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TERRAPLENAGEM

1 Definição
A terraplenagem tem a função de mudar a configuração do terreno, ou seja, dar ao terreno as
condições de uso impostas pela atividade a que se destina.
A terraplenagem envolve um conjunto de operações de corte (escavações), transporte
(carregamento, carga, descarregamento) e aterro (umedecimento, compactação) que são feitas
no sentido de modificar a conformação topográfica do terreno, visando a implantação da obra.
Quando planejamos a implantação de uma obra num terreno, a intenção principal deve ser a
minimização de impactos na topografia local por questões estéticas, econômicas e ecológicas,
contudo algumas interferências tornam-se necessárias em função do projeto. Deve-se interferir
o mínimo possível nos padrões de drenagem natural e equilibrar a quantidade de cortes e
aterros exigidos para a construção.

Figura 1 – Localização da edificação no terreno. (a) cortes e aterros equilibrados. (b)


construção em patamares exigindo muros de arrimo. (c) construção sobre pilares diminui os
impactos no terreno natural. Fonte: <http://www.mcc-construtora.com/Terra.html>

2 Operações básicas de terraplenagem


Corte (escavação) - consiste na remoção do material do terreno natural até atingir o nível
desejado. O destino do material escavado pode ser o aterro ou bota-fora, de acordo com a
especificação técnica do projeto.
Carga e Transporte - remoção do material escavado, compreendendo as operações de carga,
transporte propriamente dito e descarga.
Aterro - consiste no depósito e compactação do material até atingir o nível desejado. Esta
operação deve ser precedida da execução dos serviços de desmatamento, destocamento e
limpeza. As obras necessárias à drenagem das bacias hidrográficas que interceptam os
aterros, também já devem estar concluídas. A etapa de construção do aterro consiste na
descarga, espalhamento, homogeneização, convenientemente umedecimento, compactação
dos materiais procedentes de cortes e/ou empréstimos até a cota correspondente ao nível final
de terraplenagem.
Pode-se ter em terraplenagem:
VC = VA - quando há compensação de material - situação ideal.
VC < VA - quando há falta de material - empréstimo.
VC > VA - quando há sobra de material - bota fora.
Onde VC - volume de corte, VA - volume de aterro.

O material de aterro deve ser boa qualidade, sem matéria orgânica ou turfa compressível,
proveniente de empréstimo. O material que será descartado, originado dos cortes, deve ser
disposto em área de bota fora licenciado ambientalmente.

3 Processos de terraplenagem
Podem ser executados por processo manual, hidráulico e mecânico.
3.1 Processo manual
Utilizam a força humana, através da utilização de ferramentas. Está restrito a pequenos
movimentos de terra (ate 100 m3). Exemplo de serviços e respectivas ferramentas do processo
manual: corte (picareta), carga (pá), transporte (padiola, carrinho de mão), descarga (pá),
espalhamento (enxada), compactação (soquetes manuais ou mecânicos).
3.2 Processo hidráulico
Usa-se a água como agente transportador no movimento de terra. Depende de existir água em
abundância e de urna topografia adequada, além de um longo prazo de execução. Quando a
fonte do material, ou seja, a área de empréstimo está topograficamente mais elevada do que o
local onde será implantado o aterro, o fluxo ocorre devido à gravidade, caso contrário são
usadas bombas (dragas) que sugam e impulsionam a mistura de material sólido e água até a
área onde será depositado.

3.3 Processo mecânico


Utilizam máquinas de vários tipos para a movimentação da terra. Exemplo de serviços e
respectivas máquinas do processo mecânico: corte (escavadeira), carga (pá-carregadeira),
transporte e descarga (caminhão basculante), espalhamento (trator de lâmina, motoniveladora),
compactação (rolos compactadores).

4 Classificação dos solos na terraplenagem


 Material de 1ª categoria – solos em geral, residual ou sedimentar, seixos rolados ou
não, com tamanho máximo < 0,15m, qualquer que seja o teor de umidade apresentado.
Podem ser escavados com auxílio de equipamentos comuns: trator de lâmina, “motoscraper”,
pás-carregadeiras.
 Material de 2ª categoria – solos de resistência ao desmonte mecânico inferior à
rocha não alterada, cuja extração se processe por uso de equipamento de escarificação, e
explosivos de baixa potência, incluídos nesta classificação os blocos de rocha, de volume
inferior a 2m³ e os matacões ou pedras de tamanho médio entre 0,15m e 1,00m.
 Material de 3ª categoria – compreende os de resistência ao desmonte mecânico
equivalente à rocha não alterada e blocos de rocha, com tamanho médio superior a 1,00m,
ou de volume igual ou superior a 2m³, cuja extração e redução necessite emprego contínuo
de explosivos.

5 Propriedades físicas dos solos

Empolamento - Pode ser definido como o aumento de volume do material ao ser removido de
seu estado natural, ou seja, ocorre um aumento do índice de vazios entre as partículas sólidas.
É expresso em porcentagem e é calculado de acordo com a equação a seguir:
coef. empolamento = γn - 1 x 100 (%) , onde γn=densidade natural do material
γs γs=densidade solta do material

Ex.: Empolamento de argila seca - 40%- significa que 1 m 3 de argila no corte irá ocupar quando
solta um espaço de 1,40m3.
Tabela 1 - Fator de empolamento

Fonte: Fabiani, 1981.

Contração - É a diminuição do volume original do material de corte quando é compactado.

Ex.: Argila natural - contração= 20%


m3 material solto = 1,20m3 → aterro em 1m3 (volume a ser ocupado após compactação.
6 Terraplenagem para fundação
Consiste na abertura de valas ou poços isolados ou em toda a área da construção. A abertura
das valas ou poços pode ser feita pelo processo manual ou mecânico. O serviço de
terraplenagem na obra de edifícios está muitas vezes associado ao de contenção da
escavação, uma vez que, ao se realizar uma escavação, o solo remanescente precisará ser
contido para não comprometer as regiões vizinhas (Figura 2).

Figura 2 – Terraplenagem para obras de edifícios


(a) Escavação em divisa (b) Escavação para fundação

OBS.: O material escavado deve ser afastado das proximidades das cavas evitando-se o
desabamento de suas laterais, seguindo as normas de segurança para realização do serviço.
Durante toda a fase de execução e durante a existência da ESCAVAÇÃO, é indispensável ter-
se no canteiro de obra um arquivo contendo os seguintes documentos TÉCNICOS:
a) resultados das investigações geotécnicas;
b) perfis geotécnicos do solo;
c) profundidade e dimensões da escavação, bem como as etapas a serem atingidas durante a
execução e reaterro;
d) condições da água subterrânea;
e) levantamento das fundações das edificações vizinhas e redes de serviços públicos;
f) projeto detalhado do tipo de proteção das paredes da escavação;
g) caso haja necessidade das ancoragens penetrarem em terrenos vizinhos, deve-se ter
autorização dos proprietários para permitir a sua instalação.

6.1 Escavação das cavas de fundação


Como as escavações para fundações são temporárias, seus taludes são, em geral, o mais
próximo possível da vertical e seus escoramentos são somente suficientes para evitar riscos de
ruptura. Até 5m de profundidade, as escavações podem ser consideradas rasas e os
problemas envolvidos não são sérios. Além dessa profundidade, elas são chamadas profundas
e os problemas envolvidos se complicam.
Em terrenos argilosos, as profundidades de escavação admissíveis, sem perigo nítido de
ruptura são:
- Para argila mole - inferior a 1,0 m;
- Para argila média - 1,0 a 2,0 m;
- Para argila rija - 2,0 a 3,5 m.
As escavações para fundações em areia, quando não se pretende usar escoramentos, é
conveniente a abertura das cavas sob TALUDE de, no mínimo, 2 vertical para 3 horizontal. A
Figura 3 apresenta desmoronamento em terreno escorado durante execução de fundação
direta em solo arenoso.

Figura 3 – Desmoronamento de solo durante escavação

6.2 Tipos de escoramentos das cavas de fundação

6.2.1 Escoramentos com pranchada horizontal


Para sustentar um talude vertical, cuja altura esteja acima da admissível, são usadas,
comumente, pranchas horizontais.
Quando se trata de escavações de trincheiras, as estroncas escoram as pranchas de uma das
faces contra as da face oposta. Nas trincheiras rasas, ou naquelas em que o solo é
extremamente fissurado, onde há perigo de desprenderem-se blocos de terra dos taludes
(Figura 4a), é conveniente o escoramento do bordo superior da escavação por meio de
pranchas de madeira, colocadas horizontalmente junto ao bordo e escoradas por meio de
estroncas de madeira, espaçadas entre si, de 2,0 a 3,0 m.
É muito comum, para facilidade de retirada do material escavado, executar a escavação
formando degraus (Figura 4b).
Quando a escavação é profunda, então, serão necessárias pranchas horizontais semelhantes
às descritas anteriormente, colocadas a partir de uma certa altura, a contar do fundo. Essa
altura deve ser sempre inferior à metade da altura admissível sem escoramento. O intervalo em
altura entre os eixos das pranchas deve ser de 1,0 a 2,0 m (Figura 4c).
Finalmente, quando a tendência de desmoronamento é acentuada, utilizam-se várias pranchas
justapostas e mantidas por meio de traves verticais, sustentadas por escoras.
Fig. 4a - Pranchada horizontal Fig. 4b - Escavação em degraus

Fig. 4c - Pranchas justapostas com traves verticais sustentadas por escoras

As Figuras 5a e 5b ilustram os escoramentos para escavação rasa e profunda.


Figura 5a - Escoramento para escavação rasa

Figura 5b - Escoramento para escavação profunda


6.2.2 Ensecadeiras
É o sistema de escoramento com estacas pranchas, que são cravadas justapostas no solo ou
executadas previamente antes da execução da escavação. Tipos de ensecadeiras:
a) De madeira: uso limitado a obras provisórias devido a sua reduzida duração.
b) De concreto: pode ser executado de diversos formatos e dimensões, com custo
relativamente baixo. A desvantagem é o fato de não ter boa resistência a choques, podendo
danificar com frequência (Figura 6a).
c) Metálicas: não se danificam com facilidade durante a cravação, porém tem alto custo e
pouca duração em meios agressivos (Figura 6b).
d) De terra – obras provisórias.
Figura 6a – Ensecadeira de concreto Figura 6b – Ensecadeira metálica

Referência Bibliografica: Apostila de Tecnologia das Construções da Professora Alessandra S.


Reis, Colatina, 2016, adaptação de Leila Celin Nascimento.

Exercícios de Terraplenagem
1. Uma determinada obra exigiu que fosse feita uma escavação de 2800m 3 de argila
seca. Qual o volume ocupado pelo material, sabendo que o coeficiente de
empolamento é 38%? Quantas viagens de um caminhão de 6m 3 seriam necessárias
para transportar este material?

2. Calcule o volume de escavação, o volume de material de bota-fora para uma fundação


direta com o uso de 9 sapatas (7 de dimensões 0,80 x 0,80m e 2 de dimensões 1,00 x
1,00m, com altura da base de 0,25m), conforme esquema a seguir. Dados: Os pilaretes
têm dimensões de 0,20 x 0,20 m, o espaçamento entre a sapata e a escavação é de
0,30m. A profundidade da escavação é de 1,50m. O empolamento do solo é de 38%.
Considere que todo o material de escavação não serve para reaterro.

3. Calcule o volume de aterro novo (comprado de uma área de empréstimo com


contração de 22%) para a situação apresentada no exercício 2.

4. Ainda a respeito do exercício 2, considere que o material de escavação é de boa


qualidade e que possui contração de 28%. Calcule o volume de reaterro.

5. Calcular o volume de escavação, de reaterro e de bota-fora para a fundação de uma


pequena edificação realizada em sapata corrida.
Considerar:
o solo da escavação mole mas resistente;
o reaterro com o próprio material;
o empolamento de 25% do solo.
o Contração de 20%.

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