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DIMENSIONAMENTO DE CONTENÇÕES

UNIDADE II
OBRAS DE CONTENÇÃO
Elaboração
Miriã Falcão Freitas

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

UNIDADE II
OBRAS DE CONTENÇÃO..................................................................................................................................................................... 5

CAPÍTULO 1
CONCEITOS E TIPOS DE ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO................................................................................................ 6

CAPÍTULO 2
DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO.......................................................................................... 13

CAPÍTULO 3
DRENAGEM DOS MUROS DE ARRIMO............................................................................................................................... 20

REFERÊNCIAS................................................................................................................................................25
OBRAS DE CONTENÇÃO UNIDADE II

Há milhares de anos, mais ou menos, um homem ou mulher anônima colocou uma


fileira de pedras uma por cima da outra para impedir que o solo deslizasse para o
acampamento. Assim, foi construído um muro de contenção precoce.

Os primeiros engenheiros das culturas antigas do Egito, da Grécia, de Roma e dos


Maias eram mestres em invenção e experimentação, aprendendo principalmente por
intuição e tentativa e erro, o que funcionava e o que não funcionava. Até o observador
mais casual olha maravilhado para as magníficas estruturas que foram criadas por eles
e que permaneceram e permanecem por milhares de anos – incluindo inúmeros muros
de contenção. Com grande habilidade, cortaram, modelaram e assentaram pedras
com tanta precisão que as juntas são finas como papel. O concreto armado não seria
desenvolvido por mil anos, mas eles usaram o que tinham e aprenderam como fazê-lo
melhor com cada estrutura subsequente. Considere a Grande Muralha da China, por
exemplo, onde varas de bambu transversais foram usadas para amarrar as paredes – um
precursor da “terra mecanicamente estabilizada” de hoje. Esses primeiros engenheiros
também descobriram que, ao bater em uma parede, inclinando-a um pouco para trás, a
pressão lateral era aliviada e a altura podia ser aumentada – uma compreensão intuitiva
da teoria do Empuxo de Terra. Qualquer estudante de métodos antigos de construção
fica impressionado com a ingenuidade e realizações dos primeiros engenheiros.

Grandes avanços na compreensão de como funcionam os muros de contenção e como o


solo gera forças contra os muros apareceram nos séculos XVIII e XIX com o trabalho do
engenheiro francês Charles Coulomb , em 1776, que é mais lembrado por seu trabalho
em eletricidade, e mais tarde por William Rankine, em 1857. Hoje suas equações são
familiares para a maioria dos engenheiros. Um corpo significativo de trabalho foi a
introdução da mecânica do solo como ciência por meio do trabalho pioneiro de Karl
Terrzaghi, na década de 1920.

De fato, a mecânica do solo e o projeto de estruturas de contenção avançaram


dramaticamente nas últimas décadas, dando-nos novos conceitos de projeto, uma
melhor compreensão do comportamento do solo e, com sorte, projetos mais seguros e
econômicos.

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Capítulo 1
CONCEITOS E TIPOS DE ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO

Estruturas de contenção são obras civis construídas com a finalidade de prover


estabilidade contra a ruptura de maciços de terra ou rocha. São estruturas usadas para
proporcionar estabilidade à terra ou a outros materiais em suas inclinações naturais.
Em geral, eles são usados para reter ou apoiar bancos de solo e água ou para manter
a diferença na elevação da superfície do solo em cada um dos lados da parede. As
estruturas de contenção têm por objetivo se opor a empuxos ou tensões geradas em
maciço cujo equilíbrio foi alterado por escavação, corte ou aterro.

Para reduzir a pressão hidrostática na parede das águas subterrâneas, deve ser usado um
sistema de drenagem adequado na forma de orifícios de drenagem, alternativamente, a
drenagem do subsolo atrás da parede pode ser empregada.

Figura 18. Terminologia estruturas de contenção.

crista
Terreno plano ou
reaterro
corpo
tardoz

base

fundação
dente
Fonte: Gerscovich, 2010.

1.1. Tipos de estruturas de contenção


Estruturas de contenção podem ser classificadas em muros, solos grampeados ou
cortinas ancoradas. Os muros podem ser de gravidade ou peso e muros de flexão. O primeiro
pode ser construído de alvenaria de pedras, gabiões, solo reforçado, concreto ciclópico
ou solo-cimento e o segundo em concreto armado e podem ser com ou sem contraforte
e com ou sem ancoragens. As estruturas em solos grampeados e cortinas ancoradas
serão estudadas no Capítulo 3 da Unidade III.

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1.1.1. Muros de gravidade

O muro de contenção por gravidade depende de seu próprio peso apenas para resistir
à pressão lateral da terra. Geralmente, o muro de contenção por gravidade é maciço
porque requer uma carga gravitacional significativa para combater a pressão horizontal
do solo. Ao projetar a parede de contenção por gravidade, as forças de deslizamento,
tombamento e rolamento devem ser levadas em consideração. Muros de contenção
são comumente apoiados pelo solo (ou rocha) subjacente à laje de base ou apoiados
em estacas; como no caso de pilares de pontes e onde a água possa corroer ou cortar
o solo base, como nas estruturas frontais da água. Pode ser construído com diferentes
materiais, como concreto e alvenaria, gabiões ou ainda pneus. Este tipo de construção
não é econômico para paredes maiores que 3m.

Figura 19. Muro de arrimo de gravidade.

Reaterro

Topo

Muro de arrimo Tardoz

Talude de escavação
Face
Drenagem

Barbacãs (furos)

Terraplano


Base

Fonte: Albuquerque, 2003.

1.1.2. Muros de alvenaria de pedra

Os muros de contenção de alvenaria de pedra são muros de retenção do tipo gravitacional,


comumente usados para reter terra ou encher materiais e basicamente retêm as pressões
da terra em virtude de seu peso próprio.

Os muros de contenção de alvenaria de pedra do tipo gravidade são estruturas básicas


e simples, geralmente construídas com pedras disponíveis localmente. Ele pode ser
construído em formas e tamanhos variados, desde que o procedimento de projeto
adequado seja seguido.

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Para muros de pedras arrumadas manualmente, a resistência do muro se dará apenas


pela sobreposição dos blocos de pedra.

Para muros de pedra sem argamassa, a contenção de taludes é recomendada apenas


para alturas de até 2 metros. Para taludes de maior altura, é necessário adicionar
argamassa de cimento e areia para preencher os vazios dos blocos de pedras.

Figura 20. Muros de alvenaria de pedra.

Fonte: Gerscovich, 2010.

1.1.3. Muros de concreto ciclópico ou concreto gravidade

O muro de concreto ciclópico apresenta uma fácil execução, que se constitui basicamente
em uma estrutura construída mediante o preenchimento de uma forma com concreto
e rochas de tamanhos variados. É economicamente viável apenas quando a altura não
exceda cerca de 4 metros. Devido à impermeabilidade deste muro, é imprescindível a
execução de um sistema adequado de drenagem.

Figura 21. Muros de concreto ciclópico ou concreto gravidade.

Dreno de
areia Barbacã

Fonte: Gerscovich, 2010.

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1.1.4. Muros de gabião

Esses tipos de muro de contenção são constituídos por gaiolas metálicas retangulares
de malha de arame com fios de aço galvanizado em malha hexagonal com dupla torção,
preenchidas com pedras ou outros materiais adequados. É construído para a construção
de estruturas de controle de erosão. Os muros de contenção de gabião também são
usados para estabilizar encostas íngremes.

Uma parede de gabião é uma parede de retenção feita de gabiões empilhados e cheios
de pedra, amarrados com arame. As paredes do Gabião são geralmente danificadas
(inclinadas para trás em direção à encosta) ou recuadas com a encosta, em vez de
serem empilhadas verticalmente. A expectativa de vida dos gabiões depende da vida
útil do fio, não do conteúdo da cesta. A estrutura falhará quando o fio falhar. O fio de
aço galvanizado é o mais comum, mas também são usados fios revestidos de PVC e aço
inoxidável. Estima-se que os gabiões galvanizados revestidos de PVC sobrevivam por
60 anos. Alguns fabricantes de gabiões garantem uma consistência estrutural de 50
anos. Suas aplicações incluem:

» pilares da ponte;

» paredes de proteção de costa e praia;

» barragens de verificação temporária.

A principal característica dos muros de gabiões é a sua flexibilidade, que permite que a
estrutura se acomode a recalques diferenciais, e a permeabilidade.

Figura 22. Muros de gabião.

Fonte: Gerscovich, 2010. Fonte: https://fr.123rf.com/photo_60321067_pierre-avec-un-treillis-


m%C3%A9tallique-pour-la-protection-de-roche-tombant-de-la-montagne.html

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1.1.5. Muros em fogueira (“crib wall”)

Esses tipos de muros de contenção também são uma forma de muro de gravidade.
Eles são construídos em forma de “fogueiras” individuais interligadas, feitas de concreto,
aço ou madeira pré-moldados. Os espaços internos são preenchidos com pedra
(britas) ou outros materiais granulares mais grosseiros, para formar uma estrutura de
drenagem livre. Os tipos básicos de muros de contenção em fogueira incluem muros de
contenção de madeira e pré-moldado reforçado. Esse método é adequado para apoiar
áreas de plantio e é usado também em taludes cortados ou aterros, geralmente em
obras rodoviárias.

Figura 23. Muros em fogueira (“crib wall”).

Fonte: Gerscovich, 2010. Fonte: http://www.senhoreco.org/2018/02/muro-vivo-em-madeira-tipo-cribwall.html.

1.1.6. Muros de pneus

Os muros de pneus são construídos pelo empilhamento horizontal de camadas de


pneus, ligados entre si e preenchidos com solo compactado. Atuam também como
muros de gravidade e tem como vantagem a flexibilidade e a reutilização de pneus
descartados. Como atuam como um muro de peso, os muros de solo-pneus possuem
um limite de altura inferior a 5 metros.

Figura 24. Muros de pneus.

Fonte: https://maranauta.blogspot.com/2015/11/pneus-podem-ser-base-de-muros-de.html.

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1.1.7. Muros de sacos de solo-cimento

Esse tipo de estrutura de contenção é constituído a partir camadas de sacos (de poliéster
ou similar) preenchidos com uma mistura de solo e cimento em uma proporção entre
1:10 a 1:15, segundo a GEO-RIO (2014). Esse tipo de estrutura é de fácil execução e de
fácil adaptação à topografia local.

Figura 25. Muro de contenção com sacos de solo-cimento.

Perspectiva

Seção

Obturação de erosão com


solo ensacado

Fonte: Gerscovich, 2010.

Figura 26. Ilustração de muro com sacos de solo-cimento.

Fonte: http://www.maceio.al.gov.br/galeria/prefeito-visitas-grotas/attachment/prefeito-visita-grotas-20/.

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1.1.8. Muros de flexão

Esses tipos de muros resistem à flexão e possuem uma estrutura mais esbelta, em formato
de “L”. Quando projetados em concreto armado, não são viáveis para estruturas acima
de 5 a 7 metros, para esse caso, faz-se necessária a utilização de vigas de enrijecimento
e contrafortes. Os muros de flexão podem ainda ser ancorados na base com tirantes
ou chumbadores, a fim de aumentar sua estabilidade ou para casos em que o espaço
disponível não é suficiente para o tamanho da base do muro.

Figura 27. Muro com contraforte.

Contrafortes

Fonte: https://ced.ceng.tu.edu.iq/images/lectures/dr.farouq/ch8-Retaining-walls.pdf.

Figura 28. Ilustração de muro de contenção com contrafortes.

Fonte: https://gestaorisco.wordpress.com/registros-fotograficos/muro-de-contencao-com-contrafortes-feito-apos-
deslizamento-diadema-rua-chile-com-rua-equador/.

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Capítulo 2
DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO

Como já mencionado no capítulo anterior, existe uma vasta gama de diferentes tipos
de obras de contenção. Desta forma, este capítulo apresentará como deve ser feito o
dimensionamento de um muro de gravidade.

2.1. Muro de gravidade


O objetivo do dimensionamento de um muro de gravidade é de garantir a sua
estabilidade interna e externa, fazendo uso de análises de equivalência dos esforços
atuantes com a resistência dos materiais utilizados.

Primeiro, é feito um pré-dimensionamento utilizando critérios empíricos e projetos já


realizados anteriormente. Uma vez tendo as dimensões definidas, as análises essenciais
devem ser feitas e, por fim, as dimensões definidas devem ser verificadas para que
atendam a segurança de projeto.

2.1.1. Análise de estabilidade externa

Nesse tipo de análise, há quatro mecanismos clássicos de instabilidade em estruturas


de contenção (figura 29):

» ruptura global;

» deslizamento na base;

» tombamento;

» ruptura do solo de fundação.

Figura 29. Tipos de análise na verificação da estabilidade externa.

(a) Deslizamento (b) Tombamento

E E
δ

(c) Capacidade de carga da fundação (d) Ruptura global

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E
δ

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(c) Capacidade de carga da fundação (d) Ruptura global

Fonte: https://geoacademy.com.br/courses/manual-tecnico-para-reforco-de-muros-e-taludes/lectures/1540172.

» Ruptura global:

A ruptura global está mais relacionada aonde o terreno está construído do que à
estrutura de contenção propriamente dita. Os fatores que mais influenciam na
ruptura são as características geométricas e geotécnicas do terreno.

» Deslizamento:

A verificação da estabilidade ao escorregamento ou deslizamento consiste na


verificação das forças solicitantes (empuxo ativo) e resistentes sobre a estrutura
(empuxo passivo e atrito solo/estrutura). O fator de segurança é dado pela
relação entre as forças resistentes e solicitantes. Para esta relação, o fator de
segurança ao deslizamento (FSd) deve ser maior que 1,5. A figura 30 ilustra as
forças consideradas.

Figura 30. Verificação da estabilidade quanto ao deslizamento.


b

P
Ea
H
δ

Tmax
N’

Uv

B
Fonte: Luiz, 2014.

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Onde:

A partir da figura 30 podemos determinar:

Com Φ’sm = ângulo de atrito solo/muro, adotado como ângulo de atrito do solo,
Φ’. O peso do muro pode ser calculado a partir do peso específico do material do
muro (γm) e das suas dimensões, assim:

» Tombamento:

Para verificar a segurança ao tombamento, o fator de segurança é calculado pela


razão entre o momento resistente e o momento atuante (exercido pelo empuxo
de solo). O fator de segurança deve ser superior a 2, de acordo com a equação 16.
A figura 31 mostra os esforços e seus pontos de atuação.

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Figura 31. Esforços na base do muro.


b

Esenδ

Ecosδ
z

Ew

a
k

2B/3 A

U R

Fonte: Luiz, 2014.

Para determinar o ponto de atuação da Resultante, R, utiliza-se a equação 17.

» Verificação da capacidade de suporte do solo de fundação:

Essa análise é válida apenas para muros localizados em terrenos horizontais. O


fator de segurança deve ser maior que 2,5.

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Sendo:

qmax = capacidade de suporte da fundação

σmax = tensão máxima de contato na base (figura 32)

Figura 32. Verificação da capacidade de suporte do solo da fundação.

P
Ea

q
N’

2e B’

B
Fonte: Luiz, 2014.

A tensão máxima dada pela equação 19 é válida para o caso em que a base do
muro não se encontre completamente comprimida.

Em que b0 é o comprimento da parte da base onde está submetida à compressão.

Para calcular a capacidade de suporte da fundação (qmax), considera-se a


excentricidade da resultante (R) do empuxo de terra (Ea) e o peso do muro (P) na
base do muro. A equação 20 é válida para solos homogêneos.

Em que:

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Onde:

Quadro 3. Fatores de capacidade de carga.

Φ (graus) Nc Nq Nγ
0 5,14 1,00 0
15 10,98 3,94 2,65
20 14,83 6,40 5,39
25 20,72 10,66 10,88
30 30,14 18,40 22,40
35 46,12 33,30 48,03
40 75,31 64,20 109,41
45 133,90 134,90 271,76
Fonte: Luiz, 2014.

A relação entre a resultante das tensões normais efetivas e a dimensão da base do


muro é igual a carga aplicada, q.

2.1.2. Análise da estabilidade interna

A análise de estabilidade interna é feita com o objetivo de evitar a ruptura por


esmagamento do muro de contenção.

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A estabilidade interna não é um fator tão preocupante nos muros de gravidade, pois
estes são constituídos por elementos sólidos e fortes, como pedras e concreto ciclópico.
Já para os muros de concreto armado, o dimensionamento deve seguir a norma NBR
6118, considerando as solicitações consequentes à sua esbeltez.

Para os muros de gabiões, a análise deve ser feita quanto às tensões de tração, por
meio da geometria do muro. O fator de segurança deve ser maior que 2, como mostra
a equação 23.

Com

Onde:

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Capítulo 3
DRENAGEM DOS MUROS DE ARRIMO

Para que uma estrutura de contenção se comporte de maneira satisfatória, é necessário a


utilização de sistemas de drenagem. Os sistemas de drenagem podem ser tanto internos
quanto superficiais.

Diversos sistemas de drenagem como canaletas transversais e longitudinais, caixas


coletoras, dissipadores de energia, podem ser selecionados para o projeto. O sistema
selecionado dependerá do tipo da área, se é uma área com vegetação, ocupação densa
etc., das condições geométricas do talude e do tipo de material (rocha ou solo).

Figura 33. Dispositivos de drenagem superficial.

(a) – Canaleta transversal (b) – Canaleta longitudinal (c) – Caixa de passagem

Fonte: Gerscovich, 2010.

A função dos sistemas de proteção de taludes é a de minimizar a infiltração e a


erosão provenientes da precipitação de chuvas sobre o talude. As opções de proteção
superficial podem ser classificadas em dois grupos: proteção com vegetação (figura
34a) e proteção com impermeabilização (figura 34b). Mesmo não havendo uma regra
para a elaboração de projetos dessa natureza, uma alternativa a se considerar deve ser
sempre a proteção vegetal, para o caso de taludes artificiais.

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Figura 34. Proteção superficial.

(a) – Cobertura vegetal (b) – Impermeabilização com concreto projetado

Fonte: Gerscovich, 2010.

Sabemos que os processos de infiltração, resultantes da precipitação de chuva,


podem modificar as condições hidrológicas do talude, diminuindo as sucções e/ou
aumentando o tamanho das poropressões (figura 35). Para qualquer uma dessas
mudanças, ocorre uma redução da tensão efetiva e, como consequência, uma redução da
resistência ao cisalhamento do material, o que pode causar instabilidade. É importante
salientar que as mudanças nas condições hidrológicas em taludes localizados em
áreas urbanas ocorrem não apenas devido a infiltrações por água da chuva, mas
também em consequência de infiltrações oriundas de vazamentos em tubulações de
água e/ou esgoto.

Os drenos horizontais, drenos internos de estruturas de contenção, filtros granulares,


trincheiras drenantes longitudinais e geodrenos são exemplos de sistemas de
drenagem subsuperficiais, que têm como objetivo controlar as magnitudes de
pressões de água e/ou captar fluxos no interior dos taludes. Esses sistemas tendem a
provocar rebaixamento do nível piezométrico, assim o volume de água que flui ao
longo dos drenos é diretamente proporcional ao coeficiente de permeabilidade e ao
gradiente hidráulico.

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Figura 35. Redes de fluxo em muros.

Infiltração

(a) Muro de gravidade com dreno vertical

Infiltração

(b) Muro Cantilever com dreno inclinado

Fonte: Gerscovich, 2010.

As figuras 36 e 37 ilustram esquemas de sistemas de drenagem. Quando não houver


problema em drenar as águas para a frente do muro, podem ser implantados orifícios
drenantes ou barbacãs.

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Figura 36. Sistemas de drenagem – dreno inclinado.

(a)
Canaleta

Proteção lateral

Aterro
Tubo de PVC
compactado
∅ 75

Filtro/material
drenantes

Tubo de drenagem

Canaleta
Concreto magro

(b)

Canaleta

Proteção lateral
Aterro
Tubo de PVC compactado
Material drenante
∅ 75 em sacos porosos

Filtro

Canaleta Material drenante

Concreto magro

(c)

Proteção lateral
Canaleta

Tubo de PVC Aterro


∅ 75 compactado

Filtro/material
drenantes

Canaleta
Tubo de drenagem
Concreto magro

Fonte: Gerscovich, 2010.

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Figura 37. Sistemas de drenagem – dreno vertical.


Proteção lateral

Canaleta
Proteção lateral
Canaleta

Tubo de Filtro
PVC ∅ 75

Tubo de Aterro compactado


PVC ∅ 75 Aterro compactado
Canaleta
Filtro/material
Canaleta drenantes

Material drenante

Concreto magro (a) Tubo de drenagem (b) Concreto magro

Fonte: Gerscovich, 2010.

Durante o projeto e a execução da estrutura de arrimo, o sistema de drenagem deve


ser cuidadosamente acompanhado, verificando a posição do colchão de drenagem e
assegurando que não ocorra contaminação ou segregação durante o lançamento do
material.

Os muros que possuem a característica drenante, como crib wall e gabiões, também
necessitam de instalação vertical na face interna do muro, a não ser que o material de
preenchimento exerça a função de filtro.

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REFERÊNCIAS

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Sorocaba, 2003.

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25
Referências

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