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Divisão de Editoração Marcos Kazuyoshi Sassaka

Marcos Cipriano da Silva


Paulo Bento da Silva
Cristina Akemi Kamikoga
Luciano Wilian da Silva
Solange Marli Oshima
Revisão de Língua POl'luguesa Raul Pimenta
Capa - arte final Luciano Wilian da Silva
Marcos Kazuyoshi Sassaka
Hevisão geral André Porto Ancona Lopez
Projeto gráfico e Editoração Marcos Cipriano da Silva
Normalização Biblioteca Central - UEM
Fonte Bodoni
Tiragem 500 exemplares

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Biblioteca Central - VEM, Maringá

Tomanik, Eduardo Augusto


T6550 O olhar no espelho: "conversas" sobre a pesquisa em Ciências Sociais /Eduardo
Augusto Tomanik, -- 2. ed. rev. -- Maringá : Eduem, 2004.
239 p.
Livro indexado em Geodados.
http://www.geodados.uem.br
ISBN 85-85545-84-4
1. Ciências Sociais - Metodologia de pesquisa. 2. Pesquisa participante. 3.
Pesquisa social - Alternativas.1. Título

CDO 21. ed. Cd. 300.72


Zenaide Soares da Silva eRB 9/1307

Copyright ©1994 para Eduardo Augusto Tomanik


Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer
processo mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a
autorização, por escrito, do autor.
Todos os direitos reservados desta edição 2004 para Eduem.
Aos meus aluuos
Endereço para correspondência:
(com eles aprendo)
Eduem - Editora da Universidade Estadual de Maringá
Av. Colombo, 5790 - Campus Universitário, 87020-900 - Maringá-Paraná-Brasil A Geni e Marcela
Fone: (OXX44) 261-4527/261-4394 Fax: (OXX44) 263-5116
(com elas cresço)
Site: hnp://www.eduem.uem.br - E-mail: eduem@uem.br
CAPÍTULO
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ALGUMAS NOÇÕES PRELIMINARES


SOBRE A CIÊNCIA: POR QUE
PESQUISAR?

Desde Descartes, no século XVIl, a ciência vem ensuuuulo-nos a


dominar a natureza. Parece ter conseguido seu intento com
muito êxito, pois já trata de dominar o próprio homem. Todavi-
a, ainda não conseguiu ensinar-nos como dominar a domina- .vou
ção (Japiassu, 1981, p. 46). \

Você está entrando pela primeira vez em um curso sobre ciência e


pesquisa, ou tendo contato pela primeira vez com um texto específico
sobre o assunto?
Seja bem-vindo.
Eu poderia acrescentar a esta saudação a fórmula usual do "sinta-se
como se estivesse em sua casa", mas esta frase, com certeza, exprimiria
muito mais um desejo meu que uma sensação sua.
Provavelmente, a sua impressão em relação à ciência é de estra-
nheza ou até de um certo temor. No mínimo de falta de familiaridade
com o assunto:
Se for feita, agora; uma pergunta sobre o que você sabe sobre ciên-
cia," provavelmente, sua primeira tendência será a de responder que não
1 ALGUMAS NOÇÕES PRELIMINARES SOBRE A CIÊNCIA o OLHAR NO ESPELHO
)

sabe nada, e que nos lugares onde estudou até agora não se falou, ou se \} Primeira. As ciências pretendem ser uma forma de conhecimento
falou muito pouco sobre isso. Se for assim, permita-me discordar. da realidade. Ora, tanto o ~do físico (o mundo dos organismos e dos
Tenho a impressão que você sabe muito mais sobre ciência do que fenômenos naturais; das rochas, metais e gases; dos planetas e dos áto-
pode parecer à primeira vista. Todos nós temos entrado em contato com mos, dos sistemas estrelares e dos microorganismos) quanto o mundo
a ciência há muito tempo e com grande frequência, participando dos social (das organizações coletivas e processos humanos, das culturas e
progressos e contradições que ela produz e até conversando, ainda que dos desejos individuais, do trabalho e das revoluções) estão em contínuo
de forma indireta, sobre o que venha a ser ciência e para o que ela processo de transformação. A realidade não é estática, e, por isto, os
serve. conhecimentos sobre ela devem ser capazes de acompanhar, de refletir
Pois é sobre isso que conversaremos logo a seguir (até onde for pos- estas mudanças.
sível "conversar" através de um texto escrito). Segunda. O próprio avanço das ciências e das tecnologias contribui
Por outro lado, pode ser que este não seja o seu primeiro curso ou para abrir novos campos e formas de pesquisa. Aparelhos submarinos e
texto sobre estes temas. espaciais, microscópios e radiotelescópios são apenas exemplos de
Seja bem-vindo da mesma forma, e vamos ao assunto. equipamentos que alargaram os horizontes das pesquisas científicas e
permitiram ao homem obter informações novas, capazes, por sua vez,
de exigir que os conhecimentos desenvolvidos e acumulados anterior-
A CIÊNCIA mente fossem alterados.
Mesmo o uso de equipamentos simples, como os gravadores portá-
Antes de falarmos sobre a ciência, é conveniente tentarmos enten- teis, contribuiu, por exemplo, para que os cientistas sociais pudessem
der, mesmo que de forma superficial, o que é a ciência. realizar análises mais minuciosas e precisas de discursos bastante lon-
Fazendo isto, estaremos começando, talvez, pelo ponto mais difícil; gos, e com isso abriu novas possibilidades de estudo. Conseqüentemen-
te, contribuiupara alterar os corpos de conhecimentos já existentes.
[... ] por incrível que pareça, não há coisa mais controversa em ciên-
Nas ciências sociais.trnuito mais do que o uso de equipamentos, !!O,-
cia que sua própria definição. Partimos, pois, do ponto de vista de
vas formas de_pesquisa,'envolvendo a participação direta do pesquisa-
que se trata de uma discussão insolúvel, pelo menos no sentido de
que não se pode atribuir em momento algum a ela uma posição defi- dor na situação pesquisada, têm possibilitado avanços importantes na
niLiva (Demo, 1980, p. 13). discussão dos processos sociais e humanos. Esses avanços, embora não
recebam, via de regra, a mesma divulgação dada às conquistas tecnoló-
Essa controvérsia e esta impossibilidade de que seja adotada uma gicas, são importantes o suficiente para determinarem novos rumos para
definição única e permanente de ciência não se deve à incapacidade os estudos que envolvem o homem.
dos cientistas de chegarem a um acordo, nem à paixão deles pela polê- Terceira. Os conhecimentos científicos não são aceitos unanime-
mica e discussão, mas ao caráter dinâmico que a ciência deve ter para mente dentro da própria ciência. É bastante comum que afirmações
que se possa constituir num corpo de conhecimentos efetivo e útil. Tal- feitas por um cientista, e baseadas em suas pesquisas e reflexões, sejam
vez seja conveniente explicar isto. questionadas por outros cientistas. Estes questionamentos podem colo-
A ciência não deve ser um agrupamento estático de teorias ou leis car em dúvida tanto a adequação dapesquisa para se chegar àquelas
por uma série de razões. Dentre estas, podemos destacar quatro, ape- afirmações, quanto a veracidade das afirmações, mesmo quando base a-
nas como ilustração. das-numa boa pesquisa. Às vezes podem servir, também, para que um

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~
1 ALGUMAS NOÇÕES PRELIMINARES SOBRE A CIÊNCIA o OLHAR NO ESPELHO

cientista revele, de forma "acadêmica", suas desavenças pessoais com ses textos você poderá ver referências aos objetos, métodos e objetivos
outro. das ciências em geral, ou de uma ciência específica. Vamos tentar en-
~
De qualquer forma, a critic~é importante dentro da ciência, já que os tender cada um destes termos.
processos de verificação que se originam dela podem servir tanto para refu-
tar afirmações que se mostrem inadequadas, quanto para reforçar o valor
daquelas que puderem ser confumadas. Mesmo estas, porém, estão sujeitas o OBJETO
a novas criticas e a novas verificações, que podem chegar a reforrnulá-las.
O objeto de uma ciência é aquilo a que ela se propõe a conhecer; é
Quarta. Os conhecimentos reunidos sob o título de ciência são re-
a parte da realidade sobre a qual ela pretende realizar seus estudos.
cursos desenvolvidos pelo homem, através da história, para suprir suas
O universo em que vivemos, a realidade que construímos e os seres
necessidades e aspirações. Na medida em que estas se alteram, os obje-
em que nos transformamos são entidades complexas demais para serem
tivos específicos da ciência também podem sofrer alterações, o que faz
conhecidas e compreendidas por uma mesma pessoa, ou para serem
com que os procedimentos aceitos como adequados e os critérios de
estudadas em sua totalidade. Frente a estas dificuldades, o caminho
definição do conhecimento científico, tidos como válidos num período
histórico, possam ser modificados em outro. adotado pela ciência tem sido o de dividir a realidade em partes, e de-
senvolver áreas de estudos especializadas em cada uma delas, originan-
Por razões como estas é que os limites das ciências estão sempre
do assim as diversas ciências. Freqüentemente acontece que uma destas
sendo discutidos e avaliados, o que torna impossível se ter uma defini-
ciências chega a desenvolver conhecimentos tão complexos sobre sua
ção única e permanente, e faz com que grupos diferentes de cientistas
área, ou a descobrir variações tão importantes dentro desta, que se
adotem e procurem demonstrar como adequadas definições diferentes,
subdivide, dando origem a novas ciências. Outras vezes é a combinação
e às vezes até conflitantes, sobre os limites da ciência e as formas ade-
de duas áreas de estudo que permite o surgimento de uma terceira.
quadas para a obtenção ou o desenvolvimento dé conhecimentos cientí-
ficos. Neste processo de divisões sucessivas, cada ciência vai delimitando
sua área específica de estudo, ou seja, vai-se dedicando a conhecer,
Assim, adotar de início e sem uma reflexão mais aprofundada uma
cada vez mais a fundo, determinada parte da realidade. Vai definindo
definição qualquer, pode fazer com que alguém, que esteja se iniciando
no mundo das ciências, deixe de perceber toda a complexidade e o (e às vezes redefinindo) seu objeto.
dinamismo desse mundo e passe a acreditar que a única ciência possí-
É preciso não confundir os objetos de estudo das ciências (divisões arti-
vel (ou válida) é aquela contida na definição adotada. ficiai;ja realidade) com os fenômenos e processosnaturais ou sociais.
É preferível que você procure ler e analisar algumas definições di- ~m mesmo fenômeno pode ser obíeto ae varias ciênciaslUm fura-
ferentes, que tente descobrir em quê elas diferem e as razões que po- cão, por exemplo, pode estar presente nos estudos da meteorologia
dem levar os cientistas a adotar esta ou aquela definição. Embora esta (interessada em determinar sua origem, seu deslocamento e em medir
não seja uma tarefa fácil, especialmente para um iniciante, realizá-Ia ~ sua intensidade), da economia (preocupada com os prejuízos causados
pode determinar a diferença entre simplesmente ter alguns conhecimen- f por ele), da engenharia (tentando desenvolver edificações que resistam
tos sobre a ciência e compreender o processo científico. \j à sua passagem) e até das ciências sociais como a antropologia, a socio-
De qualquer forma, quer você queira se dedicar a esta tarefa ou logia ou a psicologia (preocupadas, por exemplo, com as formas que ele
não, algumas informações básicas podem lhe ser úteis, até para enten- assume no imaginário das populações por onde passa ou o papel que
der o conteúdo dos textos que falam sobre a ciência. Em cada um des- representa na organização dessas populações).

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1 A L C UMA 1 N o ç Õ E 5 P R E L I M I N A R E 5 . S,? B R E
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A C I Ê N C I A o OLHAR NO ESPELHO

Se tomarmos como' ex~mplo o homem, veremos que ele é um objeto tação que permit~ aos cientistas compararem seus estudos e checarem
presente nos estudos de praticamente todas as ciências, mesmo que de suas conclusões. E preciso que fique claro o que está sendo estudado, e
forma indireta. qual o enfoque adotado, para que se possa saber se duas pesquisas ou
Por outro lado, dentro da definição do objeto de uma ciência podem teorias se referem ao mesmo aspecto da realidade e podem, portanto, ser
estar presentes fenômenos e processos que seriam considerados como to- comparadas, para se somarem, ou para divergirem entre sí. O próprio
talmente diferentes por outra classificação. A 6í1fSill~
fí~ic~)que permite a desenvolvimento de uma ciência depende, então, de uma definição clara,
fabricação de bombas de fissão ou de fusão nuclear pode estar presente na ainda que provisória, de seu objeto de estudo.
produção de alimentos. Uma brincadeira de crianças ou uma guerra mun-
dial podem estar sendo estudadas ao mesmo tempo pela psicologia. Estas
duas ciências, assim como a química, a biologia, a sociologia ou a história o MÉTODO
(entre outras) podem ter partes de suas atenções voltadas, por exemplo,
para as viagens espaciais e as olimpíadas, simultaneamente. No momento em que adota determinado aspecto da realidade como
Podemos dizer, então, que, ao definir seu objeto de estudo, uma ciência seu objeto de estudo, cada ciência procura, paralelamente, desenvolver
não está selecionando quais processos ou fenômenos vai estudar, mas quais procedimentos capazes de lhe permitir conhecer aquele objeto. Esses
os aspectos destes ou de outros processos e fenômenos vão ser enfocados procedimentos são os métodos.
por ela. Se dissemos que o objeto de cada ciência)é~ela se propõe a
Tome como exemplo de um processo a vida em sociedade. Diferentes conhecer, podemos dizer que os métodos indicam como ela se propõe
aspectos desta podem ser estudados pela antropologia, sociologia, a fazê-lo.
psicologia, história, economia etc. Cada uma delas vai enfocar o mesmo Um método, no entanto, não é apenas um conjunto de regras de
processo de forma diferente, centrando suas atenções naqueles aspectos que ação, na medida em que reflete tudo aquilo que os seus elaboradores,
se relacionem mais diretamente com seu interesse específico. ou os que o adotam, acreditam ou pensam saber sobre o objeto, antes
Convém sempre lembrar que estes cortes, realizados pelas ciências, mesmo de estudá-lo. Se me proponho a estudar um objeto qualquer
ao definir seus objetos, são artificiais, e que um fenômeno qualquer só através da observação.cestou não apenas adotando a observação comoJ.DJE' \
pode ser compreendido adequadamente quando os conhecimentos de- método, mas deixando claro que, na minha definição prévia sobre o ,) c
senvolvidos sobre ele pelas várias ciências são adequadamente reunidos objeto, estou aceitando a suposição de que ele tem características que
são observáveis, e que estas características são importantes a ponto de---'o/
e combinados. Isto não é uma tarefa fácil, já que, por vezes, estudos
\ que ele possa ser conhecido através delas.
desenvolvidos por ciências diferentes apontam para conclusões distintas
sobre um mesmo fenômeno. A controvérsia gerada por esse tipo de fato
o método científico é um conjunto de concepções sobre o homem, a
I pode levar décadas pm'a ser superada. De qualquer forma, a frase inicial
natureza e o próprio conhecimento, que sustentam um conjunto de
deste parágrafo deve ficar como um alerta contra o risco de que o cien- regras de ação, de procedimentos, prescritos para se construir co-
tista se feche em sua área de estudo, tornando-se um superespecialista, nhecimento científico (Andery et a1., 1988, p. 16).
e esquecendo que a realidade é algo muito maior do que aquilo que a
sua ciência permite conhecer. Assim, todos os fatores que possibilitam ou exigem transformações
Por outro lado, a definição de seu objeto de estudo é um processo nas definições das ciências e de seus objetos, atuam de forma seme-
fundamental para o desenvolvimento de uma ciência, já que é esta delimi- lhante sobre os métodos.

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1 ALGUMAS NOÇÕES PRELIMINARES SOIilRE A CIÊNCIA
o OLHAR NO ESPELHO
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Este é um ponto que merece ser pensado com cuidado: grande parte
Da mesma forma que a definição do objeto, a discussão sobre os
métodos é de extrema importância para o desenvolvimento dos conhe- da atividade dos cientistas (daqueles que exercem uma profissão baseada
cimentos, já que é ela que permite avaliar/a adequação de cada afirma- em conhecimentos científicos) consiste em procurar a afirmação que tenha
! ção, de cada nova frase ou fórmula que se proponha a ser uma descrição maiores chances de refletir conetamente uma situação problemática, de
descrever com maior fidelidade um determinado acontecimento. Isto é váli-
1 de um fenômeno ou processo, sejam eles naturais ou sociais.
Lançar uma afirmação qualquer é algo muito fácil. Posso afirmar o do tanto para aqueles que se dedicam à pesquisa (a fase da ciência nor-
que quiser, a respeito de qualquer coisa. Difícil é elaborar uma afirma- malmente destinada à descoberta ou à elaboração de novos conhecimentos)
ção capaz de refletir, com algum grau de fidelidade, uma parte do quanto para os que procuram aplicar a situações práticas os conhecimentos
I
objeto que estou estudando, uma afirmação que me permita compreen- obtidos através da pesquisa.
der melhor a estrutura, o funcionamento ou as relações deste meu obje- Se nos detivermos um pouco sobre esta questão, veremos que procurar
to com a realidade onde ele se encontra. Igualmente difícil é verificar se elaborar roas descrições de situaçõeS) é uma necessidade não só para o
uma afirmação qualquer possui essas qualidades. cientista, mas para qualquer cidadão, preocupado com problemas cotidia-
O caminho para superar estas dificuldades passa pelo estudo dos nos. Qualquer situação para ser compreendida (ou alterada) precisa sE
r - descrita de uma forma tal que permita aos interessados nela ter ao menos
métodos.
"\
,,)C' I ~ Isoladamente, qualquer afirmação, feita por qualquer pessoa, pode uma idéia aproximada de sua dinâmica, de seus componentes e das rela-
c t ~,. ções entre eles. Tentar elaborar descrições coerentes e rigorosas de realida-
( ter o mesmo valor. As diferenças começam a se tornar claras quando são
r,..",/ ,("avaliadas as bases de cada afirmação) O conhecimento dos passos que des específicas não é tarefa exclusiva dos cientistas: ''[. ..] rigor e lógica não
foram dados, das informações 'que foram colhidas e das formas como o demarcam ou caracterizam o pensamento científico, já que são condições
,--,\I foram, dos raciocínios realizados e das bases sobre as quais eles foram necessárias em qualquer discurso inteligente" (Castro, 1978, p. 1).
elaborados, do momento e do local, da situação concreta na qual a afir- Ora, se o conhecimento dos diferentes métodos pode nos auxiliar a
mação foi elaborada, e (se possível) das intenções do seu autor, me perrni- elaborar melhores descrições, a desenvolver afirmações com maior grau
~ tem ter uma visão bem mais clara sobre o valor de cada afirmação. de fidelidade à situação a que se referem, o estudo da metodologia (a
1/ Este procedimento de avaliação dos métodos de elaboração de uma parte das ciências que se ocupa da descrição, análise e avaliação dos
afirmação nos permite distinguir facilmente as afirmações bem funda- métodos) pode ser de grande utilidade para qualquer pessoa. Para as
mentadas, daquelas que representam meros palpites do seu autor. pessoas-cientistas, ele é mais do que útil; é indispensável.
Outra forma de se avaliar 1ma afirmação é colocá-Ia em confronto A ciência não pode ser feita apenas com a metodologia, mas tam-
com a realidade que ela pretende refletir, Via de regra, quanto melho- bém não pode passar sem ela já que, como vimos, são os métodos gu~_
res forem os processos utilizados para a elaboração de um conhecimen- favorecem o desenvolvimento de afirmações e possibilitam sua avalia-
to, maiores serão as chances de que ele consiga refletir corretamente o ção. Além disso --~
, L»
aspecto estudado. "É comum dizer-se que os resultados de uma pesqui-
sa não podem ser melhores que os métodos empregados para sua ob- embora a Metodologia não deva ser supervalorizada, por ser apenas
tenção" (Newcomb, 1974, p. 1), uma disciplina instrumental, desempenha papel decisivo na forma-
ção do cientista, à medida que o faz consciente de seus limites e de
Como você pode ver, os métodos não são apenas formas de ava-
suas possibilidades. Pode-se mesmo dizer que a mediocridade e a
liar afirmações, mas são também caminhos para se chegar a estas
falta de preocupação metodológica coincidem (Demo, 1980, p. 13).
afirmações:
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1 ALGUMAS NOÇÕES PRELIMINARES SOBRE A CIÊNCIA 'O
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Os OBJETIVOS merecer a ciência, mas apresentá-Ia como o que ela é: uma atividade
humana, elaborada por seres humanos e passível de ser influenciada e ';,
o estudo dos objetos, através da aplicação dos métodos, visa atingir transformada por eles. Os objetivos das ciências são os objetivos do
determinados fins. Estes fins são os objetivos da ciência. homem. Cabe a ele (cientista ou não) lutar para que estes objetivos
É ingênuo pensar que as ciências visam apenas ao conhecimento sejam melhores, ou menos egoístas.
em sí, ou a satisfazer uma ânsia natural do homem pela aquisição do O fato de que a ciência é um auxiliar eficaz na luta para se atingir
saber. Idéias como estas podem colocar as ciências e os cientistas num estes objetivos, já é uma das razões para estudar, entender e praticar a
altar de "pureza", numa situação de distanciamento da realidade social ciência. Mas há outras razões para isto.
e humana que eles não devem e não podem ter. A busca _~~ conheci-
mentos científicos não se fecha sobre sí mesma, é uma atividade reali-
zada sempre como forma, __Q.Q.J;nol11~jo para se atingir oll..tms,.J!!!s ALGUMAS RAZÕES PARA COMPREENDER
exteriores a ela.\:"- ciência nãoé algo diferente daquilo que os cientistas (E PRATICAR) CIÊNCIA
fazem, e os cientistas não são seres diferentes dos demais. Mesmo o
cientista que se coloque como alguém que trabalha "pelo bem da hu- Vivemos num mundo científico. A participação da ciência em prati-
manidade" vai e~, inevitavelmente, adotando uma definição sobre o camente todas as nossas ações é tão grande que tende a passar desper-
que seja este "bem", e colocando seu trabalho a favor deste objetivo. cebida, mas tente olhar ao seu redor, ou a rememorar as ações que
Além disso, nem sempre os objetivos da ciência (quer dizer, dos ci- você realiza diariamente, e procure eliminar aqueles objetos nos quais
entistas) são tão genéricos ou altruístas assim. Nem sempre são louvá- há a participação de conhecimentos obtidos ou reformulados através das
veis. Fabricar bombas atômicas ou desenvolver pesquisas sobre armas ciências. Restou pouca coisa, se é que restou algo, não é mesmo?
bacteriológicas (entre outras) são atividades que dificilmente poderão Claro, a ciência, tal como a definimos hoje, é um processo relativa-
Iv. ser classificadas como benéficas à humanidade como um todo. São mente novo na história, e ao seu redor existem, provavelmente, objetos
- '\) muito mais ligadas ao desejo de determinado grupo humano de se im- cujas formas e funções básicas foram desenvolvidas muito antes da
por aos demais. existência da ciência moderna. Cadeiras, mesas e papel são artefatos
Aliás, a existência de situações diferenciadas de poder e de domi- que vêm se mantendo presentes na vida do homem há muito tempo.
;.
nação entre grupos humanos se reflete claramente na determinação dos Além disso, a história das civilizações humanas nos mostra sempre o
• objetivos da ciência em cada período da história. Já tivemos conjuntos homem cercado de artefatos e conhecimentos .sobre a natureza. Nada
de conhecimentos denominados como "ciência" tendo como objetivos a mudou, então?
adequada adoração de Deus - no período em que a Igreja Católica O que diferencia nossa época das anteriores não é só a quantidade,
a diversidade e a complexidade dos conhecimentos acumulados, mas a
dominava praticamente todo o mundo ocidental-, o extermínio de ra-
ças consideradas "inferiores" e o aprimoramento da raça "superior" _
na Alemanha Nazista e em uma série de outros regimes racistas mais
~) forma deliberada e sistemática como eles vêm sendo produzidos e orga-
\. nizados e, mais ainda, a intenç~o)ontida nesta produ~<0Nunca houve
disfarçados -, e o domínio econômico, baseado no avanço tecnológico _ uma parcela tão grande da população envolvida exclusivamente com a
em praticamente todo o mundo de hoje. produção e a difusão de conhecimentos, nem parte tão substancial das
Talvez, o panorama que estou traçando possa dar uma visão pessi- riquezas produzidas foi investida nestas tarefas. Paralelamente, nunca a
mista sobre a ciência e seu papel. Minha intenção, contudo, não é des- busca de novos conhecimentos esteve tão comprometida com a obten-

, ....\ - -!. ~
22 23 Ir--~
ALGUMAS NOÇÕES PRELIMINARES SOBRE A CIÊNCIA o OLHAR NO ESPELHO

ção de lucros ou outras formas de dividendos quanto está a ciência de A quantidade de vezes que usamos, em nossas falas cotidianas, pa-
hoje, vinculada às diferentes formas capitalistas de atuação sobre a lavras como realmente, objetivamente, concretamente e outras, de uso
realidade. típico nos jargões científicos, demonstra também a influência do modo
~
Como conseqüência disso, qualquer ação do homem de hoje é me- científico de pensar e o valor que atribuímos a ele mesmo em nossas
diada por objetos ou técnicas desenvolvidos através da ciência. Mesmo atividades não ligadas diretamente à ciência
objetos e técnicas antigas têm passado por estudos e reelaborações que Todos estes dados apontam para a necessidade de se conhecer
os adaptam às exigências (e conveniências) de hoje. ciência.
A ciêncià, contudo, não é só tecnologia, não se limita a produzir \. Nossa vida está de tal forma influenciada pela ciência que esta tal-
máquinas e objetos. Na medida em que estuda assuntos tão diversifica- vez seja a melhor razão para estudá-Ia. Mesmo que não tenhamos inten-
d~s quanto a previsão do tempo e a organização social, os efeitos do ção de conhecer a fundo a ciência, entendê-Ia é um requisito
• desmatamento, a energia atômica e o comportamento humano, além de indispensável, hoje, para quem pretenda entender o mundo em que
~.f ',I inúmeros outros, a comunidade científica tem-se constituido num parti- vivemos. Se a ambição for maior, e se pretendermos participar desse
~ipante destacado na elaboração e aplicação de políticas sociais, ambi- mundo, então apenas entender a ciência pode não bastar.
entais, militares, de produção industrial ou agrícola, enfim, tem papel Mesmo que não mereçam uma confiança tão grande e irrestrita
~~ destacado na estruturade g~a sociedad..f. -- quanto aquela que a sociedade tem depositado neles, os conheci-
• mentos acumulados pela ciência e as formas de investigação desen- ~. )
Através da história, tivemos sociedades aristocráticas, teocráticas e
algumas até democráticas. Hoje, sem deixar de obedecer a algumas volvidas por ela têm-se constituido em recursos bastante eficazes
dessas formas de poder, nossa sociedade caminha ~<l.t!, largos para para a resolução de problemas. Aliás, descobrir soluções para pro-
se constituir no que poderíamos chamar de umaésofocrac~', tal a im- blemas é a função da ciência, e nisto ela tem se mostrado extrema-
portância atribuída aos cientistas e seus conhecnnemus, e o grau de mente competente.
utilização destes últimos. Esta é mais uma das razões 'pelas quais conhecer a ciência é
Se é desejável a adoção desta forma de poder/baseada no conheci- uma atividade importante, mesmo para o público leigo, aquele não
__ o ./

mento científico ou se a "ditadura do saber" pode representar a maior envolvido diretamente com a produção e difusão dos conhecimen-
ameaça possível à dignidade e aos direitos do ser humano é algo discu- tos científicos. Para quem pretende realizar, seriamente, um curso
tível, e que, aliás, precisa ser discutido com urgência. universitário, e com isso se tornar um profissional de "nível supe-
O que não se pode negar é que nossa sociedade não só é depen- rior" (veja de novo, aí, a importância atribuída à ciência) o conhe-
~ cimento profundo da ciência é um requisito básico. A própria
dente da ciênci~ como assimilou o modo científico de pensar como o
modo de pensasi?\ lógica da ciê~i~, que existe juntamente com outras existência dos cursos universitários só alcança seu sentido primor-
lógicas (religiosas, populares, filosóficas, artísticas etc.) tem ofuscado as dial se relacionada à realização de pesquisas e à elabor~ção- de-I
demais, a ponto de ser tida como 'inegável. Isto pode ser percebido na novos conhecimentos:

forma como argumentos do tipo "pesquisas demonstraram que ... " ou "a
fSó~~I~-;;;;n§inar laqueie que, por meio da pesquisa, construir
.ciência afirma ... " são usados para encerrar discussões (ou para impedir
uma personalidade própria científica, aquele que tem uma contribui-
que elas surjam). Quantos se atreverão, hoje, a constestar um argumen- ção original; caso contrário, não vai além de narrar aos estudantes o
to que comece pela frase "fulano de tal diz que ... ", quando este tal de que leu por aí. E se atribuirmos à universidade um compromisso
fulano é um cientista reconhecido como competente? com a comunidade em que está inserida, para que não fique apenas

24 25

••..•......
1 ALGUMAS NOÇÕES PRELIMINARES SOBRE A CIÊNCIA o OLHAR NO ESPELHO
-J

na teoria, mas consiga descer à prática, isto se consegue da melhor PARA FAZER
ALGUMAS DIFICULDADES
maneira possível, se a intervenção na realidade estiver baseada em
pesquisa prévia, porque não se pode influenciar o que não se conhe- CIÊNCIA
ce (Demo, 1980, p. 7).
Não há dúvida que a atividade científica, se levada a sério, repre-
,:\ Mesmo para os universitários que não pretendam seguir a carreira senta sempre um caminho árduo, semelhante ao de outras atividades
acadêmica (e que são a maioria), o conhecimento das teorias e das for- profissionais exercidas com seriedade; e com frequência apresenta difi-
mas de investigação próprias de sua área são tão importantes quanto, ou culdades bem maiores do que as apresentadas por estas últimas. O
até mais do que, a aprendizagem de técnicas de atuação. Entre outras tempo mínimo para a formação básica de um cientista costuma ser bas-
razões porque para ter uma atuação coerente e eficaz frente a uma situ- tante longo. Do momento desta formação até que ele venha a desenvol-
ação específica, o profissional precisa basear todas as suas ações num ver uma produção própria pode decorrer um periodo ainda maior. Isto
conhecimento profundo da realidade onde ocorreu aquela situação. E a já é uma dificuldade considerável. .
forma mais segura para se obter esse conhecimento ainda é a pesquisa Outra, não tão grave, mas bastante desagradável, é a convivência
científica. com a burocracia. Via de regra, o cientista dedicado à pesquisa não é
um trabalhador autônomo, mas contratado por instituições públicas ou
particulares. Em todas elas os procedimentos administrativos (nem
• Uma pesquisa sistemática é necessana no sentido de prover um a-
sempre eficazes) costumam tomar um tempo enorme de quem preferiria
cervo de conhecimentos para melhor aplicá-Ias, especialmente aque-
les que são provenientes da ciência social (Likert; Lippit, 1974, dedicar este tempo às atividades propriamente científicas. Especialmen-
p.618). te no caso das universidades públicas, você não imagina a quantidade
de folhas de papel que têm que ser gastas e a variedade de relatórios
...• Infelizmente, uma parte muito grande dos cursos universitários têm que têm que ser preenchidos antes que se consiga obter as folhas de
,/' ~apresentado falhas nestas duas atividades: a elaboração de conhecimen- papel necessárias para a elaboração do relatório final. Em todo caso, há
9'" .. {.\. \.h' tos e a formação de profissionais capazes de realizar, autonomamente,
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até cientistas que gostam dessas atividades... ./
, novas elaborações. Um ensino que se limita a reproduzir fórmulas já Um outro fator que torna árdua a atividade científica é o fato de (j
" existentes tem uma alta probabilidade de gerar profissionais capazes que ela não pode, em hipótese alguma, ser uma tarefa individual. A
:, apenas de serem novos repetidores. idéia do "gênio", "pai" de uma descoberta ou teoria, esconde muito o
Há um ditado popular que, a meu ver, serve bem para ilustrar esta fato de que qualquer avanço da ciência representa sempre a soma de
situação: se a única ferramenta que você conhece é o martelo, tudo o muitos esforços, de inúmeros pequenos progressos, obtidos cada um
que cair na sua mão vira prego, ou seja, se o seu conhecimento teórico deles, a partir de um sem-número de tentativas fracassadas e de umas
e metodológico é limitado, você não só terá dificuldade em distinguir poucas bem sucedidas.
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entre duas situações semelhantes mas não iguais, como, se conseguir Com esta afirmação, em primeiro lugar, estou procurando dizer que
distingui-Ias não conseguirá elaborar formas de ação adequadas a cada
[... ] as Histórias Gerais e as Histórias da Ciência, seja por problemas
uma. Talvez o martelo seja uma boa ferramenta para alguns trabalhos
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de espaço ou superabundância de outros dados informativos, noticiam
i . com madeira ou ferro, mas para vidro ...
apenas os êxitos científicos, deixando de conscientizar os leitores de que
Pense nisto antes de tentar fazer seu curso e, especialmente, as dis- quase todos os sucessos da ciência foram precedidos de inúmeros
ciplinas ligadas à metodologia de pesquisa, da forma mais fácil. .. fracassos (Régis de Morais, 1983, p. 21).

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1 ALGUMAS NOÇÕES PRELIMINARES SOBRE A CIÊNCIA o OLHAR NO ESPELHO
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Além disso, embora seja relativamente comum que os. cientistas atividade disciplinada e contínua para o desenvolvimento da ciência.
procurem descobrir as causas que levaram ao fracasso ou ao abandono Alguém até já disse que a pesquisa científica é uma atividade composta
momentâneo de determinada linha de pesquisa, é muito raro que algum 01' 10% de inspiração e 90% de transpiração.
deles se disponha a publicar relatos e análises de tentativas frustradas. p Como já vimos, o es f orço doo ci - se resume ao momento d a
cientista nao
Esta atitude, embora humanamente compreensível, favorece a que ou- realização da pesquisa. Ele começa muito antes, na aquisição e desen-
tros cometam os mesmos erros, por desconhecerem os antecedentes; ao volvimento das condições mínimas para se chegar a este momento. Um
mesmo tempo, serve para reforçar a idéia de uma ciência constituída bom preparo teórico e domínio metodológico são requisitos indispensá-
apenas por sucessos. veis e não são conseguidos facilmente. Além desses requisitos, penso
Em segundo lugar, quero alertar para o fato de que o conhecimen- que é conveniente ao cientista ter uma grande disposição para mudan-
to, especialmente o científico, não se desenvolve a partir do nada, da ças e um grau relativamente alto de resistência à frustração.
pura inspiração. Embora a criatividade seja uma característica quase Apesar dessas dificuldades todas (ou talvez justamente por elas) o
imprescindível para o desenvolvimento da ciência, este não se dá ape- mundo da ciência é fascinante. A atividade de pesquisa, quer para a
nas a partir dela. construção de teorias, quer para a resolução de problemas, tem sempre
Tem havido uma ênfase excessíva, a meu ver, na divulgação de algo de aventura, de um salto ao desconhecido.
lendas como as que envolvem as descobertas de Arquimedes, realizada
Tem sentido pesquisar apenas aquilo que ignoramos, aquilo sobre
durante um banho, ou de Newton, quando uma maçã lhe caiu na cabe-
o que temos dúvidas. O maior problema da ciência é a realidade/,
ça. Não acho importante saber se tais fatos realmente ocorreram. Im-
tanto no sentido dc que ela tem como questão central atingir a re~-
portante é perceber que, se nos concentramos no momento da lidade da melhor maneira possível, como no sentido de que est~ ,/
descoberta, corremos o risco de ignorar, por exemplo, que: a) antes atingimento é sempre apenas parcial c imperfeito. Por isto estu- -
desse momento já havia, por parte do "descobridor", uma preocupação damos, porque a rcalidade nunca estará suficientemente estudada
com um problema, e uma disposição em resolvê-lo; b) mais que isso, (Demo, 1980, p. 13). !
havia também todo. um corpo de conhecimentos sobre o assunto, desen-
volvido através de anos e anos de estudos e reflexões por outros pesqui- Aí se unem as razões práticas, coletivas, às pessoais, emocionais
sadores, e que provavelmente se tornou conhecido pelo "descobridor" para o aprendizado da ciência, e para a aplicação desse aprendizado.
às custas de outros anos de leituras e de mais reflexões; c) foram estes Além disso, num mundo em que os conhecimentos científicos es-
antecedentes que permitiram ao cientista ter preocupações com o pro- tão tão intimamente relacionados às questões políticas, conhecer a
blema, e perceber, num acontecimento corriqueiro, a chance para a sua ciência e torná-Ia conhecida é, sem dúvida, uma forma de favorecer a
solução; quantas pessoas haviam tomado banho antes, ou levado pan- participação.
.cadas na cabeça, sem que a ciência tivesse evoluído um passo por isto?; Temos aí uma série de razões para que você se disponha a ingres-
d) além disso, não se pode deixar de lado o esforço desenvolvido após o sar no mundo das ciências. Há muitas outras. Pense nelas.
momento da inspiração, para traduzir aquela descoberta num enuncia-
do, jtuma afirmação clara e correta, e na verificação do valor dessa
afirmação.
Não estou querendo, com isto, ignorar ou menosprezar o valor da
capacidade criativa, mas destacar o papel do esforço sistemático, da

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-..c.

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