Introdução a Geografia

O que estuda a Geografia? Seria só o sentido epistemológico da palavra?

Afinal, geo= Terra e grafia = descrição. Então podemos definir como a leitura e
a síntese da Terra?
Podemos começar a estudar a Geografia enquanto ciência a partir do
século XIX, quando esta exercia um papel de ferramenta/instrumentos aos
poderes imperialistas neocoloniais. Grandes exploradores, como o alemão
Alexander Von Humboldt, fundaram uma geografia baseada na descrição das
paisagens e territórios desconhecidos. Em especial da África, que até então
era pouco explorada no seu interior.
Durante o período do governo militar no Brasil, a Geografia foi reduzida
à sua função de síntese do espaço. O objetivo era o reconhecimento e
exaltação da paisagem nacional a partir da sua mera descrição — saber o
nome dos rios nacionais, das suas formas de relevo, sem se ater ao principal
papel da Geografia.
O principal objeto de estudo da ciência geográfica é a relação que se
dá entre a sociedade humana e a natureza. Como fruto deste processo
desarmônico de transformação, temos a produção do espaço geográfico.
Essas mudanças causadas pela ação antrópica provocam enormes impactos
socioambientais, como o caso de Mariana e Brumadinho em Minas Gerais.

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 Com o avanço da tecnologia e a constante atualização do
espaço geográfico, a Geografia deixa de ser uma ciência de
“onde fica a capital de tal país” e se torna uma leitora crítica dos
impactos — negativos e positivos — da relação homem e meio.

Como ferramentas de análise — conceitos que aprofundam diferentes

aspectos do espaço geográfico —, temos paisagem, território, região e lugar.
Podemos incluir nessa discussão, defendida por Milton Santos, a noção de
rede.
A paisagem se refere aos aspectos visíveis do espaço geográfico; aquilo
que é contemplado. Dinâmica pode ser classificada como natural ou
antrópica. Nesse ponto é importante destacar que não se trata dos aspectos
estéticos da paisagem, e sim da sua modificação.

Apesar da presença de elementos naturais, como rios e árvores, trata-se

de uma paisagem antropizada devido ao alto grau de modificação do
homem sobre o meio.
Territórios (e territorialidades) são manifestações de poder sobre um
determinado espaço. Sobrepõem-se, modificam-se, mas não encontramos
espaços desprovidos de territorialidades. Vemos territórios delimitados por
fronteiras.

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 Podemos dividi-las em:

● naturais: formadas por rios ou cordilheiras;

● artificiais: delimitações conduzidas pelo ser humano e
representadas em mapas e/ou demarcações como muros.

Muros, comuns em fronteiras como Palestina e Israel ou os Estados

Unidos da América e o México, representam fronteiras artificiais que marcam
diferentes territorialidades.
Regiões representam recortes espaciais com características
semelhantes, formados com o intuito de facilitar a administração do espaço
e da construção de políticas públicas. Existem regiões naturais com climas e
biomas semelhantes, por exemplo. Podemos pensar em regiões econômicas
ou outros critérios sociais. O mais famoso é a regionalização do IBGE que
procura integrar todos esses elementos.
Por fim, lugares representam relações de afetividade (ou topofilia como
descrita por Yu Fu Tuan) que ocorrem em relação a determinado espaço,
como, por exemplo, nossas casas, escolas e parques, locais onde
desenvolvemos sentimentos de carinho e pertencimento. Alguns espaços
como shopping centers e aeroportos procuram mitigar essa relação de
afetividade, mas, por não possuírem especificidades, são considerados não
lugares.

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 Questões
1. Portadora de memória, a paisagem ajuda a construir os sentimentos de
pertencimento; ela cria uma atmosfera que convém aos momentos fortes da
vida, às festas, às comemorações.

CLAVAL, P. Terra dos homens: a geografia. São Paulo: Contexto, 2010 (adaptado).

No texto, é apresentada uma forma de integração da paisagem geográfica

com a vida social. Nesse sentido, a paisagem, além de existir como forma
concreta, apresenta uma dimensão

A) política de apropriação efetiva do espaço.

B) econômica de uso de recursos do espaço.

C) privada de limitação sobre a utilização do espaço.

D) natural de composição por elementos físicos do espaço.

E) simbólica de relação subjetiva do indivíduo com o espaço.

2. “Em várias áreas do conhecimento, o conceito de região é utilizado com

diferentes propósitos ou objetivos. Na Literatura, por exemplo, esse conceito
foi usado em obras literárias e traduz delimitações espaciais, expressas no
regionalismo, como foi o caso de escritores nordestinos, como Rachel de
Queiroz, José Lins do Rego, Jorge Amado, Ariano Suassuna, entre outros. Na
Sociologia, também se pode encontrar esse mesmo recorte regionalista,
como o elaborado por Gilberto Freyre. Para a Geografia, o conceito de região
tem importante significado”.

(MARTINS, D.; et al. Geografia sociedade e cotidiano: fundamentos. Vol. 01. 3ª ed. São
Paulo: Escala Educacional, 2013. p.36)

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 O conceito de região para a Geografia melhor se identifica
em uma das afirmações a seguir. Assinale-a.

a) Organização do agrupamento das paisagens naturais da Terra.

b) Criação racional em que se divide uma área com base em

critérios previamente estabelecidos.

c) Divisão social das práticas humanas que diz respeito aos

processos de composição dos elementos urbanos.

d) Delimitação espacial realizada a partir da posse, soberania ou

domínio sobre uma determinada área a partir de uma relação
de poder.

e) Representação cognitiva dos elementos culturais humanos e

das paisagens naturais.

3. “O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano

Beltrame, afirmou nesta quinta-feira (25), após a megaoperação que tomou a
favela da Vila Cruzeiro, na zona norte da capital, que o objetivo central das
ações da polícia no Estado é o de tirar território do tráfico.

'Essas ações estão sendo feitas com o objetivo de garantir a continuidade do

que está sendo feito. Foi tirado dessas pessoas o que nunca foi tirado, o
território. Seu porto seguro. Eles faziam suas barbaridades e corriam para seu
reduto, protegidos por armas de guerra. É importante prender, mas é mais
importante tirar o território', disse Beltrame. 'Se não tirar o território, não se
avança' (...)”.

(D'AGOSTINO, R. Objetivo é tirar território do tráfico, diz secretário de Segurança do

Rio. São Paulo: Uol Notícias, 25/11/2010. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br>).

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 Os espaços dominados pelo tráfico, conforme observamos na
notícia acima, constituem-se a partir da expressão de suas
territorialidades.
Podemos concluir que a existência desses territórios é garantida
por esses grupos:

a) por uma relação de poder e domínio.

b) a partir de uma posição de intimidação moral.

c) pelo status do traficante no contexto do crime organizado.

d) pela identificação da população local com os grupos criminosos.

e) com base na sensação de pertencimento entre o indivíduo e o seu lugar.

4. Espaço geográfico é formado por um conjunto indissociável, solidário e

também contraditório de sistemas de objetos e sistemas de ações, não
considerados isoladamente, mas como um quadro único no qual a história se
dá. No começo era a natureza selvagem, formada por objetos naturais, que ao
longo da história vão sendo substituídos por objetos fabricados, objetos
técnicos, mecanizados e, depois, cibernéticos, fazendo com que a natureza
artificial tenda a funcionar como uma máquina.

SANTOS, M. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 2º Edição. São Paulo:
Editora Hucitec, l997.

O texto acima indica que o conceito de espaço geográfico está relacionado

ao:

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 A) processo de modificação da natureza por meio das atividades
produtivas realizadas pelo homem.

B) papel das empresas na transformação de bens primários em

produtos de alto valor agregado.

C) emprego de técnicas rudimentares de produção na fabricação

de bens tecnológicos.

D) protagonismo do Estado no controle das atividades de

produção desenvolvidas pelo homem.

E) sistema de produção capitalista empregado na maior parte

dos países do globo.

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 Resolução Comentada

1.E) simbólica de relação subjetiva do indivíduo com o espaço.

A paisagem, composta por lugares, carrega para os indivíduos uma carga de

relações sociais. Essas relações subjetivas se baseiam na história e nas
vivências da pessoa com o meio.

2. b) Criação racional em que se divide uma área com base em critérios

previamente
estabelecidos.

Quando falamos em representações cognitivas, nos referimos a paisagens. Já

delimitações espaciais baseadas em relações de poder constituem o conceito
de território dentro da Geografia. Quando falamos em regiões, de fato são
agrupamentos de paisagens naturais, mas a definição do conceito se dá pelo
uso de critérios estabelecidos — no caso, as paisagens naturais.

3. a) por uma relação de poder e domínio.

A dominância de um espaço se dá pelo uso da força e/ou pela legitimação

estatal. No caso dos territórios de facções criminosas, milícias, etc., essa
territorialidade conflitua com outros grupos e com o Estado. As constantes
mudanças provocam contínuas desterritorializações e reterritorializações.
Afirmar que essa relação poder-espaço se dá pela identificação da população
com o tráfico reforça estereótipos negativos ligados as comunidades.

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 4. A) processo de modificação da natureza por meio das
atividades produtivas realizadas pelo homem.

O espaço geográfico é resultado direto da interação homem-

meio e supera a visão antiga de que o espaço seria apenas um receptáculo
das relações sociais. Visões deterministas afirmam que o espaço influencia o
homem, limitando-o. Os possibilistas já apresentam a ideia de que, por meio
da técnica, a sociedade consegue superar as restrições impostas pelo meio.
Podemos dizer, a partir da alternativa E, que, hoje, é o capitalismo que
determina a formação do espaço geográfico.

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