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Sobre a prática da engenharia geotécnica com dois solos difíceis:

os extremamente moles e os expansivos


Sandro S. Sandroni,
Geoprojetos Engenharia, Rio de Janeiro, Brasil (sandro@geoprojetos.com.br)

Nilo Cesar Consoli,


UFRGS, Porto Alegre, Brasil (consoli@ufrgs.br)

Resumo: O texto está dividido em três partes. A primeira parte versa sobre os aterros construídos
sobre solos extremamente moles. A segunda parte enfoca plataformas industriais com solos
expansivos. A terceira parte tem como tema o tratamento dos solos com cimento e com cal.
Nos solos extremamente moles são enfocados os drenos verticais, as colunas granulares
encamisadas e o tratamento massivo com cimento seco.
Nos solos expansivos são enfocadas a identificação e as posturas de projeto.
Na parte de tratamento enfoca-se a influência de diversos fatores sobre o comportamento da massa
tratada e a dosagem racional de cimento e de cal.

PALAVRAS-CHAVE: Drenos verticais, Colunas encamisadas, Tratamento massivo a seco, Solos


moles, Solos expansivos, Tratamento com Cimento e com Cal.

1 ATERROS SOBRE SOLOS Quando os solos extremamente moles ocorrem


EXTREMAMENTE MOLES em superfície, só se pode acessar o local depois
de lançar aterro (tipicamente, com 50 a 80 cm
1.1 – Definição de solo extremamente mole de espessura), reforçado com geotextil na base e
lançado com equipamento leve (o chamado
Segundo a Norma Brasileira (NBR6484), “aterro de conquista”). As ocorrências mais
“muito mole” é um solo argiloso com SPT comuns de solos extremamente moles são os
menor do que 2 golpes/30 cm. Define-se, aqui, sedimentos finos acumulados em ambientes
como solo extremamente mole, um solo calmos (tais como: fundos de baías e lagos), as
argiloso ou siltoso, orgânico ou não, que possua lamas de dragagem e os depósitos de rejeitos
uma ou mais dentre as seguintes características: finos fluidos.
Quando o terreno exibe solo extremamente
 SPT igual ou menor do que 1, sendo comum mole, quase invariavelmente é necessário
a composição de sondagem descer sob o construir aterros (acima do “aterro de
próprio peso; conquista”) para implantação das obras. A
 Resistência de palheta menor do que 12 kPa. construção dos aterros está sujeita ou pode
Já foram ensaiados, na região costeira do causar diversos tipos de acidente ou
Brasil, solos extremamente moles com comportamento inadequado, como por
resistências de palheta menores do que 3 exemplo:
kPa;  Rupturas por deslizamento ou por
 Valor de [qt – vo] em ensaios de piezocone capacidade de carga, sob pequenas
no campo menores do que 200 kPa. Valores espessuras de aterro;
por volta de 40 kPa já foram registrados na  Recalques excessivos de um modo geral e,
costa Brasileira; depressões de recalque em aterros (as
chamadas “panelas”), nos trechos em que o
solo mole é mais espesso;
 Deslocamento de estacas causado por formando as chamadas “ondas de lama” ou
levantamento de fundo (em escavações) ou “mud waves”). O controle de qualidade do
pela ação de empuxos laterais induzidos por produto final encontra alguma dificuldade,
aterros; sendo comum que restem espessuras
 Recalques diferenciais na interface com variáveis de solo extremamente mole não
estruturas estaqueadas. deslocado sob a base do aterro.
3) Substituição. Consiste em remover, com
O enfrentamento dessas e de outras escavadeira ou draga, o solo mole e colocar
dificuldades configura o ambiente de trabalho material de melhor qualidade em seu lugar.
dos engenheiros geotécnicos quando existem Este procedimento, quando executado em
solos extremamente moles na área de terra por escavadeira, se restringe aos 4
implantação da obra. Justamente por causa das metros (ou um pouco mais) de
dificuldades, a engenharia geotécnica profundidade. É utilizado com freqüência,
colecionou um amplo leque de posturas para pois, costuma ser mais rápido e mais barato
projeto em obras com esses solos, as quais são do que as alternativas. Em obras maiores,
descritas no item a seguir. pode ser econômico fazer substituição em
dois níveis de avanço, quando se consegue
alcançar até 8 metros de profundidade.
1.2 Posturas de projeto para obras com solos Nesse caso, escava-se o primeiro avanço de
extremamente moles 4 m, cobre-se o fundo da cava com novo
aterro de conquista e, a partir dele, escava-
Dentre as posturas que a engenharia geotécnica se o segundo avanço. Para evitar a
oferece para mitigar os problemas de instabilidade dos taludes laterais da cava
deslocamentos e instabilidade em locais com procura-se escavar e preencher rapidamente
solos extremamente moles, são destacadas as ou deixar (ou colocar) água no interior da
seguintes: cava. Em alguns casos, o solo mole
removido pode ser deixado para secar e,
1) Evitação. Trata-se de mudar a obra de depois de misturado com material melhor,
lugar. Por exemplo, deslocar o eixo de uma utilizado em trechos do empreendimento
estrada, modificar o layout de uma indústria que aceitem aterros menos nobres. Quando
ou desistir da compra de um terreno. Na se tem que retirar o solo muito mole, podem
fase de planejamento inicial de ser encontradas dificuldades ambientais
empreendimentos imobiliários, a parte não quanto ao transporte (aumento do volume de
edificada (jardins, reservas ambientais) pode tráfego e sujeira das vias) e quanto à
ser posicionada sobre as manchas mais disposição final. Em obras muito grandes,
espessas de solos extremamente moles particularmente as marítimas, com
existentes no terreno, através de equipamento de dragagem, a substituição
entendimentos com arquitetos e urbanistas. pode passar dos 15 ou 20 metros. O solo
2) Deslocamento. Expulsão do solo extremamente mole dragado pode ser
extremamente mole por aterros lançados em tratado em lagoas de acumulação, utilizando
ponta. Rupturas sucessivas fazem com que o alguns dos métodos descritos adiante. Outra
aterro ocupe o lugar do solo extremamente forma de substituição, hoje em desuso,
mole. Muito tradicional e de baixo custo, consiste em detonar cargas de explosivos
para espessuras pequenas a moderadas de sob pilhas de aterro. Em princípio o solo
solo extremamente mole, esta técnica mole é afastado lateralmente e o aterro cai
costuma dar resultados aceitáveis desde que no “vazio” assim formado. Na realidade, o
bem executada. Ela encontra, hoje em dia, produto final costuma ser uma mistura
restrições ambientais. A melhoria do terreno heterogênea do solo mole e do aterro.
no trecho desejado redunda na piora 4) Aterro convencional. Trata-se de aterro
considerável do solo nas imediações (em lançado diretamente sobre a superfície do
particular levantamento do solo adjacente, terreno, depois de ceifa e destocamento da
vegetação. Os aterros construídos bermas podem chegar a muitas dezenas de
diretamente sobre solo extremamente mole, metros de largura se o solo mole for
em geral, se mostram inviáveis devido à espesso.
ocorrência de rupturas e “ondas de lama”. 6) Reforços geossintéticos. Trata-se de usar
Só se consegue (quando se consegue) planos ou faixas de material sintético
viabilizar aterros lançados diretamente sobre (plástico, na maioria dos casos) para
solo extremamente mole, utilizando reforços reforçar o aterro. Os geossintéticos são
geossintéticos na base, como abordado utilizados, hoje em dia, em praticamente
adiante e construção em etapas. A parte todas as obras de aterro sobre solos moles.
inferior do aterro deve ser constituída por Há uma grande variedade de geossintéticos,
uma camada drenante para facilitar a fuga destacando-se geotexteis (tecidos e não
da água expulsa do solo mole. Tem-se tecidos), geogrelhas e geocompostos,
verificado que, em aterros sobre solo fabricados com diversos tipos de plásticos,
extremamente mole com dimensões grandes com diferentes características de resistência
em planta (ao contrário dos aterros e permeabilidade (ABINT, 2004). As
rodoviários, de pequena largura), um tapete principais aplicações, no caso de aterros
constituído apenas por areia pode ser sobre solo extremamente mole, são como
insuficiente para escoar a água de reforço de base no aterro de conquista,
adensamento que a ele aflui. A compactação como reforço entre as camadas de aterro nos
do aterro logo acima do solo extremamente trechos periféricos (aumento da resistência
mole (digamos, nos 50 cm iniciais) é, em do aterro, permitindo alturas maiores e
geral, difícil pois ocorre “borrachudo” (o taludes mais íngremes) e como plataforma
aterro cede perante a passagem do rolo de reforço e contenção na base do aterro
compactador) e não se consegue atingir um apoiado em colunas (assunto este enfocado
grau de compactação adequado. Finalmente, adiante em item específico).
existem casos nos quais o aterro, mesmo em 7) Drenos verticais pré-fabricados para
camadas de pequena espessura, afunda no aceleração de recalques. Os drenos
solo extremamente mole. Em suma, o verticais pré-fabricados (DVP) são dutos
lançamento de aterros convencionais tabulares de material plástico flexível,
diretamente sobre solos extremamente envoltos em geotextil drenante. Os DVP são
moles se apresenta inviável em muitos casos cravados verticalmente no terreno. Eles
se não associado com outras posturas. encurtam a distância que a água tem que
5) Sobrecarga. A sobrecarga é uma espessura percorrer, para escapar da massa de solo em
de aterro aplicada acima da espessura adensamento. Os DVP são fornecidos em
necessária. Denomina-se “espessura carretéis (tipicamente com 200 m de
necessária” do aterro à soma alteamento comprimento) e são cravados no terreno,
desejado para o terreno com o recalque com auxílio de tubulação de aço (o
esperado. O uso de sobrecargas sobre “mandril”, cuja seção, em geral é
aterros convencionais é, praticamente, retangular). Os DVP podem ser cravados
compulsório em terrenos com solo em solos extremamente moles até
extremamente mole posto que, se for profundidades que excedem os 35 m. O uso
construída apenas a espessura necessária, o de DVP, adequadamente fabricados e
tempo para que os recalques (primários e instalados, pode reduzir o prazo para que
secundários) cessem será muito grande. A aconteça o adensamento primário, de vários
sobrecarga pode ser utilizada para mitigar o anos ou décadas, para 1 ano ou menos. Esta
recalque secundário o qual pode demorar técnica, concebida no final dos anos 1940 na
muito para ocorrer e pode exceder 5% da Suécia, literalmente tirou os antigos drenos
espessura da camada de solo extremamente verticais de areia do mercado e, vem sendo
mole (Sandroni, 2006a). São quase amplamente utilizada em todo o mundo nos
invariavelmente necessárias bermas laterais últimos 30 anos (Hansbo e outros, 1981;
de equilíbrio para evitar deslizamentos. As Holtz e outros, 1991).
8) Vácuo. Os DVP podem ser associados à ou bombeamento, com solos de
aplicação de vácuo. Nesse caso os DVP são praticamente qualquer tipo emulsionados
cravados evitando que eles alcancem solo em água. As paredes do geotubo são
permeável que porventura exista subjacente permeáveis, de modo que, à medida que é
ao solo extremamente mole. Para cima, os preenchido, o excesso de fluido que
DVP drenam para um tapete de areia dotado acompanha o solo escapa. Hoje em dia é
de tubos perfurados. Os tubos descarregam comum o uso de geotubos na estocagem e
em um coletor ligado a um sistema de no tratamento (concentração) de resíduos
vácuo. Valas são escavadas na periferia do fluidos como lamas industriais e de
aterro, de maneira que sua base fique abaixo saneamento e de vasas de dragagem. Os
do nível de água. As valas e o tapete geotubos podem ser usados como contenção
drenante são cobertos com uma periférica de aterros sobre solos
geomembrana. Alternativamente, existem extremamente moles. Devido a sua natureza
sistemas de vácuo nos quais as pontas flexível e ao fato de ser preenchido
superiores dos DVP, em ponto que ficará gradativamente, o geotubo se adapta aos
sempre abaixo do nível de água, são ligadas deslocamentos do material em que se apóia,
(uma a uma) a tubulações impermeáveis tornando possível sua implantação na
conectadas com coletores com vácuo. Neste superfície de solo extremamente mole. Não
caso não é necessária a membrana. Em foram encontrados relatos deste tipo de uso
condições ideais é possível induzir uma dos geotubos no Brasil, mas há casos
sucção da ordem de 70 kPa no solo mole, internacionais consignados na literatura
que equivale a aplicar uma altura de aterro técnica.
da ordem de 4 m, sem risco de 11) Endurecimento de camada superficial
deslizamento. É desejável aplicar algum por mistura com cimento seco. O
aterro de modo que a depressão de recalques tratamento consiste em misturar cimento
seja preenchida, alem de evitar a volta a seco com o solo extremamente mole, de
níveis de tensão muito baixos, após o maneira que a pega do cimento utilize a
desligamento do sistema de sucção. Pode-se água do próprio solo. O equipamento
utilizar uma combinação de sucção com compreende um reservatório pressurizador e
sobrecarga (digamos, com espessura um misturador rotativo acoplado a uma
suficiente para levar o terreno até uma escavadeira hidráulica que permite criar
condição normalmente adensada) de modo uma “laje” de solo endurecido, com
que, em conjunto, seja aplicada uma carga profundidade de até 5 ou 6 metros. A
equivalente bem maior do que a da aplicação pioneira dessa técnica foi em um
espessura de aterro que poderia ser aterro-teste, realizado em 1993, em
construída em uma única etapa. Vesttontensuo, Finlândia. Desde então
9) Aterro com materiais leves. Há vários diversas obras foram realizadas na Finlândia
materiais leves que podem ser utilizados e em outros países nórdicos. Há
para diminuir o peso de aterros e, por equipamentos desse tipo disponíveis no
conseguinte, reduzir os recalques e Brasil e em uso desde o final de 2007. No
aumentar os coeficientes de segurança Brasil vem sendo utilizada a denominação
quanto a deslizamento. Dentre eles podem “stabtec” ao passo que, no exterior, utiliza-
ser citados os blocos de isopor e as lascas de se a denominação “massive dry mix”. A
pneus (ver, por exemplo, Sandroni, 2006b). literatura técnica específica sobre o assunto
São recentes as primeiras aplicações de ainda é escassa, mas os trabalhos existentes
isopor em aterros sobre solo extremamente sobre colunas misturadas a seco (abordadas
mole no Brasil. Não foram encontrados a seguir) trazem muitos subsídios
registros de uso de aterros com lascas de interessantes.
pneus em nosso País. 12) Colunas de mistura de solo mole com
10) Geotubos. Geotubos são tubulações de ligantes. Trata-se de formar colunas de solo
geossintéticos preenchidas, por dragagem misturado no local, com ligantes (cimento
ou cal, entre outros) injetados secos ou primeira vez no Brasil, há cerca de 2 anos,
misturados com água (caldas). A injeção de na obra da CSA, no Rio de Janeiro. As
caldas sob alta velocidade com hastes colunas encamisadas são envoltas por um
rotativas, formando as colunas por geotextil tubular sem costura e requerem o
desagregação hidráulica do solo, é uma uso de tubo de aço, que é sacado, por
técnica em uso há décadas no Brasil, que vibração, após a inserção da camisa e seu
recebe o nome genérico de “jet-grout” (ver preenchimento com areia ou brita. Trata-se
Guatteri e outros, 2008). Solo misturado de técnica que começou a ser utilizada na
com caldas de cimento, injetadas com Alemanha, em meados dos anos 1990. No
ferramentas rígidas rotativas, que resultam Brasil, a obra pioneira foi executada em
em colunas com diâmetro definido pelo 2006 (Andrade e Silva, 2006; de Mello e
diâmetro da ferramenta (às vezes chamadas outros, 2008) num trecho de rodovia em São
de “rotocrete”), também já foram utilizadas José dos Campos, SP.
no Brasil (ver, por exemplo, Sandroni, 14) Aterros reforçados com geossintéticos
2000). As colunas misturadas a seco, apoiados em colunas. Trata-se de apoiar
utilizadas desde os anos 1970 em diversas aterros com reforços geossintéticos em
partes do mundo, particularmente em países colunas construídas desde a superfície até
do norte da Europa (ver, por exemplo: apoio em solo de melhor qualidade situado
Holm, 2000; Broms, 2004), ainda não abaixo do solo extremamente mole. As
encontraram aplicação no Brasil. As colunas colunas podem ser de material granular ou
misturadas a seco consomem uma de misturas de solo com ligantes, acima
quantidade de cimento menor do que as mencionadas. O reforço geossintético,
colunas confeccionadas com caldas. As posicionado na base do aterro, pode ser
colunas a seco não produzem resíduos, ao constituído por uma ou duas camadas de
contrário das colunas com caldas que geogrelha ou geotextil de alta tenacidade ou
refluem para a superfície algo como 25% do por diversas camadas de geotextil menos
volume de solo tratado. Por esses motivos, é tenaz.
de se esperar que no futuro próximo as 15) Aterros reforçados com geossintéticos
colunas misturadas a seco venham a ocupar apoiados em estacas. Nesse caso os
seu nicho no mercado Brasileiro. reforços geossintéticos são geogrelhas ou
13) Colunas de material granular. São geotexteis de alta resistência e o conjunto de
colunas de areia ou brita implantadas no aterro e reforços tem apoios constituídos por
terreno com ou sem auxílio de tubo de aço, capitéis de concreto armado sobre estacas de
envolvidas ou não por camisa geotextil. O concreto ou aço. O caso pioneiro no Brasil
tubo de aço pode ser introduzido no terreno foi um trecho da ferrovia Ferronorte em
por vibração (caso em que há deslocamento Chapadão do Sul, MS em 1998-99
do solo muito mole) ou após a realização de (Vertematti & Montez, 2006) na qual foram
prefuro (com equipamento tipo estaca utilizadas estacas tubulares de aço injetadas
hélice). As colunas sem camisa podem ser com comprimento de até 14 m e com
construídas com ou sem tubo de aço. No diâmetro nominal de 15 cm (denominadas
caso da construção sem tubo de aço, o “alluvial ankers”) e capitéis de concreto
material granular é brita e as colunas podem armado pré-moldados quadrados com 0,5 m
ser alargadas e compactadas por vibração de lado. A distribuição das estacas foi em
em profundidade (com vibroflotadores). O arranjo quadrado com espaçamento entre
uso de colunas granulares não encamisadas 1,35 m (parte central do aterro) e 1,80 m
em SEM pode encontrar alguma oposição (nas laterais). Foi utilizada uma geogrelha
com base no receio de que não exista de poliéster com resistência de 400 kN/m na
suficiente reação lateral para permitir a direção do eixo e 150 kN/m na direção
adequada configuração da coluna. As transversal. A espessura do aterro chegou
colunas sem camisa construídas com aos 9 m. Em alguns casos nacionais
vibroflotadores, foram utilizadas, pela posteriores, nos quais foram utilizados
capitéis de concreto moldados no local  Aceleração de recalques, com ênfase nos
sobre estacas de concreto cravadas até uma tapetes drenantes posicionados na base
nega fechada, ocorreu o rasgamento das de aterros e no espaçamento entre
geogrelhas (Sandroni e outros, 2010), drenos verticais pré-fabricados (DVP);
sugerindo que o contato direto entre a  Colunas granulares, com ênfase nas
geogrelha e apoios rígidos de concreto com granulares encamisadas com geotextil
cantos vivos requer cuidados especiais. sem costura (CGEs);
16) Aterro sobre laje de concreto estaqueada.  Mistura massiva com cimento seco
Nesse caso, o aterro é construído sobre laje (MCS).
de concreto armado apoiada sobre estacas
(em geral, pré-moldadas de concreto Esses assuntos foram escolhidos seja porque
armado) cravadas até a nega. Com esta persistem questões práticas (tapete drenante e
postura os recalques e o risco de rupturas espaçamento entre DVP), seja porque são
por deslizamento do aterro são eliminados. recentes no mercado Brasileiro (colunas
Seu custo é elevado. É muito sensível a granulares com geotextil e mistura massiva de
qualquer obra que venha a ser construída em cimento seco).
suas adjacências, particularmente aterros
que podem causar a quebra das estacas. 1.3 – Aceleração de recalques
17) Congelamento. Trata-se de congelar o solo
por circulação de nitrogênio líquido em 1.3.1 – Vazão e pressão no tapete drenante
tubulações nele inseridas. Consegue-se
transformar o terreno em material duro em A vazão que flui para o tapete drenante
poucas horas. É uma alternativa cara e de posicionado na base de aterros sobre solos
aplicação provisória. Foi utilizada, há mais extremamente moles é alta, principalmente no
do que 50 anos, pela primeira vez em nosso início do processo de adensamento. A figura 1
País, para evitar a queda do Edifício da mostra as vazões aos 5% de adensamento para
Companhia Paulista de Seguros, no centro uma ampla gama de espessuras de solo mole (3
de São Paulo. Recentemente, o a 15 metros) e valores de Cv (2x10 -4 cm2/s a
congelamento foi empregado para 3x10-3 cm2/s), para uma situação hipotética
escavação de poço em solo mole, em uma com altura útil do aterro (ou seja, ganho de
fábrica em Santo André, SP, (Guimarães altura depois dos recalques) igual a 2,00 m e
Filho, 2004). características geotécnicas típicas dos solos
extremamente moles da costa Brasileira
A maioria das posturas brevemente descritas (Cc/[1+e] = 0,45 e [’p-’vo] = 15 kPa).
acima é aplicável também em locais onde Observa-se que a vazão nos primeiros 15 dias
ocorram solos muito moles e moles (SPT até 2 se insere na estreita faixa que vai de 6,5x10 -8
e até 4, respectivamente, segundo as Normas m3/s a 1,3x10-7 m3/s/m2 (ou seja, em média,
Brasileiras). Existe uma vasta bibliografia 1,0x10-7 m3/s/m2 ou 0,50 litros/hora/m2, o que
sobre esses assuntos, incluindo livros recentes equivale a 5,0 m3/hora para cada 100 m x 100
(por exemplo: Kempfert & Gebresselassie, m).
2006; Moseley & Kirsch, 2004) e diversos
relatos em congressos.
São raras as obras de aterro sobre solo
extremamente mole em que se utiliza apenas
uma das posturas acima. Em geral, as posturas
são combinadas como, por exemplo:
construção em etapas com sobrecargas,
reforços geossintéticos e drenos verticais.

No presente escrito são enfocados três


aspectos:
carga hidráulica e a distância é a que está
mostrada na tabela 1 abaixo. Verifica-se que
para percursos maiores do que 10 ou 15 metros,
a altura de água, que deve existir no tapete para
que a água escoe, se torna significativa. Para
uma distância de fluxo de 30 m seria necessária
uma altura de água de 1,75 m no tapete. Uma
carga hidráulica desse valor funcionaria como
uma “contrapressão” que inibiria o processo de
adensamento.

Tabela 1 – Relação entre distância de fluxo e altura de


carga em tapete drenante
Figura 1 – Vazão que chega ao tapete drenante aos 5% Distância até a Altura de carga
de adensamento. saída do tapete hidráulica –
drenante – h (m)
x (m)
Para que a vazão que chega ao tapete escape, o 5 0,05
fluxo horizontal tem que obedecer à lei de 10 0,20
Darcy. Ou seja, para uma dada vazão (qv) 20 0,75
haverá uma relação entre o comprimento de 30 1,75
fluxo (x, igual à distância até o ponto mais Obs: tapete drenante com 0,50 m de altura, com
próximo de saída do tapete) e a altura de carga permeabilidade de 1X10-4m/s que recebe uma vazão de
hidráulica (h, contada acima da base do tapete 0,50 litros/hora/m2.
drenante), que será função da área (a) de tapete
normal ao fluxo (igual à altura do tapete por
unidade de largura) e da permeabilidade (k) do As considerações acima mostram que ocorrerão
material do tapete. Igualando a vazão que elevadas cargas hidráulicas (e a conseqüente
chega ao tapete (qv) com a vazão que flui inibição do processo de adensamento) em
horizontalmente pelo tapete (qx), chega-se à tapetes drenantes de areia (mesmo que seja
equação mostrada na figura 2, que relaciona a areia limpa com permeabilidade alta), quando a
altura de carga hidráulica com a distância até a distância horizontal que a água tem que
saída do tapete drenante. percorrer for maior do que, digamos 10 metros.
Se os recalques da camada muito mole forem
acelerados com drenos verticais, as vazões
iniciais serão maiores e as distâncias
horizontais serão ainda menores.
O tapete drenante recebe, também, água
de chuva infiltrada através do aterro. A
percolação vertical descendente (supondo uma
situação de chuva prolongada, com o aterro
saturado e sem sucção) corresponde a um
gradiente unitário, de modo que a vazão por
Figura 2 – Relação entre a altura de carga hidráulica e a
distância até a saída do tapete drenante
unidade de área é numericamente igual à
permeabilidade do aterro (ka). Em outras
palavras, se a permeabilidade do aterro for da
Imaginando que o tapete drenante tenha ordem de 1x10-7 m/s (um valor típico para os
espessura de 0,50 m e possua permeabilidade aterros usuais), a vazão aportada por infiltração
igual a 1x10-4 m/s (valores típicos em muitas de água de chuva que chegará ao tapete
obras), e que nele incida a vazão de 0,50 drenante, será da mesma ordem de grandeza
litros/hora/m2, obtida acima, a relação entre a que a vazão produzida pelo processo de
adensamento.
Em suma, o projeto de tapetes de Além do sistema de drenos horizontais
drenagem na base de aterros construídos sobre inseridos no tapete de areia, é recomendável
solos muito ou extremamente moles deve, implantar poços de bombeamento, os quais
sempre, considerar a existência de vazões altas, devem ficar localizados em pontos nos quais se
que podem resultar em cargas hidráulicas esperam os maiores recalques. Assim fazendo,
elevadas as quais, por sua vez, podem reduzir a diminui-se a distância global de percurso da
eficiência do processo de adensamento. Para água e evita-se que a saída da água tenha que
contornar esse problema, deve-se implantar, no ser pela periferia do aterro (que costuma tornar-
tapete de areia, uma malha de drenos de brita se o ponto mais alto do tapete drenante, com a
limpa, envoltos em geotextil não tecido. Como evolução dos recalques). Como benefício
alternativa, dependendo de comparação de adicional, muito bem-vindo, aumenta-se a
custo, podem ser utilizados geocompostos eficiência do sistema de drenagem na medida
drenantes constituídos por georedes em que os recalques progridem, pois o ponto de
sanduichadas por geotextil não tecido, com ou bombeamento vai ficando cada vez mais baixo,
sem tubulações. Outra opção é uma camada já que o poço recalca junto com o aterro. A
contínua de brita limpa (com espessura, figura 3 mostra um poço desse tipo. Outra
digamos, de 15 ou 20 cm já que a brita tem medida desejável, quando se utilizam os poços
permeabilidade elevadíssima). Pode-se pensar, de bombeamento, é vedar a periferia do tapete
ainda, no uso de drenos pré-fabricados ou tubos drenante com solo argiloso, de maneira a evitar
flexíveis perfurados, posicionados a entrada horizontal de água de alagamentos, de
horizontalmente. enchentes ou do próprio nível freático externo
local.

Figura 3 – poço de bombeamento do tapete drenante. Vista geral (esquerda) e detalhe (direita)

A seguir descreve-se um caso de obra acelerar recalques foram implantados drenos-


instrumentada, na qual foram utilizados drenos fita verticais, distribuídos segundo triângulos
de brita e poços de bombeamento no tapete eqüiláteros, cravados hidraulicamente (com
drenante de um aterro sobre solo extremamente mandril retangular com 75 cm2 de área
mole com DVPs (Sandroni & Bedeschi, 2008). externa), com densidade de 1 dreno a cada 2
A obra em foco é um aterro com m2. Na base do aterro foi construído tapete
sobrecarga, com 4 a 5 m de espessura, drenante de areia limpa, com permeabilidade de
construído em etapas sobre 7 a 8 m de solo 1x10-4 m/s e espessura de 0,50 m. No tapete de
extremamente mole, existente em uma parte, areia foram implantados drenos de brita limpa
denominada “Área C”, de um grande (mistura livre de britas 1 e 2) , com 40 cm de
empreendimento residencial, construído na altura e 60 cm de largura, a cada 15 m (em
Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ. Para média), ligados por um dreno coletor com as
mesmas características. No cruzamento do toda a periferia do tapete drenante foi colocada
dreno coletor com um dos drenos transversais, uma camada argilosa de vedação, para impedir
a brita foi alargada e, à medida que o aterro era a entrada de água da lagoa vizinha. A figura 4
alteado, foi sendo implantado um poço de mostra uma planta esquemática da “Área C” e
bombeamento, constituído por anéis de adjacências.
concreto envoltos em geotextil não tecido. Em

Figura 4 – planta esquemática da obra na “área c”

O aterro foi construído em duas etapas com de pesquisa, Bedeschi, 2004). A figura 5
espera de 5 meses entre elas, chegando, no apresenta a evolução dos recalques, que
ponto em foco, a uma espessura de 4,25 m, chegaram a cerca de 2 m no prazo de 8 meses,
como mostrado na figura 5. Foi instalado um quando teve início a remoção da sobrecarga,
abundante sistema de instrumentação conforme previsto em projeto.
geotécnica com vistas ao acompanhamento da
obra (previsto em projeto e, também, para fins
Figura 5 – Alteamento do aterro e recalques na “área c”

A figura 6 mostra a evolução das cotas nível de água local (o que vem a funcionar
piezométricas no medidor de nível de água como se fosse uma sobrecarga adicional).
instalado no tapete drenante, bem como em Cabe observar que, quando o nível
dois piezômetros (um de tubo aberto e outro de piezométrico no tapete drenante fica abaixo do
corda vibrante) instalados a meia altura da nível regional, o sistema de bombeamento
camada muito mole, em ponto eqüidistante dos começa a bombear também a água da camada
drenos pré-fabricados. Os piezômetros indicam subjacente ao solo muito mole. Isso acontece
que ocorreu a dissipação dos excessos de porque os drenos verticais pré-fabricados
poropressão na camada muito mole. A conectam as camadas inferiores ao tapete
evolução das cotas piezométricas no tapete drenante. A conseqüência é um aumento da
drenante mostra que, a partir do terceiro mês o vazão que deve ser bombeada para fora do
nível piezométrico ficou abaixo da elevação do tapete drenante. No caso em foco, o aumento
nível de água local mostrando que o sistema de de vazão não foi expressivo porque a camada
drenos prefabricados passou a funcionar como subjacente, constituída por areia com finos, não
se estivesse sendo aplicada uma sucção. A tinha permeabilidade elevada. Em situação
rápida dissipação dos excessos de poropressão, diversa, com areia muito permeável sob o solo
na segunda etapa de carregamento (que se muito mole, deve-se pensar na possibilidade de
observa, entre os dias 150 e 170, na figura 6), interromper os drenos pré-fabricados um pouco
pode ser creditada a este aumento de eficiência. acima da base da camada muito mole.
Na fase final, a altura piezométrica no tapete
drenante ficou algo como 0,60 m abaixo do
Figura 6 – cotas piezométricas na obra da “Área c”

1.3.2 – Espaçamento entre drenos verticais pré triangular eqüilátera e espaçamento de 1,1 m,
–fabricados em uma área restrita, com cerca de 20 m x 20
m, de uma obra na qual os demais DVPs
Há já algum tempo são relatadas, na literatura possuíam espaçamento de 1,5 m. Os DVPs
técnica, experiências de campo nas quais não se foram cravados hidraulicamente, com mandril
observou o aumento esperável da velocidade de retangular com 75 cm2 de área externa. A
recalque, ao se utilizar espaçamentos menores evolução dos recalques, mostrada na figura 9,
entre drenos verticais pré-fabricados. Saye e foi praticamente igual nos dois casos,
outros (2001) verificaram (em aterros da estrada confirmando as experiências acima relatadas.
I-15, em Salt Lake City, EUA) que o tempo
para 95% de adensamento (determinado através
de recalques medidos) era igual para drenos
verticais prefabricados, espaçados de 1,0 m e de
1,5 m, como mostrado na figura 7. Rankine e
outros (2005) verificaram que a evolução dos
recalques em aterros sobre drenos espaçados de
1,0 m e de 2,0 m foi praticamente igual, como
mostra a figura 8.
Com vistas a verificar esta questão foi realizado
um experimento em uma obra de aterro sobre Figura 7 – velocidade dos recalques com diferentes
solo extremamente mole nas proximidades do espaçamentos entre drenos verticais (de Saye e outros,
Rio-Centro, Rio de Janeiro, RJ. A espessura 2001)
média do aterro foi de 2,75 m e a espessura de
solo extremamente mole foi de 10 m em média.
Foram instalados DVPs com distribuição
Figura 8 – Evolução dos recalques com diferentes espaçamentos entre drenos verticais (Rankine et al., 2005)

Figura 9 – Evolução dos recalques com diferentes espaçamentos (1,1 m e 1,5 m) entre drenos verticais – Rio Centro,
Rio de Janeiro, RJ
Acredita-se que esse comportamento possa ser zona fortemente amolgada nas imediatas
atribuído ao amolgamento causado pela vizinhanças do mandril. Ocorre uma intensa
cravação do mandril de aço utilizado para orientação do solo argiloso que tende a criar um
instalar os drenos. Pode-se considerar (Onoue e anel de permeabilidade muito mais baixa do que
outros, 1991) que o amolgamento, no caso, no restante da massa de solo.
apresenta duas facetas: “amolgamento A figura 11 apresenta esquematicamente
volumétrico” e “amolgamento periférico”, a área de abrangência dos dois efeitos de
como se passa a explicar. amolgamento. Para o caso de um mandril com
A zona de amolgamento volumétrico 15 cm x 5 cm (tal como o utilizado
tem um diâmetro da ordem de 6 a 8 vezes o rotineiramente nas obras Brasileiras, inclusive
diâmetro equivalente do mandril como sugerem as da Barra e do Rio-Centro, mencionadas
os estudos teóricos de Whittle e outros (1991), acima), a zona de amolgamento volumétrico
apresentados de maneira conveniente na figura teria um diâmetro da ordem de 60 a 80 cm. A
10. Nessa figura são mostradas as curvas de zona de amolgamento periférico tem volume
mesmo acréscimo de poro-pressão causado pela bem menor, limitando-se a alguns centímetros a
cravação de três mandris com a mesma área e contar da face do mandril.
diferentes formas (o acréscimo de poro-pressão
se deve em parte ao aumento da deformação
cisalhante a qual se pode associar com o
amolgamento). É interessante notar que as
curvas de mesmo acréscimo de poro-pressão
para as três diferentes formas de mandril são
praticamente iguais, sugerindo que o “volume
amolgado” depende principalmente da área do
mandril, importando menos a sua forma.

Figura 11 – dreno, mandril e zonas amolgadas em


situação típica.

É razoável imaginar que a dificuldade que a


água tem em atravessar as zonas amolgadas,
volumétrica e periférica, influencie a eficiência
do sistema de drenos, eventualmente
Figura 10 – Curvas de (U-Uo)/’vo=0,20 para cravação obliterando a vantagem da diminuição do
de tubos com a mesma área e diferentes formas. Método espaçamento.
da trajetória de deformação (Whittle et. al., 1991),
parâmetros da Boston Blue Clay e modelo Cam Clay É de interesse prático esclarecer se um
modificado. dos dois efeitos de amolgamento, o volumétrico
ou o periférico, predomina sobre outro.
Buscando contribuir para o esclarecimento
O amolgamento periférico (“smear”), como desta questão, foi concebido um DVP especial
indicado por estudos em modelo em laboratório com seção menor (7 cm2). Foram produzidos
(ver, por exemplo: Hird & Moseley, 2000; alguns milhares de metros desse dreno especial
Sathananthan & Indraratna, 2006) cria uma e, aproveitando uma obra com DVPs na Barra
da Tijuca, Rio de Janeiro, esses drenos especiais extremidade superior mergulhada na brita do
foram cravados com mandril com área de 28 tapete drenante e a extremidade inferior
cm2 em um trecho da obra com 20 m x 20 m penetrando, tipicamente, 1 a 2 m na camada
(drenos em distribuição triangular com lado arenosa subjacente.
1,50 m). A chapinha utilizada nos drenos O aterro, previsto para ser construído em
especiais tinha área maior do que o mandril, de etapas até uma espessura final máxima da
modo que os benefícios associados a um ordem de 4,5 m, teve, até o momento, em
eventual amolgamento menor podem ter sido média, a sequência de construção descrita a
prejudicados. No restante da obra foram seguir. Um aterro inicial (de conquista) com
cravados os drenos fita usuais (0,5 cm x 10 cm), espessura entre 0,80 m e 1,20 m foi lançado
com a mesma distribuição em planta, usando o entre julho e setembro de 2009. Em dezembro
mandril convencional de 5 cm x 15 cm (75 de 2009 (após a cravação dos drenos e a
cm2). O tapete drenante (de brita grossa limpa colocação do tapete drenante com 20 cm de
com 20 cm de espessura, com geotextil não brita e cobertura de 20 cm de saibro) recebeu
tecido por cima e por baixo) foi ligado a um mais 1,4 m totalizando uma espessura da ordem
poço de bombeamento. Em suma, o sistema de de 2,8 m até o início de março de 2010, quando
drenagem na base do aterro seguiu as uma nova espessura de 1,0 m começou a ser
indicações dadas anteriormente neste texto. construída em duas etapas de 0,50 m.
O perfil original do terreno, de cima para As áreas com drenos usuais e com
baixo, era constituído pelas seguintes camadas drenos especiais foram instrumentadas,
de solo mole: camada superior turfosa (com medindo-se recalques superficiais e profundos,
SPT = P/100; umidade média = 450% e níveis de água no tapete drenante e
resistência de palheta = 4 a 9 kPa) com 2 a 3 m poropressões em três profundidades. Aqui serão
de espessura; camada intermediária de argila comentados apenas os recalques. Os recalques
muito orgânica com conchas eventualmente totais observados até o início de março de 2010
arenosa (com SPT = P/100; umidade média = são da ordem de 2 m (figura 12). Na figura 13
210% e resistência de palheta = 10 a 20 kPa) estão os carregamentos e os recalques entre
com 3 a 5 m de espessura e, camada inferior de dezembro de 2009 e março de 2010 para as
argila orgânica (com SPT = P/50 a P/100; placas P64 (em trecho com drenos usuais) e
umidade média = 165% e resistência de palheta P05d (em trecho com drenos especiais).
= 20 a 30 kPa) com 6 a 8 m de espessura. Observa-se no período um recalque da ordem
Abaixo do solo mole o terreno apresenta de 1 m em ambos os pontos e uma evolução
camada de areia média com espessura da ordem semelhante dos recalques ao longo do tempo
de 2 m com SPT entre 5 e 10, seguida de um (ainda sem sinal de desaceleração). Esses
pacote sedimentar constituído por argilas resultados mostram que os drenos especiais
arenosas e areias com SPT elevado. Os drenos, funcionaram de maneira semelhante aos
tanto os usuais como os especiais, com convencionais (pelo menos, até o momento).
comprimento total médio de 18 m, tiveram sua
Figura 12 – histórico de atividades e carregamentos. Exemplo de evolução de recalque desde o início da obra (placa 55)

Figura 13 – comparação dos recalques em trechos vizinhos. Placa 64 em trecho com drenos verticais convencionais.
Placa 05d em trecho com drenos estrela. Arranjo triangular e espaçamento de 1,4 m nos dois trechos
No conjunto, os dados acima descritos sobre volumétrico como periférico) que também estão
espaçamento e tamanho dos drenos, quando a merecer estudos.
comparados com resultados teóricos, indicam
que nem o espaçamento entre drenos nem a área 1.4 - Colunas granulares encamisadas
do mandril que se utiliza para cravá-los influem
tanto na velocidade de recalque quanto seria de As colunas granulares encamisadas com
se esperar. Esse quadro pode ser interpretado, geotextil, CGE (ou GEC do Inglês “geotextile
preliminarmente, como evidência de que é o encased columns”), são constituídas por areia
amolgamento periférico que controla o ou brita envoltas por um geotextil tubular sem
funcionamento do sistema de drenos. É possível costura e com alta rigidez (J, tipicamente entre
que a permeabilidade da zona espelhada na 800 e 4000 kN/m). Esse tipo de coluna é
estreita faixa de amolgamento periférico seja conhecido no mercado Brasileiro como
tão mais baixa do que no restante do solo mole, “ringtrac”, nome utilizado pela fabricante do
que acaba por controlar a vazão que pode geotextil (Huesker), que dispõe de camisas com
chegar aos drenos verticais. Outra possibilidade diâmetros entre 0,60 m e 1,00 m.
é que a compressão secundária, cuja velocidade As CGEs foram concebidas por Van
não depende (ou depende pouco) da distância Impe nos anos 80 e começaram a ser utilizadas
de drenagem seja a parcela preponderante de na Alemanha, em meados dos anos 90. A
recalque. Esses temas estão a merecer estudos primeira obra Brasileira foi um trecho de
mais aprofundados. rodovia em São José dos Campos, SP (Andrade
A capacidade de vazão dos DVPs, que e Silva, 2006; De Mello e Hemsi, 2007; De
poderia ser também um limitador da velocidade Mello e outros, 2008). As CGEs visam,
de adensamento nos solos extremamente moles principalmente, reduzir o recalque de aterros
(as vazões, como visto, são muito elevadas), construídos sobre solos moles. Elas contribuem,
pode ser descartada como fator de influência também, para melhorar a estabilidade do aterro
posto que ensaios de capacidade de descarga, quanto a deslizamento pelo solo mole. É difícil
realizados nos principais DVP em uso no Brasil, obter estimativas precisas do recalque do aterro
mostram que a quantidade de água que pode sobre solo mole tratado com CGEs. O método
transitar pelos drenos é muito maior do que a de cálculo mais utilizado, devido a Raithel (ver,
vazão máxima esperável em cada dreno. De Raithel, 1999; Raithel e outros, 2005), se baseia
fato, imaginando que cada dreno se encarrega em hipóteses restritivas e requer grande número
de uma área de 2 m2, a vazão, nos termos da de parâmetros.
figura 1 seria 1 litro/hora, ao passo que a A utilização do método de Raithel em
capacidade de descarga medida nos drenos projeto é discutida em algum detalhe. Com
disponíveis no mercado fica na faixa de 50 a vistas a obter uma melhor compreensão do peso
100 litro/hora. de cada um dos principais parâmetros são
Outro aspecto relevante para os DVP é o apresentados gráficos que correlacionam o fator
efeito da retirada do mandril. Quando se saca o adimensional M = E oed.rc/J.(onde Eoed é o
mandril, sobra um espaço relativamente grande módulo de compressão unidimensional do solo
(volume entre a face externa do mandril e o mole em termos de tensões efetivas; r c é o raio
dreno) que o solo extremamente mole volta a da coluna; J é o módulo de rigidez do geotextil
ocupar. No caso usual da prática Brasileira a e  é relação entre as áreas com colunas e
área do mandril é 75 cm2 (15 x 5 cm) e a área total) com a redução de recalque e a
dos drenos é 5 cm2 (0,5 x 10 cm), de forma que concentração de carga nas colunas.
93% do volume deslocado pela cravação volta a Outro aspecto difícil de estimar é o
ser ocupado pelo solo mole. Esta “expansão” tempo que os recalques levarão para ocorrer.
deve afetar o solo nas imediações do dreno, Este assunto é brevemente enfocado no presente
com efeitos sobre a zona de amolgamento (tanto capítulo.
No final do capítulo, são apresentados e camisas com diâmetros de 0,60, 0,70, 0,80 e 1,0
comentados casos Brasileiros e internacionais m. Os diâmetros já utilizados no Brasil foram
de aplicação de CGEs nos quais foram medidos de 0,70 m e 0,80 m. A profundidade das colunas
os recalques. é uma decisão de projeto. Em geral, elas se
apóiam em camada competente subjacente ao
A principal conclusão é que, em presença das solo muito mole.
incertezas de projeto, é indispensável Costuma-se colocar uma ou mais
acompanhar as obras nas quais se utilizam camadas de reforço (em geral, geogrelhas) no
GECs com instrumentação adequada. aterro acima do topo das CGEs, visando
uniformizar a distribuição de carga e melhorar a
estabilidade na periferia do aterro.
1.4.1 – Execução e funcionamento das colunas Além de uma maior capacidade em relação
às colunas granulares não encamisadas, as
As CGEs são executadas inserindo, no solo CGEs apresentam algumas interessantes
muito mole, um tubo de aço com a ponta vantagens, quais sejam:
fechada, dentro do qual se coloca o geotextil
sem costura e o material granular. Findo o  A presença da camisa de geotextil
preenchimento, a ponta é aberta e o tubo de aço permite que as colunas CGE sejam
é sacado vibratoriamente, o que tende a implantadas em locais com solos em
densificar o material granular. As fotos condição quase fluida.
mostradas na figura 14 mostram aspectos do  A camisa minimiza estrangulamentos e
processo de execução. No caso de solos muito seccionamentos das colunas já instaladas
moles, com resistência não drenada menor do que poderiam ser causados pelos
que 10 kPa a 12 kPa, é possível fazer inserção estufamentos e deslocamentos laterais
vibratória do tubo de aço com ponta fechada, durante a implantação das colunas
deslocando o solo. Em solos menos moles, onde adjacentes.
a inserção vibratória não é viável, é necessário  A camisa funciona como separador e
realizar prefuro antes da inserção do tubo, como filtro entre o solo mole e o solo
restando o solo extraído que deve receber granular.
destinação final adequada.  A camisa praticamente afasta o risco de
Os arranjos mais comuns em planta são ruptura por alargamento na parte
as distribuições segundo triângulos eqüiláteros e superior da coluna, que é a maneira mais
segundo quadrados. As colunas costumam comum de ruptura das colunas
ocupar entre 10% e 20% da área tratada granulares não encamisadas.
(excepcionalmente, 5% a 25%). Existem
FIGURA 14 – Fotos dos procedimentos de execução de CGEs: (a) tubo de cravação com alargamento na ponta inferior;
(b) detalhe do geotextil tubular sem costura; (c) introduzindo o geotextil no tubo; (d) enchendo com areia

A principal desvantagem das CGEs em relação O recalque da coluna, por outro lado, resulta na
às colunas granulares não encamisadas é o tendência de redistribuir o arqueamento, de
preço. O prazo de execução das CGEs é maior modo que a carga vertical no solo tende a
devido à menor produtividade (metros de aumentar. Perante o aumento de carga (vertical
coluna implantados por turno de trabalho), pelo e horizontal), o solo mole adensa (sendo o
menos em comparação com as colunas não adensamento acelerado pelo efeito de dreno
encamisadas executadas com vibroflotadores. vertical da coluna) e o arqueamento se
redistribui, carregando de novo a coluna.
Adicionalmente, o arqueamento é influenciado
1.4.2 – Projeto de colunas granulares pela geogrelha que, em geral, se coloca na base
encamisadas do aterro. Essa sequência de eventos acontece
como processo contínuo, ao cabo do qual as
O funcionamento de um terreno constituído por deformações tendem a cessar e o
solo mole tratado com colunas granulares e compartilhamento de cargas entre a coluna e o
carregado por aterro é uma complexa sucessão solo mole tende a se estabilizar.
de interações entre o aterro, a coluna e o solo Por causa dessa complexa interação e do
mole. A coluna é mais rígida do que o solo, de fato das colunas apresentarem recalques, um
maneira que tende a atrair mais carga sistema de colunas granulares em solo mole é,
(arqueamento no aterro). Com o aumento de em geral, considerado como um método de
carga a coluna tende a recalcar e se expandir melhoramento do solo, ou seja, um sistema que
lateralmente, aumentando a tração tangencial na cria uma massa (solo mole + colunas) menos
camisa geotextil e a tensão horizontal no solo. compressível e mais resistente do que o solo
mole original. Trata-se de uma situação “módulo equivalente”, E* (Ghionna e
diferente da transferência direta das cargas para Jamiolkovski, 1981), dado pela fórmula [iii].
as camadas competentes mais profundas, que Uma vez obtido rc, pode-se calcular o recalque
ocorre, por exemplo, em aterros apoiados em final, com (o qual, por hipótese do método, é
estacas de concreto armado cravadas até a nega. igual no solo e nas colunas), através da fórmula
Em presença da complexidade acima [iv].
delineada, o tratamento teórico das CGEs é
muito difícil. A literatura técnica recente A aplicação rigorosa do método requer a
(Alexiew, Brokemper e Lothspeich, 2006; divisão em fatias horizontais homogêneas,
Santos, Vidal, Queiroz & Montez, 2007) aponta resultando em grande quantidade de contas só
o método de Raithel (1999), que pode ser realizáveis em computador (Santos, Queiroz e
encontrado em Raithel e outros, (2005) e em Vidal, 2008). Dada a quantidade de variáveis (e
Kempfert e Gebresselassie, (2006), como o as conseqüentes incertezas), em estimativas
procedimento usual para projeto de CGEs. Esse preliminares, caso não existam contrastes
método compreende a solução simultânea de acentuados no pacote de solo muito mole, se
duas equações com grande quantidade de apresenta razoável considerá-lo como uma
variáveis (fórmulas [i] e [ii]) contendo duas camada só com parâmetros homogêneos e
incógnitas (rc, a variação de raio da coluna e, tensões médias.
vs, a variação de tensão vertical no solo
mole). Nas equações [i] e [ii] aparece um
Nas fórmulas [i] a [iv] ac é a relação de áreas pelo coeficiente de empuxo ativo e acreditam
(, expressa em decimal), r0 é o raio inicial do que essas hipóteses divirjam bastante da
coluna e, h0 é a espessura inicial da camada realidade.
mole. Os demais símbolos das fórmulas [i] a Outra hipótese severa do método de
[iv] são como na figura 15. Raithel é a igualdade entre os recalques finais
Santos, Queiroz, Vidal e Montez, (2007) nas colunas e no solo.
destacam que o método de Raithel parte da
hipótese que a coluna se deforma a volume
constante e que as tensões horizontais são dadas

Figura 15 – Esquema e símbolos do método de Raithel


Agravando a dificuldade analítica, os s = 1,78 rc /√ para distribuição
procedimentos executivos influem de maneira segundo quadrados.
decisiva na tração que existirá na camisa logo
após a instalação, cabendo destacar os seguintes A área efetiva (Ae, área de interesse para cada
dois aspectos: coluna) pode ser obtida com:

 Pode-se usar geotextil “folgado” (rgeo > Ae = 0,866.s2 para distribuição segundo
rc) ou com diâmetro igual ao do tubo triângulos eqüiláteros;
(rgeo = rc). Haverá uma importante
diferença na tração inicial no geotextil. Ae = s2 para distribuição segundo
Em uma situação qualquer de campo, a quadrados.
tração inicial será diferente de zero e
desconhecida. O raio efetivo (re, raio do circulo com área igual
 Às vezes se usa um alargamento em à área efetiva) é dado por:
forma de sino na ponta inferior do tubo,
com o duplo fito de diminuir a aderência re = 0,525.s para distribuição segundo
na inserção do tubo e de evitar rasgar o triângulos eqüiláteros;
geotextil quando da extração do tubo
(ver figura 14 (a)). O diâmetro do re = 0,564.s para distribuição segundo
geotextil, logo após sua instalação, quadrados.
depende de quanto desse espaço ele
venha a ocupar, de modo que não se O recalque sem colunas, nos termos do método
consegue ser preciso quanto ao valor de Raithel, é obtido com a fórmula: sem =
inicial da tração no geotextil. h.vs/Eoed. Ao utilizar o método de Raithel
para obter o fator de melhoramento ( =
O método de Raithel tem embutida uma sem/com), o recalque sem colunas tem que ser
hipótese de arqueamento (a tensão final sobre a considerado segundo esta fórmula,
coluna é maior do que a tensão final sobre o independente de se ter uma estimativa mais
solo). Ele deve ser usado com reservas quando a precisa ou confiável do recalque. O módulo de
espessura aterro for menor do que a necessária compressão unidimensional do solo em termos
para a formação do arco. Em termos simples de tensões efetivas (Eoed) é um parâmetro que
deve-se ter Hat (espessura do aterro) maior do influi muito nos resultados dos cálculos. No
que s (espaçamento entre centros de colunas caso de solos normalmente adensados a escolha
adjacentes). O uso de pequenas espessuras de do valor de Eoed pode ser feita utilizando a
aterro faria, em princípio, com que o modo de figura 16 que apresenta a relação entre Eoed e a
ruptura passasse a ser o puncionamento tensão vertical efetiva, em função de Cc/(1+e).
(Folque, 1990), embora o reforço geossintético, A tensão vertical efetiva pode ser considerada
normalmente colocado na base do aterro, como a média entre a inicial (existente antes da
introduza uma dose extra de resistência no obra) e a final (sob a carga total de aterro após
combate ao puncionamento (para cuja adensamento).
estimativa não há procedimento consagrado que Acontece que a cravação do tubo por
seja do conhecimento do autor). deslocamento amolga praticamente todo o
O espaçamento (s, distância entre terreno circundante, de modo que o solo muito
centros de colunas adjacentes) pode ser obtido mole perde sua rigidez original. Por outro lado,
em função da relação de áreas ( em decimal) o efeito de adensamento acelerado no solo
e do raio das colunas (rc) com as seguintes muito mole, propiciado pelo funcionamento das
expressões: colunas como drenos verticais, leva ao aumento
da rigidez. Assim, o módulo de deformação do
s = 1,90 rc /√ para distribuição solo muito mole (ou seja, o influente valor E oed,
segundo triângulos eqüiláteros; utilizado no método de Raithel) é praticamente
impossível de fixar com precisão. Na prática,
considerando os efeitos contraditórios, costuma-
se usar o módulo de rigidez do solo em sua
condição inicial (Kempfert e Gebresselassie,
2006).

Figura 16 – Gráfico para escolha de Eoed a partir da tensão vertical e de Cc/(1+e) –


Solo Normalmente adensado

A fixação de parâmetros para o conjunto O tratamento analítico das colunas tipo CGE é
formado pelo solo mole e as colunas CGEs, cercado de muitas incertezas. Por essa razão,
pode ser feita aceitando que a participação do não se justificam maiores sofisticações nos
solo mole e das colunas é proporcional à área cálculos de projeto de CGEs. Esta é uma
que cada um ocupa em planta, assim: situação comum em obras moldadas no terreno.
PEQUIV=PSOLO.(1-)+PCOL.sendo: P = Nessa medida, o método de Raithel, apesar das
parâmetro qualquer (peso específico, coesão, restrições feitas acima, se apresenta como
tangente do ângulo de atrito, módulo de razoável para as estimativas de projeto.
compressibilidade, etc), PEQUIV = parâmetro O método de Raithel requer como já
equivalente da massa de solo com colunas; comentado, a solução simultânea de duas
PSOLO = parâmetro do solo; PCOL = parâmetro da equações com mais do que uma dezena de
coluna e  = área com colunas / área total. incógnitas, o que torna difícil perceber a
No caso da resistência ao cisalhamento, influência das diversas variáveis sobre o
é preciso compatibilizar as deformações do solo resultado final, algo imprescindível na prática
e da coluna. Para o ângulo de atrito das colunas da engenharia geotécnica (Terzaghi, 1943).
deve-se considerar a condição fofa (“estado Buscando superar este inconveniente, foi
crítico”) do material granular. A contribuição realizada uma série de cálculos pelo método de
do geotextil das camisas não costuma ser levada Raithel, variando os principais parâmetros e
em conta no cômputo da resistência da massa considerando-os constantes ao longo da
tratada com CGEs. profundidade. O raio da camisa de geotextil
(rgeo) foi considerado como igual ao raio inicial
da coluna (rc). Os parâmetros de menor
1.4.3 – Comentários sobre o método de Raithel influência foram fixados, a saber: Kos = 0,5;
Kos* = Kos; at = 19 kN/m3; solo = 14 kN/m3 ;
col = 20 kN/m3. Dois valores foram atribuídos
ao coeficiente de Poisson ( = 0,33 e 0,40) e ao Pode-se aventar que exista um “valor
ângulo de atrito do material granular das ótimo” de M para o qual seja obtido um valor
colunas ( = 30 e 40 graus). Os demais satisfatório de  (digamos, maior do que 3 mas
parâmetros (h, Hat, Eoed, rc, J, ) foram não excessivamente alto) e, ao mesmo tempo,
continuamente variados de modo a resultar em ocorra um compartilhamento equitativo da
um amplo leque de resultados (rc e vs). Os carga do aterro pelo solo e pelas colunas
resultados foram tabelados em planilha e os (eficiência em torno de 50%). Observando as
valores do fator de melhoramento ( = figuras 17 e 18 nota-se que este “valor ótimo”
sem/com), da variação de tensão na coluna de M é da ordem de 1, ou seja, pode-se escrever
(vc) e da eficiência (E=.vc/vo = J/Eoed = rc/. Esta relação pode servir como
parcela da carga total que vai para as colunas) ponto de partida para escolha da rigidez do
foram calculados. geotextil em função do valor de Eoed.
No decorrer desses estudos, verificou-se Lembrando que 0,30 < rc < 0,5 e que os valores
boa correlação entre os principais resultados do práticos de  ficam entre 0,1 e 0,2, chega-se a
método de Raithel e o parâmetro adimensional 1,5 < J/Eoed < 5,0 (J em kN/m e E oed em kPa).
M = Eoed.rc/J.. As figuras 17 e 18 mostram Assim, por exemplo, um solo com E oed = 200
relações de M com o fator de melhoramento () kPa requeria um geotextil com J ~ 700 kN/m
e com a eficiência (E), respectivamente. Estas (300 a 1000) e, se Eoed = 1000 kPa, J ~ 3000
figuras facilitam a percepção de alguns aspectos kN/m (1500 a 5000).
do método de Raithel que são comentados a
seguir. A utilização mais vantajosa das CGEs
parece corresponder a valores de M entre 0,5
(ou um pouco menos) e 5 (ou um pouco mais).
Como se vê na figura 17, para M menor
do que cerca de 0,5 os valores de  tornam-se
muito elevados e crescem muito rapidamente.
Isto indica uma situação em que o recalque sem
colunas é muito maior do que o recalque com
colunas o que ocorre, por exemplo, quando a
compressibilidade do solo mole (E oed) é muito
pequena em relação à rigidez do geotextil (J) ou
a relação de áreas ( é pequena. As curvas da
figura 18 confirmam esta impressão: para
valores de M menores do que 0,5 (ou, talvez,
um pouco menos), o aumento da eficiência é
muito pequeno. Valores de M menores do que
0,5 correspondem, portanto, a situações em que
as colunas tendem a absorver uma parte
excessiva da carga. Essas situações caminham
na direção das colunas “rígidas” e acabariam
por exigir uma capacidade de carga na ponta
inferior da CGE que pode não estar disponível.
Já para valores de M maiores do que
cerca de 5, os valores de  passam a ser
pequenos o que significa que não haveria
vantagem no uso de CGEs. Coerentemente, a
eficiência tende a um valor pequeno quando M
é maior do que 5 (ou um pouco mais), o que
significa que a maior parte da carga do aterro
continuaria atuando sobre a argila.
Figura 17 – Relação entre M e  - Método de Raithel

Figura 18 – Parcela da carga que vai para as colunas cf. Método de Raithel
1.4.4 – Velocidade de recalque de aterros com ao longo do tempo dos recalques de um aterro
CGEs sobre solos moles com CGEs. Os fatores tempo,
obtidos por esses autores, para adensamento
O método de Raithel não leva em conta o fator radial (que, no caso em foco, domina o processo
tempo. Seus resultados valem para a situação em termos práticos) estão reproduzidos na
final, após a estabilização dos recalques. As figura 19.
experiências em obras Brasileiras e outras, Han e Ye (2001) utilizam o parâmetro N
relatadas na literatura técnica internacional, = de/dc (relação entre os diâmetros de influência
indicam que os recalques praticamente cessam e da coluna). Em termos dos símbolos usados
poucos meses depois de completado o aterro. no presente trabalho, tem-se N = 1/√.
O tratamento teórico da questão do Considerando na ampla faixa entre 5% e
tempo é sujeito a incertezas ainda maiores do 25%, os valores de N ficam, aproximadamente,
que a obtenção do recalque. Santos, Queiroz e entre 2 e 5. Como mostrado na figura 19, para
Vidal (2008) abordaram este assunto. Às porcentagens de adensamento maiores do que
dificuldades antes apontadas, soma-se a escolha 90%, esses valores de N correspondem a fatores
de coeficientes de adensamento vertical e tempo T’r (= C’r . t / de2) entre 0,07 e 0,30.
horizontal (Cv, Cr) os quais são, em geral, Como de/dc = N = 2 a 5 e dc varia entre 0,60 m e
diferentes e sensíveis ao amolgamento e ao 1,00 m, se segue que, no âmbito dos intervalos
nível de tensões efetivas. Acresce que, ao de parâmetros cabíveis, tem-se de entre 1,2 m e
contrário dos drenos verticais fibro-químicos, a 5,0 m. Assim, a relação entre o tempo para mais
participação das colunas na sustentação de parte do que 90% de adensamento (t>90, em dias) e o
da carga imposta pelo aterro não pode ser coeficiente de adensamento (em m2/s) é escrita:
desprezada. t>90 = (3 a 30 x 10-6) / C’r.
Han e Ye (2001) apresentam estudo
analítico no qual procuraram levar em conta os
diversos fatores envolvidos no desenvolvimento

Figura 19 – Adensamento radial com CGEs (Han e Ye, 2001)


Considerando o caso dos solos costeiros com a relação de áreas, , (área com colunas /
extremamente moles brasileiros, nos quais os área total). Esses autores apresentam curvas
valores de C’r costumam ficar entre 1x10 -7 m2/s médias, levando em conta a rigidez do geotextil
e 3x10-7 m2/s (Sandroni, 2006b), o tempo (J).
teórico para conclusão (ou quase) dos recalques Pode-se dizer (ressalvando a grande
seria entre 10 e 300 dias. Este intervalo não é dispersão dos pontos) que o tratamento reduz os
estreito o suficiente para a prática, mas não há recalques entre cerca de duas e mais do que
como negar que ele engloba as experiências cinco vezes.
obtidas no campo (cessação dos recalques em A tabela 2 apresenta 6 casos de obra
poucos meses). com GEC nas quais foram encontrados detalhes
sobre as condições e os recalques. Cinco
primeiros casos são de Raithel, Kirchner,Schade
1.4.5 - Exemplos de obras com CGEs: Obras no & Leusink (2005) e o sexto (Hamburg) é de
Estrangeiro e no Brasil Raithel, Küster & Lindmark (2004). São
apresentados os principais parâmetros de cada
Casos estrangeiros caso e os valores de  observados e calculados
com o método de Raithel (supondo Eoed entre
O efeito das colunas na redução dos recalques, 500 kPa e 1000 kPa, c = 30º e  = 0,33).
em casos de obras com monitoramento, pode Verifica-se que a concordância entre teoria e
ser apreciado na figura 20. São mostrados realidade é melhor, nos casos em foco, para E oed
pontos de diversas obras no estrangeiro = 1000 kPa.
(Raithel, Hüster e Lindmark, 2004)
relacionando o fator de melhoramento, ,
(recalque sem colunas / recalque com colunas)

Figura 20 – Gráfico-resumo de obras estrangeiras e nacionais (Casos Vidoca e Santa Cruz com J =
2000 kN/m)
Tabela 2 – Casos bem documentados de obras estrangeiras

Casos Brasileiros
O recalque medido no centro da seção, após a
Andrade e Silva (2006) e De Mello e Hemsi construção da segunda etapa de aterro
(2007) escreveram sobre a obra do aterro (espessura de 2,50 m), foi de 10 cm. Mello e
Vidoca, pioneira no uso de CGE no Brasil, de outros (2008) informam que os recalques
interligação entre as rodovias Presidente Dutra praticamente cessaram cerca de 3 meses depois
(Rio – São Paulo) e Carvalho Pinto, em São da aplicação do carregamento.
José dos Campos, SP. Esta obra e seu Considerando a etapa final de carga
monitoramento geotécnico foram descritos em (2,50 m de aterro), o recalque sem colunas pode
detalhes por De Mello e outros (2008) e por ser estimado em 40 cm. Para o recalque
Sandroni, De Mello, Gomes e Villar (2010). observado, de 10 cm (também considerado
A espessura de solo muito mole variou como tendo sido causado apenas pela etapa
entre 6,5 m e 10,0 m. A espessura de aterro final de aterro), a relação entre os recalques sem
ficou entre 5,0 a 8,5 m. O solo muito mole é e com colunas () é igual a 4. O valor de ,
uma argila silto-arenosa, com SPT entre 0 e 1,5, obtido através da figura 17 (M = 1,17 a 1,75, já
umidade por volta de 100% e resistência não que rc = 0,35 m, J = 1000 kN/m,  = 0,10 a 0,15
drenada dada por: Su = 6 kPa até 2 m de e, considerando Eoed = 500 kPa), fica entre 2,8 e
profundidade e crescendo com a profundidade 3,8 (para a curva de c = 30º e  = 0,33). Para
na proporção de 1kPa/m. que haja concordância com a realidade ( = 4),
Os tubos foram introduzidos por o valor de M tem que ser por volta de 0,9 o que
deslocamento, utilizando equipamento de implica em valores de Eoed entre 250 kPa e 400
execução de estacas tipo Franki. A camisa kPa.
geotextil tinha diâmetro igual a 0,70 m e rigidez Outra obra Brasileira com CGEs
(J) igual a 2000 kN/m. O espaçamento entre (Sandroni, De Mello, Gomes e Villar, 2010;
colunas variou entre 1,8 e 2,2 m, resultando em Alexiew, Moormann e Jud, 2010), sobre a qual
relações de áreas entre 10% e 15%. se dispõe de alguma documentação de
comportamento, foi na base de uma linha de de adensamento C’r em m2/s). Em qualquer
trilhos para uma empilhadeira de carvão em caso, é indispensável que a obra seja
uma siderúrgica no distrito industrial de Santa acompanhada com instrumentação geotécnica
Cruz, Rio de Janeiro. As GECs tinham diâmetro adequada.
de 0,78 m, profundidade entre 8 e 9 m, rigidez J
= 2000 kN/m e foram implantadas com
espaçamento de 2 m em arranjo quadrado. O 1.5 Tratamento massivo por mistura com
perfil do terreno apresentou 6 a 7 m de solo cimento seco
mole com qc de piezocone menor do que 500
kPa, seguido de uma camada de argila arenosa, 1.5.1 Execução do tratamento
com cerca de 2 m de espessura, sobreposta a
uma camada de argila orgânica com espessura O tratamento consiste em misturar cimento seco
entre 4 e 6 m e q c acima de 1000 kPa. A base (ou outro ligante ou mistura de ligantes) com o
das CGEs foi apoiada na camada de argila solo, distribuindo-o de maneira uniforme e
arenosa. Perante construção do aterro e do lastro formando, a partir da superfície, volumes
foi observado um recalque da ordem de 8 cm contínuos. A profundidade de tratamento não
que pode ser comparado com uma estimativa de costuma ultrapassar os 5 ou 6 metros. O
recalque de 25 cm se não houvesse CGEs ( ou endurecimento do cimento utiliza a água do
seja, o valor  foi da ordem de 3). solo. O nome internacional desse procedimento
é “massive dry mix”. No Brasil, é denominado
“stabtec” pela empresa que o executa utilizando
1.4.6 – Considerações finais sobre CGEs equipamento Finlandês. Traduzindo
literalmente, o nome genérico seria “mistura
A capacidade atual de estimar o recalque dos massiva a seco”.
aterros sobre solos moles com CGEs é limitada. O sistema Finlandês, ver figuras 21 e 22,
Ainda mais limitadas são as estimativas do compreende um tanque alimentador (que
tempo de evolução dos recalques. Para controla a quantidade e a pressão com que o
estimativas preliminares de recalque, com cimento seco é injetado) e uma escavadeira, em
reservas quanto às incertezas destacas antes, cuja cabine está o painel de controle. No braço
pode-se usar a figura 17. A estimativa da escavadeira é adaptada a cabeça de injeção e
preliminar do tempo para que os recalques mistura (um cilindro rotativo com chicanas,
praticamente se completem, com ainda maiores movido pelo sistema hidráulico da escavadeira).
reservas, pode ser feita com a relação: t >90=(3 a
30x10-6)/C’r (sendo t>90, em dias e o coeficiente

Figura 21 – Equipamentos do sistema de mistura de cimento seco com o solo mole


Figura 22 – Esquema do sistema de mistura de cimento seco com o solo mole

A mistura de ligantes secos com os solos moles nome internacional desse tratamento é “deep
é praticada há décadas, particularmente nos dry mix” ou, por tradução literal, “mistura
países do norte da Europa (Broms e Boman, profunda a seco”. A novidade da mistura a seco
1979), mas se voltou, até recentemente, para as em massa está em formar volumes superficiais
colunas, com profundidade passando dos 20 a contínuos (“lajes”) de solo tratado com ligante.
30 metros (Holm, 2000 e 2003; Broms, 2004),
conforme apresentado nas Figuras 23 e 24. O

Figura 23 – Vista de superfície de colunas de solo mole-cimento seco pelo método “deep dry mixing”.
Figura 24 – Vista em profundidade de colunas de solo mole-cimento seco pelo método “deep dry mixing”.

1.5.2 – Qualidade da massa tratada A tabela 3 mostra características obtidas


antes e depois do tratamento de uma massa de
As questões que se colocam são: características solo muito mole com 100 kg de cimento seco
geotécnicas do material tratado e tempo para cada m3. O solo tratado foi uma argila
necessário para que o material tratado chegue orgânica muito mole (SPT “nulo”) com
ao ponto desejado. Esses aspectos são umidade da ordem de 125%, da região costeira
abordados no que se segue. A homogeneidade, do sudeste Brasileiro. Observa-se que a
outro aspecto fundamental da massa tratada é umidade diminui acentuadamente, ficando por
enfocada mais à frente. volta de 45%. A mistura com cimento seco tem
A qualidade do material tratado se um efeito de curto prazo sobre a umidade
expressa, em geral, através da resistência à porque o ligante seco absorve a água do solo.
compressão simples determinada em amostras Em prazo mais longo as reações de pega do
obtidas em blocos ou com rotativas. cimento utilizam uma parcela adicional da água
Alternativamente, podem ser realizados ensaios do solo. Este assunto é abordado em detalhe
penetrométricos no local tratado, tais como adiante.
SPT, cone, pressiômetro ou dilatômetro. A Os dados da tabela 3 mostram que a
velocidade sônica do material tratado também compressibilidade diminui ao passo que a
pode oferecer boas indicações do produto pressão de sobre-adensamento e a resistência
obtido. aumentam. O solo mole tratado com cimento
A mistura de cimento seco com o solo tem comportamento e parâmetros geotécnicos
mole saturado resulta em diminuição da semelhantes aos de uma argila muito
umidade, aumento da resistência e diminuição sobreadensada.
da compressibilidade, entre outras vantagens.
Os aspectos químicos e de dosagem da mistura
com cimento seco estão enfocados adiante.
Tabela 3 – Ensaios antes e depois do tratamento por mistura com cimento seco – Blocos de fundação para siderúrgica
em Santa Cruz, RJ
SOLO MOLE,
SOLO TRATADO, SOLO TRATADO,
PARÂMETRO ANTES DO
PONTO 1 PONTO 2
TRATAMENTO
SPT P/30 - P/80 14 a 20
UMIDADE NATURAL (%) 125 43 47
LIMITE DE LIQUIDEZ (%) 135 ND ND
LIMITE DE PLASTICIDADE (%) 40 ND ND
PESO ESPECÍFICO (t/m3) 1,38 1,59 1,61
PRESSÃO DE SOBRE-ADENSAMENTO (kPa) ND 600 365
ÍNDICE DE COMPRESSÃO, Cc 1,15 0,36 0,42
RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES (kPa) ND 415 64
RESISTÊNCIA DE PALHETA (kPa) 12 ND ND
COESÃO EFETIVA, c' (kPa) ~0 28 16
ÂNGULO DE ATRITO EFETIVO, ' (graus) 30 39 30
RESISTÊNCIA DE PONTA CORRIGIDA, Qt (kPa) 200 2000

Em qualquer caso de obra, é indispensável


realizar previamente ensaios em misturas de
cimento (que se pretende utilizar na obra) com o
solo local, usando a água local. Devem ser
feitos ensaios de compressão simples (ou outro
tipo de ensaio julgado conveniente) em
amostras moldadas em laboratório para
diferentes concentrações de cimento (valores
típicos variam entre 50 kg/m3 e 250 kg/m3, nos
solos muito moles orgânicos do sudeste
Brasileiro), ensaiadas em diferentes tempos (por
exemplo: 7, 14, 28, 60 e 90 dias a contar da
moldagem). A título de exemplo a relação entre Figura 25 – Relação entre a resistência à compressão
o teor de cimento (em kg por m3 de solo simples e a taxa de cimento para uma lama de Sepetiba,
tratado) e a resistência à compressão simples, RJ
em uma lama orgânica de Sepetiba, RJ
(umidade natural = 172%; LL = 140%; IP =
62%; % de finos = 96%), para tempos de cura, Resultados de ensaios de compressão simples,
desde a mistura em laboratório, de 14 e 28 dias, em amostras moldadas em laboratório para
está na figura 25. diferentes concentrações de cimento (valores
entre 100 kg/m3 e 400 kg/m3, em turfas de 3
países europeus), ensaiados em tempos de cura
de 7 e 28 dias, são apresentados na Figura 26
(Holm, 2003). A necessidade de ensaios
específicos para cada turfa fica bem clara nesta
figura, com grandes variações de resistência de
acordo com as possíveis especificidades da turfa
local.
Figura 26 – Variações entre a resistência à compressão simples e a taxa de cimento para turfas na Irlanda, Suécia e
Holanda.

Resistências ao cisalhamento para com vários solos moles. A distinta influência de


concentrações de cal(25%)-cimento(75%) um aglomerante específico em diferentes
(valores entre 100 kg/m3 e 150 kg/m3) são solos moles fica muito clara nesta figura.
apresentadas na Figura 27 (Holm, 2003) para

Figura 27 – Influência de distintos solos quando da inserção de um mesmo aglomerante.

A Figura 28 (Holm, 2003) apresenta a (cimento-cal, cimento-cinza volante e cimento-


influência da pressão geostática na resistência escória) e tempos de cura variando de 7 dias a 1
de misturas turfa-agente cimentante, ano.
considerando 3 agentes cimentantes distintos
Figura 28 – Influência da pressão geostática na resistência da mistura turfa-agente cimentante (cimento-cal, cimento-
cinza volante e cimento-escória).

Consoli et al (2006) apresentam os efeitos da apresenta a relação existente entre índice de


tensão geostática de cura (e portanto do índice vazios de cura e RCS e o incremento da tensão
de vazios de cura) na resistência a compressão de plastificação, bem como com o módulo
simples (RCS) de amostras de um solo com 3 volumétrico inicial de um solo artificialmente
teores distintos de cimento Portland (1, 2 e 3% cimentado.
de cimento) (ver Figura 29). A Figura 30

Figura 29 – Variação da resistência a compressão simples para com o índice de vazios de cura.
Figura 30 – Relação existente entre índice de vazios de cura, RCS, incremento da tensão de
plastificação e o módulo volumétrico inicial de um solo artificialmente cimentado.

Consoli et al. (2000) mostram os efeitos da deslocamentos for importante para o projeto,
cura sob tensão em misturas de solo-cimento a obtenção de parâmetros de rigidez corretos
são avaliados, em termos de variação de torna-se fundamental e a aquisição apropriada
rigidez (variação do módulo de deformação do módulo de deformabilidade só será feita a
secante) para com a deformação axial (ver partir de amostras curadas sob tensão.
Figura 31). Resultados mostram o aumento da Amostras curadas sem tensão mostram uma
rigidez para com o aumento da tensão de perda da rigidez para com o aumento da
confinamento para amostras curadas sob tensão de confinamento, causada pela quebra
tensão. Quando a determinação dos da estrutura cimentante devido a aplicação
das tensões de confinamento após a cura ter determinação, por exemplo, de recalques de
ocorrido sem tensão, levando a determinação fundações superficiais sobre tais materiais
incorreta de tais módulos e a problemas na (maiores detalhes em Consoli et al. 1998).

Figura 31 – Mudanças no Módulo Secante para com a deformação axial para mistura de solo-cimento ensaiadas em
laboratório: (a) amostras curadas sem tensão de confinamento e (b) amostras curadas sob tensão.

O efeito do teor de umidade da mistura pode Nesta pesquisa foram avaliados distintos
ser verificado na Figura 32 (Holm, 2003). teores de agente cimentante (10 a 30%).
Figura 32 – Influência do teor de umidade da mistura na resistência da mistura solo-agente cimentante.

A figura 33 mostra comparações entre valores após mistura, com iguais concentrações de
de resistência à compressão simples obtida cimento e tempo de cura. Verifica-se que a
em amostras misturadas e moldadas em resistência de campo é cerca de 2 a 3 vezes
laboratório e em amostras coletadas no campo menor do que a de laboratório.

Figura 33 – Comparação da resistência de amostras misturadas no campo e no laboratório

A figura 34 mostra uma faixa de evolução obtida em laboratório, para diferentes


com o tempo da resistência do solo tratado, materiais, por Ahnberg e Johansson (2005).
Essa faixa, bem como os dados de obras condições químicas desfavoráveis (por
Brasileiras (solos argilosos orgânicos) exemplo: solos com presença de ácidos
inseridos na figura 34, indicam que, em geral, húmicos, de cloretos, de sulfetos, com pH
se obtêm considerável resistência em 1 baixo, etc) pode retardar (ou até inibir) a
semana e são atingidas resistências elevadas pega. O ligante pode ser corrigido com
ao cabo de 1 mês. Quanto maior a aditivos para enfrentar essas situações. Estes e
concentração (outros fatores permanecendo outros assuntos são enfocados em maior
constantes), mais rapidamente uma dada profundidade no item 3 deste texto.
resistência é atingida. A existência de

Figura 34 – Tempo para atingir uma dada resistência.

1.5.3 – Exemplos de obras Brasileiras com sofresse deslocamentos excessivos, causados


tratamento massivo pela construção do aterro, de maneira a
garantir a não interrupção do acesso ao píer.
Pátio de contêineres, Santa Catarina Como objetivos adicionais necessários
buscou-se garantir a estabilidade em qualquer
Trata-se da expansão de um pátio portuário ponto ou direção do pátio e reduzir a valores
destinado a contêineres com superfície na aceitáveis a magnitude e o tempo de recalque.
elevação final igual a +3,10 m. A expansão Ao cabo de comparações de custo entre
foi construída sobre uma área plana com diversas alternativas, as seguintes posturas
elevação por volta de +1,10 m, anteriormente foram escolhidas (ver seção típica na Figura
utilizada como “bota fora” para lama 35): (a) uma cortina, com espessura de 3 m,
heterogênea de dragagem. Sob a lama constituída por colunas justapostas de “jet-
encontra-se solo argiloso orgânico com SPT grout” e posicionada junto à ponte; (b) uma
menor do que 1 e com base por volta da “laje” de stabtec com espessura entre 4 e 6 m
elevação -12,00 m. sob o piso do pátio; (c) reforços com
Adjacente ao pátio em ampliação geogrelha no aterro; (d) drenos verticais
existe uma ponte antiga que dá acesso a um aceleradores abaixo da “laje” de stabtec; (e)
píer em operação. O objetivo principal do sobrecarga, constituída por uma espessura
projeto geotécnico foi evitar que a ponte adicional de aterro igual a 1,50 m.
O aterro foi lançado em camadas e instrumentos após o lançamento de cada 0,50
acompanhado com instrumentação constituída m de aterro, visando liberar (ou não) a
por placas de recalque e inclinômetros, cuja próxima camada. Resultados típicos obtidos
posição está esquematicamente indicada na estão apresentados na figura 37.
figura 36. Foram realizadas leituras dos

Figura 35 – Seção típica do projeto Pátio de Contêineres, Santa Catarina

Figura 36 – Instrumentação do Pátio de Contêineres, Santa Catarina


O comportamento quanto aos deslocamentos 2004). Alem de contribuir para a estabilidade,
horizontais (da ordem de alguns centímetros) a “laje de stabtec” cumpriu a outra função
foi considerado satisfatório pelos engenheiros desejada: enrijeceu os estratos superiores da
estruturais responsáveis pela integridade da camada mole que são responsáveis pela maior
ponte. A relação entre os volumes de parte dos recalques. O recalque atingiu cerca
deslocamentos verticais e horizontais (Vv/Vh) de 50 cm e tendeu a se estabilizar. Sem o
manteve-se acima de 7 e não apresentou endurecimento da parte superior estima-se
tendência de diminuição, o que indica uma que o recalque teria sido 3 vezes maior.
situação estável (Sandroni, Lacerda e Brandt,

Figura 37 – Resultados típicos da instrumentação do Pátio de Conteiners, Santa Catarina

Escavações para blocos de fundação, Rio com stabtec até profundidades da ordem de 5
de Janeiro a 6 metros, de maneira a viabilizar as
escavações necessárias, sem que adviessem
Na área de implantação de uma usina deslizamentos e levantamentos de fundo. A
siderúrgica, havia sido lançado aterro figura 38 mostra, esquematicamente, o
hidráulico arenoso, com espessura de 1,50 m, arranjo.
sobre camada de argila orgânica
extremamente mole, com espessura entre 4 m Os locais de diversos blocos (e conjuntos de
e 16 m. Os pesados pilares das unidades blocos) foram tratados e escavados sem
industriais tinham que ser apoiados em problemas, não sendo necessário aplicar
estacas. Os blocos de coroamento das estacas outros recursos estabilizantes, tais como
eram de concreto armado, com espessura cortinas laterais ou sistemas de
entre 2 e 3 metros e ocupando áreas de 30 m2 rebaixamento. A figura 39 mostra um
ou mais. Decidiu-se tratar a área dos blocos exemplo.
Figura 38 – Seção esquemática do tratamento com stabtec em solo muito mole para cava de fundação, Santa Cruz,Rio
de Janeiro

Figura 39 – Escavação em solo muito mole tratado com stabtec, Santa Cruz, Rio de Janeiro

1.5.4 – Homogeneidade da massa tratada com quantidade maior de passadas e um maior


stabtec tempo de mistura do que o tratamento com
caldas (“jet grout”).
A homogeneidade da massa tratada com
stabtec depende, essencialmente, da Buscando melhor homogeneidade, o
habilidade do operador, como ocorre com tratamento é feito em células (como se vê na
qualquer produto moldado no terreno. A figura 40) em cada uma das quais se utiliza
habilidade do operador, por sua vez, é uma um tanque alimentador inteiro, cuja
questão de treinamento adequado. Os capacidade é da ordem de 7000 kg de
movimentos verticais e laterais do misturador cimento. Por exemplo, para tratamento com
devem percorrer todo o volume de solo a ser 100 kg/m3 com 3,5 m de profundidade a
tratado. A mistura com ligante seco, como no célula teria 20 m2. Células adjacentes são
caso do stabtec, requer, em geral, uma tratadas seqüencialmente, de modo que as
células vizinhas ainda não tenham de distribuição de células em obra.
endurecido. A figura 41 mostra um exemplo

Figura 40 – Célula de tratamento por mistura de cimento seco com o solo mole

Figura 41 – Divisão da área tratada com stabtec em células

A homogeneidade da massa tratada pode ser de métodos geofísicos (velocidade sônica para
verificada, no campo, através de ensaios de diferentes percursos).
penetração (cone, principalmente) ou através
2 TERRAPLANAGEM COM SOLOS Procurar-se-á mostrar, com inevitáveis
EXPANSIVOS particularizações, algumas das questões que
costumam preocupar o engenheiro praticante
2.1 Definição de solo expansivo quando responsabilizado por decisões
relativas à terraplanagem em obras com solos
Todos os solos parcialmente saturados, expansivos. Serão abordadas as seguintes
incluindo os sem plasticidade, aumentam de questões:
volume quando inundados, porque a
inundação reduz a sucção, causando uma (a) Identificação: Existe solo com alto
diminuição da pressão efetiva. Os solos potencial expansivo na obra? Quanto pode
saturados também aumentam de volume expandir? Que pressão pode exercer?
quando se diminui a sua pressão efetiva. Consegue-se, de maneira expedita e
Nessa medida, todos os solos são expansivos. suficientemente precisa, identificar os solos
O termo “solo expansivo”, no entanto, expansivos, distinguindo-os dos não
é reservado, na prática geotécnica, para expansivos durante a obra?
situações em que os solos de uma (b) Posturas de projeto: o que deve ou pode
determinada obra podem gerar problemas ser feito para enfrentar ou mitigar os riscos
causados por sua expansão, tais como: associados ao potencial de expansão?
deslocamentos excessivos de pavimentos,
levantamentos de estruturas causando Os solos potencialmente expansivos já foram
distorções e trincas, decomposição de encontrados em muitos locais do Brasil como
superfícies de plataformas e de taludes mostra o levantamento recente apresentado
(“empastilhamento”), perda de resistência por Ferreira (2007). Foram encontrados solos
(amolecimento, “softening”) em taludes e expansivos em locais não indicados por
terrenos de apoio de fundações, empuxos Ferreira tais como Ilha do Governador (Rio de
adicionais importantes em estruturas de Janeiro) e Bacabeira (Maranhão). Ao que tudo
contenção, aumentos consideráveis de carga indica há solos expansivos em amplos
em fundações profundas e em revestimentos segmentos do território Brasileiro.
de túneis, etc. Nesses casos, os solos
expansivos são, invariavelmente, argilosos e,
na ampla maioria dos casos, parcialmente 2.2 Identificação para projeto
saturados.
A intensidade com que um solo pode São examinados os principais procedimentos
expandir, denominada “potencial de que se costuma usar, na fase de estudos e
expansão”, se manifesta como aumento de projetos, para avaliar se existe solo expansivo
volume ou, se o solo for impedido de na obra e qual o seu potencial expansivo.
expandir, como pressão contra o impedimento
(sobrecarga, fundação, estrutura de contenção, Mineralogia e química da água. O mineral
revestimento de túnel, etc.). argílico presente na porção fina do solo tem
Para um determinado estado de tensão, decisiva influência. A presença de minerais
o potencial de expansão depende da muito ativos, como os dos grupos da
mineralogia da fração fina, do tipo e da montmorilonita e da ilita, leva o solo a ser
quantidade de sais na água dos vazios e, expansivo, mas o solo pode apresentar
sobretudo, da sucção (diferença de pressão comportamento expansivo mesmo que seu
entre o ar e a água dos vazios). A sucção, por mineral argílico não seja tão ativo. Este
sua vez, é função complexa da umidade (a assunto é enfocado na parte 3.
parcela genericamente chamada de “sucção
mátrica”) e da salinidade da água e da Ensaios de caracterização em laboratório.
mineralogia da fração fina (a chamada Encontram-se na literatura critérios,
“sucção osmótica”). estabelecidos há décadas, destinados a avaliar
o potencial de expansão através de ensaios de
caracterização (Costa Nunes e outros, 1978). expansão” foi obtida sob carga de 7
Alguns desses procedimentos são examinados kPa.
a seguir.

 Holtz & Gibbs (1956) apresentaram o


critérios reproduzidos na tabela 4, para
solos indeformados. A “provável
Tabela 4 – Critérios de Holtz & Gibbs (1956) para solos indeformados
PORCENTAGEM ÍNDICE DE PROVÁVEL
GRAU DE LIMITE DE
MENOR DO QUE PLASTICIDADE EXPANSÃO (%
EXPANSÃO CONTRAÇÃO (%)
0,01 mm (%) DO VOLUME)
MUITO ALTA > 28 > 35 < 11 > 30
ALTA 20 a 31 25 a 41 7 a 12 20 a 30
MÉDIA 13 a 23 15 a 28 10 a 16 10 a 20
BAIXA < 15 < 18 > 15 < 10

 Seed e outros (1962) sugeriram os polegadas por pé (1 polegada/pé =


critérios mostrados na figura 42, para 8,3%).
amostras compactadas. O “potencial
de expansão” foi obtido sob carga de 7
kPa.

Figura 43 – Critério de Van der Merwe


(1964)

 Chen (1965) elencou os critérios


mostrados na tabela 5 para solos da
região das Montanhas Rochosas nos
Figura 42 – Critérios de Seed e outros (1962) para EUA. Chen incluiu o SPT como
solos compactados critério. Os valores de expansão foram
obtidos sob carga de 7 e 49 kPa.
 Van der Merwe (1964), como parte de
um método empírico para estimativa
de expansão, apresentou o gráfico
reproduzido na figura 43. O PE
(potencial de expansão) é dado em
Tabela 5 – Critérios de Chen (1965) para solos das Montanhas Rochosas
PORCENTAGEM PROVÁVEL PRESSÃO DE
GRAU DE LIMITE DE SPT
PASSANDO NA EXPANSÃO (% INCHAMENTO
EXPANSÃO LIQUIDEZ (%) (golpes/30 cm)
PENEIRA 200 DO VOLUME) (kPa)
MUITO ALTA > 95 > 60 > 30 > 10 > 1000
ALTA 60 a 95 40 a 60 20 a 30 3 a 10 250 a 1000
MÉDIA 30 a 60 30 a 40 10 a 20 1a5 150 a 250
BAIXA < 30 < 30 < 10 <1 50

Os valores utilizados por esses autores como entre os critérios. Uma expansão de 9% seria
limites para enquadrar os solos nas categorias baixa para Holtz & Gibbs, alta para Chen e
de expansão “baixa”, “média”, “alta” e para Seed e outros e muito alta para Van der
“muito alta” estão reunidos na tabela 6. É Merwe.
interessante notar as consideráveis diferenças

Tabela 6 – Resumo dos critérios dos diversos autores

Embora seja interessante, do ponto de vista também, das condições iniciais de umidade e
prático, tomar conhecimento dos limites sucção do terreno que estão ligadas à
utilizados por especialistas de diferentes condição indeformada ou compactada do
locais, não é de se esperar que a questão da solo.
expansão e, particularmente, a intensidade
desse comportamento, possam ser abordadas Os solos expansivos classificam-se, quase
apenas com base em ensaios de sempre, como CL, MH ou CH no sistema
caracterização. Eles só conseguem refletir a USCS. Resultados de uma obra (Bacabeira,
propensão à expansão que emana da MA) estão mostrados na figura 44.
mineralogia e da granulométrica dos solos, ao
passo que o potencial de expansão depende,
Figura 44 – Classificação USCS dos solos expansivos de uma obra

Ensaios especiais em laboratório. A melhor expansão” pode ser definida quando,


forma de caracterizar o potencial de expansão durante o carregamento, o corpo de
é através da medição direta. Existem dois prova voltar a ter o índice de vazios
parâmetros, mensuráveis em células de inicial.
adensamento com adaptações, que permitem  A maneira preferível de obter a
aquilatar a gravidade da situação em uma obra pressão de expansão, no entanto, é
na qual se suspeita da existência de solos através de outro ensaio (também em
expansivos: a expansão (expressa em % do máquina de adensamento) no qual se
volume inicial da amostra) e a pressão de ajusta uma célula de carga rígida ao
expansão. A obtenção desses dois parâmetros topo do corpo de prova de modo que
(ASTM D4546) é feita da seguinte forma: ele não possa expandir, inunda-se e
 Ensaio de expansão. Aplica-se um observa-se a evolução da força de
carregamento inicial (quando o ensaio expansão com o tempo, até que
é de “expansão livre” este ocorra estabilização.
carregamento é pequeno, na faixa de
1 a 7 kPa) e, após a estabilização do
deslocamento sob o carregamento
inicial, inunda-se o corpo de prova,
passando a medir os deslocamentos
ascendentes. Interrompe-se o ensaio
quando os inchamentos cessam (a
norma ASTM D4546 oferece
procedimento para a interrupção).
 O ensaio pode ser encerrado neste
ponto ou prosseguir com
carregamentos sucessivos e
descarregamento ao final, como nos
ensaios convencionais de
adensamento, como mostrado na Figura 45 – Ensaio de expansão
figura 45. Uma “pressão de
A expansão em ensaios CBR, que faz parte da Valores típicos. Para que se tenha uma noção
rotina deste ensaio, pode ser utilizada como de valores típicos Brasileiros, a figura 47
alternativa para aquilar o potencial de apresenta a expansão livre e a pressão de
expansão. O uso de resultados de CBR é expansão, em corpos de prova compactados
abordado em maior detalhe adiante. nas imediações do ponto ótimo de Proctor
Um procedimento interessante de Normal, obtidas em obras cujos solos foram
laboratório consiste em ensaiar corpos de considerados como expansivos. A figura 48
prova “iguais” permitindo a expansão sob apresenta dados do mesmo tipo em corpos de
diferentes cargas conforme figura 46. prova indeformados, talhados de blocos. A
gama de valores de expansão e de pressão de
expansão que foram considerados
problemáticos pode ser apreciada nessas
figuras.

Figura 46 – Ensaios de expansão sob diferentes cargas

Figura 47 – Ensaios de expansão em solos compactados (os pontos de Massapê são de diversas localidades)
Figura 48 – Ensaios de expansão em solos indeformados

Esses resultados sugerem que: Claro está que um solo que possa expandir,
digamos, 25% (ou seja, 50 cm em uma
 Nos solos compactados nas camada com 2 m de espessura) ou, capaz de
imediações da ótima (figura 47) as exercer uma pressão ascendente de, digamos,
maiores pressões de expansão só 200 kPa (suficiente para levantar um prédio
foram encontradas para expansões com muitos andares), constitui uma ameaça
livre acima de (digamos) 6 ou 7%. óbvia. Quando, contudo, as expansões e as
Abaixo deste patamar, a pressão de pressões de expansão não são tão grandes o
expansão não excede cerca de 20 kPa equacionamento da obra frente ao problema
o que corresponde ao peso de uma costuma requerer cuidadosa análise para
espessura de solo da ordem de 1,00 m, evitar, por um lado, otimismos que redundem
(ou seja, o problema com solos em problemas posteriores e, por outro,
expansivos seria pequeno). Rao (2006) catastrofismos que induzam grandes despesas
considera que uma pressão de desnecessárias.
expansão inferior a 20 kPa não causa
maiores problemas; Inspeção no local da obra. Inspeções no
 Nos solos indeformados (figura 48), local, principalmente em cavas feitas para este
para expansão livre da ordem de 5%, fim, podem ajudar a suspeitar da presença de
já se registram pressões de expansão solos expansivos.
acima de 80 kPa, o que corresponde
ao peso de 4 a 5 m de solo.  Trincamentos superficiais largos, em
formas irregulares e com diferentes
Estas não são conclusões de aplicação geral. tamanhos podem ser indício da
Elas visam apenas mostrar valores típicos e existência de solos expansivos A
valem somente para os solos e locais figura 49 mostra um diagrama
considerados. Uma comparação de dados de apresentado por Costa Nunes (1978)
ensaios disponíveis na extensa bibliografia, referente à aparência dos trincamentos
junto com o visto antes, leva à conclusão de em locais com solos expansivos.
que não existem regras gerais aplicáveis aos Grosseiramente, a expansão pode ser
solos expansivos. associada à porcentagem da área
ocupada pelas trincas abertas em
longos períodos secos. Uma foto de
trincamento de superfície ressecada
em obra com solo expansivo está
também mostrada na figura 49.
 A ocorrência de empastilhamento (ou
“pipocamento”) da superfície de
plataformas e, principalmente, da face
de taludes constitui forte indício de
que o solo é expansivo. O
empastilhamento se caracteriza pela
separação de flocos e pequenos blocos
de solo argiloso (ver figura 50).
 Deve ser considerada como indício
uma coloração incomum ou muito
variada do solo. As figuras 51 a 53
mostram fotos de solos expansivos
encontrados em obras do Nordeste do
Brasil.

Figura 51 – Corte em solo expansivo. O material


variegado inferior é expansivo, a camada amarelada
superior, não é. Bacabeira, MA.

Figura 49 - Trincas de ressecamento com abaulamento


da superfície. Diagrama de Costa Nunes (1978) e foto
de obra em Aratu, BA

Figura 52 – Corte em solo expansivo. O solo cinza


arroxeado inferior é o mais expansivo. Cabo, PE .

Figura 50 – Solo expansivo e empastilhamento, Cabo,


PE.
Figura 53 – Corte em solo expansivo. São expansivos, em diferentes graus, os solos cinza e vermelhos abaixo do
capeamento amarelado, Aratu, BA.

Levantamentos junto aos praticantes e ensaios CBR, obtidos em uma obra. Os


bibliografia. Precedentes devem sempre ser ensaios CBR foram feitos nas amostras
buscados junto aos praticantes da região da coletadas com o amostrador SPT ou em
obra. Mapas de risco são de grande utilidade, trincheiras escavadas no local do ensaio SPT.
mas, infelizmente, ainda há muito poucos no Nota-se que as maiores expansões
Brasil. correspondem aos SPT mais altos. Podem ser
observados, no entanto, solos expansivos que
Sondagens. Os solos expansivos, muitas não apresentam SPT alto em sua condição
vezes, possuem SPT elevado. A figura 54 natural.
mostra pontos de SPT contra expansão em

Figura 54 – SPT x Expansão CBR em uma obra


Nível de água. A maioria dos problemas com aonde e como os solos considerados
solos expansivos ocorre acima do nível de expansivos constituirão ameaça para cada
água. Contudo, em obras que induzam trecho da obra. Estas não são tarefas fáceis.
significativas diminuições de tensão, podem
acontecer acentuadas expansões em solos que
se encontram abaixo do nível de água. A 2.3 Identificação durante a obra
correta identificação do nível freático (ou
seja, do nível em que a pressão na água é Nas obras em que existem solos expansivos,
atmosférica) é essencial quando se lida com em geral, existem também solos não
solos expansivos. Os níveis de água obtidos expansivos. Costuma ser de central
rotineiramente nas sondagens (nível de água importância, para o planejamento e para a
no furo 24 horas depois de concluída a execução da obra, a distinção entre eles de
sondagem) dão, não raro, uma impressão maneira simples e rápida no campo. A seguir
errada (para mais ou para menos) sobre a real é dado exemplo de trato com solo expansivo
posição do nível freático. Havendo suspeita em uma obra de plataforma industrial. Os
da existência de solo expansivo devem ser procedimentos a seguir mencionados
deixados piezômetros nos furos após provavelmente permanecem válidos em
completar as sondagens. Os bulbos dos outras situações, resguardadas as
piezômetros devem ficar em profundidades peculiaridades de cada local. Já os valores e
escolhidas com base no resultado da própria os limites aplicam-se exclusivamente à obra
sondagem, buscando esclarecer a eventual em foco.
influência de aquitardos na direção vertical Na fase de projeto foram realizados
(lençóis empoleirados), de camadas de alta muitos ensaios, incluindo caracterização,
permeabilidade posicionadas abaixo do solo compactação, expansão livre e pressão de
expansivo, de artesianismo, etc. expansão em amostras indeformadas e
Para concluir, pode-se dizer, não compactadas, bem como triaxiais e
rigorosamente, que devem ser exigidos cisalhamento direto (naturais e inundados) em
ensaios de expansão (ASTM D4546) em amostras indeformadas. Em particular, foi
qualquer solo argiloso, com IP maior do que realizada uma grande quantidade de ensaios
20%, posicionado acima do nível de água, CBR que permitiu a abordagem que se passa
com coloração incomum ou muito variada, a explicar.
principalmente se ele tiver SPT alto. Deve-se Há correlação, para os solos da obra
desconfiar (em particular, mas não exemplificada, entre expansão livre e
exclusivamente) das formações sedimentares expansão CBR (ambas obtidas em solo
anteriores ao quaternário recente e dos solos compactado nas imediações da ótima), ver
residuais de rochas magmáticas básicas. Da figura 55. Logo a expansão CBR pode ser
mesma forma, deve-se suspeitar de solos usada para definir ou categorizar os solos
saturados sedimentares anteriores ao quanto à expansibilidade. No caso, a
quaternário e solos saturados residuais de expansão CBR é 2 a 3 vezes menor do que a
rochas básicas, nos quais vierem a ser expansão livre.
aplicadas reduções de tensão, como em
escavações e túneis.
Uma vez realizadas as prospecções
geotécnicas, as inspeções de campo e as
entrevistas e levantamentos cabíveis, o
engenheiro geotécnico tem que estabelecer se
há solos expansivos no local, que solos ou
camadas de solos devem ser considerados
expansivos ou não expansivos, com que
intensidade o fenômeno se manifestará e,
Figura 55 – Relação entre expansão CBR e expansão
livre para solo compactado na obra em foco.
Figura 57 – Expansão CBR x umidade ótima na obra
em foco.
Usando a expansão CBR, à luz dos demais
ensaios da obra em foco e dos resultados de
outras obras, foram criadas as categorias
mostradas na tabela 7.

Tabela 7 – Categorias de expansibilidade em função da


expansão CBR
CATEGORIA EXPANSÃO CBR
(%)
Não expansivo < 1%
Intermediário 1% a 2%
Expansivo 2% a 5%
Muito expansivo > 5%

Para essas categorias foram comparadas as


expansões CBR com características
geotécnicas outras, a saber: porcentagem de Figura 58 – Expansão CBR x limite de liquidez na obra
em foco.
finos menores do que a peneira malha 200
(ver figura 56), umidade ótima de Proctor
Normal (ver figura 57) e limite de liquidez Nas figuras 56 a 58 estão indicados os limites
(ver figura 58). dos parâmetros que separam as categorias de
expansibilidade tal como definidas na tabela
7. Em resumo, podem ser escritos os critérios
apresentados na tabela 8.

Tabela 8 – Categorias de expansibilidade em função de


características simples dos solos (válido apenas para a
obra em foco)
% QUE PASSA NA UMIDADE LIMITE DE
CATEGORIA
PENEIRA 200 ÓTIMA (%) LIQUIDEZ (%)

NÃO EXPANSIVO < 50 < 12 < 25

INTERMEDIÁRIO 50 a 70 12 a 13 25 a 30

EXPANSIVO E
> 70 > 13 > 30
MUITO EXPANSIVO
Figura 56 – Expansão CBR x % que passa na peneira
200 na obra em foco.
Com esses critérios viabiliza-se uma  Irrigação de lavouras e rega de
identificação expedita no campo, realizada plantas;
por técnicos especificamente treinados.
A expansão (ou contração) do solo pode
resultar, também, de variações no perfil de
2.4 Posturas de projeto sucção do terreno (associadas a variações de
umidade), causadas por:
Solos expansivos saturados só expandem se  Impermeabilização da superfície;
houver uma diminuição de tensão causada,  Remoção ou da plantação de árvores.
por exemplo, por uma escavação ou por um
túnel. Adiante será apresentado um caso de A profundidade até a qual a umidade do solo
obra no qual uma escavação em solo varia ao longo do tempo é denominada zona
expansivo saturado resultou em expansão com ativa. Em climas áridos, com períodos
graves conseqüências. No momento serão definidos de chuva seguidos de secas
abordadas apenas situações nas quais o solo prolongadas, a espessura da zona ativa chega
expansivo se encontra parcialmente saturado. rotineiramente aos 3 m e pode ultrapassar os 5
Em solos parcialmente saturados, o m. Em qualquer caso, a fixação da espessura
potencial de expansão só se manifesta se da zona ativa é um difícil exercício de projeto.
houver aumento de umidade, ou seja, se for Nelson & Miller afirmam que se deve, em
fornecida água adicional ao solo. Havendo princípio, suspeitar de zonas ativas com
diminuição da quantidade de água acontecerá profundidades menores do que 3,5 m (10 ft).
redução de volume (“contração”). Nessa Para estabelecer a espessura da zona ativa em
medida, a infiltração e a percolação da água um local qualquer é preciso medir a variação
no terreno são fatores determinantes na da sucção ou da umidade durante, pelo
prática da engenharia com solos expansivos menos, uma estação seca seguida de uma
parcialmente saturados. Pode haver expansão estação úmida. É raro que haja tempo para
(ou contração) do terreno perante mudanças fazer prospecção desse tipo na fase de projeto
químicas ou de temperatura no fluido dos das obras.
vazios do solo, dentre outras causas, mas Nelson & Miller (1992) sugerem que,
essas situações não são abordadas no presente em perfil de solo homogêneo, a zona ativa se
texto. aprofunda até o ponto em que a umidade fica
As circunstâncias nas quais pode ocorrer constante com a profundidade. Em perfis
infiltração de água no solo expansivo com heterogêneos, esses autores indicam que seja
conseqüentes inchamentos podem ser avaliada a variação, com a profundidade, da
agrupadas, segundo seu porte, em extensas e relação entre a umidade e o índice de
localizadas. Dentre as causas de grande plasticidade (ou da relação entre o índice de
extensão podem ser citadas: liquidez e o índice de plasticidade),
 Chuvas persistentes após secas caracterizando a zona ativa como situada
prolongadas; acima do ponto em que a relação se torna
 Enchimento de lagos de barragens; constante.
Dentre as possíveis causas localizadas estão: Exceto nas imediatas proximidades da
 Elevação do lençol freático (causada, superfície do terreno, o solo não pode
por exemplo, por interceptação de expandir livremente. A intensidade da
aqüíferos); expansão depende do potencial de expansão
 Vazamentos de lagoas industriais de não livre, isto é, expansão sob as tensões
tratamento ou acumulação; vigentes em cada ponto da obra. Resultados
 Poças em pátios e vias de acesso; experimentais indicam que a expansão
 Vazamentos de caixas de água e de diminui acentuadamente para tensões
piscinas; verticais relativamente pequenas. Isto que
 Vazamentos e rupturas de tubulações; dizer que, em geral, a expansão cai
 Goteiras na beira de telhados; rapidamente com a profundidade devido ao
peso do próprio solo expansivo ou com a o solo expanda como mostrado no
carga (de solo inerte ou outra) colocada sobre esquema da figura 59.
o solo expansivo.  Laje nervurada rígida. Trata-se de
As posturas para fazer frente aos solos construir sobre base rígida de tal
expansivos podem ser agrupadas em três forma que, embora sofrendo os
categorias: as estruturais, as de controle da movimentos do solo, as distorções na
umidade e as de melhoramento do terreno. As estrutura sejam minimizadas. A figura
posturas mais comuns são apresentadas a 60 apresenta o esquema
seguir. correspondente.
A posturas estruturais consistem em
preparar a estrutura para resistir ou conviver As posturas estruturais fogem ao escopo
com os esforços e deslocamentos causados destas notas, recomendando-se aos
pela expansão do solo. As mais comuns são: interessados a consulta ao livro de Nelson &
 Fundação profunda e vazio sob a Miller (1992), aos manuais de prática de
estrutura. Esta postura consiste em fundações em locais com solos expansivos,
apoiar a estrutura em estacas como o TM5-818-7, (USDA, 1983) ou aos
chumbadas abaixo da zona ativa e diversos códigos de obra para áreas com solos
deixar espaço sob a estrutura para que expansivos encontráveis na internet.

Figura 59 – Esquema da postura com vazio sob a estrutura


Figura 60 – Esquema da postura com laje nervurada rígida

As posturas de controle da umidade As posturas de melhoramento do terreno


compreendem a modificação das condições de preconizam intervenções mais radicais, que
infiltração da água, podendo ser citadas: removem ou modificam o terreno expansivo,
 Impermeabilização da superfície. A tais como:
postura consiste em implantar  Molhagem prévia. O conceito desta
geomembranas que se cobrem uma postura é fornecer água ao solo para
área conveniente em volta do que a expansão ocorra antes da
perímetro da estrutura que se busca construção. Em solos expansivos de
proteger. Uma situação típica são os baixa permeabilidade (a maioria) o
estacionamentos de grandes comércios processo de infiltração é lento de
como shoppings e supermercados. modo que o alcance é limitado. Para
 Barreiras de percolação. Trata-se de evitar que o tratamento deixe a
cercar a estrutura com diafragmas superfície do terreno impraticável é
impermeáveis buscando isolar o solo preciso fazer a molhagem a partir de
subjacente das variações de umidade. uma capa de solo permeável. Para
aumentar o alcance do procedimento
Essas posturas visam manter a umidade podem ser usadas colunas permeáveis.
constante já que a expansão e a contração só Esta postura é rejeitada pela maioria
ocorrem se houver variação de umidade. Em dos especialistas.
geral, elas não se mostram inteiramente  Substituição. Trata-se de remover
satisfatórias uma vez que é praticamente uma espessura de solo expansivo,
impossível evitar variações de umidade no substituindo-a por mistura de solo
solo de fundação. O que se pode almejar é expansivo com solo inerte (não
que a umidade estabilize com o tempo (que expansivo) ou só com solo inerte.
pode ser longo: anos) em patamares diferentes Abaixo dessa espessura deixa-se o
dos originais (com as conseqüentes expansões solo expansivo natural. Uma variante
ou contrações). Em geral, o que se consegue é o uso de capeamento em aterros,
obter com as posturas de controle da umidade que compreende a colocação de uma
é uma redução das variações de umidade com espessura de solo inerte (ou mistura de
a consequente diminuição da intensidade dos inerte com expansivo) na parte
ciclos de expansão e contração. superior do aterro. Abaixo dessa
espessura se aceita o uso de solo
expansivo compactado.
 Neutralização química. Trata-se de
misturar cal, cimento ou outros As posturas de substituição e de neutralização
produtos de maneira que o potencial química são as mais utilizadas no Brasil para
de expansão do solo seja reduzido. obras de grande porte. Nelson & Miller
Este assunto é enfocado em detalhe (1992) apresentam os resultados de uma
em item específico adiante. enquete feita junto a diversos órgãos públicos,
 Inserção de fibras ou lascas de empresas de projeto e universidades dos
pneus no solo. Pesquisas recentes têm EUA, com base na qual foi preparada a tabela
demonstrado o potencial de utilização 9. Vê-se que a substituição/capeamento e a
de fibras geossintéticas na neutralização são as posturas mais praticadas,
minimização da expansibilidade de com as barreiras de percolação tendo sido
solos (Punthutaecha et al. 2006; citadas em duas das oito regiões. Apenas uma
Consoli et al. 2010a; Seda et al. 2007) região mencionou a molhagem prévia,
mostram os benefícios do uso de enquanto diversas entidades relataram
lascas de pneus (material deformável) ineficiência ou fracasso dessa técnica.
para a mitigação do potencial de
expansão de solos expansivos.

Tabela 9 – Prática nos EUA (Nelson & Miller, 1992)

LOS GAINNES OKLAHOMA REGINA


POSTURA DENVER FARGO TULSA DALLAS
ANGELES VILLE CITY (CANADA)

MOLHAGEM
SIM
PRÉVIA
ESTABILIZAÇÃO
SIM POUCO SIM SIM SIM SIM
COM CAL
SUBSTITUIÇÃO E
SIM SIM SIM SIM SIM SIM
CAPEAMENTO
BARREIRAS DE
SIM SIM
PERCOLAÇÃO

A seguir, com o fito de ilustrar uma parte da impactos econômicos significativos. Um


prática Brasileira com solos expansivos, exemplo está apresentado a seguir.
descrevem-se os procedimentos utilizados em No final de 1989, uma cava com base
algumas obras de terraplanagem. na elevação +0 m, profundidade média de 15
m e área de cerca de 10.000 m2 foi escavada,
em uma encosta com inclinação suave (entre
2.5 Exemplos de posturas adotadas em obras 5º e 10º), para a implantação de um shopping
Brasileiras na Ilha do Governador, Rio de Janeiro. O
material até cerca de 6 m abaixo do fundo da
2.5.1 Escavação para subsolo cava era uma argila com SPT entre 10 e 20.
Seguia-se, em maior profundidade, um pacote
Descobrir que há solos expansivos em uma de areias e argilas com SPT entre 15 e mais
obra depois que ela está em andamento resulta do que 30. O nível de água original do
em incômodos problemas técnicos e terreno, praticamente paralelo à superfície
contratuais. Invariavelmente, a obra sofre original do terreno, situava-se, em média, a 13
m acima do fundo da cava. Em toda a problemas estavam acontecendo. A figura 62
periferia da cava haviam sido implantados mostra uma seção representativa da obra. Os
uma parede diafragma e poços de levantamentos chegaram a 12 cm no período
rebaixamento com bombas centrífugas. de 2,5 meses, como mostrado na figura 63.
Iniciada a construção da estrutura, foram
percebidos levantamentos em diversos pontos.
A foto da figura 61 mostra a obra quando os

Figura 61 – Foto do shopping na Ilha do Governador, Rio de Janeiro, durante a obra

Figura 62 – Seção da cava do shopping na Ilha do Governador (escala vertical exagerada)


Figura 63 – Levantamento do pilar 9H no período de 2,5 meses.

Um estudo, com a participação do primeiro figura 47 (identificados como “Ilha


autor, foi iniciado com vistas a esclarecer o Governador, RJ”). Os ensaios de
ocorrido e oferecer alternativas para sanar os caracterização forneceram os seguintes
problemas. Como primeira ação, resultados: % passando na peneira 200 = 45 a
considerando que a subpressão sob a argila 60%; % de argila 38 a 52%; limite de liquidez
fosse responsável pelos levantamentos, foram = 56 a 77%; índice de plasticidade = 21 a
estudados os resultados de piezômetros com 33%.
bulbo entre 4 e 6 m abaixo do fundo da cava Identificada a causa, passou-se a
(ou seja, na areia subjacente ao fundo da procurar alternativas tecnicamente adequadas
cava). As cargas piezométricas medidas que salvaguardassem os prazos contratados
(elevações entre -0,5 m e + 4,0 m) não para início de funcionamento do shopping. A
puderam ser consideradas como responsáveis solução adotada foi eliminar um nível do
solitárias pelos inchamentos. Passou-se então subsolo, colocando em seu lugar solo
a considerar a possibilidade de que o solo compactado de boa qualidade. Os cerca de 3
argiloso fosse expansivo. Esta hipótese foi m de espessura de solo compactado,
recebida com incredulidade, já que não havia adicionaram algo como 50 kPa de carga sobre
precedente de ocorrência de solo expansivo o solo expansivo e, foram suficientes para
na cidade do Rio de Janeiro. Contudo, ensaios inibir a expansão. Os remanejamentos e
de expansão realizados na argila do local adequações do shopping resultaram em
mostraram expansões livres até 17% e consideráveis prejuízos financeiros.
pressões de expansão até 100 kPa. Os ensaios
foram realizados em amostras compactadas
com energia Proctor Normal nas imediações 2.5.2 Plataformas industriais
da umidade ótima e seu procedimento foi
conforme ASTM D4546. Os resultados dos A configuração de plataformas para a
ensaios de expansão estão apresentados na implantação de indústrias compreende, em
geral, cortes nos trechos mais altos (nos quais tratamento. Um exemplo, no qual se exige um
são cortados solos expansivos e não cobrimento mínimo com 6 m de espessura
expansivos) e aterros nos trechos baixos está esquematicamente mostrado na figura 64.
(vales e talvegues) onde o material cortado Na obra de Aratu, BA, na qual o potencial
tem que ser disposto. A seguir são expansivo dos solos era menos intenso foi
apresentados casos em que o solo cortado exigido um cobrimento mínimo de 2 m.
incluía solos expansivos.
A postura mais freqüente é a de O material de cobrimento ou de substituição
substituição ou de capeamento. Desde que os pode ser uma mistura do solo expansivo com
solos expansivos fiquem sob espessura de solo inerte ou, o solo expansivo neutralizado
material não expansivo suficiente para inibir quimicamente. A seguir são apresentadas
(ou reduzir a valores aceitáveis) o potencial situações de obra nas quais foram utilizados
de expansão, eles podem ser usados em esses dois partidos.
aterros ou deixados sob cortes sem qualquer

Figura 64 – Critério de cobrimento do solo expansivo com espessura mínima de solo de baixo potencial de expansão
(Cabo, PE).

A mistura de solo inerte com o solo expansivo pilha com a carga de um caminhão) lado a
costuma ser a postura economicamente mais lado na proporção desejada, como mostrado
atraente em obras que envolvem grandes nas figuras 65 e 66. Em seguida as pilhas são
volumes de movimento de terra. O misturadas com grade e compactadas (depois
procedimento consiste em dispor pilhas de de adequar a umidade, caso necessário).
material expansivo e não expansivo (cada
Figura 65 – Mistura de solos inertes e expansivos (Cabo, PE)

A mistura do solo expansivo com solo inerte é solo inerte da maneira mostrada na figura 67.
um exercício de diluição: quanto maior a Para proporção de solo inerte inferior a 30% a
proporção de solo inerte, menor a mistura resulta quase tão expansiva quanto o
expansibilidade da mistura. Alguns exemplos solo puro. No outro extremo, não parece
de resultados de ensaios de expansão em haver acréscimo de benefício quando a % de
misturas realizadas em obras Brasileiras estão solo inerte passa de 70%. Claro está que a
apresentados na tabela 10. Com base nesses eficiência da mistura é governada por
poucos ensaios em misturas, fica-se com a diversos outros fatores e não apenas pela
impressão que a eficiência da mistura proporção de solo inerte. Este é um assunto
(diferença entre a expansão do solo puro e do que deve ser estudado experimentalmente em
solo inerte dividida pela diferença entre a cada obra e que, sem dúvida, está a merecer
expansão do solo puro e da mistura, expressa esforços de pesquisa.
em %) se relaciona com a porcentagem de

Figura 66 – Mistura de solos inertes e expansivos (Aratu, BA)


Tabela 10 – Resultados de ensaios em misturas

Figura 67 – Interpretação preliminar da relação entre % de solo inerte e eficiência da mistura

A neutralização (ou estabilização) química é quase sempre, na própria praça de


adotada com frequência na prática Brasileira compactação, lançando-o por cima da camada
para mitigar o potencial de expansão, tanto a compactar, adequando a umidade e
em obras com grande volume como em obras gradeando intensamente para misturar bem,
com volumes modestos de terraplanagem. A antes de passar o rolo compactador.
cal é o produto mais comum, hidratada ou
virgem (hidratada na obra), utilizando-se A estabilização química com cal e cimento é
proporções entre 2% e 7% do peso seco do o objeto dos itens a seguir.
solo a ser tratado. Outro estabilizante,
utilizado com menos frequência, é o cimento.
A mistura do estabilizante com o solo é feita,
3. TRATAMENTO DE SOLOS COM atração molecular entre as partículas de argila
CIMENTO E COM CAL e as moléculas dipolares de água.
A umidade inter-camadas cristalinas é
3.1 Introdução a água situada dentro das camadas cristalinas
da argila. A quantidade de água que pode ser
Os objetivos gerais da mistura de aditivos mantida por uma partícula de argila depende
químicos ao solo são melhorar ou controlar a de três fatores primários: espaçamento
estabilidade volumétrica, resistência e cristalino, elementos presentes na estrutura
propriedades tensão-deformação dos solos. Os cristalina e presença de íons trocáveis. Por
tipos mais comuns de reações químicas exemplo, montmorilonita sódica pode
utilizadas para estabilizar solos são reações de expandir aproximadamente 13 vezes seu
troca catiônica com partículas de argila e volume original quando saturada com água
reações cimentícias e pozolânicas. Os agentes sem sais. Se a mesma argila é saturada com
químicos mais comumente utilizados para solução contendo cloreto de sódio (NaCl) a
estabilização de solos incluem cimento expansão é reduzida para 3 vezes o volume
Portland, cal, cinza volante e emulsões original. Se a solução contiver hidróxido de
betuminosas. Neste relato trataremos cálcio [Ca(OH)2] a expansão é suprimida
essencialmente de cimento Portland e cal. ainda mais, para duas vezes o volume
Minerais argílicos são basicamente original. A redução da expansão é produzida
compostos de óxidos hidratados de silício, principalmente pela troca de íons dentro da
alumínio, e ferro. Os elementos químicos malha cristalina da argila. Os íons de sódio
presentes nas argilas são combinados em um (Na+) e cálcio (Ca+2) adsorvidos limitam o
padrão geométrico específico denominado espaço disponível para a água e levam a
malha cristalina ou estrutural, a qual possui estrutura da argila a colapsar e reduzir a
geralmente aparência de placas. Esta capacidade de expansão. De forma geral,
estrutura, juntamente com substituição iônica, cátions divalentes como o Ca+2 produzem
define o comportamento físico e químico dos maior colapso da estrutura que os íons
vários tipos de argilas. monovalentes como o Na+. A estabilização de
Devido a sua estrutura maleável, a argilas com cimento ou cal representa a
maior parte das argilas exibem propriedades condição na qual as argilas são submetidas ao
de troca de íons e absorção de umidade. Entre Ca+2 em pH alcalino, e a capacidade de sorção
as argilas mais comuns, a atividade das de Ca+2 pelas argilas aumenta, reduzindo a
argilas – definida como a capacidade de capacidade do solo para troca de íons,
interações eletroquímicas com água e reduzindo o potencial para sorção de
elementos químicos presentes (inseridos) no umidade, e conseqüentemente reduzindo o
solo – decresce na seguinte ordem: potencial de expansão volumétrica causado
montmorilonita, ilita, atapulgita, clorita e pela indução de troca catiônica.
caulinita. Portanto, do ponto de vista da prática
A umidade sorvida por uma argila de Engenharia a estabilidade volumétrica de
pode ser descrita como uma das seguintes três um solo pode ser melhorada pela substituição
formas básicas: água intersticial ou água dos de cátions de alta capacidade de hidratação
poros, água adsorvida na superfície da como o sódio (Na+) por cátions de baixa
partícula e água inter-camadas cristalinas. capacidade de hidratação como o cálcio
Estas umidades combinadas são responsáveis (Ca+2), bem como por cimentação. O
pelos problemas relacionados a variações desenvolvimento e manutenção de altas
volumétricas em solos expansivos (expansão resistências e rigidezes podem ser alcançados
e contração). A água intersticial e a água pela eliminação de grandes poros no solo e
adsorvida ocorrem dentro da massa de solo pela cimentação das partículas do solo. Os
externamente a cada grão de solo. A água mecanismos de estabilização de solos com
intersticial é mantida por tração interfacial, cimento Portland e cal são similares. Os
enquanto a água adsorvida é mantida por produtos cimentícios principais a serem
formados com o solo pela adição de cal e/ou quatro componentes principais do cimento
cimento Portland são silicatos hidratados de Portland são:
cálcio (CSH) e aluminatos hidratados de
cálcio (CAH). A cal obtém a sílica e alumina Silicato Tricálcico (3CaO . SiO2) → C3S
das argilas e outras possíveis pozolanas (abreviatura)
existentes no solo para formar CSH e CAH
em estado gel. Cimento Portland já contém Silicato Dicálcico (2CaO . SiO2) → C2S
sílica e alumina em sua composição inicial. (abreviatura)
Reações iniciais do solo com cimento e cal
incluem a substituição de cátions adsorvidos Aluminato Tricálcico (3CaO . Al2O3) → C3A
monovalentes existentes na malha cristalina (abreviatura)
da argila por Ca+2, cimentações nos contatos
interpartículas e estabelecimento de um pH Aluminoferrito Tetracálcico
alto (maior que 12,4) no ambiente. Em longo (4CaO . Al2O3 . Fe2O) → C4AF (abreviatura)
prazo, o pH causa a quebra da malha
cristalina da argila e há a formação de novos As reações primárias que ocorrem quando a
produtos cimentícios. Tais reações podem água é adicionada ao cimento Portland podem
continuar por vários anos. Cal e cimento são ser sumarizadas a seguir:
efetivos em uma gama variada de tipos de
solos. Contudo, a presença de matéria 2(3Ca . SiO2) + 6H2O → 3CaO . 2SiO2 .
orgânica nos solos pode retardar ou inibir as 3H2O + 3Ca(OH)2
reações. Além disto, a presença de sulfatos no
solo também pode ser prejudicial. Em tais 2(2Ca . SiO2) + 4H2O → 3CaO . 2SiO2 .
casos, a estabilização inicial pode ser 3H2O + Ca(OH)2
satisfatória, mas reações expansivas
posteriores podem conduzir a produção de 3CaO . Al2O3 + 12H2O + Ca(OH)2 → 3CaO .
minerais expansivos e a quebra da estrutura Al2O3 . Ca(OH)2 . 12H2O
cimentícia.
4CaO . Al2O3 . Fe2O3 + 10H2O + 2Ca(OH)2
→ 6CaO . Al2O3 . Fe2O3 . 12H2O
3.2 Solo-Cimento
onde
3.2.1. Visão Geral
CaO . SiO2 . H2O = silicato hidratado de
Cimento Portland comum (CP I), composto cálcio (CSH)
com escória (CP II-E), composto com
pozolana (CP II-Z) ou composto com filer Ca(OH)2 = hidróxido de cálcio
(CP II-F), de alto forno (CP III), pozolânico
(CP IV), de alta resistência inicial (CP V), CaO . Al2O3 . Ca(OH)2 . 12H2O = aluminato
resistente a sulfatos (RS) podem ser utilizados hidratado de cálcio (CAH)
para estabilizar praticamente todos os todos
os tipos de solos, com algumas dificuldades CaO . Al2O3 . Fe2O3 . 12H2O =
particulares para argilas altamente plásticas e aluminoferrito hidratado de cálcio
orgânicas (contendo mais que 1-2% de
matéria orgânica), os quais normalmente C3S enrijece rapidamente e é o responsável
exigem altas porcentagens de cimento para a primário pela resistência inicial. C2S enrijece
obtenção de significativas mudanças nas lentamente e contribui para aumento de
propriedades mecânicas das mesmas. resistência para idades além de 1 semana.
Cimentos Portland são cimentos hidráulicos C3A libera grande quantidade de calor durante
(ganham resistência e rigidez através de os primeiros dias de enrijecimento e contribui
reações para com a água - hidratação). Os pouco para o desenvolvimento da resistência
inicial. Cimento Portland resistente a sulfatos qualquer projeto em particular devem ser
tem reduzidas (menos de 8%) quantidades de determinadas a partir de dosagens
C3A. C4 AF hidrata rapidamente, mas pouco específicas.
contribui para o aumento da resistência. A presença de matéria orgânica no
Em solos finos, a fase argila também pode solo pode dificultar que a hidratação do
contribuir para a estabilização através de sua cimento. Orgânicos com pesos moleculares
solução em um meio com pH alto e reações baixos, como o ácido nucléico e a dextrose,
com a cal livre do cimento para formar CSH podem retardar a hidratação e reduzir a
adicional (reações pozolânicas). resistência. Certos tipos de matéria orgânica,
Valores típicos de teores de cimento como vegetação não decomposta, podem não
utilizados para estabilizar solos de acordo afetar a estabilização com cimento. Para
com a classificação AASHTO e SUCS são situações onde matéria orgânica está
apresentados na Tabela 11 abaixo: presente no solo, Little et al. (1987)
recomendaram a execução de testes de pH de
Tabela 11. Valores típicos de teores de cimento solo-cimento na proporção 10:1 (em peso)
utilizados para estabilizar solos de acordo com a da mistura. Se o pH da mistura solo-cimento,
classificação AASHTO e SUCS.
após 15 minutos da mistura, for de ao menos
Classificação Classificação Intervalo usual de 12,1, o teor de matéria orgânica
de solos de de solos de cimento provavelmente não interferirá com o
acordo com acordo com requisitado
AASHTO SUCS enrijecimento normal do cimento. Um
método pelo qual a matéria orgânica reprime
% em % em a hidratação do cimento é através da
volume peso absorção pela matéria orgânica dos íons de
cálcio liberados durante a hidrólise dos
silicatos e aluminatos de cálcio dos grãos de
A-1-a GW, GP, GM, 5a7 3a5
SW, SP, SM
cimento (Clare & Sherwood, 1954). Estes
íons não estarão disponíveis para formar os
A-1-b GM, GP, SM, 7a9 5a8 componentes da matriz cimentícia. A adição
SP de cal hidratada, a qual disponibiliza íons
Ca+2 pode satisfazer a capacidade adsortiva
A-2 GM, GC, SM, 7 a 10 5a9 da matéria orgânica antes que a hidratação
SC
do cimento tenha iniciado, pode capacitar o
A-3 SP 8 a 12 7 a 11 solo a ter uma estabilização com cimento
bem sucedida. Para a cal ser bem sucedida,
A-4 ML, CL-ML 8 a 12 7 a 12 há a necessidade de quantidade suficiente
para satisfazer completamente a capacidade
A-5 ML, MH, CH 8 a 12 8 a 13 adsortiva da matéria orgânica.
A-6 CL, CH 10 a 14 9 a 15

A-7 OH, MH, CH 10 a 14 10 a 3.2.2. Características Comportamentais do


16 Solo-Cimento

De forma geral, a quantidade de cimento 3.2.2.1. Variáveis determinantes de


necessária para estabilizar um solo aumenta comportamento
com o aumento da fração de solos finos, com
exceção de areias uniformes que requisitam Vários são os fatores que influenciam a
mais cimento que solos arenosos contendo resistência de solos artificialmente
algum silte e argila. cimentados:

É importante ressaltar que as proporções  Propriedades físico-químicas


reais de cimento a serem utilizadas para do solo: mineralogia,
granulometria, teor de umidade, para a ocorrência da hidratação do cimento).
teor de matéria orgânica e pH. Em ordem decrescente de importância, os
 Tipo e quantidade do agente outros fatores relevantes foram a quantidade
cimentante. de cimento, o esforço de compactação e o
 Condições de compactação, tempo de cura. Nos itens subseqüentes serão
mistura e cura. detalhados os efeitos de alguns dos fatores
considerados de grande importância na
Para Felt (1955), o tipo e composição química determinação da resistência de misturas solo-
do solo, quantidade de cimento e água cimento.
adicionados, a densidade na qual a mistura é
compactada, o tempo pelo qual o solo, o
cimento e a água são misturados antes da 3.2.2.1.1. Efeito do Cimento
compactação e o grau de pulverização do
solo, se este for argiloso, são fatores que mais Usualmente, a adição de pequenas
influenciam o comportamento das misturas de quantidades de cimento (até 2%) modificará
solo-cimento. as propriedades do solo, enquanto que
Algumas pesquisas têm sido realizadas maiores quantidades irão alterar radicalmente
no intuito de identificar as variáveis que suas propriedades (Ingles & Metcalf, 1972).
desempenham papel preponderante no De acordo com os mesmos autores, as
comportamento de misturas de solo-cimento. propriedades do solo mudam com o aumento
Para Ingles & Metcalf (1972), as da quantidade de cimento: a resistência
propriedades gerais de solos estabilizados aumenta, a durabilidade a ciclos de molhagem
com cimento dependem primeiramente do e secagem aumenta, em geral a
teor de cimento e, em segundo lugar, da permeabilidade diminui, a tendência à
compactação. retração aumenta em solos granulares e a
Moore et al. (1970), desenvolveram tendência à expansão de solos argilosos será
um amplo estudo com o objetivo de reduzida. Clough et al. (1981) verificaram
determinar os fatores que mais afetam a que, para uma mesma tensão confinante, o
resistência à tração de solos tratados com aumento da quantidade de cimento provoca
cimento e desenvolver uma equação para aumento da resistência de pico e diminuição
estimativa preliminar da resistência à tração. da deformação na qual o pico é atingido.
A partir de uma detalhada revisão da Quando da adição de pequenas
literatura, os autores selecionaram fatores quantidades de cimento, observa-se aumento
considerados importantes e de significância do tamanho das partículas, redução da
prática na determinação da resistência à capacidade de retenção de água e redução no
tração de solos cimentado. São eles: índice de plasticidade (Catton, 1962).

 teor de umidade de moldagem;


 tempo de cura; 3.2.2.1.2. Efeito da Densidade e Compactação
 granulometria do solo;
 temperatura de cura; De similar importância à quantidade de
 esforço de compactação; cimento é a densidade na qual a mistura é
 quantidade de cimento. compactada. Com o aumento da densidade, a
resistência aumenta, a permeabilidade diminui
Através de uma análise estatística detalhada até um valor mínimo, próximo da umidade
os autores verificaram que, dentro do campo ótima, depois começa a aumentar novamente
amostral do experimento, o fator que (Ingles & Metcalf, 1972).
apresentou papel preponderante na
determinação da resistência à tração foi o teor Felt (1955) observou, a partir de
de umidade de moldagem (devido a ensaios em areias, siltes e argilas, que com o
necessidade de quantidade mínima de água aumento da densidade da mistura
compactada, as perdas de massa em amostras 1% a 2% superior ao teor ótimo determinado
submetidas a ensaios de durabilidade sofrem no ensaio de compactação.
grande redução especialmente nos solos Horpibulsuk et al. (2003), ao
siltosos e argilosos. Em relação à resistência, estudarem argilas moles com altos teores de
observou um aumento exponencial da umidade (106% a 185%) através de ensaios
resistência à compressão simples com o de compressão simples, verificaram que o
aumento da densidade da mistura, mantendo- fator água/cimento é um parâmetro
se constante o teor de umidade. apropriado para a análise do desenvolvimento
Clough et al. (1981) observaram, da resistência deste material porque leva em
através de ensaios triaxiais em areias, um consideração as interações físico-químicas
aumento de aproximadamente 25% (de 120 entre a água, a argila e o cimento. Enquanto
kPa para 150 kPa) na coesão e de que a quantidade de água reflete a
aproximadamente de aproximadamente 40% microestrutura da argila mole, a quantidade de
(de 29º para 41º) no ângulo de atrito interno cimento reflete o nível de cimentação de tal
com o aumento da densidade relativa de 60% microestrutura.
para 90%, mantendo-se constante a Da mesma forma, Consoli et al. (2004)
porcentagem de cimento. verificaram que o fator água/cimento é um
parâmetro essencial na análise do
comportamento mecânico de misturas de
3.2.2.1.3. Efeito do Teor de Umidade e do solo-cimento-bentonita (ver Figura 68).
Fator Água/Cimento Segundo os autores, em ensaios de
compressão simples com distintos teores de
Felt (1955) estudou o efeito da variação do umidade (w) e distintos teores de cimento (c),
teor umidade sobre a resistência de solos as curvas tensão-deformação são similares
arenosos, siltosos e argilosos cimentados desde que o fator água/cimento seja o mesmo
através de ensaios de durabilidade e de (no exemplo abaixo fator água/cimento=2).
compressão simples. O autor verificou que as Fator a/c = 2
amostras de argila e silte, compactadas com 2000
teores de umidade abaixo do ótimo de w =80% e c=40%
1800
compactação, apresentaram grandes perdas de w =100% e c=50%
massa. Já para umidades acima do teor ótimo 1600 w =150% e c=75%
de compactação, a perda de massa foi baixa e 1400 w =200% e c=100%
tensão axial (kPa)

praticamente constante com o aumento do 1200


teor de umidade. Para os solos arenosos
1000
testados, um teor de umidade levemente
800
inferior ao ótimo foi o que proporcionou
menores perdas de massa nos testes de 600
durabilidade. Em relação aos ensaios de 400
compressão simples, verificou-se que, de 200
forma geral, o teor de umidade que
0
proporciona o máximo de resistência é
0 1 2 3 4
levemente inferior ao teor ótimo de
deform ação axial (%)
compactação, exceto para o solo mais argiloso
testado. Considerando conjuntamente os Figura 68 – Influência do teor de umidade na
ensaios de durabilidade e de compressão resistência à compressão não-confinada das misturas de
simples, Felt (1955) observou que a melhor solo-cimento-bentonita (SCB) com fator água-cimento
efetividade do cimento pode ser obtida, para (a/c) igual a 2.
areias, compactando a mistura levemente
abaixo ou no teor ótimo de umidade, Consoli et al (2004) observaram também que,
enquanto que para siltes e argilas, a mistura quanto maior o fator água/cimento da mistura,
deve ser compactada com um teor de umidade menor será a resistência ao cisalhamento.
Resultados para fatores água-cimento de 2, 4
e 6 são apresentados na Tabela 12 e na Figura 3.2.2.2. Comportamento Mecânico
69.
3.2.2.2.1. Resistência à Compressão Simples
Tabela 12 – Resumo dos resultados dos ensaios
executados (Consoli et al. 2004)
A resistência à compressão simples é a
Teor de Resistência não-confinada medida mais comuns da efetividade da
Umidade (kPa)*
(%)
estabilização com cimento (Ingles & Metcalf,
a/c=2 a/c=4 a/c=6
1972). Em geral, a resistência à compressão
80 1100 168 60
100 1095 157 60 simples aumenta linearmente com a
150 1115 160 55 quantidade de cimento, porém, a diferentes
200 1050 155 58 taxas para diferentes tipos de solo, como
* Valores médios entre três corpos de prova mostra a Figura 70.

2000
pedregulho arenoso
a/c = 2,0
1800
a/c = 4,0
1600
a/c = 6,0
1400
tensão axial (kPa)

1200 argila siltosa

1000

800

600 argila arenosa


areia uniforme

400

200

0
0 1 2 3 4
deformação axial (%) Figura 70 – Efeito da quantidade de cimento sobre a
resistência à compressão simples para alguns solos
estabilizados com cimento Portland e curados por 7
Figura 69 – Influência do fator água-cimento na dias (adaptado de Ingles & Metcalf, 1972)
resistência à compressão não-confinada das misturas de
SCB (Consoli et al. 2004).
Prietto (1996) verificou que, para solos
arenosos cimentados, a resistência à
No entanto, é importante ressaltar que a compressão simples é uma medida direta do
compactação em solos ou no solo-cimento grau de cimentação. De acordo com o autor,
nunca consegue expulsar completamente o ar na grande maioria dos trabalhos relatados na
do sistema solo-água-ar ou solo-cimento- literatura sobre solos artificialmente
água-ar, e a resistência não pode ser cimentados, o grau de cimentação é
correlacionada com o fator água/cimento no representado pela quantidade relativa de
caso de solos compactados, pois fator material cimentante, normalmente pela
água/cimento só se aplica a materiais onde o porcentagem de cimento em relação à massa
ar foi totalmente expulso e os vazios de solo seco.
existentes estão preenchidos por água. Esse é No entanto, o grau de cimentação não
o caso do concreto, apesar de na prática, ser é função somente da quantidade de agente
considerada a existência de aproximadamente cimentante. Outros fatores como a densidade,
1,5% do volume total composto por vazios a forma e a natureza superficial das partículas
preenchidos por ar (Horpibulsuk et al., 2003). desempenham papel importante neste
processo. Por exemplo, a mesma quantidade
de cimento Portland produzirá resistências Existe um entendimento geral que, para uma
distintas ao ser adicionada em solos de mesma dada variação de tensões, a resistência ao
natureza, porém com densidades diferentes. cisalhamento de solos naturalmente e
Isto ocorre porque, no solo mais denso, existe artificialmente cimentados pode ser
um maior número de pontos de contato entre representada por uma envoltória reta de
as partículas e, portanto, a cimentação se Mohr-Coulomb, definida por um intercepto
desenvolve de maneira mais efetiva (Consoli coesivo, que é apenas função da cimentação, e
et al, 2007). por um ângulo de atrito que parece não ser
afetado pela cimentação.
Clough et al. (1981) mostram que a
3.2.2.2.2. Resistência à Tração cimentação em areias tem o efeito básico de
adicionar um intercepto coesivo e uma
Geralmente a resistência à tração, nas resistência à tração, aumentando a rigidez,
condições de umidade ótima e massa mas não afetando significativamente o ângulo
específica aparente seca máxima, atinge cerca de atrito interno. Os mesmos autores
de 10% da resistência à compressão simples verificam, também, que o pico de resistência
nas mesmas condições (Ingles & Metcalf, em solos cimentados são atingidos a pequenas
1972). deformações (1% a 2%).
Clough et al. (1981) encontraram Segundo Prietto (1996), para solos
valores de resistência à tração variando de 9% arenosos cimentados, a resistência à
a 12% da resistência à compressão simples compressão simples é uma medida direta do
em solos naturalmente cimentados. Em grau de cimentação. Conseqüentemente a
amostras artificialmente cimentadas, os resistência ao cisalhamento no ensaio triaxial
mesmos autores observaram resistências à pode ser expressa como uma função de
tração variando entre 11% e 13% da apenas duas variáveis: o ângulo de atrito
resistência à compressão simples. interno do material no estado desestruturado e
Dass et al. (1994) analisaram curvas a resistência à compressão simples do
tensão-deformação obtidas de ensaios de material cimentado.
tração por compressão diametral, tração direta De acordo com o autor, a tensão
e compressão simples em amostras de areia desvio na ruptura (qf) de solos artificialmente
artificialmente cimentadas, com teores de cimentados, obtida em ensaios triaxiais
cimento de 4%, 6% e 8% em relação ao peso convencionais, pode ser expressa como uma
de solo seco. A partir das análises, os autores função linear do grau de cimentação e da
tecem as seguintes observações: tensão efetiva média inicial através da
equação:
 A resistência à tração aumenta e a
deformação específica na ruptura diminui 2  sen φ
qf   pi  qu
com o aumento da porcentagem de
1  sen φ
cimento, independentemente do teste
utilizado.
 As resistências à tração, observadas A primeira parcela da equação acima
nos testes de tração por compressão representa a tensão desvio na ruptura do solo
diametral, variam de 11 a 12% da não-cimentado em função do seu ângulo de
resistência à compressão simples. Já as atrito interno (’) e da tensão efetiva média
resistências à tração, observadas nos testes inicial (pi’); a segunda parcela representa o
de tração direta, variam de 11 a 14% da grau de cimentação avaliado pela resistência à
resistência à compressão simples. compressão simples (qu) do mesmo solo
cimentado.
3.2.2.2.3. Resistência ao Cisalhamento
As hipóteses que suportam tal equação são:
 A envoltória de resistência é linear. 3.3. SOLO-CAL
 O ângulo de atrito interno do solo
cimentado e do mesmo solo não-cimentado 3.3.1. Visão Geral
são da mesma ordem de grandeza.
 O solo na condição não-cimentada é Dois tipos de cales são comumente
não-coesivo. utilizados para estabilizar solos coesivos –
CaO (óxido de cálcio, também conhecida
Prietto (1996) aplicou a equação obtida a como cal viva) e Ca(OH)2 (hidróxido de
resultados experimentais de solos cimentados cálcio, também conhecida como cal
relatados na literatura. Apesar das hidratada). Ambas cal viva e cal hidratada
consideráveis variações na densidade, são produzidas pela queima de calcário
mineralogia e natureza de agentes (CaCO3, carbonato de cálcio) conforme
cimentantes, uma grande concordância entre ilustrado pelas seguintes reações:
os valores previstos e observados foi obtida.
De acordo com Prietto (1996), os
parâmetros de resistência de misturas solo- CaCO3 + Calor → CaO + CO2
cimento compactadas podem ser
estabelecidas, para estudos preliminares, a
CaO + H2O → Ca(OH)2 + Calor
partir das seguintes equações, divididas em
solos de granulometria grosseira e solos finos:
É importante ressaltar que o calcário (CaCO3)
Solos granulometria grosseira (pedregulhos e é ineficiente na estabilização química de
areias): solos, mas pode ser utilizado como filer de
Ângulo de atrito: φ(graus) = 40 a 45 graus forma a aumentar o teor de finos dos solos.
Coesão: c (kPa) = 50 + 0,225 qu (kPa) A cal mais utilizada no Brasil para
tratamento de solos é a cal hidratada. A NBR
Solos granulometria fina (siltes e argilas): 7175 (ABNT, 2003) especifica três tipos de
Ângulo de atrito: φ(graus) = 30 a 40 graus cal hidratada, CH-I (a de melhor qualidade
Coesão: c (kPa) = 50 + 0,225 qu (kPa) por sua maior finura e maior quantidade de
óxidos totais de CaO e MgO), CH-II, CH-III e
define os quesitos químicos e físicos
3.2.2.2.4. Resposta Tensão-Deformação conforme Tabelas 13 e 3.4, abaixo:

Em geral, o comportamento tensão-


deformação de solos cimentados pode ser
descrito como inicialmente rígido,
aparentemente linear até um ponto de
plastificação bem definido, além do qual o
solo sofre aumento nas deformações plásticas
até a ruptura. Outra característica apresentada
é a marcante fragilidade na ruptura com a
formação de planos de ruptura. Tal fragilidade
aumenta com o aumento da quantidade de
cimento e diminui com o aumento da tensão
efetiva média (Schnaid et al., 2001).
Tabela 13: Exigências químicas.

Tabela 14: Exigências físicas.

De forma geral, as quantidades de cal solo com cal, a qual fornece aumento
necessárias para o tratamento de solos permanente da resistência e rigidez do solo
depende das características do solo e o uso e devido a ocorrência de reações pozolânicas.
características mecânicas desejadas da
mistura. O tratamento de solos com cal pode A título de ilustração, a Tabela 15,
ser dividido em duas classes gerais: (a) adaptada de Inglês e Metcalf (1972),
modificação do solo com cal, a qual reduz a apresenta um indicativo da quantidade de cal
plasticidade do solo, melhora a a ser adicionada para a estabilização, de
trabalhabilidade, aumenta a resistência a acordo com o tipo de solo.
defloculação e erosão; (b) estabilização do

Tabela 15: Previsão da quantidade de cal em função do tipo de solo (Ingles & Metcalf, 1972)

Tipo de Solo Teor de Cal para Modificação Teor de Cal para Estabilização

Pedra finamente britada 2a4 Não recomendado


Pedregulho argiloso bem graduado 1a3 3
Areias Não recomendado Não recomendado
Argila arenosa Não recomendado 5
Argila siltosa 1a3 2a4
Argilas 1a3 3a8
Solos orgânicos Não recomendado Não recomendado
O tratamento de solos com cal não é eficiente (de forma simplificada) as reações que
em solos com baixo ou nenhum teor de argila, ocorrem no solo tratado com cal:
uma vez que o melhoramento das
propriedades mecânicas é produzido pelas Ca(OH)2 → Ca+2 + 2(OH)-
reações entre a cal e os minerais argílicos.
Ca+2 + 2(OH)- + SiO2 (sílica da argila) → CSH
Todos os minerais argílicos reagem com a cal, (silicato hidratado de cálcio)
com a resistência das reações geralmente
aumentando na proporção da quantidade de Ca+2 + 2(OH)- + Al2O3 (alumina da argila) → CAH
sílica disponível. (aluminato hidratado de cálcio)
Quatro tipos básicos de reações que
onde C = CaO, S = SiO2, A = Al2O3 e H = H2O
ocorrem em solos coesivos tratados com cal:
(a) carbonatação, (b) troca catiônica, (c)
Tais reações somente ocorrem na presença de
floculação-aglomeração, e (d) reações
quantidades de água capazes de trazer Ca+2 e
pozolânicas.
(OH)- para a superfície das partículas de
A carbonatação ocorre quando o dióxido
argila. Conseqüentemente, as reações não
de carbono existente no ar ou em água
ocorrerão em solos secos e cessarão em um
estagnada entra em contato com a matriz solo-
solo úmido que vier a secar.
cal e converte a cal novamente em carbonato
Precaução é necessária quando da
de cálcio. O carbonato de cálcio é uma
consideração de uso de estabilização com cal
cimentação fraca e solubiliza na água ácida. A
de solos contendo sulfatos. Resultados
carbonatação é indesejável uma vez que reduz
experimentais obtidos por Mitchell (1986)
a quantidade de cal disponível para produzir
mostram que solos estabilizados com cal
as reações pozolânicas (cimentícias).
podem ser afetados de forma deletéria quando
Cal misturada com água resulta em
da existência de sulfatos no solo (de forma
cátions de cálcio livres, os quais podem
semelhante ao que ocorre em solos
substituir outros cátions dentro dos
estabilizados com cimento) devido a
complexos de troca catiônica que ocorrem no
formação de minerais extremamente
solo. A troca catiônica é ao menos
expansivos como etringita.
parcialmente responsável pela floculação e
A determinação da quantidade mínima
aglomeração de partículas de argila que
de cal para causar reações pozolânicas visa
ocorre em solos tratados com cal. O resultado
selecionar a quantidade de cal a ser
prático da floculação-aglomeração é a
adicionada ao solo que fornecerá a resistência
mudança na textura do solo uma vez que as
e a durabilidade adequadas ao uso que o
partículas de argila unem-se e formam
material se destina. Tal procedimento é
partículas de dimensões maiores.
usualmente realizado através de baterias de
As reações pozolânicas são similares
testes de laboratório de pH das misturas solo-
aquelas que ocorrem em solos tratados com
cal.
cimento. É sabido que a cal e a água reagem
Entre os métodos de dosagem de
com sílica e alumina existentes no solo para
misturas solo-cal mais utilizados destacam-se:
formar vários componentes cimentícios.
Origens típicas de sílica e alumina em solos
I – Método do pH (Eades & Grim, 1966) –
incluem minerais argílicos, quartzo, feldspato,
consiste na determinação do teor mínimo de
micas e outros silicatos ou alumino-silicatos
cal que produza um aumento no valor de pH
similares, com estrutura cristalina ou amorfa.
para 12,4.
A adição de cal também aumenta o pH do
solo, aumentando a solubilidade da sílica e da
II – Método do ICL (Initial Consumption
alumina presentes no solo. Se uma quantidade
of Lime) – proposto por Rogers et al. (1997),
significativa de cal é adicionada ao solo, o pH
é uma variação do método do pH, onde o teor
pode alcançar 12,4, que é o pH da água
mínimo de cal é aquele onde o pH atinge um
saturada com cal. A seguir são apresentadas
valor constante (máximo);
O método do pH apresenta algumas solo natural e tratado com 5, 9 e 13% de cal
limitações para utilização em solos tropicais e (realizadas após 24 horas da mistura da cal).
subtropicais. Estudos de Eades & Grim A partir destes resultados pode ser observada
(1966) demonstraram que a porcentagem de a modificação da granulometria do solo,
cal obtida pelo método do pH não produz a devido a ocorrência da floculação-
máxima resistência à compressão nos solos aglomeração e que quanto maior a quantidade
tropicais e subtropicais. Conforme o autor, o de cal maior a floculação.
método não assegura se a reação do solo com
a cal produzirá um substancial aumento de
resistência, devendo ser utilizado apenas
como referência.

3.3.2 Características Comportamentais do


Solo-Cal

3.3.2.1 Variáveis Determinantes de


Comportamento

Quando se adiciona cal a um solo argiloso


suas propriedades físicas são alteradas. Essas Figura 71 – Resultados da distribuição granulométrica
alterações dependem de diversos fatores, do solo natural e tratado com 5, 9 e 13% de cal
entre eles: tipo de solo, tipo e teor de cal, (Consoli et al. 1997).
energia de compactação, período e condições
de cura. A determinação da quantidade mínima
Segundo Attoh-Okine (1995), algumas de cal para a estabilização de solos com cal
das principais propriedades e características foi estabelecida através do método do pH
dos solos que influenciam as reações solo-cal (Rogers et al. 1997) A Figura 72 apresenta a
são: pH do solo, teor de matéria orgânica, variação do pH para com a adição de cal no
mineralogia da fração argila, grau de solo argiloso estudado. A partir de tais
intemperismo e presença de sulfatos. resultados pode ser concluído que 11% é a
Nos itens subseqüentes serão quantidade mínima de cal para estabilizar o
detalhados os efeitos de alguns dos fatores solo em questão.
considerados de grande importância na
determinação da resistência de misturas solo-
cal.

3.3.2.1.1 Efeito da Cal

A primeira resposta da mistura solo-


cal será a redução do índice de plasticidade,
mudança na granulometria e melhoria na
trabalhabilidade e a segunda será o ganho de
resistência através da cimentação das Figura 72 – Resultados da variação do pH para com a
adição de cal (Consoli et al. 1997).
partículas (Consoli et al, 1997). Exemplo da
aplicação da cal no tratamento de solo
argiloso (71% de fração argila, 3% de teor de A variação dos limites de Atterberg para com
matéria orgânica e pH 3,9) é apresentado por a adição de cal é apresentada na Figura 73
Consoli et al. (1997). A Figura 71 apresenta
resultados da distribuição granulométrica do
Diversos autores observaram que
misturas solo-cal apresentam menor massa
específica aparente máxima (d) que o solo
natural, para uma mesma energia de
compactação. À medida que o teor de cal
aumenta o d continua diminuindo. Além
disso, usualmente a umidade ótima aumenta
com o aumento do teor de cal.
As partículas do solo, quando
adicionada cal, se tornam mais floculadas,
Figura 73 – Efeito da adição da cal nas propriedades
plásticas do solo argiloso estudado (Consoli et al. devido à substituição dos íons sódio
1997). monovalentes da argila por íons cálcio
divalentes. Devido à floculação, a quantidade
de vazios e o tamanho dos vazios no solo
Consoli et al. (1997) também estudaram o aumenta. Esta estrutura floculada é forte o
efeito da porcentagem de cal na resistência a suficiente para resistir aos esforços de
compressão simples na mesma argila para 28 compactação com um índice de vazios mais
e 90 dias de cura. Pode ser verificado na alto, reduzindo assim o d do solo
Figura 3.7 que até 9% de porcentagem de cal, (Sivapullaiah et al., 1998).
não ocorre a estabilização do solo (resistência
não varia para com a porcentagem de cal e o
tempo de cura), confirmando que 11% de cal 3.3.2.1.3 Efeito do Teor de Umidade e da
é o teor mínimo de cal para a estabilização do Relação Água/Cal
solo estudado (corroborando resultado do
método do pH apresentado na Figura 72). Solos estabilizados com cal normalmente são
compactados em campo na umidade ótima
para obtenção da massa específica aparente
seca máxima, como determinado no ensaio de
compactação. Entretanto, estudos com solo-
cal e solo-cinza-cal mostram que em alguns
casos, o teor de umidade que proporciona
máxima resistência e durabilidade não é
necessariamente igual ao teor de umidade que
gera a maior massa específica aparente seca, e
sim um valor levemente inferior ao teor ótimo
(Consoli et al. 2001).
Figura 74 – Efeito da porcentagem de cal na resistência Osinubi (1998) estudou a influência
a compressão não confinada para 28 e 90 dias de cura do retardamento da compactação em misturas
(Consoli et al. 1997).
solo-cal, observando uma redução na umidade
ótima da mistura com a espera na
compactação, o que pode ser atribuído às
3.3.2.1.2 Efeito da Densidade e Compactação
trocas catiônicas e à floculação das partículas
de argila, que ocorrem simultaneamente, deste
De similar importância à quantidade de cal é a
modo diminuindo a água disponível no
densidade na qual a mistura é compactada.
sistema. Segundo o autor, em materiais
Com o aumento da densidade, a resistência
compactados imediatamente após a mistura, a
aumenta, a permeabilidade diminui até um
mudança nas características de compactação é
valor mínimo, próximo da umidade ótima,
principalmente devida à alteração na
depois começa a aumentar novamente (Ingles
granulometria do solo; quando ocorre uma
& Metcalf, 1972).
demora na compactação, os produtos de
hidratação se unem às partículas tornando
necessária a ruptura dessas agregações para simples é fundamentalmente dependente do
que o solo seja compactado satisfatoriamente, teor de cal de carbureto, apresentando uma
o que pode não recuperar sua total resistência. relação aproximadamente linear.
Na literatura foram encontrados
somente trabalhos que utilizam a relação
água/aglomerante para estimativa da 3.3.2.2 Comportamento Mecânico
resistência de solos tratados com cimento
(Consoli et al, 2004). Em solos tratados com 3.3.2.2.1 Resistência à Compressão Simples
cal, Ingles & Metcalf (1972) afirmam que a
água somente é necessária para transportar os A resistência de misturas solo-cal
íons cálcio e hidroxila para a superfície da normalmente é avaliada através dos ensaios
argila para que ocorram as reações químicas, de compressão simples, compressão triaxial e
e que o teor ótimo de água obtido pelo ensaio Índice de Suporte Califórnia (ISC), e depende
de compactação é suficiente para efetivar esse de diversas variáveis como: tipos de solo e
processo. cal, teor de cal, tempo e temperatura de cura.
Segundo Inglês & Metcalf (1972),
geralmente, a resistência à compressão
3.3.2.1.4 Efeito do Tempo de Cura simples aumenta linearmente com a
quantidade de cal até certo nível, usualmente
Inglês & Metcalf (1972) 8% para solos argilosos. A partir deste ponto
apresentam um estudo sobre a influência do a taxa de acréscimo de resistência diminui
tempo de cura em diferentes tipos de solos, com a quantidade de cal, devido às misturas
tratados com 5% de cal hidratada, observando solo-cal apresentar uma cimentação lenta e
taxas de ganhos de resistência maiores em dependerá do tipo de solo (Figura 76).
pedregulhos arenosos, conforme a Figura 75.

Figura 75 – Efeito do tempo de cura sobre a resistência Figura 76 – Efeito da quantidade de cal sobre a
à compressão simples para alguns solos estabilizados resistência à compressão simples para alguns solos
com cal (adaptado de Ingles & Metcalf, 1972) tratados com cal e curados por 7 dias (Inglês &
Metcalf, 1972)

Consoli et al. (2001) ao estudar um solo silto-


arenoso tratado com cinza volante e cal de O aumento da resistência à compressão
carbureto, observou que o teor de cal presente simples de misturas solo-cal, com o aumento
nas misturas não exerceu influência da energia de compactação, foi observado por
significativa sobre os valores médios de Mateos (1964), que afirmou que a resistência
resistência à compressão simples até a idade das misturas é fortemente influenciada pela
de 90 dias de cura. Para a maior idade de cura temperatura de cura, recomendando a
adotada (180 dias), a resistência à compressão construção de camadas de pavimento
estabilizadas com cal no início do verão. sendo o aumento do ângulo de atrito bem
Consoli et al. (2001) verificou que a energia menos expressivo. Considerando as baixas
de compactação influencia e é de fundamental tensões confinantes atuantes no interior de
importância na determinação da resistência pavimentos flexíveis ou fundações
mecânica de solos tratados com cal de superficiais, o aumento da coesão é da maior
carbureto e cinza volante. importância. Thompson (1969) observou que
Consoli et al. (2009a) apresenta o ângulo de atrito interno de misturas solo-cal
resultados de resistência a compressão variava de 25º a 35º e obteve a seguinte
simples onde a influência da adição de cal em relação entre a coesão (c) e a resistência à
uma argila arenosa pode ser observada (Fig. compressão simples (qu):
77). A resistência aumenta linearmente com o
teor de cal adicionado. c (kPa) = 60 + 0,292 qu (kPa)

2000 A Tabela 16 apresenta resultados de


d = 1,60 g/cm : qu = 18,8Ca + 282,6 (R = 0,70)
3 2

1800 d = 1,70 g/cm3 : qu = 32,8Ca + 435,2 (R2 = 0,91)


Consoli et al. (1997) com os parâmetros de
d = 1,80 g/cm3 : qu = 38,7Ca + 712,4 (R2 = 0,93)
1600
d = 1,88 g/cm : qu = 62,3Ca + 914,9 (R = 0,94)
3 2 resistência em tensões efetivas do solo e solo-
1400 cal com 5, 9 e 13 % de cal e tempos de cura
1200
estudados (7 a 180 dias de cura) para o
qu (kPa)

1000
mesmo . É possível verificar que a adição de
800
600
cal em valores inferiores ao necessário para
400 estabilização do solo (11%) não causa
200 modificações nos parâmetros de resistência e
0 mesmo para o caso de 13% de cal, a
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
modificação somente ocorre após 90 dias de
Ca (%)
cura, quando do aparecimento de coesão, a
Figura 77 – Variação da resistência à compressão
qual aumenta com o tempo a partir de 90 dias.
simples em relação à quantidade de cal ensaiados com
90 dias de cura (Consoli et al. 2009a).
Tabela 16. Parâmetros de resistência em tensões
efetivas do solo e solo-cal com 5, 9 e 13 % de cal e
3.3.2.2.2 Resistência à Tração tempos de cura estudados (7 a 180 dias de cura).
Misturas Tempo de Intercepto Ângulo de
Cura (dias) coesivo Atrito
Thompson (1969) constatou que o quociente
(kPa) (graus)
entre a resistência a tração pela resistência à Solo sem cura 0,0 40,6
compressão simples das misturas solo-cal 7 0,0 39,4
estudadas varia de 0,10 a 0,15, independente Solo + 5% 28 0,0 39,8
do tipo e/ou teor de cal. de cal 90 0,0 39,9
Consoli et al. (2001), ao estudar uma 7 0,0 40,1
Solo + 9% 28 0,0 39,8
mistura de solo arenoso compactado com
de cal 90 0,0 40,9
cinza volante e cal de carbureto, observou que 7 0,0 38,4
valores médios de resistência à tração na Solo + 13% 28 0,0 39,2
compressão diametral aumentam com o de cal 90 50,9 38,3
tempo de cura e que a taxa de crescimento dos 180 86,6 39,5
diferentes mecanismos de resistência (tração e
compressão) é variável com o tempo de cura.
Consoli et al (2001), ao verificar o
comportamento de um solo silto-arenoso
3.3.2.2.3 Resistência ao Cisalhamento tratado com 4% de cal de carbureto,
observaram um acréscimo na coesão de
O principal efeito na resistência ao 10kN/m2 para 42kN/m2 e um acréscimo no
cisalhamento de um solo fino reativo é o de ângulo de atrito de 35º para 38º, em relação
produzir um substancial aumento da coesão; ao solo natural.
3.3.2.2.4 Resposta Tensão-Deformação 3.4. Metodologias de Dosagem

Os efeitos da cal nas características de 3.4.1. Visão Geral


deformabilidade de um solo fino reativo são
marcantes no caso em que as reações Atualmente pesquisas têm sido realizadas no
pozolânicas já tenham ocorrido. A tensão de mundo inteiro buscando estabelecer um
ruptura aumenta significativamente, enquanto método de dosagem para solos tratados com
que a deformação para ruptura diminui, agentes cimentantes baseado em um critério
revelando o comportamento frágil das racional, semelhante ao usado na tecnologia
misturas solo-cal. Consoli et al (1997) do concreto, onde a relação água/cimento
apresentam resultados de ensaios triaxias CIU exerce papel fundamental na obtenção da
contendo o comportamento tensão- resistência desejada. Além disso, solos
deformação-poropressão de misturas de argila cimentados apresentam um complexo
com alto teor de umidade com 13% de cal e comportamento mecânico que é influenciado
períodos de cura de 7, 28, 90 e 180 dias de por muitos fatores, como a quantidade de
cura (Figura 78). A partir de tais resultados é agente cimentante, a porosidade da mistura
possível verificar a mudança no compactada e o teor de umidade de
comportamento para com o tempo de cura em moldagem. O estudo a seguir apresentado
amostras com cal suficiente (mais de 11%) (desenvolvido por Consoli et al. 2007, 2009a
para a ocorrência de reações pozolânicas. e 2009b) tem como objetivo demonstrar a
Observa-se que a resistência não apresentou influência da quantidade de agente
variação significativa para tempos de cura cimentante, da porosidade e do teor de
inferiores a 28 dias. umidade de moldagem na resistência de uma
argila arenosa tratada com dois agentes
cimentantes distintos, cal ou cimento, assim
como mostrar que o índice vazios/agente
cimentante exerce papel fundamental na
obtenção da resistência desejada. Na
sequência, o uso deste mesmo índice na
determinação da resistência a tração,
compressão triaxial, parâmetros de resistência
ao cisalhamento (c, φ) e módulos de rigidez
de misturas areia-cimento será apresentado,
estes últimos de acordo com pesquisas
desenvolvidas por Consoli et al (2009c e
2010).

3.4.2. Parâmetros-Chave para o Controle da


Resistência de Solos Tratados com Cal e
Cimento

A caracterização do solo escolhido no


desenvolvimento da pesquisa é sumarizada na
Tabela 17. O solo foi coletado de uma jazida
localizada na região de Porto Alegre, sul do
Brasil. O solo pode ser classificado como uma
argila arenosa (CL) de acordo com o Sistema
Figura 78 – Curvas (ensaios triaxiais CIU) tensão- Unificado de Classificação do Solo. Os
deformação-poropressão de misturas de solo com 13%
de cal e períodos de cura de 7, 28, 90 e 180 dias de
materiais cimentantes utilizados neste
cura (Consoli et al. 1997). trabalho foram a cal hidratada (com massa
específica real dos grãos de 2,49) e o cimento 15
Portland de alta resistência inicial (com massa 14 Solução
Padrão
específica real dos grãos de 3,15). Para os 13
ensaios de caracterização e de compressão 12

pH
11
simples foi utilizada água potável proveniente
10
da rede de abastecimento pública. 9
8
Tabela 17: Propriedades Físicas da Amostra de Solo 7
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
PROPRIEDADES VALORES
Teor de Cal (%)

Limite de Liquidez 25% Figura 79 – Resultados dos ensaios ICL.


Limite de Plasticidade 17%
Índice de Plasticidade 8%
Foram utilizados, para os ensaios de
Densidade Real dos Grãos 2,81 compressão simples, corpos-de-prova
Areia Média (0,2 mm < diâmetro <
12,6% cilíndricos de 5 cm de diâmetro e 10 cm de
0,6 mm) altura.. Os corpos de prova foram curados em
Areia Fina (0,06 mm < diâmetro < 0,2 uma câmara úmida com temperatura de 23º ±
41,1%
mm)
2 ºC. Após a cura em câmara úmida, as
Silte (0,002 mm < diâmetro < 0,06
42,0% amostras eram submersas em um tanque com
mm)
Argila (diâmetro < 0,002 mm) 4,3%
água por um período de 24 horas, visando
aproximar a condição de saturação e
Diâmetro Efetivo (D10) 0,0036 mm minimizar a sucção, totalizando 7 dias de cura
Coeficiente de Uniformidade (Cu) 33 (solo-cimento) e 28 dias de cura (solo-cal). O
programa de ensaios de compressão simples
foi elaborado de maneira que pudesse ser
A mínima porcentagem de cal (em relação a avaliada, isoladamente, a influência do teor de
massa seca de solo) adotada nesta pesquisa foi agente cimentante, da porosidade, do teor de
estabelecida através dos métodos Initial umidade de moldagem, da relação
Consumption of Lime (ICL). A Figura 79 água/cimento e da relação vazios/agente
apresenta os resultados da variação do pH cimentante sobre a resistência mecânica do
com o aumento do teor de cal (método ICL), solo artificialmente cimentado. Os pontos de
pode-se observar que é necessário um teor moldagem do programa de ensaios de
mínimo de 3% para estabilizar a variação do compressão simples são apresentados na
pH e alcançar um pH próximo à Solução Figura 80 juntamente com as curvas de
Padrão. Com base método ICL, adotou-se um compactação do solo, solo + 11% de cal
teor mínimo de 3% de cal, além dos teores de (máximo teor de cal utilizada) e solo + 11%
5, 7, 9 e 11% (tais porcentagens foram de cimento (máximo teor de cimento
escolhidas com base na experiência utilizado), para as energias usuais do ensaio
internacional com solo-cal). Para comparar as Proctor [normal (600 kN.m/m3) e modificada
tendências de dosagem entre solo-cal e solo- (2.700 kN.m/m3)] e as curvas de saturação de
cimento foram adotadas as mesmas 89% e 100%. Ocorreu pouca diferença entre
porcentagens de cimento (3, 5, 7, 9 e 11%). as curvas de compactação do solo + 3%, +
5%, + 7% e + 9% de cal (tanto para energia
normal quanto para a energia modificada)
quando comparado com solo+11% de cal, e
somente um resultado foi mostrado (solo +
11% de cal). O mesmo aconteceu com as
curvas de compactação para solo+cimento,
portanto, somente foi apresentado o resultado
de solo + 11% de cimento.
20,0

19,5

19,0
A4
18,5
 d (kN/m3)

Energia Normal (Solo) B1 B2 A3 B3


18,0
Energia Normal (Solo+11%Cal)

17,5 Energia Normal (Solo+11%Cimento)

Energia Modificada (Solo)


17,0 Energia Modificada (Solo+11%Cal) A2
Energia Modificada (Solo+11%Cimento)
16,5
Pontos de Moldagem
A1
16,0 S = 100%

S = 89%
15,5
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
w (%)
Figura 80 – Curvas de compactação e programa de ensaios de compressão simples.

Os pontos de moldagem foram posicionados 1000


d = 16,0 kN/m3 : qu = 10,1Ca + 173,5 (R2 = 0,95)
em duas linhas; uma linha vertical (Pontos 900 d = 17,0 kN/m3 : qu = 12,6Ca + 292,7
d = 18,0 kN/m3 : qu = 20,5Ca + 422,2
(R2 = 0,97)
(R2 = 0,97)

A1, A2, A3 e A4), denominada linha “A”, 800 d = 18,8 kN/m3 : qu = 19,8Ca + 543,7 (R2 = 0,93)

700
com um mesmo teor de umidade e diferentes 600
pesos específicos secos, e uma linha
qu (kPa)

500
horizontal, denominada linha “B” (Pontos 400

B1, B2, A3 e B3), com mesmo peso específico 300


200
seco e diferentes teores de umidade. A
100
posição dos pontos de moldagem na Figura 0
80 foi escolhida considerando uma situação 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Ca (%)
de campo usando diferentes energias de
compactação. Cada ponto das linhas “A” e (a)
“B” foi moldado com cinco diferentes 6000
d = 16,0 kN/m3 : qu = 178,5C0,93 (R2 = 0,99)
porcentagens de teores de cal ou cimento: 5000
d = 17,0 kN/m3 : qu = 227,2C0,98
d = 18,0 kN/m3 : qu = 308,6C1,01
(R2 = 0,99)
(R2 = 0,99)
d = 18,8 kN/m3 : qu = 301,2C1,18
3%, 5%, 7%, 9%, e 11%. A Figura 81 mostra (R2 = 0,98)

os resultados da resistência à compressão 4000


qu (kPa)

simples dos corpos-de-prova moldados na 3000

linha “A” (w = 14%). A variação da


2000
resistência à compressão simples (qu) pelo
teor de agente cimentante é apresentada na 1000

Figura 81(a) para as amostras com cal e na 0


Figura 81(b) para as amostras com cimento. 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
C (%)
Pode-se observar uma relação linear para
misturas solo-cal e uma função quase linear (b)
para as misturas solo-cimento. Além disso, Figura 81 – Variação da resistência à compressão
simples pelo teor de agente cimentante: (a) amostras
observa-se que nas misturas solo-cimento a
com cal, (b) amostras com cimento.
taxa de aumento da resistência cresce com o
aumento do peso específico aparente seco,
comportamento não tão pronunciado nas
misturas solo-cal.
Nas Figuras 82(a) e 82(b) são compressão simples, permitindo a
apresentadas as resistências a compressão desconsideração da sucção na análise.
simples (qu) em função do teor de umidade de
moldagem das amostras com mesmo peso Para explicar as diferentes tendências
específico seco (linha “B”). Pode-se observar entre o solo-cal e solo-cimento utilizados é
que na faixa de teores estudados (10% < w < importante salientar que distintas reações
16%), a umidade de moldagem não afetou ocorrem no solo argilo-arenoso estudado
significativamente a resistência à compressão quando misturamos com cal ou cimento. A
simples tanto para as misturas solo-cal quanto cal hidratada inicialmente reage com a argila
para as misturas solo-cimento. ocasionando mudanças em curto prazo, onde
os íons cálcio da cal podem trocar com os
750 íons associados com os minerais da argila
700
Ca = 3%
Ca = 9%
Ca = 5%
Ca = 11%
Ca = 7%
causando floculação das partículas de argila.
650
Um maior grau de melhoria ou cimentação
das misturas solo-cal vai depender do tempo
600
qu (kPa)

de cura. Isto ocorre porque a sílica e a


550
alumina presentes na estrutura do solo
500
reagem com a cal e a água para formar géis
450 de silicatos hidratados de cálcio e aluminatos
400 hidratados de cálcio, os quais
9 10 11 12 13 14 15 16 17
w (%)
subseqüentemente cristalizam (tais reações
são nomeadas de reações pozolânicas e são
(a) dependentes do período de cura). Por outro
6000
lado, o cimento Portland é um aglomerante
C = 3% C = 5% C = 7% hidráulico, a pega (o tempo de pega inicial é
5000 C = 9% C = 11%
de 3,25 h, devido ao uso de cimento Portland
4000 de alta resistência inicial) e o endurecimento
ocorrem através de reações com a água
qu (kPa)

3000
(hidratação).
2000

1000
A Figura 83 mostra a relação entre a
0 resistência à compressão simples e a relação
9 10 11 12 13 14 15 16 17
w (%)
porosidade - teor volumétrico de material
cimentante para cal
(b)  Porosidade
{  } e cimento
Figura 82: Efeito do teor de umidade de moldagem na Cav Teor Volumétric o de Cal
resistência à compressão simples: (a) amostras com cal,  Porosidade
(b) amostras com cimento. {  }.
Civ Teor Volumétric o de Cimento

O processo de imersão dos corpos-de-prova Todas as amostras da Figura 83 têm o


por 24 horas antes da realização do ensaio de mesmo teor de umidade (w = 14%), mas
compressão simples se mostrou satisfatório diferentes teores de materiais cimentantes e
no aumento e uniformização do grau de porosidades. Os dados na Fig. 83(a) se
saturação. O grau de saturação médio obtido referem a misturas solo-cal e os da Figura
nas amostras após a imersão foi de 80%, 83(b) as misturas solo-cimento. Para as
indistintamente da porosidade inicial e dos misturas solo-cal observa-se que não há uma
teores de agente cimentante. Baixos valores relação definida entre a qu e a /Cav,
de sucção medidos ficaram compreendidos entretanto as misturas solo-cimento
numa faixa entre 1% a 5% da resistência à apresentaram uma razoável correlação entre a
qu e a /Civ.
  
{ qu (kPa)  49,5 x  0, 06 
 2110 } e uma
 (C av ) 
1000
900 Ca = 3%

800
Ca = 5%
relação potência para as misturas de solo-
Ca = 7%
700
Ca = 9% cimento
600 3, 23
  
Ca = 11%
qu (kPa)

{ qu (kPa)  5,08 x10 x 


500 7
0 , 35 
400
}.
300  (Civ ) 
200
100 Os resultados apresentados indicam a
0
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
existência de relações exclusivas e distintas
/ Cav para as misturas compactadas de argila
arenosa - cal e misturas de argila arenosa -
(a) cimento estudados na presente pesquisa.
6000 Assim, para o solo em estudo, pode-se
C = 3% concluir também que a forma da equação e
5000 C = 5%
C = 7%
seus coeficientes são função dos materiais
4000 C = 9% cimentantes utilizados. São necessários
estudos adicionais (realizando ensaios em
qu (kPa)

C = 11%
3000
outros solos) para conferir a possibilidade de
2000
generalizar os resultados obtidos.
1000

0 1000
Ca = 3%
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 900 Ca = 5%
 / C iv 800 Ca = 7%
Ca = 9%
700 Ca = 11%
(b) 600 q u = -49,5(/(Cav)0,06)+2110,1
qu (kPa)

R2 = 0,98
Figura 83 – Variação da resistência à compressão 500
400
simples pela relação porosidade/teor volumétrico de
300
agente cimentante: (a) amostras com cal, (b) amostras
200
com cimento.
100
0
26 28 30 32 34 36 38 40 42
/ (Cav)0,06
Dividindo a porosidade pelo teor volumétrico
de agente cimentante, assumiu-se que um (a)
aumento na porosidade da mistura poderia ser
compensado por um aumento proporcional no 6000
C = 3%
teor volumétrico de agente cimentante 5000
C = 5%
C = 7%
mantendo inalterada a resistência à C = 9%
4000 C = 11%
compressão simples. De fato, para manter a q u = 5,08x10 7(/(Civ)0,35)-3,23
qu (kPa)

R2 = 0,97
mesma qu, um incremento deve ser aplicado 3000

nas variáveis (, 1/Cav ou 1/Civ) para 2000


compatibilizar seus efeitos da variação da qu.
Foi encontrado que, aplicando um ajuste de 1000

0,06 no parâmetro Cav para as misturas de 0

solo-cal e um fator de 0,35 no parâmetro Civ 14 17 20 23 26 29 32 35 38 41


/ (Civ )0,35
foi alcançado para as misturas de solo-
cimento um bom ajuste dos dados para a (b)
resistência a compressão simples como Figura 84 – Variação da resistência à compressão
mostram as Figuras 84(a) e 84(b). Foi obtida simples pela relação porosidade/teor volumétrico de
uma boa correlação com a função linear para agente cimentante ajustado: (a) amostras com cal, (b)
as misturas solo-cal amostras com cimento.
Uma exclusiva e distinta relação (uma para 3.4.3. Parâmetros-Chave para o Controle da
solo-cal e outra para solo-cimento) entre a Resistência à Tração e Compressão de Solos
resistência à compressão simples e a Tratados com Cimento
porosidade/teor volumétrico de agente
cimentante define equações que podem ser Atualmente é reconhecido que a resistência à
utilizadas na dosagem de misturas solo-cal compressão e à tração estão intimamente
ou solo-cimento. O ajuste do teor relacionadas em solos artificialmente
volumétrico de agente cimentante por um cimentados (Ingles e Metcalf, 1972; Clough et
expoente 0,06 (quase zero) para misturas de al., 1981; Dass et al., 1994; Consoli et al.,
solo-cal indica que a quantidade de cal (uma 2001). Entretanto, ainda não é clara a
vez satisfeito o teor mínimo) praticamente existência de uma proporcionalidade direta
não afeta a resistência à compressão simples entre qu e qt (considerando o amplo intervalo
(RCS) de tais misturas. Como conseqüência, de índices de vazios e teores de cimento) e se
para as misturas solo-cal estudadas, o valor essa relação é uma função da porosidade e
desejado da RCS para um ganho deve ser teor de cimento. O ensaio de compressão não
obtido através da redução da porosidade de confinada, portanto, tem sido usado como um
misturas solo-cal, usando pequenos teores de dos meios mais convenientes para investigar o
cal (em relação ao mínimo requerido pelo efeito de diferentes variáveis na resistência do
método ICL). Para as misturas solo-cimento, solo-cimento para realizar as metodologias de
o ajuste do teor volumétrico de agente dosagem. Questões que permanecem não
cimentante foi de 0,35, isto significa que respondidas são: É correto determinar
podemos alcançar a RCS desejada por dois metodologias de dosagem com base em
caminhos distintos: redução da porosidade ensaios de resistência à compressão não
ou aumento do teor de cimento. Portanto, confinada para o caso das tensões de tração
para a mistura solo (argilo-arenoso) cimento serem as variáveis básicas? Existe uma
Portland estudada na presente pesquisa, a proporcionalidade direta entre qu e qt? O
escolha da dosagem a ser utilizada vai ser índice qt/qu para uma dada relação solo-
embasada na avaliação do custo associado a: cimento é uma função da razão
introduzir uma energia mais alta de vazios/cimento?
compactação ou aumentar a quantidade de A resposta a tais questionamentos foi
cimento Portland. Como exemplo da obtida por Consoli et al. (2010) a partir da
dosagem da mistura de argila arenosa e análise de resultados de compressão não
cimento aqui estudada, uma vez estabelecida confinada e tração por compressão diametral
certa resistência a compressão simples a ser apresentados na Figura 85, a qual resume
alcançada (aqui estabelecida para medições de tais ensaios em amostras da areia
exemplificar qu=2000 kPa), usando a de Osório (RS) tratada com cimento em teores
equação de 1 % a 12 % e índices de vazios variando de
3, 23 0,63 a 0,81. Examinando esta figura, bem
  
qu (kPa)  5,08 x10 x 
7
0 , 35 
, nós como as equações contidas na mesma
 (Civ )  (relacionando qu com /Civ e qt com /Civ),
poderíamos determinar qu=2000 kPa através pode-se observar que estas apresentam
de inúmeras alternativas, dentre elas: (1) tendências semelhantes. Dividindo-se qt/qu
usando um teor de cimento de 5% e um peso para as misturas areia-cimento, pode ser
específico em torno de 19 kN/m3 ou (2) observada a independência da razão qt/qu para
usando um teor de cimento de 10% e um com o fator vazios/cimento:
peso específico de 16,8 kN/m3. No caso 1, a 1, 30
 
energia de compactação é bem maior que no 4.266 
caso 2, entretanto, o teor de cimento (caso 1) qt
  Civ   0,15 .
1, 30
é a metade quando comparado com o caso 2. qu  
28.327  
 Civ 
Figura 86 - Tensão desvio versus fator vazios/cimento
para distintas tensões de confinamento (zero a 400 kPa)

Na sequência da análise, Consoli et al.


Figura 85 - Variação da resistência à compressão não (2009c) avaliaram as envoltórias de ruptura
confinada (qu) e da resistência a tração por compressão (Figura 87) e sua possível dependência do
diametral (qt) para com o fator vazios/cimento (/Civ) fator vazios/cimento. Como resultado da
análise, pode ser concluído que cada fator
Assim, pode-se concluir que há uma vazios/cimento está relacionado a um
proporcionalidade direta entre a resistência à conjunto de parâmetros de resistência (coesão
tração e à compressão, que é válida para toda e ângulo de atrito). Quanto maior o fator
a gama de índice de vazios e teores de vazios/cimento, menor serão os parâmetros c
cimento estudados. Como conseqüência, é e φ.
possível sugerir que qualquer metodologia de
dosagem racional, considerando o efeito de
diferentes variáveis pode ser centrada em
ensaios de tração ou compressão, uma vez
que estes estão intimamente relacionados
através de um escalar (0,15 para a areia
cimentada apresentada aqui).

3.4.4. Parâmetros-Chave para o Controle da


Resistência à Compressão Triaxial e Rigidez
de Solos Tratados com Cimento

O efeito das tensões de confinamento na


relação resistência versus /Civ foi analisado
por Consoli et al (2009c) para um solo
arenoso uniforme (Figura 86). A análise de
tais resultados sugere que para as distintas Figura 87 - Envoltórias de ruptura para os fatores
vazios/cimento estudados.
tensões de confinamento estudadas, o
material apresentou mesmas tendências
comportamentais e que quanto maior a
Consoli et al. (2009c) também avaliaram o
tensão de confinamento, maior a resistência
efeito do fator vazios/cimento para com o
do material.
módulo cisalhante inicial (Go), conforme
apresentado na Figura 88. Quanto maior o
fator vazios/cimento, menor será o valor de capacity, geotextile selection and pre-design
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