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CONSTRUINDO
uma
~
Educacao
,
ANTIRRACISTA
reflexões, afetos e experiências
CONSTRUINDO UMA
EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA:
reflexões, afetos e experiências
Editora CRV
Curitiba – Brasil
2022
Copyright © Autoras e Autores
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Designers da Editora CRV
Imagem de capa: rawpixel | Freepik
Revisão: Autoras e Autores
C743
Construindo uma educação antirracista: reflexões, afetos e experiências / Neli Edite dos
Santos (organizadora), Fernanda Cássia dos Santos, Gabriela Martins Silva, Léa Aureliano de
Sousa (colaboradoras). – Curitiba : CRV, 2022.
408 p.
Bibliografia
ISBN Digital 978-65-251-3356-0
ISBN Físico 978-65-251-3355-3
DOI 10.24824/978652513355.3
Esta obra foi realizada com recursos do Edital Equidade Racial na Educação Básica:
Pesquisa aplicada e Artigos científicos, organizado pelo CEERT, em parceria com Itaú
Social, UNICEF, Instituto Unibanco e Fundação Tide Setubal.
2022
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
Tel.: (41) 3039-6418 – E-mail: sac@editoracrv.com.br
Conheça os nossos lançamentos: www.editoracrv.com.br
Conselho Editorial: Comitê Científico:
Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB) Altair Alberto Fávero (UPF)
Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN) Ana Chrystina Venancio Mignot (UERJ)
Anselmo Alencar Colares (UFOPA) Andréia N. Militão (UEMS)
Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Anna Augusta Sampaio de Oliveira (UNESP)
Carlos Alberto Vilar Estêvão (UMINHO – PT) Barbara Coelho Neves (UFBA)
Carlos Federico Dominguez Avila (Unieuro) Cesar Gerónimo Tello (Universidad Nacional
Carmen Tereza Velanga (UNIR) de Três de Febrero – Argentina)
Celso Conti (UFSCar) Diosnel Centurion (Univ Americ. de Asunción – Py)
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Este livro passou por avaliação e aprovação às cegas de dois ou mais pareceristas ad hoc.
Pareceristas convidados pela
comissão organizadora do livro:
Adalberto de Salles-Lima (UNB e SEEDF)
Adna Cândido de Paula (UFVJM)
Catarina de Almeida Santos (UNB)
Cláudio Eduardo Rodrigues (UFVJM)
Daniel Trevisan Samways (IFTM)
Fernanda Cássia dos Santos (UFU)
Florisvaldo Paulo Ribeiro Júnior (UFU)
PREFÁCIO
TRAVESSIAS PEDAGÓGICAS ANTIRRACISTAS: entre afetos,
reflexões e experiências ..................................................................................11
Rita Silvana Santana dos Santos
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
SEQUÊNCIA DIDÁTICA
a partir das histórias de seu povo, são algumas das reflexões e experiências
com as quais você poderá dialogar. Destaco ainda as possibilidades de refletir
acerca da educação existente para além das instituições educativas.
O livro é finalizado com “EXPERIÊNCIAS, afetos e reflexões”. Um
conjunto de artigos e sequências didáticas que expressam conhecimentos
advindos de práxis educativas antirracistas desenvolvidas em instituições
de ensino ou via implementação de políticas públicas em distintas regiões
brasileiras. Experiências envolvendo educação quilombola, gênero e relações
C��ST�����O ��A
��U�A��O �N�IR�A��S�A
NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO
BÁSICA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DE UBERLÂNDIA
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
DOS DESAFIOS EM ENEGRECER UMA
ESCOLA BRANCA: um olhar sobre o
racismo estrutural em práticas educacionais
Fernanda Cássia dos Santos
Gabriela Martins Silva
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
2 Para conhecer mais detalhes a respeito da construção dessa política de ação afirmativa, consulte: MACHADO,
L. A. de S.; SANTOS, N. E. dos; SANTOS, F. C. dos; SILVA, G. M. Trajetória de uma política: cotas étnico-
-raciais na Escola de Educação Básica da Universidade Federal de Uberlândia. Revista Educação e Políticas
em Debate, v. 9, n. esp., p. 905-920, 2020. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/revistaeducaopoliticas/
article/view/55604. Acesso em: 22 maio 2022.
3 Contemplado no Edital Equidade Racial na Educação Básica, promovido pelo Itaú Cultural, Instituto Unibanco,
Fundação Tide Setúbal, Fundo das Nações Unidas para a Infância e realizado pelo Centro de Estudos das
Relações de Trabalho e Desigualdades, o projeto foi redigido por Fernanda Cássia dos Santos, Gabriela
Martins Silva, Léa Aureliano Sousa Machado e Neli Edite dos Santos.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 21
4 Como já citado anteriormente, o Supremo Tribunal Federal, em 8 de junho de 2017, na Ação Declaratória
de Constitucionalidade nº 41, considerou a legitimidade da heteroidentificação como procedimento comple-
mentar à autodeclaração, a fim de exercer controle de fraudes e de contribuir para a garantia da efetividade
da política afirmativa voltada para pessoas negras.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 23
caiu de 30% no primeiro ano, 2020, para 12,5% e 12%, respectivamente, nos
anos seguintes, 2021 e 2022. Nesse processo, observamos que solicitações
de matrícula por cotas étnico-raciais (crianças pretas, pardas ou indígenas)
não homologadas na heteroidentificação, foram contestadas por famílias, na
forma de recursos administrativos, nos quais argumentaram pelo direito à
vaga com base no genótipo, na ancestralidade, a despeito do edital, que esta-
belece o enfoque no conjunto de características fenotípicas negroides. Dos
oito recursos recebidos nesses três anos de início da reserva de vagas para
negros/as no sorteio público para ingresso, sete apresentaram a presença de
pessoas negras na família como principal argumento, o que não corresponde
ao objetivo da política afirmativa de cotas no Brasil.
Com o projeto “Construindo uma escola antirracista”, visávamos a reali-
zação de ações educativas à comunidade externa para promover a compreensão
dos objetivos da política de cotas. Contudo, com a redução do número de
indeferimentos, entendemos que essa compreensão se deu, como vimos, antes
mesmo que as ações do projeto fossem iniciadas, uma vez que, em novembro
de 2020, data de início do projeto, o sorteio público para ingresso em 2021,
segundo ano de implementação de cotas étnico-raciais, já havia sido feito.
Uma explicação possível para essa redução pode ser a própria experiência do
primeiro ano de aplicação da política afirmativa na Eseba e das respostas das
comissões aos recursos a não homologação, as quais enfatizam o critério do
fenótipo negroide e a não contemplação do genótipo (ancestralidade).
Apesar disso, a partir da realização do projeto, conseguimos a mobili-
zação institucional para a produção de um vídeo-animação explicativo que
vem sendo divulgado juntamente com o edital, desde o sorteio público rea-
lizado em 2021, para ingresso em 20225. Essa produção se deu pela própria
Universidade Federal de Uberlândia, em diálogo com a equipe do projeto
e com a Comissão para a Diversidade Étnico-racial e Socioeconômica da
escola. Com isso, é possível que continue ocorrendo redução de indeferi-
mentos, incidindo em eventual prevenção de frustrações nas famílias que
5 Para conhecer as orientações às famílias, com maior ênfase no fenótipo negroide, acesse: https://www.
youtube.com/watch?v=sK_07avpyIk.
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Amar a negritude
Em 16 dezembro de 2020, realizamos primeira roda de conversa on-line
com famílias de estudantes que ingressaram na Eseba, nas modalidades crianças
pretas, pardas e indígenas e crianças pretas, pardas e indígenas oriundas de famí-
lias com baixa renda. Nosso objetivo era tornar os/as responsáveis pelas crian-
ças parceiros/as do projeto, de forma que as reflexões realizadas nos encontros
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 25
6 Trecho recuperado a partir de escuta e registro livre, feito pelas docentes, nas Rodas de Conversa, com
o objetivo de produzir pistas para as demais estratégias da pesquisa ação: intervenções pedagógicas dis-
centes; formação de professores e da comunidade em geral; grupo de estudos e pesquisa. Tais registros
não guardam correspondência exata com o dito no momento da interação.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 27
das ideias racistas nos pareceu ser a primeira tarefa sobre a qual precisaríamos
nos debruçar.
Tal como nos orienta Cavalleiro (2020), quando temos receio em falar
a respeito de diferenças étnicas e silenciamos a respeito delas, tanto em
casa quanto na escola, fortalecemos os discursos racistas que se ancoram na
falácia da democracia racial. Em uma sociedade racializada como a nossa,
inevitavelmente as crianças aprenderão a respeito das diferenças étnicas,
muitas vezes de forma violenta. Para as crianças negras, em especial, essa
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7 Neste livro, os capítulos intitulados “A minha, a sua, as nossas mãos: percepções sobre diversidade de cores
de pele por crianças da educação infantil e suas famílias” e “Pintando as cores da gente” trazem importantes
relatos e reflexões sobre essa intervenção e seus desdobramentos.
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posterior, um dos pais trouxe para o grupo o relato de que, a partir daquela
atividade, a filha passara a se reconhecer como negra.
Nas rodas de conversa seguintes8, as famílias continuaram trazendo situa-
ções de racismo vivenciadas, de modo a construir, naqueles curtos tempos,
momentos-espaços de acolhimento de dores provocadas pelo racismo de que
foram/são vítimas, mas também de fortalecimento do desejo de buscar formas
para que as histórias de violência racial não se repitam com suas crianças.
A necessidade de valorização da negritude foi um tema sempre presente.
escola era de 3% nos anos de 2019 e 2020, a taxa de reprovação deles chama
a atenção e se torna reveladora da reprodução de processos de exclusão, rela-
cionados ao racismo estrutural, pela escola.
Já as estudantes brancas foram a maioria dentre estudantes reprovadas/
os em 2019, representando 50% do total. Esses dados se alteraram de modo
significativo no ano de 2020, quando foi adotada a progressão automática para
todas/os estudantes que participaram das atividades remotas. Assim, foram
reprovadas/os, no total, cinco estudantes que não haviam participado das ati-
vidades remotas. Entre elas/es, três estudantes pardas, correspondendo a um
percentual de 60%. Nesse ano, não houve reprovação de estudante branca/o.
A presença de um número maior de estudantes negras dentre aquelas/es
reprovadas/os, em 2020, não é uma exclusividade da Eseba. Nesse sentido, a
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizada em 2020, revelou que
a quantidade de estudantes negros/as e indígenas sem atividade escolar era o
triplo da de estudantes brancos/as. No mesmo ano, o Geledés – Instituto da
Mulher Negra – realizou a pesquisa “A educação de meninas negras em tem-
pos de pandemia: o aprofundamento das desigualdades”, no município de São
Paulo, e levantou uma série de dados que apontam para o fato de que as meninas
negras foram as mais afetadas pela adoção do ensino remoto decorrente da
pandemia da covid-19. Os motivos, de acordo com a pesquisa, seriam inúmeros
e passariam pelas dificuldades de acesso à internet enfrentadas pelas famílias
negras, pelo fato de adolescentes negras assumirem atividades domésticas e
tarefas relacionadas aos cuidados de irmãos mais novos com maior frequência
que todos os outros grupos que participaram da pesquisa e pelos estereótipos
enfrentados pelas meninas negras desde a mais tenra idade, carregados de
racismo e de misoginia (GELEDÉS, 2021, p. 109-111). Assim sendo, a ausên-
cia de políticas públicas que atentem para as desigualdades enfrentadas pelas
meninas negras compromete seu percurso escolar e, no contexto da pandemia,
de forma especial, coloca-as em situação de maior vulnerabilidade que meninas
brancas e que meninos brancos e negros.
Já em relação ao acompanhamento pelas áreas de Psicologia Escolar e/ou
Serviço Social da escola, devido a queixas escolares nos anos de 2019, 2020
e 2021, temos uma maior proporção de meninos, 58%, do que de meninas,
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Resistências e enfrentamentos
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promovidas nos últimos anos no Brasil. Por meio de ações políticas, desde o
fim da ditadura militar, foi possível inserir na legislação curricular brasileira,
desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 23 de dezembro
de 1996, as seguintes disposições:
Pedimos que nossa filha não participe de aulas com conteúdos de matrizes
africanas, nem religiosos e/ou sob o cunho da tradição ou cultural, de forma
nenhuma. Somos evangélicos. [...] Assumimos toda a responsabilidade
por eventual prejuízo12.
12 Depoimento anônimo 1, registrado em resposta à questão: “Você discorda de algum conteúdo estudado por
seu/sua filho/a na Eseba? Qual?”.
13 Depoimento anônimo 2, idem.
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Não concordamos com usar termos religiosos durante as aulas, uma vez
que a escola é laica. Por exemplo, o Congado, que é movimento cultural,
porém de cunho religioso. Usar histórias de Orixás como elementos da
terra. Nada disso deveria ser tratado na escola14.
16 Cidinha da Silva foi ministrante na mesa de encerramento da “Semana preta: Anansi!”. Sua fala está dis-
ponível em https://www.youtube.com/watch?v=-BsmB_ZPes0&t=7s. Acesso em: 25 maio 2022.
17 Trecho de sua fala em entrevista disponível em: https://tvbrasil.ebc.com.br/estacao-plural/2017/06/escritora-
-conceicao-evaristo-e-convidada-do-estacao-plural produção. Acesso em: 25 maio 2022.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 41
18 Antônia foi uma das pessoas entrevistadas por Jeremias Brasileiro da Silva durante a elaboração de sua
tese de doutorado em História, defendida em 2019. O depoimento em que essa frase foi proferida data de
22 de julho de 2011.
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REFERÊNCIAS
ABRAMOWICZ, A.; OLIVEIRA, F. de. As relações étnico-raciais e a socio-
logia da infância no Brasil: alguns aportes. In: BENTO, M. A. S. (ed.). Edu-
cação infantil: igualdade racial e diversidade. São Paulo: Centro de Estudos
das Relações de Trabalho e Desigualdades – CEERT, 2012.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 59. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.
Introdução
Não consigo respirar.
(George Floyd, 25 maio 2020)
O Brasil já foi visto, por muitos anos, como um paraíso racial, um país
onde negros e brancos conviviam pacificamente. O antropólogo Gilberto
Freyre contribuiu bastante para difundir a ideia de “democracia racial”,
baseando-se sobretudo na existência da miscigenação étnica como fator
para tal harmonia. Ao contrário do que pregou Gilberto Freyre, em sua obra
“Casa Grande e Senzala”, e seus seguidores, a democracia racial não passa
de um mito. A experiência escravocrata, que perdurou por séculos, deixou
marcas profundas na sociedade brasileira, entre elas estão as atitudes racis-
tas e preconceituosas que atingem as pessoas negras cotidianamente e que
são apenas alguns dos aspectos que precisam de enfrentamento urgente na
sociedade brasileira.
Ao consultar a palavra “mito” nos dicionários, advém a seguinte defini-
ção: “Algo ou alguém cuja existência não é real ou não pode ser comprovada.
Conhecimento desprovido de verdade e sem fundamento, algo fantasioso,
lenda”. E, ainda, dando sequência à pesquisa, observa-se que a palavra “demo-
cracia” é definida como “Regime que se baseia na ideia de liberdade e de
soberania popular; regime em que não existem desigualdades e/ou privilégios
de classes: a democracia, em oposição à ditadura, permite que os cidadãos
se expressem livremente”. Por fim, o conceito de racial que provém de raça:
“categorização que pretende classificar os seres humanos, pautando-se em
caracteres físicos e hereditários”.
Considerando as definições acima, reforçamos que o termo faz referência
a uma situação fantasiosa, que nunca existiu no Brasil para o povo negro:
igualdade de direitos e de oportunidades, sem privilégios para uns em detri-
mento de outros. Domingues (2003-2004, p. 276) define:
50
Essa situação jamais foi vivida por pessoas negras no Brasil. É conve-
niente recordar que esse mito vem sendo transmitido no decorrer dos anos e é
defendido como verdade por muitos, uma vez que a prevalência do mito, em
“ser negro” com ser pobre, ausente das instituições de ensino e estar sempre
ocupando posições servis, lugares de ser comandado e não o de comando ou
outra posição de destaque.
Nesse contexto, cabe ressaltar que uma reviravolta no cenário só é possí-
vel com a ação direta de docentes, uma ação consciente e concreta, que com-
preenda o movimento de silenciamento e apagamento que os negros sofreram
durante mais de um século. Isso posto, os/as professores/as, que são quem
têm mais contato com estudantes em uma escola, são, portanto, os principais
agentes de transformação.
Sob esse ponto de vista, uma formação antirracista urge para que haja um
rompimento com a hegemonia dominante, pautada nos princípios coloniais
que desconsideram as minorias. Munanga (2005) destaca a importância da
formação antirracista para que o professor consiga administrar e intervir em
sala de aula.
A problematização sobre o discurso da “democracia racial”, a perma-
nência do racismo em nossa sociedade, abordados nesse tópico, justificam a
necessidade de aprofundar os estudos sobre os desafios da implementação de
uma educação antirracista. Na continuação deste texto, registramos a pers-
pectiva teórico-metodológica da pesquisa em desenvolvimento.
[...] na pesquisa qualitativa, todas as pessoas que dela participam são reco-
nhecidas como sujeitos que elaboram conhecimentos e produzem práticas
[...] elas têm um conhecimento prático, de senso comum e representações
relativamente elaboradas que formam uma concepção de vida e orientam
as suas ações individuais. (CHIZZOTTI, 2003, p. 83).
Meu nome é R. A., sou negro (um dos 04 da escola) e professor de Filosofia
da Eseba e faço parte desta comissão. Certa vez em um trabalho de campo
com os/as estudantes do 9º ano em Brasília, durante uma palestra um
assessor parlamentar disse que não havia muitos/as negros/as e mulheres
na política por falta de interesse deles/as. A única aluna negra da turma
Ressaltamos que conceitos como raça e racismo não são inatos, não
nascem com o sujeito, mas são construções sociais. Merece destaque que o
racismo encontrou espaço – conforme se pode perceber no comportamento
de uma criança de 4 anos, certamente com um restrito ciclo de convivência,
considerando sua idade e o período pandêmico vivenciado por todo o mundo.
Cabe também pontuar que o episódio relatado se colocou como mais um
desafio do ensino remoto, ou seja, trazer à discussão uma ideia ou crença que
em alguns casos foi iniciada em casa, pela família.
Outra professora manifestou já ter vivenciado situações tratadas pela
colega; continuou dizendo que percebe ausências de recursos para essas
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 55
longo, mas a luta continua. Sigamos juntas/os na luta por uma escola e uma
sociedade mais justa, humana e igualitária, por um caminho que atravessa,
transpassa, transforma!
A segunda intervenção, com o tema “Educação antirracista: conceitos
e práticas”, foi ministrada pelo Prof. Dr. João Gabriel Nascimento Nganga,
consultor em educação, diversidade étnico-racial e inclusão. Foi uma forma-
ção voltada às professoras, bolsistas e estagiários que estivessem atuando na
educação infantil.
A dinâmica da formação foi aberta com a apresentação dos participantes
da oficina, momento em que as preferências, potencialidades e crenças emer-
giram; por fim, o palestrante fez sua apresentação, dizendo sobre quem ele é
e trazendo elementos que faziam referência à sua ancestralidade, que é algo
marcante na cultura africana. Na sequência, apresentou uma pesquisa realizada
pelo IBGE, com recorte étnico-racial, que aponta que 56,2% da população
brasileira é negra, ou seja, mais da metade da população total do país.
Nesse viés, foi iniciado um debate sobre os conceitos de raça, etnia,
racismo, bullying, preconceito, discriminação e branquitude. Esses temas têm
sido recorrentes no ambiente escolar, nas relações entre estudantes e outros
estudantes, entre estudantes e professores, e criado significações fantasiosas
ou equivocadas sobre os temas em questão.
Dessa forma, o conceito de “raça” abriu a conversa, esclarecendo que
o termo é utilizado para justificar o racismo e que “raça” está alicerçada na
crença da existência de raças fictícias. O professor, citando Munanga (2003),
ressaltou que, na atualidade, “raça é um conceito carregado de ideologia e,
como tal, esconde algo não proclamado: a relação de poder e de dominação”.
Na literatura contemporânea, “raça” é entendida como um conceito sociopo-
lítico-cultural, uma vez que é uma construção histórica e social consolidada
como realidade social.
Na continuação da oficina, o professor João Gabriel retomou o conceito
de etnia, também amparado por uma citação de Munanga (2003), que ressalta
que a substituição de raça por etnia não modifica a realidade do racismo,
pois não altera a relação hierarquizada entre culturas diferentes. O professor
João Gabriel reforçou que a substituição do termo raça por etnia não muda a
58
existência do racismo, uma vez que a relação de poder entre as culturas não
sofre alteração. A discussão caminhou no sentido de conceituar e caracterizar o
racismo que vem sendo colocado sob uma falsa noção de superioridade e que
se utiliza de características intelectuais, comportamentais, biológicas, fazendo
referência, inclusive, à moral dos indivíduos que teriam a ver com “sua raça”.
A narrativa do professor nos permite empreender reflexões sobre o meio
escolar. Há uma confusão recorrente que acomete os termos racismo, pre-
conceito e discriminação que, vez ou outra, são confundidos com bullying.
mas alguém se torna branco pelo contexto social no qual se encontra e, tam-
bém, pelas escolhas que se faz.
Em perspectiva semelhante, Ruth Frankenberg (1999) define a branqui-
tude como lugar estrutural em que o branco vê os outros sujeitos e a si mesmo
em uma posição de poder, um lugar confortável do qual se pode atribuir ao
outro aquilo que não se atribui a si mesmo.
Dialogar sobre branquitude é fazer referência à identidade racial do
sujeito branco, tendo a compreensão de que essa identidade é algo construído
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Algumas considerações
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Diário Oficial da União,
Brasília, 10 jan. 2003. (Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no
currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “história e
cultura afro-brasileira” e dá outras providências. Disponível em: http://www.
Introdução
A proposta foi motivada por um debate que aconteceu durante uma ativi-
dade de formação do Projeto “Construindo uma escola antirracista: ingresso
e permanência de cotistas na educação infantil” com a comunidade escolar. A
equipe do projeto diagnosticou a importância de abordar a temática da diver-
sidade de cores da pele, a partir de falas de pessoas da comunidade escolar
que revelavam incômodos em discursos naturalizados que usavam o termo
“cor de pele” para se referir a uma cor específica, o bege rosado, na paleta de
lápis de cor, giz de cera, tinta ou objetos em geral.
Surgiu então a ideia de desenvolver ações para superar o equívoco que
envolve o imaginário referente a uma cor específica para denominar cor de
pele, consequência do racismo estrutural, que cria uma hierarquia racial e
coloca a branquitude no topo, a ponto de definir a cor que mais se aproxima
da representação da pele branca como a “cor de pele”.
Para desconstruir essa ideia, a equipe do projeto, em diálogo com a
docente de Artes Visuais, Mariza Barbosa, vislumbrou a possibilidade de
uma oficina para abordar as questões da cor, tratando de aspectos específicos
do conhecimento da área de Artes Visuais no intuito de propor reflexões que
envolveriam a percepção e valorização da diversidade étnico-racial por meio
da abordagem das cores da pele e da produção artística.
Neste texto, a professora e artista Flaviane Malaquias traz as estratégias
acionadas durante a oficina de Artes Visuais ministrada para oito turmas de 1º
e 2º períodos da Educação Infantil da Escola de Educação Básica – Colégio
de Aplicação da Universidade Federal de Uberlândia. Por meio de referên-
cias artísticas, compartilhamento de sua produção poética e proposição de
atividade para as crianças, o tema foi abordado de forma propositiva a partir
do trabalho da artista Adriana Varejão e de seus próprios trabalhos artísticos.
Nas aulas de Artes Visuais, ministradas pela professora Mariza Barbosa após
a oficina, a reflexão se desdobrou na ampliação do repertório visual por meio
da referência ao Projeto Humanae da fotógrafa Angélica Dass e por meio de
atividades de criação e expressão artística com as turmas.
64
Nota: Big Polvo Color Wheel V, 2018, óleo sobre tela, 180 cm (diâmetro). Foto:
Jaime Acioli. Imagem gentilmente cedida pela artista Adriana Varejão. Fonte
disponível em: http://www.adrianavarejao.net/br/imagens/categoria/10/obras.
Nota: Vinil sobre polietileno, 130 cm x 90 cm, 2017. Fonte: Acervo das autoras.
criança negra soube responder o que significa uma escola antirracista, talvez por
alguma experiência familiar. Em outras turmas, crianças relataram que estavam
com saudades de seus colegas. Uma criança negra quis mostrar suas bonecas
negras e logo várias outras quiseram mostrar que também tinham bonecas
negras em casa. Essas experiências propiciaram um momento de diálogo em
que colocaram que o respeito e o amor ao coleguinha são muito importantes.
Em linguagem apropriada para a faixa etária, debatemos também o quanto
discriminar pessoas pela cor da pele gera sofrimentos e que o respeito deve
existir independente das características raciais e das diversas aparências das
pessoas. Realizamos, em cada turma, um momento avaliativo de encerramento,
no qual as crianças puderam mostrar as produções das silhuetas de suas mãos.
Essa oficina estabeleceu diálogo com outras prática de diferentes docentes
– a exemplo da professora Mariza Barbosa, que compõe este texto comigo;
e das professoras Paula Amaral Faria e Vanessa de S. Ferreira Dângelo, que
podem ser lidas no capítulo intitulado “A minha, a sua, as nossas mãos: percep-
ções sobre diversidade de tons de pele por crianças e suas famílias na Escola
de Educação Básica”, o qual também faz parte da presente obra. Por meio dela,
foi possível perceber que as crianças conseguiram atribuir significado ao que
seria uma escola antirracista, respeitando as diferenças na escola independente
da raça. Essa iniciativa é importantíssima na infância para que vislumbremos
uma sociedade não racista. É necessário, desde cedo, o reconhecimento do valor
da interação de culturas e da pluralidade de aparências das pessoas (Figura 3).
2 A escala Pantone é um sistema de catalogação de cores usado mundialmente na indústria em geral, nos
ramos de gráfica, têxtil, design etc. A escala foi criada em 1963 por Lawrence Hebert, que organizou um
sistema de identificação, combinação e comunicação de cores por um sistema de códigos, cada tonalidade
de cor é representada por números e letras. (Disponível em: https://www.pantone.com.br).
3 Disponível em: https://angelicadass.com/pt/foto/humanae/.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 71
Figura 4 – Humanae
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Eu nasci em uma família cheia de cores. Meu pai é filho de uma empre-
gada doméstica de quem ele herdou um intenso tom de chocolate [...] A
matriarca, minha avó, tem a pele de porcelana e o cabelo de algodão, meu
avô era algo entre um iogurte de baunilha e morango, assim como meu
tio e meu primo, minha mãe canela, é filha de uma brasileira, mistura de
avelã com mel e um homem, mistura de café com leite, mas com muito
café. Ela tem duas irmãs uma no tom amendoim tostado e a outra bege,
mais ou menos como um pudim de leite (DASS, 2016).
REFERÊNCIAS
ANCINE. Projeto Audiovisual. Dudu e o lápis cor da pele. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=-VGpB_8b77U. Acesso em: 1º abr. 2021.
BALISCEI, João Paulo. Conflitos com o “lápis cor de pele”: a série polvo,
de Adriana Varejão e o multiculturalismo no ensino de Arte. Disponível em:
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REFERÊNCIAS
ESEBA. Parâmetros Curriculares Educacionais da Educação Infantil.
2020. Disponível em: novo_pce_2020_2021_0.pdf (ufu.br). Acesso em: 2
fev. 2022.
Objetivos
Conteúdo
Metodologia
Após a escuta da música, inicie uma roda de conversa sobre o que eles
compreenderam do texto musical. Para motivar a participação dos estudantes,
sugiro alguns questionamentos.
inteligente que, com sua sabedoria e esperteza, salva o povo da sua aldeia das
maldades da feiticeira Karabá. Por causa da sua estatura, Kiriku é menos-
prezado pelos adultos e demais crianças da sua aldeia. A sua mãe era a única
pessoa que o tratava bem. O filme está disponível no YouTube2.
Após a exibição do filme, proponha uma roda de conversa sobre as
principais impressões que marcaram os estudantes.
Iniciamos esse momento com um roteiro de perguntas:
Fonte: A autora.
Recursos: Lápis grafite; lápis de cor; papel sulfite; papel pardo ou cartolina;
aparelho de som e TV; fita adesiva; quadro branco; mapa do continente africano.
Filme: Kiriku e a Feiticeira.
Duração prevista: Sete aulas de, aproximadamente, 50 min cada.
Avaliação
A avaliação será processual e ocorrerá durante todas as aulas desta
sequência didática. Espera-se que os estudantes possam expressar suas refle-
xões; pontos de vistas e questionamentos durante as rodas de conversas. Os
registros escritos e imagéticos produzidos pelos estudantes podem servir de
indicadores sobre o processo de ensino e aprendizagem dos alunos.
Observações
Sugerimos que todas as produções elaboradas pelos estudantes durante a
realização desta sequência didática sejam feitas em papel sulfite A4 e que os
cartazes sejam afixados em um painel da escola, compondo um grande mural
representativo da cultura africana.
94
REFERÊNCIAS
BARBOSA. Rogério Barbosa. Ndule Ndule, assim brincam as crianças
africanas. São Paulo: Melhoramentos, 2011.
Nosso papel [do educador] não é falar ao povo sobre a nossa visão do
mundo, ou tentar impô-la a ele, mas dialogar com ele sobre a sua e a
nossa. Temos de estar convencidos de que a sua visão do mundo, que se
manifesta nas várias formas de sua ação, reflete a sua situação no mundo,
em que se constitui. A ação educativa e política não pode prescindir do
98
espaço alegre e criativo, mesmo num ambiente virtual do ensino remoto, devido
às exigências sanitárias imposta pela pandemia da covid-19, contribuiu para
trocas surgidas a partir dos questionamentos e de experiências sobre o racismo
e o preconceito. A própria narrativa literária concorreu para a construção desse
ambiente, pois, desde o início da leitura, os estudantes foram fisgados pelas
reflexões inteligentes e imaginativas da protagonista da história, Coraline.
Assim, por meio da valoração da criatividade presente nos exercícios
literários, vê-se que é possível oportunizar ao alunado uma posição clara da
6. Estratégias e recursos
• Plataforma M. Teams.
• Youtube.
• Slides.
• Obra literária.
• Caderno para anotação.
• Formulário digital: Forms.
Aula 1
Aula 2
Aula 3
Primeiro momento: A aula deve iniciar com a leitura dos textos produzi-
dos pelos alunos. Após a leitura dos alunos que se dispuseram a compartilhar
a escrita, promova um debate a partir das reflexões retiradas dos textos lidos.
104
Aula 4
tos semelhantes.
8. Avaliação
REFERÊNCIAS
ASSMANN. Juracy Saraiva; MÜGGE, Ernani. Literatura na escola: pro-
postas para o ensino fundamental. Porto Alegre: Artmed, 2006.
FABER CASTELL BR. Caras e cores: Faber Castell. Youtube. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=gJ5HZHAYbtk. Acesso em: 8 nov. 2021.
SALES JR., R. Democracia racial: o não-dito racista. Tempo Social, [S. l.],
v. 18, n. 2, p. 229-258, 2006. DOI: 10.1590/S0103-20702006000200012.
Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ts/article/view/12523. Acesso
em: 4 nov. 2021.
1 O Dia do Saci consta do projeto de Lei Federal nº 2.762 de 2003 (apensado ao projeto de Lei Federal
nº 2.479, de 2003, proposto por Aldo Rebelo), sob a justificativa de “fortalecer o processo de consolidação da
identidade nacional” por meio do “resgate e [d]a valorização de nossas tradições e manifestações folclóricas
originais”. O estado de São Paulo oficializou a data em 13 de janeiro de 2004 com a Lei nº 11.669.
2 “A narrativa mais conhecida do Saci é aquela escrita por Monteiro Lobato, que, como em outras de suas
obras, é perpassada de diversas formas pelo racismo do autor. Aliás, a maior parte do ‘folclore nacional’
esvazia nossos símbolos étnicos, nossa espiritualidade, nossas cosmogonias. Esse esvaziamento é um
dos efeitos do etnocídio que busca nos tornar seres genéricos, misturados no ‘povo brasileiro’.” (NÚÑEZ,
Geni. 31 out. 2021. Instagram: @genipapos. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CVs5SbVvHLk/.
Acesso em: 19 nov. 2021).
110
Posto que o trecho se trata de uma “dedicatória”, é fácil supor que Esmé-
ria teria feito parte da infância de Lobato, e que, de fato, fora uma mulher
escravizada, talvez em uma das fazendas de seu avô José Francisco Monteiro,
também conhecido por “Visconde de Tremembé”, destacado cafeicultor e
proprietário de escravizados da região norte de São Paulo no século XIX.
Causam espanto o tom saudosista e os exaltados comentários a respeito do
trabalho das “pretas velhas” escravizadas, aqui representadas por Esméria,
os quais apontam para uma “lembrança recente” do autor, como indicado por
Cilza Bignotto em sua introdução para a nova edição de O Saci, mas conduzem
a camadas ainda mais profundas do problema.
Não apenas a imagem de Tia Nastácia, mas também a do Saci, são per-
passadas, nos escritos de Lobato para o público infantil, por referências diretas
ao imaginário escravista da sociedade rural norte-paulista do século XIX, onde
o autor nasceu e viveu parte de sua infância:
O autor acrescenta ainda que o Saci, nas narrativas daquela “elite rural”,
exalava “cheiro de enxofre”, exibia “parentesco com o demônio” e temia
“símbolos cristãos”. Ao mesmo tempo, revela-nos não ter identificado em sua
pesquisa quaisquer destes traços em relatos sobre o Saci provindos, no mesmo
período, de outras camadas que compunham a mesma sociedade, como a dos
“camponeses-caipiras”4 e a dos “negros escravos”5.
Por outro lado, tratam-se de atributos facilmente identificáveis – com
exceção da caracterização zoomórfica – nas narrativas infantis sobre o Saci
elaboradas depois por Monteiro Lobato, desde a designação diabólica, o cheiro
de enxofre e as frequentes aparições na cozinha, até a possibilidade de ser
aprisionado e escravizado com o emprego de símbolos cristãos6.
3 Embora o texto de Lobato se encontre, nessa nova edição, repleto de notas destinadas e explicar, “sempre
ao pé da página, o sentido de palavras em desuso e contextualizando certas passagens a partir da visão
atual” (BIGNOTTO, 2019, p. 9), não foi incluído qualquer comentário acerca dessa e de outras passagens
com teor racista dispostas ao longo do texto.
4 “Para os camponeses-caipiras, entretanto, o Saci-moleque também é preto, mas não exala cheiro de enxofre
nem exibe parentesco com o demônio. Segundo essas representações, as manifestações do nosso trickster
(dançarino, pregador de peças, fazedor de cócegas, assíduo frequentador das fronteiras, entidade que se
manifesta através de assovios sarcásticos) denotam uma inequívoca vocação contestadora, a zombaria e
o deboche constituindo as suas armas prediletas” (QUEIROZ, 1995, p. 145).
5 “De seu lado, os negros escravos atribuíam às peraltagens do moleque travesso uma série de ocorrências —
pequenos furtos, quebra de utensílios e ferramentas etc. — pelas quais, não fosse o Saci, acabariam sendo
mais seriamente responsabilizados e punidos. Sabe-se, a propósito, que os senhores temiam a feitiçaria e
as divindades dos negros cativos, e que estes faziam uso desse temor como estratégia de sobrevivência”
(QUEIROZ, 1995, p. 145).
6 Em um dos primeiros capítulos de O Saci, o personagem Pedrinho, instruído por Tio Barnabé, captura o
Saci utilizando uma “peneira de cruzeta”, tipo de peneira reforçada por duas tiras de bambu mais largas
nela afixadas em forma de cruz.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 113
Eles foram escravizados por muitos, muitos anos. Eles ficavam revoltados
com tudo isso que acontecia e, na época, eles amarravam o rabo do cavalo;
à noite, eles faziam um monte de bagunça pra se vingar dos senhores de
engenho. [...] Os negros, pra tentar se proteger, falavam que não foram eles
que fizeram aquilo. Daí, eles falavam que quem fez aquilo foi o “negui-
nho de uma perna”, que ele é bagunceiro, que ele faz bagunça, que ele
amarrava o rabo do cavalo, essas coisas7. [...] Na verdade, esse “neguinho
de uma perna” seria o protetor da floresta na África, nas crenças. Daí, por
coincidência, eles falavam que era ele, mas só que não falavam o nome
dele. Então, usaram como uma proteção (MARTINS, 2020).
7 Pode-se acrescentar à lista algumas “bagunças” mais enfáticas, como a quebra de utensílios e ferramentas
de trabalho, conforme os relatos obtidos por Renato da Silva Queiroz a tal respeito.
8 A esse respeito, argumenta Luiz Rufino, em entrevista ao site Hypeness: “Eu destacaria, dentro do complexo
Iorubá, a figura de Exu, que talvez seja mais evidente, e também a figura de Aroni, que é uma espiritualidade,
um agente que opera em imbricação junto ao orixá Ossain, que é um orixá que se manifesta nos domínios
das plantas, da mata, da mata profunda” (MARTINS, 2020).
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 115
indígena africanizada:
14 “O cavalo tinha o corpo torto e do lado que tinha mão não tinha pé. A cabeça também era torta. Do lado
que tinha venta não tinha olho e do lado que tinha chifre não tinha orelha. Um bicho mesmo pra encantado.”
(CARNEIRO, 1937, p. 17-18)
15 Ialê, na língua iorubá, designa a “mulher preferida”. Trata-se de uma explícita referência à poligamia praticada
por estes povos. No suplemento pedagógico que acompanha a nova edição de O Saci e o Curupira e Outras
Histórias do Folclore, o gesto de Dudu Calunga ao levar “para sempre” consigo as ialês ganha o sentido de
“um alerta para não se deixar enganar por pessoas que não são conhecidas”.
118
Por sua vez, a incorporação das produções de Olívio Jekupé e Joel Rufino
dos Santos — com seus respectivos Jaxy Jaterê, Saci e Dudu Calunga — ao
quadro das referências aplicáveis a uma abordagem educacional da figura
do Saci sob o prisma das relações étnico-raciais, vincula-se aos seguintes
tópicos integrantes das mesmas diretrizes, estendidas ao ensino da história e
cultura indígena:
REFERÊNCIAS
BIGNOTTO, Cilza. Antes de O Saci começar... In: LOBATO, Monteiro. O
Saci. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2019.
JEKUPÉ, Olívio. O presente de Jaxy Jaterê. São Paulo: Panda Books, 2017.
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. 32. ed. São Paulo: Brasi-
liense, 2002.
SANTOS, Joel Rufino dos. Dudu Calunga. Rio de Janeiro: Ática, 1986.
1 Texto escrito para o encerramento da I Semana Preta da Eseba, ocorrido no dia 30 de abril de 2022. A
Semana Preta foi construída como uma celebração de resultados do Projeto Construindo uma Escola
Antirracista: ingresso e permanência de cotistas na educação básica.
124
E AFETOS
RE�L��Õ�S, EXPERIÊNCIAS
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SOBRE CIDADANIA E A QUESTÃO
DAS DESIGUALDADES
Adalberto de Salles-Lima
Rita Silvana Santana dos Santos
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1 É importante ressaltar que o liberalismo foi uma doutrina político-econômica originada durante o processo
de transição do sistema feudal para o capitalismo. Surge gradativamente como uma forma de oposição às
monarquias absolutas e ao seu correspondente regime econômico, o mercantilismo (STEWART, 1995).
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 129
parte de sua natureza eminentemente política e, por isto, pode ser interpretada e
reivindicada sob diferentes interesses ideológicos e necessidades históricas. Seja
na academia, nas políticas públicas ou de forma mais ampla na sociedade civil,
por diferentes segmentos da sociedade, já é consenso que a definição jurídica
não garante a concretização da cidadania no cotidiano dos sujeitos.
Outro ponto observado é que a cidadania ressalta a dualidade entre: a) o
discurso oficial-hegemônico, marcado pelas definições revestidas da abstração
dos conceitos e convenções, cuja aplicabilidade não condiz com a realidade da
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REFERÊNCIAS
BOBBIO, Norberto. Locke e o Direito Natural. Tradução: Sérgio Bath.
Brasília: Ed. UnB, 1997.
1 A Lei nº 10.639/2003 altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro 1996, que estabelece as Lei de Diretrizes e
Base da Educação Nacional (LDBEN)). Mais tarde é promulgada a Lei nº 11.645/2008, que faz mais uma
alteração na Lei nº 9.394/1996, modificada pela Lei nº 10.639/2003, que estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História
e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 135
Todo discurso está submetido àquele que fala, cujos sentidos e significa-
dos são frutos de um conjunto de valores e de uma determinada sociabilidade,
bem como de um tempo histórico específico, que faz surgir sistemas de repre-
sentação (HALL, 2001). Isso posto, é preciso reconhecer que o conhecimento
não é fruto do abstrato, mas do embate entre diferentes “tempos simbólicos”.
Tal perturbação existe no espaço escolar, principalmente, quando analisamos
o contexto de implementação da Lei nº 10.639/2003 e as dificuldades na mate-
rialização de ações que consideram aspectos políticos históricos na discussão
sobre afirmação da identidade étnica que não seja racializada. Ser partidário
dessa premissa é admitir que o processo de ensino precisa ser entendido como
um exercício crítico da realidade social em que a escola está inserida. Além do
mais, exige modificar as atitudes e posições dos atores/agentes responsáveis
no processo de ensino-aprendizagem.
Nessa situação, a identidade negra e o reconhecimento de um sentimento
étnico, como aceitação de um novo paradigma pedagógico, fundamentado na
Lei nº 10.639/2003, servem como facilitadores na luta da população afro-bra-
sileira. Podemos dizer que o fortalecimento dos direitos sociais e do processo
de inclusão e participação na cidadania, com consequente reconhecimento e
136
[É] aquela que tem de ser forjada com ele e não para ele, enquanto homens
ou povos, na luta incessante de recuperação de sua humanidade. Pedagogia
que faça da opressão e de suas causas objeto da reflexão dos oprimidos,
de que resultará o seu engajamento necessário na luta por sua libertação,
em que esta pedagogia se fará e refará (FREIRE, 1987, p. 20).
Segundo a pista indicada pelo mestre Paulo Freire, podemos dizer que
esses polos, aparentemente antagônicos, que reforçam e manutenção da opres-
são e da dominação no tocante à educação, passa hoje por um processo de
desconstrução. Essa tese é reforçada por Valter Silvério, professor e um reno-
mado pesquisador da educação das relações étnicos-raciais no Brasil. Silvé-
rio ressalta que esse desmonte iniciou-se graças ao protagonismo de grupos
sociais que pautaram uma agenda de mudanças no tocante a certas categorias
chaves para se pensar a identidade nacional. A diversidade étnica cultural,
como elemento chave para pensar a história da nação brasileira (SILVÉRIO,
2005), aparece já na Constituição Federal de 1988.
O campo educacional tornou-se um espaço de disputa em que o protago-
nista foi o movimento negro organizado, cuja principal reivindicação foi fazer
valer o princípio do texto constitucional de 1988. Isto é, pautar transformações
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 137
2 O projeto Escola sem Partido se caracteriza por ser uma iniciativa de cunho político conservador que visa
a partir da mobilização de parte da sociedade criar mecanismo de contensão para o que eles acreditam
ser uma “contaminação político-ideológica das escolas brasileiras, em todos os níveis: do ensino básico ao
superior”. O movimento foi [...] “criado para dar visibilidade a um problema gravíssimo que atinge a imensa
maioria das escolas e universidades brasileiras: a instrumentalização do ensino para fins ideológicos, políticos
e partidários”. Disponível em: https://www.escolasempartido.org/. Acesso em: 11 set. 2021.
138
Ou seja, acaba por corroborar a noção de um lugar menor e não tão importante
quando se trata de pensar a população negra em comparação com o branco
europeu na formação da nação.
É válido relacionar esse ponto com aquilo que foi consolidado a partir
de uma obra como Casa Grande e Senzala (1933), de Gilberto Freyre, antro-
pólogo e pensador brasileiro, que se consagrou ao defender a ideia de existir
uma cultura brasileira oriunda da mistura entre negros, brancos e índios. Para
esse consagrado pensador brasileiro, “nossa cultura” tinha como característica
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3 O pensamento de Gilberto Freyre é partidário de uma antropologia, cujo fundamento é a escola culturalista
de Franz Boas, antropólogo norte-americano, crítico do evolucionismo clássico e das ideias partidárias
das chamadas “teorias raciais” muito em voga até meados do século XX. Essa prerrogativa acabou por
tornar-se referencial nas reflexões sobre a formação do Brasil. Pode-se afirmar que a insistência de Freyre
na harmonia entre os grupos étnicos formadores da nação brasileiro tem origem nessa tentativa de rejeitar
qualquer hierarquização racial/cultural. Assim, motivado na antropologia de Boas, Freyre cria “uma nova
imagem, uma espécie de mito de origem de uma nova nação nos trópicos: em Casa grande e senzala, ele
constrói os alicerces da idéia de que existe, de fato, uma ‘cultura brasileira’, produto de um amalgama de
diferentes ‘raças’/ ‘culturas’, que constituiria a ‘essência’ de uma nova nação” (HOFFBAUER, 2006, p. 35).
4 Nesse contexto o conceito de “raça” se coloca como central, uma vez que serviu com fundamento ideológico
para o projeto de consolidação do homem universal. Isto é, o ideal de humanidade precisava do seu oposto:
o selvagem. Nesse aspecto, a “raça” enquanto categoria científica justificou a diferença e a necessária
desumanização do “Outro” negros e indígenas (ALMEIDA, 2019).
5 Cabe chamar atenção para o caráter multifacetado do movimento negro no que tange a luta política e
pela ampliação da cidadania da população afro-brasileira e africana. Nesse caso, vale a pena ver a obra
de PEREIRA, Amilcar Araujo. “O mundo Negro”: a constituição do movimento negro contemporâneo no
Brasil (1970-1995). Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal
Fluminense, Niterói, 2010, p. 220.
140
Ainda segundo Nilma Lina Gomes, podemos dizer que o papel do movi-
mento negro foi o de suscitar o debate e repensar uma certa celebração da
identidade negra, restrita à exotização da cultura afro-brasileira e africana no
ensino de um modo em geral. No caso, esse exotização ainda aparece quando
vemos como se organiza as datas como o 13 de maio e o 20 de novembro.
Essa postura evidencia certa hierarquia no modo como a população negra
é representada em sala de aula. Diante dessa realidade, é preciso fazer uma
análise não só do ambiente educacional ou da Lei nº 10.639/2003 e suas pos-
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de uma resistência por vezes dissimulada (SCOTT, 2011). Tal reflexão serve
para fortalecer um ambiente educacional em que o currículo possa se fazer
sentir sem necessariamente ficar no plano de uma reprodução técnica da mera
aplicação do conteúdo.
De outro modo, trazer a vivência dos alunos e dos agentes envolvidos na
materialização do espaço escolar permite a criação de um diálogo entre escola/
sociedade/escola e, ao mesmo tempo, alarga o protagonismo de professores e
professoras no sentido de elaborar uma reflexão sobre as culturas negadas e
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adoção de políticas afirmativas, das quais a Lei aqui realçada faz parte, não
pode ser despolitizada, mas, sobretudo, deve servir como ponto de partida,
conteúdo didático a ser utilizada no ambiente escolar.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro;
Polén, 2019.
Sites
Dizer mais do que sabe, não saber o que diz, dizer outra coisa que não o
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que se diz, falar para não dizer nada, não são mais, no campo freudiano,
os defeitos da língua que justificam a criação das línguas formais. Estas
são propriedades inelimináveis e positivas do ato de falar. Psicanálise e
Lógica, uma se funda sobre o que a outra elimina. A análise encontra seus
bens nas latas de lixo da lógica. Ou ainda: a análise desencadeia o que a
lógica domestica (MILLER, 1976, p. 17).
4 Análise realizada pela pós-doutora em Relações Étnicas pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
(Uesb), Edilene Machado. Disponível em reportagem do Correio Braziliense: “Pretos no topo: desemprego
recorde entre negros é resultado de racismo”.
5 Dados quantitativos secundários presentes na entrevista realizada pela Agência Pública “Abandono dos
povos indígenas na pandemia deixa dúvida se governo age por ‘omissão ou estratégia’”. Disponível em:
https://apublica.org/2020/08/abandono-de-povos-indigenas-na-pandemia-deixa-duvida-se-governo-age-por-
-omissao-ou-estrategia/. Acesso em: 27 jul. 2021.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 153
É estratégico que pessoas cis aliadas falem sobre pessoas trans. As aliadas
não apenas falam sobre, elas falam positivamente sobre as pessoas trans
(demonstrando o básico: pessoas trans são humanas, mulheres trans são
mulheres e homens trans são homens), e são ouvidas pelas pessoas cis que
ainda não questionaram sua própria transfobia. Por identificação. A pessoa
cis vai ser ouvida. A pessoa trans, tipicamente vista com menosprezo, não
é ouvida. Por isso as pessoas cis aliadas podem e devem fazer muito. Mas
que não percam o horizonte de fazer referências, que indiquem, e que
empoderem as pessoas trans nas suas falas (JESUS, 2017 apud REGO,
2019, p. 171).
[...] acho bom lembrar certas datas importantes em que a negrada (espe-
cialmente o mulherio) está muito presente. Estamos cansados de saber
que nem a escola, nem os livros onde mandam a gente estudar, não se
fala da efetiva contribuição das classes populares, da mulher, do negro e
do índio na nossa formação histórica e cultural. Na verdade, o que se faz
é folclorizar todos eles (GONZALEZ, 1982, p. 3)6.
6 Este texto bem como outros artigos escritos por Lélia Gonzalez ao longo de sua trajetória, estão reunidos
no livro Primavera para as Rosas Negras: Lélia Gonzalez em primeira pessoa. Diáspora Africana: Editora
Filhos da África, 2018. 486 p. 1ª edição.
156
7 O conceito de biopolítica surgiu em meados da década de 1970 a partir das proposições de Michel Foucault
sobre a transição entre o poder soberano para as formas de governo no Estado Moderno no século XVIII.
Na dinâmica biopolítica, surgiu uma nova tecnologia de poder que envolveu o controle de um conjunto de
processos como as taxas de natalidade, de mortalidade, de reprodução, de fecundidade etc. Diante do
contexto de crises econômicas e políticas, esses processos determinaram os primeiros alvos de controle
da biopolítica que passou a operar como forma de manutenção da vida pelo Estado, sobretudo a partir da
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 157
(CARNEIRO, 1995). O soberano que detinha o poder de matar, agora não pode-
ria mais aplicá-lo explicitamente. Contudo, este era um mecanismo de controle
de determinados corpos ainda recorrente na sociedade disciplinar do biopoder.
Diante desse paradoxo vigente, em um governo biopolítico, atento à
necessidade de “fazer viver”, mas que também reproduzia de mortes evitáveis,
Foucault incluiu, em suas reflexões, a análise do racismo de estado como
tecnologia de poder que é capaz de assegurar o direito de “fazer morrer”.
disciplinarização e do controle da população. Enquanto o poder soberano que tinha autonomia para “deixar
viver” ou “fazer morrer”, o biopoder passou a agir sobre a população como uma tecnologia de poder disciplinar
para “fazer viver”. Tais considerações podem ser aprofundadas em Foucault (1993; 2002).
8 Sueli Carneiro (1995) se baseou no referencial teórico foucaultiano, mais especificamente em torno dos
conceitos de dispositivo e biopoder, para analisar o domínio das relações raciais no Brasil. Na dinâmica de
poder das sociedades disciplinares, o dispositivo opera como uma forma de poder que pode ser objetiva ou
subjetiva, a fim de garantir a disciplinarização do corpo social. Nesse sentido, Carneiro atribui ao conceito
de dispositivo a dimensão de “racialidade”, a fim de compreender como o poder também incide sobre os
seres humanos por meio do atributo racial.
158
O genocídio que pontuou tantas vezes a expansão [sic] européia foi tam-
bém um epistemicídio: eliminaram-se povos estranhos porque tinham
formas de conhecimento estranho e eliminaram-se formas de conhecimento
estranho porque eram sustentadas por práticas sociais e povos estranhos.
Mas o epistemicídio foi muito mais vasto que o genocídio porque ocorreu
sempre que se pretendeu subalternizar, subordinar, marginalizar, ou ilega-
lizar práticas e grupos sociais que podiam ameaçar a expansão capitalista
[...]; e também porque ocorreu tanto no espaço periférico, extra-europeu e
extra-norte-americano do sistema mundial, como no espaço central euro-
peu e norte-americano, contra os trabalhadores, os índios, os negros, as
mulheres e as minorias em geral (étnicas, religiosas, sexuais) (SANTOS,
1995, p. 328 apud CARNEIRO, 2005, p. 96).
uma vez que tem como signatários grupos racialmente homogêneos e atribui a
violência e a exclusão aos grupos racialmente subalternizados. Dessa forma, o
Contrato Racial se firma entre sujeitos iguais e dominantes e concebe a hege-
monia branca em sociedades estruturadas pelo colonialismo e imperialismo
(CARNEIRO, 2005, p. 48-49). Oriundo do Contrato Racial, o dispositivo de
racialidade determina papéis sociais desiguais e estabelece o epistemicídio
como uma de suas tecnologias.
É possível considerar que, no contexto escolar, o epistemicídio é um
fenômeno presente, tendo em vista que os(as) alunos(as) cujas identidades são
tangenciadas pelas diferenças que a sociedade disciplinar insiste em aniquilar,
internalizam a sensação de não pertencimento social, rejeição, inferiorização
da autoimagem, além de estarem suscetíveis ao desconhecimento da cultura
e história que enuncia o protagonismo de outras personalidades com as quais
poderiam se identificar.
A tendência que alguns/algumas professores(as) têm de considerar que
a escola deve cumprir uma função assistencial e familiar e afirmar que as
crianças devem ser respeitadas com a visão de mundo que trazem de casa, a
fim de buscar compreender que os preconceitos disseminados nesse espaço
são “fases” (CAVALLEIRO, 1995), é uma das formas pela qual o dispositivo
de racialidade pode se manifestar no espaço escolar.
Considerações finais
9 Sigla para representar o movimento de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans, queer, intersexo, assexuais/
arromânticas/agênero, pan/polissexuais, não binárias e mais. Disponível em: https://orientando.org/o-que-
-significa-lgbtqiap/. Acesso em: 30 jul. 2021.
162
REFERÊNCIAS
CARNEIRO, Aparecida Sueli. A construção do outro como não-ser como
fundamento do ser. 2005. 339 f. Tese (Doutorado em Educação – Filosofia
da Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2005.
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
SANTOS, S. Boaventura. Pela Mão de Alice. São Paulo: Cortez Editora, 1995.
SILVA, Divino José da; ALMEIDA, Jonas Rangel de; PAGNI, Pedro Angelo.
Necropolítica, governo sobre as infâncias negras e educação do rosto. Chil-
dhood & Philosophy, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 1-23, abr. 2021. Dispo-
nível em: https://doi.org/10.12957/childphilo.2021.56149. Acesso em: 30
jul. 2021.
2 Mestre Moa do Katendê foi um compositor, percussionista, artesão, educador e mestre de capoeira brasileiro.
Para saber mais sobre o assassinato de Moa do Katendê: https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2018/10/17/
investigacao-policial-conclui-que-morte-de-moa-do-katende- foi-motivada-por-briga-politica-inquerito-foi-
-enviado-ao-mp.ghtml.
3 Para saber mais: https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/05/22/ministro-do-meio-ambiente-defende-passar-
-a-boiada-e-mudar-regramento-e-simplificar-normas.ghtml
4 Para saber mais: https://www.cartacapital.com.br/opiniao/frente-ampla/com-bolsonaro-o-brasil-voltou-ao
-mapa-da-fome/.
5 Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2220292.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 171
“família, mas o Brasil que ele panfletou não existe. Ou existe, de certa maneira,
dentro dos padrões militares que ainda restam da ditadura vivida de 1964 a
1985: um Brasil que tem como herói Coronel Brilhante Ustra – torturador
que foi citado por Bolsonaro, então deputado federal, na votação do golpe em
16 de abril de 2016, como “o terror de Dilma Rousseff”. Um Brasil contado
pelos opressores, pela casa grande, pelos colonizadores, por todo ideal que
fez e faz deste país um lugar violado e de violências.
Dentre elas, neste ensaio, me desdobro sobre o racismo.
Institucionalizado a ponto das mortes de pessoas pretas serem apenas
estatísticas que aparecem nos noticiários; estrutural a ponto da nossa voz,
nosso poder, nossos estudos, produções, nossa existência serem, o tempo
todo, colocados em dúvida. O Brasil escravizou pessoas negras por 300 anos.
Isso é um fato que ressoa pela nossa história, por mais que as estruturas de
poder aleguem o esquecimento. Três séculos dividem um homem branco de
uma mulher negra; três séculos que ainda perduram quando nossos traços são
questionados, nossas crianças abatidas, nosso cabelo ridicularizado, nossa
fé queimada nas fogueiras e nas lâminas quentes do discurso, nosso lugar
reservado da cozinha pra lá, no quarto sem ventilação, no sufoco de um povo
asfixiado pela “segurança pública”, nos incontáveis de nós que foram amon-
toados nos navios, nas prisões, nas covas, na história. Quando há o levante
de todas essas indagações, que são inerentes às pessoas pretas bem antes da
alfabetização, torna-se urgente agir para que o nosso futuro não seja uma
vertente do nosso passado.
Gomes (2017), no livro “O Movimento Negro educador: saberes cons-
truídos nas lutas por emancipação”, apresenta o movimento negro brasileiro
como educador, responsável pela produção de saberes emancipatórios sobre
a questão racial no Brasil. Os saberes produzidos pelo movimento negro sub-
vertem a teoria educacional, ainda embranquecida e colonizada, sendo capaz
de construir a pedagogia das ausências e das emergências, dando à escola,
à universidade e aos currículos um novo prisma. As Leis nº 10.639/2003
(BRASIL, 2003) e nº 11.645/2008 (BRASIL, 2008) são exemplos dessa
construção, ao instituírem a obrigatoriedade do ensino da história e cultura
afro-brasileira e indígena a educação para as relações étnico-raciais no Brasil
172
A Lei de Cotas é a garantia de que nossas vivências não estarão apenas nos
lugares que a sociedade racista reservou para nós, mas, sim, construindo a
nossa narrativa de um ponto de vista de quem sente na pele, como Petronilha
Silva argumenta:
REFERÊNCIAS
GOMES, Nilma Lino. Movimento negro e educação: ressignificando e poli-
tizando a raça. Educação & Sociedade, Campinas, v. 33, n. 120, p. 727-744,
2012. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0101-73302012000300005
Acesso em: 2 fev. 2022.
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HOOKS, bell. Erguer a voz: pensar como feminista, pensar como negra.
Tradução: Catia Bocaiuva Maringolo. São Paulo: Elefante, 2019.
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ENTRE FIOS E EXPERIÊNCIAS:
o cabelo como símbolo de resistência
de uma educação antirracista
Fernanda de Souza Cardoso
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Introdução
Mostra o seu cabelo crespo dane-se quem não gostou
abana a cabeça pra cima e pra baixo
orgulho de quem nos criou
dela se originou
África se consagrou
berço da humanidade
então por favor respeite o que eu sou
meu cabelo é nossa raiz
independente de qualquer país
(NEGRA JAQUE, 2017).
tipo: “Achava a senhora mais bonita com o cabelo liso”. Naquele período, eu
optei por não escovar os cabelos, ficando totalmente aparente o processo de
transição, e isso parecia incomodar ainda mais os(as) alunos(as) e certamente
muitas outras pessoas na escola e fora dela. Como, em geral, as crianças
se comunicam bem, falam o que estão pensando, então, ouvia esse tipo de
comentário mais delas.
Cabe destacar que, quando eu fazia tranças, algumas crianças também
pareciam incomodadas, já que esta técnica de trançar os cabelos faz referência
estão presentes nas discussões políticas identitárias como uma das refe-
rências culturais que constituem o patrimônio cultural legado pelos
povos africanos. Sendo colocadas pelos movimentos negros como parte
da memória africana apresentada e traduzida nos corpos negros. Neste
sentido, podemos compreender as práticas e técnicas de estilizar cabelos
através de penteados trançados como um bem cultural do patrimônio afro-
-brasileiro por serem significativas para os grupos negros e ocuparem um
lugar de destaque nos debates de formação de identidade étnica e racial
(SANTOS, 2019, p. 65).
Na escola, os poderes são exercidos por quem tem hegemonia; neste caso,
os brancos e a educação eurocentrada. Consequentemente, as instituições de
ensino passam a ser locais em que surgem situações de racismo, preconceito e
discriminação e dependem das práticas pedagógicas e da postura do(a) docente
saber lidar com tais situações que acontecem frequentemente no cotidiano da
sala de aula, sendo que a escola pode ser também um lugar para promoção da
igualdade e da cidadania (SILVA; COSTA, 2018).
As representações em torno do cabelo crespo têm sido um dos elementos
mais importante do que discutir sobre o fato de um(a) aluno(a) não dar a mão
a um colega ou porque um(a) outro(a), de forma pejorativa, chamava o seu
colega de “nego preto fedorento”. Essas problemáticas também precisavam
ser entendidas como parte da aula, e da Educação Física, pois antes de tudo
somos educadores(as).
Uma outra questão que passou a fazer parte da minha prática foi a valo-
rização da beleza negra, uma atenção e um olhar mais sensível para aqueles
corpos que geralmente não eram “vistos”. Difícil esquecer uma festa junina em
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que, ao invés do famoso sorteio para escolher quem seria a noiva da quadrilha,
eu optei por uma menina negra e que ainda tinha duas outras características
que eram quase sempre condenadas: era uma aluna gordinha e que normal-
mente usava tranças afro no cabelo. Muitos conflitos apareceram a partir dessa
escolha, inclusive com a mãe do aluno que seria par da referida menina. O
aluno não aceitou dançar com ela, e tive que enfrentar a situação, pois ele
quis trocar de par – algo não permitido a nenhum(a) outro(a) aluno(a). Não
sendo aceita a proposta, ele preferiu não dançar. Eu e a diretora não recua-
mos e ainda ajudamos com a roupa da noiva da quadrilha. E foi perceptível
alguns olhares estranhos no dia da Festa Junina; um “tapa na cara” daquela
comunidade que parecia nunca ter visto uma aluna negra como protagonista
de nada. Aponto ainda a preocupação em incluir no planejamento mais temas
da cultura afro-brasileira: jogos, cantigas, danças que são parte do nosso
patrimônio cultural e que muitas vezes não eram (re)conhecidos ou pouco
vivenciados nas aulas de Educação Física.
Percebi o quanto tudo aquilo tinha valido a pena, descobri o quanto
era significativo e dizia respeito a mim, mas também a tantos(as) outros e
outras. E tive essa certeza quando um dia, uma de minhas alunas, se dirigiu
a mim sorrindo e disse: “tia, olha, estou com o cabelo igual ao seu”. E
sorrimos juntas, e eu fiz questão de elogiá-la e ressaltar o quanto ela estava
linda daquele jeito. E dia a dia diante de tantos outros embates e tensões, mas
também de ganhos e alegrias, fui me fortalecendo. Entendi ainda mais sobre
mim mesma, entendi que este processo de reconhecer meu cabelo era parte
de me reconhecer enquanto mulher negra, e isto só se ampliou; pois, quando
esse processo se iniciou em mim, não foi mais possível recuar e todas as
transformações que este movimento suscitou se expandiu para outros espa-
ços (família, universidade em que eu também dava aulas e onde mais fosse
viável). Fui observando e compreendendo que a mesma mudança pela qual
eu havia passado era buscada por muitas outras meninas e mulheres negras
(e homens também) e que nada era mais empático, representativo e belo do
que as acolher nesta redescoberta de si. Como já dizia Ângela Davis: “quando
a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta
186
com ela” (ALVES, 2017). E poderíamos acrescentar que, quando uma mulher
negra se aceita e se “levanta”, outras(os) tantas(os) se “levantam” com ela.
E é assim que tem que ser!
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ALVES, Alê. Angela Davis: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a
estrutura da sociedade se movimenta com ela”. El País, 2017. Disponível
em: https://brasil. elpais.com/brasil/2017/07/27/politica/1501114503_610956.
html. Acesso em: 15 fev. 2022.
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GOMES, Nilma Lino. Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da
identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
KING, Ananda Melo. Os cabelos como fruto do que brota de nossas cabe-
ças. Geledés Instituto da Mulher Negra, 2015. Disponível em: http://www.
geledes.org.br/os-cabelos-como-fruto-do-que-brota-de-nossas-cabecas/#ax-
zz3ZBeYdmWu. Acesso em: 11 fev. 2022.
Rap de maio
Abolição da escravatura
Liberdade de Isabel
Decreto de papel
Sem compensação.
Abolicionismo inteligente
Pra evitar que negro escravo
Inspirado em quilombos
Parta pra revolução
Derrubando os poderosos
Conquistando o poder
Sua própria liberdade.
Abolição da escravatura
Liberdade de Isabel
Decreto de papel
Sem compensação.
O dia 13 de maio
Manda negro pro hospício
Manda negro pra favela..
Manda negro pro cortiço.
Abolição da escravatura
Uma ducha de água fria
Nos escravos que buscavam
Lutar contra a escravaria
Através da luta armada
Que iriam conquistar
Sua própria autonomia.
Esse poema pode contribuir para que estudantes desenvolvam uma pers-
pectiva crítica sobre a abolição e seus desdobramentos. Utilizando cantos e
versos do Rap, o poema questiona a história oficial do Estado que, ainda no
século 21, continua propagando a existência de um negro brasileiro como
produto da escravidão, e não como agente de luta, de transformação.
Por outro lado, o texto permite adentrar em questionamentos referentes
às lutas quilombolas e ao protagonismo negro que precisava ser cessado, pois
o abolicionismo libertou os poucos escravizados das correntes, mas não dos
vários problemas da época e de agora: moradia, saúde, educação e trabalho,
por exemplo.
Em síntese, para o negro livre, acostumado à lida do campo, do trabalho
em plantações, do conhecimento técnico de agricultura, não existiu reforma
agrária para incluí-lo em outro campo de política social desenvolvimentista
no Brasil.
Fica de igual modo evidenciado, no poema, que rebeliões constantes
ocorriam por todo o país, e não somente em Palmares. Esse é outro detalhe
que precisa ser posto em discussão: o privilégio historiográfico de Palmares,
de certa forma, invisibiliza centenas de outros pequenos redutos de lutas e de
resistências contra o escravismo, como o Quilombo de Campo Grande ou de
Ambrósio, em Minas Gerais, que, em extensão, foi possivelmente maior do
que o Quilombo Zumbi dos Palmares, em Alagoas.
É importante destacar que a história, por muito tempo, esteve arraigada
à visão do negro escravo – como se fosse inerente à condição do negro ser
escravo (sua essência) – e não à noção de escravizado, posto que não se
nasce escravo, mas, por forças diversas, em contextos diversos, se é vítima
de escravização. Aliado a isso, no imaginário das pessoas, permanece a noção
equivocada – e racista – de que negros estavam e continuam estando a serviço
de afazeres vinculados a essa história fundante da escravidão.
192
3 Ver: BRASILEIRO, Jeremias. História e tradição em cada detalhe da festa da Congada de Uberlândia. TV
Paranaiba, Uberlândia, set. 2017. Suporte em Mídia Digital e DVD/vídeo, som, color, 20’ (NTSC). Banco
de dados em audiovisual. Acervo do pesquisador. Também possível de acessar em: https://www.youtube.
com/watch?v=WvCxKkGqEWY&t=21s. Disponível desde 17 set. 2017.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 193
Subconsciente de sinhá
4 BRASILEIRO, Jeremias. Cultura afro-brasileira na escola: o Congado em sala de aula. São Paulo: Ícone
Editora, 2010. Igualmente ver: REICHERT, Maiquel Cristian. Pedagogia da tradição: Africanização das
mentalidades. 2017. 20 f. Curso (Graduação em Arte – Teatro) – Laboratório de Expressões Culturais do
Brasil, Licenciatura em Arte-Teatro, Universidade Estadual Paulista, 2017.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 195
plástica, estética, que aparece no mês de realização das festas, mas que seu
povo desaparece do cenário social das cidades, durante o restante do ano.
Sair desse lugar comum de quase reproduzir aquilo que parece natura-
lizado não é um desafio fácil. Possivelmente, mais confortável seria repro-
duzir ou não contrariar as coisas que já estão preestabelecidas, seguindo-as
sem criar constrangimentos pessoais, políticos, acadêmicos, religiosos e de
outras naturezas.
Considero que o/a pesquisador/a, qualquer que seja a sua linha temática
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nesse campo de estudo, deveria atentar-se, mesmo que o mínimo possível, para
outras possibilidades de análises ou de apontamentos que possam contribuir
para um melhor conhecimento do objeto pesquisado, oportunizando, deste
modo, a crítica por meio de uma pedagogia congadeira.
Daí a pertinência de pensar nos estudos sobre a cultura e, mais especi-
ficamente a cultura afro-racial, como práticas em que os atores sociais, de
igual modo, estão integrados ao mundo, à sociedade e, consequentemente, à
cidade e que estes não podem ser tipificados como meros objetos culturais
de exposição pública para satisfazer olhares curiosos e ávidos para aplicar
aos corpos, aos gestos, às danças, aos ritmos, uma noção de espetacularidade
temporária, descartando-os posteriormente, até que a próxima festa aconteça.
A seguir, apresento uma leitura do poema “Seu nome vai ser Maria”.
Pertencer à cidade, trabalhar na cidade, em outros tempos, como na
década de 1970, em Uberlândia, Minas Gerais, principalmente em serviços
domésticos, não foi algo simples. As relações cotidianas estavam permeadas de
preconceitos. Com as mulheres negras, os absurdos produzidos pelas “sinhás
modernas” continuavam latentes. São vários os casos de mulheres negras
que, servindo, devem esperar a hora “certa” e o lugar “certo” de comerem
(na despensa, no quintal ou em outros espaços semelhantes).
A realidade de Uberlândia, nesse aspecto, figura neste poema:
Para quem já foi vítima desse tipo de agressão, nada mais constrange-
dor do que ter a sua dor questionada, mensurada ironicamente como sendo
isso que havia acontecido naquele famoso clube, no mês de novembro do ano
de 1998. Afinal de contas, a dor não era deles, era somente minha.
Esse poema propicia também uma encenação teatral, pois os elementos
nele contidos podem ser trabalhados de forma subliminar ou de forma a retra-
tar uma das realidades mais perversas do preconceito racial em consequência
da cor da pele de uma pessoa. Isso ocorre de forma tão sutil que, às vezes, a
própria vítima se torna culpada pelo acontecimento racista. Se observarmos
o tempo, o lugar e os personagens, descobriremos que, tanto antes quanto
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E EXPERIÊNCIAS
AFE��S, REFLEXÕES
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PROSEANDO COM GUIMES
RODRIGUES FILHO
Neli Edite dos Santos
2) Logo acima, citamos uma estrofe de Riachão que data de, pelo
menos, 1972. Quais destaques você pode fazer em relação às últimas
décadas para nos ajudar na compreensão do processo histórico de
construção de corpos negros desatrelados de condições exclusiva-
mente subalternizadas?
Gosto muito de um verso dessa música que diz que a Mãe Preta não é
leiteira e de outro que manda o algoz branco ir mamar em outro lugar. Eles
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5 MELLO, L.; RESENDE, U. P. Revista Sociedade e Estado, v. 34, n. 1, p. 161-184, 2019; e Cad. Pesqui.,
São Paulo, v. 50, n. 175, p. 8-28, 2020.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 209
minha e de uma advogada negra, Dra. Vera Lúcia Kátia Sabino Gomes, o
MPF instaurou o Processo Preparatório n. 1.22.003.000005/2021-22, o qual
foi transformado em ICP para que a UFU cumpra de forma efetiva a Lei
nº 12.990/2014, incluindo a reposição das vagas perdidas.
7) Guimes, você aceita ampliar um pouco mais seu retrato 3x4, con-
tando-nos do trânsito de seu corpo no espaço da Universidade Federal
de Uberlândia?
Para falar do trânsito do meu corpo como homem negro nesse espaço
branco chamado universidade pública, em particular na UFU, vou começar
do final, a partir de um vômito. Por que vomitei no caminho da UFU para a
minha casa?
Me aposentei em outubro de 2019 – uma aposentadoria judicializada.
Em novembro de 2019, fiz uma cirurgia na coluna. Por causa disso, reagendei
uma reunião com o reitor, que estava marcada para 08 de novembro de 2019,
para o dia 28 de novembro de 2019. Fui para essa reunião com a Dra. Jane
Maria do Santos Reis (atual Coordenadora Executiva do NEAB) e a Dra.
Cristiane Coppe de Oliveira (atual Diretora da DIEPAFRO), para tratar do
assunto específico das cotas raciais para negras/os nos concursos públicos. A
reunião era para cobrar da Reitoria, pela enésima vez, a alteração na forma de
se aplicar o percentual de 20%, como já mencionei anteriormente na resposta
da pergunta número 5. Eu não estava bem, pois, afinal, a minha cirurgia era
recente e eu havia tido muitos problemas no pós-cirúrgico, tendo operado
no dia 08 de novembro, com alta no dia seguinte, e reinternado no dia 13
de novembro. A reunião foi simples: a branquitude exerceu o seu papel com
requintes de crueldade. O reitor ouviu a nossa reivindicação e o pró-reitor
de gestão de pessoas fez as suas considerações para nos explicar que havia
cancelado a Portaria 4 de janeiro de 2019, que era resultado de um trabalho
conjunto do NEAB com a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEP),
realizado em 2018, e que garantia a aplicação efetiva do percentual de 20% de
reserva de vagas para negros estabelecido na Lei nº 12.990/2014. O Pró-reitor
justificou ainda que o entendimento da gestão era de que havia a necessidade
de que as modificações na forma de se aplicar a reserva de vagas para negros
deveriam passar pelo CONDIR.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 211
Acho que a música pode tudo sonhar. Então, encontraram na poesia uma
forma de apontar para o “foi” que, infelizmente ainda “é”. Eu, particular-
mente, não consigo hoje cantar o “foi”. Mas espero cantar ainda hoje já que
amanhã será hoje também. Enfim nosso povo está lutando por esse trânsito
do “é” para o “foi” desde que aqui foi traficado como escravizado e vamos
transformando o nosso luto em luta.
Axé, Saravá!
Guimes.
OMÓ ORÙNMILÁ (FILHOS
DE ORÙNMILÁ): a cultura da
comunidade tradicional Yorubá
Ellen Faria
Baba Paulo Tolomi Ifatide Ifamoroti Ojewale
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Renata Sangoranti
que traz felicidade e boa comunhão, alegria e conforto para a celebração das
passagens mais importantes da vida.
Outros exemplos de rituais: retirada do véu da noiva por seu pai e do
Fila (chapéu) do noivo pela noiva, com a recolocação dele novamente em
sua cabeça. Esses gestos simbolizam a aceitação do casamento. Há também
o momento em que a irmã mais velha ou a pessoa mais velha da família da
noiva lava e enxuga seus pés, simbolizando a purificação e o início de uma
nova etapa.
Cês tem que entender nosso lado, porque o papo não faz curva.
Aqui o papo é reto.
Vocês vão se arrepender de me fazer de objeto.
Isso é o combo do meu horror.
Uns morto na matéria, mas vivo na memória.
Eu canto aqui é pra lembrar nossas histórias.
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AS VOLTAS DO MUNDO
Gilberto Neves
tosse”, este era seu apelido. Apesar da fraqueza, ela acordava todos os dias e
aflorava à porta com seu sorriso gentil. Tinha uma irmã louca, que ela cuidou
até que um dia “Deus levou” – contava e se benzia. Gatos, algumas galinhas
e um vira-lata sarnento eram sua companhia. Meia dúzia de vizinhos fiéis e a
molecada, que ela acolhia, compunham seu ambiente familiar.
O casebre faltava reboco nas paredes. Sem caiação. O teto feito de telhas
mal encaixadas. Chão de terra batida. Dois cômodos geminados. Uma única
porta de entrada e saída da sala, que era metade cozinha. As paredes enfuma-
çadas pela incessante atividade do fogão de lenha. Numa das paredes, pendia
uma antiga folhinha, impregnada de gordura e fuligem, com a imagem de
São Benedito. Um vão retangular na parede oposta ao fogão dava acesso ao
quarto escuro com uma janela de tábuas de caixote quase sempre fechada.
Do lado de fora, uma fossa cercada de pré-moldados, coberta com telhas
de zinco retorcidas e piso de tábuas com um recorte central para as neces-
sidades fisiológicas. Era também onde ela tomava banho de caneca, com o
auxílio de uma tampa de madeira.
Recostado nas placas e sustentado em tocos de pau, havia um bacião de
cimento cru ladeado pelo batedor de roupas. Do chão, subia um cano de ferro
com uma torneira envolta em tira de pano, sempre pingando. Ficava atado
com arame a um sarrafo fincado no solo úmido da poça de água barrenta que
escorria para a fossa. Logo atrás, duas fileiras horizontais de arames farpados
serviam como varal das roupas lavadas.
O detalhe que fazia daquela pobreza um ambiente de aconchegante sim-
plicidade era o pé de manga bourbon, quase na divisa ao fundo, e o grande
flamboyant verde-vermelhante, que crescera à frente do casebre em copas
de generosa folhagem, flores e compridas vagens. Um capricho solidário
da natureza que oferecia frutas, beleza e sombra fresca. O cartão de visitas!
Sob a sombra do flamboyant, dois banquinhos onde cabiam quatro ou cinco
pessoas – ela fazia questão. Esse cenário era suficiente para encher Tia Gina
de contentamento. Louvava a sua sorte: “Deus é pai!”.
Não sabíamos de onde viera nem como Tia Gina fora morar ali. Seria uma
posse de usucapião ou um patrimônio daqueles doados a negros sem eira nem
beira pós-Abolição? Ela beirava os 80 anos de idade quando eu tinha meus
230
“Dente podre tem que extrair para salvar dentes sãos” – dizia a madame
da mansão. Não fazia questão alguma de esconder o orgulho. Desprezo de
cor mal disfarçado. A comparação soava como pancada seca aos ouvidos de
Tia Gina. Magoada, ela se calava. Sentia tristeza, não vergonha. A indiferença
era sua resposta, sua luta.
Com o tempo, diminuíram as visitas. Metade dos vizinhos fiéis vendeu
suas casas e saiu do bairro. Os moleques mudaram-se, outros cresceram. As
galinhas acabaram. O sarnento morreu de velho. Ficou apenas um gato. O
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Estou aqui, mais uma vez, eu vim entoar este mantra groove pra vocês
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Estou aqui, mais uma vez, eu vim entoar este mantra groove pra vocês
É muito sonora a percussão!
Sonoras as batidas do meu coração!
Olha lá, olha quem chegou! Salve! Chama ele, avisa, chama, fala
Xangô chegou!
Saravá, viva Xangô!
Então fala pra ele:
Fala pra Xangô abençoar nossos tambores,
Fala pra Xangô iluminar nossos terreiros,
Fala pra Xangô abençoar nossos tambores.
Por quê?
Fala pra Xangô iluminar nossos terreiros,
Hoje tem batucada, hoje tem batucada, hoje batuca a noite inteira
Hoje tem batucada, hoje tem batucada, hoje batuca a noite inteira
Pra quem que tem batucada?
Para os Hare Krishnas e os Babalorixás
Para os Hare Krishnas e os Babalorixás
Viva Zumbi! Viva Zumbi!
Viva Zambê! Viva Zambê!
Viva Zumbi Zambê!
Viva Zumbi Zambê!
MITOLOGIA AFROJACKIANA
1 Texto extraído do Inventário de Proteção do Acervo Cultural de Uberlândia-MG. Redigido por Fabíola Benfica
Marra em agosto de 2006. Disponível em: https://livrozilla.com/doc/1271598/terno-congo-camisa-verde.
236
com suas identidades preservadas e que lutam para que essas identidades se
mantenham fortes. O termo “folclórica” inserido aqui, nesse momento do
texto, faz referência apenas ao olhar equivocado que eu possuía sobre a festa
de congado. Utilizo semanticamente com o intuito de demonstrar como o
conhecimento nos liberta de preconceitos principalmente sobre as culturas
afro-brasileiras. O congado é um lugar de abrigo e de reconexão com a ances-
tralidade dos afro-brasileiros.
Com todo o impacto que a experiência fotográfica me trouxe no ano de
2003, continuar com os registros fotográficos do congado foi uma necessidade
prazerosa. Registrei a festa e os ternos do congado de Uberlândia durante
anos, entre 2003 e 2019.
Tambores e estandartes
Nota: Tambores e estandartes do Moçambique de Belém. Fonte: Foto e acervo do autor, 2003.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 239
Nota: Apresentação do Marinheiro de São Benedito. Fonte: Foto e acervo do autor, 2018.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 241
como TV, rádio, Jornal e internet. Tais termos foram apropriados pelo campo
das artes e fazem referências às relações entre as linguagens artísticas. O
pesquisador Hans Lund, acima citado, busca as interfaces e interartes entre a
pintura e a música. No nosso caso, a música dos tambores e a imagem fotográ-
fica. Assim, mais do que sons de tambores, essas imagens fotográficas trazem
sonoridades diversas como vozes silenciadas, choros, gritos que merecem e
precisam ser ouvidos.
Poder ser ouvido possui uma enorme importância para todos afro-brasi-
leiros, posto que o silêncio de nossas vozes e nossas culturas trouxe junto o
esquecimento e o desprezo sobre as questões raciais negras no Brasil. Ouvir
e falar enquanto sentidos do corpo realizados por canais diferentes, ouvido e
boca, podem, num sentido artístico, ser unidos para posteriormente se apre-
sentarem como um novo objeto de arte. Nesse novo trabalho fotográfico
busco explorar, dentro da linguagem imagética, um campo de pesquisa muito
interessante: o processo de criação sinestésico. Esse processo almeja, através
da imagem, incentivar o espectador a também “ouvir” o que a imagem foto-
gráfica “diz”. Qual o som, qual o grito que pode ser ouvido através do olhar,
através da imagem fotográfica? O inverso também é possível: qual imagem,
retrato ou paisagem o som do tambor pode nos conferir? Ao espectador dessas
imagens o silêncio será apenas externo e, quiçá, por dentro de si, ele possa
escutar as vozes que clamam por justiça, por igualdade, por semelhança, por
pertencimento. Essa é a poética que todo esse trabalho documental e artístico
fotográfico que realizei tentou, e, de alguma forma, ainda almeja alcançar.
Nota: Festa do Congado – Catupé Azul e Rosa. Fonte: Foto e acervo do autor, 2018.
Nota: Festa do Congado – Moçambique Estrela Guia. Fonte: Foto e acervo do autor, 2018.
244
Nota: Festa do Congado – Bastão de Capitão. Fonte: Foto e acervo do autor, 2018.
REFERÊNCIAS
BRAGANÇA, G. F. F. Parâmetros para o estudo da sinestesia na música:
1. ed. Belo Horizonte: Per Musi, 2010.
Nota: Sra. Darci Ferreira Rodrigues e Sr. José Rodrigues – Rainha Perpétua e Rei Perpétuo.
1 AGEE, J. E Evans, W. Elogiemos os homens ilustres. São Paulo, Cia das Letras, 2009, p. 13.
250
Nota: Sra. Mariza de Fátima Lima e sua Nota: Padre Hudson Inácio de Almeida e
bisneta, Vitória Isabele – Terno Camisa Verde. Acólito Pedro Henrique Amélio A. Ferreira.
Nota: Thayna Ribeiro Cunha e Josianny Ribeiro Vieira – Terno Catupé Dona Zulmira.
256
Nota: Marcos Elias Mendes, Silvano Batista Oliveira (Babá Silvano) e Flávio Lúcio Artur dos Santos – Terno Rosário Santo.
E REFLEXÕES
��PE�I�N���S, AFETOS
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A ÉTICA DA DIFERENÇA:
a educação escolar quilombola como
direito humano inalienável
Alan Alves-Brito
Carla Meinerz
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Introdução
O conceito de quilombo
1 Ver Nascimento (2008) para uma discussão sobre o conceito de quilombo. Beatriz Nascimento, historiadora,
ativista, uma das maiores intelectuais brasileiras, vítima do feminicídio que segue eliminando mulheres
compulsoriamente no Brasil, preferencialmente as mulheres negras.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 267
2 Um dos mais respeitados pensadores negros da História do Brasil, articulador da ideia de quilombismo a
partir de uma crítica contundente ao mito da democracia racial, de Gilberto Freyre, vinculando sistemas de
pensamento em torno das ideias de resistência, revolta e negritude.
3 Um dos mais importantes intelectuais negros no que concerne reflexões e aprofundamentos sobre a orga-
nização social brasileira em torno do conceito de raça/escravidão, ressignificando a luta e a resistência
quilombola no país.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 269
6 Conceitos dinâmicos no tempo e no espaço. Classe capitalista (marxista: materialismo histórico) e classe de
mercado (weberiana: pessoas livres que atuam em mercados) são articuladas de formas diferentes no Brasil.
Mas, independente da forma, a discussão da raça antecede às questões de classe no nosso entendimento.
7 Útero aqui pensado não apenas no âmbito das bio-lógicas, mas da potência de gestação de um outro mundo,
mais incluso e cheio de possibilidades para jovens negros e negras.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 275
8 Um dos maiores pensadores negros do século XX, autor do clássico Peles Negras, Máscaras Brancas
(FANON, 2008).
278
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte (MG):
Letramento: 2018.
QUILOMBOLA DE JAMBUAÇU/PA
Ana D’Arc Martins de Azevedo
Aymê Jilvana C. Fergueira
Eduardo Silva dos Santos
Elziene Souza N. Nascimento
Flora Cristine da C. Scantlebury
Gabriela da Conceição P. S. Ferreira
Josiane de Carvalho Souza
Laís Rodrigues Campos
Sandra Haydée Petit
Silvandra Cardoso Gonçalves
Thaila Cristina B. Damasceno
Waldirene dos Santos Castro
Introdução
1 “As escolas/classes multisseriadas são uma forma de organização escolar em que alunos de diferentes
idades e tempo ou níveis de escolarização (o que conhecemos por série) ocupam uma mesma sala de aula,
sob a responsabilidade de um mesmo professor” (JANATA; ANHAIA, 2015, p. 686).
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 293
foram destacados por P3: “Povos das águas, quilombolas, etc”. O fomento
de “debates” sobre as identidades étnicas está presente na fala de P6, que
diz: “Muitos, porque tinham vários debates sobre esse assunto. E devido a
essa formação, ainda podemos que nos identificar enquanto quilombolas”. A
respeito do tema “História da África e afro-brasileira”, ainda é um incomodo
social nos espaços educacionais de formações. A professora P4 diz: “Teve.
Mas dá pra perceber uma certa rejeição ao tema na formação de professores,
não é muito valorizado”. Entendemos, nessa resposta, que há conhecimento
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participei da gestão, mas não consegui pegar dos antigos gestores esse
documento. Para que haja o conselho escolar, é preciso ter um Projeto
Político-Pedagógico. Fui por dois biênios presidente do conselho da escola,
fiz uma boa movimentação, mas eu nunca encontrei na escola um docu-
mento, e eu perguntei várias vezes na SEMED se tinha esse documento
em algum arquivo, mas o PPP tem que ficar na escola, porque é um docu-
mento em sequência que representa a escola e a comunidade e atualmente
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 295
o conselho escolar está vencido [...] Tem recursos, mas o conselho escolar
não está atuando.
cita que materiais muito bons, produzidos por determinada professora, ficaram
trancados com medo de serem alvo de morcegos.
Conclusão
agravada pela pandemia que dificultou ainda mais o trabalho docente. Encon-
tramos, assim, algumas problemáticas comuns a outros tantos quilombos do
país, que são resultantes, em grande parte, das lacunas das formações iniciais
e continuadas pouco consistentes e da descontinuação dos cursos fornecidos.
Seria importante indagar até que ponto as formações inicias universitárias e os
cursos eventuais dão conta de fomentar pedagogias afrorreferenciadas/afroqui-
lombolas. Não parece haver uma apropriação aprofundada das pistas fornecidas
pelos dois principais documentos oficiais conquistados pela população negra,
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Ana D’Arc Martins de. Tensões na construção das identidades
quilombolas: a percepção de professores de escolas do quilombo de Jam-
buaçu Moju (PA). 2011. 163 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa
de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, São Paulo, 2011.
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Contextualização
1 Para mais informações sobre o LitERÊtura, ver o blog e a página do Instagram: https://literetura.wordpress.
com/ e https://www.instagram.com/literetura/. Acesso em: 9 nov. 2021.
302
Principais ações
3 Tais trabalhos apresentados e registrados no Caderno de Programação do evento estão em fase de escrita
para compor um e-book.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 305
Considerações preliminares
Por meio desses projetos de intervenção, aspectos sobre identidade,
autoestima, conhecimentos acerca da história e cultura afro-brasileira e afri-
cana vêm sendo explorados com as crianças, revelando elementos nem sempre
observados no cotidiano das aulas, sobre como elas encaram sua comunidade,
sua escola e a si próprias.
Assim, os resultados parciais indicam que o projeto vem conseguindo,
ainda que com desafios, sobretudo em relação ao distanciamento social, cum-
prir seus objetivos formativos, tanto in loco – com o corpo docente da escola
parceira – quanto com todo o município da Serra. As discussões promovidas
pelas lives, com uma média de 2 mil visualizações, ainda reverberam, haja
vista os nomes das palestrantes, como Aparecida de Jesus Ferreira, Nilma
Lino Gomes, Lucimar Dias, Eliane Debus, Maria Anória de Jesus Oliveira.
306
REFERÊNCIAS
ALACRINO, Daniela dos Santos; ARAUJO, Débora Cristina de. Diálogos
afrodiapóricos entre literatura infantil e o espírito da intimidade: famílias
negras e a construção de afeto. In: MICHELLI, Regina; GREGORIN FILHO,
José Nicolau; GARCÍA, Flavio (orgs.). Caderno de Programação e Resu-
mos do II ENLIJ / I CILIJ II Encontro Nacional de Literatura Infantil/
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ALMEIDA, Amanda Ribeiro de; ARAUJO, Débora Cristina de. Análise crítica
do discurso nos materiais do PNLD literário: relações étnico-raciais e a litera-
tura na escola. In: MICHELLI, Regina; GREGORIN FILHO, José Nicolau;
GARCÍA, Flavio (orgs.). Caderno de Programação e Resumos do II ENLIJ
/ I CILIJ II Encontro Nacional de Literatura Infantil/Juvenil, I Congresso
Internacional de Literatura Infantil/Juvenil: questões e temáticas de ontem
e de hoje. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2021. p. 43. Disponível em: http://www.
dialogarts.uerj.br/admin/arquivos_tfc_literatura/cadres_IIENLIJ_ICILIJ.pdf.
Acesso em: 9 nov 2021.
DIAS, Lucimar Rosa; GOMES, Nilma Lino. A escrita literária: autoras negras
de literatura infantil. Live. Youtube, Canal Educa Serra. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=dQAokzhici0. Acesso em: 21 jun. 2021.
SILVA, Jamile Menezes da; ARAUJO, Débora Cristina de. A produção literária
capixaba: autoras negras de literatura infantojuvenil. In: MICHELLI, Regina;
GREGORIN FILHO, José Nicolau; GARCÍA, Flavio (orgs.). Caderno de
Programação e Resumos do II ENLIJ / I CILIJ II Encontro Nacional
de Literatura Infantil/Juvenil, I Congresso Internacional de Literatura
Infantil/Juvenil: questões e temáticas de ontem e de hoje. Rio de Janeiro:
Dialogarts, 2021. p. 113. Disponível em: http://www.dialogarts.uerj.br/admin/
arquivos_tfc_literatura/cadres_IIENLIJ_ICILIJ.pdf. Acesso em: 9 nov. 2021.
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SILVA, Sonia Dalva Pereira da; ARAUJO, Débora Cristina de. Ações for-
mativas em literatura infantil e juvenil com temática da cultura africana e
afro-brasileira. In: MICHELLI, Regina; GREGORIN FILHO, José Nicolau;
GARCÍA, Flavio (orgs.). Caderno de Programação e Resumos do II ENLIJ
/ I CILIJ II Encontro Nacional de Literatura Infantil/Juvenil, I Congresso
Internacional de Literatura Infantil/Juvenil: questões e temáticas de ontem
e de hoje. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2021. p. 58. Disponível em: http://www.
dialogarts.uerj.br/admin/arquivos_tfc_literatura/cadres_IIENLIJ_ICILIJ.pdf.
Acesso em: 9 nov. 2021.
TEMPO NOVO, Jornal da Serra. Canal Educa Serra vai transmitir palestra
sobre autoras negras na literatura infantil, 21 jun. 2021. Disponível em:
https://www.portaltemponovo.com.br/canal-educa-serra-vai-transmitir-pa-
lestra-sobre-autoras-negras-na-literatura-infantil/. Acesso em: 21 jun. 2021.
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A LEI Nº 10.639/2003: UM INSTRUMENTO
PARA A EDUCAÇÃO PARA SUPERAÇÃO
DO RACISMO: um relato de experiência
no Vale do Mucuri / Minas Gerais
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Introdução
SIL, 2003).
Compreendemos que, junto a essa lei, deveriam ter sido estabelecidas
outras políticas públicas visando garantir a sua efetivação, por exemplo:
a) abertura de vagas para concursos nas universidades específicas para esse
tipo de ensino, garantindo que não seja abordada de forma equivocada, detur-
pada, estereotipada e à mercê da vontade ou conhecimentos de professores
engajados na questão do racismo no Brasil; b) a capacitação obrigatória con-
tinuada do corpo docente das escolas públicas – ensino infantil, fundamental
e médio – em torno da temática.
Em nossa avaliação, a maioria das pessoas capacitadas em todas as eta-
pas do curso já tinha certa afinidade e disposição para abordar a temática.
Consequentemente, a estrutura racista continuou operando e o preconceito
religioso em relação às religiões de matriz africana afastou diversas pessoas
da área da educação das capacitações oferecidas.
3 Os autores que escreveram os artigos que compõem o número 22 da RIBLA denominam cristianismo
originário o movimento das comunidades e dos seguidores de Jesus no período compreendido entre os
anos 30 e 70 d.C. O estudo desse tipo de cristianismo constitui-se em forma de contraposição aos autores
da Patrística que manifestaram euforia com a conversão do imperador Constantino a cristianismo e viam
nesse fato um triunfo da igreja (PIXLEI, 1996, p. 5). Dentre os autores da Patrística defensores dessa euforia
está Eusébio (265-339), bispo de Cesareia, que escreveu a obra História Eclesiástica.
4 Os estudos e pesquisas bíblicas que se fundamentam em metodologias científicas – exegese e na hermenêu-
tica – especialmente numa hermenêutica libertadora, ecumênica, inter-religiosa e popular. Elas identificaram
diversas contribuições de África para as ciências da religião, para a formação de Israel e da Palestina, bem
como para a contestação do racismo. Sobre isso recomendamos também as publicações sobre Bíblia
e Negritude do CEBI – Centro de Estudos Bíblicos – https://cebi.org.br/ – que são disponibilizadas com
preços populares, bem como a Revista Identidade da Escola Superior de Teologia da IECLB, disponíveis
gratuitamente em http://periodicos.est.edu.br/index.php/identidade.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 323
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Sílvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro;
Pólen, 2019.
BÍBLIA. Atos dos Apóstolos. Trad. João Ferreira de Almeida. 1948. Dis-
ponível em: http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/biblia.html. Acesso em: 10
RIBLA. Mundo negro y lectura bíblica. Quito, 2000. n. 19. Disponível em:
https://abiblica.org.br/novo/revista-de-interpretacao-biblica-latino-americana/.
Acesso em: 18 fev. 2022
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algumas dos familiares deles/as a praticavam; sendo assim, não apenas por
isso, mas também por compreender a capoeira como uma prática cultural
que poderia nos trazer elementos de trabalho pedagógico referenciado com
crianças pequenas, a elegemos como pilar das atividades desenvolvidas na
experiência pedagógica que relatamos neste texto.
A população negra é majoritária em São Francisco do Conde – segundo o
IBGE, 77% de pessoas declararam-se negras em 2010. A cidade é considerada
de pequeno porte (em torno de 39 mil habitantes em 2016, segundo o IBGE,
seja efetiva e os projetos de trabalhos sejam não apenas pensados para elas,
mas com elas.
A creche Zaide Daltro Dias, em 2017, oferecia atendimento integral (8h
às 16h) e possuía seis salas de aula, um salão para atividades e áreas livres
cimentadas. A turma de bebês que realizou o projeto era constituída de 15
crianças, sendo 10 meninos e 5 meninas, todas com idades entre 2 anos e 2
anos e seis meses. A maioria das crianças tem pais e mães que comparecem
à creche, bem como avós, e se conhece antes de estar junta na creche. Todas
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Primeira etapa
Segunda etapa
2 Cf. vídeos: Aula de capoeira para crianças na escola Ursinho da Neném – https://www.youtube.com/
watch?v=pNPy8nGqK6M; Pedro e Arthur de 6 anos na Capoeira – criança vem jogar – https://www.
youtube.com/watch?v=g2GZd1160m4; Kids Capoeira Instructional Video – https://www.youtube.com/
watch?v=BI_3bkY3mO4.
330
Terceira etapa
Quarta etapa
3 Cf. dica para confecção de instrumentos em Como fazer um pandeiro com material reciclável – Artesanato
Passo a Passo! (artesanatopassoapassoja.com.br)
4 Cf. vídeo em Aprenda a fazer seu caxixi de material Reciclável – https://www.youtube.com/
watch?v=Lwhu7buzE2w.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 331
Considerações finais
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Parecer CNE/CP nº 3/2004. Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para
o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília, DF, 2004.
Você chegou
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1 Para o presente artigo, não usaremos a concepção de corpo cartesiana, que separa corpo e mente, mas a
concepção de corpo ou corpos será espinosiano. Para Espinosa, o corpo é uma singularidade intercorpórea.
Para ele, os corpos são energias que não são definidas por encontros e choques ao acaso, mas por conexões
e processos de união e decomposição de acordo com maior ou menor compatibilidade. Entretanto, quando
empregamos outro conceito de corpo, e iremos empregar, explicitaremos no artigo.
338
3 Em seu livro: Senhores e caçadores, o historiador inglês Thompson emprega o conceito do “não dito”
para compreender as ações dos agentes sociais das camadas populares que não estavam presentes nos
documentos produzidos pelo Estado. Entretanto, Thompson não negligencia os documentos oficiais, apenas
aponta a necessidade de criar outro olhar para alcançar a ação dos sujeitos históricos que não estavam
presentes implicitamente na documentação disponível. Ver: THOMPSON, Edward Palmer. Senhores e
caçadores: a origem da Lei Negra. Tradução: Denise Bottmann. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
(Coleção Oficinas da História).
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 341
8 Em outro módulo do Projeto Mais Educação, que nominei: “O Egito e Uma Nova Ordem Decolonial”, abor-
damos três visões acadêmicas sobre o Antigo Egito: uma que considera sua origem como indo-europeia;
outra que defende a origem como africana; e a mais recente que privilegia uma formação mista desde os
primórdios. Minha intenção era de abordar as pesquisas acadêmicas sobre o Egito e as lutas antirracistas
a partir do movimento panafricanista ao longo do século XX.
344
9 Nascido em 1988, na cidade de Volta Redonda, Rio de Janeiro, Thiago Miranda se envolveu com a música
por volta dos 15 anos de idade, seu nome artístico, Thiago Elniño, adveio de sua alteração drástica de
temperamento nos palcos em que alterna momentos tranquilos e tempestivos em suas performances artís-
ticas. Seus videoclipes, com letras fortes e viscerais, denunciam o racismo e tratam de questões ligadas à
ancestralidade como mecanismo de construção da identidade do Povo Preto. Suas músicas “Amigo Branco”
(2013), “Diáspora” (2016) e “Pedagoginga” (2017) sintetizam seu trabalho que vai além de apresentar
músicas, mas sim de usar a arte como mecanismo de luta e emancipação social. Para ver o clipe: https://
www.youtube.com/watch?v=L6q2EkkQLLs. Acesso em: 10 out. 2019.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 345
Após pegarem seus textos, dei um tempo para que lessem e trocassem
com os colegas. Realizado o processo de leitura, começamos a escrever poe-
mas e prosas a respeito da cultura negra e do racismo estrutural e suas inter-
secções de gênero, classe e tons de pele. Nesse encontro, e nos dois seguintes,
compartilhamos nossos poemas e prosas em um sarau, no qual cada educando
se posicionava no centro da roda para declamar seu poema ou ler sua prosa.
A cada prosa lida ou poema declamado por um estudante, investigávamos
juntos o texto. Em alguns escritos, cerramos os olhos para imaginarmos o
11 Após uma palestra na EMEF JARDIM MONTE BELO, ministrada por Natanael dos Santos, professor da
Faculdade Zumbi dos Palmares e militante do movimento negro desde os anos oitenta, recebemos o con-
vite para participarmos de um concurso organizado pela Faculdade Zumbi dos Palmares em parceria com
Divisão Pedagógica da SME. Disse a ele que, em um dos módulos do Projeto, havia trabalhado a escrita
de prosa e poesia com os estudantes, conversei com os estudantes a respeito do concurso e disse que,
se quisessem, poderíamos participar com nossos textos já escritos. Os educandos animados aceitaram e
enviamos nossos escritos. Participamos do concurso literário com certo êxito. Os escritos produzidos por
estudantes de nossa unidade escolar podem ser encontrados no livro Estes africanos Brasileiros, de Regina
Brunhns Andrade.
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 347
Conclusão
de guerra criativas. Assim, por vezes, educar deve ser entendido como uma
ação constante de mudanças para avançarmos nas prescrições dos currículos e
dos modos de ensinar ainda estanques. O relato pedagógico descrito, ao longo
do presente artigo, mais do que representar uma ruptura com uma Educação
Bancária é, antes de tudo, uma construção de uma educação antirracista.
Para tanto, coloquei a maneira como lecionava de “ponta cabeça” e passei
a imergir em outros caminhos necessários para a aprendizagem dos educandos.
Desse modo, criamos outras perspectivas sobre as questões raciais e as mazelas
de nosso país. Entretanto, devo ressaltar que nossa “invertida pedagógica” não
se trata de sistematizar um novo padrão, mas sim de proporcionar um olhar
nômade sobre o conhecimento que, impreterivelmente, deve ser revisitado
para não se tornar sedentário.
Em nossa caminhada, passeamos por mapas e criamos outro olhar para
percebermos as intenções de um documento ou ideia, por vezes, ocultadas.
Percorremos o Egito, que nos aparece no imaginário coletivo como um não
lugar, para desconstruir o eurocentrismo que nos impede de perceber o desen-
volvimento da humanidade para além do Velho Continente; pela dança e pela
canção, criamos corpos espinosianos para dissolver uma visão cartesiana,
que separa corpos e mentes, e assim aumentar nosso espaço de contato com
o mundo. Por último, realizamos nosso sarau, no qual cada adolescente, por
meio da prosa e poesia, expressou visões sobre o racismo e, acima de tudo,
criou linhas criativas antirracistas.
348
REFERÊNCIAS
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Os perigos de uma história única. Tradução:
Julia Romeu. São Paulo: Cia das Letras, 2019.
FERNANDES, Dirley (org.). O que você sabe sobre a África?: uma viagem
pela história do continente e dos afro-brasileiros. São Paulo: Nova Fron-
teira, 2016.
MUDIMBE, Yves. The invention of Africa: gnosis, philosophy and the order
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RABAQUIM, Lucas. Para os que nos enterram somos sementes. In: RABA-
QUIM, Lucas; ANDRADE, Regina Brunhns, SANTOS, Natanael dos (org.).
Estes Africanos Brasileiros. São Paulo: BAOBA, 2019. p. 147.
Sites
MEDIEVAL world map, Mappa Mundi, what does it show? (We get close up
to this national treasure). 2019. 1 vídeo (15min). Publicado pelo canal Modern
History TV. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=n4uHbTt-
Wbe8. Acesso em: 20 abr. 2021.
Introdução
O território
Considerações finais
REFERÊNCIAS
APPADURAI, A. The past as a scarce resource man. The Journal of the
Royal Anthropological Institute, n. 16, 1981, p. 201-219.
Plano de aula
Objetivos
Conteúdos
Metodologia (desenvolvimento)
com vistas a realizarmos uma visita para fotografar, para ter contato direto
e saber a história da sua existência. Se possível, encaminhar a plantação de
um Baobá na escola para que os(as) estudantes acompanhem o crescimento
e vivam uma experiência coletiva em relação ao nascimento de uma árvore e
o fortalecimento das relações de sociabilidades e de identidade das crianças
e adolescentes que desse momento participarem.
3ª etapa: Proponha uma atividade de pesquisa onde, em dupla ou trio,
os/estudantes possam fazer um levantamento dos elementos da cultura negra
presentes na localidade com base em entrevistas com moradores(as) que sejam
referências importantes na memória ancestral. Poderão ser entrevistados(as)
mestres ou mestras da cultura, lideranças religiosas de matriz africana, ati-
vistas dos movimentos negros, artistas, lideranças comunitárias ou outros. As
entrevistas poderão ser gravadas no celular. Importante que o(a) professor(a)
disponha de um termo de consentimento para autorização das imagens e
áudios. O roteiro das entrevistas poderá ser organizado na sala de aula com
o auxílio do(a) professor(a). Perguntas que poderão conter no questionário:
o nome do(a) entrevistado(a); idade; como se autodeclara em relação à raça/
etnia; prática cultural/tipo de arte em que atua; há quanto tempo mora na
localidade; contar um pouco da história da formação do lugar; como foi a
infância no bairro; como era o lugar e que transformações sofreu ao longo
do tempo; se tem fotos dessa época e se podem disponibilizá-las; com quem
aprendeu o conhecimento que carrega na sua arte/prática cultural; como tem
repassado esses conhecimentos para as gerações mais jovens; qual a impor-
tância desse conhecimento na preservação da memória das pessoas do lugar;
se ele/a conhece outras pessoas importantes na preservação da memória negra
do bairro ou cidade; pedir que deixem uma mensagem que considerem impor-
tante no enfrentamento ao racismo.
4ª etapa: No retorno da pesquisa de campo, em roda, as equipes socia-
lizarão as entrevistas levantadas estabelecendo aproximações e diferenças
entre as informações. Como fechamento, a turma será convidada a montar
um painel coletivo com imagens e que contextualize a história e a cultura do
• Canção do Baobá:
https://www.youtube.com/watch?v=Mvn62nLFAwM
• Baobá – Tio Som: https://www.letras.mus.br/tio-som/baoba/
• Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades –
CEERT: https://ceert.org.br/
• Geledés: https://www.geledes.org.br/educacao/
• Ensino de Ciências e relações étnico-raciais. Página do Professor Alan
Alves Brito – UFRGS: https://www.if.ufrgs.br/~aabrito/extensao.html
• Revista África e Africanidades: https://africaeafricanidades.online/
• Baobá árvore da vida:
https://www.youtube.com/watch?v=g-LZgQRqJ30
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 371
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Inaldete Pinheiro de. Uma aventura do Velho Baobá. Rio de
Janeiro: Pequena Zahar, 2022.
SEQUÊNCIA DIDÁTICA
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MEMÓRIAS DE UMA SENZALA
Alinne Grazielle Neves Costa
Justificativa do projeto
A Lei no 10.639, do ano de 2003, institui no currículo das escolas brasilei-
ras a História da África e da Cultura afro-brasileira2 resultado dos esforços dos
1 Reportagem para o Jornal Online: Diário de Uberlândia. Disponível em: https://diariodeuberlandia.com.br/
noticia/29827/dia-nacional-da-consciencia-negra-tem-programacao-especial-em-uberlandia
2 Vale mencionar que, para atender as injustiças históricas realizadas à população ameríndia no Brasil, essa
Lei sofre alteração e dá lugar à Lei nº 11.645/2008, que inclui também a obrigatoriedade de História e Cultura
indígena nos currículos escolares.
376
Competências em Arte
Habilidades:
Competências em História
Habilidades
Objetivo geral
Objetivos específicos
Duração do projeto
Metodologia
Desenvolvimento
Navio Negreiro
A lavoura no Engenho
Gemem na minh’alma,
A alma do Congo, Da Niger, da Guiné,
De toda África enfim...
A alma da América... A
alma Universal...
Quem tá gemendo, negro ou carro de boi?
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 383
O escravo castigado
Transição
Nasce a Congada
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8º momento – avaliação
Uma sugestão para essa etapa é fazer a avaliação por meio de um ques-
tionário em papel A4 (caso não seja possível usar a internet e o Google Forms)
a ser distribuído ao final do percurso para obter as impressões e as refle-
xões das(os) discentes. O importante é permitir que esse momento ocorra
logo após a exposição para que assim elas e eles consigam expressar tudo
que vivenciaram.
Seguem alguns depoimentos de alunas e de alunos coletados no
Google Forms:
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9.394, de
20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade
da temática ‘História e Cultura Afro-Brasileira’, e dá outras providências.
Diário Oficial da União, Brasília, 10 jan. 2003.
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B
Base Nacional Curricular Comum (BNCC) 294, 295, 376
Brincadeira 60, 86, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 99, 123, 230, 270
Brincadeiras africanas 86, 90, 92, 94
390
C
Cabelo 21, 22, 24, 28, 53, 65, 72, 78, 111, 171, 179, 180, 181, 182, 183, 184,
185, 187, 188, 248, 323
Capoeira 29, 67, 170, 202, 206, 211, 212, 213, 327, 328, 329, 330, 331, 332,
333, 334, 335, 403
Cinema 89
Cor 13, 17, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 28, 31, 35, 48, 53, 54, 59, 63, 64, 65, 67,
D
Democracia racial 11, 21, 27, 31, 32, 49, 50, 51, 62, 78, 99, 108, 119, 138,
139, 141, 143, 149, 150, 151, 153, 154, 156, 160, 162, 180, 268, 271, 284, 314
Desafio 12, 17, 20, 25, 29, 31, 39, 50, 51, 54, 60, 62, 94, 131, 135, 137, 138,
146, 183, 195, 205, 212, 261, 262, 265, 268, 278, 301, 305, 321, 333, 353,
357, 359, 360, 371, 407
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 391
Desconstrução 35, 61, 77, 119, 134, 136, 141, 143, 161, 269, 337, 338, 339
Desigualdade 12, 26, 33, 34, 35, 42, 43, 48, 49, 62, 95, 124, 127, 129, 130,
132, 133, 134, 152, 156, 160, 161, 166, 174, 180, 201, 208, 262, 265, 269,
272, 282, 284, 301, 307, 312, 339, 351, 356, 360, 362, 370, 376, 382, 400,
401, 402, 404, 405, 406
Diferença 48, 50, 55, 56, 59, 61, 110, 127, 129, 130, 133, 134, 135, 139, 140,
145, 154, 156, 158, 159, 162, 265, 268, 272, 274, 331, 353, 377, 387
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
Direitos humanos 36, 105, 128, 129, 265, 266, 276, 289, 298, 311, 312, 321,
365, 377, 378, 387, 397
Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) 12, 36, 118, 120, 144, 145, 147,
267, 278, 281, 282, 283, 284, 285, 287, 288, 291, 292, 294, 295, 296, 298,
299, 336, 353, 364
E
Educação antirracista 3, 4, 12, 13, 14, 15, 31, 48, 49, 51, 57, 60, 61, 85, 99,
108, 109, 138, 172, 176, 179, 180, 181, 184, 187, 188, 268, 317, 325, 339,
347, 356, 360, 378, 385
Educação escolar quilombola 212, 265, 268, 278, 281, 282, 283, 287, 288,
289, 290, 291, 292, 294, 296, 298, 299, 407
Educação Infantil 18, 20, 27, 31, 35, 36, 40, 42, 43, 48, 49, 51, 52, 53, 54,
57, 60, 63, 67, 77, 78, 79, 80, 84, 154, 165, 203, 286, 288, 304, 307, 308,
327, 334, 336, 405, 407
Educação literária 95, 101
Enegrecer 17, 20, 215
Enfrentamento 18, 20, 27, 35, 41, 49, 95, 123, 124, 137, 138, 142, 146, 163,
182, 186, 194, 275, 357, 369
Ensino Fundamental 18, 20, 50, 85, 98, 99, 100, 101, 102, 108, 179, 181,
203, 288, 305, 334, 354, 367, 378, 402, 406
Epistemologia 60, 133, 142, 145, 160, 363, 365
Escola antirracista 20, 23, 31, 32, 35, 41, 47, 48, 51, 53, 56, 60, 63, 67, 74,
77, 78, 123, 400, 402, 403, 405, 406
Escravizados 17, 111, 114, 116, 127, 130, 162, 191, 192, 193, 223, 234, 267,
271, 281, 286, 320, 322, 377
Escravos 88, 112, 116, 190, 275, 281, 318, 320, 322, 323
Estética 13, 28, 37, 95, 100, 180, 181, 183, 195, 205, 245, 274, 291, 302,
358, 362, 376, 377
Ética 95, 100, 265, 268, 274, 276, 290, 348, 376, 377, 399
392
Étnico-racial 12, 14, 18, 19, 20, 22, 23, 24, 30, 31, 40, 41, 42, 43, 44, 54, 57,
59, 60, 63, 64, 77, 79, 85, 94, 102, 109, 110, 118, 119, 120, 123, 130, 135,
137, 138, 140, 144, 147, 171, 172, 180, 181, 184, 205, 265, 267, 272, 276,
278, 284, 285, 287, 289, 294, 296, 299, 300, 301, 302, 303, 304, 305, 307,
308, 311, 314, 315, 316, 317, 318, 319, 324, 336, 351, 352, 353, 354, 355,
356, 357, 359, 364, 370, 398, 399, 403, 405, 406, 407
Exercício 72, 99, 100, 106, 107, 118, 119, 127, 133, 135, 144, 146, 172,
222, 313, 377
F
Ficção 97, 344, 346
Fotografia 71, 72, 235, 237, 241, 247
H
História 12, 17, 18, 25, 26, 31, 32, 36, 38, 39, 41, 42, 45, 50, 51, 52, 54, 56,
59, 60, 62, 64, 85, 88, 92, 94, 100, 103, 106, 114, 115, 116, 119, 120, 134, 135,
136, 137, 138, 139, 140, 142, 143, 144, 146, 147, 151, 155, 156, 159, 161,
162, 163, 165, 166, 169, 171, 173, 174, 175, 184, 186, 189, 191, 192, 202,
203, 204, 205, 207, 212, 214, 215, 223, 227, 234, 237, 239, 245, 261, 262,
265, 268, 269, 271, 276, 277, 284, 285, 286, 287, 289, 290, 291, 292, 293,
294, 295, 298, 299, 300, 303, 305, 311, 312, 313, 314, 315, 316, 317, 318,
319, 320, 321, 322, 323, 324, 325, 327, 328, 330, 331, 332, 334, 335, 336,
339, 340, 342, 345, 346, 348, 349, 352, 353, 357, 359, 364, 365, 367, 368,
369, 375, 377, 378, 379, 382, 387, 397, 398, 399, 400, 402, 403, 405, 406, 407
I
Intersecção 41, 60, 149, 153, 164, 276, 278, 288, 346
J
Jeremias 18, 25, 41, 189, 190, 192, 194, 196, 239, 245, 254, 403
L
Língua Portuguesa 100, 108, 190, 354, 358, 401, 405
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 393
Literatura infantil 109, 110, 113, 115, 294, 301, 302, 303, 304, 305, 306,
307, 308, 309, 399
M
Mão 25, 27, 67, 77, 78, 79, 80, 117, 167, 175, 181, 185, 192, 213, 215, 227,
248, 274, 275, 321, 385
Misoginia 13, 33, 169
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
N
Navio negreiro 234, 380, 381
Negritude 18, 19, 20, 24, 25, 27, 28, 29, 38, 98, 142, 147, 159, 160, 182, 183,
211, 237, 248, 261, 268, 274, 298, 322, 346, 400, 401
Negro 11, 12, 13, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31,
33, 34, 35, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 47, 48, 49, 50, 51, 53, 54, 55, 56, 57, 60,
61, 64, 65, 67, 69, 70, 73, 78, 84, 92, 98, 99, 104, 105, 110, 111, 112, 114,
117, 118, 119, 123, 127, 130, 134, 135, 136, 137, 139, 140, 141, 142, 143,
144, 145, 146, 147, 151, 152, 153, 155, 158, 159, 160, 161, 162, 163, 166,
167, 169, 171, 172, 173, 174, 175, 176, 177, 179, 180, 181, 182, 183, 184,
185, 186, 187, 188, 190, 191, 192, 193, 194, 195, 196, 201, 202, 203, 204,
205, 206, 207, 208, 209, 210, 211, 212, 213, 214, 215, 216, 217, 229, 234,
237, 241, 244, 245, 248, 261, 262, 266, 267, 268, 269, 270, 271, 272, 273,
274, 275, 276, 277, 278, 279, 283, 284, 285, 286, 287, 292, 293, 294, 296,
298, 300, 301, 303, 304, 305, 306, 307, 308, 309, 311, 312, 313, 314, 315,
316, 317, 318, 319, 320, 321, 323, 324, 325, 327, 328, 331, 333, 335, 336,
340, 343, 345, 346, 348, 349, 352, 354, 355, 356, 357, 358, 359, 361, 362,
363, 365, 367, 368, 369, 370, 371, 375, 376, 377, 378, 379, 380, 381, 382,
384, 385, 386, 399, 401, 406
O
Olhar fotográfico 249
Oxalá 89
P
Paradigma 133, 134, 135, 140, 142, 143, 146, 340
Pele 21, 22, 26, 27, 29, 31, 35, 53, 54, 63, 64, 65, 66, 67, 70, 71, 72, 73, 74,
75, 77, 78, 79, 100, 101, 102, 104, 105, 106, 107, 154, 173, 193, 197, 204,
215, 227, 231, 277, 279, 319, 323, 346, 386
394
Política 13, 20, 21, 22, 23, 24, 38, 42, 43, 44, 51, 54, 77, 95, 97, 98, 100,
118, 128, 129, 133, 135, 137, 139, 140, 141, 142, 144, 146, 148, 151, 152,
157, 175, 184, 191, 201, 202, 204, 205, 210, 223, 266, 267, 271, 274, 275,
276, 282, 284, 285, 286, 288, 291, 294, 296, 312, 314, 317, 321, 336, 353,
355, 357, 377, 399
Prática educacional 17, 137, 360, 406
Preconceito 21, 31, 36, 39, 43, 44, 50, 53, 55, 57, 58, 89, 93, 97, 98, 99, 100,
101, 102, 103, 104, 105, 106, 118, 124, 131, 137, 154, 159, 162, 165, 180,
Q
Questões étnico-raciais 54, 85, 109, 110, 267, 276, 278, 315, 316
Quilombo 131, 169, 191, 211, 265, 266, 267, 277, 279, 282, 292, 294, 295,
296, 297, 299, 398
Quilombola 14, 40, 212, 265, 267, 268, 269, 271, 272, 273, 274, 275, 276,
278, 281, 282, 283, 284, 287, 288, 289, 290, 291, 292, 293, 294, 295, 296,
297, 298, 299, 300, 398, 402, 407
R
Racismo 4, 11, 12, 13, 17, 18, 19, 20, 21, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 33,
34, 35, 38, 39, 41, 42, 43, 44, 45, 47, 48, 50, 51, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60,
61, 62, 63, 74, 77, 78, 95, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 106, 109,
112, 118, 119, 123, 128, 134, 135, 137, 138, 140, 141, 143, 144, 145, 146,
147, 149, 150, 151, 152, 153, 154, 156, 157, 158, 159, 160, 162, 163, 164,
165, 166, 167, 169, 170, 171, 172, 173, 174, 175, 176, 180, 182, 186, 187,
189, 194, 203, 204, 205, 206, 211, 213, 215, 223, 227, 241, 245, 248, 269,
271, 272, 274, 276, 278, 279, 284, 287, 289, 297, 298, 299, 300, 311, 312,
314, 315, 317, 318, 319, 320, 321, 322, 323, 324, 327, 337, 343, 344, 345,
346, 347, 348, 353, 355, 356, 357, 359, 362, 365, 369, 376, 382, 385, 386, 399
Racismo estrutural 17, 18, 19, 20, 26, 30, 31, 34, 35, 42, 48, 50, 53, 54, 63,
74, 77, 137, 143, 145, 146, 147, 152, 162, 170, 211, 269, 271, 278, 287, 320,
324, 346, 348
Racismo eurocêntrico 337
Racismo institucional 30, 35, 41, 50, 99, 123, 143
Reconexão 237
Resistência 11, 12, 13, 17, 20, 25, 35, 38, 42, 45, 70, 137, 140, 141, 143,
146, 148, 149, 156, 160, 161, 169, 174, 179, 181, 187, 191, 192, 206, 208,
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 395
211, 227, 237, 245, 247, 248, 262, 267, 268, 271, 275, 277, 281, 287, 293,
297, 298, 303, 315, 323, 335, 362, 368, 380, 384
S
Saci 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 119, 120, 121
Senzala 49, 139, 375, 378, 382, 383, 384
Sequência didática 63, 85, 86, 87, 88, 92, 93, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101,
Editora CRV - Proibida a impressão e/ou comercialização
T
Tambor 17, 25, 41, 42, 192, 233, 235, 238, 239, 241, 244, 247, 384
Território 116, 165, 173, 175, 206, 266, 267, 281, 282, 283, 288, 291, 292,
293, 295, 298, 335, 345, 355, 356, 357, 359, 360, 361, 367
Y
Yorubá 14, 217, 218, 222, 270
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SOBRE AUTORAS E AUTORES
Adalberto de Salles-Lima
Doutor e mestre em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília (UnB). Cur-
sou licenciatura em Geografia pela Universidade do Estado da Bahia. Professor
da UnB (membro externo) e da Secretaria de Educação do Distrito Federal.
E-mail: sallesvitoria@hotmail.com
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Alan Alves-Brito
Astrofísico, doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, com estágios
de pós-doutorado no Chile e na Austrália. Atua como professor adjunto no
Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
e coordena o Núcleo de Estudos Africanos, Afro-Brasileiros e Indígenas da
UFRGS. Exerce atividades de ensino, pesquisa, extensão e divulgação em
ciências. Membro de variadas instituições científicas. Idealizador e coordena-
dor do Projeto Zumbi-Dandara dos Palmares, é também finalista do Prêmio
Jabuti 2020, na categoria Ensaio de Ciências, e ganhador do Prêmio José Reis
de Divulgação Científica e Tecnológica do Conselho Nacional de Desenvol-
vimento Científico e Tecnológico 2022, na categoria Pesquisador e Escritor.
E-mail: alves.brito.a@gmail.com
Cicera Nunes
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e professora
do Departamento de Educação da Universidade Regional do Cariri (URCA).
Integra o corpo docente do Programa de Mestrado Profissional em Educação e
do Mestrado Profissional em Ensino de História da URCA e é líder do Núcleo
de Estudos e Pesquisas em Educação, Gênero e Relações Étnico-Raciais.
E-mail: cicera.nunes@urca.br
CONSTRUINDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: reflexões, afetos e experiências 399
Cristina Peron
Possui graduação em Pedagogia pelo Centro Universitário do Triângulo. Cur-
sou especialização em Saúde Coletiva pela Universidade Federal de Uberlân-
dia (UFU). Aposentou-se do cargo de técnica administrativa da UFU. Tem
experiência na área de Educação, e principalmente nos seguintes temas:
doença falciforme, racismo e educação. E-mail: cristina.r.peron@gmail.com
Eduardo Ramos
Artista visual, músico, bacharel e licenciado em Artes Visuais pela Univer-
sidade Federal de Uberlândia e mestre em Música pela mesma universidade.
Atualmente é professor de Arte na rede municipal de ensino de Uberlândia e
desenvolve trabalhos de pesquisas de intermidialidade entre a música e a pintura.
E-mail: eduardoramosart@gmail.com
400
Flaviane Malaquias
Graduada em Artes Plásticas e mestre em Arte-Educação pela Universidade
Federal de Uberlândia (UFU). É artista visual, arte-educadora e pesquisadora
do Núcleo de Pesquisa em Pintura e Ensino da UFU. A artista parte de suas
próprias vivências relacionadas ao “ser mulher negra” e amplia a discussão
para outras realidades, indo a campo investigar o corpo negro em diferentes
contextos. E-mail: flavinhamalaquias@hotmail.com
Gilberto Neves
Professor de História, advogado e escritor de contos e poesias. Publicou nos
livros Os olhos de luna e outros contos (1984), e Uberlândia – 20 autores
(2013). Foi classificado em 2º lugar no Concurso Nacional de Dramaturgia do
Instituto Nacional de Artes Cênicas (1983), com a peça “As Ambrósias”. Em
breve, publicará Cenas urbanas e o amor (2022). Foi Secretário Municipal
de Cultura, em Uberlândia, de 2013 a 2016. E-mail: gnevesmg@gmail.com
Jack Will
Graduado em música pela Universidade Federal de Uberlândia. Percussio-
nista e baterista, com fortes raízes afro-mineiras, há 18 anos vem atuando
profissionalmente em shows, gravações e aulas. Apresenta-se em diversos
lugares no Brasil e em alguns países da Europa. Em 2022, vai lançar o seu
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Jeremias Brasileiro
Doutor em História Social pela Universidade Federal de Uberlândia. Membro
do Instituto Histórico e Geográfico Sul de Minas, sediado em Poços de Caldas,
MG, ocupante da Cadeira 05, cujo Patrono é Rei Ambrósio.
Renata Sangoranti
Produtora cultural e advogada. Preside e coordena o Centro Cultural Orùnmilá.
SOBRE O LIVRO
Tiragem não comercializada
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 12,3 x 19,3 cm
Tipologia: Times New Roman 10,5/11,5/13/16/18
Arial 8/8,5
Papel: Couché fosco 90 g (miolo)
Royal Supremo 250 g (capa)