª edição que é de novembro de 2022 a Abril de 2024 com 10
pibidianos, alunos do curso de Filosofia da UNEB e supervisionada
por mim professor de filosofia deste referido Colégio. Tem como
obje�vo aprofundar temas filosóficos contemporâneos tão
peculiares ao nosso tempo tais como: racismo estrutural,
invisibilidade feminina, é�ca, decolonialismo etc., numa
perspec�va analí�ca com as obras �lmicas previamente escolhidas
e fundamentadas conforme os planos de trabalhos individuais.
Como esse projeto é de educação está pautado na pesquisa-ação
e colabora�va bem como o aspecto teórico-metodológico da
pesquisa autobiográfica, com a interpretação das narra�vas de
vida e das narra�vas de formação dos envolvidos no Projeto,
professores da educação básica e alunos de Filosofia. O projeto de
pesquisa nasce da necessidade de estudar de forma cien�fica a
Formação de Professores de Filosofia, no que diz respeito ao
Ensino de Filosofia que precisa ser estudada de formas variadas e
aqui se u�lizando do cinema como uma ferramenta importante no
processo ensino-aprendizagem. O processo ensino-aprendizagem

132
é alcançado quando os alunos compreendem a Filosofia e sua
atualidade, pois não teria sen�do nenhum falar de Filosofia e de
Filósofos se não trazê-los para o co�diano, para que os alunos
possam perceber a atualidade da Filosofia e temas filosóficos
contemporâneos. Para o Pibid de Filosofia os licenciandos
par�cipam da escola com o cinema e desenvolvem prá�cas
docentes com o uso das obras �lmicas e os debates que é muito
importante e necessário entre a Filosofia e o Cinema. A u�lização
do filme como recurso didá�co para o ensino de filosofia pode ser
uma arma poderosa e quando ele é pensado, escolhido pela
temá�ca conduz a um aprendizado eficaz e com sen�do. O uso do
cinema deve ser u�lizado como um recurso um aparato para uma
melhora de percepção de mundo, de experiência e de formação
cultural tanto dos alunos quanto para os professores. A Filosofia
está presente nos filmes e se faz necessário a ler filosoficamente o
filme ao qual estamos assis�ndo. Filosofar através dos filmes
u�lizando as obras cinematográficas é algo que ins�ga a
problema�zação de um universo novo e capaz de contribuir a
novas interpretações e reflexões.
Palavras-chaves: PIBID; Filosofia; Cinema; Processo ensino-
aprendizagem; Formação.

133
MORAL FECHADA E MORAL ABERTA: UMA REFLEXÃO NAS AULAS
FILOSOFIA DO ENSINO MÉDIO

Iranildes Oliveira Delfino


Mestranda em Filosofia - UFRB
delfinonildes@gmail.com

Nossa comunicação tem por objeto abordar o conceito de


moralidade na perspec�va do filósofo francês Henri Bergson,
relacionando com a noção ins�tucional da escola. O autor parte de
duas perspec�vas dis�ntas para pensar a moral em sua obra As
duas fontes da moral e da religião (1932). Por um lado, a moral
fechada estaria ligada aos dogmas, hábitos, à obediência e
obrigações nas ins�tuições, como Estado, Igrejas e Escolas.
Enquanto a outra seria uma moral mais humana e não social, uma
moral aberta, na qual o amor pela humanidade ultrapassaria
qualquer obrigação, qualquer imposição. É importante ressaltar
que o nosso pensador, ao buscar compreender cri�camente os
alicerces morais que sustentam a vida humana, suas duas fontes,
não faz menções diretas ao contexto escolar ou sobre a educação.
Por isso, o nosso trabalho procura trazer possíveis aproximações
do pensamento bergsoniano em diálogo com as nossas prá�cas
pedagógicas no ensino de filosofia. E é a essa dis�nção entre o
fechado e o aberto que iremos nos ater, tendo em vista a escola
como uma ins�tuição que é composta por regras, dogmas e
deveres, uma ins�tuição social que traz consigo uma ampla ligação
com a referência de moralidade exposta por Bergson. Desta
maneira, a escola pode encontrar-se nesta moral, pois os sujeitos
nela inseridos também são movidos pela força do hábito, de modo
a não refle�rem sobre suas ações no ambiente escolar. Ao
contrário, em nossa prá�ca docente, temos observado uma perda
cada vez maior do interesse pelos estudos e por estar no ambiente
escolar, de um modo geral, mas também pela filosofia,
par�cularmente. Neste sen�do, nossa comunicação se concentrará

134
nos aspectos de uma moral fechada presentes na Escola,
sobretudo, a par�r do cul�vo de hábitos enraizados. Pretendemos
mostrar que, para além desse fechamento, a reflexão filosófica é
capaz de possibilitar uma abertura no ambiente escolar. Estes dois
pontos de oposição, tanto a moral fechada quanto a aberta, serão
o liame do nosso trabalho para entendermos os impactos causados
por tais perspec�vas morais no espaço escolar.
Palavras-chave: Moral aberta; Moral fechada; Ensino de filosofia;
Bergson.

135
O USO DE CRÔNICAS DE MACHADO DE ASSIS NA ABORDAGEM DE
QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS

Daiane Soares dos Santos


Graduanda em Filosofia - UFRB
daisoares.s@gmail.com
CAPES

O objetivo da presente comunicação é apresentar uma proposta


didática que parte da analisa de crônicas de Machado de Assis para
serem utilizadas na abordagem do racismo nas aulas de filosofia
no ensino médio. Essa proposta surge da constatação, em sala de
aula, da dificuldade do alunado em correlacionar e entender como
a nossa realidade está atrelada e se estrutura dentro das relações
históricas, além da necessidade de trabalhar a desnaturalização
das opressões sociais. Para tanto, utilizamos como aporte teórico
a tese de Eduardo de Assis Duarte, desenvolvida no livro Machado
de Assis Afrodescendente: antologia e crítica. As crônicas
selecionadas por Duarte têm um viés centrado nas questões
étnico-raciais, evidenciando que através da ironia, aspecto
estilístico marcante nas produções do escritor, Machado maneja
as palavras para apresentar uma crítica ferrenha ao regime
escravista, expor uma elite hipócrita, mesquinha e exploradora,
além de denunciar o lugar e as condições em que se encontravam
as pessoas negras, fossem elas escravizadas ou libertas.
Entendemos que a análise desse material literário pode ser
utilizada como um recurso didático e filosófico para exemplificar e
refletir sobre a forma como eram estabelecidas as relações sociais
entre brancos e negros no período escravista do século XIX,
demonstrar que apesar do contexto e do período ser outro, a
realidade vivida pela população negra no Brasil é um reflexo dessa
história marcada por opressões que tem suas raízes fincadas no
processo histórico de exploração e violências.
Palavras-chave: Racismo; Ensino de filosofia; Machado de Assis.
136
POR UM ENSINO DE FILOSOFIA INTERCULTURAL CRÍTICO A
PARTIR DOS POVOS SERTÂNICOS MEDIADO PELA PEDAGOGIA DO
FUXICO

Jorge Luiz Nery de Santana


Docente - UEFS; Professor da SEC/BA; Mestrando no PROF-FILO/
CFP/UFRB
jlnsantana@uefs.br

A Filosofia é intercultural, o pensamento humano é marcado pela


Pluriversalidade. A descolonização dos currículos tanto na
graduação como na educação básica, ocupam hoje os debates
acadêmicos. Os documentos da BNCC e as DCBRs indicam a
possibilidade de valorização das culturas e saberes locais na
formação escolar. Uma Educação Contextualizada, onde o
pensamento denuncia o chão que pisa e dialoga com a polifonia e
policromia das diversas tradições culturais. No debate sobre os
epistemicídios denunciados pelas Filosofias africanas e la�no-
americanas como filosofias de libertação se discutem a alteridade
negada e encoberta (DUSSEL,1994) a modernidade/colonialidade
como criações de uma maquinaria de morte estruturada e
estruturante que persiste nas relações de ser, saber e poder.
Pretende-se nesta comunicação problema�zar e discu�r a
possibilidade de um Ensino de Filosofia Intercultural Crí�co no
semiárido baiano, mediado pela pedagogia do fuxico. U�lizaremos
Fournet-Betancourt; Araújo, Miguel L.; Walsh, Catherine e Dussel,
Enrique, como referências importantes neste debate. Esta
pesquisa encontra-se em curso no Mestrado Profissional de Ensino
de Filosofia do CFP/UFRB. Além destes, a Filósofa afrobrasileira
Lélia González, cunhou o termo amefricanidade para destacar
essas culturas de resistências e reexistências presentes em toda
América La�na, como lugar donde se pesquisar e aurir sabedoria e
formas de vida para uma subje�vação não fascista, não-racista e
não-sexista e com referências nas histórias e prá�cas socioculturais

137
dos povos periféricos marcados pelas violências interseccionais,
experiências comum às populações negras, indígenas e “mes�ças”
que estruturou a produção de uma é�ca, esté�ca e polí�cas
próprias atravessadas pelas circunstâncias e condições humanas a
que foram e são subme�das. Essa iden�dade, pertencimento e
aderência me afeta como professor de Filosofia e como tal coloco
a questão de Um Ensino de Filosofia Contextualizado, autoral e
implicado em diálogo com a Interculturalidade Crí�ca afinado com
as Filosofias Afro-ameríndias de libertação. Um esforço jus�ficado
para explorar temas é�cos, esté�cos e polí�cos no chão das
tradições e prá�cas socioculturais dos povos sertânicos do
semiárido baiano.
Palavras-chave: Ensino de Filosofia; Interculturalidade; Fuxico;
Pluriversalidade.

138
A PEDAGÓGICA DA LIBERTAÇÃO

Lucélia Novaes Lima


Graduanda em Filosofia - UESB
lu.celia.j3@gmail.com

Um dos maiores desafios docentes é encontrar estratégias que


es�mulem os educandos. Nessa direção, no intuito de contribuir
para as discussões a respeito de práxis que suscitem progresso ao
exercício docente no Brasil, o presente ar�go, empreende realizar
uma análise da pedagógica da libertação de Enrique Dussel e
demonstrar como esta pode cooperar para a melhoria do ensino
de Filosofia nas escolas públicas secundarista, ocupadas
predominantemente por estudantes oriundos de famílias da classe
trabalhadora. U�lizando-se da obra Para uma Ética da Libertação
Latino Americana, Erótica e Pedagógica (1977), que define a
pedagógica como a “parte da filosofia que pensa a relação face-a-
face do pai-filho, mestre-discípulo, filósofo-não filósofo, polí�co-
cidadão”, a análise desdobra-se na crí�ca das práxis docente que
reproduzem, o que Dussel denomina em sua Ética da libertação
(1998), como um “helenocentrismo de grandes consequências”.
Este estudo elabora-se a par�r do recorte sobre a prá�ca docente
submissa à uma razão “pedagogicamente dominadora,
culturalmente manipuladora e religiosamente fe�chista”,
desvelando um dos “nós problemá�cos” do ensino da disciplina: a
instrução dialógica do cogito. Uma pesquisa realizada pelo ins�tuto
Data Folha, que ouviu 7.798 estudantes, demostrou que em 2022,
65% dos estudantes secundaristas pretendiam con�nuar
estudando após concluir o Ensino Médio, embora dados do IBGE
apontem que apenas 24% dos jovens de 18 a 24 anos estão no
Ensino Superior, desse modo vale refle�r sobre o caminho
histórico-antropológico que permeia os discursos predominantes,
mas que encontram resistência na proposição de uma pedagógica
da libertação, que “contra-costume” elabora-se a par�r da voz

139
legí�ma da razão levando em conta as demandas polí�co-sociais
das famílias da classe trabalhadora que têm na educação o meio
de ascensão social, mas são convencidos, dentro das escolas, a não
projetar-se para ensino superior. O levantamento do Data Folha,
ainda demonstrou que 79% dos estudantes reconhecem ao menos
um professor como agente propulsor de sua progressão, sendo o
corpo docente o maior responsável pelo acesso dos estudantes a
Universidade e melhoria das condições sociais e econômicas.
Desse modo entende-se que o educador, “que opera é�co-
cri�camente”, deve figurar como agente promotor da autonomia
do educando, para que este emancipe-se como sujeito a�vo de sua
autolibertação. O processo educacional deveria atuar fora do
sistema performa�vo e autorreferente considerando o grau de
complexidade civilizatório humano, assim por meio da revisão
bibliográfica que, aliada a observação direta quan�ta�vo-
descri�vo das prá�cas pedagógicas realizadas como bolsista do
Programa Ins�tucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID,
provisoriamente, concluímos que, a relação estabelecida pela
tradição situa o “Ego cogito” sucedido do “Ego conquiro”, que
endossam discursos, nos quais o “Eu triunfo” produto dessas
proposições, apoiam a polí�ca do status quo da totalidade que
domina a forma de ensinar. A pedagógica dusseliana, antes de tudo
entende que o “Eu conquisto” enfraquece o “Eu liberto”,
inviabilizando o desenvolvimento autônomo e,
concomitantemente, fortalecendo a afirmação do outro sujeitado
e nesse ponto uma pedagógica que foque na libertação do sujeito,
se apresenta como práxis adequada, sobretudo, para o ensino de
Filosofia no Brasil.
Palavras-chave: Pedagógica da Libertação; Cogito; Classe
Trabalhadora; Escola Pública.

140
A RELAÇÃO ENTRE FILOSOFIA INTERCULTURAL E
PLURIVERSALIDADE: CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO DE
FILOSOFIA

Ludimila de Araújo Pereira


Graduanda em Filosofia - UFRB
lukaap@hotmail.com
CAPES

Minha apresentação tem por obje�vo expor a relação entre os


conceitos de pluriversalidade e filosofia intercultural. Para tanto,
pretendo explicitar o conceito de interculturalidade na filosofia de
acordo com Raúl Fornet Betancourt, analisar em que consiste o
conceito de pluriversalidade apresentado por Mogobe Ramose e,
por fim, elucidar a relação existente entre a noção de
interculturalidade e a pluriversalidade em sua efe�vidade nos
ambientes escolares. A interculturalidade de Fornet Betancourt
sustenta o diálogo entre diversas concepções filosóficas a par�r de
um olhar que reconhece no outro a mesma dignidade e capacidade
em produzir conhecimento, bem como reconhece as produções já
existentes dentre as diversas culturas e que podem nos remeter a
épocas imemoriáveis. Na busca pela difusão das diversas
produções filosóficas, a interculturalidade enquanto espaço
dialógico aparece, assim, como um lugar a ser alcançado pela
filosofia. Já o conceito de pluriversalidade desenvolvido por
Ramose propõe uma contraposição ao conceito de universalidade
que se apresenta como condição necessária para que um
determinado conhecimento seja considerado filosofia. A
universalidade atua, então, como um obstáculo para o
alastramento da filosofia intercultural, já que nega o �tulo de
filosofia a toda produção filosófica que não se submete a sua
suposta autoridade. A par�r do conceito de pluriversalidade
pensaremos caminhos para superar os obstáculos impostos à
interculturalidade da filosofia. Ambos os conceitos, nos ajudam a

141
pensar a filosofia para além de uma ênfase exacerbada na
perspec�va europeia. Levando em consideração a relação entre os
conceitos de pluriversalidade e interculturalidade, pretendo
apresentar como esses conceitos auxiliam numa compreensão de
filosofia que não exclui, por um lado, o alcance do discurso
filosófico em sua especificidade e, por outro lado, como essa
compreensão de filosofia contribui para iden�ficar a pluralidade
cultural existente no mundo. Com essa inves�gação pretendo, por
fim, apresentar, sucintamente, a importância de revisão do modo
a par�r do qual se ensina a a�vidade filosófica em ambientes
escolares do Ensino Médio; privilegiando, assim, uma
apresentação pluralista da filosofia no co�diano escolar.
Palavras-chaves: Pluriversalidade; Interculturalidade; Ensino.

142
A IMPORTÂNCIA DE UM CURRÍCULO DECOLONIAL NA FILOSOFIA

Ludymila Sena dos Santos


Graduanda em Filosofia - UFRB
ludymilasena@aluno.ufrb.edu.br

Esta comunicação irá apresentar uma discussão acerca da


possibilidade e importância do ensino decolonial na Filosofia.
Sabemos que a Filosofia ainda é �da como um curso “branco”,
“masculino” “eurocêntrico” e muito dessa perspec�va é man�da
por conta do currículo acadêmico desse curso. Dentro das paredes
da universidade somos pra�camente limitados a aprender apenas
os conceitos e refle�rmos somente de acordo o pensamento de
filósofos europeus. Raros os momentos que temos um diálogo
versando outros conceitos e outros eixos de pesquisa. Dessa
forma, dá-se a impressão de que outros povos, sendo eles,
africanos, asiá�cos, sul-americanos etc. Ou outros grupos étnicos,
ao exemplo de negros e indígenas, não foram ou são capazes de
produzir conhecimento filosófico/conceitos filosóficos “dignos” de
serem discu�dos e refle�dos, apreendidos na academia. E isso se
torna um problema maior quando tratamos de um curso superior
de licenciatura, onde o foco torna-se aprender a ensinar Filosofia.
Ao olharmos para nosso público-alvo, jovens em sua maioria não-
brancos e defini�vamente não europeus, a discrepância se
evidencia. Como conseguir que a Filosofia, uma disciplina ainda tão
malquista por aqueles que ditam as regras de nossa sociedade,
possa ser interessante para nossos jovens e fazê-los desenvolver
um senso crí�co, tornando-os seres polí�cos, se a mesma não os
representa? Não conversa com as suas próprias realidades? Não
responde suas inquietações ou ao menos as fundamenta?
Parafraseando Paulo Freire, não se pode usar o método Eva viu a
Uva com todas as crianças, pois, algumas delas não sabem nem o
que é uma uva... Por isso, a importância de se discu�r a adesão de
um currículo decolonial no curso de Filosofia, principalmente, num

143
curso de Formação de Professores de Filosofia. Para que assim, a
disciplina se torne menos eurocêntrica e mais capaz de refle�r
sobre as diversas realidades presentes numa sociedade tão diversa
quanto a sociedade brasileira.
Palavras-chave: Filosofia; Currículo; Decolonialidade; Sociedade
brasileira.

144
UMA REFLEXÃO SOBRE A RELEVÂNCIA DO PIBID NA FORMAÇÃO
INICIAL DE PROFESSORES: AO ANALISAR OS DESAFIOS DO ENSINO
DE FILOSOFIA NA CONTEMPORANEIDADE

Mateus Santana Silva


Graduando em Filosofia - UESC
mssilva.fls@uesc.br
PIBID

O presente trabalho consiste em um relato de experiência, que visa


refletir acerca da contribuição do Programa Institucional de Bolsas
de Iniciação à Docência (PIBID) na formação inicial de professores,
especificadamente ao analisar os desafios do ensino de filosofia na
contemporaneidade; a fim de atingir este propósito, está analise se
fundamenta a par�r da reflexão ob�da durante o estudo e
discussões vivenciadas durante o programa, que está sendo
realizado no Ins�tuto Federal de Educação da Bahia (IFBA), no polo
de Ilhéus. Este relato é fruto da experiência ob�da junto aos alunos
do 1º ano, desde o período de fevereiro de 2023 até o momento;
o projeto proporciona um contato direto com a sala de aula e com
o contexto escolar de forma prá�ca, o mesmo se demonstra de
grande importância para a formação dos acadêmicos de
Licenciatura em Filosofia, em virtude da prá�ca docente ser
imprescindível para a qualificação profissional do futuro professor;
os bolsistas tem como desafio aplicar as teorias e desenvolver
estratégias eficazes para o ensino de Filosofia, prá�ca está que se
vê perseguida dentro dos espaços educacionais – o resultado
‘’desta falha está no estudo tradicional deste componente’’, que
muitas das vezes não se torna muito atra�vo, resultado disso é o
novo ensino médio, que deixa de lado a Filosofia como
componente obrigatório, portanto cabe a nós futuros docentes
procurar meios para reinserir o seu estudo de maneira que o torne
mais atra�vo e que desvele novamente a sua relevância. Com isso
elenco dois temas que se encontram em desenvolvimento, ambos

145
demonstraram um índice posi�vo na iniciação à docência: o
primeiro está ligado às intervenções propostas e discu�das entre
às reuniões ministradas pela coordenadora Vanessa Latanzi e pelo
supervisor do programa Rodrigo Rizério; ao adotarmos a prá�ca
direcionada às ‘’ Cenas da Profissão’’, as mesmas constam no
projeto e se dirigem a pequenas intervenções feitas pelos bolsistas
dentro da sala de aula, o resultado desta prá�ca se vê na
desenvoltura do ser docente - o segundo ponto, está ligado a
projetos que incen�vem a construção do ensino-prá�ca docente,
onde a afe�vidade em sala e o uso dá didá�ca para o seu ensino,
torna os conteúdos mais dinâmicos e atraentes - um projeto que
está em desenvolvimento é a olimpíada de filosofia, cujo obje�vo
é propiciar ao discente, estruturas argumenta�vas, raciocínio
lógico, crí�co e que incitem os alunos a desenvolverem potenciais
educa�vos durante sua aprendizagem - é quando exploramos
outros métodos, que evidenciamos a importância que o espaço do
PIBID permite aos alunos o aprendizado prá�co, baseado na
diversidade de a�vidades e reflexões desenvolvidas durante o
programa. Diferentemente dos estágios curriculares, priorizados
nas etapas finais dos cursos, a par�r do PIBID, o futuro educador
pode associar os estudos teórico-acadêmicos à realidade nas
escolas públicas brasileiras de educação básica, colaborando com
uma visão integral da docência e com a observação e o
desenvolvimento de habilidades relacionadas ao ensino e à
aprendizagem.
Palavras-chave: PIBID; Formação acadêmica; Prá�cas docentes;
Ensino de Filosofia.

146
FILOSOFIA, CULTURA E POLÍTICA
19/10

Quinta

Sala

222

147
A MÍTICA CONTEMPORÂNEA IMPRESSA NO UNIVERSO DOS
HERÓIS

Emerson Cruz dos Santos


Graduando em Filosofia - UNEB
hemersonro�rc@gmail.com
PIBID - CAPES

Neste texto será abordada a questão da mí�ca contemporânea


expressa no universo dos heróis, analisando-os como
representações iconográficas e textuais das projeções do cole�vo
cultural humano. O texto não visa debater profundamente
questões centrais da psicanálise como inconsciente e psique, nem
da Filosofia como o significado profundo de mito e as implicações
sociológicas da indústria cultural, mas propõe uma observação
seguida de exemplos e indagações que suscite uma reflexão
interessante sobre o tema abordado. Começa com uma
conceituação de mito e ambientação com os termos centrais:
projeção, heróis, representação. Se desenvolve demonstrando a
natureza do ser na mí�ca an�ga e na mí�ca contemporânea,
diferenciando-os através dos exemplos de alguns dos seus
personagens e conclui com as perguntas filosóficas apontadas no
texto.
Palavras-chave: Mito; Representação; Herói; Deuses; Projeção.

148
ESPETACULARIZAÇÃO, PRIVACIDADE E CONSUMO EXPLORADOS
PELA MÍDIA: UMA ARTICULAÇÃO ENTRE O FILME O SHOW DE
TRUMAN, A TELEVISÃO E O ESCLARECIMENTO

Renivalda Jesus Santos


Graduanda em Filosofia - UNEB
renivaldajs@gmail.com
PIBID - CAPES

O filme O Show de Truman retrata a vida de um homem (Truman


Burbank), vivido pelo ator Jim Carrey, no es�lo de um reality show
no qual o protagonista desconhece que está sendo vigiado por
câmeras e vivendo em uma cidade cinematográfica. Aborda de
maneira cômica e dramá�ca inúmeras questões filosóficas e
reflexões sobre a vida, a privacidade, o consumo, o lazer, a
televisão e a educação e conhecimento, dentre outros temas
relevantes. Sob a perspec�va crí�ca da espetacularização, a
privacidade e o consumo estabelecidas pelos movimentos da
sociedade contemporânea, que se u�liza do avanço dos meios de
comunicação, mídia e televisão, principalmente a todo instante,
pautando as nossas ações, os nossos desejos, influenciando a
forma de pensar e de agir, sem, no entanto, realizar uma análise
crí�ca que possa dar equilíbrio à essa mesma sociedade. Nesse
contexto a dialé�ca do esclarecimento argumenta que o saber é
poder e não conhece barreira alguma, nem na escravização da
criatura, nem na complacência em face dos senhores do mundo.
Sua ascensão desencadeou a transformação do mundo por meio
da razão instrumental que contribuiu para a perda do sen�do do
esclarecimento e alienação do ser humano. Ela busca
essencialmente despertar consciência crí�ca e reflexão acerca da
manipulação e controle impostos pela mídia. Na sociedade
contemporânea a mídia “indústria cultural”, desempenha dois
papeis de suma importância, quais são eles: primeiro o de
disseminar informações e entretenimento o segundo a exploração

149
da privacidade das pessoas. A exploração da privacidade e a
espetacularização tende a desencadear sérios problemas a vida
pessoal das pessoas, como a difamação, calúnia, invasão da
in�midade como chantagens e ameaças e também danos
psicológicos, está reforça também as desigualdades e injus�ças
socia
Palavras-chave: Privacidade; Consumo; Televisão; Mídia;
Exploração.

150
CINEMA E ANIME

Douglas Ferreira Reis


Graduando em Filosofia - UFRB
douferrei01@gmail.com

Está pesquisa busca estudar o cinema na obra de Deleuze (1983)


no primeiro livro de Deleuze sobre o Cinema, buscando relacionar
os conceitos presentes no Cinema de Eisenstein com o anime,
tendo como ponto comum a transformação do todo que Eisenstein
busca para ir além da dualidade que era presente no Cinema. O
anime aparece como uma forma de Cinema que pode ser pensada
nessa perspec�va de transformação. Na adaptação que o anime faz
do Cinema há uma passagem de um �po de imagem para outro,
assim como em Eisenstein, inclusive Eisenstein também se baseia
no desenho animado, porém o anime aparece como um desenho
com várias par�cularidades, entre elas há a adaptação de ideias do
Cinema clássico como as de Akira Kurosawa. Desta forma, o
desenho do anime aparece como a imagem cinematográfica,
porém no “plano” em que a imagem está em movimento constante
e se refazendo a todo momento, o desenho permite a passagem
entre as imagens de maneira mais clara, pois um desenho pode
passar livremente por outro e criar um novo desenho. Na releitura
de “Os Sete Samurais” (1954), há uma adaptação de ideias de
Kurosawa, porém há uma forma de transformação das imagens, de
modo que essas imagens são criadas de forma diferente e isso
afeta até mesmo o roteiro. Portanto é possível observar no anime
que a forma de se pensar as imagens permite várias concepções de
tema e permite que os cineastas usem outros conceitos de cinema
e criem outras formas de imagem, permi�ndo que as diferentes
maneiras de fazer cinema dialoguem entre si.
Palavras-chave: Cinema; Deleuze; Imagem.

151
UMA ANÁLISE FILOSÓFICA: O CINEMA EM QUESTÃO

Julio Marcelo Leite Patriota


Graduando em Filosofia - UFCG
julio.marcelo@estudante.ufcg.edu.br

Yasmin Lira da Silva


Graduanda em História - UFCG
yasmin.lira@estudante.ufcg.edu.br

A presente pesquisa buscou compreender de que modo a indústria


cultural, conceito cunhado por Adorno e Horkheimer pós Segunda
Guerra Mundial, ainda se encontra preponderante nos dias atuais.
Para esse intento analisamos duas obras cinematográficas de
considerável sucesso na terceira década do século XXI: Barbie
(2023) e Avatar: o caminho da água (2022). A par�r da observação
qualita�va de tais produções, contrapomos os dados observados
com o pensamento dos dois filósofos alemães acerca da
apropriação de bens culturais com fins de massificação. Segundo
os autores alemães, a indústria cultural imprimiu em toda
produção ar�s�ca uma homogeneização e um ar de semelhança,
desse modo, buscamos iden�ficar se essas duas obras
cinematográficas, mais de setenta anos após o lançamento do livro
Dialética do Esclarecimento, seguem contendo aspectos
semelhantes que comprovam a tese da indústria cultural dos
filósofos. A conclusão que chegamos em nosso trabalho é a de que
tais obras cinematográficas além de reafirmarem a ideologia
vigente ainda atuam como mecanismos de semi-formação cultural
em nossa sociedade.
Palavras-chave: Indústria cultural; Cinema; Filosofia.

152
BIOPOLÍTICA E NEOLIBERALISMO

Paulo Gilberto Bertoni


Professor Titular - UESB
paulo.bertoni@uesb.edu.br

Uma parte significa�va da obra de Michel Foucault pode ser


acompanhada no decorrer dos cursos que ele ministrou no Collège
de France. O curso de 1976 é, segundo ele próprio, um divisor.
Trata-se, como destacado logo na primeira aula, de desenvolver
uma linha de pesquisa mais sistemá�ca. Publicado como Em defesa
da sociedade, o curso destaca a intenção de inves�gar a noção de
poder, em especial sua relação com a guerra. É essa vinculação
poder-guerra que ele procura evidenciar na historiografia
europeia, inglesa e francesa, principalmente; chamando atenção
para a mudança de ênfase que ela recebe em diferentes
momentos. Um dos resultados desse percurso é a iden�ficação da
relação entre poder e vida, o que denominou de biopoder. Tal
relação assume feições dis�ntas em diferentes momentos. Como
exercido na perspec�va do poder fundado na noção de soberania,
o biopoder pode ser compreendido pela fórmula “fazer morrer e
deixar viver”. O poder do soberano não afeta, de maneira
equilibrada, a vida e a morte; é, basicamente, o poder de
assassínio. A maneira de expressão do biopoder muda,
significa�vamente, por volta do século XVIII. A expressão do
biopoder transforma-se em “fazer viver e deixar morrer”. O
exercício do poder manifesta-se, então, muito menos na
perspec�va do controle direto sobre a morte, mas, sim, no
interesse e gerenciamento das condições gerais de vida: é preciso
fazer viver, ou, melhor, fazer coisas para que se possa viver. Assim,
surgem os levantamentos (e as intervenções) sobre natalidade,
mortalidade, higiene etc. Tem-se, portanto, uma biopolítica; isto é,
uma ação governamental direcionada ao “problema” da vida em
uma determinada população. No curso seguinte, Segurança,

153
território e população, ele desenvolve algum dos problemas
apontados, mas é o próximo que sugere o exame mais direto do
tema. Trata-se de O nascimento da biopolítica. Uma vez mais, as
indicações da aula inicial são fundamentais. Em primeiro lugar, é
preciso compreender, em termos metodológicos, a forma pela qual
ele pretende inves�gar a questão do governo; sua abordagem,
como em outras ocasiões, é pautada por uma “recusa dos
universais”; ou seja, a arte de governar será inves�gada a par�r de
suas prá�cas e das reflexões acerca dessas prá�cas. Além disso, a
aula destaca, também, a necessidade de uma digressão, antes que
se entre, propriamente, no tema da biopolí�ca. O recuo prevê o
exame de uma racionalidade de governo que se contrapõe à “razão
de Estado” do século XVII: a “arte liberal de governar”. Essa
apresentação toma as primeiras aulas do curso e é seguida pela
exposição de suas transformações ao longo do século passado: o
neoliberalismo. O curso termina sem que, efe�vamente, o tema da
biopolí�ca seja desenvolvido. O obje�vo dessa comunicação é, a
par�r do exame que Foucault faz do neoliberalismo, em especial a
forma como assume nos Estados Unidos, mostrar em que medida
se trata de uma biopolí�ca. Em outras palavras, pretende-se trazer
para o primeiro plano aquilo que permaneceu como pano de fundo
durante as aulas. Espera-se, ainda, sugerir algumas implicações
dessa perspec�va para a compreensão do cenário polí�co
contemporâneo; em especial, para a democracia.
Palavras-chave: Biopolí�ca; Neoliberalismo; Foucault.

154
SENTENCIADO À MORTE: A TANATOPOLÍTICA EM DECISÕES
PENAIS CONDENATÓRIAS

Aglaé Caroline Santos Carneiro


Doutoranda em Filosofia - UFBA
aglaeccarneiro@gmail.com
CAPES

Considerando o “ponto de não retorno” (sentença penal condenatória)


a partir do qual são criados “homines sacri poenalis” (sujeitos com
identidades determinadas a partir da função que ocupam no sistema
penal – sentenciados, condenados etc.), cabe compreender melhor os
aspectos de vida e de morte que caracterizam a política penal
contemporânea pós-decisão judicial condenatória. Integrando os
conceitos freudianos de pulsões sexuais e egóicas às construções
teóricas foucaultianas e agambenianas sobre política de vida e de morte,
a presente pesquisa faz uso de estudos político-filosóficos sobre
sacralidade e soberania, bem como de temáticas psicanalíticas sobre a
relação entre Supereu e cultura, para tratar dos modos como são
manipuladas, por parte dos sentenciantes, as pulsões sexuais e de
destruição, na política penal contemporânea. Seu objetivo geral,
portanto, é evidenciar como se caracteriza a contemporânea política
penal, a partir do âmbito penal condenatório. Seus objetivos específicos
são: (1) demonstrar como a díade tanatopolítica “sacralidade e
soberania” se integra na política de Estado da contemporaneidade; (2)
contextualizar a discussão no âmbito dos sistemas penais, a partir do ato
decisório (comando condenatório); e (3) apontar a relação entre os
caracteres pulsionais (Eros e Thanatos) psicanalíticos e a bio-
tanantopolítica penal sentenciante. Todos esses objetivos são
estruturados a partir do seguinte problema: que política estatal é
aplicada através da sentença penal condenatória? O trabalho possui
metodologia bibliográfica e análise de dados qualitativa. Os resultados
observados apontam para uma aproximação evidente entre elementos
de cunho psicanalítico (tais como pulsões de vida e de morte – Eros e
Thanatos) com os construtos teóricos existentes no campo da filosofia
política de Foucault (História da Sexualidade I, Em defesa da sociedade,
Segurança, território e população) e Agamben (Homo Sacer, mais
155
especificamente, as suas teorias sobre a biopolítica e a tanatopolítica). E
essa aproximação, por fim, se mostra como elemento chave para a
caracterização de uma política penal dos atos condenatórios, que é,
simultaneamente, instintual-mobilizadora e cultural-empregadora
(movimenta pulsões instintuais de vida e de morte, e emprega modos de
censura de caráter cultural ou tempo-espacial).
Palavras-chave: Instintos sexuais; Sacralidade; Soberania; Biopolítica;
Tanatopolítica.

156
CRÍTICA À FILOSOFIA EUROCENTRADA: NOÇÕES PARA UMA
FILOSOFIA INSURGENTE

Cleiton de Aragão Alves


Graduado em Filosofia - UEFS; Professor - IF Baiano
caalvesd2@gmail.com

Na busca por uma compreensão mais ampla e inclusiva da


Filosofia, surge um problema: a tradição filosófica ocidental,
originada na Grécia Antiga, é capaz de abarcar discussões e
perspectivas oriundas de realidades culturais não eurocêntricas,
promovendo uma verdadeira pluralidade filosófica? Essa questão
suscita uma análise aprofundada sobre a forma como a Filosofia
fora utilizada como instrumento ideológico na construção de uma
suposta hierarquização epistêmica forjada ao longo da sua
história. Nessa perspectiva, admite-se que há uma necessidade
de uma profunda investigação sobre como estes estudos
destacam não apenas uma necessidade de desconstruir os
vestígios do racismo epistêmico enraizado na narrativa
eurocêntrica da Filosofia, mas também manifesta a possibilidade
de se forjar conceitos que emanam das complexas ramificações
das perspectivas afrodiaspóricas na compreensão das realidades
periféricas do eurocentrismo. Este trabalho busca compreender
como estas filosofias, entendidas como periféricas, não só
desafiam noções preconcebidas, como também tecem novas
bases epistemológicas, enriquecendo a discussão filosófica global
com seu direcionamento plural e inclusivo na recontextualização
dos princípios filosóficos fundamentais. As proposições de uma
Filosofia Africana, por exemplo, propiciam a insurgência de
epistemologias pautadas na desconstrução do discurso
estabelecido a partir do racismo epistêmico enraizado na história
da Filosofia eurocêntrica. Além disso, a Filosofia Africana fomenta
a elaboração de conceitos que se referem aos desdobramentos
de outras perspectivas filosóficas. Essas perspectivas reforçam a

157
reconstrução do arcabouço epistemológico e se lança como
corrente filosófica que pretende alicerçar pesquisas acadêmicas
de Filosofia na África e na afro-diáspora. Uma vasta discussão de
conceitos é levantada por filósofos engajados na perspectiva
africana da Filosofia (Diop; Obenga; Ramose; Noguera; Towa;
Sodré; Dantas) embora ainda exista o racismo epistêmico dentro
das instituições, decorrente do racismo estrutural. Nos preceitos
dos seus protagonistas, a Filosofia ocidental era condicionada a
um modelo de abstração, que tem em seu cerne, uma origem e
uma referência voltada à cultura europeia. Apesar de suas
verbalizações sempre justificarem a ideia de ser uma Filosofia
universal sem uma cultura, gênero, cor ou credo específicos,
arquitetou-se um cenário centrado nas discussões pautadas
apenas nos interesses de herança europeia, mesmo em um
contexto distinto. A Filosofia Africana, por exemplo, possuía
pouca representatividade no contexto acadêmico, sendo que
este espaço academicista verbalizou uma abertura de
possibilidades epistemológicas, mas admitia apenas seus
próprios pressupostos de matrizes predominantemente
europeias. Foi necessário que ocorresse o rompimento dessa
ideia, que se iniciou a partir do momento em que autores
africanos e afrodiaspóricos passaram a ser discutidos e
abordados como propositores de uma Filosofia destoante da
Filosofia europeia, de cultura supremacista. Dessa forma, o
presente trabalho se constitui em uma contribuição para a
descolonização filosófica da educação, tanto no contexto das
discussões acadêmicas, quanto da educação básica. Além disso,
considera-se a importância da valorização dos autores negros e
das suas produções e suas contribuições para a agência do povo
negro.
Palavras-chave: Eurocentrismo; Filosofia Africana; Afro-diáspora;
Agência.

158
A FILOSOFIA DO DIREITO DE HANS KELSEN: UMA ANÁLISE
CRÍTICA

Ednan Galvão Santos


Doutorando em Filosofia - Universidade do Porto
professorednangalvaosantos@gmail.com

O que vem a ser a Filosofia do Direito? Em que aspectos ela se


diferencia da Ciência do Direito? É possível extrair da obra de Hans
Kelsen uma Filosofia do Direito? Quais são as principais
contribuições desse autor para o pensamento jusfilosófico? Quais
são as crí�cas e refutações dirigidas aos seus postulados? Essas
questões cons�tuem aspectos fundamentais da problemá�ca a ser
abordada na presente comunicação, que versa sobre a filosofia do
direito de Kelsen a par�r de uma perspec�va crí�ca. Nascido em
1881, na cidade de Praga, atual capital da República Tcheca, Hans
Kelsen radicou-se na Áustria, onde consagrou-se como o principal
jurista do pensamento posi�vista. Integrante da chamada “Escola
de Viena”, Kelsen tratou de refutar as premissas defendidas pela
tradição jusnaturalista. Contrário à ideia de um “direito natural” –
ou seja, um direito imutável no tempo e no espaço, com natureza
transcendental em relação ao ordenamento jurídico posto pelo
Estado –, Kelsen abordou o direito posi�vo como verdadeiro e
legí�mo objeto da Ciência do Direito. Propôs, por conseguinte,
uma teoria pura do direito, cujo cerne reside na análise da ordem
jurídica tal qual ela é, enquanto ordenamento norma�vo posto. A
pretendida “pureza” requer, segundo Kelsen, o estudo do direito
isento das valorações morais �picamente jusnaturalistas. A rica
obra de Hans Kelsen deixou valiosas contribuições não apenas para
as áreas do Direito e da Filosofia, mas também para o pensamento
polí�co, âmbito no qual notabilizou-se como defensor da
democracia. Neste ponto, travou conhecido debate contra o jurista
Carl Schmit. Em que pese o enorme legado de Kelsen para o
pensamento ocidental, também serão abordadas nesta

159
comunicação as crí�cas e refutações dirigidas contra diferentes
aspectos de sua doutrina. Como é cediço, o formalismo jurídico
que marca o posi�vismo jurídico kelseniano tornou-se alvo de
objeções oriundas de importantes teóricos pós-posi�vistas. Com
efeito, o ponto de vista crí�co ocupa, cada vez mais, lugar
destacado no pensamento jusfilosófico contemporâneo.
Palavras-chave: Filosofia do Direito; Posi�vismo; Teoria Pura do
Direito; Hans Kelsen.

160
FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA II
19/10
Quinta
Sala
223

161
MICHEL FOUCAULT: A CRÍTICA COMO ATITUDE

João Vitor dos Santos Cruz


Graduando em Filosofia - UNEB
jaovitorcruz@gmail.com
PIBIC-FAPESB

O obje�vo da comunicação é apresentar a noção de a�tude crí�ca


de Michel Foucault. Na conferência “O que é a crí�ca?” de 1978,
proferida no Japão, Foucault apresenta sua noção de crí�ca como
a a�tude de se opor às formas de governamentalização da vida.
Numa perspec�va histórico-filosófica, a a�tude crí�ca é fruto da
sociedade moderna ocidental, como resposta à expansão das artes
de governar (pedagógica, polí�ca, econômica etc.). A crí�ca se
coloca como um instrumento que está sempre em relação a outra
coisa que não ela mesma, meio para uma transformação. Para
Foucault, a crí�ca é “a arte da inservidão voluntária, da docilidade
refle�da”, a maneira pela qual colocamos a questão “como não ser
governado de tal forma?”. Foucault reconhece em Kant o primeiro
empreendimento crí�co da Filosofia quando o filósofo alemão
responde à questão sobre a Aufklärung em 1784. No entanto,
ainda em Kant, a crí�ca teria como objeto o conhecimento,
iden�ficar o limite do que podemos pensar. Por sua vez, Foucault
propõe que o objeto da crí�ca seja o poder, ou melhor, a relação
entre poder, verdade e sujeito. A crí�ca teria por obje�vo
iden�ficar as “polí�cas de verdade” que assujeitam os indivíduos.
Foucault propõe uma abordagem metodológica histórico-filosófica
(arque-genealógica), cuja inves�gação aborda as condições de
possibilidade de um sistema (loucura, penalidade e delinquência,
sexualidade) que tornou o indivíduo objeto de um saber, fruto de
uma verdade. Dessa forma, a crí�ca não teria algo de essencial,
pois existe sempre em relação ao seu objeto de crí�ca, seria uma
forma de iden�ficar as relações de poder que nos governam numa
a�tude de não ser governado.
Palavras-chave: Foucault; A�tude crí�ca; Au�lärung;
Governamentalidade; Sujeito.
162
O PERSPECTIVISMO NIETZSCHIANO SOB A ÓTICA DA VONTADE DE
POTÊNCIA

Mônica Souza de Oliveira


Doutoranda em Filosofia - PPGF/UFBA
moni.br@hotmail.com

A proposta central da pesquisa consiste em abordar o


perspec�vismo nietzschiano apoiado na noção de vontade de
potência. Em geral, trata-se de ressaltar que, no entender de
Nietzsche, tudo que conhecemos parte de uma visão unilateral, de
um ponto de vista de apreciação humano ou, se quiser, de uma
interpretação inteiramente subje�va sobre a realidade. É em tal
entendimento que o filósofo compreende que a crença dogmá�ca
em uma suposta verdade não passaria de uma forma específica de
interpretar as coisas e que, defini�vamente, não é a única. Em
realidade, na visão do autor, tudo que existe está determinado pela
vontade de potência ou, melhor, um aglomerado de forças em
permanente tensão. Em rigor, toda interpretação é signo de uma
interação entre forças e, por isso, o pensador entende que quem
interpreta é a vontade de potência e nada mais. Mas, o
perspec�vismo nietzschiano apoiado na noção de vontade de
potência não se configura como um pensamento que deseja a�ngir
a verdade, o qual Nietzsche tanto procurou cri�car? E, ainda, resta-
nos refle�r se, descartando a hipótese de ser ela um acabamento
da meta�sica ocidental, como, por exemplo, entendeu Heidegger,
a filosofia nietzschiana não correria o risco de ser apenas mais uma
interpretação? A princípio, é importante considerar que Nietzsche
mostra-se pouco preocupado com este fato. E é neste ponto que o
seu pensamento revela-se bem-sucedido, pois não importa saber
se sua filosofia é ou não interpretação, afinal isso é uma questão
profunda e des�nada apenas para os dogmá�cos.
Palavras-chave: Perspec�vismo; Vontade de potência; Vontade de
verdade; Interpretação.
163
ENTRE A RESISTÊNCIA, A DESISTÊNCIA E A REINVENÇÃO DE
GÊNERO: PERSPECTIVAS À LUZ DE FOUCAULT E BUTLER

Stefano Dazzi
Mestrando em Filosofia - PPGF/UFBA
stefanodazzi@u�a.br
CAPES

Esta comunicação pretende oferecer elaborações acerca da ideia


de “Desistência de Gênero”, termo cunhado por Geni Nuñez,
pessoa indígena e profissional da área de Psicologia, a par�r de
reinterpretações à luz da teoria de Michel Foucault Judith Butler.
Geni aborda a ideia de gênero como uma imposição colonial no
que se refere à maneira como as pessoas são levadas a se cons�tuir
– uma tecnologia de produção de corpos, se recorrermos a
Foucault. É a par�r dessa provocação que faremos algumas
aproximações com a noção de “subje�vação”, processo a par�r do
qual tanto Butler quanto Foucault explicam a produção da
subje�vidade mediante a sujeição. O ponto central da discussão
será refle�r sobre a capacidade do indivíduo de apresentar
resistência a esse processo, à medida que reflete cri�camente
sobre as interpelações que lhe são direcionadas. Ademais, nos
perguntaremos se seria possível, através dessa resistência,
oferecer alguma possibilidade de mudança no tecido norma�vo
que rege nossas relações – ou se essas mudanças estariam restritas
a outra esfera. Como desis�r de algo que nos é empurrado
diariamente? A desistência e a invenção de si devem ser uma
constante? Se sim, que �pos de reflexão esse processo exige? E
quais suas limitações? Para expandir a discussão, incluiremos
também alguns textos reunidos no livro “Cartografias da
Masculinidade”, organizado pelo psicanalista Pedro Ambra, a fim
de opor a ideia de “Desistência de Gênero” à noção de que pode
ser desejável inventar “Novas Masculinidades”.
Palavras-chave: Gênero; Subje�vação; Dissidência; Resistência;
Norma�vidade.
164
TENSÃO ENTRE CUIDADO E RENÚNCIA DE SI EM MICHEL
FOUCAULT: A EMERGÊNCIA DA ESPIRITUALIDADE CRISTÃ

José Adriano Santana de Jesus


Mestrando em Filosofia - PPGF/UFBA
adriano.santana4@gmail.com

RESUMO: Nessa comunicação investigaremos como se dá a tensão


entre o cuidado de si helenístico e a renúncia a si monástico-cristã
na transição do helenismo para o cristianismo primitivo tal como
Michel Foucault a entende. Ou seja, trata-se de uma análise da
leitura foucaultiana da passagem do paganismo para o cristianismo
primeiro. Essa ‘tensão’ se constitui à medida que os preceitos
pagãos vigentes na Antiguidade Clássica foram reformulados pelo
cristianismo dos primeiros séculos (século II). Tais preceitos
compunham a ética do cuidado de si, isto é, uma arte de viver,
objetivando a virtude, a soberania sobre si, a saúde, o
aperfeiçoamento de si e a autonomia. Com o cristianismo
nascente, as práticas de si perdem sua autonomia e passam a
depender do poder pastoral. O cuidado de si é posto a trabalhar
em benefício do poder pastoral, operando uma inversão da cultura
clássica do eu. O cuidado de si helenístico e aquele desenvolvido
pelo cristianismo são responsáveis por dois modos de relação
consigo mesmo, isto é, de constituição de si. Foucault busca
distinguir firmemente essa transição entre duas eras culturais
(paganismo e cristianismo primitivo), transcendendo o fator
histórico e tomando o cristianismo primitivo não como uma
doutrina nem como uma representação do mundo, mas como um
conjunto inovador de técnicas de governo das almas que incide
sobre as práticas da subjetivação ocidentais redefinindo as
relações entre sujeito e verdade.
PALAVRAS-CHAVE: Foucault; Subjetivação; Cuidado de si; Renúncia
a si; Helenismo.

165
ENSAIO SOBRE A LIBERDADE: A SITUAÇÃO

Daila Ataíde dos Santos


Mestranda em Filosofia - PPGF/UFBA
dailaataide@gmail.com
CAPES

Buscando a compreensão do que é a liberdade desenvolvida


(abstrata e prá�ca) por Sartre em seus escritos filosóficos e de
ficção, foi escolhida, para este ensaio, a Quarta Parte de O ser e o
nada: ensaio de ontologia fenomenológica (1943), in�tulada “Ter,
fazer e ser” dedicada ao esclarecimento do conceito de liberdade
em âmbito prá�co, isto é, em situação. Os limites frente à liberdade
devem ser refle�dos. Será que podemos condenar ao escravo a
liberdade de Sartre? O escravo é livre para escolher? O objeto a ser
apresentado é a “liberdade situada”, precipuamente ela é
entendida como atributo e não como Sartre a tema�za, isto é, na
ação. Ter, fazer e ser fazem parte dessa categoria de conceitos e
nos ajudam a compreender a conduta do para-si, na ação,
buscando, inu�lmente, determinar-se, haja vista que a liberdade é
pura nadificação e, consequentemente, não há determinação para
o ser do homem. Os limites condicionantes da fac�cidade estão
naquilo que determina o homem historicamente, como o local e a
família que o indivíduo nasce, sua aparência �sica, suas heranças
gené�cas etc., e essas condições não são suficientes para negar,
ainda que seja para o escravo, a liberdade existencial, muito pelo
contrário: “as resistências que a liberdade desvela no existente [...]
permite-lhe surgir como liberdade”. Transcender é abrir o leque
para possibilidades do vir-a-ser humano. Na defesa da posição
sartreana da liberdade como inerente à existência humana, de que
o homem é livre e é a sua própria liberdade, é preciso ampliar esse
argumento para que também seja compreendido que há limites
para tal condição humana. A liberdade, seja ela estritamente
existencial ou co�diana, sempre será situada, terá um “limite” para

166
as escolhas livres, uma “relação com a fac�cidade”. A fac�cidade
parece determinar o que será feito do homem, ou mesmo o que
dele já foi feito, dado como ser em-si. Desse modo,
compreendendo que a liberdade é dada na situação, segue-se que
a liberdade existencial não pode ser alienada nem mesmo em um
escravo. Por vezes são destacados problemas que o homem não
consegue escapar, uma vez que a situação se encontra neles
mesmos. É notório aos seus leitores que Sartre costuma retratar
situações tendo em xeque problemas é�co-morais. Esses
problemas são concernentes: a responsabilidade, a angús�a, a
liberdade, a “consciência reflexiva” e outros conceitos categóricos
indissociáveis à filosofia do autor, de tal forma que são necessários
na discussão acerca da existência, bem como da realidade humana.
Palavras-chave: Liberdade; Situação; Fa�cidade; Moral;
Transcendência.

167
O CONCEITO DE LIBERDADE EM LUIZ GAMA

Ivanildo Soares Dos Santos


Graduando em Filosofia - UFRB
ivanildo.sds@outlook.com

Nessa apresentação abordarei o conceito de liberdade em Luiz


Gonzaga Pinto da Gama (1830-1882). Para tanto, inves�garei o
conceito de liberdade a par�r do ar�go de Gama, in�tulado “A
liberdade urge”, escrito no seu fazer intelectual mais maduro, isto
é, em 1880. Tendo esse ar�go como objeto de análise, pretendo
examinar como Luiz Gama mobiliza uma associação entre
abolicionismo e republicanismo para jus�ficar sua concepção de
liberdade. Com efeito, nesse texto de Gama, ele elabora uma
resposta aos seus correligionários republicanos que não estavam
apoiando a abolição da escravatura de maneira irrestrita e
imediata. Estes correligionários publicaram crí�cas que, mesmo
sem citar o nome de Gama, transpareciam uma discordância direta
com a proposta de Gama sobre a liberdade irrestrita e imediata dos
escravizados. Assim, pretendo expor, ao analisar o texto de Gama,
como os movimentos republicano e abolicionista não eram
unificados no Brasil do século XIX. Além disso, tenho por intuito
expor a posição de Gama nesse debate. Minha apresentação,
portanto, considerará o destaque dado por Gama à concepção de
liberdade irrestrita a todos os seres humanos para servir de
fundamentação teórica de uma proposta de sociedade republicana
e abolicionista, isto é, sem escravizados e sem senhores.
Palavras-chave: Liberdade; Republicanismo; Abolicionismo; Luiz
Gama.

168
O CONCEITO DE VONTADE LIVRE NA FILOSOFIA DO DIREITO DE
HEGEL

Geovane Rocha da Silva


Graduando em Filosofia - UNEB
geo.rocha@protonmail.com

A comunicação tem como objetivo apresentar o conceito de


vontade livre em Hegel. Em Princípios da Filosofia do Direito
(1820), Hegel aponta que a filosofia se ocupa da verdade do
conceito. Esta verdade está no fato de que o conceito, por ser
concreto e racional, é a expressão mesma do real. Contudo, a
apreensão do conceito só é possível mediante a filosofia
especulativa. É por essa razão que, para Hegel, as formas
anteriores de compreensão da vontade livre, por se apoiarem no
particular imediato como forma absoluta do conceito, não dão
conta de explicar a ideia de vontade devido a insuficiência de
determinações. Só é possível entender a ideia da vontade livre
reconstruindo os momentos de sua realização. Desta forma,
ambiciona-se demonstrar: a) a importância do pensamento
especulativo na filosofia hegeliana para acompanhar os momentos
de determinação do conceito, entendendo que essas etapas são
formas ainda imediatas de realização do absoluto; b) discutir a
compreensão moderna de vontade livre no qual Hegel se opõe por
conta da atomização do sujeito que o prende em um particular
constante; e, c) apresentar o conceito hegeliano de vontade livre
em sua obra Filosofia do Direito, afim de demonstrar que Hegel
supera a forma moderna de entendimento da liberdade e defende
a sua necessária realização objetiva na positividade racional do
Estado.
Palavras-chave: Hegel; Filosofia especulativa; vontade livre.

169
A EXTERIORIDADE COMO CATEGORIA FUNDAMENTAL DA
FILOSOFIA DA LIBERTAÇÃO DE ENRIQUE DUSSEL

Bianca da Silva
Graduanda em Filosofia - UFCG
dantasbianca15@gmail.com

Marianne da Silva Nascimento


Graduanda em Filosofia - UFCG
marianne0709nascimento@gmail.com

Esta pesquisa aborda o pensamento do filósofo argen�no Enrique


Dussel como filosofia da libertação que oferece um instrumental
conceitual para uma reflexão sobre os diferentes contextos dos
excluídos da América La�na, enfa�zando a importância desse
estudo hoje em dia, à medida que os povos dessa região
demonstram um despertar para a consciência sobre as forças que
as oprimem. Obje�va, assim, mostrar como esse pensador realiza
uma leitura crí�ca da filosofia tradicional, formulando um
pensamento original a par�r da periferia. A pesquisa parte da
seguinte questão: considerando que o projeto filosófico dusseliano
vem a ser um filosofar desde o Outro, em que sen�do a categoria
principal desse pensamento, a exterioridade, oferece argumentos
consistentes para a compreensão da condição do oprimido la�no-
americano no século XXI? Ante este problema, a hipótese que
pretendemos verificar é a de que Dussel apresenta uma nova
concepção de alteridade, mais adequada para a compreensão da
emancipação dos diferentes sujeitos da “Pátria Grande”, a América
La�na. O estado da arte ar�cula a crí�ca dusseliana ao
desenvolvimento do conceito de Totalidade Ontológica, que
fundamenta a filosofia tradicional, e a demonstração de que na
filosofia que parte da realidade da periferia o ser é o Outro, que se
contrapõe à subje�vidade da filosofia moderna europeia. Com
isso, o Outro é a América La�na e todo o Sul Global, enquanto o
centro vem a ser a Europa e os Estados Unidos. A relevância da
170
pesquisa encontra-se no fato de que ela se ampara no âmbito
práxis da libertação que visa a transformação subje�va e social dos
oprimidos. Como estratégia metodológica, optou-se por uma
pesquisa bibliográfica, de abordagem qualita�va fenomenológica,
que possibilita o trabalho com sen�dos e significados que visam
verificar a consistência da hipótese proposta. Como resultado,
espera-se mostrar como a filosofia da libertação dusseliana
apresenta um discurso que falta à filosofia produzida nos países de
centro.
Palavras-chave: América La�na; Totalidade; Exterioridade.

171
DIREITO À VIDA EM HEGEL

Taiane Andrade Ornelas


Mestranda em Filosofia - PPGF/UFBA
taiornelas@hotmail.com

Para Hegel, o ápice da particularidade é a vida como ser-aí pessoal


e a subjetividade vai se manifestar como vida, vitalidade; desse
modo, todo indivíduo humano, ou seja, o ser humano como
humanidade deve ter o direito à vida assegurado. As relações
econômicas na esfera da sociedade civil moderna pressupõem,
uma ordem jurídica e uma distribuição, conforme a ela, de
propriedade. Porém, embora os direitos de propriedade
tenham surgido, na sociedade civil moderna, os direitos de
propriedade e a propriedade não podem ser totalmente
combinados. Em consequência, os direitos não podem ser
plenamente realizados, os direitos tornam-se abstratos e os
indivíduos não podem realizar-se plenamente. Qual é o valor
do direito de propriedade para alguém que não possui
propriedade? Em sua teoria social apresentada em sua obra
de maturidade Linhas Fundamentais da Filosofia do Direito
(1821), Hegel diagnóstica que patologias sociais que
coloquem em risco a vida do indivíduo, apresentam-se como
uma violação completa do ser-aí e a total privação de direitos.
O objetivo da nossa apresentação consiste em analisar a
defesa de Hegel por um direito que visa assegurar a vida
ameaçada e está acima do direito de propriedade. No primeiro
momento apresentaremos a concepção hegeliana do direito à vida
enquanto condição para o indivíduo ser protegido frente à
destruição dos fundamentos naturais da vida; no segundo
momento verificamos a relação entre direito à
particularidade a propriedade e o direito à vida; por fim
analisaremos a noção de direito de necessidade

172
constringente (Notrecht) como princípio que visa assegurar o
direito à vida como um direito de extrema necessidade.
Palavras-chave: Direito à vida; Propriedade; Direito de
necessidade; Sociedade civil.

173
FENOMENOLOGIA E
PSICANÁLISE
20/10
Sexta
Sala
221

174
A COMPREENSÃO EXISTENCIAL DE CORPO: CONSIDERAÇÕES A
PARTIR DO PENSAMENTO DE HEIDEGGER

José Isaac Costa Júnior


Mestrando em Memória: Linguagem e Sociedade - UESB
zejr.013@gmail.com
CAPES

Caroline Vasconcelos Ribeiro.


Docente DFCH e PPGMLS/UESB.
carolinevasconcelos@hotmail.com

Neste trabalho pretendemos indicar de que maneira a filosofia de


Mar�n Heidegger conduz à uma compreensão existencial do
corpo. O pensamento de Heidegger é marcado pela tenta�va de
compreender o ente que nós mesmo somos, que ele nomeia
Dasein, não enquanto uma substância ou um ser simplesmente
dado que possa ser obje�ficado e categorizado, mas antes como
um existente. Aqui, “existência” não diz “ser real” ou “estar aí
presente”, mas indica que em seu ser o Dasein compreende e se
relaciona com o próprio ser e com o dos outros entes, de modo
que em seu ser, está em jogo e aberto o seu próprio ser. Portanto,
para o modo específico de ser que nos caracteriza, o filósofo
alemão reserva o termo “existência”: ser para fora de si, ser-
lançado, ser enquanto abertura antecipa�va de possibilidades.
Nessa perspec�va, a relação do Dasein com o mundo não se reduz
à localização de uma coisa material no espaço, mas é antes uma
relação de pertencimento indissolúvel: o Dasein só é, enquanto
lançado e aberto a um horizonte de possibilidades, isto é, ao
mundo. Heidegger nomeia ser-no-mundo essa estrutura
existencial fundamental do Dasein, entendendo que o mundo nos
cons�tui enquanto horizonte de sen�dos. Almejamos apontar de
que maneira essa concepção influiu sobre as discussões realizadas
por Heidegger a respeito da corporeidade humana, durante os
seminários realizados em Zollikon entre 1959 e 1969. Nessas aulas,
175
o pensador alemão defendeu que a experiência humana de corpo
deve ser pensada não apenas a par�r do corpo material (Körper),
mas levando em conta também o corpo vivido (Leib), uma vez que
o corpo é uma condição ontológico-existencial do ser-no-mundo, e
não meramente uma substância metrificável. Desse modo,
Heidegger fala sobre o corporar do corpo (Leiben des leibes),
enfa�zando que não está em discussão, para ele, o corpo material,
mas sim o movimento existencial que se desdobra corporalmente
no ser do Dasein. É corporalmente que o Dasein abre e ar�cula as
suas possibilidades: em seu olhar, em seu tocar, em sua escuta, sua
caminhada, e até mesmo em seus momentos de contemplação,
assim como em toda lida e ocupação co�dianas. O corpo está
inserido originariamente na abertura compreensiva e
afe�vamente afinada que caracteriza a existência do Dasein, e é a
esse fenômeno de caráter existencial que Heidegger des�na sua
atenção, ao invés do corpo material. Isso não significa que nosso
corpo seja desprovido de materialidade, mas sim que não deve ser
reduzido a isso: enquanto é o corpo de alguém, é vivido,
implicando uma dimensão existencial. O corpo precisa ser pensado
enquanto corpo vivido porque isto indica precisamente a maneira
corporal pela qual a existência se concre�za. Nessa perspec�va, o
Dasein é ser-no-mundo-corporificado. Com esta comunicação,
visamos indicar dois pontos fundamentais e complementares
dessa discussão: primeiro, que a concepção heideggeriana sobre o
Dasein enquanto existente condiciona a sua discussão a respeito
da corporeidade humana; e segundo, que o conceito de corpo
vivido possibilita discu�r o fenômeno do corpo em seu
desvelamento existencial.
Palavras-chave: Heidegger; Corpo vivido; Corpo material;
Existência.

176
UMA POSSÍVEL ANÁLISE HEIDEGGERIANA DA TELA “SEM
ESPERANÇA” DE FRIDA KAHLO

Marília Santos Silva


Graduanda em Filosofia - UESB
201920158@uesb.edu.br
Bolsa PIBIC/UESB

Caroline Vasconcelos Ribeiro.


Docente do DFCH/UESB
Caroline.ribeiro@uesb.edu.br

Pretendemos, com esse trabalho, fazer uma análise da obra Sem


esperança (1945) de Frida Kahlo, inves�gando elementos
simbólicos da tela e interpretando-os com base na maneira como
a filosofia de Heidegger pensa o corpo e seus padecimentos. Frida
sofreu muito com as consequências da poliomielite que foi
diagnos�cada ainda na infância e com numerosas cirurgias depois
de um grave acidente de ônibus em sua juventude, o qual deixou
sequelas durante toda sua vida. Sua biografia é marcada por
abortos involuntários, uma saúde muito debilitada, longas
passagens por hospitais e uso de vários coletes ortopédicos. Frida
fez de seus quadros sua maior expressão e nos legou um vasto
acervo de autorretratos em que seu corpo enfermo, machucado e
em reabilitação ocupa a temá�ca central. Na obra Sem esperança
(1945), a pintora está deitada em uma cama com um enorme funil
grotesco saindo de sua boca; dele sai vísceras, frango, cérebro,
linguiça e até mesmo uma caveira de açúcar com seu nome. Em
algumas biografias da ar�sta mexicana, constatamos que esses
elementos remetem a um dos períodos em que Frida passou no
hospital após mais uma cirurgia e estava muito magra, tendo que
se alimentar mediante um funil. Para compreendermos a
atmosfera existencial que a tela desvela, nos serviremos da
maneira como Heidegger pensa o corpo vivido (Leib) em diferença
ao modo como a medicina tradicional o analisa, ou seja,
177
exclusivamente em seus aspectos anatomofisiológicos, como um
corpo material (Körper). A fenomenologia heideggeriana tem
servido a muitos estudiosos da enfermidade que compreender o
adoecimento como algo que não afeta apenas nosso Körper, mas
nosso Leib, a nossa iden�dade corporal pessoal, causando a
sensação de desterro e rompimento com o que nos é familiar. A
par�r da diferença estabelecida por Heidegger entre os termos
Leib e Körper e da forma como estudiosos do paradigma do corpo
vivido pensam a enfermidade, almejamos lançar luz sobre esta
obra de Kahlo que traz consigo tonalidades desér�cas, a
experiência dolorosa de estar acamada com um funil na boca e sem
a esperança de cura e bem-estar. O que do mundo circundante e
familiar da pintora entra em colapso e impede o aparecimento de
cores alegres e vibrantes que compõem outras cenas de suas
pinturas? De que modo o desterro existencial que se revela em
enfermidades debilitantes pode ser reconhecimento na obra em
questão? Em que medida as teorias da enfermidade inspiradas na
filosofia heideggeriana podem lançar luz sobre a experiência de
desesperança que é revelada na tela de Frida? Seria possível
pensar que, ao pintar-se, Frida ressignificou a sensação de corpo
alheio e estranho causado pela enfermidade? Ou ofereceu, na tela
em comento, mais força de expressão para a ruptura estabelecida
pelo adoecimento com o sen�do familiar de mundo? Essas são
questões que pretendemos responder com essa comunicação.
Nossa proposta é fazer um exercício de análise da tela Sem
esperança (1945) u�lizando como embasamento teórico a filosofia
heideggeriana e estudos no campo das teorias da enfermidade que
se servem desta filosofia.
Palavras-Chave: Corpo; Enfermidade; Frida Kahlo; Heidegger;
Padecimento.

178
A PSICANÁLISE DE WINNICOTT OBJETIFICA O SER HUMANO? UM
OLHAR A PARTIR DAS DISCUSSÕES DE HEIDEGGER
NOS SEMINÁRIOS DE ZOLLIKON

Naiane Santos Matos


Graduanda em Filosofia - UESB
naiannesm@gmail.com

Caroline Vasconcelos Ribeiro


Docente da UESB
caroline.ribeiro@uesb.edu.br

Na obra Seminários de Zollikon, o filósofo Mar�n Heidegger teceu


algumas crí�cas acerca da psicanálise tradicional freudiana.
Segundo o filósofo, a psicanálise freudiana carrega uma herança da
metafisica moderna uma vez que se serve de uma linguagem
obje�ficante para falar dos fenômenos psíquicos. Inspirada na
�sica, pensa o psiquismo no molde de um aparelho, o que acaba
por dispensar ao ser humano um �po de obje�vidade não-
humana. Heidegger destaca estes aspectos na psicanálise
freudiana, mas, na condição de filósofo não lhe caberia apresentar
aos seus alunos psiquiatras em Zollikon uma outra ciência não
tributária do fisicalismo meta�sico. Com essa comunicação,
pretendemos indicar que a psicanálise de D.W. Winnicot, apesar
de inspirada na freudiana, não pensa o psiquismo como um
aparelho e parece não se ancorar em uma obje�vidade de molde
daquela herdada por Freud. Winnicot inaugura uma psicanálise
que analisa os fenômenos psíquicos humanos a par�r dos cuidados
ambientais e não do acúmulo de força pulsional no aparelho
psíquico. Para ele, não somos como uma máquina que processa
energia psíquica, mas nascemos não-integrados e absolutamente
dependentes de cuidados. O ponto de par�da winnico�ano é a
não-integração do neonato e sua tendência a integrar-se mediante
cuidados ambientais. Para ele, no início, não habitamos o próprio
corpo, não estamos integrados no tempo e no espaço e não
179
lidamos com a realidade compar�lhada. Só conseguiremos isso se
formos cuidados de modo suficientemente bom. Winnicot
considera que um ambiente errá�co, caó�co e imprevisível,
consequência da falta de cuidados para com o bebê nos primeiros
períodos de vida, poderá causar memórias primi�vas de descuidos
capazes de promover patologias do �po psicó�cas. Ao pensar que
nós humanos não somos um aparelho psíquico, mas um ser não-
integrado que depende do cuidado de outros humanos,
entendemos que Winnicot deixa de lado a semân�ca fisicalista de
Freud, deixando de falar em pulsão, repressão e energia. Em
função disso, visamos analisar com este trabalho se a sua
psicanálise – por se diferenciar da freudiana – não estaria mais
afinada com a ideia heideggeriana de que o Dasein, o ser humano,
não pode ser obje�ficado e transformado em coisa simplesmente
dada. Heidegger u�liza a palavra Dasein para nomear o ser
humano lançado no mundo como uma abertura de possibilidades.
O exis�r humano, segundo ele, não é passível de categorização e
obje�ficação. Como o filósofo alemão não se ateve à psicanálise
winnico�ana, entendemos que seja per�nente pensar se esta
também seria alvo de suas crí�cas. A par�r das contribuições de
Heidegger sobre o ser humano e as ciências dos fenômenos
psíquicos, esta comunicação tem como obje�vo analisar se a
psicanálise de Winnicot se distancia da herança meta�sica
presente na psicanálise freudiana.
Palavras chaves: Winnicot; Heidegger; Psicanálise.

180
A DICOTOMIA CORPO-MENTE NA FILOSOFIA CARTESIANA E A
PARECERIA PSIQUE-SOMA NA PSICANÁLISE WINNICOTTIANA

Nicole Dias da Silva


Graduanda em Filosofia - UESB
201720441@uesb.edu.br
PIBIC CNPQ

Caroline Vasconcelos Ribeiro


Docente da UESB
caroline.ribeiro@uesb.edu.br
FAPESB

Essa comunicação pretende explanar resultados de uma pesquisa


de Iniciação Cien�fica que se propõe a uma análise do conceito de
parceria psique-soma desenvolvido pela psicanálise de Winnicot,
diferenciando-o em relação ao composto corpo-mente ins�tuído
pela filosofia de René Descartes. Almeja-se debater em que
medida estes dois pensadores se diferenciam ao pensar a maneira
que nós humanos corporamos e exis�mos. O filósofo René
Descartes, chama a atenção, em sua obra Discurso do Método, para
a dualidade entre corpo (res extensa) e mente (res cogitans),
entendendo estas como duas substâncias dis�ntas
ontologicamente e que, por vezes, interagem. A maior parte dos
fenômenos corporais é explicada pelo modelo mecanicista que
compreende que a res extensa – que pode ser quan�ficada,
dividida e medida – funciona de modo similar a autômatos, como
os moinhos e relógios. Quando se trata de movimentos voluntários
e sensações, Descartes trabalha a união corpo-alma e nos lega
vários escritos sobre a medicina. Seja agindo como um autômato,
seja em interação com a alma, o fato é que o corpo, na perspec�va
cartesiana, é pensado como uma coisa, uma substância. Winnicot,
por sua vez, vai numa direção contrária. Para ele, não temos a
garan�a de habitarmos o corpo desde que nascemos e esse corpo
é algo que nos apropriamos e não uma substância que tem
181
extensão. O corpo é entendido como um soma vivo que precisa ser
elaborado imagina�vamente pela psique, de modo a ser alojado e
apropriado por ela. O psicanalista aponta que os primeiros meses
de vida são fundamentais para nosso amadurecimento, em
especial, para a grada�va apropriação do soma pela incipiente
psique. Caso o ambiente seja intrusivo, descuidado, o bebê terá
que reagir e não conquistará o exis�r psicossomá�co, ou seja, a
parceria psique-soma será impedida. Instala-se, assim, uma
sensação de estranheza em relação ao soma, de corpo inimigo e
despersonalizado, �pica das experiências de pacientes psicó�cos.
Com essa comunicação, pretende-se indicar que as experiências
oriundas de um ambiente suficientemente bom permitem ao
recém-nascido o amadurecimento emocional proporcionado pela
ro�na de cuidados e pela confiabilidade que se estabelece entre
mãe e bebê. Com isso, a personalização e a sensação de fazer do
corpo nossa morada é garan�da. O que implica dizer que o corpo
chega a nós pelo cuidado humano e não é uma mera substância
extensa que precisa ser comprovada. Os termos centrais usados
por Winnicot para pensar o início da vida de um neonato são soma
e psique e não corpo e mente, por isso ele cri�ca uso da dicotomia
cartesiana para explicar os fenômenos corporais humanos. Nossa
comunicação tratará das diferenças entre os dois autores, sem
deixar de considerar que estes ocupam campos de inves�gação
dis�ntos: um lida com o campo da pesquisa de modo ôn�ca,
concreta, e o outro analisa os modos de ser do humano do ponto
de vista filosófico.
Palavras-chaves: Descartes; Psique-Soma, União substancial;
Winnicot.

182
CONHECIMENTO E INTERESSE: A PSICANÁLISE COMO
AUTORREFLEXÃO

Paula Mariana Entrudo Rech


Mestranda em Filosofia - UFRS
paula.mariana.rech@gmail.com
CAPES

Este trabalho dedica-se ao papel cumprido pela psicanálise na obra


Conhecimento e interesse, publicada por Jürgen Habermas em
1968. Dando continuação à centralidade atribuída à psicanálise no
interior da chamada primeira geração da teoria crítica, Habermas
se apropria da psicanálise nos capítulos finais de Conhecimento e
interesse como um instrumento epistemológico fundamental para
a elaboração de sua crítica ao positivismo, compreendido como
um conhecimento objetivo da realidade social aos mesmos moldes
das ciências naturais, que neutraliza, a seus olhos, a necessidade
filosoficamente fundada de autorreflexão e de crítica
epistemológica no âmbito da teoria do conhecimento. Nesse
sentido, Habermas confronta tanto as ciências empírico-analíticas
da natureza quanto as ciências hermenêuticas da história, opondo
à autocompreensão objetivista destas ciências um modelo de
autorreflexão que encontra suas bases nos postulados da
compreensão clínica de Freud. Nesta obra, o autor se propõe a
fazer uma releitura da psicanálise como uma forma particular de
crítica hermenêutica da qual poderíamos extrair princípios
elementares para o desenvolvimento de metodologias adequadas
ao interesse emancipatório – buscando não apenas orientar
processos de autoconhecimento através do diálogo clínico, mas
identificar bloqueios de acesso às próprias experiências subjetivas,
tendo como objetivo a superação dos entraves comunicativos.
Desse modo, a psicanálise seria uma uma forma de hermenêutica
que unifica a análise da linguagem à corrupção de sentido,
especializando-se em trazer à tona conteúdos latentes inacessíveis

183
ao próprio autor. Nesse aspecto, a hermenêutica psicanalítica não
visa, como a hermenêutica das ciências do espírito, à compreensão
dos nexos simbólicos; antes, o ato da compreensão, ao qual ela
conduz, é autorreflexão. Buscaremos, então, reconstituir a
argumentação empreendida, sobretudo no capítulo 10 de
Conhecimento e interesse, texto proeminentemente dedicado à
caracterização da psicanálise como prática hermenêutica de
autorreflexão, orientando-nos pela seguinte estrutura expositiva:
(i) a apresentação da tese que caracteriza a psicanálise como uma
“hermenêutica crítica”, salientando suas proximidades e
diferenças em relação à “hermenêutica filológica” legada pela
tradição; (ii) apresentar o sonho como objeto privilegiado por meio
do qual se exerce essa hermenêutica profunda e a resistência
como foco da prática psicanalítica; (iii) a seguir, a compreensão da
psicanálise como autorreflexão demandará o esclarecimento de
um conjunto de pressupostos práticos exigidos por seu núcleo
metódico: transferência; interesse do paciente pela autorreflexão
(“paixão pela crítica); o autocontrole do analista
(“desubjetivação”); (iv) por fim, buscaremos salientar que, para
Habermas, a autorreflexão como método não se realiza
plenamente devido a um “mal-entendido cientificista” que teria
acompanhado a psicanálise desde sua fundação.
Palavras-chave: Psicanálise; Autorreflexão; Patologias Sociais;
Interesse Emancipatório.

184
VINCENT VAN GOGH À LUZ DE WINNICOTT E NIETZSCHE: A ARTE
COMO CUIDADO E AFIRMAÇÃO DO EXISTIR

Abraão Vinicius Vieira Guimarães


Graduando em Filosofia - UESB
abraaovvguimaraes@gmail.com
FAPESB

Caroline Vasconcelos Ribeiro


Docente de Filosofia - UESB
caroline.ribeiro@uesb.edu.br

Vincent Willem van Gogh (1853-1890) foi um pintor pós-


impressionista holandês, nascido em Zundert, uma província no
sul dos Países Baixos (Holanda). Um filho natimorto tinha sido
nomeado Vincent e, quando deu à luz a um outro filho um ano
depois, em 30 de março de 1853, a mãe deu-lhe o mesmo nome.
Esse é o Vincent que nos interessa nesta comunicação, esse pintor
genial cuja mãe achava sua arte “ridícula”. Segundo os biógrafos
Steven Naifeh e Gregory Smith, Vincent nunca elaborou bem a
rejeição da mãe e a via como uma mulher de “coração
empedernido”, “de um amor amargurado”. A partir da psicanálise
de D.W Winnicott pretendemos, com esta comunicação, analisar o
fato de que o Vincent que nasceu em 1853, carregava consigo a
marca do irmão morto e uma relação difícil com o ambiente
parental. À luz de Winnicott, visamos examinar em que medida o
desamparo familiar lhe submetera a uma instabilidade emocional
severa e como isto se reflete em alguns de seus autorretratos.
Ainda de acordo com Naifeh e Smith, no frio natal de 1888, Vincent
estava à beira de um colapso e depois de uma briga com Paul
Gauguin decepou a sua orelha. Visamos pensar psicanaliticamente
esta experiência de automutilação. A pesquisadora Elza Yacubian,
na obra A doença e a arte de Vincent van Gogh, fez uma pesquisa
sobre os diagnósticos destinados ao pintor e além do de
esquizofrenia, encontrou porfiria intermitente aguda, intoxicação
185
pelo chumbo que compunham as tintas e causam prostração e
desânimo, bem como sífilis e glaucoma. Com essa série de
diagnósticos e uma vida financeiramente precária, Vincent
apresentou quadros de crises emocionais que culminaram em
várias internações psiquiátricas. Com este trabalho, pretendemos
analisar como as falhas de cuidados ambientais destinados a Van
Gogh podem ter influenciado o seu episódio de automutilação e
seus padecimentos emocionais. Em que medida isso se refletiu em
algumas de suas obras? Essa é uma questão que objetivamos
analisar. Além disso, pretendemos, a partir da filosofia de Friedrich
Nietzsche, tirar possíveis reflexões de como Van Gogh encontrou
na arte um alicerce para se manter inteiro diante a realidade que
o afligia. Para Nietzsche, a arte seria uma forma de proteção à vida
e, segundo ele, ela existiria para que a realidade não nos
destruísse. Com essa apresentação pretendemos exercitar um
diálogo entre a Filosofia e a Psicanálise, para tentarmos gerar
possíveis reflexões sobre como a arte pode vir a ser um veículo
para ressignificar traumas, cuidar de si, afirmar a vida e a
“embriaguez” da nossa existência. Com essa comunicação,
almejamos apresentar os resultados iniciais de uma pesquisa de
iniciação científica cujo fomento é da FAPESB.
Palavras-chave: Arte; Filosofia; Psicanálise; Vincent van Gogh.

186
O LUGAR DA AFETIVIDADE NO ENVIO DO SER

Mariana Marcelino Silva Alvares


Mestranda em Filosofia - USP
maarimaarcelino@hotmail.com

A questão dos afetos recebeu, em Heidegger, uma dedicada


atenção desde seu tratado Ser e Tempo (1927). Nesta obra, em que
o filósofo se dedica a desenvolver sua analí�ca existencial, a
Befindlichkeit (disposição em Schuback; encontrar-se em Cas�lho)
da angús�a exerce o papel fundamental de possibilitar ao ser-aí a
abertura para as suas possibilidades próprias. Em vista disso,
Heidegger se dedica nos §29 e §40 ao exame do encontrar-se, em
par�cular da angús�a e do medo. Em 1929, três anos após a
publicação de Ser e Tempo, Heidegger ministrou o curso in�tulado
Conceitos Fundamentais da Metafísica: mundo, finitude e solidão.
Neste curso, o filósofo igualmente se dedica a Befindlichkeit para
explicitar um caráter fundamental do ente humano a par�r do
caractere do humor. Neste texto, Heidegger diferencia o modo de
ser existencial do ser-aí, da vida animal. Para isso, o filósofo lança
mão dos humores da angús�a e do tédio como maneira de
explicitar o caráter ontológico do ser-aí de ser-no-mundo. Desde o
período pré-publicação de Ser e Tempo até os anos finais da década
de 20, portanto, Heidegger se ocupou em pensar a questão dos
humores, sobretudo da angús�a e do tédio, enquanto vias de
acesso para a adequada colocação da questão do ser. Neste
primeiro momento, entretanto, os humores explicitam caracteres
próprios do ser-aí, seja a via para sua auten�cidade (ST) seja a
cons�tuição da transcendência (preleção). Por sua vez, no texto
Serenidade (1955) Heidegger se dedica à exposição desse
encontrar-se (Gelassenheit) a par�r do envio historial do ser.
Portanto, há uma mudança no modo de tratar os humores, e é essa
mudança do modo de conceber a afe�vidade que o presente
trabalho pretende explorar. Da passagem de um Heidegger

187
ocupado com a singularidade do ser-aí, em Ser e Tempo e nos
textos posteriores à publicação do tratado maior, até a reflexão
sobre o afeto da serenidade como afeto que faz frente à
manifestação do envio historial do ser próprio da era da técnica.
Palavras-chave: Befindlichkeit, analí�ca existencial, ser.

188
A ESPACIALIDADE E A CORPOREIDADE NO SER-NO-MUNDO DE
HEIDEGGER

Arlindo Antonio do Nascimento Neto


Mestrando em Filosofia - UFBA
arlindo2911@gmail.com
CAPES/CNPq

Em nosso trabalho, exploramos a visão heideggeriana da


espacialidade como um existencial intrínseco ao ser-no-mundo, ao
mesmo tempo que examinamos a influência da espacialidade na
compreensão da corporeidade humana. Heidegger destaca que o
Dasein, em sua existência, é imerso em um constante
deslocamento, lançado em um mundo que se desvela diante dele.
Dentro desse processo, o Dasein se depara com instrumentos e
utensílios que possuem um “lugar para” dentro de uma região
específica, onde a familiaridade e a u�lidade definem a
proximidade. Assim, a relação entre o Dasein e seus utensílios é
guiada pela região e pelo direcionamento. O Dasein está
constantemente engajado em um horizonte espacial, interagindo
com suas conexões concretas. O ser-para-o-mundo implica em
uma ocupação con�nua, uma busca pelos objetos acessíveis,
suprimindo as distâncias. O Dasein não é meramente um ente
localizado, mas sim imerso em um contexto de acessibilidade.
Heidegger contrapõe, portanto, a espacialidade do Dasein com a
dos entes intramundanos, enfa�zando que a proximidade, no ente
humano, é delineada pelo contexto de uso. O ser-no-mundo está
eternamente lançado no mundo, possibilitando a direção ou
afastamento em relação aos elementos circundantes. A discussão
da espacialidade não somente aborda os utensílios e instrumentos,
mas também se estende à compreensão do corpo humano. A
desconstrução da concepção tradicional de espaço por Heidegger
se alinha à desconstrução da interpretação do corpo como algo
simplesmente dado. A espacialidade do ser-no-mundo é dis�nta da

189
abordagem teórica e cien�fica que enfoca distâncias mensuráveis
de forma métrica. A compreensão meta�sica moderna da
corporalidade é influenciada por essa conceituação ontológica
tradicional, que a análise de Heidegger busca reconfigurar.
Entendemos, assim, que a perspec�va existencial da espacialidade
do Dasein não ignora a corporeidade, pois examina a interação do
corpo com o espaço de maneira diferenciada. Neste contexto
vemos nos parágrafos 22 e 23 de “Ser e Tempo” uma indicação da
importância existencial do corpo humano na ontologia do Dasein.
A espacialidade permeia não apenas a relação do Dasein com os
utensílios, mas também sua compreensão do corpo e sua
existência imersa no mundo. A desconstrução da perspec�va
tradicional de espaço encontra paralelos na desconstrução da
interpretação do corpo em vigor desde a modernidade, ampliando
a compreensão da interconexão entre o ser humano, o espaço e o
mundo circundante. Compreender a espacialidade e sua relação
com a corporeidade é fundamental para uma apreciação mais
profunda do exis�r humano no contexto do ser-no-mundo
heideggeriano.
Palavras-chave: Corpo; Dasein; Espacialidade; Heidegger; Ser-no-
mundo.

190
FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA III
20/10
Sexta
Sala
222

191
SOBRE A HIPÓTESE DE UMA TEORIA GERAL DO JULGAMENTO EM
PAUL RICOEUR

José Carlos da Silva Simplício


Graduando em Filosofia - UESB
jose.simplicio@uesb.edu.br

Roberto Roque Lauxen


Docente - UESB
roberto.roque@uesb.edu.br

Esta pesquisa decorre da inves�gação que realizamos em nosso


projeto “Hermenêu�ca Jurídica em Paul Ricoeur”. Ricoeur escreveu
um ar�go em O justo 1 com o �tulo “O ato de julgar”, no qual
desenvolve uma fenomenologia deste ato, no sentido estrito do ato
do juiz no tribunal, porém, analisando melhor esse conjunto de
estudos uma questão nos chama a atenção, pois antes de Ricoeur
tratar de ar�gos no qual ele desenvolve seu esboço de contribuição
para a hermenêu�ca jurídica – refiro-me ao ar�go “Interpretação
e/ou argumentação” – e, em seguida, apresenta esta
“fenomenologia” do ato de julgar, no ar�go “O ato de julgar”, somos
provocados a dar um passo atrás e até mesmo nos perguntar sobre
os mo�vos pelos quais Ricoeur antecipa o ar�go “Juízo esté�co e
juízo polí�co segundo Hannah Arendt”. Segundo nossa avaliação,
esta precedência tem sua razão de ser: Ricoeur é provocado, ainda
que de modo indireto, através da análise do julgamento polí�co e
esté�co em Hannan Arendt, a pensar sobre o que seria uma teoria
geral do julgamento, ao modo kan�ano da Crítica da faculdade do
juízo, ou seja, o sentido lato e amplo do julgamento, que está
presente não apenas no julgamento jurídico, mas também no
julgamento médico, no julgamento do historiador, só para
mencionar três áreas nas quais Ricoeur desenvolveu esta
problemá�ca do julgamento. Ricoeur insiste em alguns momentos
de sua obra em querer comparar estes atos. Nossa hipótese é que a
tenta�va de atravessar e compa�bilizar este conjunto heterogêneo
192
do julgamento, portanto, a tenta�va de superar os jogos de
linguagem incomensuráveis destes atos, prospecta uma teoria geral
do julgamento. Nossa hipótese é reforçada se pudermos mostrar
que esta ar�culação possui uma relação estreita com a é�ca e a
epistemologia de Ricoeur. Segundo nossa avaliação, esta teoria geral
do juízo possui, para além de sua aplicação nos diferentes campos
da medicina, da jurisprudência e da historiografia, uma dimensão
é�ca e epistemológica. A dimensão é�ca se cons�tui na relação com
o julgamento moral em situação diante de casos di�ceis, conforme
o estudo nono de Soi même comme un autre, ao passo que a
dimensão epistemológica se cons�tui em torno da problemá�ca da
atestação. Nossa proposta inves�ga os inters�cios desta construção
de uma teoria geral do juízo através de uma perspec�va que parte
do ato de julgar, do ato médico e do ato do historiador, ou seja, de
uma é�ca aplicada para sustentá-la numa é�ca geral e numa
epistemologia. Por fim, num projeto mais ambicioso procuramos
lançar nossas apostas sobre como podemos confrontar a
perspec�va ricoeuriana com a noção de julgamento de Hannah
Arendt e em que medida Ricoeur daria um acabamento a esta obra
inconclusa de Arendt.
Palavras-chave: Atestação; É�ca; Paul Ricoeur; Teoria do Juízo.

193
A PRIMAZIA DO TEMPO SOBRE A MUDANÇA NA
CARACTERIZAÇÃO DA TEORIA DO RECONHECIMENTO EM PAUL
RICOEUR

Leidiane Ribeiro Silva


Graduanda de Filosofia - UESB
leidianeribeiro112@gmail.com

Elton Moreira Quadros


Docente - UESB
elton.quadros@uesb.edu.br
CNPq

Paul Ricoeur, no seu úl�mo livro, Percurso do reconhecimento,


publicado em 2006, através do seu método fenomenológico-
hermenêu�co, desenvolve uma proposta que visa discu�r e refle�r
sobre uma “teoria do reconhecimento”. Conforme o filósofo, os
primeiros indícios que marcam a teoria do reconhecimento se dão
por um viés crí�co acerca da representação em relação ao
reconhecimento. Ricoeur faz uma objeção à filosofia cartesiana e à
filosofia transcendental, evidenciando seus equívocos. O autor
considera o “signo de estar-no-mundo” para fazer um
agrupamento e separar o “conhecer” do “reconhecer” sem
desvincular o reconhecimento por meio da iden�ficação. A par�r
disso, ele inicia uma discussão entre tempo, mudança e
reconhecimento. As primeiras caracterís�cas do reconhecimento
são marcadas pela sua dis�nção, isto é, o autor diferencia três �pos
de reconhecimento: o “reconhecimento do objeto”, o
“reconhecimento do objeto familiar” e o “reconhecimento das
pessoas”. Ricoeur afirma que o reconhecimento das coisas está
atrelado à ideia de iden�ficação, o reconhecimento de objetos que
nos são familiares perpassa o caminho da cumplicidade, enquanto
que o reconhecimento das pessoas se dá pelos “traços individuais”.
Nesta terceira forma de reconhecimento, a qual nos interessa mais,
dado seu componente eminentemente é�co, o tempo tem uma
194
função crucial, em que o envelhecimento nada mais é que um
“valor emblemá�co”, ou seja, o tempo é superior à mudança, pois
esta possui um caráter episódico. O tempo recebe a visibilidade da
idade e tem o poder de se revelar como um “agente duplo” entre
o desconhecido e o reconhecido. O presente texto, que faz parte
de uma pesquisa em andamento, obje�va enfa�zar as primeiras
caracterís�cas que dão início à teoria do reconhecimento
ricoeuriana, evidenciando a importância do tempo para que haja o
reconhecimento pleno.
Palavras-chave: Cri�cidade; Dis�nção; Objeção; Pessoa.

195
O EMOTIVISMO E UTILITARISMO E A DECADÊNCIA DA ÉTICA
CONTEMPORÂNEA SEGUNDO ALASDAYR MACYNTIRE

Gilvane Silva Nascimento


Graduando em Filosofia - UESB
gilvanesilvanascimento27@gmail.com

Este trabalho tem como proposta apresentar um panorama das


ideias de Alasdair MacIntyre sobre o emo�vismo, o u�litarismo e a
decadência da é�ca contemporânea, bem como sua proposta de
resgate através do comunitarismo e das virtudes aristotélicas. A
abordagem é abrangente e mostra uma compreensão das crí�cas
de MacIntyre à é�ca moderna. Apresentar a análise de MacIntyre
sobre o emo�vismo e o u�litarismo como sistemas é�cos falhos de
forma bem fundamentada. O emo�vismo, ao reduzir a moralidade
a sen�mentos subje�vos, leva a uma falta de critérios obje�vos
para avaliar as ações é�cas. O u�litarismo, embora baseado na
maximização da felicidade, pode implementar ações moralmente
ques�onáveis em nome do bem maior, o que leva a dilemas é�cos.
MacIntyre destaca a importância das virtudes é�cas e do caráter,
bem como da comunidade na formação da moralidade. A ideia de
que a prudência é a base de todas as virtudes e que a é�ca deve
ser enraizada em prá�cas e tradições compar�lhadas é
fundamental para sua perspec�va. Além disso, traz o discurso de
como o projeto iluminista de fundamentar a é�ca na razão acabou
falhando ao não fornecer uma estrutura é�ca coerente e unificada.
Isso levou a um discurso é�co fragmentado e individualista, o que
contribuiu para a decadência da é�ca contemporânea. Por fim,
ressaltamos que embora o pensamento macityreano, consegue
fazer crí�cas bem estruturadas à é�ca hodierna, também o
comutarismo aristotélico estrutura-se no modelo de sociedade
estereo�pada, conservadora e exclusivista.
Palavras-chave: �ca; Comunitarismo; Emo�vismo; U�litarismo.

196
A CRÍTICA DE SARTRE A HUSSERL COMO CRÍTICA POSSÍVEL À
COMPREENSÃO MODERNA DE SUBJETIVIDADE

Valério Cássio Silva de Oliveira Junior


Mestrando em Filosofia - PPGF/UFBA
valerio_kassio@hotmail.com

Esta pesquisa parte do seguinte problema: em que medida a crí�ca


feita por Jean-Paul Sartre em A Transcendência do Ego, à
transcendentalização da fenomenologia defendida por Edmund
Husserl nas Meditações Cartesianas, pode ser compreendida como
uma possível crí�ca aos modelos modernos de subje�vidade? O
cerne da crí�ca de Sartre a Husserl seria o abandono, por parte do
alemão, de uma compreensão pré-reflexiva de consciência
defendida em Lições Para uma Fenomenologia da Consciência
Interna do Tempo em função de uma defesa da presença do ego na
consciência enquanto polo unificador e individualizante dos
episódios par�culares de consciência nas Meditações Cartesianas.
Sartre argumenta, junto com o Husserl das Lições, que a
consciência em sua estrutura interna é capaz de garan�r sua
unidade e individualidade através duma certa transversalidade
proveniente da retenção e da protensão das consciências umas em
relação as outras, prescindindo, portanto, do Ego como foi
defendido, por Husserl, nas Meditações. Em A Transcendência do
Ego, Sartre expõe a sua tese de que o Ego não está presente na
consciência, mas antes no mundo. Sendo compreendido deste
modo, como um objeto do mundo, algo que é conhecido do
mesmo modo que são conhecidos os outros objetos
intramundanos; sem privilégios epistêmicos, e através da
observação. Não sendo, o Ego, idên�co (ou coextensivo) à
consciência, ele deixaria então, de possuir os supostos privilégios
epistêmicos e conceituais que lhe foram atribuídos na
modernidade. Desse modo, A Transcendência do Ego, não só é uma
crí�ca a Husserl, como é também um esforço de Sartre em separar

197
Ego e consciência, e assim, separar o psíquico e o transcendental,
este úl�mo rela�vo à consciência e ou outro, rela�vo ao Ego.
Separação esta que cons�tui em seu sen�do profundo, uma
ruptura com o modelo que diz que subje�vidade e sujeito estão
num mesmo nível ontológico e epistemológico.
Palavras-chave: Consciência pré-reflexiva; Subje�vidade;
Fenomenologia; Sartre; Husserl.

198
A QUESTÃO DO PERDÃO: DIFERENÇAS ENTRE PAUL RICOEUR E
HANNAH ARENDT

Vitor Otavio Santos dos Anjos


Graduando em Filosofia – UESB
10vitorotavio@gmail.com

O presente trabalho busca apontar as diferenças conceituais sobre


a questão do perdão entre Paul Ricoeur e Hannah Arendt a partir
das obras “Memória, história e esquecimento” e “A crítica e a
convicção” de Ricoeur e a definição de do perdão no “Dicionário
Hannah Arendt”. Primeiro será apresentado a nossa compreensão
sobre quais são as características do perdão em Ricoeur seguindo
para os apontamentos das diferenças e discrepâncias para o
conceito em Arendt. Por fim, conclui-se com considerações sobre
quais os possíveis resultados do uso de cada uma das definições
em situações correlatas.
Palavras-chave: Perdão; Ricoeur; Arendt.

199
SOBRE O CONCEITO DE DROGA. E ALGUMAS NOTAS ACERCA DA
SUA PROIBIÇÃO

Flávio Rocha de Deus


Mestrando Filosofia – PPGF/UFBA
rocha.iflavio@gmail.com
CAPES/PROEX

O que pretendo desenvolver neste trabalho é uma taxonomia do


conceito de droga. Por meio da análise de seus determinantes
conceituais mais comuns: o prazer, o vício, a toxidade, a psicodelia
e, por fim, a vida pública, buscamos demostrar as contradições
prá�cas e a fragilidade teórica de tais delimitações para a coisa
droga. Acompanhamos inicialmente a percepção expressa por
Jacques Derrida em Rhétorique de la drogue (1989). Para este
filósofo o conceito ordinário de droga não é delimitável pois não é
obje�vo, cien�fico ou fisiológico, é meramente social. A palavra
droga se mostra, então, como um conceito moral; ela não surge
como uma categoria par�cular, essencial e compar�lhada, extraída
dos múl�plos fenômenos que busca definir; ela nos aparece, em
termos derridarianos, como como uma palavra de ordem, ou seja,
um vocábulo que não se fundamenta na descrição de um
referente, mas que carrega em si apenas a norma, nesse caso
especificamente, uma proibição. Uma análise acerca da proibição
é nosso segundo momento neste trabalho. Se de fato não existe
noções obje�vas e determinantes para drogas, menos ainda se tem
para as escolhas de sua proibição. As perguntas que elencamos
como guia neste momento é: se droga é um conceito meramente
social, sua proibição pode ser algo além disso? O quê de fato está
se proibindo? O que jus�fica se proibir? Qual a legi�midade do
proibir? Algumas considerações apresentadas por Michel Foucault
e Thomas Szasz nos auxiliam a entender o processo de
categorização e norma�zação das prá�cas individuais por meio de
jus�fica�vas clínicas. O mister de suas contribuições para este

200
trabalho é a compreensão de ambos acerca dos poderes e
interesses que podem operar por detrás do conhecimento
cien�fico e suas classificações. Tanto Foucault quanto Szasz
acreditam que as categorias de normalidade e anormalidade são
culturalmente construídas. Em História da Loucura (1961) e em The
Myth of Mental Illness (1961), há uma crí�ca à tendência
patologizante de questões relacionadas à loucura: ou a
anormalidade social. Ambos os autores argumentam que
conceitos desta natureza podem ser usados como uma ferramenta
de controle social, em vez de uma descrição obje�va de estados
�sicos, o que inclui as substâncias – drogas – que podem provocar
tais estados. Em Ideology and Insanity (1970), Szasz explora como
o conceito de insanidade pode ser usado para jus�ficar ações
coerci�vas e 6igual forma, em O Nascimento da Clínica (1963) e
Nascimento da Biopolítica (1979), Foucault explora como o poder
se manifesta nas ins�tuições médicas e psiquiátricas e como essas
ins�tuições exercem controle sobre os indivíduos, muitas vezes de
maneira invisível. Szasz, por sua vez, em The Therapeutic State
(1984), também discute como o sistema médico-psiquiátrico pode
ser usado para exercer controle social em nome do tratamento,
tanto público quanto privado. Neste cenário usamos os recursos
teóricos fornecido por tais autores para compreender não apenas
os aspectos argumenta�vos da definição, mas também as
consequências materiais, sociais e raciais de tais proibições,
relacionadas a drogas, em nosso tempo.
Palavras-chave: Drogas; Taxonomia dos Conceitos; Derrida;
Foucault; Szasz.

201
FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA IV
20/10
Sexta
Sala

223-

202
QUESTIONAR O CÂNONE FILOSÓFICO: UMA POSSIBILIDADE DE
FILOSOFIA A PARTIR DE GLORIA ANZALDÚA

Ianna Laura Ferreira Simões de Almeida


Graduanda em Filosofia - UEFS
ianna-laura@hotmail.com
PROBIC

Vanessa de Araújo Elisbão


Graduanda em Filosofia - UEFS
elisbaovanessa2@gmail.com

Ques�onar o cânone filosófico, instaurado junto à razão da


modernidade, enquanto único produtor de uma filosofia legí�ma,
possibilita que novos sujeitos sejam inseridos dentro do debate
central da filosofia e, dessa forma, uma filosofia menos norma�va
possa ganhar espaço. A par�r dos debates feministas e de gênero
evidenciados por Gloria Anzaldúa, filósofa chicana, pode-se
denunciar a subordinação epistêmica a qual todo sujeito que não
seja homem e branco sempre esteve localizado. Uma filosofia a
par�r das fronteiras, definidas por Anzaldúa como o terreno onde
surgem os sujeitos que recusam a supremacia branca e masculina,
é uma filosofia contra-hegemônica, capaz de construir novos
parâmetros, recusando a noção de que é apenas a par�r de textos
canônicos que o discurso filosófico pode exis�r. As ideias forjadas
na fronteira contestam a dualidade cartesiana de sujeito-objeto e,
como consequência, renunciam também às norma�vas de raça,
gênero, classe e etnia, num esforço de não apenas corrompê-las,
mas de afirmar e anunciar uma nova consciência.
Palavras-chave: Filosofia; Cânone filosófico; Fronteiras; Gloria
Anzaldúa.

203
A TRANSA ENTRE TUDO O QUE CONTÉM PENSAMENTO

João Victor Damião Gordiano


Mestrando em Filosofia - UFBA
jdgordiano@gmail.com
CNPq

Em conversa de 1966 com Raymond Bellour, Michel Foucault


revelava-se incomodado com a percepção de que houvesse
separadamente na cultura, de um lado, “uma história da filosofia
que toma como tema privilegiado os grandes sistemas que a
tradição indica como importantes”, como os de Platão e
Aristóteles, e, de outro, “uma história das ideias, isto é, das
subfilosofias, que privilegia os textos de Montesquieu, Diderot ou
Fontenelle”. Ademais, levando em conta também a história das
ciências, aquela que é banhada pela necessidade de aplicar um
método rigoroso de conhecimento que venha a fundamentar seus
resultados em dados obje�vos, Foucault ficava impressionado com
“a impossibilidade em que se encontra a nossa cultura de inscrever
o problema da história do seu próprio pensamento”, ou a história
de tudo o que contém pensamento, tarefa quase solitária a que ele
mesmo esteve sempre dedicado, desde um es�lo no mínimo
singular. Na tenta�va de tornar visível o fato de que há pensamento
tanto na filosofia quanto na clínica, na prisão, num romance,
Foucault passava longe de hierarquizar os campos de saber. Isso
não significa que as fronteiras que demarcam as par�cularidades
de tais campos fossem borradas, mas que agem em conjunto,
comunicando-se e, assim, aperfeiçoando sua tração. Conforme a
expressão que queremos contrabandear do ensaio “Poesia e
filosofia: uma transa”, de Benedito Nunes, parece não ser
implausível considerar que a relação que Foucault estabelecia
entre tudo o que contém pensamento fosse de �po transacional:
uma mescla de matérias que não resulta na perda dos traços que
as dis�nguem. Para além da preservação desses traços, o trabalho

204
em questão obje�va mostrar que a mistura operada por Foucault
em suas elaborações filosóficas, sobretudo no trato com a história
e com a literatura, a ficção, aponta para uma gramá�ca mais
complexa do logos da própria filosofia.
Palavras-chave: Método histórico-filosófico; Linguagem literária;
Experiência de pensamento.

205
AS CONDIÇÕES DA EXPRESSÃO SUBJETIVA E DO
AUTOCONHECIMENTO

Rafael Fernandes Mendes dos Santos


Doutorando em Filosofia - PPGF/UFBA
rafaelsantos@gmx.net

Meu obje�vo central é inves�gar temas essenciais à filosofia de


Stanley Cavell, sobretudo sua compreensão do ce�cismo, o que ele
nomeia ameaça cética, e o vínculo entre sua prá�ca filosófica e a
obtenção de autoconhecimento. À luz disso, apresentarei primeiro
sua defesa do ce�cismo como fenômeno natural, e sua relação
com a possibilidade de expressão de estados subje�vos. Em
seguida procurarei esclarecer como Cavell assimila a noção de
critério presente nas Investigações Filosóficas, concebendo o
ce�cismo como repúdio à critérios. Veremos que, segundo seu
argumento, o cé�co cobra dos critérios o que não poderiam lhes
oferecer: garan�a epistêmica sobre a existência dos fenômenos.
Por outro lado, uma vez considerados segundo sua falibilidade,
critérios se cons�tuem como fonte de ameaça cé�ca, na forma da
exclusão da subje�vidade. Por fim, procurei mostrar como Cavell
atribui à filosofia ou à prá�ca de recordar critérios a função de nos
tornar consciente de quem somos, como meio de reintroduzir a
voz subje�va na experiência do significado.
Palavras-chave: Ce�cismo; Critérios; Subje�vidade; Recordações;
Autoconhecimento.

206
DIALÉTICA COMO APROPRIAÇÃO E DEVORAÇÃO: PARA UMA
FILOSOFIA MODERNISTA

Rodrigo Ornelas
Doutor em Filosofia pela UFBA; Professor do IFBA-Salvador; Grupo
Poé�ca Pragmá�ca - UFBA
ornelas.rodrigo@hotmail.com
CNPq

O trabalho discute o conceito de apropriação em relação com a


Modernidade e a par�r da Filosofia: entendendo a apropriação
como motor da dialé�ca moderna, podemos oferecer uma versão
da apropriação como devoração que pode ser sustentada
filosoficamente como perspec�va de Modernidade em seu caráter
transformador e afirma�vo, como um modernismo filosófico. A
dialé�ca moderna, isto é, hegeliana e pós-hegeliana, incontornável
para o pensamento social e polí�co subsequente, é a filosofia da
Modernidade por excelência; quer apreender o seu tempo e
contexto como matéria de reflexão, enquanto tempo e contexto
passam, desfazem-se, renovam-se, transformam-se. No Brasil,
par�ndo também da influência hegeliana, Oswald de Andrade
desenvolveu a sugestão da antropofagia como uma visão de
mundo, sobretudo em sua obra posterior a 1950, quando propõe
a antropofagia como uma dialé�ca filosófica. Aqui o sen�do
transformador da dialé�ca é radicalizado numa operação posi�va,
an�colonial, exuberante, tanto para o Brasil (local, nacional) como
numa perspec�va globalizada (universal, pensamento de
exportação). Esta orientação da dialé�ca antropófaga, não
explorada na filosofia formal, é também um caminho para a
Modernidade em sua versão Modernista, quer dizer, de afirmação
da Modernidade. A par�r de uma narra�va dos temas e
personagens que compõem o discurso filosófico da Modernidade
é possível oferecer uma direção própria para essa narra�va, que
leva em conta o papel do Brasil, num percurso que desemboca em

207
uma proposta, ela mesma, de discurso filosófico da Modernidade,
evocando o que podemos chamar de uma dialé�ca da devoração.
Palavras-chave: Modernidade; Modernismo; Dialé�ca;
Hegelianismo; Antropofagia.

208
A CONCEPÇÃO DE PESSOA NO PERSONALISMO MOUNIERIANO
EM COMPARAÇÃO ÀS CORRENTES marxista e existencialista

Gabriel Sousa Suzart


Mestrando em Filosofia - UFBA
gabrielss.suzart@gmail.com

Esta presente pesquisa quer realizar uma análise da concepção de


pessoa no personalismo e compreender como se torna um
conceito superado nesta filosofia, segundo o seu teórico,
Emmanuel Mounier (1905-50), em comparação às correntes
filosóficas do marxismo e do existencialismo. Paralelo a isso, este
trabalho também trará as considerações posi�vas destas correntes
para o personalismo mounieriano. Apesar de elas influenciarem-
no, Mounier trará agora uma ideia mais ampliada do conceito de
pessoa, �rando os aspectos limitantes, se assim podemos afirmar,
do marxismo e do existencialismo. O personalismo mounieriano
compreende-se, segundo o seu teórico, como “o primado da
pessoa humana sobre as necessidades materiais e sobre os
sistemas cole�vos que sustentam o seu desenvolvimento”. Este
movimento também se tornou uma corrente filosófica, nascida em
1932, juntamente com a revista Esprit. Na realidade, esta corrente
filosófica nasce justamente em um período de crise humanitária,
segundo o seu teórico, justamente para responder este período e
a revista é o meio pelo qual Emmanuel Mounier se posicionará com
as ideias personalistas. Visto esta breve contextualização do
personalismo, basicamente, iremos perceber, na compreensão de
Mounier, que o conceito de pessoa no marxismo se resume mais a
uma ideologia social, como se o que es�vesse em consideração
fosse o ser da pessoa como “nós”, numa perspec�va de revolução
econômico-trabalhista. O que pode ser chamado de
impessoalismo por parte do marxismo, ou seja, acaba por excluir a
dimensão de individualidade do ser pessoal. Já na óp�ca
existencialista, a pessoa acaba por ser autocentrada em si e

209
fechada para aos outros, para Mounier. Podemos chamar de
individualismo do existencialismo. Em suma, ao analisar as
influências do marxismo e do existencialismo e a crí�ca
personalista sobre o conceito de pessoa destas duas filosofias,
iremos realizar uma abordagem antropológica da filosofia
mounieriana para compreender quem é a pessoa e como o filósofo
em questão a “define”. Posterior a isto, averiguaremos a possível
superação personalista sobre o conceito de pessoa.
Palavras-chave: Personalismo; Emmanuel Mounier; Pessoa;
Marxismo; Existencialismo.

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