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Disciplina: Antropologia Biológica I (ICS01-13645) / Antropologia IV (ICS01-14447)

Ano: 2022
Matrícula: 201810148011

Quais são as contribuições do interpretativíssimo para a compreensão antropológica da (i)


cultura e (ii) do trabalho de campo. De que modo cada um dos diferentes autores que
estudamos contribuíram para concepções em transformação da cultura? Use ao menos um
exemplo do mundo contemporâneo para desenvolver sua resposta.

James Clifford nos ajuda a compreender as mudanças no trabalho de campo do antropólogo


ao longo das décadas. Quando os primeiros exploradores do "novo mundo", onde a maioria
das vezes estavam a serviço do império colonial, eles tinham uma grande propensão em
analisar esses outros povos como primitivos, ou seja, a partir de um viés eurocêntrico de
mundo. Isso fez com que a comunidade acadêmica percebesse que toda e qualquer análise
etnográfica não seria apenas a descrição de uma "outra" realidade, mas sim como uma
negociação entre os diferentes agentes que estão inseridos e participando do "campo".
Se, para Bakhtin, as palavras e as formas não possuem abordagens e intencionalidades
"neutras", a palavra e a linguagem utilizada em campo pelos agentes serão completamente
tomadas e atravessadas pelas intenções e sotaques dos sujeitos inseridos na pesquisa
etnográfica (Bakhtin apud Clifford, 2008, Rio de Janeiro, p. 42).

Um exemplo de como o interpretativismo pode ser aplicado na compreensão da cultura das


comunidades indígenas no Brasil é o estudo da relação entre os indígenas e a terra. Muitas
comunidades indígenas no Brasil têm uma forte ligação com a terra e com os recursos
naturais que ela fornece, e essa ligação é expressa em suas crenças, rituais e práticas
cotidianas. Um antropólogo que segue uma abordagem interpretativista pode trabalhar em
conjunto com os indígenas para compreender como eles dão sentido a essa relação e como ela
afeta suas decisões e ações no mundo real. Ao fazer isso, o antropólogo pode fornecer uma
visão única e valiosa dessa cultura e ajudar a promover a compreensão e o respeito.
Desse modo podemos entender que o trabalho de um antropólogo ao fazer um trabalho de
campo pode interpretar uma dada cultura, mas jamais fazer uma descrição da realidade de um
sujeito inserido em sua cultura, por exemplo. O profissional antropólogo conseguirá no
máximo fazer uma "descrição densa"(GEERTZ).

Quais são as contribuições da crítica pós-moderna para a compreensão antropológica da (i)


cultura e (ii) do trabalho de campo. De que modo cada um dos diferentes autores que
estudamos contribuíram para concepções em transformação da cultura? Use ao menos um
exemplo do mundo contemporâneo para desenvolver sua resposta.

Stuar Hall em "A identidade cultural na pós-modernidade" aborda o tema da identidade no


mundo do século XXI, notificando-nos de que, devido ao avanço tecnológico e pelas
mudanças estruturais econômicas e políticas, que uma ideia de Identidade homogênea e
original é cada vez menos possível de ser vivenciada.

Hall defende que a identidade na pós-modernidade ganhou uma resistência de perpetuá-la no


tempo-espaço por meio do que ele chamou de Tradução. Antes, quando os movimentos
migratórios ao redor do globo eram poucos intensos, populações reivindicariam suas
identidades de grupo e individuais através da Tradição, onde predominava a ideia da pureza,
do "retorno ao passado"; um mundo onde as identidades estariam cristalizadas e fixas.

Os indivíduos e grupos hoje por meio da globalização e pelo fato das etnias estarem dispersas
no mundo, seja pelas guerras e misérias de determinados países dominados pelo
imperialismo, seja pelo fato histórico da escravidão e colonização, são obrigados a negociar
com as novas culturas em que estão circunscritas, "sem simplesmente serem assimiladas por
elas e sem perder con1pletamente suas identidades"(HALL, 2006, Rio de Janeiro, p.88).

Um exemplo tanto histórico quanto contemporâneo são as comunidades quilombolas e os


movimentos políticos de reconhecimento racial como os movimentos de "Négritude".
A Tradução entendida por uma perspectiva pós-moderna nos leva então a crer que a cultura
em sua dinâmica de transforma-se e adapta-se durante seu respectivo tempo-espaço, pois as
relações de poder dos indivíduos em sociedade, dialeticamente, transformam-se, através das
possíveis experiências subjetivas de cada um e de sua intervenção política da construção da
realidade.

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