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Dane Silvestre

Filomena Daniel

Filomena João Mawinda

Resumo da obra de Jean Copans Maurice Godelier, Intitulada “Antropologia


Ciência Das Sociedades Primitivas?”

Universidade Rovuma

Extensão de Cabo Delgado

2022
Dane Silvestre

Filomena Daniel

Filomena João Mawinda

Resumo da obra de Jean Copans Maurice Godelier, Intitulada “Antropologia


Ciência Das Sociedades Primitivas?”

Licenciatura em Ensino de Química com Habilitações em Gestão de Laboratórios

Trabalho de fins Avaliativo a ser apresentado


na cadeira de ACM, no Curso de Química, 2º
Ano/ 2º Semestre Leccionado por:

dr. Faruck Abdul Amede

Universidade Rovuma

Extensão de Cabo Delgado

2022
Sumário
Situação da antropologia...................................................................................................3

Origens da Antropologia...................................................................................................4

Investigação Antropológica...............................................................................................6

Tendências Actuais da Antropologia.................................................................................8

Responsabilidades Sociais e Políticas da Antropologia....................................................9

Constituição de uma Antropologia Política.....................................................................10

Sociedades e Sistemas Políticos......................................................................................11

As Funções Politicas e o seu Enquadramento.................................................................12

Génese e Estrutura do Estado..........................................................................................13

A Acção Política..............................................................................................................14

A Antropologia e as Transformações Políticas...............................................................16


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Resumo da obra de Jean Copans Maurice Godelier, Intitulada “Antropologia


Ciência Das Sociedades Primitivas?”

Situação da antropologia
A heterogeneidade da vida em sociedade tornou-se progressivamente manifesta
no decorrer do descobrimento e da ocupação colonial das sociedades não europeias.
Reparou-se então que as sociedades da América, da Ásia e da África não eram feitas à
imagem da sociedade europeia. Esta verificação começa por fazer dessas sociedades um
objecto de reflexão filosófica ou política, antes de se tornarem objecto de ciência.

A sistematização dessas reflexões sob uma forma científica torna-se possível a


partir do momento em que a ciência das formações sociais e históricas se constitui, isto
é, no decurso do século XIX (Saint- -Simon, Proudhon, Karl Marx, Augusto Comte).

Entretanto, este movimento interno que leva a etnologia a transformar-se numa


antropologia, a evolução histórica põe de novo em causa o princípio constitutivo da etnologia,
isto é, a distinção entre sociedades europeias e «não europeias».

As transformações económicas, políticas e sociais das primeiras, provocadas


pelas segundas, tornaram arbitrária uma distinção científica, cuja razão de ser surge
claramente como ideológica: era preciso que o bom selvagem fosse considerado
diferente e distinto para que se tornasse possível defini-lo como objecto de
conhecimento e de exploração.

Hoje está menos ameaçado que então de perversão ideológica, visto que a
antropologia trabalha na elaboração da teoria do desigual desenvolvimento social e
histórico. Cumpre-lhe, portanto, criticar a «superioridade» ocidental como produto
histórico necessário de um desenvolvimento unilinear. Quer dizer: a antropologia já não
é a ciência provinciana das sociedades exóticas e folclóricas, tal como foi
frequentemente considerada.

Com efeito, a unificação da evolução histórica das sociedades humanas impõe


uma nova perspectiva que suprime as particularidades e as diferenças como
constitutivas de teorias locais da evolução social. A esta necessidade histórica junta-se
uma necessidade científica: a explicação do funcionamento das sociedades europeias e
«não europeias», passadas e atuais, não pode ser elaborada senão dentro de um mesmo
conjunto.
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Origens da Antropologia
Toda a ciência tem necessidade de descobrir os seus precursores. Antiguidade das
preocupações «etnográficas» seria um indício da curiosidade natural das nossas
sociedades relativamente aos outros grupos humanos, a fim de entre todos estabelecer as
diferenças e as semelhanças.

O duplo aspecto da exclusão ideológica e da inclusão «cientifica» sustenta, portanto,


todo o discurso etnográfico desde as origens.

A Idade Média dá uma nova forma a esse duplo aspecto do discurso sobre
os outros: cristãos e não cristãos. É, aliás, em nane desta diferença que se justificarão as
primeiras conquistas e explorações coloniais do Renascimento.

A partir dos séculos XVII e XVIII vemos desenharem-se empiricamente os contornos


de uma reflexão mais sistemática sobre as sociedades não europeias e sobre, a natureza das
sociedades e do homem em geral.

Explicar as diferenças e as semelhanças, as origens e as evoluções das sociedades, tal e


o programa dos pensadores da segunda metade do século XVIII (Origine de l'inégalité parmi les
hommes; Essai sur les moeurs, etc.). É, pois, neste contexto que aparece pela primeira vez o
emprego dos termos etnologia e etnografia ia etnologia (Chavannes, 1787) é primeiramente um
ramo da filosofia da história e depois a análise das características raciais.

 Do projecto teórico ao trabalho de campo

O primeiro campo empírico a tomar forma é o da evolução natural da espécie


humana. É a distinção cada vez mais acentuada entre a origem e a evolução do ser
humano como espécie natural e como ser social que explica a constituição de disciplinas
científicas autónomas.

Desde o início encontramos a preocupação do registro ordenado e sistemático


dos elementos de cada sociedade. Em 1799 Gerando elabora um questionário que
precisa: «O primeiro expediente para conhecermos bem os: selvagens são tornarmo-nos
de certa maneira um de entre eles.» A multiplicação das missões científicas, o interesse
posto na colecta de documentos e de objectos (em paleontologia, pré-história,
antropologia física), o desenvolvimento da museografia e dos seus princípios
(classificação, conservação, exposição), modificam consideravelmente as condições da
reflexão teórica.
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 Panorama de um itinerário teórico

Desde no princípio, do século XIX é evolucionista: o progresso técnico e


económico é prova incontestável de uma certa evolução histórica. Decalcando o modelo
do evolucionismo biológico, buscam-se os estádios da evolução humana e, em
consequência, as sociedades primitivas aparecem como os antepassados naturais das
sociedades ocidentais atuais.

Trata-se de um evolucionismo Unilinear, quer dizer, tal sucessão de estádios é


necessária e obrigatória: por uma série de transformações passa-se do inferior ao
superior. O americano Lewis H. Morgan (1818-1881) – ilustra perfeitamente esta
tendência com o seu livro Ancient Society. O primeiro contributo de Morgan consiste
em demonstrar a importância decisiva das relações de parentesco em determinado
estádio das sociedades humana.

Entretanto, a pesquisa das leis de evolução das sociedades levou frequentemente


a extrapolações e a generalizações abusivas: as sínteses elaboradas acabam por silenciar
as lacunas da documentação ou os fatos que contrariam a demonstração. Pode-se
afirmar, sem exagero, que todas as teorias etnológicas subsequentes tomaram uma
posição antievolucionista. Apenas vinte anos depois, e principalmente nos EUA, é que
se assiste ao retomar de um neo-evolucionismo.

Os difusionistas (na Alemanha com F. Graebner, P. Schmidt, L. Frobenius, nos


E. U. A. com C. Wissier) pesquisam os círculos, as áreas culturais que delimitam e
explicam as diferenças e semelhanças entre sociedades: os fenómenos de contacto, de
empréstimo, de difusão de elementos são determinantes.

Parafraseando o Claude Lévi-Strauss: “Dizer que uma sociedade funciona, é um


truísmo; mas dizer que tudo, numa sociedade, funciona, é um absurdo”.

O estruturalismo, tal como Lévi-Strauss o teorizou e praticou, não é um


formalismo. De fato, o objetivo da etnologia (Lévi-Strauss conserva ainda nessa época,
1949, a acepção de M. Mauss) «é atingir, para além !da imagem consciente e sempre
diferente que os homens formara do seu devir, um inventário de possibilidades
inconscientes, que não existem em número ilimitado, e cujo repertório e as relações de
compatibilidade ou de
incompatibilidade que: qualquer delas mantém com todas as outras fornecem uma
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arquitectura lógica a desenvolvimentos históricos que podem ser imprevisíveis sem


nunca serem arbitrários» . Tendo começado pela análise das Structures élémentaires de
la parenté, Lévi-Strauss especializouse depois no domínio adequado à manifestação das
leis inconscientes: La pensée sauvage e Mythologiques renovam completamente, de há
dez anos para cá, a reflexão teórica relativa às produções intelectuais das sociedades
ditas «primitivas».

Assim, Max Gluckman, na Grã-Bretanha, e Georges Balandier, em França,


puseram em foco a natureza contraditora não igualitária e assimétrica das ralações
sociais. Partidários de uma espécie de empirismo historizante ou tipológico,
consagraram-se a estados de dinâmica social (rituais de rebelião, messianismos, casos
de antropologia política) que tentam esclarecer a natureza real das transformações
produzidas pela colonização europeia na África negra.

Investigação Antropológica
O aparecimento da etnologia (e a possibilidade de transformá-la numa
antropologia) resulta de um fenómeno único e original. De foto, o carpo empírico da
etnologia é o resultado de uma historia política e económica que integra sociedades
diferentes na orbita material e intelectual do Ocidente.

O campo empírico é portanto imposto à reflexão teórica: não é um pensamento


à procura do seu objecto que o recorta mais ou menos progressivamente numa dada
realidade. Por isso é que durante muito tempo a procura de uma definição do novo
campo social se confundirá com a elaboração propriamente teórica da sua natureza e das
suas leis de funcionamento. A aparência tão diferente destas sociedades (a sua
«simplicidade» em relação às sociedades europeias) apresenta-se coro a sua própria
essência.

A etnologia é a busca eternamente renovada de um objeto que se escapa, porque


não pode ser definido senão excluindo a priori a problematização da relação não
científica que o produziu. A etnologia atribui-se corno objecto um produto ideológico.

A antropologia enquanto ciência aparece, pois, primeiramente como uma


articulação consciente da teoria com as práticas, como uma crítica do contexto histórico
i9deológico e teórico que a toma possível.
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As sociedades recentemente descobertas vão ser qualificadas com uma multidão


de sinónimos, todos igualmente mistificadores, aos quais se procura em seguida dar um
estatuto científico. São primitivas, arcaicas, atrasadas, tradicionais, sem escrita, sem
maquinação, etc. Contudo, mais que um estádio da história humana, estes termos
imprecisos designam o quadro simétrico e inverso do modernismo ocidental. Por outro
lado, explicitamente ou não, veiculam juízos de valor e permitem amalgamar sociedades
de fato dissemelhantes sob certos aspectos determinantes (parentesco, política, religião,
economia, etc.).

As noções primitivas ou de tradicional, as noções de cultura, de sociedade, de


fato social total, não definem os contornos reais dos objectos antropológicos. Estes
constroem-se numa prática especializada. Cada grande conjunto de instituições ou de
fenómenos deu lugar a uma série de estudos sistemáticos, monográficos ou
comparativos, reunidos a seguir em antropologias regionais. Tal prática nem por isso
aboliu o propósito totalizante, mas, criticando a aparente simplicidade das sociedades,
os antropólogos ultrapassaram o discurso ideológico que explica e descreve tudo.

 O método e as técnicas

Uma dupla ilusão preside ao desenvolvimento do método etnológico ainda


considerado como o --modelo ideológico e formal da prática antropológica. Esta dupla
ilusão é um subproduto natural das condições de descobrimento das sociedades
«exóticas», pela Europa.

Ilusão ideológica da objectividade do olhar alienígena permite transformar uma


experiência pessoal e imitada numa experiência científica. O etnólogo confirma o valor
dos seus resultados submetendo-os a uma comparação: abstém-se por esse fato de se
interrogar sobre a natureza da sua experiência e sobre os princípios que transformam
uma unidade isolada, a maior parte das vezes escolhida ao acaso, num microcosmo,
modelo acabado, em pequena escala, de um certo tipo de sociedade.

A arbitrariedade subjectiva e individual de uma ciência infusa e «ocidental» cede


o Lugar a uma antropologia respeitadora das regras do discurso científico e da
complexidade das estruturas sociais.
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Tendências Actuais da Antropologia


Cada disciplina científica possui uma consciência de si própria historicamente
determinada em cada etapa da sua evolução. Esta «consciência de si» não é forçosamente
explícita.

Trata-se de uma discussão clássica de epistemologia e da história das ciências.


As ciências humanas e antropológicas forneceram matéria para numerosas reflexões
deste género, visto que o seu objecto parece difícil de definir, e por consequência o
estatuto científico.

Marx dizia que «ao homem só se põe os problemas que pode resolver». Ora,
parece na verdade que para as ciências antropológicas chegou o tempo de pensar a
prática em relação à teoria, portanto de constituir una «consciência de si» explícita e
crítica. Porém, uma vez admitida a necessidade histórica deste fenómeno, é preciso tirar
dela todas as consequências.

Enquanto nas ciências exactas ou naturais é normal definir e descrever tos


protocolos da experiência, na ciência antropológica as condições da investigação (e
portanto as repercussões possíveis destas sobre os resultados) são sistematicamente
silencia as. O produto acabado (o trabalho) nunca aparece como a aplicação de um
conjunto de métodos distintos, mas complementares. Enumeremos rapidamente as
diferentes etapas do progresso científico:

 Crítica ideológica, semântica e científica das fontes documentais;


 Definição e realização das operações do trabalho de campo;
 Triagem e elaboração dos dados;
 Avanços teóricos da construção do objecto;
 Elaboração conceptual destinada à explicação;
 Condições de apresentação do conjunto dos resultados.

Portanto, é preciso apresentar a própria prática de campo, não sob a forma de


memórias literárias, mas como prova de uma prática científica. E também, é preciso
ligar a descrição do método empírico à evolução da reflexão teórica sobre o objecto de
estudo e sobre o próprio método empírico.

A análise teórica propriamente dita sofreu, e sofre ainda, um certo número de


influências novas no sentido do rigor conceptual e da formalização Outra influência
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determinante para o futuro da antropologia é a do marxismo. Antes de transformar o


campo conceptual, o marxismo modificou implicitamente os temas de investigação:
reconheceu-se aos domínios do político e do económico um estatuto que a ideologia
etnológica não podia conceder-lhes.

Mas estas tentativas (multiplicadas pelo emprego da fita magnética) podem


tornar-se fonte de novas ilusões, substituindo a análise teórica necessária pela
espontaneidade do discurso social e pela presença íntima do vivido.

Responsabilidades Sociais e Políticas da Antropologia


Desde o princípio, a etnologia participa de um certo contexto político. O
etnólogo tornou, portanto, posições políticas pela própria natureza da sua função
objectiva. A ideologia colonial e a etnologia fazem parte de uma mesma configuração, e
existe entre as duas ordens de fenómenos um jogo que condiciona o seu
desenvolvimento respectivo.

É evidente que todas as nossas práticas individuais como antropólogos se


inscrevem numa estrutura ideológica, política, económica (e muitas vezes militar)
imposta pelo Ocidente, donde a possibilidade de uma «paz branca». Mas tal
procedimento equivale a esquecer que esta estrutura tem a sua lógica própria, de
exploradores e de explorados, e que os exploradores do Terceiro Mundo têm de se
libertar da exploração, e não de se refugiar num passado.

Não se trata de fazer de todo o antropólogo um Che Guevara e da antropologia


uma prática revolucionária. Trata-se, antes, de reconhecer uma mudança ria natureza
das sociedades estudadas: um novo «campo» se esboça, que é o da tomada de
consciência de uma exploração ou de uma opressão (imperialista, cultural, racial).

 Para uma antropologia geral

Em antropologia confundimos ainda a ordem das urgências, quer dizer,


hesitamos entre as sociedades «primitivas» em vias de desaparecimento e o projecto
teórico da comparação do conjunto das sociedades humanas, históricas e
contemporâneas. Uma tal confusão, porém, é igualmente resultado da cisão estabelecida
entre a antropologia e as outras ciências humanas.
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A unidade das ciências manas não devem, pois, constituir um vão projecto nem
um mito ideológico; é uma necessidade científica. Todas as ciências humanas (entre
elas a antropologia) se acham a mesma exigência: experiência histórica actual das
sociedades põe um certo número de problemas de ordem teórica e prática que só uma
nova prática da investigação pode abordar e resolver.

A elaboração de uma antropologia geral é um projeto que demanda muito tempo.


É também um projecto cujas vastas dimensões mal- foram ainda delimitadas. Por isso é
que não encontraremos aqui mais do que um balanço das conclusões, uma recapitulação
necessária dos problemas antes da longa marcha que nos deve conduzir à ciência única
das formações sociais e históricas de que todos necessitamos.

Constituição de uma Antropologia Política


A história da antropologia política é evidentemente a história de toda a
antropologia.

As primeiras abordagens são indirectas. Manifestam-se nas preocupações


comparativistas de duas investigações:

 A historia do direito (Sumner Maine) e as que


 Estados da evolução e por conseguinte dos tipos de organização (L. H.
Morgan).
Em comparação com os esforços despendidos para esclarecer os prolemas da
família. E da organização clânica, as obras teóricas consagradas às instituições políticas
das tribos primitivas são em número ínfimo.

Correntes como a escola funcionalista definem-se em função das grandes opções


da antropologia e não são evidentemente exclusivas da antropologia empírica e
historicizante e uma corrente formalista e psicossociologizante.

As duas correntes opõem-se consoante o nível considerado para realizar a


análise: os da primeira corrente defendem uma visão global da sociedade e confrontam
a definição oficial dos sistemas com as contradições originadas pelas praticas, mas sem
construírem um modelo ao passo que os da segunda corrente, atribuindo peculiar
importância ao nível local.
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Para validar esta analise histórica é preciso confronta-la com a actual situação do
politico nas sociedades subdesenvolvidas. A transformação da tradições e dos sistemas
(as ideologias, as instituições c as praticas) constitui efectivamente o complemento
necessário de uma antropologia politica com incidência na dinâmica das contradições
sociais. E também uma forma de prestar homenagem científica aos povos outrora
colonizados e ainda dominados pelo imperialismo na sua luta pela independência
politica.

Sociedades e Sistemas Políticos


Não há dúvida de que o politico se refere à totalidade social enquanto tal. Dois
antropólogos tao diferentes comam S.-F. Nadel e G. Balandier frisam-no claramente:

 A associação política parece caracterizar-se por dois factores: primeiro


pela sua extensão, pois e a unidade de coordenação relativamente mais
vasta. A consciência de uma identidade colectiva acentua este facto e
acha-se especialmente valorizada quando há relações com outros
grupos.»
 Os fenómenos políticos caracterizam-se pelo seu aspecto sintético;
 A associação política caracteriza-se a seguir pela natureza do seu
mecanismo regulador;
 O poder político é inerente a qualquer sociedade;
Para tornar operacional a nossa antropologia política é pois necessário precisar
as leis de desenvolvimento das sociedades. A partir da divisão do trabalho estabelecem-
se distinções sociais que tomam a forma de desigualdades entre os indivíduos e os
grupos.

Põe-se um duplo problema metodo1ogico:

 Devemos julgar idas funções políticas segundo a sua forma acabada, isto
é, a forma de Estado.
 Por outro lado como se individualizam as funções politicas? Por que
razoes e em que momento os interesses da comunidade necessitam de
uma modificação das antigas formas de regulação?
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A antropologia política só tem sentido se reintegrarmos o seu objecto empírico nas


estruturas sociais e na história. Porque, como escreve N. Poulantzas, devemos situar
político na estrutura de uma formação social, por um lado enquanto nível especifico.

Cada antropólogo político tem a sua tipologia. A maior parte delas coincide ao
menos num ponto: a diferenciação do político em relação aos outros elementos do
sistema social.

Assim, D. Easton, baseia a sua tipologia nas três diferenciações seguintes:

 O grau de diferenciações estrutural entre as funcoes politicas e as outras


sociais;
 O grau diferenciações entre as funções politica;
 O grau de especialização das funções politicas particulares.
O continuum construído por E. Service M. Sahlins baseia-se nos «niveis de inte
ra ao socio culturais». Estes níveis correspondem a sociedades globais e não apenas a
tipos de sistemas políticos. Mas aqui também encontramos quatro níveis diferentes: as
hordas, as tribos, chefaturas e os Estados.

 A horda é organização social mínima.


 As tribos e sociedades hierarquizadas constituem um nível superior de
integração social;
 As sociedades estratificadas e as chefaturas exprimem já uma certa autonomia
do político e a possibilidade de uma passagem ao Estado.

As Funções Politicas e o seu Enquadramento


Politico e de alguma maneira o resultado de uma superdeterminação de sistemas
explicitamente não políticos. Um sistema do enquadramento pode ser politicamente
pertinente por causa dos seus efeitos directos sobre o sistema político por causa dos
efeitos directos do sistema politica sobre esse sistema, ou porque oferece uma
alternativa a política.

Os três domínios fundamentais que exprime e constroem o político, ou seja o


parentesco, a ideologia e, por fim a economia.

 O parentesco constitui a armadura geral da sociedade forma tambem a


sua armadura. São as relações de parentesco que definem as formas e os
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meios da coesão social e repartem os poderes poderes e as autoridades. É


que a pertença à comunidade depende do modo de descendência e regras
de residência.
 A ideologia sua função social não consiste em oferecer aos agentes um
conhecimento verdadeiro da estrutura social, mas simplesmente em
inseri-los de certa maneira nas suas actividades praticas que suportam
essa estrutura.
A ideologia tem várias dimensões: seja qual for a forma da armadura social, a
função da ideologia é dar-lhe coerência. A sua linguagem depende do tipo de armadura
da sociedade.

 A economia: a organização do trabalho e, por conseguinte, da produção,


repartição e distribuição dos recursos, enfim, a acumulação diferencial
desses mesmos recursos, permitem o desenvolvimento de desigualdades,
mas dentro de sistemas não políticos. De facto a passagem à chefatura e ao
Estado vai a par da utilização sistemática de todos esses meios pelos mesmos
indivíduos e os mesmos grupos
A existência de redes comerciais, de mercados, de produtos de monopólio, o
grau de separação entre o artesanato e as comunidades aldeãs, são outros tantos sinais
económicos de uma divisão do trabalho cada vez mais complexa. Mas e no preciso
momento em que o objecto próprio da antropologia política parece desaparecer e se
instaura a autonomia politico sob a forma de Estado.

Génese e Estrutura do Estado


Entre as condições necessárias ao aparecimento do Estado, é preciso fazer uma
distinção entre os elementos da coesão social e o objecto da mesma, isto é, a população.

A Investigação das origens do Estado e a definição das suas características


fundamentais são o tema central da antropologia politica. Definir a natureza do Estado e
evidentemente descrever as suas condições de aparecimento, ainda que analise se
pretenda estrutural ou funcionalista e não genética.

O Estado é o centro de uma dupla delegação de poderes, da sociedade para o


Estado e do Estado para postos ou regiões específicas. O Estado é também uma divisão
do trabalho politico e não apenas a sua centralização. Há Estados primários, que
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resultam de uma evolução interna sem influência exterior e sem intervenção de um


modelo, há depois os Estados secundários, que são produtos de uma conquista ou
qualquer intervenção exterior.

As variáveis constitutivas do modelo são: a linhagem real, os direitos sobre a


terra, o controlo da força física e defesa dos direitos individuais.

Existem três variantes possíveis:

 Tipo aberto ao governo representativo formado pelos membros dos grupos


descendência que compõem a sociedade;
 Tipo igualmente aberto baseado na associação a política. A realiza é
hereditária dentro da linhagem real, mas os outros titulares de funções
políticas são nomeados pelo rei;
 Tipo fechado, em que poder é detido por uma aristocracia real.
O que caracteriza modo de produção asiático é a combinação de estruturas
comunitárias com estruturas de classe. Caracteriza modo de produção asiático é uma das
formas de transição das sociedades sem classes às sociedades de classes.

A Acção Política
O (sistema) político é o objecto natural da antropologia politica. Poder-se-á dizer
outro tanto da política? A acção politica é uma dimensão do vivido. Como tal, implica
uma análise de uma esfera mais limitada que os sistemas e as instituições e permite a
constituição de uma microantropologia.

A acção politica (conflitos, estratégias, decisões) pertence ao domínio da


psicossociologia e da formalização, visto que é no plano dos comportamentos que ela
exprime. Ou o antropólogo rejeita todas as problemáticas precedentes e define um novo
campo de investigações que se baste a si mesmo.

É verdade que as analises consagradas ao processo político (como o definem os


antropólogos americanos) parte de uma boa intenção. Trata-se de pôr em causa as
descrições gerais, normativas e ideológicas. Descrever um sistema politico é o
mais das vezes retomar a definição que ele dá de si mesmo, mas e talvez mais
importante ver como esse sistema é interpretado e explicar porque é que há ou não ha
correspondência entre as normas e as práticas.
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Teoria dos conflitos ou de uma teorização, R. Nicholas procura uma definição


comparando uma horda de pigmeus, uma tribo africana organizada em base aldeã.

E. Winckler define a seguir a conversão como «a tecnologia no centro do sistema


politico constituída pelas processos de transferências dos recursos em bens bastando
para orientar as previsões e permitindo definir as estratégias dos actores politicos em
competição.

Swartz. procura resolver o problema distinguindo campo e arena. A arena


compreenderia todos aqueles a quem os processos políticos dizem respeito
indirectamente, e antropologia politica estudaria as variações das relações entre esses
domínios.

A noção de campo politico define-se, por conseguinte, mais pela natureza das
relações e das lutas que nele se desenvolvem do que pela natureza do sistema que
suporta e explica essas mesmas relações e lutas. Três razões fundamentais, ao que
parece:

 Ela insiste no estudo de casos e incita.


 Permite confrontar normas, opiniões e praticas num meio homogéneo e
ver como tudo isso se organiza.
 Apesar do evidente empirismo do vivido, esta abordagem obriga a
reconhecer os conflitos, as lutas, as coligações, as estratégias e os lugares
em que se manifestam.
Portanto:

 É possível transformar os talibes em clientela politica e até mesmo em massa


manipulável;
 Não há uma coesão do grupo marabútico. E, mais do que isso, as oposições entre
marabus podem aparecer publicamente, e é mesmo possível ridiculariza-los. Isto
mostra a erosão da autoridade ideológica;
 Pode-se utilizar o sistema cooperativo para solucionar conflitos estranhos à
logica desta instituição;
 A autoridade administrativa intervém de maneira ambígua, porque só deseja
uma coisa: não ter aborrecimentos.
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A Antropologia e as Transformações Políticas


A evolução e mutação das sociedades e uma dimensão normal da análise
antropológica. Mas as sociedades não europeias que constituem o objecto primordial da
antropologia possuem uma história específica, que é em grande parte resultado do
contacto com as sociedades europeias. Essa mutação e, portanto, o mais das vezes, uma
transformação, quando não uma perturbação ou um desaparecimento puro e simples de
estruturas sociais tradicionais.

A transformação das sociedades «não europeias» e, pois, um fenómeno


relativamente antigo. Não é possível separar hoje o tradicional do moderno, porque
muitas vezes possuem uma história comum que apresenta característicos originais. E
'por isso que a vida politica recente (colonial, por exemplo) e actual (conflitos sociais e
políticos da independência) não pode ser mantida a margem da antropologia politica.

No começo, o muridismo, graças à sua função de «recuperação», assume um


certo numero de funções «tradicionais» nesta situação de transformações gerais que
ameaçam as sociedades senegalesas. O isolamento das primeiras comunidades múridas
justifica o carácter de prestação trabalhos executados para o marabu.

Compreende-se, portanto, que o nível político tenha de exprimir conjuntamente


a unidade e elementos históricos e socialmente distintos.

A partir de 1850 desenha-se no Senegal uma particular conjuntura, assinalada


pela combinação de três fenómenos diferentes:

 A crise larvar dos sistemas políticos wolofs, cuja fraqueza é um sinal de


deterioração social;
 As peripécias da conquista político-militar francesa;
 O incremento da cultura comercial do amendoim (e o papel do imposto de
capitação).
Na medida em que não é possível uma teoria do político sem uma teoria do
económico e do ideológico, a constituição de uma antropologia politica enquanto tal é
contestável. G. Balndier pensa que a antropologia política deve «tornar-se a ciência
comparativa do poder e das formas do governo.

Portanto, se tem em consideração este mecanismo fundamental da historia


social: a luta de classes e facto de que toda a luta de classes é uma luta politica.
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A antropologia política vai, pois, desembocar na acção política e na consciência


que dela tem os actores. A definição das leis do político vai a par de uma prática, quer
esta lhe corresponda, quer não. Esta busca da correspondência entre instituições ou
sistemas, normas e comportamentos permite por em evidência o desnível permanente
causado pelo político: impedir que os que foram submetidos pelo poder tenham
consciência dessa subordinação.

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