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Resumo: O texto está dividido em três partes. A primeira parte versa sobre os aterros construídos
sobre solos extremamente moles. A segunda parte enfoca plataformas industriais com solos
expansivos. A terceira parte tem como tema o tratamento dos solos com cimento e com cal.
Nos solos extremamente moles são enfocados os drenos verticais, as colunas granulares
encamisadas e o tratamento massivo com cimento seco.
Nos solos expansivos são enfocadas a identificação e as posturas de projeto.
Na parte de tratamento enfoca-se a influência de diversos fatores sobre o comportamento da massa
tratada e a dosagem racional de cimento e de cal.
Figura 3 – poço de bombeamento do tapete drenante. Vista geral (esquerda) e detalhe (direita)
O aterro foi construído em duas etapas com de pesquisa, Bedeschi, 2004). A figura 5
espera de 5 meses entre elas, chegando, no apresenta a evolução dos recalques, que
ponto em foco, a uma espessura de 4,25 m, chegaram a cerca de 2 m no prazo de 8 meses,
como mostrado na figura 5. Foi instalado um quando teve início a remoção da sobrecarga,
abundante sistema de instrumentação conforme previsto em projeto.
geotécnica com vistas ao acompanhamento da
obra (previsto em projeto e, também, para fins
Figura 5 – Alteamento do aterro e recalques na “área c”
A figura 6 mostra a evolução das cotas nível de água local (o que vem a funcionar
piezométricas no medidor de nível de água como se fosse uma sobrecarga adicional).
instalado no tapete drenante, bem como em Cabe observar que, quando o nível
dois piezômetros (um de tubo aberto e outro de piezométrico no tapete drenante fica abaixo do
corda vibrante) instalados a meia altura da nível regional, o sistema de bombeamento
camada muito mole, em ponto eqüidistante dos começa a bombear também a água da camada
drenos pré-fabricados. Os piezômetros indicam subjacente ao solo muito mole. Isso acontece
que ocorreu a dissipação dos excessos de porque os drenos verticais pré-fabricados
poropressão na camada muito mole. A conectam as camadas inferiores ao tapete
evolução das cotas piezométricas no tapete drenante. A conseqüência é um aumento da
drenante mostra que, a partir do terceiro mês o vazão que deve ser bombeada para fora do
nível piezométrico ficou abaixo da elevação do tapete drenante. No caso em foco, o aumento
nível de água local mostrando que o sistema de de vazão não foi expressivo porque a camada
drenos prefabricados passou a funcionar como subjacente, constituída por areia com finos, não
se estivesse sendo aplicada uma sucção. A tinha permeabilidade elevada. Em situação
rápida dissipação dos excessos de poropressão, diversa, com areia muito permeável sob o solo
na segunda etapa de carregamento (que se muito mole, deve-se pensar na possibilidade de
observa, entre os dias 150 e 170, na figura 6), interromper os drenos pré-fabricados um pouco
pode ser creditada a este aumento de eficiência. acima da base da camada muito mole.
Na fase final, a altura piezométrica no tapete
drenante ficou algo como 0,60 m abaixo do
Figura 6 – cotas piezométricas na obra da “Área c”
1.3.2 – Espaçamento entre drenos verticais pré triangular eqüilátera e espaçamento de 1,1 m,
–fabricados em uma área restrita, com cerca de 20 m x 20
m, de uma obra na qual os demais DVPs
Há já algum tempo são relatadas, na literatura possuíam espaçamento de 1,5 m. Os DVPs
técnica, experiências de campo nas quais não se foram cravados hidraulicamente, com mandril
observou o aumento esperável da velocidade de retangular com 75 cm2 de área externa. A
recalque, ao se utilizar espaçamentos menores evolução dos recalques, mostrada na figura 9,
entre drenos verticais pré-fabricados. Saye e foi praticamente igual nos dois casos,
outros (2001) verificaram (em aterros da estrada confirmando as experiências acima relatadas.
I-15, em Salt Lake City, EUA) que o tempo
para 95% de adensamento (determinado através
de recalques medidos) era igual para drenos
verticais prefabricados, espaçados de 1,0 m e de
1,5 m, como mostrado na figura 7. Rankine e
outros (2005) verificaram que a evolução dos
recalques em aterros sobre drenos espaçados de
1,0 m e de 2,0 m foi praticamente igual, como
mostra a figura 8.
Com vistas a verificar esta questão foi realizado
um experimento em uma obra de aterro sobre Figura 7 – velocidade dos recalques com diferentes
solo extremamente mole nas proximidades do espaçamentos entre drenos verticais (de Saye e outros,
Rio-Centro, Rio de Janeiro, RJ. A espessura 2001)
média do aterro foi de 2,75 m e a espessura de
solo extremamente mole foi de 10 m em média.
Foram instalados DVPs com distribuição
Figura 8 – Evolução dos recalques com diferentes espaçamentos entre drenos verticais (Rankine et al., 2005)
Figura 9 – Evolução dos recalques com diferentes espaçamentos (1,1 m e 1,5 m) entre drenos verticais – Rio Centro,
Rio de Janeiro, RJ
Acredita-se que esse comportamento possa ser zona fortemente amolgada nas imediatas
atribuído ao amolgamento causado pela vizinhanças do mandril. Ocorre uma intensa
cravação do mandril de aço utilizado para orientação do solo argiloso que tende a criar um
instalar os drenos. Pode-se considerar (Onoue e anel de permeabilidade muito mais baixa do que
outros, 1991) que o amolgamento, no caso, no restante da massa de solo.
apresenta duas facetas: “amolgamento A figura 11 apresenta esquematicamente
volumétrico” e “amolgamento periférico”, a área de abrangência dos dois efeitos de
como se passa a explicar. amolgamento. Para o caso de um mandril com
A zona de amolgamento volumétrico 15 cm x 5 cm (tal como o utilizado
tem um diâmetro da ordem de 6 a 8 vezes o rotineiramente nas obras Brasileiras, inclusive
diâmetro equivalente do mandril como sugerem as da Barra e do Rio-Centro, mencionadas
os estudos teóricos de Whittle e outros (1991), acima), a zona de amolgamento volumétrico
apresentados de maneira conveniente na figura teria um diâmetro da ordem de 60 a 80 cm. A
10. Nessa figura são mostradas as curvas de zona de amolgamento periférico tem volume
mesmo acréscimo de poro-pressão causado pela bem menor, limitando-se a alguns centímetros a
cravação de três mandris com a mesma área e contar da face do mandril.
diferentes formas (o acréscimo de poro-pressão
se deve em parte ao aumento da deformação
cisalhante a qual se pode associar com o
amolgamento). É interessante notar que as
curvas de mesmo acréscimo de poro-pressão
para as três diferentes formas de mandril são
praticamente iguais, sugerindo que o “volume
amolgado” depende principalmente da área do
mandril, importando menos a sua forma.
Figura 13 – comparação dos recalques em trechos vizinhos. Placa 64 em trecho com drenos verticais convencionais.
Placa 05d em trecho com drenos estrela. Arranjo triangular e espaçamento de 1,4 m nos dois trechos
No conjunto, os dados acima descritos sobre volumétrico como periférico) que também estão
espaçamento e tamanho dos drenos, quando a merecer estudos.
comparados com resultados teóricos, indicam
que nem o espaçamento entre drenos nem a área 1.4 - Colunas granulares encamisadas
do mandril que se utiliza para cravá-los influem
tanto na velocidade de recalque quanto seria de As colunas granulares encamisadas com
se esperar. Esse quadro pode ser interpretado, geotextil, CGE (ou GEC do Inglês “geotextile
preliminarmente, como evidência de que é o encased columns”), são constituídas por areia
amolgamento periférico que controla o ou brita envoltas por um geotextil tubular sem
funcionamento do sistema de drenos. É possível costura e com alta rigidez (J, tipicamente entre
que a permeabilidade da zona espelhada na 800 e 4000 kN/m). Esse tipo de coluna é
estreita faixa de amolgamento periférico seja conhecido no mercado Brasileiro como
tão mais baixa do que no restante do solo mole, “ringtrac”, nome utilizado pela fabricante do
que acaba por controlar a vazão que pode geotextil (Huesker), que dispõe de camisas com
chegar aos drenos verticais. Outra possibilidade diâmetros entre 0,60 m e 1,00 m.
é que a compressão secundária, cuja velocidade As CGEs foram concebidas por Van
não depende (ou depende pouco) da distância Impe nos anos 80 e começaram a ser utilizadas
de drenagem seja a parcela preponderante de na Alemanha, em meados dos anos 90. A
recalque. Esses temas estão a merecer estudos primeira obra Brasileira foi um trecho de
mais aprofundados. rodovia em São José dos Campos, SP (Andrade
A capacidade de vazão dos DVPs, que e Silva, 2006; De Mello e Hemsi, 2007; De
poderia ser também um limitador da velocidade Mello e outros, 2008). As CGEs visam,
de adensamento nos solos extremamente moles principalmente, reduzir o recalque de aterros
(as vazões, como visto, são muito elevadas), construídos sobre solos moles. Elas contribuem,
pode ser descartada como fator de influência também, para melhorar a estabilidade do aterro
posto que ensaios de capacidade de descarga, quanto a deslizamento pelo solo mole. É difícil
realizados nos principais DVP em uso no Brasil, obter estimativas precisas do recalque do aterro
mostram que a quantidade de água que pode sobre solo mole tratado com CGEs. O método
transitar pelos drenos é muito maior do que a de cálculo mais utilizado, devido a Raithel (ver,
vazão máxima esperável em cada dreno. De Raithel, 1999; Raithel e outros, 2005), se baseia
fato, imaginando que cada dreno se encarrega em hipóteses restritivas e requer grande número
de uma área de 2 m2, a vazão, nos termos da de parâmetros.
figura 1 seria 1 litro/hora, ao passo que a A utilização do método de Raithel em
capacidade de descarga medida nos drenos projeto é discutida em algum detalhe. Com
disponíveis no mercado fica na faixa de 50 a vistas a obter uma melhor compreensão do peso
100 litro/hora. de cada um dos principais parâmetros são
Outro aspecto relevante para os DVP é o apresentados gráficos que correlacionam o fator
efeito da retirada do mandril. Quando se saca o adimensional M = E oed.rc/J.(onde Eoed é o
mandril, sobra um espaço relativamente grande módulo de compressão unidimensional do solo
(volume entre a face externa do mandril e o mole em termos de tensões efetivas; r c é o raio
dreno) que o solo extremamente mole volta a da coluna; J é o módulo de rigidez do geotextil
ocupar. No caso usual da prática Brasileira a e é relação entre as áreas com colunas e
área do mandril é 75 cm2 (15 x 5 cm) e a área total) com a redução de recalque e a
dos drenos é 5 cm2 (0,5 x 10 cm), de forma que concentração de carga nas colunas.
93% do volume deslocado pela cravação volta a Outro aspecto difícil de estimar é o
ser ocupado pelo solo mole. Esta “expansão” tempo que os recalques levarão para ocorrer.
deve afetar o solo nas imediações do dreno, Este assunto é brevemente enfocado no presente
com efeitos sobre a zona de amolgamento (tanto capítulo.
No final do capítulo, são apresentados e camisas com diâmetros de 0,60, 0,70, 0,80 e 1,0
comentados casos Brasileiros e internacionais m. Os diâmetros já utilizados no Brasil foram
de aplicação de CGEs nos quais foram medidos de 0,70 m e 0,80 m. A profundidade das colunas
os recalques. é uma decisão de projeto. Em geral, elas se
apóiam em camada competente subjacente ao
A principal conclusão é que, em presença das solo muito mole.
incertezas de projeto, é indispensável Costuma-se colocar uma ou mais
acompanhar as obras nas quais se utilizam camadas de reforço (em geral, geogrelhas) no
GECs com instrumentação adequada. aterro acima do topo das CGEs, visando
uniformizar a distribuição de carga e melhorar a
estabilidade na periferia do aterro.
1.4.1 – Execução e funcionamento das colunas Além de uma maior capacidade em relação
às colunas granulares não encamisadas, as
As CGEs são executadas inserindo, no solo CGEs apresentam algumas interessantes
muito mole, um tubo de aço com a ponta vantagens, quais sejam:
fechada, dentro do qual se coloca o geotextil
sem costura e o material granular. Findo o A presença da camisa de geotextil
preenchimento, a ponta é aberta e o tubo de aço permite que as colunas CGE sejam
é sacado vibratoriamente, o que tende a implantadas em locais com solos em
densificar o material granular. As fotos condição quase fluida.
mostradas na figura 14 mostram aspectos do A camisa minimiza estrangulamentos e
processo de execução. No caso de solos muito seccionamentos das colunas já instaladas
moles, com resistência não drenada menor do que poderiam ser causados pelos
que 10 kPa a 12 kPa, é possível fazer inserção estufamentos e deslocamentos laterais
vibratória do tubo de aço com ponta fechada, durante a implantação das colunas
deslocando o solo. Em solos menos moles, onde adjacentes.
a inserção vibratória não é viável, é necessário A camisa funciona como separador e
realizar prefuro antes da inserção do tubo, como filtro entre o solo mole e o solo
restando o solo extraído que deve receber granular.
destinação final adequada. A camisa praticamente afasta o risco de
Os arranjos mais comuns em planta são ruptura por alargamento na parte
as distribuições segundo triângulos eqüiláteros e superior da coluna, que é a maneira mais
segundo quadrados. As colunas costumam comum de ruptura das colunas
ocupar entre 10% e 20% da área tratada granulares não encamisadas.
(excepcionalmente, 5% a 25%). Existem
FIGURA 14 – Fotos dos procedimentos de execução de CGEs: (a) tubo de cravação com alargamento na ponta inferior;
(b) detalhe do geotextil tubular sem costura; (c) introduzindo o geotextil no tubo; (d) enchendo com areia
A principal desvantagem das CGEs em relação O recalque da coluna, por outro lado, resulta na
às colunas granulares não encamisadas é o tendência de redistribuir o arqueamento, de
preço. O prazo de execução das CGEs é maior modo que a carga vertical no solo tende a
devido à menor produtividade (metros de aumentar. Perante o aumento de carga (vertical
coluna implantados por turno de trabalho), pelo e horizontal), o solo mole adensa (sendo o
menos em comparação com as colunas não adensamento acelerado pelo efeito de dreno
encamisadas executadas com vibroflotadores. vertical da coluna) e o arqueamento se
redistribui, carregando de novo a coluna.
Adicionalmente, o arqueamento é influenciado
1.4.2 – Projeto de colunas granulares pela geogrelha que, em geral, se coloca na base
encamisadas do aterro. Essa sequência de eventos acontece
como processo contínuo, ao cabo do qual as
O funcionamento de um terreno constituído por deformações tendem a cessar e o
solo mole tratado com colunas granulares e compartilhamento de cargas entre a coluna e o
carregado por aterro é uma complexa sucessão solo mole tende a se estabilizar.
de interações entre o aterro, a coluna e o solo Por causa dessa complexa interação e do
mole. A coluna é mais rígida do que o solo, de fato das colunas apresentarem recalques, um
maneira que tende a atrair mais carga sistema de colunas granulares em solo mole é,
(arqueamento no aterro). Com o aumento de em geral, considerado como um método de
carga a coluna tende a recalcar e se expandir melhoramento do solo, ou seja, um sistema que
lateralmente, aumentando a tração tangencial na cria uma massa (solo mole + colunas) menos
camisa geotextil e a tensão horizontal no solo. compressível e mais resistente do que o solo
mole original. Trata-se de uma situação “módulo equivalente”, E* (Ghionna e
diferente da transferência direta das cargas para Jamiolkovski, 1981), dado pela fórmula [iii].
as camadas competentes mais profundas, que Uma vez obtido rc, pode-se calcular o recalque
ocorre, por exemplo, em aterros apoiados em final, com (o qual, por hipótese do método, é
estacas de concreto armado cravadas até a nega. igual no solo e nas colunas), através da fórmula
Em presença da complexidade acima [iv].
delineada, o tratamento teórico das CGEs é
muito difícil. A literatura técnica recente A aplicação rigorosa do método requer a
(Alexiew, Brokemper e Lothspeich, 2006; divisão em fatias horizontais homogêneas,
Santos, Vidal, Queiroz & Montez, 2007) aponta resultando em grande quantidade de contas só
o método de Raithel (1999), que pode ser realizáveis em computador (Santos, Queiroz e
encontrado em Raithel e outros, (2005) e em Vidal, 2008). Dada a quantidade de variáveis (e
Kempfert e Gebresselassie, (2006), como o as conseqüentes incertezas), em estimativas
procedimento usual para projeto de CGEs. Esse preliminares, caso não existam contrastes
método compreende a solução simultânea de acentuados no pacote de solo muito mole, se
duas equações com grande quantidade de apresenta razoável considerá-lo como uma
variáveis (fórmulas [i] e [ii]) contendo duas camada só com parâmetros homogêneos e
incógnitas (rc, a variação de raio da coluna e, tensões médias.
vs, a variação de tensão vertical no solo
mole). Nas equações [i] e [ii] aparece um
Nas fórmulas [i] a [iv] ac é a relação de áreas pelo coeficiente de empuxo ativo e acreditam
(, expressa em decimal), r0 é o raio inicial do que essas hipóteses divirjam bastante da
coluna e, h0 é a espessura inicial da camada realidade.
mole. Os demais símbolos das fórmulas [i] a Outra hipótese severa do método de
[iv] são como na figura 15. Raithel é a igualdade entre os recalques finais
Santos, Queiroz, Vidal e Montez, (2007) nas colunas e no solo.
destacam que o método de Raithel parte da
hipótese que a coluna se deforma a volume
constante e que as tensões horizontais são dadas
Pode-se usar geotextil “folgado” (rgeo > Ae = 0,866.s2 para distribuição segundo
rc) ou com diâmetro igual ao do tubo triângulos eqüiláteros;
(rgeo = rc). Haverá uma importante
diferença na tração inicial no geotextil. Ae = s2 para distribuição segundo
Em uma situação qualquer de campo, a quadrados.
tração inicial será diferente de zero e
desconhecida. O raio efetivo (re, raio do circulo com área igual
Às vezes se usa um alargamento em à área efetiva) é dado por:
forma de sino na ponta inferior do tubo,
com o duplo fito de diminuir a aderência re = 0,525.s para distribuição segundo
na inserção do tubo e de evitar rasgar o triângulos eqüiláteros;
geotextil quando da extração do tubo
(ver figura 14 (a)). O diâmetro do re = 0,564.s para distribuição segundo
geotextil, logo após sua instalação, quadrados.
depende de quanto desse espaço ele
venha a ocupar, de modo que não se O recalque sem colunas, nos termos do método
consegue ser preciso quanto ao valor de Raithel, é obtido com a fórmula: sem =
inicial da tração no geotextil. h.vs/Eoed. Ao utilizar o método de Raithel
para obter o fator de melhoramento ( =
O método de Raithel tem embutida uma sem/com), o recalque sem colunas tem que ser
hipótese de arqueamento (a tensão final sobre a considerado segundo esta fórmula,
coluna é maior do que a tensão final sobre o independente de se ter uma estimativa mais
solo). Ele deve ser usado com reservas quando a precisa ou confiável do recalque. O módulo de
espessura aterro for menor do que a necessária compressão unidimensional do solo em termos
para a formação do arco. Em termos simples de tensões efetivas (Eoed) é um parâmetro que
deve-se ter Hat (espessura do aterro) maior do influi muito nos resultados dos cálculos. No
que s (espaçamento entre centros de colunas caso de solos normalmente adensados a escolha
adjacentes). O uso de pequenas espessuras de do valor de Eoed pode ser feita utilizando a
aterro faria, em princípio, com que o modo de figura 16 que apresenta a relação entre Eoed e a
ruptura passasse a ser o puncionamento tensão vertical efetiva, em função de Cc/(1+e).
(Folque, 1990), embora o reforço geossintético, A tensão vertical efetiva pode ser considerada
normalmente colocado na base do aterro, como a média entre a inicial (existente antes da
introduza uma dose extra de resistência no obra) e a final (sob a carga total de aterro após
combate ao puncionamento (para cuja adensamento).
estimativa não há procedimento consagrado que Acontece que a cravação do tubo por
seja do conhecimento do autor). deslocamento amolga praticamente todo o
O espaçamento (s, distância entre terreno circundante, de modo que o solo muito
centros de colunas adjacentes) pode ser obtido mole perde sua rigidez original. Por outro lado,
em função da relação de áreas ( em decimal) o efeito de adensamento acelerado no solo
e do raio das colunas (rc) com as seguintes muito mole, propiciado pelo funcionamento das
expressões: colunas como drenos verticais, leva ao aumento
da rigidez. Assim, o módulo de deformação do
s = 1,90 rc /√ para distribuição solo muito mole (ou seja, o influente valor E oed,
segundo triângulos eqüiláteros; utilizado no método de Raithel) é praticamente
impossível de fixar com precisão. Na prática,
considerando os efeitos contraditórios, costuma-
se usar o módulo de rigidez do solo em sua
condição inicial (Kempfert e Gebresselassie,
2006).
A fixação de parâmetros para o conjunto O tratamento analítico das colunas tipo CGE é
formado pelo solo mole e as colunas CGEs, cercado de muitas incertezas. Por essa razão,
pode ser feita aceitando que a participação do não se justificam maiores sofisticações nos
solo mole e das colunas é proporcional à área cálculos de projeto de CGEs. Esta é uma
que cada um ocupa em planta, assim: situação comum em obras moldadas no terreno.
PEQUIV=PSOLO.(1-)+PCOL.sendo: P = Nessa medida, o método de Raithel, apesar das
parâmetro qualquer (peso específico, coesão, restrições feitas acima, se apresenta como
tangente do ângulo de atrito, módulo de razoável para as estimativas de projeto.
compressibilidade, etc), PEQUIV = parâmetro O método de Raithel requer como já
equivalente da massa de solo com colunas; comentado, a solução simultânea de duas
PSOLO = parâmetro do solo; PCOL = parâmetro da equações com mais do que uma dezena de
coluna e = área com colunas / área total. incógnitas, o que torna difícil perceber a
No caso da resistência ao cisalhamento, influência das diversas variáveis sobre o
é preciso compatibilizar as deformações do solo resultado final, algo imprescindível na prática
e da coluna. Para o ângulo de atrito das colunas da engenharia geotécnica (Terzaghi, 1943).
deve-se considerar a condição fofa (“estado Buscando superar este inconveniente, foi
crítico”) do material granular. A contribuição realizada uma série de cálculos pelo método de
do geotextil das camisas não costuma ser levada Raithel, variando os principais parâmetros e
em conta no cômputo da resistência da massa considerando-os constantes ao longo da
tratada com CGEs. profundidade. O raio da camisa de geotextil
(rgeo) foi considerado como igual ao raio inicial
da coluna (rc). Os parâmetros de menor
1.4.3 – Comentários sobre o método de Raithel influência foram fixados, a saber: Kos = 0,5;
Kos* = Kos; at = 19 kN/m3; solo = 14 kN/m3 ;
col = 20 kN/m3. Dois valores foram atribuídos
ao coeficiente de Poisson ( = 0,33 e 0,40) e ao Pode-se aventar que exista um “valor
ângulo de atrito do material granular das ótimo” de M para o qual seja obtido um valor
colunas ( = 30 e 40 graus). Os demais satisfatório de (digamos, maior do que 3 mas
parâmetros (h, Hat, Eoed, rc, J, ) foram não excessivamente alto) e, ao mesmo tempo,
continuamente variados de modo a resultar em ocorra um compartilhamento equitativo da
um amplo leque de resultados (rc e vs). Os carga do aterro pelo solo e pelas colunas
resultados foram tabelados em planilha e os (eficiência em torno de 50%). Observando as
valores do fator de melhoramento ( = figuras 17 e 18 nota-se que este “valor ótimo”
sem/com), da variação de tensão na coluna de M é da ordem de 1, ou seja, pode-se escrever
(vc) e da eficiência (E=.vc/vo = J/Eoed = rc/. Esta relação pode servir como
parcela da carga total que vai para as colunas) ponto de partida para escolha da rigidez do
foram calculados. geotextil em função do valor de Eoed.
No decorrer desses estudos, verificou-se Lembrando que 0,30 < rc < 0,5 e que os valores
boa correlação entre os principais resultados do práticos de ficam entre 0,1 e 0,2, chega-se a
método de Raithel e o parâmetro adimensional 1,5 < J/Eoed < 5,0 (J em kN/m e E oed em kPa).
M = Eoed.rc/J.. As figuras 17 e 18 mostram Assim, por exemplo, um solo com E oed = 200
relações de M com o fator de melhoramento () kPa requeria um geotextil com J ~ 700 kN/m
e com a eficiência (E), respectivamente. Estas (300 a 1000) e, se Eoed = 1000 kPa, J ~ 3000
figuras facilitam a percepção de alguns aspectos kN/m (1500 a 5000).
do método de Raithel que são comentados a
seguir. A utilização mais vantajosa das CGEs
parece corresponder a valores de M entre 0,5
(ou um pouco menos) e 5 (ou um pouco mais).
Como se vê na figura 17, para M menor
do que cerca de 0,5 os valores de tornam-se
muito elevados e crescem muito rapidamente.
Isto indica uma situação em que o recalque sem
colunas é muito maior do que o recalque com
colunas o que ocorre, por exemplo, quando a
compressibilidade do solo mole (E oed) é muito
pequena em relação à rigidez do geotextil (J) ou
a relação de áreas ( é pequena. As curvas da
figura 18 confirmam esta impressão: para
valores de M menores do que 0,5 (ou, talvez,
um pouco menos), o aumento da eficiência é
muito pequeno. Valores de M menores do que
0,5 correspondem, portanto, a situações em que
as colunas tendem a absorver uma parte
excessiva da carga. Essas situações caminham
na direção das colunas “rígidas” e acabariam
por exigir uma capacidade de carga na ponta
inferior da CGE que pode não estar disponível.
Já para valores de M maiores do que
cerca de 5, os valores de passam a ser
pequenos o que significa que não haveria
vantagem no uso de CGEs. Coerentemente, a
eficiência tende a um valor pequeno quando M
é maior do que 5 (ou um pouco mais), o que
significa que a maior parte da carga do aterro
continuaria atuando sobre a argila.
Figura 17 – Relação entre M e - Método de Raithel
Figura 18 – Parcela da carga que vai para as colunas cf. Método de Raithel
1.4.4 – Velocidade de recalque de aterros com ao longo do tempo dos recalques de um aterro
CGEs sobre solos moles com CGEs. Os fatores tempo,
obtidos por esses autores, para adensamento
O método de Raithel não leva em conta o fator radial (que, no caso em foco, domina o processo
tempo. Seus resultados valem para a situação em termos práticos) estão reproduzidos na
final, após a estabilização dos recalques. As figura 19.
experiências em obras Brasileiras e outras, Han e Ye (2001) utilizam o parâmetro N
relatadas na literatura técnica internacional, = de/dc (relação entre os diâmetros de influência
indicam que os recalques praticamente cessam e da coluna). Em termos dos símbolos usados
poucos meses depois de completado o aterro. no presente trabalho, tem-se N = 1/√.
O tratamento teórico da questão do Considerando na ampla faixa entre 5% e
tempo é sujeito a incertezas ainda maiores do 25%, os valores de N ficam, aproximadamente,
que a obtenção do recalque. Santos, Queiroz e entre 2 e 5. Como mostrado na figura 19, para
Vidal (2008) abordaram este assunto. Às porcentagens de adensamento maiores do que
dificuldades antes apontadas, soma-se a escolha 90%, esses valores de N correspondem a fatores
de coeficientes de adensamento vertical e tempo T’r (= C’r . t / de2) entre 0,07 e 0,30.
horizontal (Cv, Cr) os quais são, em geral, Como de/dc = N = 2 a 5 e dc varia entre 0,60 m e
diferentes e sensíveis ao amolgamento e ao 1,00 m, se segue que, no âmbito dos intervalos
nível de tensões efetivas. Acresce que, ao de parâmetros cabíveis, tem-se de entre 1,2 m e
contrário dos drenos verticais fibro-químicos, a 5,0 m. Assim, a relação entre o tempo para mais
participação das colunas na sustentação de parte do que 90% de adensamento (t>90, em dias) e o
da carga imposta pelo aterro não pode ser coeficiente de adensamento (em m2/s) é escrita:
desprezada. t>90 = (3 a 30 x 10-6) / C’r.
Han e Ye (2001) apresentam estudo
analítico no qual procuraram levar em conta os
diversos fatores envolvidos no desenvolvimento
Figura 20 – Gráfico-resumo de obras estrangeiras e nacionais (Casos Vidoca e Santa Cruz com J =
2000 kN/m)
Tabela 2 – Casos bem documentados de obras estrangeiras
Casos Brasileiros
O recalque medido no centro da seção, após a
Andrade e Silva (2006) e De Mello e Hemsi construção da segunda etapa de aterro
(2007) escreveram sobre a obra do aterro (espessura de 2,50 m), foi de 10 cm. Mello e
Vidoca, pioneira no uso de CGE no Brasil, de outros (2008) informam que os recalques
interligação entre as rodovias Presidente Dutra praticamente cessaram cerca de 3 meses depois
(Rio – São Paulo) e Carvalho Pinto, em São da aplicação do carregamento.
José dos Campos, SP. Esta obra e seu Considerando a etapa final de carga
monitoramento geotécnico foram descritos em (2,50 m de aterro), o recalque sem colunas pode
detalhes por De Mello e outros (2008) e por ser estimado em 40 cm. Para o recalque
Sandroni, De Mello, Gomes e Villar (2010). observado, de 10 cm (também considerado
A espessura de solo muito mole variou como tendo sido causado apenas pela etapa
entre 6,5 m e 10,0 m. A espessura de aterro final de aterro), a relação entre os recalques sem
ficou entre 5,0 a 8,5 m. O solo muito mole é e com colunas () é igual a 4. O valor de ,
uma argila silto-arenosa, com SPT entre 0 e 1,5, obtido através da figura 17 (M = 1,17 a 1,75, já
umidade por volta de 100% e resistência não que rc = 0,35 m, J = 1000 kN/m, = 0,10 a 0,15
drenada dada por: Su = 6 kPa até 2 m de e, considerando Eoed = 500 kPa), fica entre 2,8 e
profundidade e crescendo com a profundidade 3,8 (para a curva de c = 30º e = 0,33). Para
na proporção de 1kPa/m. que haja concordância com a realidade ( = 4),
Os tubos foram introduzidos por o valor de M tem que ser por volta de 0,9 o que
deslocamento, utilizando equipamento de implica em valores de Eoed entre 250 kPa e 400
execução de estacas tipo Franki. A camisa kPa.
geotextil tinha diâmetro igual a 0,70 m e rigidez Outra obra Brasileira com CGEs
(J) igual a 2000 kN/m. O espaçamento entre (Sandroni, De Mello, Gomes e Villar, 2010;
colunas variou entre 1,8 e 2,2 m, resultando em Alexiew, Moormann e Jud, 2010), sobre a qual
relações de áreas entre 10% e 15%. se dispõe de alguma documentação de
comportamento, foi na base de uma linha de de adensamento C’r em m2/s). Em qualquer
trilhos para uma empilhadeira de carvão em caso, é indispensável que a obra seja
uma siderúrgica no distrito industrial de Santa acompanhada com instrumentação geotécnica
Cruz, Rio de Janeiro. As GECs tinham diâmetro adequada.
de 0,78 m, profundidade entre 8 e 9 m, rigidez J
= 2000 kN/m e foram implantadas com
espaçamento de 2 m em arranjo quadrado. O 1.5 Tratamento massivo por mistura com
perfil do terreno apresentou 6 a 7 m de solo cimento seco
mole com qc de piezocone menor do que 500
kPa, seguido de uma camada de argila arenosa, 1.5.1 Execução do tratamento
com cerca de 2 m de espessura, sobreposta a
uma camada de argila orgânica com espessura O tratamento consiste em misturar cimento seco
entre 4 e 6 m e q c acima de 1000 kPa. A base (ou outro ligante ou mistura de ligantes) com o
das CGEs foi apoiada na camada de argila solo, distribuindo-o de maneira uniforme e
arenosa. Perante construção do aterro e do lastro formando, a partir da superfície, volumes
foi observado um recalque da ordem de 8 cm contínuos. A profundidade de tratamento não
que pode ser comparado com uma estimativa de costuma ultrapassar os 5 ou 6 metros. O
recalque de 25 cm se não houvesse CGEs ( ou endurecimento do cimento utiliza a água do
seja, o valor foi da ordem de 3). solo. O nome internacional desse procedimento
é “massive dry mix”. No Brasil, é denominado
“stabtec” pela empresa que o executa utilizando
1.4.6 – Considerações finais sobre CGEs equipamento Finlandês. Traduzindo
literalmente, o nome genérico seria “mistura
A capacidade atual de estimar o recalque dos massiva a seco”.
aterros sobre solos moles com CGEs é limitada. O sistema Finlandês, ver figuras 21 e 22,
Ainda mais limitadas são as estimativas do compreende um tanque alimentador (que
tempo de evolução dos recalques. Para controla a quantidade e a pressão com que o
estimativas preliminares de recalque, com cimento seco é injetado) e uma escavadeira, em
reservas quanto às incertezas destacas antes, cuja cabine está o painel de controle. No braço
pode-se usar a figura 17. A estimativa da escavadeira é adaptada a cabeça de injeção e
preliminar do tempo para que os recalques mistura (um cilindro rotativo com chicanas,
praticamente se completem, com ainda maiores movido pelo sistema hidráulico da escavadeira).
reservas, pode ser feita com a relação: t >90=(3 a
30x10-6)/C’r (sendo t>90, em dias e o coeficiente
A mistura de ligantes secos com os solos moles nome internacional desse tratamento é “deep
é praticada há décadas, particularmente nos dry mix” ou, por tradução literal, “mistura
países do norte da Europa (Broms e Boman, profunda a seco”. A novidade da mistura a seco
1979), mas se voltou, até recentemente, para as em massa está em formar volumes superficiais
colunas, com profundidade passando dos 20 a contínuos (“lajes”) de solo tratado com ligante.
30 metros (Holm, 2000 e 2003; Broms, 2004),
conforme apresentado nas Figuras 23 e 24. O
Figura 23 – Vista de superfície de colunas de solo mole-cimento seco pelo método “deep dry mixing”.
Figura 24 – Vista em profundidade de colunas de solo mole-cimento seco pelo método “deep dry mixing”.
Figura 29 – Variação da resistência a compressão simples para com o índice de vazios de cura.
Figura 30 – Relação existente entre índice de vazios de cura, RCS, incremento da tensão de
plastificação e o módulo volumétrico inicial de um solo artificialmente cimentado.
Consoli et al. (2000) mostram os efeitos da deslocamentos for importante para o projeto,
cura sob tensão em misturas de solo-cimento a obtenção de parâmetros de rigidez corretos
são avaliados, em termos de variação de torna-se fundamental e a aquisição apropriada
rigidez (variação do módulo de deformação do módulo de deformabilidade só será feita a
secante) para com a deformação axial (ver partir de amostras curadas sob tensão.
Figura 31). Resultados mostram o aumento da Amostras curadas sem tensão mostram uma
rigidez para com o aumento da tensão de perda da rigidez para com o aumento da
confinamento para amostras curadas sob tensão de confinamento, causada pela quebra
tensão. Quando a determinação dos da estrutura cimentante devido a aplicação
das tensões de confinamento após a cura ter determinação, por exemplo, de recalques de
ocorrido sem tensão, levando a determinação fundações superficiais sobre tais materiais
incorreta de tais módulos e a problemas na (maiores detalhes em Consoli et al. 1998).
Figura 31 – Mudanças no Módulo Secante para com a deformação axial para mistura de solo-cimento ensaiadas em
laboratório: (a) amostras curadas sem tensão de confinamento e (b) amostras curadas sob tensão.
O efeito do teor de umidade da mistura pode Nesta pesquisa foram avaliados distintos
ser verificado na Figura 32 (Holm, 2003). teores de agente cimentante (10 a 30%).
Figura 32 – Influência do teor de umidade da mistura na resistência da mistura solo-agente cimentante.
A figura 33 mostra comparações entre valores após mistura, com iguais concentrações de
de resistência à compressão simples obtida cimento e tempo de cura. Verifica-se que a
em amostras misturadas e moldadas em resistência de campo é cerca de 2 a 3 vezes
laboratório e em amostras coletadas no campo menor do que a de laboratório.
Escavações para blocos de fundação, Rio com stabtec até profundidades da ordem de 5
de Janeiro a 6 metros, de maneira a viabilizar as
escavações necessárias, sem que adviessem
Na área de implantação de uma usina deslizamentos e levantamentos de fundo. A
siderúrgica, havia sido lançado aterro figura 38 mostra, esquematicamente, o
hidráulico arenoso, com espessura de 1,50 m, arranjo.
sobre camada de argila orgânica
extremamente mole, com espessura entre 4 m Os locais de diversos blocos (e conjuntos de
e 16 m. Os pesados pilares das unidades blocos) foram tratados e escavados sem
industriais tinham que ser apoiados em problemas, não sendo necessário aplicar
estacas. Os blocos de coroamento das estacas outros recursos estabilizantes, tais como
eram de concreto armado, com espessura cortinas laterais ou sistemas de
entre 2 e 3 metros e ocupando áreas de 30 m2 rebaixamento. A figura 39 mostra um
ou mais. Decidiu-se tratar a área dos blocos exemplo.
Figura 38 – Seção esquemática do tratamento com stabtec em solo muito mole para cava de fundação, Santa Cruz,Rio
de Janeiro
Figura 39 – Escavação em solo muito mole tratado com stabtec, Santa Cruz, Rio de Janeiro
Figura 40 – Célula de tratamento por mistura de cimento seco com o solo mole
A homogeneidade da massa tratada pode ser de métodos geofísicos (velocidade sônica para
verificada, no campo, através de ensaios de diferentes percursos).
penetração (cone, principalmente) ou através
2 TERRAPLANAGEM COM SOLOS Procurar-se-á mostrar, com inevitáveis
EXPANSIVOS particularizações, algumas das questões que
costumam preocupar o engenheiro praticante
2.1 Definição de solo expansivo quando responsabilizado por decisões
relativas à terraplanagem em obras com solos
Todos os solos parcialmente saturados, expansivos. Serão abordadas as seguintes
incluindo os sem plasticidade, aumentam de questões:
volume quando inundados, porque a
inundação reduz a sucção, causando uma (a) Identificação: Existe solo com alto
diminuição da pressão efetiva. Os solos potencial expansivo na obra? Quanto pode
saturados também aumentam de volume expandir? Que pressão pode exercer?
quando se diminui a sua pressão efetiva. Consegue-se, de maneira expedita e
Nessa medida, todos os solos são expansivos. suficientemente precisa, identificar os solos
O termo “solo expansivo”, no entanto, expansivos, distinguindo-os dos não
é reservado, na prática geotécnica, para expansivos durante a obra?
situações em que os solos de uma (b) Posturas de projeto: o que deve ou pode
determinada obra podem gerar problemas ser feito para enfrentar ou mitigar os riscos
causados por sua expansão, tais como: associados ao potencial de expansão?
deslocamentos excessivos de pavimentos,
levantamentos de estruturas causando Os solos potencialmente expansivos já foram
distorções e trincas, decomposição de encontrados em muitos locais do Brasil como
superfícies de plataformas e de taludes mostra o levantamento recente apresentado
(“empastilhamento”), perda de resistência por Ferreira (2007). Foram encontrados solos
(amolecimento, “softening”) em taludes e expansivos em locais não indicados por
terrenos de apoio de fundações, empuxos Ferreira tais como Ilha do Governador (Rio de
adicionais importantes em estruturas de Janeiro) e Bacabeira (Maranhão). Ao que tudo
contenção, aumentos consideráveis de carga indica há solos expansivos em amplos
em fundações profundas e em revestimentos segmentos do território Brasileiro.
de túneis, etc. Nesses casos, os solos
expansivos são, invariavelmente, argilosos e,
na ampla maioria dos casos, parcialmente 2.2 Identificação para projeto
saturados.
A intensidade com que um solo pode São examinados os principais procedimentos
expandir, denominada “potencial de que se costuma usar, na fase de estudos e
expansão”, se manifesta como aumento de projetos, para avaliar se existe solo expansivo
volume ou, se o solo for impedido de na obra e qual o seu potencial expansivo.
expandir, como pressão contra o impedimento
(sobrecarga, fundação, estrutura de contenção, Mineralogia e química da água. O mineral
revestimento de túnel, etc.). argílico presente na porção fina do solo tem
Para um determinado estado de tensão, decisiva influência. A presença de minerais
o potencial de expansão depende da muito ativos, como os dos grupos da
mineralogia da fração fina, do tipo e da montmorilonita e da ilita, leva o solo a ser
quantidade de sais na água dos vazios e, expansivo, mas o solo pode apresentar
sobretudo, da sucção (diferença de pressão comportamento expansivo mesmo que seu
entre o ar e a água dos vazios). A sucção, por mineral argílico não seja tão ativo. Este
sua vez, é função complexa da umidade (a assunto é enfocado na parte 3.
parcela genericamente chamada de “sucção
mátrica”) e da salinidade da água e da Ensaios de caracterização em laboratório.
mineralogia da fração fina (a chamada Encontram-se na literatura critérios,
“sucção osmótica”). estabelecidos há décadas, destinados a avaliar
o potencial de expansão através de ensaios de
caracterização (Costa Nunes e outros, 1978). expansão” foi obtida sob carga de 7
Alguns desses procedimentos são examinados kPa.
a seguir.
Os valores utilizados por esses autores como entre os critérios. Uma expansão de 9% seria
limites para enquadrar os solos nas categorias baixa para Holtz & Gibbs, alta para Chen e
de expansão “baixa”, “média”, “alta” e para Seed e outros e muito alta para Van der
“muito alta” estão reunidos na tabela 6. É Merwe.
interessante notar as consideráveis diferenças
Embora seja interessante, do ponto de vista também, das condições iniciais de umidade e
prático, tomar conhecimento dos limites sucção do terreno que estão ligadas à
utilizados por especialistas de diferentes condição indeformada ou compactada do
locais, não é de se esperar que a questão da solo.
expansão e, particularmente, a intensidade
desse comportamento, possam ser abordadas Os solos expansivos classificam-se, quase
apenas com base em ensaios de sempre, como CL, MH ou CH no sistema
caracterização. Eles só conseguem refletir a USCS. Resultados de uma obra (Bacabeira,
propensão à expansão que emana da MA) estão mostrados na figura 44.
mineralogia e da granulométrica dos solos, ao
passo que o potencial de expansão depende,
Figura 44 – Classificação USCS dos solos expansivos de uma obra
Figura 47 – Ensaios de expansão em solos compactados (os pontos de Massapê são de diversas localidades)
Figura 48 – Ensaios de expansão em solos indeformados
Esses resultados sugerem que: Claro está que um solo que possa expandir,
digamos, 25% (ou seja, 50 cm em uma
Nos solos compactados nas camada com 2 m de espessura) ou, capaz de
imediações da ótima (figura 47) as exercer uma pressão ascendente de, digamos,
maiores pressões de expansão só 200 kPa (suficiente para levantar um prédio
foram encontradas para expansões com muitos andares), constitui uma ameaça
livre acima de (digamos) 6 ou 7%. óbvia. Quando, contudo, as expansões e as
Abaixo deste patamar, a pressão de pressões de expansão não são tão grandes o
expansão não excede cerca de 20 kPa equacionamento da obra frente ao problema
o que corresponde ao peso de uma costuma requerer cuidadosa análise para
espessura de solo da ordem de 1,00 m, evitar, por um lado, otimismos que redundem
(ou seja, o problema com solos em problemas posteriores e, por outro,
expansivos seria pequeno). Rao (2006) catastrofismos que induzam grandes despesas
considera que uma pressão de desnecessárias.
expansão inferior a 20 kPa não causa
maiores problemas; Inspeção no local da obra. Inspeções no
Nos solos indeformados (figura 48), local, principalmente em cavas feitas para este
para expansão livre da ordem de 5%, fim, podem ajudar a suspeitar da presença de
já se registram pressões de expansão solos expansivos.
acima de 80 kPa, o que corresponde
ao peso de 4 a 5 m de solo. Trincamentos superficiais largos, em
formas irregulares e com diferentes
Estas não são conclusões de aplicação geral. tamanhos podem ser indício da
Elas visam apenas mostrar valores típicos e existência de solos expansivos A
valem somente para os solos e locais figura 49 mostra um diagrama
considerados. Uma comparação de dados de apresentado por Costa Nunes (1978)
ensaios disponíveis na extensa bibliografia, referente à aparência dos trincamentos
junto com o visto antes, leva à conclusão de em locais com solos expansivos.
que não existem regras gerais aplicáveis aos Grosseiramente, a expansão pode ser
solos expansivos. associada à porcentagem da área
ocupada pelas trincas abertas em
longos períodos secos. Uma foto de
trincamento de superfície ressecada
em obra com solo expansivo está
também mostrada na figura 49.
A ocorrência de empastilhamento (ou
“pipocamento”) da superfície de
plataformas e, principalmente, da face
de taludes constitui forte indício de
que o solo é expansivo. O
empastilhamento se caracteriza pela
separação de flocos e pequenos blocos
de solo argiloso (ver figura 50).
Deve ser considerada como indício
uma coloração incomum ou muito
variada do solo. As figuras 51 a 53
mostram fotos de solos expansivos
encontrados em obras do Nordeste do
Brasil.
INTERMEDIÁRIO 50 a 70 12 a 13 25 a 30
EXPANSIVO E
> 70 > 13 > 30
MUITO EXPANSIVO
Figura 56 – Expansão CBR x % que passa na peneira
200 na obra em foco.
Com esses critérios viabiliza-se uma Irrigação de lavouras e rega de
identificação expedita no campo, realizada plantas;
por técnicos especificamente treinados.
A expansão (ou contração) do solo pode
resultar, também, de variações no perfil de
2.4 Posturas de projeto sucção do terreno (associadas a variações de
umidade), causadas por:
Solos expansivos saturados só expandem se Impermeabilização da superfície;
houver uma diminuição de tensão causada, Remoção ou da plantação de árvores.
por exemplo, por uma escavação ou por um
túnel. Adiante será apresentado um caso de A profundidade até a qual a umidade do solo
obra no qual uma escavação em solo varia ao longo do tempo é denominada zona
expansivo saturado resultou em expansão com ativa. Em climas áridos, com períodos
graves conseqüências. No momento serão definidos de chuva seguidos de secas
abordadas apenas situações nas quais o solo prolongadas, a espessura da zona ativa chega
expansivo se encontra parcialmente saturado. rotineiramente aos 3 m e pode ultrapassar os 5
Em solos parcialmente saturados, o m. Em qualquer caso, a fixação da espessura
potencial de expansão só se manifesta se da zona ativa é um difícil exercício de projeto.
houver aumento de umidade, ou seja, se for Nelson & Miller afirmam que se deve, em
fornecida água adicional ao solo. Havendo princípio, suspeitar de zonas ativas com
diminuição da quantidade de água acontecerá profundidades menores do que 3,5 m (10 ft).
redução de volume (“contração”). Nessa Para estabelecer a espessura da zona ativa em
medida, a infiltração e a percolação da água um local qualquer é preciso medir a variação
no terreno são fatores determinantes na da sucção ou da umidade durante, pelo
prática da engenharia com solos expansivos menos, uma estação seca seguida de uma
parcialmente saturados. Pode haver expansão estação úmida. É raro que haja tempo para
(ou contração) do terreno perante mudanças fazer prospecção desse tipo na fase de projeto
químicas ou de temperatura no fluido dos das obras.
vazios do solo, dentre outras causas, mas Nelson & Miller (1992) sugerem que,
essas situações não são abordadas no presente em perfil de solo homogêneo, a zona ativa se
texto. aprofunda até o ponto em que a umidade fica
As circunstâncias nas quais pode ocorrer constante com a profundidade. Em perfis
infiltração de água no solo expansivo com heterogêneos, esses autores indicam que seja
conseqüentes inchamentos podem ser avaliada a variação, com a profundidade, da
agrupadas, segundo seu porte, em extensas e relação entre a umidade e o índice de
localizadas. Dentre as causas de grande plasticidade (ou da relação entre o índice de
extensão podem ser citadas: liquidez e o índice de plasticidade),
Chuvas persistentes após secas caracterizando a zona ativa como situada
prolongadas; acima do ponto em que a relação se torna
Enchimento de lagos de barragens; constante.
Dentre as possíveis causas localizadas estão: Exceto nas imediatas proximidades da
Elevação do lençol freático (causada, superfície do terreno, o solo não pode
por exemplo, por interceptação de expandir livremente. A intensidade da
aqüíferos); expansão depende do potencial de expansão
Vazamentos de lagoas industriais de não livre, isto é, expansão sob as tensões
tratamento ou acumulação; vigentes em cada ponto da obra. Resultados
Poças em pátios e vias de acesso; experimentais indicam que a expansão
Vazamentos de caixas de água e de diminui acentuadamente para tensões
piscinas; verticais relativamente pequenas. Isto que
Vazamentos e rupturas de tubulações; dizer que, em geral, a expansão cai
Goteiras na beira de telhados; rapidamente com a profundidade devido ao
peso do próprio solo expansivo ou com a o solo expanda como mostrado no
carga (de solo inerte ou outra) colocada sobre esquema da figura 59.
o solo expansivo. Laje nervurada rígida. Trata-se de
As posturas para fazer frente aos solos construir sobre base rígida de tal
expansivos podem ser agrupadas em três forma que, embora sofrendo os
categorias: as estruturais, as de controle da movimentos do solo, as distorções na
umidade e as de melhoramento do terreno. As estrutura sejam minimizadas. A figura
posturas mais comuns são apresentadas a 60 apresenta o esquema
seguir. correspondente.
A posturas estruturais consistem em
preparar a estrutura para resistir ou conviver As posturas estruturais fogem ao escopo
com os esforços e deslocamentos causados destas notas, recomendando-se aos
pela expansão do solo. As mais comuns são: interessados a consulta ao livro de Nelson &
Fundação profunda e vazio sob a Miller (1992), aos manuais de prática de
estrutura. Esta postura consiste em fundações em locais com solos expansivos,
apoiar a estrutura em estacas como o TM5-818-7, (USDA, 1983) ou aos
chumbadas abaixo da zona ativa e diversos códigos de obra para áreas com solos
deixar espaço sob a estrutura para que expansivos encontráveis na internet.
MOLHAGEM
SIM
PRÉVIA
ESTABILIZAÇÃO
SIM POUCO SIM SIM SIM SIM
COM CAL
SUBSTITUIÇÃO E
SIM SIM SIM SIM SIM SIM
CAPEAMENTO
BARREIRAS DE
SIM SIM
PERCOLAÇÃO
Figura 64 – Critério de cobrimento do solo expansivo com espessura mínima de solo de baixo potencial de expansão
(Cabo, PE).
A mistura de solo inerte com o solo expansivo pilha com a carga de um caminhão) lado a
costuma ser a postura economicamente mais lado na proporção desejada, como mostrado
atraente em obras que envolvem grandes nas figuras 65 e 66. Em seguida as pilhas são
volumes de movimento de terra. O misturadas com grade e compactadas (depois
procedimento consiste em dispor pilhas de de adequar a umidade, caso necessário).
material expansivo e não expansivo (cada
Figura 65 – Mistura de solos inertes e expansivos (Cabo, PE)
A mistura do solo expansivo com solo inerte é solo inerte da maneira mostrada na figura 67.
um exercício de diluição: quanto maior a Para proporção de solo inerte inferior a 30% a
proporção de solo inerte, menor a mistura resulta quase tão expansiva quanto o
expansibilidade da mistura. Alguns exemplos solo puro. No outro extremo, não parece
de resultados de ensaios de expansão em haver acréscimo de benefício quando a % de
misturas realizadas em obras Brasileiras estão solo inerte passa de 70%. Claro está que a
apresentados na tabela 10. Com base nesses eficiência da mistura é governada por
poucos ensaios em misturas, fica-se com a diversos outros fatores e não apenas pela
impressão que a eficiência da mistura proporção de solo inerte. Este é um assunto
(diferença entre a expansão do solo puro e do que deve ser estudado experimentalmente em
solo inerte dividida pela diferença entre a cada obra e que, sem dúvida, está a merecer
expansão do solo puro e da mistura, expressa esforços de pesquisa.
em %) se relaciona com a porcentagem de
2000
pedregulho arenoso
a/c = 2,0
1800
a/c = 4,0
1600
a/c = 6,0
1400
tensão axial (kPa)
1000
800
400
200
0
0 1 2 3 4
deformação axial (%) Figura 70 – Efeito da quantidade de cimento sobre a
resistência à compressão simples para alguns solos
estabilizados com cimento Portland e curados por 7
Figura 69 – Influência do fator água-cimento na dias (adaptado de Ingles & Metcalf, 1972)
resistência à compressão não-confinada das misturas de
SCB (Consoli et al. 2004).
Prietto (1996) verificou que, para solos
arenosos cimentados, a resistência à
No entanto, é importante ressaltar que a compressão simples é uma medida direta do
compactação em solos ou no solo-cimento grau de cimentação. De acordo com o autor,
nunca consegue expulsar completamente o ar na grande maioria dos trabalhos relatados na
do sistema solo-água-ar ou solo-cimento- literatura sobre solos artificialmente
água-ar, e a resistência não pode ser cimentados, o grau de cimentação é
correlacionada com o fator água/cimento no representado pela quantidade relativa de
caso de solos compactados, pois fator material cimentante, normalmente pela
água/cimento só se aplica a materiais onde o porcentagem de cimento em relação à massa
ar foi totalmente expulso e os vazios de solo seco.
existentes estão preenchidos por água. Esse é No entanto, o grau de cimentação não
o caso do concreto, apesar de na prática, ser é função somente da quantidade de agente
considerada a existência de aproximadamente cimentante. Outros fatores como a densidade,
1,5% do volume total composto por vazios a forma e a natureza superficial das partículas
preenchidos por ar (Horpibulsuk et al., 2003). desempenham papel importante neste
processo. Por exemplo, a mesma quantidade
de cimento Portland produzirá resistências Existe um entendimento geral que, para uma
distintas ao ser adicionada em solos de mesma dada variação de tensões, a resistência ao
natureza, porém com densidades diferentes. cisalhamento de solos naturalmente e
Isto ocorre porque, no solo mais denso, existe artificialmente cimentados pode ser
um maior número de pontos de contato entre representada por uma envoltória reta de
as partículas e, portanto, a cimentação se Mohr-Coulomb, definida por um intercepto
desenvolve de maneira mais efetiva (Consoli coesivo, que é apenas função da cimentação, e
et al, 2007). por um ângulo de atrito que parece não ser
afetado pela cimentação.
Clough et al. (1981) mostram que a
3.2.2.2.2. Resistência à Tração cimentação em areias tem o efeito básico de
adicionar um intercepto coesivo e uma
Geralmente a resistência à tração, nas resistência à tração, aumentando a rigidez,
condições de umidade ótima e massa mas não afetando significativamente o ângulo
específica aparente seca máxima, atinge cerca de atrito interno. Os mesmos autores
de 10% da resistência à compressão simples verificam, também, que o pico de resistência
nas mesmas condições (Ingles & Metcalf, em solos cimentados são atingidos a pequenas
1972). deformações (1% a 2%).
Clough et al. (1981) encontraram Segundo Prietto (1996), para solos
valores de resistência à tração variando de 9% arenosos cimentados, a resistência à
a 12% da resistência à compressão simples compressão simples é uma medida direta do
em solos naturalmente cimentados. Em grau de cimentação. Conseqüentemente a
amostras artificialmente cimentadas, os resistência ao cisalhamento no ensaio triaxial
mesmos autores observaram resistências à pode ser expressa como uma função de
tração variando entre 11% e 13% da apenas duas variáveis: o ângulo de atrito
resistência à compressão simples. interno do material no estado desestruturado e
Dass et al. (1994) analisaram curvas a resistência à compressão simples do
tensão-deformação obtidas de ensaios de material cimentado.
tração por compressão diametral, tração direta De acordo com o autor, a tensão
e compressão simples em amostras de areia desvio na ruptura (qf) de solos artificialmente
artificialmente cimentadas, com teores de cimentados, obtida em ensaios triaxiais
cimento de 4%, 6% e 8% em relação ao peso convencionais, pode ser expressa como uma
de solo seco. A partir das análises, os autores função linear do grau de cimentação e da
tecem as seguintes observações: tensão efetiva média inicial através da
equação:
A resistência à tração aumenta e a
deformação específica na ruptura diminui 2 sen φ
qf pi qu
com o aumento da porcentagem de
1 sen φ
cimento, independentemente do teste
utilizado.
As resistências à tração, observadas A primeira parcela da equação acima
nos testes de tração por compressão representa a tensão desvio na ruptura do solo
diametral, variam de 11 a 12% da não-cimentado em função do seu ângulo de
resistência à compressão simples. Já as atrito interno (’) e da tensão efetiva média
resistências à tração, observadas nos testes inicial (pi’); a segunda parcela representa o
de tração direta, variam de 11 a 14% da grau de cimentação avaliado pela resistência à
resistência à compressão simples. compressão simples (qu) do mesmo solo
cimentado.
3.2.2.2.3. Resistência ao Cisalhamento
As hipóteses que suportam tal equação são:
A envoltória de resistência é linear. 3.3. SOLO-CAL
O ângulo de atrito interno do solo
cimentado e do mesmo solo não-cimentado 3.3.1. Visão Geral
são da mesma ordem de grandeza.
O solo na condição não-cimentada é Dois tipos de cales são comumente
não-coesivo. utilizados para estabilizar solos coesivos –
CaO (óxido de cálcio, também conhecida
Prietto (1996) aplicou a equação obtida a como cal viva) e Ca(OH)2 (hidróxido de
resultados experimentais de solos cimentados cálcio, também conhecida como cal
relatados na literatura. Apesar das hidratada). Ambas cal viva e cal hidratada
consideráveis variações na densidade, são produzidas pela queima de calcário
mineralogia e natureza de agentes (CaCO3, carbonato de cálcio) conforme
cimentantes, uma grande concordância entre ilustrado pelas seguintes reações:
os valores previstos e observados foi obtida.
De acordo com Prietto (1996), os
parâmetros de resistência de misturas solo- CaCO3 + Calor → CaO + CO2
cimento compactadas podem ser
estabelecidas, para estudos preliminares, a
CaO + H2O → Ca(OH)2 + Calor
partir das seguintes equações, divididas em
solos de granulometria grosseira e solos finos:
É importante ressaltar que o calcário (CaCO3)
Solos granulometria grosseira (pedregulhos e é ineficiente na estabilização química de
areias): solos, mas pode ser utilizado como filer de
Ângulo de atrito: φ(graus) = 40 a 45 graus forma a aumentar o teor de finos dos solos.
Coesão: c (kPa) = 50 + 0,225 qu (kPa) A cal mais utilizada no Brasil para
tratamento de solos é a cal hidratada. A NBR
Solos granulometria fina (siltes e argilas): 7175 (ABNT, 2003) especifica três tipos de
Ângulo de atrito: φ(graus) = 30 a 40 graus cal hidratada, CH-I (a de melhor qualidade
Coesão: c (kPa) = 50 + 0,225 qu (kPa) por sua maior finura e maior quantidade de
óxidos totais de CaO e MgO), CH-II, CH-III e
define os quesitos químicos e físicos
3.2.2.2.4. Resposta Tensão-Deformação conforme Tabelas 13 e 3.4, abaixo:
De forma geral, as quantidades de cal solo com cal, a qual fornece aumento
necessárias para o tratamento de solos permanente da resistência e rigidez do solo
depende das características do solo e o uso e devido a ocorrência de reações pozolânicas.
características mecânicas desejadas da
mistura. O tratamento de solos com cal pode A título de ilustração, a Tabela 15,
ser dividido em duas classes gerais: (a) adaptada de Inglês e Metcalf (1972),
modificação do solo com cal, a qual reduz a apresenta um indicativo da quantidade de cal
plasticidade do solo, melhora a a ser adicionada para a estabilização, de
trabalhabilidade, aumenta a resistência a acordo com o tipo de solo.
defloculação e erosão; (b) estabilização do
Tabela 15: Previsão da quantidade de cal em função do tipo de solo (Ingles & Metcalf, 1972)
Tipo de Solo Teor de Cal para Modificação Teor de Cal para Estabilização
Figura 75 – Efeito do tempo de cura sobre a resistência Figura 76 – Efeito da quantidade de cal sobre a
à compressão simples para alguns solos estabilizados resistência à compressão simples para alguns solos
com cal (adaptado de Ingles & Metcalf, 1972) tratados com cal e curados por 7 dias (Inglês &
Metcalf, 1972)
1000
mesmo . É possível verificar que a adição de
800
600
cal em valores inferiores ao necessário para
400 estabilização do solo (11%) não causa
200 modificações nos parâmetros de resistência e
0 mesmo para o caso de 13% de cal, a
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
modificação somente ocorre após 90 dias de
Ca (%)
cura, quando do aparecimento de coesão, a
Figura 77 – Variação da resistência à compressão
qual aumenta com o tempo a partir de 90 dias.
simples em relação à quantidade de cal ensaiados com
90 dias de cura (Consoli et al. 2009a).
Tabela 16. Parâmetros de resistência em tensões
efetivas do solo e solo-cal com 5, 9 e 13 % de cal e
3.3.2.2.2 Resistência à Tração tempos de cura estudados (7 a 180 dias de cura).
Misturas Tempo de Intercepto Ângulo de
Cura (dias) coesivo Atrito
Thompson (1969) constatou que o quociente
(kPa) (graus)
entre a resistência a tração pela resistência à Solo sem cura 0,0 40,6
compressão simples das misturas solo-cal 7 0,0 39,4
estudadas varia de 0,10 a 0,15, independente Solo + 5% 28 0,0 39,8
do tipo e/ou teor de cal. de cal 90 0,0 39,9
Consoli et al. (2001), ao estudar uma 7 0,0 40,1
Solo + 9% 28 0,0 39,8
mistura de solo arenoso compactado com
de cal 90 0,0 40,9
cinza volante e cal de carbureto, observou que 7 0,0 38,4
valores médios de resistência à tração na Solo + 13% 28 0,0 39,2
compressão diametral aumentam com o de cal 90 50,9 38,3
tempo de cura e que a taxa de crescimento dos 180 86,6 39,5
diferentes mecanismos de resistência (tração e
compressão) é variável com o tempo de cura.
Consoli et al (2001), ao verificar o
comportamento de um solo silto-arenoso
3.3.2.2.3 Resistência ao Cisalhamento tratado com 4% de cal de carbureto,
observaram um acréscimo na coesão de
O principal efeito na resistência ao 10kN/m2 para 42kN/m2 e um acréscimo no
cisalhamento de um solo fino reativo é o de ângulo de atrito de 35º para 38º, em relação
produzir um substancial aumento da coesão; ao solo natural.
3.3.2.2.4 Resposta Tensão-Deformação 3.4. Metodologias de Dosagem
pH
11
simples foi utilizada água potável proveniente
10
da rede de abastecimento pública. 9
8
Tabela 17: Propriedades Físicas da Amostra de Solo 7
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
PROPRIEDADES VALORES
Teor de Cal (%)
19,5
19,0
A4
18,5
d (kN/m3)
S = 89%
15,5
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
w (%)
Figura 80 – Curvas de compactação e programa de ensaios de compressão simples.
A1, A2, A3 e A4), denominada linha “A”, 800 d = 18,8 kN/m3 : qu = 19,8Ca + 543,7 (R2 = 0,93)
700
com um mesmo teor de umidade e diferentes 600
pesos específicos secos, e uma linha
qu (kPa)
500
horizontal, denominada linha “B” (Pontos 400
3000
(hidratação).
2000
1000
A Figura 83 mostra a relação entre a
0 resistência à compressão simples e a relação
9 10 11 12 13 14 15 16 17
w (%)
porosidade - teor volumétrico de material
cimentante para cal
(b) Porosidade
{ } e cimento
Figura 82: Efeito do teor de umidade de moldagem na Cav Teor Volumétric o de Cal
resistência à compressão simples: (a) amostras com cal, Porosidade
(b) amostras com cimento. { }.
Civ Teor Volumétric o de Cimento
800
Ca = 5%
relação potência para as misturas de solo-
Ca = 7%
700
Ca = 9% cimento
600 3, 23
Ca = 11%
qu (kPa)
C = 11%
3000
outros solos) para conferir a possibilidade de
2000
generalizar os resultados obtidos.
1000
0 1000
Ca = 3%
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 900 Ca = 5%
/ C iv 800 Ca = 7%
Ca = 9%
700 Ca = 11%
(b) 600 q u = -49,5(/(Cav)0,06)+2110,1
qu (kPa)
R2 = 0,98
Figura 83 – Variação da resistência à compressão 500
400
simples pela relação porosidade/teor volumétrico de
300
agente cimentante: (a) amostras com cal, (b) amostras
200
com cimento.
100
0
26 28 30 32 34 36 38 40 42
/ (Cav)0,06
Dividindo a porosidade pelo teor volumétrico
de agente cimentante, assumiu-se que um (a)
aumento na porosidade da mistura poderia ser
compensado por um aumento proporcional no 6000
C = 3%
teor volumétrico de agente cimentante 5000
C = 5%
C = 7%
mantendo inalterada a resistência à C = 9%
4000 C = 11%
compressão simples. De fato, para manter a q u = 5,08x10 7(/(Civ)0,35)-3,23
qu (kPa)
R2 = 0,97
mesma qu, um incremento deve ser aplicado 3000