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Desenvolvimento de um Permeâmetro para Determinação da

Condutividade Hidráulica Saturada e Não Saturada de Solos


Lucas Martins Guimarães
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, guimaraeslm@yahoo.com.br

Roberto Francisco Azevedo


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, razevedo@ufv.br

Rodrigo Martins Reis


Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos, Brasil, reis@uenf.br

Izabel Christina D`Almeida Duarte de Azevedo


Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, iazevedo@ufv.br

Rejane Nascentes
Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiaba, Brasil, rejanenascentes@cpd ufmt.br

RESUMO: Este artigo descreve o desenvolvimento de um permeâmetro de parede flexível com


controle de sucção,que tem como objetivo a determinação da condutividade hidráulica saturada e
não saturada em solos, com precisão para valores maiores que 10-10 cm/seg. Utilizou-se a
metodologia do regime permanente de vazão constante. Os equipamentos desenvolvidos,
metodologia para aplicação e controle das sucções, monitoramento das diferenças de pressão e
controle das vazões impostas, são discutidos neste artigo. Foram determinadas as condutividades
hidráulica saturada e não saturada para valores de sucção de 50 kPa e 100 kPa.

PALAVRAS-CHAVE: Condutividade Hidráulica, Solos Não Saturados, Ensaios de Laboratório,


Permeâmetro de Parede Flexível, Equipamentos Geotécnicos.

1 INTRODUÇÃO equipamentos existentes.


As metodologias utilizadas para obtenção da
Quando se projeta uma barragem de terra, se função de condutividade hidráulica em solos
investiga a estabilidade de um talude ou se não saturados são as do regime permanente e
projeta uma camada de impermeabilização, é regime transiente (Marinho, 2005).
importante que se conheça a condutividade As técnicas baseadas na metodologia de
hidráulica do solo, tanto em condições regime permanente têm ampla aplicação e
saturadas, quando em condições não-saturadas. maior confiabilidade (Huang et al., 1995) Nos
A condutividade hidráulica dos solos pode ensaios de carga constante, gradientes de
ser determinada por meio de ensaios de campo pressão são aplicados nas extremidades do
ou de laboratório. Os equipamentos mais usados corpo de prova enquanto são registradas as
só possibilitam a determinação da vazões, enquanto que, nos ensaios de vazão
condutividade hidráulica saturada e, usando constante, uma vazão é imposta em uma das
gradientes baixo, próximos dos que ocorrem no extremidades da amostra e uma contrapressão
campo, não tem precisão para determinar de valor constante aplicada na outra
condutividades hidráulicas menores que 10-6 extremidade, enquanto é registrada a pressão
cm/s. No entanto, os órgãos ambientais exigem induzida pela vazão (Fleureau & Taibi, 1995).
que camadas de impermeabilização tenham As técnicas baseadas na metodologia de
condutividade hidráulica menor que 10-7 cm/s, o regime transiente apresentam muitas incertezas
que parece contraditório com a precisão dos nos esquemas de cálculo. Restrições
operacionais relacionadas com altas velocidades alta entrada de pressão de ar com diâmetro de
de injeção diminuem a função da capilaridade, 10,48 cm e altura de 0,71 cm.
de forma que a influência da molhabilidade não O top cap possui uma ranhura circular,
pode ser sempre manifestada. Técnicas formando uma câmara para alojar a pedra
baseadas no regime transiente são consideradas porosa de alta entrada de pressão de ar com
mais rápidas, embora o equilíbrio de saturação diâmetro de 7,94 cm e 0,71 cm de altura e uma
nunca seja atingido (Delgado, 2000). ranhura em forma de anel para alojar a pedra
O objetivo deste trabalho é apresentar o porosa de areia grossa para distribuição da
projeto, a construção e o funcionamento de um pressão de ar (Figura 3).
permeâmetro de parede flexível com controle de
sucção para determinar a condutividade
hidráulica em solos saturados e não saturados,
usando uma bomba de fluxo para impor uma
vazão constante na amostra (Guimarães, 2008).

2 DESCRIÇÃO DO EQUIPAMENTO

2.1 Célula de Ensaio Figura 2. Detalhes da base do permeâmetro com a peça


intercambiável e a pedra porosa de alta entrada de ar.

O permeâmetro é constituído por um cilindro de


acrílico, uma base e uma tampa de alumínio,
uma peça intercambiável de latão e um top cap
de alumínio (Figura 1).

Figura 3. Detalhes do Top Cap com as respectivas pedras


coladas.

As pedras porosas especiais utilizadas neste


trabalho foram de 5 bar, podendo ser
substituídas por outras de diferentes valores de
pressão de entrada de ar, caso seja necessário
realizar ensaios onde se deseja aplicar maiores
Figura 1. Permeâmetro. sucções ou para valores de condutividades
hidráulicas maiores.
A base (Figura 2), possui oito entradas As amostras a serem ensaiadas devem ter
laterais, duas para aplicação e controle das formato cilindrico com diâmetro e altura
pressões de água na base; uma para aplicação, respectivamente iguais a 10,48 cm e 2,00 cm.
controle e medição das pressões de água no
topo; duas saídas para medição das pressões de 2.2 Sistema de Aplicação de Vazão Constante
água que direcionam para a bomba de fluxo,
duas entradas para aplicação e medição de ar A principal vantagem desta metodologia é a
dentro da amostra e uma entrada para aplicação facilidade de se controlar pequenas vazões de
de pressão na câmara (tensão confinante). A forma precisa, ao invés de medi-las. O que é,
base possui também uma ranhura circular freqüentemente, muito difícil de ser feito com
concêntrica para alojar a peça intercambiável, precisão. Dessa forma é possível a determinação
na qual se encontra colada a pedra porosa de de coeficientes de permeabilidade com
gradientes hidráulicos pequenos, mais próximos pressão de até ±35 kPa.
dos que ocorrem no campo. Os equipamentos empregados nesse trabalho
Para aplicação da vazão constante na podem ser observados na Figura 5.
amostra, desenvolveu-se uma bomba de fluxo
que é acoplada a uma prensa triaxial com
controle analógico de velocidade (Figura 4). A
bomba de fluxo possui um tubo de vidro com
diâmetro interno de 0,4866 cm e um êmbolo de
latão. O bombeamento de água se dá quando o
embolo se desloca dentro do tubo,
semelhantemente a uma seringa. O conjunto de
tubos é preso a uma base que possui uma
entrada e uma saída de água necessária para o
bombeamento, e é fechado no topo por meio de
uma peça de alumínio e quatro hastes de aço
inox. O deslocamento do embolo é controlado
pela prensa triaxial. A prensa possui um Figura 5. Vista geral do equipamento desenvolvido.
controlador de velocidade analógico,
permitindo variar as vazões de 2x10-8 cm3/seg a
3x10-3 cm3/seg. 3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 O Solo

O material escolhido para a execução dos


ensaios é um solo residual jovem de gnaisse. O
solo apresenta uma coloração acinzentada, e foi
classificado pelo Sistema Unificado de
Classificação (USCS) como SC (areia argilosa).
Para realização dos ensaios para
Figura 4. Bomba de fluxo e arranjo do conjunto na prensa determinação da curva de retenção de água do
triaxial. solo e dos ensaios de condutividade hidráulica,
trabalhou-se com amostras deformadas,
2.3 Sistema de Aplicação de Pressão e compactadas estáticamente.
Aquisição de Dados Apresenta-se na Tabela 1 os dados da
caracterização geotécnica do solo. Esses ensaios
As pressões de confinamento e as contra- foram realizados segundo as normas técnicas da
pressões na base e no topo, são aplicadas por ABNT.
meio de duas interfaces ar/água. As sucções
aplicadas diretamente no topo da amostra, são Tabela 1. Caracterização geotécnica do solo.
aplicadas e controladas por manômetros, Granulometria
Argila Silte Areia Fina Areia Média
fazendo uso da técnica de translação de eixos
(%) (%) (%) (%)
(Hilf, 1956). 14 15 65 6
O sistema de aquisição de dados utilizado é Limites de Atterberg
formado por um módulo de monitoramento de LL (%) LP (%) IP (%)
dados de 16 bits com quatro canais, fabricado 25 16 9
pela Wykeham Farrance, um micro computador Índices Físicos
e um transdutor diferencial de pressão de alta s (kN/m3) 3
dmáx (kN/m ) Wótima (%)
precisão, da Validyne Engineering Corporation, 27,73 18,06 13,5
modelo P300D, capaz de ler diferenças de
3.2 Determinação da Curva de Retenção de teve como referência a pressão atmosférica
Água aplicada em ambos os lados do transdutor
diferencial. Para o segundo ponto, um dos lados
A curva de retenção de água foi determinada é aberto para atmosfera e o outro aberto para a
usando-se a técnica do papel filtro e a placa de coluna de mercúrio com a qual aplicava-se com
pressão. Os dois métodos foram necessários, precisão um valor de pressão pré-estabelecido.
uma vez que a câmara de aplicação de pressão
possui uma pedra porosa de alta entrada de ar de N AR
Bomba
de
500 kPa, restringindo a obtenção de pontos a Fluxo
Reservatório
valores no máximo igual a este valor. Todos os Coluna de
Mercurio
corpos de prova, após serem moldados, foram para
Prensa Calibraçao
umedecidos e os pontos da curva forma obtidos triaxial

em trajetória de secagem.
Adotou-se o modelo de Van Genuchten Interfaces Bureta

(1980) para ajustar aos dados experimentais


(Equação 1).

Transdutor Diferencial de Peça Intercambiável e Top Cap


s r
= r (1) Pressão Pedra Porosa Normal
n m Válvula Reguladora de Pressao
1 v
Pedra porosa de Alto Valor
de Entrada de Ar
Registro de Esfera
Manômetro

onde Figura 6. Desenho esquemático dos equipamentos


v, m e n são parâmetros de ajuste do
utilizados para determinação das condutividades
modelo. hidráulicas.

3.3 Metodologia para Determinação da 3.3.2 Saturação das Pedras Porosas de Alta
Condutividade Hidráulica Entrada de Pressão de Ar
A metodologia para a execução do ensaio Antes de iniciar os ensaios, é necessário efetuar
para determinação da condutividade saturada e a saturação das pedras porosas de alto valor de
não saturada consta das seguintes etapas: entrada de pressão de ar. Esta saturação tem por
calibração do transdutor diferencial de pressão, objetivo garantir a continuidade da água entre o
saturação das pedras porosas de alta entrada de corpo de prova, a pedra-porosa e o resto do
pressão de ar, determinação da condutividade sistema de água (Delgado, 2000). A saturação é
hidráulica das pedras porosas de alta entrada de realizada mediante um fluxo de água através
pressão de ar, montagem da amostra de solo na das pedras porosas especiais. Isto é executado,
célula de ensaio, determinação da condutividade enchendo com água dearada a câmara do
hidráulica saturada, aplicação da sucção na permeâmetro, aplicando uma diferença de
amostra e determinação da condutividade pressão entre a água da câmara e as câmaras de
hidráulica não saturada. água adjacentes a pedra, forçando assim a
Um desenho esquemático da aparelhagem passagem da água. Esta operação é mantida até
para determinação da condutividade hidráulica que o volume de água que atravessa as pedras
saturada e não saturada pode ser visto na Figura permaneça constante no tempo.
6. Além da saturação dos discos cerâmicos, é
também necessária a saturação das linhas de
3.3.1 Calibração do Transdutor Diferencial de contrapressão e das câmaras de água adjacentes
Pressão as pedras porosas de alta entrada de pressão de
ar. Isso se faz, aplicando uma pressão de 200
A calibração consistiu em fornecer dois kPa; dissolvendo assim as micro-bolhas que
pontos conhecidos da curva de calibração para o poderiam ainda restar.
módulo de monitoramento. O primeiro ponto
devendo-se, assim, considerar a perda de carga
3.3.3 Determinação da Condutividade nas pedras porosas.
Hidráulica das Pedras Porosas de Alta O coeficiente de permeabilidade do solo,
Entrada de Pressão de Ar ksolo, pode ser calculado considerando o
conjunto como três materiais diferentes e que:
É necessário conhecer o valor da condutividade
hidráulica das pedras porosas de alta entrada de v = vbase = vsolo = vtopo (2)
pressão de ar, para que se possa conhecer a
perda de carga gerada pelo fluxo através delas e e
assim calcular a perda de carga ocorrida no
solo. h = hbase + hsolo + htopo (3)
A condutividade obtida foi apenas da pedra
porosa da peça intercambiável, uma vez que a Em que v é velocidade do fluxo através do
pedra do topo é de mesmo valor de entrada de conjunto pedra-solo-pedra, vbase é a velocidade
ar. A água que percola é a que está na câmara, de fluxo através da pedra porosa da base, vsolo é
que estava inicialmente com a mesma pressão a velocidade do fluxo através do solo, vtopo é a
em todo o sistema. O fluxo gera um diferencial velocidade do fluxo através da pedra porosa do
de pressão, que é monitorado constantemente na topo. E h é a perda de carga total de todas as
tela do computador. Quando a diferença de camadas, e hbase, hsolo, htopo são as perdas de
pressão se torna constante, dá-se por finalizado carga totais de cada camada.
o ensaio. A condutividade hidráulica da pedra Utilizando a lei de Darcy na equação (2),
porosa é obtida usando a lei de Darcy. pode-se escrever:

3.3.4 Montagem do Ensaio h htopo hsolo h


k k topo k solo k base base (4)
H H topo H solo H base
Após a moldagem do corpo de prova, a amostra
é colocada sobre a pedra porosa da base e o anel
de moldagem que tem o mesmo diâmetro da
pedra porosa especial é retirado com cuidado. É Usando os resultados desta ultima equação
necessário um cuidado especial nesta etapa, na equaçao (4), pode-se escrever:
para que não ocorra a ruptura do solo,
amolgamento e perda de material. Foram usados H solo (5)
k solo
o’rings no top cap e na peça intercambiável H H topo H base
para vedar o conjunto. k k topo k base

3.3.5 Determinação da Condutividade


Hidráulica Saturada Em que Hsolo é a espessura da amostra de
solo, Htopo e Hbase são as alturas das pedras
Para a determinação da condutividade porosas de alta entrada de ar, H é a altura total
hidráulica saturada, primeiramente realiza-se a das três camadas, ktopo e kbase são os coeficientes
saturação da amostra aplicando-se um fluxo de permeabilidade das pedras porosas de alta
ascendente até que a vazão se torne constante. entrada de ar e k é o coeficiente de
Após o processo de saturação, aplica-se o fluxo permeabilidade do conjunto das três camadas,
pela amostra por meio da bomba de fluxo, calculado pela Equação 6.
registrando as diferenças de pressão entre o topo
e a base do conjunto (pedra da base -solo- pedra Qw
k (6)
do topo). i A
O coeficiente de permeabilidade das pedras
porosas de alta entrada de ar tem influência no Onde Qw é vazão imposta pela bomba de
cálculo da condutividade hidráulica do solo, fluxo, i o gradiente gerado e, A, a área da seção
transversal da amostra de solo. O gradiente i é pressão aplicada na fase gasosa foram
calculado por meio da diferença de pressão simultaneamente removidas. A célula é, então,
medida pelo transdutor diferencial. esvaziada, e o corpo de prova removido e
Todo o ensaio foi realizado com temperatura levado, imediatamente, para a estufa a fim de se
controlada a 20ºC, descartando-se, assim, o determinar o seu grau de saturação no final do
efeito da variação da viscosidade da água com a ensaio.
temperatura.

3.3.6 Aplicação de Sucção na Amostra 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS


RESULTADOS
A aplicação de sucção na amostra dá-se pelo
topo, sendo o valor desejado controlado pelo 4.1 Curva de Retenção de Água no Solo
manômetro. A drenagem da água é pela peça
intercambiável, saindo pela bureta. A bureta As amostras compactadas tiveram porosidade
esta conectada com um dos lados do transdutor média de 0,42. A curva é apresentada entre o
diferencial de pressão, sendo registrado com o teor de umidade volumétrico (θw) e a sucção
tempo a elevação do líquido. No momento que matricial (Ua - Uw). Na Figura 7, observa-se o
a diferença de pressão se torna constante, ajuste dos dados experimentais pelos dois
considera-se que a equalização da sucção na metodos à Equação (2) de Van Genuchten.
amostra foi totalmente atingida. A diferença Exibe-se na Tabela 2, os parâmetros obtidos no
entre a pressão de ar na amostra e a pressão ajuste.
confinante deve sempre ser de no mínimo de 14
kPa (Daniel, 1983). 0,45
Van Genuchten
O tempo necessário para atingir esse 0,4 Papel Filtro
Teor de Umidade Volumétrico

equilíbrio depende, principalmente, da altura da 0,35 Placa de Pressão


amostra (distância de drenagem), número de 0,3
faces drenantes, tamanho dos poros do material 0,25
ensaiado, e da trajetória seguida, isto é, 0,2
trajetória de secagem ou umedecimento
0,15
(Delgado, 2000).
0,1

0,05
3.3.7 Determinação da Condutividade
0
Hidráulica Não Saturada 0,00 0,01 0,10 1,00 10,00 100,00 1000,00
Potencial Matricial (m)
Para a determinação da condutividade não
Figura 7. Curva característica do solo em estudo.
saturada, a lei de Darcy também é valida
(Rahardjo et al., 2003). A obtenção da Tabela 2: Valores dos parâmetros de Van Genuchten.
condutividade hidráulica em função da sucção θr θs n m
aplicada, K , é obtida também pelas Equações 0,01 0,42 1,38 0,27 1,85
(2), (3),(4),(5) e (6).
O procedimento de ensaio é semelhante ao 4.2 Condutividade Hidráulica das Pedras
procedimento da condutividade saturada. Após Porosas de Alta Entrada de Ar
o equilíbrio da sucção, aciona-se a bomba de
fluxo, iniciando-se os registros das diferenças Para obtenção da condutividade hidráulica
de pressão. Este processo de aplicação de do solo, primeiramente obteve-se a
pressão, equalização da sucção e determinação condutividade hidráulica da pedra porosa de alta
da condutividade não saturada poderá ser entrada de pressão de ar. Foram injetadas três
repetido várias vezes, variando apenas a sucção vazões diferentes pela bomba de fluxo. A
a ser aplicada. condutividade hidráulica da pedra porosa foi a
Ao final do ensaio, a tensão confinante e a média das três determinações (Tabela 3).
saturação efetiva pode ser calculado pela
Tabela 3. Condutividade Hidráulica da pedra porosa de Equação 7.
alta entrada de ar.
Vazões (cm3/seg) 1,6E-05 3,0E-05 6,2E-05
K Saturada (cm/seg) 1,9E-08 1,9E-08 2,0E-08 r (7)
Média de K (cm/seg) 1,97E-08 s r

K: condutividade hidráulica.
Em que r, s são os teores de umidade
4.3 Condutividade Hidráulica do Solo Saturado volumétrico residual, saturado e o teor de
e Não Saturado umidade volumétrico calculado pela equação 2.
1,0E-06
Exibe-se na Tabela 4 os valores obtidos antes e
após a realização do ensaio.

Condutividade Hidráulica (cm/s)


Tabela 4. Dados iniciais e finais da amostra.
wi n Mi H Mf Wf
(%) (g) (cm) (cm) (g) (%)
13,9 0,42 327,0 2,00 10,49 315,89 10,1 1,0E-07
wi e wf: Teores de umidade inicial e final; n: porosidade;
Mi: massa inicial; Mf: massa final; H: altura da amostra;
diâmetro da amostra.

O tempo para se chegar ao regime


permanente de fluxo é dependente da altura da 1,0E-08
amostra, tamanho das partículas, forma dos 0,6 0,7 0,8 0,9 1
Saturação Efetiva
poros, tortuosidade dos canais e índices de
vazios. Figura 8. Condutividade hidráulica obtida em laboratório.
Foi determinada a condutividade hidráulica
saturada e não saturada para valores de sucção O tempo necessário para obter o equilíbrio
de 50 kPa e 100 kPa. O tempo para obter o capilar para sucção de 100 kPa foi menor do
equilíbrio capilar durante a drenagem, tempo que para 50 kPa. Delgado (2000) reportou
para chegar ao regime permanente durante o comportamento semelhante para uma areia
fluxo e os coeficientes de permeabilidade, são siltosa.
expostos na Tabela 6. Os tempos para se atingir o regime
permanente nos ensaios diminuíram com o
Tabela 6. Resultados dos ensaios da condutividade incremento da sucção. Olsen et al. (1994)
hidráulica. utilizaram a técnica da vazão constante em
Sucção matricial Solo amostras previamente saturadas, e reportaram
50 100
(kPa) Saturado
que o tempo necessário para se obter o regime
Tempo para obter
o equilíbrio capilar 0 2600 1500 permanente aumenta com o incremento da
(min) sucção, ao contrário do que foi observado nesse
Vazões (cm3/seg) 2,32x10-4 3,10x10-5 3,10x10-5 trabalho. Entretanto, Bicalho (1999), que
Tempo para obter realizou ensaios com um solo siltoso, obteve
o fluxo permanente 140 400 250 valores de tempo menores para atingir o regime
(min)
permanente à medida que os valores da sucção
Condutividade
hidráulica saturada 1,69x10-7 3,15 x10-8 2,56 x10-8 aumentavam.
(cm/seg) Alguns cuidados experimentais devem ser
considerados, como a escolha da pedra porosa
de alta entrada de pressão de ar. Pedras com
Na Figura 8, observa-se a condutividade condutividades hidráulicas muito baixas para
hidráulica com a saturação efetiva, . A solos com condutividades maiores consomem
boa parte da perda de carga e com isso
diminuem a precisão no cálculo da Delgado, C.W.C. (2000) Desenvolvimento de um
condutividade hidráulica do solo, conforme Equipamento para o Estudo da Permeabilidade
Efetiva em Meios Multifásicos, Tese de Doutorado,
reportado por Lu e Likos (2004). Departamento de Engenharia Civil, PUC-RIO, Rio de
janeiro, 373p.
Fleureau, J.M. and Taibi, S. (1995) Water-Air
5 CONCLUSÕES Permeabilities of Unsaturated Soils, Unsaturated
Soils. Proc. 1st Int. Conf. on Unsaturated Soils
(UNSAT 95), Paris, France (ed. Alonzo, E.E. and
Um novo equipamento para determinação da Delage, P.), Rotterdam: Balkema, Vol. 2, p. 479-484.
condutividade hidráulica fazendo uso da Hilf, J.W. (1956) An Investigation of Pore-water
metodologia do regime permanente de vazão Pressures in Compacted Cohesive Soils, Technical
constante foi desenvolvido. O permeâmetro é Memorandum, Bureau of Reclamation U. S.
capaz de determinar condutividade hidráulica Department of Interior, 654, Denver, Colorado.
Guimaraes, L.M., (2008) Desenvolvimento de um
com valores maiores que 10-10 cm/seg. O Equipamento para Determinação da Condutividade
sistema para monitoramento do equilíbrio Hidráulica Saturada e Não Saturada em Solos,
capilar usando o transdutor diferencial e a Dissertação de Mestrado, Departamento de
bomba de fluxo desenvolvida especialmente Engenharia Civil, UFV, 64p.
Huang, S.Y., Fredlund, D.G. and Barbour, S.L. (1995)
para este trabalho funcionou muito bem,
Measurements of the Coefficient of Permeability of an
podendo injetar vazões mínimas com precisão, Unsaturated Soil, Unsaturated Soils, Proc. 1st Int.
não antes reportadas. Conf. on Unsaturated Soils (UNSAT 95), Paris,
Apesar dos ensaios terem sido realizados em France (ed. Alonzo, E.E. and Delage, P.), Rotterdam:
trajetórias de secagem, também poderão ser Balkema, Vol. 2, p. 505-511.
Lu, N. & Likus, W.J. (2004) Unsaturated Soil
realizados ensaios em trajetórias de
Mechancics, John Wiley @ Sons, Inc., 556 p.
umedecimento, podendo, consequentemente, Marinho, F.A.M., (2005) Os Solos Não Saturados:
avaliar o efeito da histerese no solo. Aspectos Teóricos, Experimentais e Aplicados, Texto
Os coeficientes de permeabilidade para o apresentado a USP/SP para o concurso de livre
solo saturado e para sucções matriciais de 50 docência. USP, São Paulo/SP, 200p.
Olsen, H.W., Willden, A.T., Kiusalaas, N.J., Nelson,
kPa e 100 kPa, foram de 1,69x10-7 cm/seg, 3,15
K.R. and Poester, E.P. (1994) Volume Controlled
x10-8 cm/seg e 2,56 x10-8 cm/seg. Hydrologic Property Measurements in Triaxial
Systems, In Hydraulic Conductivity and Waste
Contaminant Transport in Soils, ASTM STP 1142,
AGRADECIMENTOS David E, Daniel and Stephan J. Tratwein, Eds.,
American Society for Testing and Materials,
Philadelphia, 23p.
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Rahardjo, H., Leong, E.C., Samingan, A.S.S. (2003) A
Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Flexible wall Permeameter for Measurements of
CNPq pelo financiamento do projeto, a Water and Air Coefficients of Permeability of
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Residual Soils, Canadian Geotechnical Journal. 40:
p. 559-574.
Nível Superior, CAPES, pela concessão da Van Genuchten, M.T. (1980) A Closed-Form Equation
bolsa de mestrado, O Departamento de for Predicting the Hydraulic Conductivity of
Engenharia Civil-UFV, e a Universidade Unsaturated Soils, Soil Sci. Soc.Am.J., vol. 44, n° 5, p.
Federal de Viçosa. 892 – 898.

REFERÊNCIAS

Bicalho, K.V. (1999) Modeling Water Flow in an


Unsaturated Compacted Soil, Ph.D. Dissertation,
University of Colorado, Department of Civil,
Environmental and Architectural Engineering, 235p.
Daniel, D.E. (1983) Permeability Test for Unsaturated
Soil, Geotechnical Testing Journal,(ASTM), Vol. 6,
N° 2 p. 81-86.

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