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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA

Manuela Cordeiro de Queiroz

Resenha crítica dos livros presentes no tópico “Conceitos


fundamentais da geografia: paisagem e ambiente”

Niterói, RJ
2023
Atualmente, com um mundo cada vez mais globalizado, os indivíduos
conseguem notar e identificar a presença de diferentes expressões culturais em
seus territórios, ademais visto que a análise feita sobre as diferenças culturais de
cada sociedade, em sua maioria, foi voltada para a área de ciências sociais, a
geografia não preocupava-se em compreender a relação que ocorre entre o território
e a cultura e quais as consequências que essa relação gera; Todavia, tanto Denis
Cosgrove irá discutir em seu livro “Paisagem, Tempo e Cultura”, quanto Dirse Maria
irá discorrer em sua conferência proferida na “XIX Semana do Meio Ambiente de
Sobral e II Semana de Qualificações do Mestrado Acadêmico em Geografia” (MAG-
UVA), expõem que a geografia deve reconhecer como a cultural tem extrema
importância para os estudos do espaço territorial, visto que essa área de estudos
pode ser altamente afetada pelas questões sociais, ou seja, sem a relação entre a
geografia com a humanidade, tal área pode estar se prendendo demais ao
funcionalismo utilitário, que geralmente é a mais desenvolvida nos espaços
estudantis, e inserindo pouco relevância nos simbolismos culturais presentes nos
aspectos geográficos, perdendo assim a oportunidade de compreender de forma
mais profunda a área da geografia.
“O local é, então, altamente complexo, com múltiplos patamares de
significados” (Denis Cosgrove, 1998, p.93). De acordo com Dirce, o ser humano, por
meio da transfiguração da natureza, irá produzir sua paisagem, e em complemento a
sua reflexão, de acordo com Denis a paisagem estudada pela geografia tem relação
com o social, pois o ser humano irá expressar sua cultura por meio da transfiguração
da natureza, ou seja, esse processo resultará em uma paisagem que expressa
símbolos e significados de grande relevância para a sociedade que a configurou,
pois neste processo os indivíduos passam a se auto identificar com a sua paisagem,
ou seja, “o objeto natural tornou-se objeto cultural, foi-lhe atribuído um significado”
(Denis Cosgrove, 1998, p.103).
“...o conceito de natureza, por exemplo, é um conceito que expressa formas
de conceber a natureza dos diferentes povos, as culturas e sociedades.” (Dirce,
2015, p.131), após a compreensão da expressão cultural nos territórios por meio da
transfiguração da natureza, nota-se que a presença de diferentes culturas em um só
território pode afetar as identidades das sociedades, pois como a própria autora diz,
cada conceito irá expressar a natureza de uma forma e isso fará com que essas
expressões entrem em conflito, pois essa relação entre culturas passa a haver uma
relação de poder, ao ponto que as culturas historicamente mais fortes conseguem
“impor sua própria experiência de mundo, suas próprias suposições tomadas como
verdadeiras” (Denis Cosgrove, 1998, p.104), ou seja, conseguem obter maior
espaço territorial para expor sua cultura.

Para nós isso é muito claro, por exemplo, nós que vivemos numa cultura
denominada “cultura ocidental”, que é forjada e dá sustentação ao modo de
produção capitalista, temos uma concepção de natureza que é externa ao
homem, mesmo que nessa cultura a biologia nos ensine que nós homens (e
mulheres) somos seres biológicos e, portanto, seres naturais, nós
conceituamos e visualizamos a natureza como algo em separado de nós.
(Dirce, 2015, p. 131)

Nesse caso, por exemplo, nota-se como a cultura ocidental demonstra seu
poder no instante em que essa passa, por meio da globalização, ter contato com o
território de culturas divergentes e utilizam os territórios estrangeiros com a sua
concepção cultural, ou seja, com a concepção da natureza ser externa ao homem,
usando-a somente como fonte material, afetando assim as sociedades que não
possuem outro significado no seu território de natureza; caso esse visível ao reparar
como as grandes empresas internacionais e, em sua maioria ocidentais, exploram
as terras indígenas em busca de matéria prima.
Assim sendo, a relevância da geografia nesse estudo se dará ao ponto que
essa consegue identificar os significados expressos nos territórios, como esses
significados expressam a identidade social de um grupo e/ou sociedade e,
consequentemente, compreender como esses significados são afetados por
sistemas como a globalização, ou seja, o geógrafo passa a compreender como essa
relação territorial/cultural afeta as sociedades no momento em que a globalização
torna possível a fragmentação de diversas culturas em um único espaço, fazendo
com que as culturas que possuem maior poder possam apropriar-se dos territórios e
desenvolvam problemas sociais, como a desigualdade.
Ademais, Dirce Maria discorre que se o geógrafo realizar seus estudos dessa
forma, poderá identificar também como os conflitos sociais, sejam eles políticos,
culturais e econômicos, estão associados com os territórios, visto que no âmbito
econômico o território é produto, no âmbito cultural o território é identidade e no
âmbito político o território é poder. Esses conflitos sociais que nascem em meio a
fragmentação territorial se desenvolvem, pois em cada sociedade haverá “culturas
dominantes e subdominantes ou alternativas” (Denis Cosgrove, 1998, p.105) e de
acordo com o autor, isso fará com que as subdominantes sejam marginalizadas e
excluídas, como ocorre com a cultura periférica, por exemplo.

A intencionalidade é um modo de compreensão que um grupo, uma nação,


uma classe social ou até mesmo uma pessoa utiliza para poder se realizar,
ou seja, se materializar no espaço, como bem definiu Lefebvre. A
intencionalidade é uma visão de mundo, ampla, todavia una, é sempre uma
forma, um modo de ser, de existir. Constitui-se em uma identidade. Por
esta condição, precisa delimitar para poder se diferenciar e ser identificada.
E assim, constrói uma leitura parcial de espaço que é apresentada como
totalidade. Afinal, todos os povos se sentem o centro do universo.
(Fernandes, 2012, p.27)

Assim sendo, as culturas subdominantes resistem em reproduzir suas


intencionalidades em seus territórios, por meio de movimentos e lutas sociais que
são contra a exploração ambiental, a apropriação cultural e demais temas que
envolvem a centralização de poder nos territórios em geral; os movimentos lutam
pela sua identidade, pois caso não haja resistência das expressões culturais em
seus territórios, não terá como desenvolver a pluralidade cultural ecológica e
econômica e sem ela, de acordo com Dirce Maria, os territórios não poderão
desenvolver sua autonomia.

REFERÊNCIAS

COSGROVE, Denis. A geografia está em toda parte: cultura e simbolismo nas


paisagens humanas. In: CORRÊA, Roberto L.; ROSENDAHL, Zeny (org.).
Paisagem,
tempo e cultura. 2. ed. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2004.

FERNANDES, B.M. Movimentos socioterritoriais e movimentos socioespaciais:


contribuição teórica para uma leitura geográfica dos movimentos sociais. Revista
Nera, [s. l.], n. 6, p. 24–34, 2012.

SUERTEGARAY, Dirce Maria Antunes. Geografia, ambiente e território. Revista da


Casa da Geografia de Sobral, Sobral, v. 17, n. 3, dez. 2015.

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