Você está na página 1de 8

Alluvial Anker como Alternativa para Fundações em Argila Mole

Max Barbosa
Solotrat Centro-Oeste Ltda., max@solotrat.com.br

George J. T. de Souza
Solotrat Engenharia Geotécnica Ltda., georgeteles@solotrat.com.br

Alberto Casati Zirlis


Solotrat Engenharia Geotécnica Ltda., zirlis@solotrat.com.br

Cairbar Azzi Pitta


Solotrat Engenharia Geotécnica Ltda., azzi@solotrat.com.br

Cassio Miari
Torc Terraplenagem, Obras Rodoviárias e Construções Ltda., cm@trier.eng.br

Alexandre Lemos
Torc Terraplenagem, Obras Rodoviárias e Construções Ltda., alexandrelemos@torc.com.br

Josias Sampaio
DER DF, josiascavalcante@bol.com.br

Samuel Dias
DER DF, samueld.jr@brturbo.com.br

RESUMO

O uso de estacas Alluvial Anker para fundações em solos moles se mostra uma solução interessante
e com vantagens técnicas, econômicas e ambientais em relação às estacas pré-moldadas. Neste
artigo estão descritos: o conceito e a sequência executiva destas estacas; dois tipos de aplicação em
uma mesma obra; e a prova de carga das estacas realizada nas estacas.

PALAVRAS-CHAVE: estaqueamento de solos moles; reforço de argilas moles; alluvial anker;


fundações em argilas moles.

1 CONCEITO

Como o uso da Alluvial Anker ainda não


está disseminado, segue um rápido conceito
desta técnica. Trata-se de uma estaca de
pequeno diâmetro, moldada no local. Um
tubo de aço sem costura (2½” de diâmetro),
de comprimento 50 cm superior à
profundidade do furo, com ponta cortante
(Figura 1), é instalado no solo a altíssima
velocidade através de rotação. Os 50 cm
excedentes servem de suporte para os capitéis
e para auxiliar as operações de injeção. Figura 1. Detalhe da ponta cortante da Alluvial Anker.
2b. Furo 2c. Injeção da 2d. Capitel 2e. Camada de
terminado calda colocado sobre brita, geogrelha
a estaca e aterro de
transição

2a. Perfuração
2. Estaca presa à rotativa a
perfuratriz altíssima
velocidade

Figuras 2, 2a, 2b, 2c, 2d e 2e. Sequência executiva da instalação da estaca alluvial anker, colocação do capitel, aterro de
brita, geogrelha e aterro de transição.
Durante a instalação é feita a injeção do da obra (Figuras 3 e 4) foi publicado em
fluido cimentante, que funciona como novembro de 2005 (G.RE.JC – 23A/05) sob o
elemento de refrigeração da ferramenta de título Apresentação da Análise de Alterna-
corte e de retirada do resíduo de perfuração. tivas e Definição do Projeto de Fundações do
Para garantir a formação de um bulbo de Aterro de Acesso ao Viaduto Situado na
maior diâmetro, nos últimos três metros a Interseção da DF-079 com a DF-085.
injeção da calda de cimento deve ser mais A análise considerou quatro soluções
demorada. A quantidade estimada de cimento possíveis: por pré-carregamento; por troca de
absorvido é de dois sacos por metro linear de solo de fundação; por estaqueamento; e pela
estaca. Para um melhor entendimento do utilização de drenos verticais e geossintéticos.
processo, veja as Figuras 2 a 2e, acima. Durante a análise, foi verificada a
Opcionalmente, pode se usar água como necessidade de se executar também uma
fluido refrigerante e de limpeza, e depois se proteção para a adutora do sistema de abas-
fazer a injeção da calda de cimento. tecimento de água, que corre paralelamente à
Depois de executadas as estacas, um capitel linha do viaduto projetado, e que poderia
de concreto armado pré-moldado ou de chapa sofrer danos caso os deslocamentos hori-
de aço é colocado sobre cada estaca. Entre os
capitéis, e na mesma altura destes, é colocado
um aterro de brita. Sobre a brita é colocada
uma geogrelha, seguida de um aterro de
transição, que funciona como dissipador de
tensões.

2 ESTUDOS PRELIMINARES

A obra sobre a qual este artigo discorre, de


propriedade do DER/DF (Departamento de
Estradas de Rodagem do Distrito Federal), foi
alvo de análises preliminares, que tinham
como objetivo definir a melhor técnica a ser
utilizada, aliada ao menor preço de execução.
Estas análises foram realizadas pelo
Laboratório de Geotecnia do Departamento de
Engenharia Civil e Ambiental da Univer-
sidade de Brasília e pela Fundação de Em-
preendimentos Científicos e Tecnológicos
(Finatec).
O relatório final desta análise, que
constatou a presença de solos moles no local Figura 3. Locação dos furos de sondagem.
zontais nas obras do acesso fossem grandes.
A solução por troca de solo foi descartada
devido à profundidade da escavação neces-
sária, que demandaria taludes mais abatidos e,
consequentemente, maiores áreas laterais para
a escavação. Convém observar também o
impacto ambiental provocado por essa solu-
ção (não citado na análise), mas que já fora
apontado no artigo Sobre a Prática
Brasileira de Projeto Geotécnico de Aterros
Rodoviários em Terrenos com Solos Muito
Moles, de Sandro S. Sandroni: “Esse partido
de projeto praticamente deixou de ser
utilizado em larga escala por acarretar
problemas ambientais. O transporte da lama
em vias públicas e a dispo-sição final do
material escavado, costumam esbarrar em
fortes restrições”.
A solução de pré-carregamento sofreu as
seguintes observações: “Para o tipo de solo
existente no local da obra, colapsível e não
saturado, o pré-carregamento induzirá um
colapso no maciço de fundação. Recalques
futuros poderiam ainda ocorrer em conse-
quência do aumento de saturação do solo pela Figura 4. Resultado da sondagem do Furo 12, próximo
mudança do nível do lençol freático ou por a adutora.
um aumento da umidade devido a agentes estacas pré-moldadas, com diâmetro de 30
externos, como chuvas ou vazamentos de cm. Porém, o projeto do DER-DF apontou
tubulações. Além disso, o trabalho de retirar o para o uso da Alluvial Anker no lugar das pré-
pré-carregamento, acima da altura de aterro moldadas, por não vibrar e ser mais barata.
projetada, demanda custo e tempo”.
Assim, a análise concluiu pelos geodrenos 3 CARACTERÍSTICAS GEOTÉCNICAS
verticais, em algumas áreas da obra, e pelo
estaqueamento em outras áreas. Este artigo As sondagens a percussão revelaram, nas
foca as duas áreas onde a opção foi pelo proximidades do local do aterro, a presença
estaqueamento. de solo comum na região do Distrito Federal:
Até pela pouca divulgação das estacas com espessa camada laterítica, baixa capaci-
alluvial anker, a indicação inicial foi para as dade de suporte e comportamento colapsível.

Figura 5. Visão geral do encontro entre viadutos, antes de ser iniciado o estaqueamento com Alluvial Anker.
4 AS OBRAS

O viaduto interseção da DF-085 com a DF-


079 situa-se próximo da região de Vicente
Pires e dará acesso à cidade de Águas Claras.
Paralelamente ao viaduto, existem vias de
acesso para quem deseja passar por baixo do
mesmo, em função do destino desejado
(Figura 5, na página anterior).
No local onde será construído o viaduto
existe ainda, paralelo ao mesmo, a presença
de uma adutora do sistema de abastecimento
de águas, que alimenta algumas regiões do Figura 6. Instalação das estacas alluvial anker para
Distrito Federal. Os possíveis deslocamentos proteção da adutora.
horizontais gerados pela obra não poderiam
danificar a adutora.

4.1 Proteção da adutora

A solução encontrada para proteção de


parte da adutora, obedecendo a estimativa de
melhor técnica e preço, foi a da construção de
um cavalete, constituído por estacas Alluvial
Anker. Este cavalete é de concreto armado e
foi construído conforme o projeto (Figura 6).
As estacas Alluvial Anker foram perfeita-
mente engastadas em solo competente, atra-
vessando a camada de argila mole, e sem
deslocamentos relativos entre elas e o solo. Figura 7. Detalhe das estacas sobre as quais seria feita
Para melhorar a amarração do topo das a viga de concreto.
estacas e dar maior proteção à adutora, foi
executada uma viga de coroamento. As
estacas foram posicionadas com 10o de
inclinação com a vertical (Figuras 7 e 8).
Para reduzir os deslocamentos verticais,
executou-se também uma vala de proteção
com dois metros de profundidade, entre o
aterro e a tubulação da adutora.
Durante todo o período da obra foi feito
monitoramento topográfico dos deslocamen-
tos do tubo.
Cabe salientar ainda a presença de uma
linha de alta tensão sobre a adutora, que
limitou a velocidade da execução das obras,
além dos riscos decorrentes para os
trabalhadores.

Figura 8. Viga de concreto sobre as estacas.


Figura 9. Desenho esquemático da posição das estacas no encontro dos viadutos.
4.2 Fundações do aterro de acesso ao viaduto transferências de tensões para o solo da
fundação.
O estaqueamento com Alluvial Anker Para evitar trincas, foram executadas ainda,
também foi o indicado para as fundações do além da região estaqueada, três linhas de
aterro de acesso ao viaduto, com profun- estacas, que protegem as estacas abaixo do
didade média de 12 m e espaçamento entre aterro de esforços horizontais (Figura 9).
estacas de 2 m (Figuras 9 e 10).
Para melhorar a transferência de carga para
as estacas, foram colocados capitéis de
concreto armado com as seguintes dimensões:
0,60 x 0,60 x 0,40 m.
Entre os capitéis foi lançada uma camada
de solo granular com espessura de 0,50 m,
compactado a uma energia de compactação
Proctor intermediário (Figuras 11 e 12). Esta
camada tem por objetivo melhorar o efeito de
arqueamento do solo, minimizando as

Figura 11. Lançamento da brita.

Figura 10. Parte das estacas instaladas no local do


futuro acesso ao viaduto. Figura 12. Estacas com capitéis e camada de brita.
5 PROVAS DE CARGA

Uma das provas de carga a compressão foi


feita em uma estaca Aluvial Anker embaixo
do viaduto Torc, lado Taguatinga, na rodovia
DF 085 (EPTG), no município de Brasília
(DF), em março de 2008.
O ensaio foi executado conforme prescri-
ções das Normas Brasileiras NBR-6122 e
NBR-12131, da ABNT (Associação Brasileira
de Normas Técnicas).
A estaca AAE5 tem por carga de trabalho
30 tf a compressão, diâmetro mínimo de
perfuração de 130 mm, profundidade de 12 m,
sendo 1,5 m em solo comum com SPT médio
de oito golpes, 9 m em solo mole com SPT
médio de três golpes e 1,5 m em solo comum
com SPT médio de doze golpes, conforme
mostra reprodução de boletim executivo desta
estaca (Figura 13).
A reação da carga foi obtida com a
utilização de duas estacas laterais, nos AAE4 e
AAE6, com as mesmas características da es-
taca de ensaio, espaçadas a 2 m (Figura 14). Figura 13. Boletim de execução da estaca AAE5.
A estrutura de reação consistiu em uma por intermédio de duas barras de aço Rocsolo
viga metálica conectada às estacas de reação com diâmetro de 1 ¾”.

Figura 14. Esquema dos ensaios das estacas-teste e de reação.


No intuito de se evitar movimentações
laterais da estaca durante a realização do
ensaio, bem como proteger a cabeça da
estaca, foi colocado um capitel de concreto
armado sobre a estaca para apoio do macaco.
Um macaco hidráulico Rudloff no 023 foi
instalado entre a viga de reação e a estaca
AAE5, envolta pelo capitel, de maneira a
comprimi-la quando acionado o sistema.
O carregamento do ensaio foi feito em sete
estágios de 10 tf e um estágio de 20 tf,
totalizando 90 tf, superior a duas vezes a
carga de trabalho, e o descarregamento foi
feito em quatro estágios de 22,5 tf.
O tempo de estabilização das leituras em
cada estágio obedeceu aos critérios estabe-
lecidos pela Norma Brasileira NBR-12131 da
ABNT (Figura 17).
A Norma Brasileira NBR-6122 prevê a
carga de trabalho com base na carga de
ruptura dividida pelo fator de segurança igual
a dois. O ensaio foi conduzido à ruptura,
conforme sugestão da NBR-6122, e atingiu a
carga de 90 ton, estabilizando-se com 80 ton.
A carga de ensaio se limitou a 90 tf,
conforme gráfico mostrado na Figura 18, in-
dica como fator de segurança o valor igual a: Figura 17. Relatório da prova de carga da estaca AAE5.
90 tf / 30 tf = 3,0 > 2,0. Nas Figuras 19 e 20, perfeitamente ao prescrito nas Normas
estão as deformações nas estacas de reação. Brasileiras NBR-6121 e NBR-12131.
O ensaio demonstra que a capacidade de A análise dos resultados aliada às
carga da estaca Aluvial Anker AAE5 atende considerações acima nos conduz a afirmar

Figura 18. Gráfico da deformação da estaca-teste AAE5.


Figuras 19 e 20. Gráficos da deformação das estacas de reação AAE4 e AAE6
que as estacas Aluvial Anker, representadas mais rápida, e sua instalação é feita sem
neste ensaio pela estaca AAE5, estão perfei- vibração no solo.
tamente aptas para serem utilizadas com a
carga de trabalho prevista. 7 BIBLIOGRAFIA
As estacas AAE4, AAE5 e AAE6 foram
executadas embaixo de um pé direito limitado Sandroni, S.S. (2006) Sobre a Prática
em 4 m (viaduto), sendo perfuradas com três Brasileira de Projeto Geotécnico de Aterros
tubos SCH 40 de 3” com comprimentos de 4 Rodoviários em Terrenos com Solos Muito
m, com dois pontos de emendas com solda Moles, no 13o Congresso Brasileiro de
(Figuras 21 e 22) . Mecânica dos Solos, Curitiba (PR).
As estacas AAE4, AAE5 e AAE6 foram DNER (1998) Projeto de Aterros sobre Solos
executadas com circulação de água até o Moles para Obras Viárias, Rio de Janeiro
término, sendo imediatamente injetadas pelo (RJ).
próprio tubo a partir do fundo com calda de Carvalho, J.C. de; Palmeira, E.M.; Araújo,
cimento com fator a/c = 0,5. A injeção de G.L.S. (2005) Apresentação da Análise de
calda permaneceu até a saída do refluxo na Alternativas e Definição do Projeto de
cota da boca do furo. Fundações do Aterro de Acesso ao Viaduto
Situado na Interseção da DF-079 com a
6 CONCLUSÃO DF-085, Brasília (DF).

As estacas alluvial anker mostram-se uma


opção rápida e segura para execução de
fundações em solos argilosos moles. Quando
confrontadas com as estacas pré-moldadas, de
uso mais comum em solos com estas
condições, elas são mais baratas, a execução é

Figura 22. Instrumentação vertical e horizontal da


Figura 21. Vista geral da montagem da prova de carga. estaca-teste.

Você também pode gostar