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Geografia Humanista

A geografia humanista é a corrente da geografia que pesquisa as


experiências das pessoas e grupos
em relação ao espaço com o fim de entender seus valores e
comportamentos. Alguns autores preferem
designá-la geografia humanística, pois argumentam que, como todos os
trabalhos d e geografia
humana enfocam compo rtamentos do homem, aquela expressão serve
para enfatizar que o objetivo dos
geógrafos humanistas é p esquisar os elementos mais particularmente
humanos da relação dos homens com o
espaço e o ambiente, que são os valores, crenças, símbolos e atitudes.
A geografia humanista surgiu em me ados dos an os 1960 e ganhou
força a partir da década seguinte,
sob influência da fenomenologia e de várias outras correntes epistemológicas
ligadas ao humanismo.
Na visão dos geógrafos dessa corrente, se as abo rdagens humanistas
da ciência procuram ser meios
de autoconhecimento para o homem, a contribuição particular da
geografia nesse trabalho está na pesquisa
dos muitos tipos de percepção, valores e atitudes relativos ao espaço e
à natur eza. Nesse senti do, dois
conceitos fundamentais da geografia humanista são os de espaço vivido e de
lugar.

Geografia Cultural
Geografia cultural é o campo da geografia human a que estuda os
produtos e normas culturais e suas
variações através dos espaços e dos lugares. Foca -se na descrição e análise
de como as formas de lin guagem,
religião, artes, crenças, e conomia, governo, trabalho e outros fenômenos
culturais variam ou permanecem
constantes, de um lugar para outro e na explicação de como os humanos
funcionam no espaço.
A geografia cultural como estudo acadêmico emergiu pela primeira vez
como alternativa às teorias
do determinismo ambiental do início do século XX, que colocavam as
pessoas e sociedades como
controladas pelo ambiente no qual se desenvolviam. Ao invés de estudar
regiões pré-determinadas
baseando-se em classificações ambientais, a geografia cultural colo cou
seu interesse nas paisagens
culturais.7 Isso foi apoiado por Carl O. Sauer (chamado de pai da
geografia cultural), na Universidade da
Califórnia, Berkeley. Como resultado, a geografia cultural foi dominada por
escritores norte-america nos.
Sauer definiu a paisagem como unidade definitiv a do estudo geográfico.
Notou qu e culturas e
sociedades não apenas se desenvolvem de suas p aisagens, mas
também a modelam. Essa interação entre a
paisagem “natural” e os homens criou a “paisagem cultural”. O trabalho
de Sauer foi muito qualitativo e
descritivo e foi ultrapassado nos anos 30 pela geografia regional de
Richard Hartshorne, segui da pela
revolução quantitativa . A geografia cultural foi praticamente d eixada de
lado, apesar de escritores como
David Lowenthal continuarem a trabalhar no conceito de paisagem.
Nos anos 70, a crítica do positivismo na geografia fez com que os
geógrafos fossem além da
geografia quantitativa em suas ideias. Uma das áreas revisitadas foi a
geografia cultural.
A nova Geografia Cultural
Desde os anos 80, a “nova geografia cultural ” emergiu, trazendo
diversas tradições teóricas,
incluindo o modelos polí tico-econômicos Marxist as, a teoria feminista, a
teoria pós-colonialismo, o pós-
estruturalismo e a psicanálise.
Partindo particularmente das teorias de Michel F oucault e da pe
rformatividade, do meio acadêmico
ocidental e das mais d iversas influên cias da teoria pós -colonialista,
houve um grande esforço para
desconstruir a cultura para revelar as várias relaçõ es de poder. Ár eas de
particular interesse são a identidade
política e a construção da identidade.
Exemplos de áreas de e studo incluem: Geografia feminista; Geografia
infantil; Algumas partes da
Geografia turística; Geografia comport amental; Sexualidade e espaço;
Alguns desenvolvimentos recentes da
Geografia política.
Alguns que trataram sob re a “nov a geografia cultural” focaram sua
atenção na crítica de al gumas de
suas idéias, por causa das visões sobre a id entidade e espaço como
estáticos. Seguiram -se às críticas de
Foulcault feitas por outro s teóricos pós -estruturalistas como Michel de
Certeau e Gilles Deleuze. Nesta área,
a geografia não -representacional e a p esquisa da mobilidade
populacional dominaram. Outros tentaram
incorporar estas críticas de volta à nova geografia cultural.

Resumo do texto “As abordagens da Geografia Cultural “de Paul Claval.


A geografia cultural associa as experiências humanas e seus reflexos na
modelagem da paisa gem e
busca o entendimento de sua identidade com o lugar.
Em virtude de Geo grafia estar vinculada a caracterização natural das pa
isagens é que essa nova visão de
análise custou a ser desenvolvida.
Foi Eric Dardel o primei ro a lutar por uma conce pção verdadeiramente
hu mana para a Geografia.
Tal concepção não esteve sempre adormecida; mesmo quando a situação
ainda não era favorável, no começo
do século XX na França ocorre produção d e trabalhos isolados onde
aparece a no ção de gênero de vida tem
uma dimensão e ecoló gica, natur alista e também uma dimensão social
e cultural na visão de Vid al de La
blache. E ele faz do gênero de vida um dos eixos da geografia humana.
Geógrafos como Jean Brunhes e Pierre Deffontaines também
desenvolveram atividades nesse
sentido, só que estudando os traços culturais, sua distribuição e a marca
que eles imprimem na paisagem.
A cultura é vist a é abordada pelo o exterior; identificação de valores e
questionamentos não são levados em
conta.
Já nos Estados Unidos Carl Sauer se interessa pelas as transformações
que a cultura impõe aos
ambientes naturais, mas a abordagem ainda coloca a cultura como algo
exterior.
Quando o homem é colocado como o centro d e s ua análise a
geografia cultural moderna tev e que
desenvolver novas abordagens, culminando então com três eixos igualmente
necessários e complementares:
 Sensações e percepções
 Comunicação
 Construção de identidades
Hoje em di a por s e interessar primeiramente p elos os homens, pelo o
que se passa no espírito das
pessoas os estudos da geografia cultural podem ir muito mais longe do que no
passado.
Ao partir das sensações e das representações a geografia cultural
quando estuda grupos humanos
se detém nos discursos e nas r epresentações que os codificam e
produzem maneiras d e ver padronizadas.
Detém-se t ambém nas sensações, pois s ão uma apreensão do r eal. As
representações fornecem malhas para
apreender o real. P ermitem superpor ao aqui e ao agora os lu gares,
que são sociais, geográficos ou
metafísicos.
Aproximar-se da geografia cultural é, antes de mais nada, captar a idéia
que temos do ambiente
próximo, do país e do mundo.
A comunicação quando v ista do ponto de vist a geográfico pa ra analisar as
manifestações da cultura
no espaço são transmitidas pela a observação e imitação, pela a palavra
e pela a escrita. As informações que
constituem a cultura concernem o ambiente natural no qual vivem os
homens, a maneira de produzir
alimentos, energias e matérias-primas e instrum entos usados para criar
ambientes artificiais. Com essas
informações os indivíduos desenvolvem suas metodologias que passam a
caracterizar o grupo.
O conteúdo traçado das mensagens não pode geralmente ser
compreendido f ora do contexto onde
se encontram os parceiros.
Além da dim ensão coletiva, a cultura também assume suas indi
vidualidades e forja identidades.
Constitui-se de um processo de construção sem fi m, levado a cabo pelos
indivíduos. Além de ter o caráter de
coletividade ela assume também a responsabilidade de dar um sentido à
existência dos indivíduos e dos
grupos sociais nos quais estão ins eridos. A abordagem cultur al torna -
se indispensável para comp reender a
arquitetura das relações que dominam a vida dos grupos. Ela renova a
geografia social.
Nesse contexto da abordagem cultural, percebe-s e que a apreensão do
mundo se dá através dos
sentidos, a partir daquilo que eles revelam. O olhar, a audição, o gosto
sempre levam os indivíduos a
lembranças de lugares reais já vivenciados.
A partir desses referenciais de cultura o espaço s e estrutura. Ele é
ordenado em relação a um ponto
de origem e às direções, o que permite situar os lugares uns em relação aos
outros. E esses referenciais como
um rio, uma montanha, os pontos cardeais são muitas vezes conotados de
valores
Mas além do espaço a cultura também se reflete na natur eza, quando
os homens tiram de seu
ambiente aquilo que eles tem necessidade e a part ir disso, ao
realizarem a coleta, pesc a ou caça, a pastoreio
ou ainda a agricultura, cada uma d essas operações implica o uso de
instrumentos variáveis que ao dominar o
meio cria ambientes artificiais.
Todas esses intervenções são retidas n a paisagem, uma vez qu e ela é
o suporte das representações.
Segundo Algustin Berque el a é simult aneamente matriz e marca da
cultura, o que segundo James Duncan
faz a paisagem ser lida como um texto. Entre as criações da cultura, a
paisagem é a que ret ém maior atenção,
pois lança-se sobre ela um novo olhar. Berque procura compreender os
sent idos que os grupos dão ao
ambiente, forja novos co nceitos para melhor com preender esse domínio,
como por exemplo, a mesologia.
Sua idéia mestre é que a natureza é sempre compreendida em uma
perspectiva cultural.
A cultura possibilita então a construção do eu e da sociedade.
Enriquece o ser. Os indivíduos não
permanecem passivos diante da cultura eles retiram diss o também
satisfações pessoais, ela lhes assegura
prestígio.
Não se pode então compreender as geografias que se constroem sob
nossos olhos se
negligenciarmos a quali dade estética dos ambie ntes e as possibilidades
de realização qu e eles oferecem
àqueles que os habitam o u que os freqüentam.Como fundamento das
identidades a cultura reúne o s homens
ou os separa. Ao se congregar em torno de preceitos comun s, os
grupos abolem as distancias psicológicas
que existem entre seus membros, o que lhes permite triunfar sobre a
dis persão associada freqüentemente às
necessidades de vida. Surge em Jean Gottmann a idéia de iconografia.
A cultura recorta categorias no re al e lhes dá vida. Ao supor formas
universais na maneira de
conceber o real sobre o qual se debruça, o observador tem a tendência
de naturalizar a realidade, o que torna
a geografia cultural inco mpatível com uma tal m aneira de ver. O
problema não é aplicar ao r eal u ma malha
válida em todos os contextos e para todas as culturas, mas
compreender como cada grupo reinventa
permanentemente o mundo, int roduzindo novos recortes. A es cala das a
nálises muda: para apr eender os
processos culturais verdadeiramente significativos, os geógrafos se
debruçam sobre as experiências das
pessoas, sobre seus contatos, sobre suas maneira de falar.
A orientação cultural vi sa compreender como os grupos constroem o
mundo, a sociedade e a
natureza. Ela se interessa pela a man eira como são estabelecidos os
critérios que separam o grupo do qual
fazemos parte daqueles que nos são estrangeiros.
Tais fatos fazem a ordem social ser culturalmente instituída. Atrás dos
processos de
institucionalização, podem ser lidos os jogos que dividem o m undo as
esferas do sagrado e do pr ofano. A
geografia cultural privilegia assim as r eligiões e mostra como as
ideologias laicas funcionam de fato como
substitutas das crenças tradicionais.
As culturas são dive rsas. Elas não dispõem das mesmas técnicas e não
asseguram o mesmo grau de
domínio dos ambientes. Poder-se-ia imaginar uma compa ração, mas a
úni ca perspectiva evolucionista que
pode ex istir na geo grafia cultural seria aquela de classific ar as
sociedades em função dos m odelos de
comunicação que as caracteriza.
A perspectiva evolucioni sta só é capaz de se dar conta de uma parcela
da diversidade das culturas.
Para ir adiante na compreensão, é preciso prestar atenção e entrarem
sua lógica. É isto que permite a
perspectiva etnogeográfica.
A etnogeografia convida a refletir sobre a diversi dade dos sistemas da r
epresentação e de té cnicas
pelas as quais os homens agem sobre o mundo, tiram partido da
natureza para se alimentar, se proteger
contra as intempéries, s e vestir, habitar etc, e modelam o espaço á su
a im agem em função de seus valores e
de suas aspirações.

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