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Diretores da Série
Prof. Dr. Niltonci Batista Chaves
Departamento de História, UEPG
Profa Dra. Valeria Floriano Machado
Departamento de Teoria e Fundamentos da Educação-UFPR
Organizadores
Charles Monteiro
Eduardo Roberto Jordão Knack
Diagramação: Marcelo A. S. Alves
Capa: Carole Kümmecke - https://www.conceptualeditora.com/
Fotografia/imagem de Capa: Eduardo Kobra | https://eduardokobra.com/
Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade [recurso eletrônico] / Charles Monteiro; Eduardo Roberto Jordão Knack
(Orgs.) -- Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2021.
249 p.
ISBN - 978-65-5917-354-9
DOI - 10.22350/9786559173549
CDD: 900
Índices para catálogo sistemático:
1. História 900
Sumário
Apresentação 9
Charles Monteiro
Eduardo Roberto Jordão Knack
1 14
Noções de cultura e representação em Michel de Certeau, Michel Foucault e Roger
Chartier
Déborah da Costa Ribeiro Barbosa
2 35
Natalie Zemon Davis e Edward Palmer Thompson: uma História vista de baixo
Michele dos Santos
3 51
Lutas de representações sobre a mãe escravizada: do escravismo ao abolicionismo
castroalvino em “Tragédia no Lar”
Alan Ricardo Schimidt Pereira
4 80
A representação imagética de São Benedito: uma análise a partir da teoria de Roger
Chartier
Caio Felipe Gomes Violin
5 100
Arte-Resistência, Visualidades na Cidade e as Questões de Gênero
Ariella Silva Fernandes Oliveira
6 118
Subalternidade no Discurso Colonial em Moçambique: uma análise de fonte possível
em “O Alegre Canto da Perdiz”, de Paulina Chiziane
Marcia Roque
7 141
O Lugar de fala da mulher fronteiriça: Novas identidades e a consciência “Mestiza”
Giselle Perna
8 159
Cultura e imaginário social do Peru dos anos 1990 e a perspectiva decolonial
Claudia Vargas Machado
9 177
Reflexões sobre o multiculturalismo na FRETILIN em 1974, período da descolonização do
território Timorense
Bianca Obetine Magnus
10 194
Uma escaramuça e suas percepções tuteladoras
Leonardo Birnfeld Kurtz
11 214
Representações e identidade nacional do futebol americano na imprensa brasileira
da Terceira República
Alyssa Nunes Bruscato Costa
12 231
Cultura, patrimônio e cidade
Eduardo Roberto Jordão Knack
Charles Monteiro
Eduardo Roberto Jordão Knack
que já lhes confere uma situação de opressão e diminuição por serem mu-
lheres. Essa dupla recusa vem a reforçar sua subalternidade e
circunscreve-las ao silêncio.
Claudia Vargas Machado procura em Cultura e imaginário social do
Peru dos anos 1990 e a perspectiva decolonial fazer uma análise da cultura
e do imaginário político do Peru da década de 1990, a partir dos conceitos
de multiculturalismo e etnicidade para entender a perspectiva decolonial
sobre o tema. O seu objetivo é compreender como o Peru lidou com uma
convulsão social entre duas frentes políticas: os grupos guerrilheiros de
esquerda e o governo autoritário e violento de direita.
Em Reflexões sobre o multiculturalismo na FRETILIN em 1974, perí-
odo da descolonização do território Timorense, Bianca Obetine Magnus
propõe uma reflexão sobre a questão do multiculturalismo a partir da obra
Da Diáspora de Stuart Hall, aplicando-a ao caso timorense da Frente Re-
volucionária de Timor-Leste Independente (FRETILIN). O movimento
político timorense FRETILIN defendeu a independência do Timor-Leste no
contexto de descolonização no período de 1974 a 1975. O seu objetivo é
analisar como a FRETILIN elaborou essas questões em sua proposta polí-
tica de independência do território.
Leonardo Birnfeld Kurtz, em Uma escaramuça e suas percepções tu-
teladoras, tem como objetivo trabalhar os conceitos de poder tutelar, a
partir de Antonio Carlos de Souza Lima, de raça e de etnia, a partir de
Stuart Hall, e representação, de Roger Chartier, para interpretar as conse-
quências da expedição privada do jornalista Willy Aureli, na Bandeira
Piratininga, no Rio das Mortes. Em agosto de 1938, a Bandeira entrou em
conflito com os índios Chavantes, gerando críticas à conduta dos bandei-
rantes vindas do Marechal Rondon do Serviço de Proteção aos índios e do
Conselho de Fiscalização de Expedições Científicas.
Charles Monteiro; Eduardo Roberto Jordão Knack | 13
Introdução
Desta forma, pode pensar-se uma história cultural do social que tome por ob-
jeto a compreensão das formas e dos motivos - ou, por outras palavras, das
representações do mundo social - que, à revelia dos atores sociais, traduzem
as suas posições e interesses objetivamente confrontados e que, paralela-
mente, descrevam a sociedade tal como pensam que ela é, ou como gostariam
que fosse. (CHARTIER, 2002, p. 19)
À medida que a quarta geração dos historiadores dos Annales passou a preo-
cupar-se cada vez mais com aquilo que, muito enigmaticamente, os franceses
chamam mentalités, a história econômica e social sofreu um recuo em termos
de sua importância. Esse interesse aprofundado pelas mentalités (mesmo en-
tre os membros da geração mais velha dos historiadores dos Annales) levou
também a novos desafios e paradigmas dos Annales. (HUNT, 1992, p. 9)
Foi durante este período também que a linguística parece ter de fato
se imbricado nos estudos históricos, com o chamado giro linguístico. O
linguistic turn, mais especificamente, trazido para o português como giro
linguístico ainda suscita debates entre os teóricos da historiografia. De
acordo com Iggers (2010):
Os historiadores leitores
1
Por “História Cultural” entende-se uma delimitação ampla, utilizada por José D’Assunção Barros, que emprega o
termo para definir toda a historiografia voltada ao estado das dimensões culturais. Ver BARROS, 2005.
Déborah da Costa Ribeiro Barbosa | 19
“Entre a fina ponta do pincel e o gume do olhar, o espetáculo vai liberar seu
volume” 3.
Assim como a cultura, Foucault também parece ser uma figura cen-
trada na polissemia. Para Roger Chartier “A obra de Foucault não se deixa
submeter facilmente às operações implicadas pelo comentário”
(CHARTIER, 2002, p. 123). Foucault parece ser, ao mesmo tempo, criti-
cado e extensamente utilizado pelos historiadores, ainda que, embora
tenha feito obras como História da Loucura, nunca procurou se enclausu-
rar dentro da delimitação de “historiador”. Para Hunt:
Nem marxista, nem ligada à escola dos Annales, neste último quarto de século
a obra de Foucault tem sido alternadamente louvada e atacada pelos historia-
dores - e, em ambos os casos, quase sempre mal compreendida. O corpo do
texto de Foucault raramente foi apreendido como aquilo que de fato é: um
2
Quem sou eu? Um leitor. Ver: De Certeau, 2016, p. 133.
3
FOUCAULT. As palavras e as coisas, 1991, p. 3.
20 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
4
A ideia de arqueologia do saber na obra de Michel de De Certeau é discutida em As Palavras e as Coisas, ainda que
não esteja elaborada por completo. Nesta obra, de 1966, Foucault oferece um rascunho da teoria da arqueologia como
prática metodológica para a história que será discutida em Arqueologia do Saber, obra posterior, de 1969, em que
Foucault recebe e analisa as críticas recebidas no seu livro de 1966 e então discorre sobre a prática, que será ainda
superada pelo próprio autor, com a elaboração do conceito de genealogia do saber apresentada no ensaio Nietzsche,
a Genealogia, a História, em 1971. Ver: FOUCAULT, Michel. Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro; Forense
Universitária, 2008
Déborah da Costa Ribeiro Barbosa | 21
Assim, em toda a cultura, entre o uso que se poderia chamar os códigos orde-
nadores e as reflexões sobre as ordens, há a experiência nua da ordem e de
seus modos de ser. É essa experiência que se pretende analisar. (FOUCAULT,
1999, p. XVIII).
Todo seu projeto de análise crítica e histórica do discurso está, de fato, baseado
na recusa explícita dos conceitos classicamente manipulados pela “história tra-
dicional das ideias”, que permanece afeita ao recurso mais imediatamente
mobilizável para compreender e fazer com que se compreenda um texto, uma
obra, um autor. (CHARTIER, 2002, p. 125).
5
A episteme estará presente em toda a narrativa de “As palavras e as coisas”. Entende-se por episteme, um conjunto
de conhecimentos. Foucault traz três em sua obra: a Representação, a Semelhança e a História.
Déborah da Costa Ribeiro Barbosa | 23
A fabricação que se quer detectar é uma produção, uma poética - mas escon-
dida, porque ela se dissemina nas regiões definidas e ocupadas pelos sistemas
da produção (televisiva, urbanística, comercial etc.) e porque a extensão sem-
pre mais totalitária desses sistemas não deixa aos “consumidores” um lugar
onde possam marcar o que fazem com os produtos. A uma produção raciona-
lizada, expansionista além de centralizada, barulhenta e espetacular,
corresponde outra produção, qualificada de “consumo”: esta é astuciosa, é dis-
persa, mas ao mesmo tempo ela se insinua ubiquamente, silenciosa e quase
invisível, pois não se faz notar com produtos próprios mas nas maneiras de
26 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
Ordens e práticas
Considerações finais
Referências
BURKE, Peter. The art of Re-Interpretation: Michel de De Certeau. Theoria, v.55, n. 117,
dez/2002.
______. À Beira da Falésia: a história entre incertezas e inquietude. Porto Alegre; Ed.
Universidade/UFRGS, 2002.
Déborah da Costa Ribeiro Barbosa | 33
______. Inscrever e apagar: Cultura escrita e literatura (séculos XI-XVIII). São Paulo;
Editora Unesp, 2007.
GERAES DURAN, Marília Claret. Maneiras de pensar o cotidiano com Michel de De Certeau.
Revista Diálogo Educacional, [S.l.], v. 7, n. 22, p. 115-128, jul. 2007.
DE CERTEAU, Michel de. Le rire de Michel Foucault. In: Histoire et psychanalyse: entre
science et fiction. Montréal: Éditions Gallimard, 2016.
FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. 8. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 1999.
HUNT, Lynn. A nova História Cultural: São Paulo; Martins Fontes, 1992.
OLIVEIRA, Cícero. Chartier e Foucault: poder, cultura e representação. Poliética. São Paulo,
v. 6, n. 2, pp. 68-87, 2018.
Introdução
A História Cultural
Peter Burke afirma que a História Cultural já era uma prática na Ale-
manha no século XVIII, e no século XIX o termo passou a ser utilizado na
Inglaterra também. Burke aponta quatro fases da história cultural: a clás-
sica, dos anos 1800 a 1850 que retrata a cultura do renascimento com as
1
THOMPSON, Edward Palmer. The making of the English working class. Open Road Media, 2016.
2
FERREIRA, Jorge. “O nome e a coisa: o populismo na política brasileira”. In: O populismo e sua história. Debate e
crítica. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2001, pp. 96-98.
Michele dos Santos | 37
3
BURKE, Peter. O que é história cultural?. Editora Schwarcz-Companhia das Letras, 2005.
4
DESAN, S. Massas, comunidade e ritual na obra de E. P. Thompson e Natalie Davis. In: HUNT, L. (org.). A nova
história cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p.63-96.
38 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
5
DAVIS, Natalie Zemon. Culturas do Povo: Sociedade e cultura no início da França moderna. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1990.
6
THOMPSON, E. P. Rough music: Le Charivari anglais. In: Annales ESC. mar./abr. 1972.
Michele dos Santos | 39
A influência do marxismo
7
LOWY, M. Por um marxismo crítico. Disponível em: www.pucsp.br/neils/downloads/v3_artigo_michael.pdf. Acesso
em: 11 de julho de 2021.
40 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
8 REIS, João José. A Morte é uma Festa. São Paulo: Companhias das Letras, 1992
44 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
9
No caso de seus estudos, como a classe operária inglesa surgiu.
Michele dos Santos | 45
10
Dentre outros, LARA, Silvia Hunold. Campos da Violência: escravos e senhores na Capitania do Rio de Janeiro, 1750-
1808. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988; CHALHOUB, Sidney. Visões da Liberdade: uma história das últimas décadas
da escravidão na corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
46 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
Considerações finais
de pessoas que deixaram poucos registros escritos e cuja história ficou por
escrever durante várias gerações, concentrando-se em questões de como
e por que a massa vê seu ativismo ilegal e violento como significativo e
legítimo e de que modo a comunidade desempenha um papel crucial na
definição das motivações, dos objetivos e das ações do tumulto. Expressam
suas convicções de que as classes inferiores não eram simples presas de
forças históricas externas e determinantes, tendo desempenhado um pa-
pel ativo e essencial na criação de sua própria história e na definição de
sua identidade cultural.
Thompson se aproxima do meu objeto de pesquisa pela sua contri-
buição nos estudos da escravidão, pois se dispôs a pensar a história dos
que não foram lembrados no processo de industrialização, pelas ortodo-
xias tradicionais, uma história das pessoas comuns, rompendo com os
predominantes relatos históricos que resgatavam experiências e memó-
rias dos vitoriosos ofuscando a atuação da “gente comum” na construção
histórica.
Com a renovação dos estudos históricos os escravizados e escraviza-
das deixaram de serem vistos apenas como mercadorias. Estuda-se hoje a
escravidão, a abolição e o pós abolição encarando estes negros e negras
que foram submetidos a escravidão como agentes históricos, rompendo
com as interpretações tradicionais, pois são as experiências dos cativos,
agindo em favor da conquista da liberdade que interessa nos estudos sobre
o tema. Como afirma Sílvia Hunold Lara, sob inspiração thompsoniana
“alguns historiadores começaram a insistir na necessidade de incluir a ex-
periência escrava na história da escravidão no Brasil.”
Referências
BARROS, José D.’Assunção. A Nova História Cultural: considerações sobre o seu universo
conceitual e seus diálogos com outros campos históricos. In: Cadernos de História,
v. 12, n. 16, p. 38-63, 2011.
Michele dos Santos | 49
BARROS, José D.’Assunção. Existe uma nova história cultural? Análise de um campo
histórico. In: Revista Poder e Cultura. Ano I, v. 2, p. 12-40, 2014.
BURKE, Peter. O que é história cultural?. São Paulo:Companhia das Letras, 2005.
DAVIS, Natalie Zemon. O retorno de Martin Guerre. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
__________. A trade union in sixteenth-century France. The Economic History
Review, v. 19, n. 1, p. 48-69, 1966.
LARA, Silvia Hunold. Blowin in the Wind: EP Thompson e a experiência negra no Brasil.
In: Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História, v.
12, 1995.
MAYKE, Rogerio Ferreira Leite. História e imaginação em Natalie Zemon Davis. Goiânia,
2019. Dissertação de Mestrado (Programa de Pós-Graduação em História), UFG.
MELO, Victor Andrade de. Lazer, modernidade, capitalismo: um olhar a partir da obra de
Edward Palmer Thompson. In: Estudos Históricos (Rio de Janeiro), v. 23, p. 5-26,
2010.
MEIRA, Júlio Cesar. A contribuição de EP Thompson para os Estudos Históricos. In: Revista
Expedições: Teoria da História e Historiografia, v. 5, n. 1, p. 188-207, 2014.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & história cultural. 2ª. Ed. Belo Horizonte: Autêntica,
2005.
REIS, João José. A Morte é uma Festa. São Paulo: Companhias das Letras, 1992.
THOMPSON, Edward Palmer. The Essential EP Thompson. The New Press, 2001.
__________. The making of the English working class. Open Road Media, 2016.
VASCONCELOS, José Antonio. Quem Tem Medo de Teoria? Ameaca. Annablume, 2005.
WEBER, Regina. THOMPSON, EP. Costumes em comum. São Paulo: Companhia das Letras,
1998. 528 p. 1999.
3
Introdução
Nos dias atuais, as fontes literárias têm sido pouco tomadas como
objeto principal para as análises historiográficas, e “nota-se uma parca
presença de trabalhos que abordam o tema da escravidão fazendo uso da
poesia enquanto fonte histórica” (BARBOSA, 2018, p.1). Pensando nesta
condição e trabalhando com a noção de “representações” de Roger Char-
tier, decidi redigir o presente trabalho com um estudo de caso sobre as
formas de representação da família escravizada na literatura do século
XIX.
Castro Alves (1847-1871), um dos cânones da literatura romântica
brasileira ficou conhecido como “O poeta dos escravos” por levar para a
poesia a denúncia dos horrores da escravidão. A maioria dos poemas de
Alves foram escritos na década de 1860 e tidos como rebeldes por seu ca-
ráter “libertador ou condoreiro”. Esta década recebe as ressonâncias do
“Tempo Saquarema” do Brasil Imperial (década de 1850), onde a classe
senhorial escravista dominava politicamente o país, reprimia e tomava
como rebeldes e desobedientes todas as contestações da ordem vigente
(OLIVEIRA, 2007, p. 12). Castro Alves é a “altissonante voz” da terceira
geração do Romantismo Brasileiro, conhecida como “Geração Condoreira”
(1860-70), que dentre as três gerações foi a única que se voltou realmente
para problemas de cunho social, principalmente no que diz respeito aos
52 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
1
Apesar de publicado postumamente, alguns dos poemas deste livro foram escritos durante a estadia de Castro Alves
em São Paulo, durante a década de 1860 (COSTA E SILVA, 2006; OLIVEIRA, 2007).
54 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
2
Temos consciência de que a mulher negra teve um papel multidimensional na escravidão (DAVIS, 2016, p.17 apud
MOREIRA, 2018), atuando nos mais diversos campos como o do trabalho, o da comunidade cativa e senhorial, o
tratamento de doenças e nascimentos, nos processos de cura, de resistência, de formação de comunidades, etc.
Alan Ricardo Schimidt Pereira | 55
3
O autor desenvolve sua pesquisa de mestrado sobre a representação social da família escravizada em Castro Alves.
4
Embora nos últimos anos de forma menos acentuada.
56 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
5
Para este autor a história cultural deveria “identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma
determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler”, e um dos caminhos para esta tarefa é o estudo das
representações (CHARTIER, 2000b, p. 16-17).
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6
Os cativos nascidos em terras brasileiras eram chamados de “crioulos(as)”.
7
Machado (2018) também fala deste quadro em seu ensaio deste quadro.
60 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
uma infecção no cérebro que poderia levar à morte. Imbert também é in-
cisivo contra o hábito que chama de “bárbaro” de cortar o cordão umbilical
muito longe, pondo pimenta e fomentando o umbigo com óleo de rícino
“ou qualquer outro irritante”, apertando, assim, o ventre das crianças e
correndo o risco de sufoca-las. Além destes, outro hábito que deveria ser
tolhido era o das mulheres cativas darem “alimentos grosseiros tirados da
sua própria comida” às crianças com pouco tempo de vida, afirmando que
mesmo que elas acreditassem que isso fortaleceria os bebês, tal ato apenas
faria mal aos pequenos, sendo indicado apenas o “Leite de seus peitos, an-
tes deles terem cinco ou seis meses: então sim, deixai que elas lhes deem
mingais leves de arroz, sagu, tapioca, araruta, etc.” (IMBERT, 1839, p.
252). O médico também coloca que o contrário ocorria, com as mães cati-
vas dando leite “velho e grosso” aos filhos, o que poderia gerar várias
doenças, e afirmava que as crianças deveriam ser desmamadas após um
ano. Pois, mamar por muito tempo os faria querer passar com o “peito na
boca” e “sempre no colo”, levando-os a fazer menos exercícios com os
membros, o que prejudicaria seu desenvolvimento (IMBERT, 1839, tomo
2, p. 253-254).
Todos estes hábitos deveriam ser monitorados e tolhidos por parte
dos senhores, e estas mulheres deveriam ficar em um regime de vigilância
contínua, mesmo após o parto (IMBERT, 1839. Tomo 2). Estas represen-
tações denotam – e incentivam - o intuito de dominação sobre as práticas,
os corpos e a própria maternidade: o cativo deveria ser monitorado, con-
trolado em tudo pelo homem branco. O intuito de controle sobre o corpo
também salta aos olhos em outro ponto do capítulo de Imbert, que dizia
que por vaidade, por prezar pelos seus “encantos físicos” a mulher negra
escravizada abortava para não ver as mudanças corporais ocorridas de-
vido à gravidez. O médico afirma que estes atos trouxeram muito prejuízo
“ao progresso da população dos escravos” e que para evitar estes feitos
Alan Ricardo Schimidt Pereira | 63
O senhor deve tratar a sua escrava com toda a honestidade; pois é isto indis-
pensável para a boa harmonia em sua família, e para delia merecer o respeito
que lhe é devido. nada enfurece mais um escravo contra seu senhor do que o
ciúme. Grandes desgraças têm acontecido por este motivo. Enfim é uma
grande infelicidade para uma família o amor impuro de um senhor para com
suas escravas (FONSECA, 1863, p. 110-111).
8
Publicado originalmente em 1839 (suas duas primeiras edições).
Alan Ricardo Schimidt Pereira | 65
Aqui o “materno olhar” nos faz interpretar que a mãe olha terna-
mente para o filho enquanto canta, e enquanto chora pela liberdade que
foi tirada. Contudo, o cântico é interrompido pelo som de estranhos che-
gando na fazenda e sendo recebidos pelo senhor (ALVES, s/d., p.88). Logo
a porta da senzala é aberta e a seguinte cena se desdobra com a fala do
senhor:
Entraram no salão.
Por que tremes mulher? A noite é calma,
Um bulício remoto agita a palma
Do vasto coqueiral.
Tem pérolas o rio, a noite lumes,
A mata sombras, o sertão perfumes,
Murmúrio o bananal.
9
Conforme Oliveira (2007) estas metáforas religiosas e o uso de recursos de linguagem religiosos denota o intuito
de Castro Alves em convencer os leitores, mas em contrapartida auxilia na manutenção de estereótipos.
Alan Ricardo Schimidt Pereira | 69
E os olhos no ar erguia
Que a voz não podia, não (ALVES, s/d, p.90-91).
Mas aqui a mulher não se põe passiva e resignada, ela demonstra co-
ragem ante o senhor. Primeiro, ao ser anunciada a venda da criança, ela
tenta comover o senhor lembrando-lhe que também tem filhos, pede in-
clusive para que ele a mate. Depois, com a insistência do escravista para
que ela permita que os compradores vejam a criança, ela suplica a eles,
atirasse aos seus pés e implora para que lhe deixem o filho (ALVES, s/d,
p.91-92). Neste ponto, nosso poeta diverge drasticamente das representa-
ções escravistas que se faziam das mães cativas. O poeta representa o zelo
da mãe pela criança, o carinho e a ternura durante todo o poema, as suas
súplicas demonstram isso:
De toda forma, como vimos nas estrofes acima, a mulher salta como
um “jaguar” sobre os homens no poema, fazendo-os recuar e insultando-
os, chamando-lhes ladrões e até mesmo outros cativos entram em cena e
tentam auxiliar a mulher furiosa que protege seu filho, mas acabam mor-
tos. Esta reação por parte dos cativos é curiosa, pois Castro Alves, na
maioria dos seus poemas não demonstra a reação por parte destes indiví-
duos, muito marcados pela resignação. A exceção encontra-se em apenas
três poemas de “Os Escravos”, um deles é o aqui analisado: “Tragédia no
Lar”. Os outros dois são “Bandido Negro” e “A Criança”. No livro A Cacho-
eira de Paulo Afonso este elemento aparece na vingança perpetrada pelo
personagem Lucas (OLIVEIRA, 2007, p. 87). Contudo, mesmo com a co-
ragem da mulher em “Tragédia no Lar”, o final é miserável:
Alan Ricardo Schimidt Pereira | 73
“Segundo Homi Bhabha, os estereótipos são quaisquer representações limitadas da alteridade em domínio
10
discursivo, por meio de signos e cadeias semânticas que implicam ambivalência e/ou fixidez no ato representativo.
“Conota rigidez e ordem imutável, como também desordem, degeneração e repetição” (BHABHA, 2005, p. 105)”
(OLIVEIRA, 2007, p. 78 grifo do autor)
74 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
Considerações finais
Referências
BARBOSA, Antonio Tadeu dos Santos. Poesia Como Fonte Histórica: Uma análise do poema
A Mãe do Cativo de Castro Alves. In: Encontro Estadual de História: História e
Movimentos Sociais, 2018. 09 páginas. Disponível em:
http://www.encontro2018.bahia.anpuh.org/resources/anais/8/1535584395_ARQU
IVO_POESIACOMOFONTEHISTORICA_.pdf. Acessado em 01 de junho de 2021
78 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
CHALHOUB, Sidney. Literatura e Escravidão. In: SCHWARCZ, Lilia Katri Moritz; GOMES,
Flávio dos Santos (org.). Dicionário da Escravidão e Liberdade: 50 textos críticos. São
Paulo: Companhia das Letras. 2018. p. 298-304
_______________. Introdução. Por uma sociologia histórica das práticas culturais. In:
_______________. A História Cultural entre práticas e representações. DIFEL,
2002b. p. 13 -28.
COSTA E SILVA, Alberto da. Perfis brasileiros: Castro Alves. São Paulo: Companhia das
Letras. 2006. 198 Páginas
FERREIRA, Antonio Celso. Literatura: a fonte fecunda. In: PINSKY, Carla Bassanezi; LUCA,
Tania Regina de (org.). O Historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009, p.61-
91
IMBERT, Jean-Baptist Alban. Das Moléstias das Mulheres. In: IMBERT, Jean-Baptist Alban.
Manual do fazendeiro, ou tratado domestico sobre, as enfermidades dos negros,
generalisado ás necessidades medicas de todas as classes, tomo 2. Rio de janeiro:
Typographia Nacional, 1839. Página 242 à 275. Disponível em:
https://archive.org/details/delta53921_2 . Acessado em: 24 de maio de 2021.
MACHADO, Maria Helena Pereira Toledo. Mulher, Corpo e Maternidade. In: Dicionário da
Escravidão e Liberdade: 50 textos críticos. Schwarcz & Gomes (org.). São Paulo:
Companhia das Letras. 2018. p. 334-340.
OLIVEIRA, Luiz Henrique Silva de. A representação do negro nas poesias de Castro Alves e
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maio 2021.
TAUNAY, Carlos Augusto. Da escravidão. Dos escravos pretos. In: TAUNAY, Carlos
Augusto. Manual do Agricultor Brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Página 50 a 58.
TELLES, Lorena Féres da Silva. Teresa Benguela e Felipa Crioula estavam grávidas:
maternidade e escravidão no rio de janeiro (século xix). 2018. 340 f. Tese
(Doutorado) - Curso de Programa de Pós-Graduação em História Social, Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2018. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/
disponiveis/8/8138/tde-24072019-152856/pt-br.php. Acesso em: 03 jun. 2021.
4
Introdução
Santo e Iconografia
1 Palestra do Professor Roger Chartier, “Pouvoirs et limites de la notion de représentation”, no dia 7 de maio de 2010,
no Colloque franco-allemand “Représentation/ Darstellung”, realizado pelo Institut Historique Allemand de Paris.
88 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
morto em seu leito funerário [...] Os dois corpos do rei, e cuja figura paroxís-
tica se encontra nos funerais dos reis ingleses e franceses entre os séculos XV
e XVII. Nesse momento-chave se produz, efetivamente, uma inversão da pre-
sença do rei. Habitualmente, é seu corpo físico que é dado a ver aos seus
súditos enquanto seu corpo místico e político, o que garante a continuidade
dinástica e a unidade do reino, está invisível. Durante o funeral, no entanto, o
corpo do rei morto é escondido na mortalha e no cadafalso, enquanto o seu
corpo político, que nunca morre, se torna visível na imagem de madeira ou
cera que o representa. Como indica Furetière, “quando se vai ver os príncipes
mortos em seus leitos de morte, vê-se apenas sua representação, a efígie”. As-
sim, a distinção é radical entre o representado ausente e o objeto que faz ele
presente e nos permite conhecê-lo. Postula-se, então, uma relação decifrável
entre o signo visível e o que ele representa (CHARTIER, 2011, p. 17). [grifo
nosso]
constata como o mundo social foi percebido pelas grandes tradições intelectu-
ais: de alguma maneira, as formulações teóricas de uns e outros são bastante
condicionadas pela maneira pela qual entendem cultura. Segundo Bourdieu,
92 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
resposta mais provável é a que não será possível encontrar imagens de-
baixo da mesa. Nesse sentido, quando as imagens sacras particulares
quebram, será que o devoto descarta seu objeto sacro em lixo comum?
Não. Portanto, o objeto feito de barro, ou de qualquer outro material pre-
sente na natureza, quando está representado algo adquire uma dimensão
simbólica de poder, ou seja, o símbolo-objeto adquire poder. Assim como
“modos de exibição da própria presença”, isto resulta e significa que “as
representações tornam presentes um objeto, conceito ou pessoa ausentes
mediante sua substituição por uma imagem capaz de representá-los ade-
quadamente” (CHARTIER, 2002, p. 165-166 apud CARVALHO, 2005, p.
153). De outro modo a relação da
Considerações Finais
entre “fazer presente alguma coisa”, e uma acepção [...] de [...] “exteriorizar
alguma coisa, que existe, ou que você imagina”. Ligam-se, assim, duas séries
de definições que supõem, a primeira, a ausência da pessoa ou coisa represen-
tada e, a segunda, sua exibição por ela mesma: “Representação: significa
também autoridade, dignidade, caráter, ou recomendação da pessoa: e assim
se diz, Fulano é um homem de representação em Madrid” (CHARTIER, 2011,
p. 18).
Referências
CUNNINGHAM, Lawrence S. Uma breve história dos Santos. Trad. Maria H. R. R. Sousa.
Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.
OLIVEIRA, Joyce Farias de. Negro, Mas Belo: São Benedito, o santo preto da idade moderna.
Encontro de História da Arte :os silêncios na História da Arte. Campinas, SP, n. 12,
Caio Felipe Gomes Violin | 99
Arte-Resistência, Visualidades na
Cidade e as Questões de Gênero
Eu, particularmente, não migrei “pro” adesivo, e não pretendo migrar porque
além da arte eu sou designer e a minha linha de pesquisa é sustentabilidade.
Então, o papel sempre vai ser minha matéria prima favorita, porque eu vejo
ela mais integrada, né?! Ela é feita de fibra natural e elas... vai se desfazendo
aos poucos, né... na parede. A cola também à base d’água. As tintas, em sua
maioria, também são todas à base d’água. Então é minha opção assim. o papel.
Pela autenticidade em relação à arte de rua e por toda essa ideologia, né?!
(Maria Zeferina, 2018).
104 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
mas principalmente pra mim tem a ver com isso, com quem tá em baixo, com
quem eu vou cobrir e com a visibilidade do muro, principalmente.
[...]Eu adoro, o tema trabalhado aqui no centro histórico, mas, assim, legal-
mente é o lugar menos permitido na cidade até mesmo porque o IFMA não
permite nenhum tipo de intervenção. Então legalmente não se pode intervir
no centro histórico, mas é o lugar mais legal, pelo contexto até, porque tem os
prédios históricos aí você vem e joga uma coisa colorida totalmente contem-
porânea ali naquele espaço, eu gosto muito disso[...]. (ZEFERINA, 2018).
[...] O papel é uma das manifestações da arte de rua, né... (...). Então, eu não
tinha como sair disso, né?! O papel que manifesta essa cultura da rua que é o
lambe-lambe, que “pra” alguns também é uma maneira de você fazer a arte
com pressa. Porque você elabora sua arte no seu estúdio, no seu ateliê, e pode
fazer ela com muita pressa na rua e em lugares não autorizados, né... e além
do que é uma maneira de você cobrir paredes com cartazes e trazer a infor-
mação que você quer, de uma maneira assim mais forte, né... alguns defendem
isso. (ZEFERINA, 2018).
[...] Eu quis trazer três temas, né?! Três histórias nessas figuras, a central que
é a mulher num lugar de força, trazendo um lobo nas costas, então traz muito
essa figura de luta, de força da mulher. Ah! Essa figura bem da lateral que
tinha planta traz muito essa relação de... de que somos natureza. Não vejo a
gente descolado desse... disso. Tem muito essa relação com a natureza e essa
aqui da ponta que tem a flor na genitália feminina que é justamente “pra”
trazer a discussão sobre, é.... a mulher e o sexo, né?! O prazer feminino que
também é uma coisa polida, né... nas mulheres... o sentir prazer. Então traz
essas três discussões nessas figuras e as muitas outras que... cada um faz a
leitura da maneira que... que consegue ver, né?! Mas a minha intenção era
trazer essas três discussões aí.
E o pássaro ele sempre veio atrelado a figura feminina, o corpo feminino a....
às vezes até como uma extensão, como um broto, porque... essa relação de que
eu vejo que não existe entre homens, mulheres, em seres humanos e.... parece
se ver com se não fizesse parte da natureza, e nós somos natureza mais ainda
o ser feminino que gera, né? A.... que pa.... que vai parir uma nova vida, né?
Então... eu sempre trouxe os pássaros totalmente ligados como se houvesse
uma integração mesmo com figura feminina e a natureza. Principalmente as
que tão mais relacionadas com seu corpo, que percebem o seu ciclo, que acei-
tam o seu ciclo e.... Entendem mais como o seu corpo reage com a natureza,
com a lua, percebem... se percebem mais como natureza. Mas eu quero dizer
de modo geral mesmo, nós seres humanos somos natureza. (ZEFERINA,
2018).
108 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
Figura 1
E ainda o papel de destaque da mulher, pois ela é o ser que vai parir
uma nova vida. Explicando sobre os elementos presentes em seu trabalho,
a artista explica:
[...] desse tabu que é o peito feminino, o mamilo feminino. A gente vê isso
muito... primeiro que por lei, né?! É crime uma mulher ficar sem a parte de
cima até mesmo na praia. A gente sabe que os homens podem andar livre-
mente até na rua, entrar em lugares sem camisa e isso não é problema
nenhum. Outro de que mesmo em países onde é permitido o nu, é.... uma
mulher sozinha, ainda assim, é abordada de maneira grosseira, grotesca ou
como sendo um corpo que pode ser violado. É.... qualquer mulher que tiver
por aqui pode dizer que não se sente à vontade de sair à noite, andar sozinha
na rua. Por quê? Por causa do medo! Morar sozinha? Medo! Porque tudo tá
atrelado ao nosso corpo parecer está à disposição pra ser violentado, então
essas questões que a gente quer abordar. Quando coloca o peito nu num muro
ele é sexualizado, então todas essas questões e todas essas pessoas que foram
Ariella Silva Fernandes Oliveira | 109
convidadas, essas mulheres, concordaram que era necessário falar sobre isso
e colocar o peito nu mesmo pra trazer esse embate do por que ele é tão sexu-
alizado, por que que o corpo feminino “tá” nesse lugar de... parece que tá a
livre acesso... Então, todo mundo topou sem sombra de dúvida e acima de tudo
são grupos de mulheres que são minhas amigas acima de tudo. E é isso... e
todas tem esse mesmo intuito e, se você pegar cada uma delas, todas elas no
dia a dia estão trazendo essas questões, essas discussões, esses embates, né?!
essa quebra de padrão de onde a gente deve tá. (ZEFERINA, 2018).
Figura 2
Eu criei uma serie com palavras de ordem que é o GOZE, AME e PIRE que são
umas series, uma serie que fala sobre libertação sexual, né? Então por isso eu
trago até a brincadeira com a genitália feminina e....Tem uma outra que é PIRE
que é com a genitália masculina e tem o AME que é o arco íris, que é a mani-
festação de todos... juntos. (ZEFERINA, 2018).
112 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
Figura 3
Porque, do peito que todo mundo tem e do lugar comum e do lugar comum,
do desejo de poder falar sobre isso, de poder mostrar que existe sim um pro-
blema da sociedade em relação a isso que é muito mais profundo, não é só
uma lei que proíbe a mulher de andar sem camisa, não é sobre isso que a gente
tá falando, né?! É sobre a violência contra a mulher, há cada 11 minutos... 11
segundos uma mulher é violentada no Brasil, isso é muita coisa, nesse passeio,
enquanto a gente tá fazendo um passeio numa tarde mais de 10 mulheres são
violentadas... de alguma forma, seja fisicamente ou psicologicamente, então
isso é muito forte. (ZEFERINA, 2018)
Considerações Finais
Referências
CHATIER, Roger. À beira da falésia: a história entre incertezas e inquietudes. Porto Alegre:
Editora da Universidade/UFRGS, 2002.
GUASH, Anna Maria. Doce reglas para una nueva academia: la nueva “historia del arte” y
los estúdios audiovisuales. In: BREA, Jose Luis. Estudios visuales: la epistemologia
de la visualidad en la era de la globalización. Madri: Akal Ediciones, 2005, p. 59-74.
HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Ed. UFMG;
2003.
LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. Lisboa: Estúdio e Livraria Letra Livre, 2012.
Ariella Silva Fernandes Oliveira | 117
Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico – IBDU. Direito à Cidade: uma visão por gênero.
São Paulo: IBDU, 2017.
SCOTT, J. Gênero: uma categoria de análise histórica. Educação e Realidade. Porto Alegre,
1995. P. 71-91.
OLIVEIRA, A. S. F. Espaço público e usos culturais. A praça Nauro Machado. São Luís – MA.
Brasil, 2019.
Marcia Roque
Olha para a rua. Raparigas da sua idade, filhas dos negros assimilados, vão
para a escola, aprumadas. Calçadas. Aprendem coisas que também poderia
aprender se o pai aceitasse mudar de vida. Mas a porta da escola fechou-se.
Porque é negra e é bela. Donzela. Lampariga, de acordo os linguarejos malan-
dros dos homens, porque a rapariga brilha como uma lamparina. A mesma
freira perseguia-a, acabando por expulsá-la da escola da missão. Porque era
recheada, bonita e atrapalhava a concentração dos rapazes. Na Igreja ficava no
banco de trás. A freira expulsou-a de novo. Distraia a atenção dos fiéis e enchia
os padres de desejos pecaminosos. A freira sabia de seus segredos e arrepiava-
se de medo da contaminação. Pelo demoníaco e proibido. Tudo por causa da-
quele dia em que a mãe a atirou como uma gazela na jaula de um carnívoro.
O velho branco estava no quarto escuro esperando por ela. Segurou-a. Apal-
pou-a. Sugou-a. A mãe sorria lá fora, tomando um copo de vinho e esperando
por ela. Foi um momento de conflito intenso, em que não conseguia entender
a alegria da mãe perante o pecado original. (CHIZIANE, 2018, p. 74)
O fim da mãe negra é ficar encostada no umbral da porta num choro eterno,
perante a indiferença do mundo, colocando flores em túmulos imaginários dos
filhos que perdemos. Ah, minha Delfina. Neste momento, choro os meus filhos
perdidos no mundo. São três. Vieram do mais sagrado de mim, vieram de
longe. Vocês não sabem o que sofri para trazê-los ao mundo. (...) Esforço vão,
porque os filhos foram retirados na flor da idade e levados num barco para
Marcia Roque | 125
terras desconhecidas. Talvez estejam vivos. Ou mortos. Sinto que nunca mais
voltarei a vê-los. (...) Mas um dia virá em que o mundo inteiro se recordará do
sofrimento da mãe negra e nos pedirá perdão, pelos filhos que nos roubaram,
arrancaram, venderam. (CHIZIANE, 2018, p. 97-98)
que não precisam de prova, não pudessem na verdade ser provados jamais no
discurso.
(BHABHA, 2013, p. 117)
Ah, minha Serafina! Comeste muita sova nesta vida! A dor fechou-te os olhos.
De tanta dor perdeste o tino. Tens razão. O cão fiel se domestica à pancada. Só
pensas no teu dono, não existes. Foram muitos anos de insultos e a mentira
agora se tornou verdade. Agora te renegas, te anulas, tens vergonha e medo
de ser negra. (CHIZIANE, 2018, p. 100)
É o que vai acontecer com José, logo após seu casamento com Delfina.
Apesar de, graças à sua união, deixar de ser condenado e passar a ser
Marcia Roque | 127
contratado, a vida dos dois não apresenta nenhum tipo de melhora, pelo
contrário, a miséria se impõe como previsto. José havia proposto
casamento a Delfina para aplacarem a paixão e o desejo, pois a vida de
durezas imposta aos negros haveria de fazê-los cansarem-se um do outro,
fazendo com que seguissem suas vidas, mas com o desejo de estarem
juntos saciado e é o que acontece:
Nem roubar é possível. Mas os negros só têm bananas e cocos, e Delfina quer
ouro. Roubar aos brancos é candidatar-se à nova deportação. Surgem assim
os primeiros sinais de revolta: maldita colonização, maldita hora em que nasci
negro. Se eu fosse um branco, nada me faltaria. Existem algumas fórmulas
frágeis para ser menos negro, pelos cremes, pelas roupas, pela textura do ca-
belo. (CHIZIANE, 2018, p. 111)
Quem não se ajoelha diante do poder do Império não poderá ascender ao es-
tatuto de cidadão. Se não conhece as palavras da nova fala jamais se poderá
afirmar. Vamos, jura por tudo que não dirás mais uma palavra nessa língua
bárbara. Jura, renuncia, mata tudo, para nasceres outra vez. Mata a tua língua,
a tua tribo, a tua crença. Vamos, queima os teus amuletos, os velhos altares e
os velhos espíritos pagãos. José faz o juramento perante um oficial de justiça,
que mais se parece com um juramento de bandeira. Com pouca cerimônia,
diante de um oficial meio embriagado.
- Eu juro, repetia.
- Juras abandonar essas crenças selvagens, a língua atrasada, e a vida bárbara?
128 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
- Sim, eu juro.
- Bom rapaz. Agora assina aqui. (CHIZIANE, 2018, p. 114)
Para ele (o negro) só existe uma porta de saída, que dá no mundo branco.
Donde a preocupação permanente em atrair a atenção do branco, esse desejo
de ser poderoso como o branco, essa vontade determinada de adquirir as pro-
priedades de revestimento, isto é, a parte do ser e do ter que entra na
constituição de um ego. (...) É pelo seu interior que o negro vai tentar alcançar
o santuário branco. A atitude revela a intenção. (FANON, 2008, p. 60)
A vida dos outros não importa, o poder é que conta. Porque os ombros huma-
nos são degraus no exercício narcisista. O seu povo e ele ficaram num frente a
frente em vários combates, José se esmerou. Comandou. E arrasou. Na car-
reira do crime fez a sua estrada triunfal. Está no topo da pirâmide. Cumpriu
os mandamentos do regime com a maior eficiência do mundo. Torturou. Mas-
sacrou e acorrentou muitos m’zambezi para as plantações. Meteu muitos nos
navios de deportação. Depois veio o equilíbrio. O gozo. A imensidão. O mundo
era finalmente seu.
O que José não sabia é que seus atos se tornariam marco, história, mito, lenda.
Mudariam o mundo. Sem a cumplicidade dos assimilados e seus sipaios a terra
jamais seria colonizada. (CHIZIANE, 2018, p. 129)
enquanto ele continua como o servo que facilita a vida do superior digno
de ser tratado como um rei, aliando outros estereótipos à cadeia que se
reforça.
das forças sociais. Em cada caso, o que está dramatizado é uma separação-
entre raças, culturas, histórias, no interior de histórias. (BHABHA, 2013, p.
141)
Cada pessoa que sofre o peso da mão de José, sente o fosso entre as
culturas branca e negra se aprofundar, mais ainda, sente a dor de ver seu
igual travestido de diferente e agir como cúmplice de sua aniquilação, cau-
sando mais traumas ao povo que se sente traído.
Oh, o chicote do branco é uma carícia, não dói. O chicote verdadeiro é o que
assobia nas mãos dos teus irmãos. Chapada de branco é esponja sobre a pele,
não é nada. A mão do preto tem calos, cicatrizes, tatuagens, espinhos. Dura
como ferro. Pica, fende, fere, quebra. E dói ainda mais porque é teu irmão. A
injúria do branco é estrangeira, passageira. Mas a do teu irmão é espinhosa, o
preto José passou para o lado dos brancos. (CHIZIANE, 2018, p 130)
Porém, se José exerce o poder social fora de sua casa, dentro dela,
Delfina, assim como sua mãe, é quem detém o poder de decisão sobre sua
família e, tal como Serafina, Delfina somente enxerga no branco a porta
para a segurança de uma vida estável. Mãe de Maria das Dores e de Zezi-
nho, ela vê na oferta de seu corpo como mercadoria a salvação para a
família e a concretização de seus anseios, tornar-se branca. Assim, ela trai
José com seu chefe, o branco Soares e dele engravida, só revelando a ver-
dade para seu marido no momento em que ele entra para ver a filha
recém-nascida, Maria Jacinta, e se depara com o que o pai de Delfina anun-
cia, um monstro, uma filha de pele clara fruto da união de dois negros. Ao
olhar para a menina, José é finalmente derrotado, percebendo que quem
comandou sua vida, sua rendição ao sistema e a traição de seu povo foi
Delfina.
Ao ser traído pela esposa, José vai em busca do homem que o criou,
Moyo, uma espécie de sacerdote do sagrado ancestral africano. Ao ter seus
Marcia Roque | 133
desejos por feitiços que lhe trouxessem a mulher de volta negados, José
revolta-se com a figura paterna que Moyo representava e se vê no direito
de exercer o poder de mata-lo. Matar o ancião é, ao mesmo tempo, um ato
legal, pelo qual ele será amplamente ovacionado pelos brancos, e uma
forma de demarcar para si que ele não faz parte da cultura que lhe é inútil
e que não serve aos seus desejos. Moyo transforma-se na materialização
da insurreição ao regime e a José, neste momento dominado pelas paixões,
que se considerava como parte desse regime.
Confrontando Delfina, ele percebe seu apagamento, dentro e fora de
casa:
Simba e a mulher de Soares: mulher anjo, que luta com a fé no Deus su-
perior e aguenta tudo em nome da família, resignada. Delfina sabe que o
mundo ao redor a vê dessa maneira, inclusive seus patrícios, mas nada
parece a deter na luta desenfreada em busca do embranquecimento. Para
Fanon, esse procedimento demonstra o que a psiquiatria poderia classifi-
car como um tipo de neurose:
- Mãe, por que me fez preto? – pergunta o Zezinho -, eu também quero ter
uma pele clara como a Jacinta ou como meu pai branco.
- Ah, Zezinho, se eu pudesse adivinhar o futuro, não teria casado com o vosso
pai, esse preto, esse pobre!
- Pai por que me fez com uma preta – pergunta Jacinta. - Eu queria ter uma
mãe branca, para ser igual à sua outra esposa.
- Cala-te, Jacinta – grita Delfina -, se não fosse eu a arranjar-te um pai branco,
terias nascido preta como os teus irmãos. Se não fosse o meu zelo na tua
educação, tu terias crescido com coração de preta, como a Maria das Dores.
Maria das Dores revolta-se e fala. Ela tem doze anos, ela pensa.
Marcia Roque | 137
- Não, minha mãe. Não eram essas palavras que querias proferir, não eram. O
teu desejo era alimentar-nos com os melhores manjares desse mundo. Nem
era essa a voz que nos falava quando o nosso pai negro estava aqui. Eu era a
princesa do pai negro, mas nesta casa tudo é novo, tudo mudou, desde que o
pai branco chegou. (CHIZIANE, 2018, p.229-230)
- Se o meu pai foi embora é porque não te podia suportar. És uma mulher
horrível, mãe.
- Não refiles tanto comigo, filhinha. Fiz tudo para o teu bem. Para teres mais
pão. Para o negócio melhorar. Para poderes manter o teu estatuto de mulata,
de assimilada, e não baixares de nível.
- És nojenta, mãe. (CHIZIANE, 2018, p. 261)
138 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
Começa então a compreender o que antes não vira. Que só um camaleão muda
de cor. Que o negro é sempre negro e deve aprender o orgulho de sê-lo. Co-
meça a perceber as mensagens de resistência nas greves dos palmares. Não se
pode ser negro e ser branco ao mesmo tempo. Recorda-se das canções de re-
volta. A terra era minha e roubaram-ma. O corpo era meu e usaram-no. Esta
noiva é minha filha e ma roubam. Ah, se eu fosse mais nova empunharia uma
arma e lutaria pela minha dignidade e por tudo o que me tiraram. (CHIZIANE,
2018, p. 282)
Para finalizar, sem analisar o final romanesco da obra que nada con-
tribui à análise aqui pretendida, destaca-se ainda uma reflexão de
Lavaroupa da Silveira sobre o Deus cristão,
Referências
Giselle Perna
1
De acordo com Walter Mignolo, a colonialidade operou para que as periferias do sistema-mundo (dentro), não
fossem capazes de produzir um conhecimento pautado em suas especificidades locais, absorvendo, desta forma, o
monologismo cultural a partir de uma posição de superioridade. Com base nesse pensamento, o conceito de
“exterioridade” construído a partir de homens brancos, cis, cristãos e ocidentais, criou uma visão das periferias como
o local onde habitam selvagens, sem cultural e indomáveis, determinando sua subalternidade e inferioridade.
Giselle Perna | 143
de fronteira para narrar a história dos até então vencidos, gerando uma
análise crítica dos processos de colonização das Américas.
Sob uma missão de civilizadora, homens europeus, brancos, cis, cris-
tãos, dominaram países localizados nas periferias do mundo, criando uma
identidade coletiva única, que favoreceu o apagamento histórico local, jus-
tificando todo o processo de subalternização e desumanização, que teve
como base, as diferenças étnicas raciais. Tais imbricações usaram da mu-
dez como forma de dominação, ignorando os processos de emergências
dessas linguagens mútuas. A fronteira para Anzaldúa, é um espaço de des-
dobramentos onde diferentes categorias sociais, atuam como dispositivos
que corroboram com as desigualdades e os silenciamentos, colocando o
espaço fronteiriço como um local de relações de poder e exclusão.
Uma fronteira é uma linha divisória, um fino traço ao decorrer de uma borda.
Um território fronteiriço, é um lugar vago e indefinido criado por restos emo-
cionais de uma linha contra natural. Está em um estado constante de
transição. (...) Alí vivem os fronteiriços: os tortos (vesgos), os perversos, os
estranhos (queer), os problemáticos, os vira latas de rua, os mestiços, os de
raça misturada, os meio mortos; em suma, os que cruzam, os que passam por
cima ou atravessam os confins do “normal”. (ANZALDÚA, 2016, p. 42)
E ela continua:
146 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
[...] los indios y negros no podíam ser hombres y mujeres, sino seres sin
género. En tanto bestias se los concebía como sexualmente dimórficos o am-
biguos, sexualmente aberrantes y sin control [...] En tanto bestias, se los trató
como totalmente accesibles sexualmente por el hombre y sexualmente peli-
grosos para la mujer. "Mujer" entonces apunta a europeas burguesas,
reprodutoras de la raza y el capital" (LUGONES, 2012.p.2) 2
2[...] índios e negros não podiam ser homens e mulheres, mas seres sem gênero. Como bestas, eles foram concebidos
como sexualmente dimórficos ou ambíguos, sexualmente aberrantes e descontrolados ... Como bestas, eles foram
tratados como totalmente acessíveis aos homens e sexualmente perigosos para as mulheres. "Mulher" aponta então
para europeus burgueses, reprodutores de raça e capital "(LUGONES, 2012.p.2)
Giselle Perna | 147
3 A virada pós-colonial protagonizada por Fanon e Said analisa o colonialismo que a partir de sua imposição,
redefiniu as fronteiras do mundo em dois blocos antagônicos: Centro e Periferia. Trata-se de uma missão civilizatória,
onde o Ocidente ao classificar o Oriente como um local onde habitam bárbaros, pessoas exóticas sem qualquer
intelecto, sendo assim aptos para serem domesticados sob a cultura hegemônica ocidental.
Giselle Perna | 149
4 Pensar a partir da fronteira, é defendida por Walter Mignolo, e equivale pensar para além do conceito de
modernidade hegemônica
152 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
Por que eu sou uma mestiça, continuamente, indo de uma cultura a outra, faço
parte de todas as culturas ao mesmo tempo, alma entre dois mundos, três,
quatro, me desoriento como o contraditório. Estou norteada por todas as vozes
que me falam simultaneamente. (ANZALDÚA, 1987)
Já não consentirei que me façam sentir vergonha pelo simples fato de existir.
Terei a minha voz índia, espanhola. Terei a minha língua de serpente: a minha
voz de mulher, minha voz sexual, minha voz poeta. Superarei a tradição do
silêncio (ANZALDÚA, 2007. p. 40)
Por causa da cor da minha pele, fui traída; A mulher de pele escura tem sido
silenciada, amordaçada, enjaulada, vinculada à servidão com o casamento, es-
pancada por 300 anos, esterilizada no século XX... Muitas vezes ela desejou
falar, agir, protestar e desafiar (ANZALDÚA, 2012. p. 45)
A luta da mestiza é, acima de tudo, uma luta feminista. Enquanto los hombres
pensarem que têm que chingar mujeres e uns aos outros para serem homens,
enquanto forem ensinados que são superiores e, portanto, culturalmente fa-
vorecidos em relação a la mujer, enquanto ser uma vieja for motivo de
escárnio, não poderá haver uma cura real de nossas psiques. (ANZALDÚA,
2005, p. 711.)
Referências
___________. La frontera: The New Mestiza. 2nd ed. San Francisco: Aunt Lute, 1999.
___________. Hablar en Lenguas. Una carta a escritoras tercermundistas. In: Words in our
pockets: The feminist writers guild handbook. Bootlegger, San Francisco 1980
___________ El futuro ya fue: una crítica a la idea del progreso en las narrativas de
liberación sexo-genéricas y queer identitarias en Abya Yala. En: R. Moarquech
Ferrera-Balanquet (comp.), Andar erótico decolonial (pp. 21-39). Buenos Aires,
Argentina: Ediciones el Signo, 2015.
_____________. El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del
capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores; Universidad Central, Instituto
de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia Universidad Javeriana, Instituto
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MOHANTY, Chandra. Bajo los ojos de Occidente: academia feminista y discursos coloniales.
En Suárez Navaz, Liliana y Hernández Castillo, Rosalva Aída, (eds) Desconolizando
el feminismo. Teorías y Práctias desde los Márgenes, Madrid, Cátedra, 2008
Introdução
1
Os grupos denominados guerrilheiros eram organizações de esquerda relevantes no contexto social do país. O
Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA) foi criado na metade dos anos 1980, agia em regiões
metropolitanas ao redor de Lima e composto em sua maioria por estudantes universitários. Já o Sendero Luminoso,
criado no fim dos anos 1960 por Abimael Gúzman, teve maior abrangência nas regiões andinas mais pobres e
vulneráveis, cooptando campesinos e comunidades de origens indígena, os quais eram excluídos das políticas sociais.
Ambos tiveram maior ação e repercussão nacional e internacional na década de 90, sendo um dos desafios
enfrentados por Fujimori.
Claudia Vargas Machado | 161
2
As origens do grupo podem ser remontadas a década de 1990, nos Estados Unidos. Em 1992, ano de reimpressão
do texto clássico de Anibal Quijano “Colonialidad y modernidad-racionalidad”, um grupo de intelectuais latino-
americanos e americanistas que lá viviam e fundaram o Grupo Latino-Americano dos Estudos Subalternos. Inspirado
principalmente no Grupo Sul-Asiatico dos Estudos Subalternos, o founding statement do grupo foi originalmente
publicado em 1993 na revista Boundary, editada pela Duke University Press. Em 1998, Santiago Castro-Gomez
traduziu o documento para o espanhol como “Manifiesto inaugural del Grupo Latinoamericano de Estudios
Subalternos”. (BALLESTRIN, 2013, p. 94).
162 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
3
Nessa obra, Poutignat e Streiff-Fenart apresentam através de uma análise crítica como a problemática sociológica
da etnicidade se constitui historicamente.
4
Banton é considerado um dos mais ilustres especialistas britânicos das questões raciais, que desenvolveu um modo
mais completo de possibilidades aplicação da teoria da escolha racional e nas relações raciais e étnicas.
Claudia Vargas Machado | 163
5
Para o Sendero Luminoso, a guerra popular devia desenvolver-se em dois âmbitos: no campo, que era a prioridade,
e as cidades, as quais seriam atacadas uma vez obtidas a vitória no campo.
164 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
6
Hall foi um importante teórico cultural jamaicano, que atuou no Reino Unido. Teve importante contribuição para
o estudo da cultura e dos meios de comunicação, assim como para o debate político.
Claudia Vargas Machado | 165
7
Aníbal Quijano (novembro de 1928, Yungay, Peru/ 31 de maio de 2018, Peru) foi um sociólogo e pensador humanista
peruano, desenvolveu o conceito de "colonialidade do poder", criando uma importante pesquisa para o entendimento
da formação da modernidade, A partir de uma análise histórica de formação do capitalismo com base no colonialismo
e sua expansão à globalização do século XXI. In: http://www.ihu.unisinos.br/188-noticias/noticias-2018/579677-o-
legado-de-anibal-quijano-para-o-pensamento-latino-americano-descolonizado
8
Ranajit Guha (23 de maio de 1922/ Barisal, Bangladesh), historiador indiano, foi uma figura bastante significativa
para os estudos subalternos, sendo o primeiro a declarar sua fundação, assim como também foi editor dos Subaltern
Studies: Writings on South Asian History - na década de 1980. Seu trabalho sobre as revoltas camponesas é
considerado um clássico sobre o assunto. In: file:///D:/documentos/Downloads/19197-Resultados%20de
%20pesquisa-61138-1-10-20191106.pdf
Claudia Vargas Machado | 167
Os sujeitos não são peças inertes diante de estruturas sociais perenes. O campo
da política supõe o protagonismo de agentes que fazem escolhas: há sempre
margem para a opção entre diferentes caminhos de ação. (MOTTA, 2015,
p.113).
9
Jornalista e intelectual marxista peruano, nasceu em 14 de junho de 1894, filho de mãe mestiça de origem indígena
e pai branco. Na década de 1920, se aproxima dos movimentos estudantis e do movimento operário limenho,
apoiando suas greves. Exilado na Itália, assiste de perto a ascensão do fascismo, participará de encontros e conversas
com intelectuais como Benedetto Croce. Retorna ao Peru e tenta aplicar, aos poucos o que viu e aprendeu;
compreender o Peru e a “Indo-América” por dentro. Considerado o primeiro marxista latino-americano, aproxima-
se ainda mais do movimento operári, e publica em 1926 a revista Amauta. Funda o Partido Socialista Peruano e
participa ativamente da criação da CGTP (Confederación General de Trabajadores Del Perú). Escreveu em vida: La
Escena Contemporánea (1925) e Siete Ensayos de Interpretación de la Realidad Peruana (1928). In:
https://bvps.fiocruz.br/vhl/interpretes/jose-carlos-mariategui/
10
Dados obtidos em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/ em 24/06/2021.
Claudia Vargas Machado | 171
Considerações finais
Referências
BANTON, Michael. Racial and Ethinic Competition. Cambridge University Press. 1983.
HALL, Stuart. Da diáspora- identidades e mediações. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
LÉON, Christian. Imagem, mídias e telecolonialidade: rumo a uma crítica decolonial dos
estudos visuais. In: Epistemologias do Sul, v. 3, n. 1, p. 58-73, 2019.
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Cultura política e ditadura: um debate teórico e historiográfico.
Tempo e Argumento, Florianópolis, v.10, n.23, p. 109-137, 2018.
ROJAS, Rodrigo Montoya. Perú: ¿Pensamiento Gonzalo? Artículo para el Diario la Primera,
columna: Navegar Río arriba, 7 de marzo, 2012.
9
partir dessa nova perspectiva, que surge com Said, para estudar os terri-
tórios e países do Oriente que pretendo me enquadrar. Na tentativa de
identificar uma possível familiaridade de algum território da Ásia com o
Brasil, identifiquei o Timor-Leste, que também foi colônia portuguesa e
partilha com o Brasil uma herança lusófona comum. Além disso, o Brasil
possuiu uma relação importante na década de 1990 com o Timor-Leste,
em um período em que o território estava sob ocupação da Indonésia e a
questão da libertação do Timor ganhou espaço mundial, o Brasil foi soli-
dário da causa da independência timorense 1 (SANT’ANNA, 1997).
Ademais, ao buscar bibliografias no Brasil que tratem sobre a história
do Timor-Leste, contatei uma significativa escassez de produções. Tendo
em vista que o Timor-Leste conquistou sua independência definitiva em
2002, sendo hoje um país soberano, e que possui uma significativa relação
com o Brasil, se faz necessário novos estudos e debates sobre o território.
Dito isso, caso possivelmente exista desconhecimento sobre o Timor-
Leste, apresentarei um breve resumo histórico sobre o território.
O território do atual Timor-Leste, localizado no Sudeste Asiático, pró-
ximo a Indonésia e a Australia, passa a ter o contato com europeus a partir
do século XVI com a chegada de navegadores portugueses na busca por
sândalo. A colonização efetiva do território se dá no século seguinte, nesse
contexto há conflitos internos com a população nativa e também com os
holandeses que possuíam interesses na região (SILVA, 2000).
Já no século XX, no contexto da Segunda Guerra Mundial, o Timor é
invadido pelos japoneses, que permaneceram até setembro de 1945
deixando marcas de destruição e mortes 2. Neste mesmo ano a Indonésia
1
Na obra de Sant’Anna (1997), o autor traz uma série de cartas e mensagens que demonstram a solidariedade de
brasileiros (incluindo o então presidente do Brasil na época, Fernando Henrique Cardoso) a causa timorense pela
libertação. A relação entre Timor-Leste e Brasil nesse período da década de 1990, quando a questão timorense ganha
voz mundialmente, necessita ainda de maior aprofundamento em futuros outros estudos.
2
Estimam-se o número de 40 mil timorenses mortos no período da ocupação japonesa (BICCA, 2011).
Bianca Obetine Magnus | 179
Sobre o Multiculturalismo
3
Inicialmente a FRETILIN foi o único movimento que defendia a independência. Posteriormente, no ano de 1975,
outro movimento, a UDT, se coligou com a FRETILIN pela causa da independência devido a ameaça da ocupação da
vizinha Indonésia. No entanto, a FRETILIN manteve durante todo período da descolonização a defesa da
independência do território (RAMOS-HORTA, 1994).
Bianca Obetine Magnus | 183
4
O caso timorense no período da descolonização não resultara na formação de um Estado-nação como diz Hall, a
FRETILIN consegue proclamar a independência no final de 1975, porém, poucos dias após sobre uma invasão por
parte da Indonésia que ocupa o lugar até a década de 1990. No entanto, é importante observar a fragilidade do
contexto do surgimento desses novos Estados. O Timor-Leste pode não se configurar com uma Estado-nação nesse
período, mas precisa encarar essa realidade no contexto pós-colonial.
184 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
Esses são alguns dos pontos levantados por Stuart Hall que podem
ser aplicados ao contexto específico do Timor-Leste e da FRETILIN. A se-
guir, tratarei especificamente sobre esses pontos aplicados ao caso da
FRETILIN, que se configura um movimento que busca a independência do
território timorense e que possui uma diversidade étnica e cultural signi-
ficativa de povos nativos, mas que também precisa lidar com as
consequências no âmbito cultural da colonização portuguesa.
5
A partir da Revolução dos Cravos e o novo regime que surge em Portugal, a descolonização dos territórios
administrados por Portugal entra em pauta, e consequentemente inicia-se as providencias para realizar os processos
de descolonização (GALDINO, 2012).
6
Vários autores citam que a ASDT/FRETILIN estava alinhada a doutrina socialista/marxista: Lima (2002, p.182)
afirma que a ASDT era “Seguidora da doutrina socialista.”, Jardine (1997, p.28) escreve que a “ASDT advogava ‘as
doutrinas universais do socialismo e da democracia.”. É discutível a doutrina que estava presente na ASDT/FRETILIN
no início, há necessidade de mais estudos que tratem sobre essa questão.
186 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
7
Atualmente, ambas são língua oficial do país (ALBUQUERQUE, 2010).
8
O que de fato aconteceu posteriormente.
Bianca Obetine Magnus | 189
Considerações finais
Referências
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FUNAG, 2001.
JARDINE, Matthew. Timor Leste – genocídio no paraíso. In: SANT’ANNA, Sílvio L. (org.).
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http://www.casacomum.org/cc/visualizador?pasta=11013.019 . Acesso em: 08 set.
2020.
RAMOS-HORTA, José. Timor Leste: amanhã em Díli. Lisboa: Publicações Dom Quixote,
1994.
SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia
das Letras, 2007.
SERRANO, Carlos; WALDMAN, Mauricio. Brava gente de Timor: a saga do povo maubere.
São Paulo: Xamã, 1997.
1
Para maiores detalhes em relação a este grupo: MURARI, Luciana. No rumo dos sertões inexplorados: a aventura
da Bandeira Anhanguera de São Paulo à Serra do Roncador (1937). Revista História. São Paulo: n. 179, p. 1-29, 2020.
2
Representação entendida aqui através de Chartier (2002; 2011).
196 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
Realmente o Rio das Mortes percorre uma zona riquíssima de campinas e ma-
tas, próprias para lavoura e criação de gado. O povoamento depende tão só da
pacificação dos índios Xavante que até agora fazem o terror dos moradores
das vizinhanças pelas suas correrias e ataques traiçoeiros. Daí percorre a ne-
cessidade urgente de amparar a Missão Salesiana que já tem obtido um
encontro amistoso, afim de favorecer-lhes os meios de uma penetração mais
eficaz, tendendo ao aldeamento e educação da tribo Xavante, abrindo assim
esta imensa zona entre os Rios Xingu e Araguaia aos progressos da nossa civi-
lização.
É, pois, obra eminentemente patrística, e por isto não duvido que V. Ex.o, cujas
vistas estão lançadas para este Oeste tão futuroso e de grandes reservas para
o Brasil, saiba compreender o alcance desta avançada pacífica e conquistadora
(LACHNITT, 2017, p.122).
Leonardo Birnfeld Kurtz | 197
Para terminar: não se pretende aqui advogar a segurança e defesa dos expedi-
cionários que empreendem a excursão deliberadamente e com conhecimento
de causa, mas a segurança e defesa dos nossos selvícolas, actualmente quase
que ao desamparo dos poderes públicos e tendo a seu favor pouco mais que o
apoio dos homens de cultura e de sentimentos humanitários para garantir-
lhes o uso pleno das terras que lhes pertencem. Sou de parecer que se negue
a licença solicitada. Rio de Janeiro 28 de abril de 1938 – Heloísa Alberto Tor-
res.” O conselho, entretanto, deu a licença. Agora, porém, os factos parecem
dar razão à Senhora Heloísa Alberto Torres. (A Gazeta, 1938, p.2).
A escaramuça e a legitimidade
Era meu escopo único topar com os índios chavantes, estudar-lhes, dentro das
possibilidades, índole e costumes, verificar a existência da Serra do Roncador,
vasculhar um território eternamente discutido e desconhecido e trazer à cole-
tividade a reportarem que prometera ao partir. (AURELI, 1939, p. 12).
Romperam caminho na mataria densa por mais algum tempo, quando, subi-
tamente, depararam numeroso contingente de selvícolas armados de arco e
flecha. Antes que pudessem esboçar qualquer gesto, os oponentes, demons-
trando grande agilidade e profundamente assustados, descarregaram contra
os membros da coluna uma rajada de flechas. Para se livrarem do ataque in-
tempestivo, foram disparados muitos foguetões e rojões, afim de atemorizar
os selvagens. Ali terminou a aventura (A Noite, 1938, p.10).
evento acabou corroendo a reputação do grupo, por conta das críticas dos
agentes anteriormente descritos.
Após os jornais que estavam de acordo com a Bandeira realizarem
suas publicações, outros começaram a republicar o fato, em geral apenas
reportando que o grupo havia sido atacado. Nota-se, exemplificado por
meio do último exemplo a seguir, o uso de uma narrativa aventuresca,
trazendo o evento como uma história que escala de um momento de calma
para um suspense e um desfecho. Esse recurso, altamente presente nos
escritos de Aureli, compõe tanto o discurso jornalístico quanto as repre-
sentações do Sertão (palavras como “selvícolas”, “selvagens”, “malocas” e
a própria narrativa que busca construir uma imagem do evento com a ra-
jada de flechas, o poder dos foguetes e a fuga dos Chavantes frente ao
poder dos bandeirantes).
A bandeira Piratininga radiografou para S. Paulo que foi atacada pelos ferozes
Chavantes, tendo ficado feridos vários membros da caravana (Cidade de Goiaz,
1938, p. 1)
Marechal Rondon
Morrer, se preciso for, matar nunca; Respeito às tribos indígenas como povos
independentes; Garantir aos índios a posse das terras que habitam e são ne-
cessárias à sua sobrevivência; Assegurar aos índios a proteção direta do
Estado. (RIBEIRO, 1959, p. 8)
Para terminar: não se pretende aqui advogar a segurança e defesa dos expedi-
cionários que empreendem a excursão deliberadamente e com conhecimento
de causa, mas a segurança e defesa dos nossos selvícolas, actualmente quase
que ao desamparo dos poderes públicos e tendo a seu favor pouco mais que o
apoio dos homens de cultura e de sentimentos humanitários para garantir-
208 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
lhes o uso pleno das terras que lhes pertencem. Sou de parecer que se negue
a licença solicitada. Rio de Janeiro 28 de abril de 1938 – Heloísa Alberto Tor-
res.” O conselho, entretanto, deu a licença. Agora, porém, os factos parecem
dar razão à Senhora Heloísa Alberto Torres. (A Gazeta 1938, p.2).
Considerações Finais
além de ter suas fotos expostas na imprensa) expressando seu lado. Essa
omissão esta relacionada às compreensões acerca da raça e da etnia dos
indígenas, nas quais convergiam para a representação de um ser criança,
que necessitava ser guiado e que seu tutor falasse dele e por ele.
Encontra-se na relação conceitual entre Raça, Etnia, poder tutelar e
representação uma chave interpretativa importante para compreender-
mos as motivações e o escopo de ação de diferentes agentes que buscaram
interpretar e controlar indígenas – trata-se de uma operação simultânea
na qual os conceitos se interrelacionam. A Raça identifica o que há de fisi-
camente diferente entre os indivíduos, constituindo-se como a base de um
sistema racista que atribui valores inerentes associados a uma raça. Ori-
gina-se nesse ponto o agrupamento de diferentes indivíduos, e seus
respectivos grupos, a denominação generalista de indígena. Importante
apontar que a alteridade é um elemento constante nessa interrelação, po-
rém, operada à moda tutelar, pois a própria identidade indígena é pautada
por dicotomias de ausência/presença de valores que, ao ver do tutelador,
são positivos ou negativos.
Todos os agentes exemplificados no presente trabalho posicionam
em seus respectivos discursos tal perspectiva, porém, a título de uma
exemplificação sintética, descreverei a interrelação dos conceitos a partir
do líder da Bandeira Piratininga. Aureli define o índio como uma criança
cuja inocência, pureza e ausência de maturidade compõem a índole indí-
gena. Sendo essas características não presentes no ser civilizado,
Chavantes e Carajás se tornam objetos de estudo, inclusive, a ponto de
definir um dos objetivos da missão da Bandeira Piratininga rumo a Serra
do Roncador. O autor, norteado então pela Etnia, redimensiona a alteri-
dade para comparar Chavantes e Carajás, sendo os primeiros habitantes
de matas fechadas e escuras e, portanto, mais belicosos e isolados; en-
quanto os Carajás, autóctones de zonas mais iluminadas, são amigáveis,
210 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
Referências
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212 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
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CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre incertezas e inquietude. Porto Alegre:
Ed. Universidade/UFRGS, 2002.
CIDADE DE GOIAZ. 1938. A bandeira Piratininga atacada pelos Chavantes. Goiás, 14 ago,
p.1.
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Dissertação de Mestrado, UFSC.
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Horizonte: Editora UFMG, 2003.
Leonardo Birnfeld Kurtz | 213
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v.4, n.5, p. 1-8, 2003.
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Ação indigenista, eticidade e o diálogo interétnico. In:
Estudos Avançados, São Paulo, v. 14, n. 40, p. 213-230, dezembro 2000.
Introdução
Qualquer imbecil pode ver com absoluta segurança a diferença que vai do fu-
tebol da gente para o futebol dos americanos. É tão simples! No futebol da
gente, nós jogamos com uma bola; no futebol deles, êles jogam com uma mor-
tadela inteirinha. No futebol da gente, nós entramos em campo com uma faca
escondida dentro do calção; no futebol deles, êles entram em campo de metra-
lhadora em punho e duas pistolas de cada lado. No futebol da gente, só passa
Alyssa Nunes Bruscato Costa | 215
Estes estranhos personagens que vemos nesta foto não pertencem a nenhuma
astronave interplanetária. São eles os elementos da peça defensiva do quadro
de futebol americano da Universidade de Bucknell envergando uma nova con-
cepção em trajes amortecedores de choques tão comuns nesta viril modalidade
esportiva. (IRÃO, 1955, p. 13)
Contexto
Ainda que envolva uma variedade de comportamentos, o fator que mais rela-
ção e impacto possui para a condução da política externa brasileira se
fundamenta mais numa reação de desconfiança dos Estados Unidos (do tipo
“me mostre que você está certo”) como ameaçadores em potencial dos inte-
resses e da autonomia nacionais e menos uma atitude basicamente
preconceituosa (antiamericanismo do tipo mais agudo, em que há uma pro-
funda inclinação a atribuir ações e motivos negativos aos Estados Unidos em
qualquer situação, sem se preocupar em analisar as especificidades da ocasião
ou dos atores envolvidos, fechado, portanto, a informações positivas sobre as
ações norte-americanas). (FARES, 2011, p. 1).
Representações
Além do fato, do esporte mostrar seu valor como atividade física es-
portiva, estava incluído de um caráter social. O ato de ser visto como um
teatro que gera um espetáculo foi notório para a sociedade por meio das
festividades e da disseminação do comparecimento do público nas parti-
das. Ricardo Santos expos que “Um match era sem dúvida um grande
evento noticiado nos veículos de comunicação da cidade e boa parte deles
eram concluídos à noite, com bailes nos melhores e mais chics salões da
cidade...” (O FOOT-BALL, 2014 p. 16)
Identidades nacionais
Importante frisar que o futebol pode ser visto como um ritual, enten-
der esse processo pode nos fornece a expressão de uma totalidade, ele
consagra principalmente globalizações presentes. Por seguinte, passa a
permitir uma identidade e uma singularidade por meio dele, ao passo que,
cada geração estipula os fatos que permanecem como pontos chaves de
suas perspectivas.
Nesse sentido, cabe destacar que a identidade cultural não é “natural”, nem
inerente ao indivíduo, ela é preexistente a ele, e como a própria cultura se
transforma, a identidade cultural do sujeito não é estática e permanente, mas
é fluída, móvel, e principalmente, não é uma imposição inocente, nem uma
apropriação, de todo, inconsciente. A identidade cultural é por sua vez cons-
truída, manipulada e política. (PACHECO,1983, p. 13)
Considerações Finais
Referências
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Nacional-desenvolvimentismo à globalização. Conexões, [S. l.], ano 2005, v. 3, n. 1,
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MOOG, Vianna. Bandeirantes e pioneiros: paralelo entre duas culturas. Editora Globo.
Porto Alegre. 1959.
NEGREIROS, Plínio José Labriola de Campos Negreiros. Futebol nos anos 1930 e 1940:
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https://revistas.ufpr.br/historia/article/view/2727>. Acesso em: 22 junho 2021.
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Orientador: René Ernaini Gertz. 2014. 1-181 p. Dissertação de Mestrado (Mestrado
em História) - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2014. Disponível em: https://repositorio.pucrs.br/dspace/handle/10923/5754.
Acesso em: 26 jun. 2021.
QUADRO Negro da Rodada. Mundo Esportivo, São Paulo, ano 1952, n. 00396, p. 1-15, 4
nov. 1952. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?
bib=119598&pesq=%22Futebol%20Americano%22&pasta=ano%20195&pagfis=6
277>. Acesso em: 22 junho 2021.
O novo presidente do Brasil: visita aos Estados Unidos da América de sua excelência o
Doutor Juscelino Kubitschek de Oliveira, presidente do Brasil. Editora IBM. 1956.
VERÍSSIMO, Luis Fernando. O time dos sonhos: paixão poesia e futebol. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2010.
12
1
O presente trabalho resulta de uma releitura (e reescrita) da primeira parte do capítulo um da dissertação de
mestrado: KNACK, 2007. A partir de novas leituras, algumas ideias e proposições foram atualizadas e repensadas,
apresentando novas reflexões sobre possíveis relações entre cidades, memória, patrimônio e cultura.
232 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
museu para fazer parte de seu acervo e/ou uma exposição, tem seu signi-
ficado despertado, transformado, o que o torna agora um bem
patrimonial. Devido a sua carga simbólica impregnada por uma função já
desempenhada, ele tornou-se um patrimônio cultural. Tal despertar en-
volve uma ativação patrimonial (PRATS, 1998), pois determinado objeto
(móvel ou imóvel), ao adquirir novo significado definido por um conjunto
de valores que orienta o olhar daqueles envolvidos em sua proteção, é ati-
vado, desperta sob uma nova atribuição valorativa, se torna um bem
cultural. Cabe chamar atenção para uma reflexão desenvolvida por Carva-
lho, que diz:
[...] é preciso que se diga que a noção prevalecente de bem cultural ainda está
associada a alguns poucos exemplos de bens patrimoniais que constituem sím-
bolos da memória nacional de povos e países. Aqueles sobre os quais as
relações entre o signo e o significado são amplamente divulgadas e abstraídas.
Entretanto, são também os que mais se afastam de uma identificação objetiva
com a realidade da vida do dia-a-dia. (CARVALHO, 2002, p.398).
Muitos bens culturais são preservados apenas por seu valor “mate-
rial”, ou seja, por seu valor documental. Por exemplo, pode-se tombar uma
edificação simplesmente porque ela tem uma importância arquitetônica,
no sentido de o prédio ter sido construído com uma técnica singular,
mesmo que tal prédio não tenha uma marca profunda na memória e, con-
sequentemente, na identidade da comunidade. Porém, tal patrimônio
corre o risco de cair no esquecimento e, literalmente, tombar frente à fe-
nômenos e impulsos de modernização e urbanização. O patrimônio, em
geral, não deve ser tombado apenas pelo seu valor documental, mas tam-
bém pelo seu valor sentimental, pelo significado que a sociedade atribui a
ele. Zamin (2006) explana de forma clara como valores estão envolvidos
no tombamento do patrimônio histórico:
234 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
Mesmo quando os locais não têm em si uma memória imanente, ainda assim
fazem parte da construção de espaços culturais da recordação muito significa-
tivos. E não apenas porque solidificam e validam a recordação, na medida em
236 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
Cidade e patrimônio
2
Na dissertação de mestrado foram analisados os bens arquitetônicos tombados entre 1990 e início de 2000.
238 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
3
Também foi chamado de Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN, e Diretório do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional – DPHAN.
240 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
[...] cultura possui duas dimensões: uma se refere à natureza mesma do bem
cultural, na medida em que incorpora certas características “espirituais”, con-
cebida como de ordem mais elevada; outra diz respeito a uma capacidade
especial, restrita a certas pessoas, para usufruir desses bens. (DURHAM, 1984,
p.24).
4
Sobre o conceito de senso comum ver: TEDESCO, 2004. p. 48.
242 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
Uma dupla via é assim aberta: uma que pensa a construção das identidades
sociais como resultando sempre de uma relação de força entre as representa-
ções impostas por aqueles que têm o poder de classificar e de nomear e a
definição, submetida ou resistente, que cada comunidade produz de si mesmo;
a outra que considera o recorte social objetivado como a tradução do crédito
concedido à representação que cada grupo faz de si mesmo, portanto, à sua
capacidade de fazer com que se reconheça sua existência a partir de uma exi-
bição de unidade. (CHARTIER, 2002, p.73).
Considerações finais
Referências
CARVALHO, Haroldo Loguercio. Bens culturais, memória social e lugares da memória. In:
RECKZIEGEL, Ana Luiza Setti. FÉLIX, Loiva Otero. (Orgs.). RS: 200 anos definindo
espaços na história nacional. Passo Fundo: UPF, 2002.
CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre incertezas e inquietude. Porto Alegre:
Ed. Universidade/UFRGS, 2002.
FIORE, Renato Holmer. Arquitetura e Lugar. In: WICKERT, Ana Paula. (org.) Arquitetura
e Urbanismo em Debate. Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo, 2005.
NORA, Pierre. Entre memória e história A problemática dos lugares. In: Projeto História.
São Paulo, n.10, 1993.
POHL, Ângelo Inácio. Patrimônio Cultural e Representações. In: MILDER, Saul Eduardo
Seiguer. (org.). Educação Patrimonial: Perspectivas. Santa Maria: UFSM. LEPA,
2005.
246 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
POSSAMAI, Zita Rosane. Entre lembranças e esquecimentos o Rio Grande do Sul nos
lugares de memória. In: RECKZIEGEL, Ana Luiza Setti. FÉLIX, Loiva Otero. (Orgs.).
RS: 200 anos definindo espaços na história nacional. Passo Fundo: UPF, 2002.
PRATS, Llorenç. El concepto de patrimonio cultural. In: Política y Sociedad, n.27, 1998.
RIBEIRO, Luiz Cesar de Quieroz. A Cidade, as Classes e a Política: um nova questão urbana
brasileira?. In: OLIVEIRA, Lúcia Lippi (org.). Cidade: história e desafios. Rio de
Janeiro: FGV, 2002.
RIEGL, Aloïs. O culto moderno dos monumentos e outros ensaios. Lisboa: Edições 70, 2013.
ZAMIN, Frinéia. Patrimônio cultural do Rio Grande do Sul a atribuição de valores a uma
memória coletiva edificada para o Estado. (Mestrado em História) – Universidade
Federal do Rio Grande do Sul: Porto Alegre:2006.
Sobre os Autores
Charles Monteiro
Historiador, Historiador da Arte e Pesquisador PQ2 do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que atua como Professor Adjunto nos
cursos de graduação de História e de Pós-Graduação de História e de Letras (Escrita
Criativa) da PUCRS. Realizou Estágio Sênior com bolsa CAPES (Pós-Doutorado) em
História Cultural e Social da Arte na Université Paris 1 Panthéon - Sorbonne (2013-2014)
sob supervisão de Michel Poivert. É Doutor em História Social pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (2001) com bolsa CNPQ e bolsa sanduíche CAPES (1998-99) na
Université Lumière (Lyon 2/ França). É autor de três livros: Porto Alegre: Urbanização e
Modernidade (EDIPUCRS, 1995); Porto Alegre e suas escritas: História e memórias da
cidade (EDIPUCRS, 2006) e Breve História de Porto Alegre (Editora da Cidade, 2012); tendo
organizado outros nove livros; publicado 25 capítulos de livros no Brasil e no exterior, além
de 32 artigos científicos completos publicados no Brasil e no exterior. E-mail:
monteiro@pucrs.br
248 | Ensaios sobre teorias da cultura e da etnicidade
Giselle Perna
É formada em História pela PUCRS em 2006 e pós-graduada também pela PUCRS na área
de Patrimônio Histórico Artístico Nacional na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
Atuou como jornalista no Governo do Estado do Rio Grande do Sul entre os anos de 2008
a 2010, quando passou a trabalhar no setor de comunicação da Companhia Carris, também
como jornalista. Tem experiências em coberturas jornalísticas em eventos como Feira do
Sobre os Autores | 249
Livro (2009) Top Off Mide (2010), Carnaval (2010), Expointer (2012). Teve uma breve
pausa profissional para se dedicar a mais lindas das funções e aprendizados: Ser mãe da
Valentina. Atualmente cursa o segundo semestre do Mestrado em História na PUCRS, com
pesquisa na área das migrações femininas, delimitada na análise das migrantes
venezuelanas residentes na capital de Porto Alegre, sob o olhar das perspectivas gênero-
migração. E-mail: GISELLE.PERNA@edu.pucrs.br
Michele Santos
Possui graduação em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2016). Tem
experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil Império, História
Regional do Brasil e História da escravidão. É mestranda em História pela Universidade do
Vale do Rio dos Sinos. E-mail: michelesantos.hist@gmail.com
Marcia Roque
Professora do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no
departamento de Comunicação, vinculada ao Programa de Estágio Pós-Doutoral em
Literatura, na área de concentração “Teoria da Literatura e Escrita Criativa!, na linha de
pesquisa “Cartografias Narrativas em Língua Portuguesa: Redes e Enredos de
Subjetividades”, sob a orientação do Prof. Dr. Paulo Ricardo Kralik Angelini no Programa
de Pós-Graduação em Letras da PUCRS. E-mail: marciaroque.lit@gmail.com
A Editora Fi é especializada na editoração, publicação e divulgação de pesquisa
acadêmica/científica das humanidades, sob acesso aberto, produzida em
parceria das mais diversas instituições de ensino superior no Brasil. Conheça
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