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Instituto de Emprego e Formação Profissional

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Núcleo gerador: Urbanismo e Mobilidade
Domínio de Referência: DR1/DR2 – Contexto Privado/Profissional
Temas: Construção e Arquitectura / Ruralidade e Urbanidade
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URBANISMO E MOBILIDADE

Formador
Cursos EFA – NS
Cultura Língua e Comunicação João Inácio

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ALGUNS CONCEITOS…

Arquitectura – A arte de projectar edifícios; A organização e planeamento urbano;


Determinado estilo de obras.

Cidade – Do latim civitate. Complexo demográfico formado, social e economicamente,


por uma importante concentração populacional não agrícola, i. e., dedicada a actividades
de carácter comercial, industrial, financeiro e cultural.

Mobilidade – propriedade do que é móvel ou do que obedece às leis do movimento.

Mobilidade humana – é o fenómeno que consiste na deslocação de seres humanos de um


local para outro de forma, mais ou menos, duradoura.

Mobilidade urbana – é o resultado da interacção dos deslocamentos de pessoas e bens


entre si e com a própria cidade.

Urbanismo – o estudo das cidades; ciência que estuda os métodos que permitem adaptar
as cidades às necessidades dos homens; conjunto das questões relativas à estética e à
ordenação das cidades; estilo de vida, valores e atitudes próprios dos habitantes das
cidades.

Urbe – O mesmo que cidade.

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ARQUITECTURA
A arquitectura teve início quando o Homem começou a elaborar construções que tinham
como objectivo protegê-lo do clima (i.e. do calor, frio, chuva, neve, etc.), dos predadores
e de outros seres humanos.

De acordo com a Wikipedia “…o trabalho de arquitectura passa necessariamente pelo


desenho de edificações (considerada a actividade mais comum do arquitecto), como
prédios, casas, igrejas, palácios, entre outros edifícios.” Mas, em sentido lato, a
arquitectura engloba também a concepção de tudo o que é desenvolvido pelo Homem,
desde o utensílio/ferramenta, o mobiliário, a paisagem, a cidade, a região ou, até mesmo,
um país.

Segundo Vitrúvio existem três elementos fundamentais na arquitectura:


> Estrutura – a construção em si mesma do objecto construído/projectado.
> Função – a utilidade do objecto construído/projectado.
> Estética – a beleza do objecto construído/projectado.

ESTILO ARQUITECTÓNICO

Ao longo da História e de acordo com características formais, técnicas e materiais têm


existido vários estilos arquitectónicos, a saber:

> Pré-histórica (5.000-3.000 a.C.);


> Antiga (Egípcia, Assíria, Babilónica, Etrusca, Minóica, Persa, Suméria);
> Clássica (Grega e Romana);
> Medieval (Bizantina, Românica, Gótica);
> Renascentista;
> Barroco;
> Rococó;
> Moderno (Art Noveau, Art Déco, Construtivismo, Brutalismo);
> Pós Moderno (Minimalismo, Desconstrutivismo).

CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DA ARQUITECTURA

Vivemos numa época em que a IMAGEM está sobrevalorizada: somos bombardeados


com imagens todos os dias. Tudo é traduzível em imagens, e as imagens das coisas são
reproduzidas até à exaustão. Hoje, tudo é imagem e a imagem é tudo.

Contudo, a imagem é muito distinta daquilo que ela representa. Lembremo-nos da


distância que separa o conhecimento de alguém apenas por uma fotografia e o
conhecimento da mesma pessoa através de um contacto diário e íntimo. Todas as coisas
têm uma imagem, mas elas próprias são muito mais que a sua imagem.

Só é possível criticar se soubermos os seguintes aspectos em relação a qualquer obra de


arquitectura:

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VISÍVEIS NÃO VISÍVEIS


> imagem; > mobilidade;
> volumetria > contexto geográfico;
> forma; > organização funcional;
> cores; > história da construção;
> materiais; > os pressupostos da encomenda;
> integração/ruptura; > as exigências do encomendador;

Ou seja, conhecer uma obra de arquitectura é conhecer todos os elementos que


configuram a sua circunstância específica; e apenas depois de se interiorizar esses
elementos será possível criticar. Ou seja, uma crítica só é válida quando conhecemos real
e totalmente o que criticamos.

Aspectos a ter em conta para avaliar uma cidade:

> Demografia; > Ambiente;


> Aspectos sociais; > Transportes e viagens;
> Aspectos económicos; > Sociedade da informação;
> Envolvimento cívico; > Cultura e lazer;
> Formação e Educação; > Saúde;

SUSTENTABILIDADE

Definição: "aquilo que pode ser mantido ao longo do tempo".

As 5 leis da sustentabilidade:

1. Qualquer sociedade que use continuamente recursos críticos de modo insustentável, entrará em colapso.
2. O crescimento populacional e/ou o crescimento das taxas de consumo dos recursos não é sustentável.
3. Para ser sustentável, o uso dos recursos renováveis deve seguir uma taxa que deverá ser inferior ou igual
à taxa de reposição.
4. Para ser sustentável, o uso de recursos não-renováveis tem de evoluir a uma taxa em declínio, e a taxa de
declínio deve ser maior ou igual à taxa de esgotamento (depletion rate).
5. A sustentabilidade requer que as substâncias introduzidas no ambiente pela actividade humana sejam
minimizadas e tornadas inofensivas para as funções da biosfera.

CIDADE SUSTENTÁVEL

Cidade Mais Sustentável Cidade Menos Sustentável


> Formas compactas de desenvolvimento residencial. > Baixa densidade.
> Ocupação do solo de forma integrada; residências, > Segregação da ocupação do solo; concentrações
empregos e serviço com relação de proximidade uniformes de empregos, residências e serviços
> Condições de emprego baseadas na educação, > Emprego baseado preferencialmente na poluição
formação e habilitações ambiental e indústrias baseadas em recursos não
renováveis.
> Mobilidade baseada nos transportes públicos, pedestre > Elevada dependência de transportes particulares.
e por bicicletas.
> Energia eólica e solar > Energia térmica e nuclear.

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> Tratamentos terciários de efluentes; utilização de > Descarga de efluentes em corpos ou cursos de água
métodos naturais de tratamento de efluentes sem existir tratamento ou com baixo nível de tratamento.
> Superfícies que reduzem infiltração; interrupção e/ou
> Protecção e utilização de sistemas hidrológicos naturais
usurpação de cursos de água naturais.
> Espaços abertos naturais; protecção de zonas húmidas, > Destruição da paisagem natural; criação de paisagens
florestas, vales, habitats, uso de compostos, biomassa, com espécies exóticas; uso excessivo de químicos,
gestão integrada de pesticidas, etc. fertilizantes, herbicidas e pesticidas.

> Redução de Resíduos; recuperação, reutilização e


> Aterros, incineradoras.
reciclagem de resíduos de construção

Fonte: Sustainable Communities Resource Package | Sustainable Cities - Environmentally Sustainable Urban Development

CITAÇÕES

"A Arquitectura é antes de mais nada construção, mas, construção concebida com o
propósito primordial de ordenar e organizar o espaço para determinada finalidade e
visando a determinada intenção.” (Luís Costa)

“Os edifícios influenciam profundamente as pessoas que neles residem, trabalham ou


rezam, e por esse motivo o arquitecto é um modelador de homens.” (Frank Lloyd Wright)

“A Arquitectura é uma longa hesitação entre forma e função”. (Pedro Vieira de Almeida)

“O essencial é invisível aos olhos.” (Saint-Éxupery)

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O MEIO URBANO
O espaço urbano corresponde a um modo de vida, e é sobretudo um espaço denso onde
se concentra um certo número de funções e actividades.

Segundo Fischer, inúmeros trabalhos apreenderam o espaço urbano enquanto:


 Espaço de stress, com a cidade a favorecer o desenvolvimento de condutas
desviantes;
 Lugar de socialização onde todo o citadino, através dos locais frequentados,
aprende a viver socialmente.

Para Fischer, o contexto urbano representa o principal foco das nossas vidas, visto que
“as nossas sociedades são cada vez mais sociedades urbanas e a cidade é um fenómeno
social maior que determina modos de vida específicos e é a expressão de um acto de
civilização.”

Steinberger defende duas perspectivas de análise da relação urbana-ambiental,


nomeadamente:
 Perspectiva Global. Nesta perspectiva, o meio urbano está em conflito com o meio
ambiente. E a cidade é considerada um foco de desigualdades que devem ser
corrigidas para cumprir, eficientemente, o papel que lhe cabe no modelo
capitalista internacionalizado. Aqui, as cidades assumem características de cidades
mundiais.”
 Perspectiva Local, onde vê “o meio urbano como um espaço que possui uma
dinâmica ambiental própria e única, resultante de uma interacção entre o
ambiente natural e ambiente construído. O que lhe confere especificidade. Nessa
perspectiva não há cidades ideais e sem problemas. Em suma, cada cidade tem a
sua personalidade.”

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DESAFIOS DA URBANIZAÇÃO

“A urbanização é um fenómeno relacionado com o processo de desenvolvimento do


espaço urbano em determinadas sociedades, em oposição ao desenvolvimento do espaço
rural. Também pode ser definida como o aumento da população urbana face à população
rural. Está historicamente ligada à evolução do capitalismo, especialmente na sua fase
industrial. A urbanização é estudada por ciências diversas, como a sociologia, a geografia
e a antropologia, cada uma delas propondo abordagens diferentes sobre o problema do
crescimento das cidades. As disciplinas que procuram entender, regular, desenhar e
planear os processos de urbanização são o urbanismo, o planeamento urbano, o
planeamento da paisagem, o desenho urbano, a topografia, entre outras.
A urbanização é considerada uma das maiores formas de pressão sobre o meio
ambiente.” (Giddens)

> Efeitos ambientais:


- poluição (atmosférica, visual, auditiva…);
- saneamento inadequado;
- reservas de água pouco seguras;
- congestionamento de tráfego;
- sobre/sub desenvolvimento do centro das cidades;
- falta de espaços verdes.

> Efeitos sociais:


- aumento das desigualdades sociais;
- falta de assistência médica;
- falta de habitação (devido à afluência de migrantes);
- falta de aconselhamento e planeamento familiar;
- falta de educação e formação;
- falta de equipamentos culturais e de lazer.

A decadência nos centros urbanos tem vindo a aumentar ao longo dos tempos de uma
forma galopante, ou seja, a desorganização social, económica e politica leva uma grande
parte dos indivíduos a refugiarem-se nas periferias destes centros, na expectativa de
alcançarem uma maior estabilidade na sua vida. No entanto, segundo Cusson, “esse
objectivo não é alcançado, uma vez que existe uma polidelinquência de efeitos no espaço
social, logo, o refugio total não é atingível, por conseguinte, o vandalismo, os assaltos e
outros crimes, para além de serem frequentes nos centros urbanos, acabam também por
se expandir para as periferias.”
Cusson destaca a influência das ruas, parques e praças sujos e degradados, desfigurados
pelo lixo, pelos graffitis e pela predominância de edifícios degradados como factores
influentes no desenvolvimento da criminalidade.

Assim, as áreas urbanas deveriam ajudar a desenvolver um sentido de comunidade e de


segurança pública, os bairros deviam estar mais bem ligados entre si para encorajar as
pessoas a andar a pé, de bicicleta ou de transportes públicos.

Cabe por isso esta luta a todos nós enquanto cidadãos pertencentes a uma comunidade,
no entanto, este esforço de partida deve surgir por parte das entidades competentes

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(Estado), pois como detentores do poder, devem desenvolver todo um conjunto de


políticas para que seja possível uma sociedade onde seja viável viver de uma forma
equitativa.

O URBANISMO MODERNO

Tendo em conta a visão de Giddens, o crescimento das cidades é uma consequência do


aumento da população, bem como da migração das pessoas do meio rural, a imigração é
igualmente um fenómeno que fomenta o rápido crescimento da sociedade visto existir
uma procura incessante de melhoria de condições de vida, isto é, uma melhoria de
oportunidades de emprego. Desta forma, as sociedades maximizam novos pontos de
oportunidades visto serem dotadas de poder industrial e financeiro que proporciona uma
existência confortável.

Ainda segundo Giddens, os aglomerados urbanos dinamizam novos hábitos e novas


formas de comportamento para além de fomentar novos padrões de pensamento, de
sentimentos e de criatividade cultural .Contudo, este crescimento galopante distingue
duas opiniões: uns estigmatizam a sociedade em que vivem, devido às agressões ao
ambiente causadas pela poluição ambiental e ainda aos crimes e violência que se fazem
sentir na mesma. Convém salientar o facto do nível de crescimento da sociedade ser
directamente proporcional às desigualdades e pobreza.

Segundo Wirth, a população residente no meio urbano é caracterizada por relações fracas
devido ao facto da população se mobilizar com maior frequência, devido ao clima de
competição. Devido a esta mobilidade, o carácter impessoal é fortemente visível nas
relações interpessoais, bem como na vida social em geral nas sociedades modernas.
Contudo, não se pode generalizar porque mesmo caracterizando a sociedade urbana
como impessoal encontram-se formas de relacionamento tradicional entre a família e
ainda laços de amizade entre comunidades.

CITAÇÕES

“As manifestações que ocorrem num território reproduzir-se-ão no comportamento do


indivíduo, pois, existe uma união/relação de reciprocidade entre o comportamento e o
território, devido a este facto, se a mudança ocorrer num deles, afectará
consequentemente o outro.” (F. Barracho)

“O processo de ocupação extensiva e desordenada do espaço urbano tem produzido um


ambiente degradado, seja ambiental, espacial e socialmente, provocando a falta de
qualidade de vida dos seus habitantes. Essa dinâmica de crescimento urbano reflecte
sobretudo a falta de oportunidades numa sociedade capitalista, induzindo, dessa forma, à
segregação dos espaços.” (H. M. Kashiwagi)

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A QUALIDADE DE VIDA
Antigamente, o homem satisfazia-se apenas com a sobrevivência. Actualmente, o homem
passou a aspirar a algum conforto pessoal, para além da preocupação natural com a
própria sobrevivência, a família e a comunidade, diante de um mundo que poderia
oferecer muita comodidade com o consumo de produtos de toda natureza. Subentendia
que tudo isto iria satisfazê-lo a si e o afecto dos que lhes eram queridos.

Nos dias de hoje, o excessivo crescimento tecnológico criou um meio ambiente, no qual a
vida se tornou física e mentalmente comprometida – ar poluído, ruídos,
congestionamento de trânsito, e outros factores stressantes físicos e psicológicos,
passaram a fazer parte da vida quotidiana da maioria das pessoas. A nossa obsessão pelo
crescimento económico e emergência pessoal, subjugados por um sistema de valores de
uma sociedade altamente competitiva, na qual o principal objectivo passou a ser a busca
desmesurada por dinheiro, prestígio e poder.

Em Portugal, nesta onda de globalização, há um grande descompromisso político com a


qualidade de vida; a situação torna-se grave, uma vez que os modelos de produção e
gestão importados de outros países ocorreram sem considerar o nosso contexto.

Os problemas sociais de nosso tempo são decorrentes de uma visão redutora e


mecanicista da vida, que geraram tecnologia, instituições e estilos de vida patológicos.
Neste contexto as doenças surgem cada vez com maior frequência e esquecemos que
estas estão intimamente ligadas a atitudes stressantes, uma alimentação excessiva e
desequilibrada, a abusos de drogas, à vida sedentária e à poluição ambiental, e a uma
exigência absurda de produtividade, aliada à aspiração pessoal descontrolada. Acredita-se
que 48% dos americanos sofrem ou sofreram de uma doença mental grave. Só uma
mudança de todos esses aspectos, poderá ditar uma melhoria na saúde.

Actualmente, embora exista um descontentamento geral a maioria das pessoas ainda não
percebe quão profundamente a vida é influenciada por complexos factores. Prefere-se
falar em hipertensão, stress, doenças cardíacas, etc., como algo fisiológico e isolado, ao
invés de conceber uma visão holística da saúde e promover uma transformação social e
cultural.

Enfim para se evitar os distúrbios psicossomáticos deveremos entender a pessoa como


um todo, envolvendo corpo, mente, ambiente físico e social. Com esses objectivos
pretendemos esclarecer a causa das doenças psicossomáticas e propor alguns modelos
de como sanar as doenças e promover a saúde.

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A CULTURA DO STRESS

Do homem primitivo até aos nossos dias, o stress aumenta.

A espiral da fadiga desenvolveu-se como o efeito de uma bola de neve desde o tempo das
cavernas, para chegar ao auge do período em que vivemos.

O homem primitivo trabalhava apenas vinte horas por semana, caçando animais nas
proximidades e colhendo frutos das árvores. Embora também estivesse sujeito ao stress
pelo medo dos predadores, tempestades e tribos inimigas, o número de agressões que
sofria diariamente era bem mais reduzido.

Na Idade Média, ainda se trabalhava pouco. Os países europeus tinham o descanso de


domingo como princípio sagrado e cinquenta feriados por ano. Durante séculos, a maior
parte da Humanidade dedicou-se apenas a trabalhos braçais, que sempre terminavam
com o pôr-do-sol.

Tudo isso acabou com a Revolução Industrial, que instituiu


a carga horária de 16 horas diárias e aboliu a maioria dos
feriados. Em Portugal, no século XX, no curto espaço de
duas gerações, a maioria da população do país abandonou
o campo para viver no stress da cidade.

Ainda assim, Einstein (1933), três anos após ter imigrado


para os EUA, dizia-se optimista com o desenvolvimento
tecnológico, apesar das supressões generalizadas dos
direitos humanos naquela época, por exemplo com o
Estalinismo e o prenúncio do Nazismo e Fascismo, por
acreditar que o homem iria ter mais tempo de lazer e ser
mais feliz. Embora humanamente correcto, engana-se
socialmente.

Os avanços tecnológicos do início do século haviam prometido facilitar a vida de todos.


Alguns economistas previam que na década de 90 os operários, felizardos, trabalhariam
apenas três horas por dia. Entretanto, as invenções que prometiam um mar de rosas
escondiam um risco que hoje cobra o seu preço. Os automóveis diminuíram o esforço de
caminhar, mas criaram congestionamentos irritantes, que são cada vez mais caros e
tornam o homem sedentário com problemas de saúde. O computador, que falha a meio
de uma operação, faz o homem enfurecer-se como um canibal.

Para viver bem é preciso ganhar bem, o que obriga o homem ao contínuo
aperfeiçoamento e competição desenfreada para ficar empregado ou ter ganhos
financeiros importantes. A vida tornou-se acelerada demais para o ritmo do corpo
humano, levando a frequentes problemas de adaptação fisiológica, mental e psicológica.
A informática, o fax, o telemóvel e os pagers deixam a pessoa ligada ao trabalho 24 horas
por dia, sempre em alerta. É muito pior que trabalhar 12 horas seguidas, e depois ir para
casa relaxar.

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A MOBILIDADE HUMANA E AS MIGRAÇÕES


A mobilidade humana é hoje um dos grandes desafios das sociedades modernas. Segundo
algumas fontes, apenas cerca de 10 % dos países são monoculturais, ou seja, são
formados por um mesmo povo, com uma mesma cultura. No entanto, a mobilidade
humana é um fenómeno mais frequente na história da Humanidade do que o
sedentarismo.

Esta realidade múltipla presente nas sociedades modernas e, também em Portugal, indica
que necessitamos de uma educação que atenda às diferenças culturais resultantes desta
multi-presença cultural. No entanto, devemos levar ainda em consideração que dentro de
uma cultura existem muitas culturas, resultantes não somente de diferenças étnicas-
raciais, mas também de diferenças de regiões geográficas, de gerações, de género, de
classe, de religião, entre outras.

Tabela 1 – Aspectos positivos e negativos das migrações para os migrantes, para os países
de origem e para os países de acolhimento.

Migrante País de Origem País de Acolhimento


+ - + - + -
- Preço de
- Reforço da
+ Emprego entrada no + Mão-de-obra
+ Brain gain economia
Económico + Remuneração mercado
+ Remessas
- Brain drain complementar
informal
+ Poupança - Ciclo de + Competitividade
- Dumping
empobrecimento
+ Equilíbrio
- Perda de capital demográfico
+ Redes multi- - Intolerância + Papel das social + - Guetização
Social étnicas - Exclusão diásporas - Fragilização das Sustentabilidade - Xenofobia
famílias da Segurança
Social

+ Cultura como
- Choque cultural + Difusão da + Diversidade - Choque
Cultural recurso
- Aculturação cultura e língua
- “Estrangeirados”
criativa civilizacional
integrador

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A mobilidade humana é um fenómeno amplo e complexo. Abrange numerosos actores


sociais pertencentes a uma pluralidade de classes, etnias, culturas e religiões. As causas e
as motivações que levam aos deslocamentos são variadas, tendo consequências bastante
diversificadas, dependendo dos diferentes contextos sócio-culturais e da singularidade de
cada pessoa. Cabe frisar, contudo, que as migrações em si representam um fenómeno
basicamente positivo. Não podemos esquecer o direito humano de ir e vir, as funções
sociais e económicas dos deslocamentos, a relativa melhoria das condições de vida da
fuga de situações de opressão ou de catástrofes ecológicas, as novas oportunidade
abertas e o enriquecimento cultural decorrente do encontro entre diferentes povos,
culturas e religiões.

Entretanto, deve-se lembrar também que, frequentemente, por trás das migrações
escondem-se aspectos negativos ou de conflito, como a expulsão do lugar de residência,
o desenraizamento cultural, a perda da estrutura identitária e religiosa, a exclusão social,
a rejeição e a dificuldade de inserção no lugar de chegada. Hoje, em geral, a migração não
é consequência de uma escolha livre, mas tem uma raiz claramente obrigatória. A maioria
dos migrantes é impelida a abandonar a própria terra ou o próprio país, em busca de
melhores condições de vida e fugindo de situações de violência estrutural e doméstica.
Este é um grande desafio, pois “migrar” é um direito humano, mas “fazer migrar” é uma
violação dos direitos humanos!

Na actual conjuntura nacional e internacional, os migrantes transformaram-se num


verdadeiro “estorvo”, sendo, no entanto, explorados quando interessa ao sistema ou
como mão-de-obra dos países ou regiões desenvolvidas. O sistema económico neoliberal,
que concentra as riquezas nas mãos de poucos, cria muros para excluir os pobres.
Interpretada nesta óptica, a migração representa a busca, por parte dos excluídos, de
alguma fenda que permita o acesso parcial a alguns dos benefícios produzidos pelo
sistema. Os deslocamentos dos excluídos lembram o movimento dos cães ao redor da
mesa em busca de algumas migalhas.

Além disso, hoje, em vários contextos, o migrante tornou-se um verdadeiro “bode


expiatório”, sendo considerado o principal culpado por um conjunto de problemas que
afretam a nossa sociedade, como a violência e o desemprego. Esta culpabilidade da
vítima visa ideologicamente esconder as verdadeiras causas estruturais da exclusão social
e, ao mesmo tempo, inculcar no próprio migrante um sentimento de frustração, de
fracasso, de inferioridade que, não raramente, inibe o seu potencial de resistência e de
reivindicação.

CITAÇÕES

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“O crescimento desordenado dos principais centros económicos, a migração unilateral


campo-cidade, pela procura de trabalho e posição social, aliados à disponibilidade de
terreno economicamente acessível e desocupado na periferia urbana, originou o que hoje
representa a preocupação predominante dos órgãos de planeamento habitacional.” (F.
Castelo-Branco)

“Populações inteiras vêem-se de repente, deslocadas de um sistema de vida e


comunicação horizontal (casas de um e dois pisos) para prédios multi-familiares, onde os
vizinhos que co-habitam o mesmo andar são estranhos. O convívio torna-se difícil, senão
impossível, além da privação de empregos e actividades comerciais.” (F. Castelo-Branco)

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BIBLIOGRAFIA
LIVROS

Barracho, C. (2001). Psicologia Social: Ambiente e Espaço: Conceitos, Abordagens e Aplicações. Lisboa:
Instituto Piaget.

Braga, A. (2005). O estresse forte e o desgaste geral. Consult. 21 Maio de 2008, disponível em:
http://www.psicologia.com.pt/artigos/ver_artigo_licenciatura.php?codigo=TL0026&area=d2&subarea

Castelo-Branco, F.(1986). Recuperação de áreas degradadas em centros urbanos: a urgência de um critério


de intervenção. In Sociedade e Território, 4, 126-130.

Fortuna, C. (1997). Cidade, Cultura e Globalização. Oeiras: Celta Editora.

Kashiwagi, H. M. (2004). O Processo de Percepção e Apropriação de espaço nas Comunidades Marginais


Urbanas: o caso da favela do Parolin em Curitiba. Consult. 21 Maio 2008, disponivel em
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/1884/1287/1/DISSERTA%C3%87%C3%83O%202004.pdf

PÁGINAS WEB

> Wikipedia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Urbaniza%C3%A7%C3%A3o

> Urban Audit


http://www.urbanaudit.org/

> Youtube – Portugal, um retrato social (2º episódio) – Ganhar o pão


http://www.youtube.com/watch?v=XvPU_QIjkSU

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