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Aula 3

Conceitos fundamentais:
Espaço, Paisagem,
Território, Região e Lugar.
O conceito de espaço na geografia

“O espaço é um conjunto de objetos e um conjunto


de ações. É ao mesmo tempo forma (como as
estruturas de uma cidade) e função (o processo de
ações humanas que constroem a paisagem). É
indivisível dos seres humanos que o habitam e que
o modificam todos os dias, através de sua
tecnologia.”
A expressão espaço geográfico ou simplesmente espaço,
por outro lado, aparece como vaga, ora estando associada
a uma porção específica da superfície da Terra identificada
seja pela natureza, seja por um modo particular como o
homem imprimiu as suas marcas, seja com referência à
simples localização. Adicionalmente a palavra espaço tem
o seu uso associado indiscriminadamente a diferentes
escalas, global, continental, regional, da cidade, do bairro,
da rua, da casa e de um cômodo no seu interior. (…) O
que é afinal o espaço geográfico?”.
CORRÊA, R.L. Espaço, um conceito-chave da geografia.
In: CASTRO, I.E. et alli. Geografia: conceitos e temas. Rio
de Janeiro, Bertrand, 1996.
A paisagem
É a porção da configuração territorial que
é possível abarcar com a visão. A
paisagem é transtemporal, juntando
objetos passados e presentes, uma
construção transversal.
PAISAGEM
“Paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é o
conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as
heranças que representam as sucessivas relações
localizadas entre homem e a natureza. O espaço são as
formas mais a vida que as anima”. ( Santos, Milton- A
Natureza do espaço)
PAISAGEM x ESPAÇO
Podemos dizer que a paisagem é a aparência do
espaço geográfico, ou seja, é a face visível do
espaço geográfico. Esse outro conceito, no
entanto, é mais amplo, porque o espaço
geográfico é o conjunto de elementos naturais e
artificiais, criações humanas, mas é também o uso
que a sociedade faz desses elementos.
“Durante a guerra fria,os laboratórios do Pentágono
chegaram a cogitar a produção de um engenho, a bomba de
nêutrons, capaz de aniquilar a vida humana em uma dada
área, mas preservando todas as construções. O presidente
Kennedy afinal renunciou de levar a cabo esse projeto.
Senão, o que na véspera seria ainda o espaço, após a temida
explosão seria apenas paisagem. Não temos melhor imagem
para mostrar a diferença entre esses dois conceitos.”
Santos, Milton. A Natureza do Espaço. São Paulo:
EDUSP, 2002, 4ª edição. pág. 106.
(TPS 2006) O geógrafo Milton Santos define espaço como
acumulação desigual de tempos. Conforme sejam
compatíveis com essa definição, julgue (C ou E) os itens a
seguir.
( ) O espaço é fixo e permanente.
( ) O espaço atual não revela o passado — só o
presente.
( ) O espaço transcende o contexto social.
( ) A cada momento da história, há um espaço diferente.
O território
Porção do espaço definida pelas relações de
poder, passando assim da delimitação natural e
econômica para a de divisa social. O grupo que se
apropria de um território ou se organiza sobre ele
cria relação de territorialidade, que se constitui em
outro importante conceito da Geografia. Ela se
define como a relação entre os agentes sociais
políticos e econômicos, interferindo na gestão do
espaço.
(A delimitação do território é a delimitação das
relações de poder, domínio e apropriação nele
instaladas. É portanto uma porção concreta. O território
pode, assim, transcender uma unidade política, e o
mesmo acontecendo com o processo de territorialidade,
sendo que este não se traduz por uma simples
expressão cartográfica, mas se manifesta sob as
relações variadas, desde as mais simples até as mais
complexas)
O conceito de lugar

A dimensão da existência que se manifesta


através "de um cotidiano compartido entre as
mais diversas pessoas, firmas, instituições–
cooperação e conflito são a base da vida em
comum".
Evolução demográfica de San Chirico Raparo entre 1861 e 2001
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela
minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.(…)
Alberto Caeiro
O bem querer- Eduardo Galeano
"Quando a seca chega e leva embora as águas do rio
Uruguai, as pessoas de Pueblo Federación regressam à
sua perdida querência. As águas, ao ir embora, deixam
nua uma paisagem de lua; e as pessoas voltam. Elas
vivem agora numa aldeia que também se chama Pueblo
Federación, como se chamava a sua velha aldeia antes
que a represa de Salto Grande a inundasse e a
deixasse debaixo das águas. Da velha aldeia já não se
vê nem mesmo a cruz no alto da torre da igreja; e a
aldeia nova é muito mais cômoda e muito mais linda.
Mas eles voltam à aldeia velha que a seca lhes devolve
enquanto dura.
Eles voltam e ocupam as casas que foram suas casas e
que agora são ruínas de guerra. Ali, onde a avó morreu e
onde aconteceram o primeiro gol e o primeiro beijo, eles
fazem fogo para o chimarrão e para o churrasco,
enquanto os cães cavam a terra em busca dos ossos que
tinham escondido."
(1ª Fase 2016) No que diz respeito às principais
correntes metodológicas da Geografia e sua
aplicação, julgue (C ou E) os itens seguintes.
1. O fato de a Geografia Humanista considerar o
espaço um lugar, extensão carregada de
significações, possibilita que ela trate de questões
práticas como as que envolvam a percepção
ambiental e a valoração arquitetônica.
REGIÃO
O símbolo da geografia unitária- aquela que
não separa o físico do social, o natural do
humano, o ecológico do cultural- é a região.
Ora, o conceito de região foi vendido como
sendo um edifício estável. Só que não é.
(Milton Santos)
Regionalização do Brasil por Milton Santos
(TPS 2011) Na aurora dos tempos, os grupos humanos
retiravam do espaço que os circundava, isto é, do pedaço
da natureza que lhes cabia, os recursos essenciais à sua
sobrevivência. Na medida em que a divisão do trabalho se
acentua, uma parte cada vez maior das necessidades de
cada grupo, de cada comunidade, tem de ser procurada na
área geográfica de uma outra coletividade. A noção de
espaço como suporte biológico dos grupos humanos, de
suas atividades, exige agora uma interpretação menos
literal. Essa noção não pode mais aplicar-se corretamente,
com a expansão da área de atividade indispensável à
existência, a um grupo isolado, mas à humanidade em
geral. Milton Santos. Por uma geografia nova. São
Paulo: Ed. Hucitec/EDUSP, 1978, p. 167 (com
adaptações).
Assinale a opção em que se expressa corretamente a
ideia apresentada pelo autor nesse fragmento de texto.
(A) O imperialismo advém da necessidade de domínio
tecnológico de meios naturais diferenciados.
(B) Os recursos naturais disponíveis para a coletividade
são finitos, e o crescimento populacional
inevitavelmente provoca seu escasseamento, gerando
um desequilíbrio na relação entre a população e seu
território.
(C) A concepção de Estado está intimamente
relacionada à defesa dos recursos essenciais para a
sobrevivência das sociedades, aspecto do qual
decorrem as guerras, que são, por isso, inevitáveis.
(D) A situação de isolamento garante a uma
comunidade a manutenção do equilíbrio na relação de
um grupo humano com sua base espacial.
(E) Conforme as sociedades se tornam mais
complexas, as relações humanas intensificam-se e a
explicação da vida social, então, extrapola a escala
local.
O meio natural, o meio técnico, o meio técnico-
científico-informacional.
A história das chamadas relações entre sociedade e
natureza é, em todos os lugares habitados, a da substituição
de um meio natural, dado a uma determinada sociedade,
por um meio cada vez mais artificializado, isto é,
sucessivamente instrumentalizado por essa mesma
sociedade. Em cada fração da superfície da terra, o caminho
que vai de uma situação a outra se dá de maneira particular;
e a parte do "natural" e do "artificial" também varia, assim
como mudam as modalidades do seu arranjo.
Do Livro “A Natureza do Espaço: técnica e tempo / razão e emoção”, de
Milton Santos, 2ª Edição, Editora Hucitec, São Paulo, 1996, pág. 186-
207
O território usado não é uma coisa inerte ou um palco
onde a vida se dá. Ao contrário, é, um quadro de vida,
híbrido de materialidade e de vida social. Sinônimo de
espaço geográfico, pode ser definido como um conjunto
indissociável, solidário e contraditório, sistemas de
objetos e sistemas de sistemas de ações (SANTOS,
1996). É o território propriamente dito mais as sucessivas
obras humanas e os próprios homens de hoje. É o
território e o território se fazendo, com técnicas, normas e
ações. Como conceito puro, o território é constituído de
formas, mas, como conceito híbrido, o território usado é
constituído de “objetos e ações, sinônimo de espaço
humano, elementos normativos e por códigos de espaço
habitado”.
Em outras palavras, o território usado abriga as ações
passadas, já cristalizadas nos objetos e normas, e as
ações presentes, aquelas que se realizam diante dos
nossos olhos. No primeiro caso, os lugares são vistos
como coisas, mas a combinação entre ações
presentes e ações passadas, às quais as primeiras
trazem vida, confere um sentido ao que preexiste. Tal
encontro modifica a ação e o objeto sobre o qual se
exerce e, por isso, uma não pode ser entendida sem o
outro. Por isso o espaço é sempre histórico. Sua
historicidade deriva da junção entre as características
da materialidade territorial e as características das
ações.
Mas as bases materiais e imateriais
historicamente estabelecidas são apenas
condições; no entanto, sua atualidade, isto é, sua
significação real advém das ações realizadas
sobre elas. A tal complexo conjunto podemos
denominar território vivo, o território vivendo.
(O BRASIL: TERRITÓRIO E SOCIEDADE NO
INÍCIO DO SÉCULO 21 – A HISTÓRIA DE UM
LIVRO- María Laura Silveira)
O meio natural
Quando tudo era meio natural, o homem escolhia da
natureza aquelas suas partes ou aspectos
considerados fundamentais ao exercício da vida,
valorizando, diferentemente, segundo os lugares e as
culturas, essas condições naturais que constituíam a
base material da existência do grupo.
Esse meio natural generalizado era utilizado pelo
homem sem grandes transformações. As técnicas e o
trabalho se casavam com as dádivas da natureza, com
a qual se relacionavam sem outra mediação.
O meio técnico
O período técnico vê a emergência do espaço
mecanizado. Os objetos que formam o meio não são,
apenas, objetos culturais; eles são culturais e técnicos, ao
mesmo tempo. Quanto ao espaço, o componente material
é crescentemente formado do “natural” e do “artificial”.
Mas o número e a qualidade de artefatos varia. As áreas,
os espaços, as regiões, os países passam a se distinguir
em função da extensão e da densidade da substituição,
neles, dos objetos naturais e dos objetos culturais, por
objetos técnicos
O meio técnico-científico-informacional

O terceiro período começa praticamente após a segunda


guerra mundial e, sua afirmação, incluindo os países de
terceiro mundo; vai realmente dar-¬se nos anos 70. É a
fase a que R. Richta (1968) chamou de período técnico-
¬científico, e que se distingue dos anteriores, pelo fato da
profunda interação da ciência e da técnica, a tal ponto que
certos autores preferem falar de tecnociência para realçar
a inseparabilidade atual dos dois conceitos e das duas
práticas.
Neste período, os objetos técnicos tendem a ser ao mesmo
tempo técnicos e informacionais, já que, graças à extrema
intencionalidade de sua produção e de sua localização, eles
já surgem como informação; e, na verdade, a energia
principal de seu funcionamento é também a informação. Já
hoje, quando nos referimos às manifestações geográficas
decorrentes dos novos progressos, não é mais de meio
técnico que se trata. Estamos diante da produção de algo
novo, a que estamos chamando de meio técnico-científico-
informacional.
Da mesma forma como participam da criação de novos
processos vitais e da produção de novas espécies (animais
e vegetais), a ciência e a tecnologia, junto com a
informação, estão na própria base da produção, da
utilização e do funcionamento do espaço e tendem a
constituir o seu substrato.
(TPS 2011) Na aurora dos tempos, os grupos humanos
retiravam do espaço que os circundava, isto é, do pedaço da
natureza que lhes cabia, os recursos essenciais à sua
sobrevivência. Na medida em que a divisão do trabalho se
acentua, uma parte cada vez maior das necessidades de
cada grupo, de cada comunidade, tem de ser procurada na
área geográfica de uma outra coletividade. A noção de
espaço como suporte biológico dos grupos humanos, de
suas atividades, exige agora uma interpretação menos literal.
Essa noção não pode mais aplicar-se corretamente, com a
expansão da área de atividade indispensável à existência, a
um grupo isolado, mas à humanidade em geral. Milton
Santos. Por uma geografia nova. São Paulo: Ed.
Hucitec/EDUSP, 1978, p. 167 (com adaptações).
Assinale a opção em que se expressa corretamente a
ideia apresentada pelo autor nesse fragmento de texto.
(A) O imperialismo advém da necessidade de domínio
tecnológico de meios naturais diferenciados.
(B) Os recursos naturais disponíveis para a coletividade
são finitos, e o crescimento populacional inevitavelmente
provoca seu escasseamento, gerando um desequilíbrio
na relação entre a população e seu território.
(C) A concepção de Estado está intimamente relacionada
à defesa dos recursos essenciais para a sobrevivência
das sociedades, aspecto do qual decorrem as guerras,
que são, por isso, inevitáveis.
(D) A situação de isolamento garante a uma
comunidade a manutenção do equilíbrio na relação de
um grupo humano com sua base espacial.
(E) Conforme as sociedades se tornam mais
complexas, as relações humanas intensificam-se e a
explicação da vida social, então, extrapola a escala
local.
Brasil- Território e Sociedade no início do
séc.XXI (páginas 27 a 53)

O primeiro período é marcado pelos tempos lentos da


natureza comandando as nações humanas de
diversos grupos indígenas e pela instalação dos
europeus, empenhados todos em amansar esses
ritmos. A unidade era dada pela natureza, e a
presença humana buscava adaptar-se aos sistemas
naturais. Num período pré-técnico, a escassez era a
dos instrumentos artificiais necessários ao domínio
desse mundo natural.
O MEIO TÉCNICO
Uma segunda fase é a dos diversos meios técnicos que
gradualmente buscam atenuar o império da natureza. A
mecanização seletiva desse verdadeiro conjunto de
“ilhas” que era o território exige que se identifiquem
subperíodos. As técnicas pré-máquina e, depois, as
técnicas da máquina definem o Brasil como um
arquipélago de mecanização incompleta. Mais tarde,
com a incorporação das máquinas ao território
(ferrovias, portos, telégrafo), estaríamos autorizados a
apontar um meio técnico de circulação mecanizada e da
industrialização balbuciante, caracterizado também
pelos primórdios da urbanização interior e pela
formação da Região Concentrada.
No pós-guerra sobrevém a integração nacional,
graças a construção de estradas de rodagem, à
continuação do estabelecimento das ferrovias e a
uma nova industrialização. Dá-se uma integração do
território e do mercado, com uma significativa
hegemonia paulista.
O MEIO-TÉCNICO-CIENTÍFICO-INFORMACIONAL
O terceiro grande período é a construção e a
difusão do meio técnico-científico-informacional.
Cabe, todavia, diferenciar, uma primeira fase, um
período técnico-científico que, no Brasil dos anos
70, caracterizou-se, entre outros aspectos, por uma
revolução nas telecomunicações. É sobretudo
nesse momento que, ultrapassando o seu estágio
de pontos e manchas, o meio técnico realmente se
difunde. Mas o novo meio geográfico (técnico-
científico-informacional) permanece circunscrito a
algumas áreas.
Já com a globalização, informação e finanças
passam a configurar a nova geografia,
distinguindo os lugares segundo a presença ou
a escassez das novas variáveis-chave. Com o
meio-técnico-científico-informacional, agravam-
se as diferenças regionais e aumenta a
importância da Região Concentrada com a
hegemonia paulista, mas também a partir da
ocupação de áreas periféricas com produções
modernas.
(1ª fase de 2016- questão 28- modificada) Acerca da
formação territorial brasileira, julgue (C ou E) os itens a
seguir.
1. A partir da segunda metade do século XIX, a
produção e o território se mecanizaram, de forma que
às técnicas das máquinas circunscritas à produção
sucederam as técnicas das máquinas incluídas no
território.
4. Nos três primeiros séculos de colonização
portuguesa no Brasil, a produção no território
brasileiro era fundada na criação de um meio técnico
mais dependente do trabalho direto e concreto do
homem do que da incorporação de capital à natureza.

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