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Nos últimos anos, seja por insegurança ou por uma maior sensação de privacidade,
tem-se observado uma tendência nas edificações tanto comerciais como
residenciais de fecharem-se para a rua, implicando em impactos negativos no
convívio e na relação da população com o espaço público. O bairro onde será
inserida a proposta, não foge desta realidade.
A crítica apresentada se concentra nessa cultura, muitas vezes errônea de que para
se ter segurança e morar tranquilamente é preciso viver em edificações fechadas,
sem contato com a rua e com o espaço público, e até mesmo com outras pessoas
que não sejam seus vizinhos. Segundo Jacobs (2001) o principal atributo de um
distrito urbano próspero é que as pessoas se sintam seguras e protegidas na rua
em meio aos desconhecidos. É preciso entender primeiramente, que a paz nas
calçadas não é assegurada apenas pela polícia, ela é na verdade mantida
principalmente pela população, a população que ali vive, trabalha, ou apenas
transita, que de forma espontânea, garantem a segurança. De acordo com Jacobs
(2001), a segunda coisa que se deve entender é que o problema da insegurança
não pode ser solucionado por meio da dispersão das pessoas. Reduzir o
adensamento de uma cidade não garante a segurança contra o crime, se não os
subúrbios não seriam o cenário ideal para roubos e similares. Uma rua
movimentada consegue garantir a segurança; uma rua deserta, não. Mas o que faz
uma rua ser atrativa e transmitir segurança? Nas palavras de Jacobs (2001) devem
existir ‘’olhos da rua’’, ou seja a existência de vigilância espontânea sobre as vias,
realizado pelos moradores e frequentadores locais. Dessa forma os edifícios devem
estar voltados para a rua, ao invés de estarem voltados para os fundos do lote. Mas
só se tem olhos para rua quando se tem movimento e para ter-se movimento, para
tornar uma rua atrativa é necessário diversidade
A imagem da cidade
As análises feitas por ele apontam para uma substancial variação do modo como as
diferentes pessoas organizam sua cidade, de quais elementos mais dependem ou
em quais formas as qualidades são mais compatíveis com elas. A paisagem urbana
é algo a ser visto e lembrado, um conjunto de elementos do qual esperamos que
nos dê prazer. Olhar para as cidades pode dar um prazer especial, por mais comum
que possa ser o panorama. Como obra arquitetônica, a cidade é uma construção no
espaço, mas uma construção de grande escala; uma coisa só percebida no decorrer
de longos períodos de tempo.” (LYNCH,1960).
O texto fala da importância da imagem que cada um faz de sua cidade e de sua
singularidade. Cada cidadão tem vastas associações com alguma parte de sua
cidade, e a imagem de cada um está impregnada de lembranças e significados.
Além disso, as pessoas e suas atividades são tão importantes quanto as partes
físicas permanentes de uma cidade. Sendo assim, se é bem organizada
visualmente, ela também pode ter um forte significado expressivo.
Uma imagem clara da paisagem urbana constitui uma base preciosa para o
desenvolvimento individual. A necessidade de reconhecer e padronizar os
ambientes tem raízes profundamente arraigadas no passado e é de enorme
importância prática e emocional para o indivíduo. A legibilidade oferece a sensação
de segurança emocional, assim como a identidade. Uma boa imagem requer a
identificação de um objeto, o que implica seu reconhecimento enquanto entidade
separável. A isso se dá o nome de identidade, no sentido de individualidade ou
unicidade.
O autor também fala sobre cada um dos elementos que compõem a cidade. As vias,
canais de circulação ao longo dos quais o observador se locomove de modo
habitual, ocasional ou potencial, para muitos observadores constituem os elementos
predominantes. Alamedas, linhas de trânsito, canais ou ferrovias, algumas delas
podem tornar-se características importantes. Para Lynch, o trajeto habitual é uma
das influências mais poderosas, de tal modo que as principais vias de acesso são
todas imagens de importância vital. A constituição de uma via, as atividades
realizadas ao longo de seu percurso ou as fachadas dos edifícios pode torná-la
importante aos olhos dos observadores. Nesse sentido, as vias com grau
satisfatório de continuidade foram escolhidas como as mais seguras e, quando a
largura da via se altera, as pessoas têm dificuldade para perceber uma continuação
da mesma via. As ruas podem não ser apenas identificáveis e contínuas, mas ter,
também, qualidade direcional.
Os limites são elementos lineares que representam fronteiras entre duas fases,
quebras de continuidade lineares. São exemplos de limites: praias, margens de rios,
lagos, cortes de ferrovias, espaços em construção, muros e paredes. Parecem mais
fortes os limites que não só predominam visualmente, mas têm uma forma contínua
e não podem ser atravessados, porém muitos limites são uma costura, muito mais
que barreiras que isolam, muitas vezes as próprias vias podem constituir um limite.
Os pontos nodais são lugares estratégicos de uma cidade através dos quais o
observador pode entrar, são focos intensivos para os quais ou a partir dos quais se
locomove. Podem ser junções, concentrações, locais de interrupção, um
cruzamento ou uma convergência de vias, momentos de passagem de uma
estrutura a outra. Mesmo quando sua forma física é vaga e indefinida, podem ser de
extrema importância para a legibilidade da paisagem urbana.
Os marcos são outro tipo de referência, mas nesse caso o observador não entra
neles: são externos. Em geral, o marco é um objeto físico definido de maneira a
evidenciar sua singularidade. O contraste entre figura e plano de fundo, a partir da
sua localização espacial, parece ser o fator principal para que um elemento seja
tomado como marco. A atividade associada a um elemento também pode
transformá-lo num marco, ou quando uma história, um sinal ou um significado vem
ligar-se a um objeto, aumenta o seu valor enquanto marco. Lynch divide os marcos
em distantes e locais, estes últimos mais citados pelos observadores que os
primeiros.
Em outro capítulo chamado Temas comuns, Lynch fala sobre como as pessoas se
adaptam ao seu entorno e extraem estrutura e material ao seu alcance e como os
tipos de elementos usados na imagem da cidade e os atributos que se tornam fortes
ou fracos parecem comparáveis, ainda que a proporção desses tipos possa variar.