Você está na página 1de 7

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental

ENSINO DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA NOS CURSOS DE


ENGENHARIA CIVIL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE -
FURG

1 2 3
Karina Retzlaff Camargo ; Cezar Augusto Burkert Bastos , Cesar Alberto Ruver

Resumo – O artigo apresenta a evolução e o estado atual do ensino de Geologia de Engenharia


nos cursos de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande - FURG, destacando
reformulação a qual uma nova disciplina de Geologia de Engenharia com proposta pedagógica
específica é descrita.

Abstract – The paper presents the evolution and the current state of Engineering Geology
teaching in Civil Engineering courses at the Federal University of Rio Grande - FURG, highlighting
reformulation which a new discipline of Engineering Geology with specific pedagogical proposal is
described.

Palavras-Chave – Ensino de Geologia de Engenharia, Engenharia Civil, Universidade Federal do


Rio Grande - FURG.

1
Eng., MSc., Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, (53) 3293-5252, karinacamargo@furg.br
2
Eng., Dr., Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, (53) 3233-6759, cezarbastos@furg.br
3
Eng., Dr., Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS, cesar.ruver@gmail.com

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1


1. INTRODUÇÃO

A Geologia de Engenharia numa definição mais concisa consiste em um ramo das ciências
geológicas que se dedica aos problemas e aplicações de conceitos geológicos no âmbito da
engenharia.
Segundo a Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental (ABGE), a
Geologia de Engenharia é a ciência dedicada à investigação, estudo e solução de problemas de
Engenharia decorrentes da interação entre a Geologia e outras ciências correlatas e os trabalhos
e atividades humanas (ABGE, 2015). De acordo com o que descreve o Estatuto da ABGE a
Geologia de Engenharia abrange:
- a investigação e caracterização da morfologia, estrutura, estratigrafia, litologia e
propriedades das formações geológicas;
- caracterização das propriedades mineralógicas, físicas, geomecânicas, químicas e
hidráulicas de todos os materiais terrestres envolvidos em construção, recuperação de recursos e
alterações do meio ambiente;
- a avaliação do comportamento geomecânico e hidrogeológico dos solos e maciços
rochosos e terrosos;
- a prevenção de alterações ao longo do tempo das propriedades acima citadas;
- a determinação dos parâmetros a serem considerados nas análises de estabilidade e na
operação confiável das obras de Engenharia;
- a proteção, recuperação, melhoria e manutenção das condições ambientais.
A partir destas definições e, sob a ótica da Engenharia, a Geologia de Engenharia é
entendida como uma das áreas correlatas e de interface à Geotecnia (Figura 1). Neste contexto,
fica clara a importância da Geologia de Engenharia para a Engenharia Civil.

Figura 1. Interface da Geotecnia com a Geologia de Engenharia (adaptado de European Federation of


Geologists Journal por Comunitexto, 2014)

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 2


Maciel Filho e Gandolfi (2012) apresentam um importante trabalho sobre o ensino de
Geologia de Engenharia nos cursos de Engenharia Civil no Brasil. Os autores discutem o ensino
de Geologia de Engenharia para engenheiros civis, em nível de graduação, apresentando uma
síntese histórica da Geologia de Engenharia no Brasil e no mundo e fundamenta o que hoje é
ensinado. Destacam os efeitos positivos deste ensino na formação de novos engenheiros civis, os
quais, na visão dos autores, devem adquirir um mínimo de raciocínio geológico.
A Engenharia Civil promove a transformação da natureza pela apropriação e recriação da
mesma e a Geologia de Engenharia é a geociência aplicada a serviço da transformação da
natureza, utilizando métodos geocientíficos (Maciel Filho e Gandolfi, 2012).
Neste artigo é apresentado a evolução e o estado atual do ensino de Geologia de
Engenharia nos cursos de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande – FURG.

2. HISTÓRICO DO ENSINO DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA NOS CURSOS DE


ENGENHARIA CIVIL DA FURG

O curso de Engenharia Civil da FURG teve início em 1972. Com uma estrutura curricular
convencional onde, seja semestral e depois anual, tinha no seu currículo a disciplina de Mecânica
dos Solos, onde em um dos seus capítulos iniciais trazia o conteúdo “Noções de Geologia
Aplicada à Engenharia”. Neste capítulo eram abordados: constituição da Terra, noções de
mineralogia, noções de petrologia (ígnea, sedimentar e metamórfica) e geologia física. Na
sequencia era ministrado um capítulo sobre “Intemperismo e Formação dos Solos”. Todos estes
assuntos eram abordados em não mais que 20 horas de aulas expositivas.
No ano de 2000 foi criado o curso de Engenharia Civil Empresarial. Com uma proposta e
estrutura curricular modular, inovadoras para cursos de Engenharia na época, se caracterizou
como a única oferta de curso de Engenharia no turno noturno em uma universidade federal no
país. O curso tem como peculiaridade uma carga horária em disciplinas nas áreas da
administração de empresas e empreendedorismo. Este curso sofreu em 2008 uma reforma
curricular que aboliu a estrutura modular, passando a uma convencional estrutura por disciplinas.
Nesta reforma surgiu para o curso em questão a disciplina de Geotecnia I, onde os conteúdos de
Geologia de Engenharia deixaram de acompanhar aqueles de Mecânica dos Solos.
A FURG novamente mostrou-se precursora ao, em 2010, criar o terceiro curso na área de
Engenharia Civil, o curso de Engenharia Civil Costeira e Portuária. Um curso de Engenharia Civil
com ênfase em obras costeiras e obras e operações portuárias. Para este curso, o projeto
pedagógico propunha uma disciplina de Geologia Aplicada à Engenharia. Esta disciplina era
focada em noções de geologia básica e geologia do Quaternário, visando embasar o aluno em
disciplinas da área de Oceanografia Física aplicada à Engenharia e a proposta original era de que
fosse ministrada por geólogos do Instituto de Oceanografia da FURG.
Finalmente, com reformas curriculares promovidas de 2012 a 2014, o grupo de professores
da área de Geotecnia da Escola de Engenharia da FURG propôs a criação de uma disciplina
única de Geologia de Engenharia comum aos três cursos na área de Engenharia Civil. Sua
criação está descrita na Deliberação 97/2014 do Conselho de Ensino, Pesquisa, Extensão e
Administração da FURG (FURG, 2014). A proposta era ter nos currículos uma disciplina base ao
estudo de Geotecnia, destinada a fornecer ao aluno de Engenharia Civil noções básicas de
Geologia e, sobretudo, o entendimento dos condicionantes geológicos em diferentes obras de
Engenharia. Referenciando Maciel Filho e Gandolfi (2012), a idéia era introduzir o aluno de
Engenharia Civil ao “raciocínio geológico”.
A disciplina passou a ser ministrada por docentes engenheiros com formação em pós-
graduação em Geotecnia, assim como passou a incorporar matérias de concursos públicos
abertos para preenchimento de vagas no grupo.
A atual disciplina de Geologia de Engenharia é semestral, com carga horária de 60 horas e
é obrigatória aos cursos de Engenharia Civil e Engenharia Civil Costeira e Portuária. Situa-se no

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 3


2º ano (3º ou 4º semestre), constituindo pré-requisito à disciplina de Geotecnia I (sucessora de
Mecânica dos Solos). A disciplina é optativa ao curso de Engenharia Civil Empresarial.
A Tabela 1 traz um histórico de matrículas nas disciplinas de Geologia Aplicada à
Engenharia e Geologia de Engenharia (de 2011 a 2015) para os cursos de Engenharia Civil da
FURG.

Tabela 1.- Matrículas nas disciplinas Geologia Aplicada à Engenharia e Geologia de Engenharia ( 2011 a
2015)
Engenharia Civil Engenharia Civil Aprovação
Ano Engenharia Civil Empresarial Costeira e Portuária (%)
2011 - - 10 70
2012 2 1 12 93
2013 105 0 19 82
2014 90 26 25 88
2015 59 4 (oferta no 2º sem) (em curso)
2011 a 2013 – Geologia Aplicada à Engenharia; 2014 a 2015 – Geologia de Engenharia (atual vigente)

3. PROPOSTA PEDAGÓGICA ATUAL DE ENSINO DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA AOS


CURSOS DE ENGENHARIA CIVIL DA FURG

A disciplina Geologia de Engenharia traz explicitado no seu plano de ensino seu principal
objetivo: apresentar aos acadêmicos os conceitos básicos de Geologia e Geotecnia, mostrando
suas finalidades, o objeto de estudo de cada área e a interpolação entre elas.
Como conteúdos têm-se numa primeira parte:
- Introdução à Geologia de Engenharia (trabalho motivacional sobre Geotecnia e a
Geologia de Engenharia, destacando a relevância para a Engenharia com a
apresentação de alguns exemplos e problemas);
- Origem e estrutura da Terra;
- Tempo geológico e Geologia do Quaternário no Brasil (aqui cabe lembrar a
inserção geográfica da FURG em um ecossistema costeiro);
- Mineralogia;
- Petrologia;
- Estruturas dos maciços rochosos;
- Processos endógenos e exógenos de formação do relevo;
- Formação dos solos.
Na continuidade da abordagem, ênfase é dada aos condicionantes geológicos de obras de
Engenharia:
- Riscos geológicos e cartas de Geologia de Engenharia;
- Problemas geológicos de áreas urbanas;
- Condicionantes geológicos: materiais rochosos para a construção civil, barragens,
túneis, fundações, estradas, aterros sanitários, obras costeiras;
- Investigação geológica.

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 4


A experiência do sexto ano de aplicação destas disciplinas mostra que, sobretudo, existe a
necessidade de motivar o aluno de Engenharia de 2º ano, assoberbado por disciplinas básicas de
Física e Matemática, para esta introdução às Geociências.
Neste sentido percebeu-se que foram bem vindas propostas de atividades criativas, não
necessariamente inovadoras, mas principalmente motivadoras. Algumas destas são
exemplificadas a seguir:
- Seminários sobre condicionantes geológicos de diferentes tipos de obras de Engenharia –
o aluno é estimulado a pesquisar o papel da Geologia de Engenharia em diferentes tipos de obras
de Engenharia (barragens, estradas, fundações, etc...);
- Trabalho sobre aplicações de rochas em obras civis (revestimento de fachada,
pavimentação, degrau de escada, etc.), identificando patologia(s) presentes (desgaste,
descolamento, desplacamento, manchas, fissuras, trincas, etc);
- Proposta de uma mostra de Geologia de Engenharia onde dentre as tarefas propostas
tem-se a construção de modelos reduzidos que ilustrem: a tectônica das placas, as estruturas
cristalinas dos minerais, a mineralogia das argilas, os processos que alteram os relevos, os
principais perfis de solos encontrados no Rio Grande do Sul, os diferentes tipos de barragens e a
influência do substrato rochoso e/ou terroso na sua escolha, a Torre de Pisa e o processo
geotécnico que fez a torre inclinar, a permeabilidade de diferentes materiais e soluções técnicas
para reduzir a permeabilidade.
- Exercício de aplicação dos conceitos da disciplina no planejamento territorial x risco
geológico conforme Figura 2.
Visitas técnicas também são tidas como atividades motivadoras. Estas visitas podem ser
articuladas com a disciplina de Materiais de Construção Civil (por exemplo visitas a pedreiras,
olarias, jazidas de solos, entre outros) ou mesmo com as disciplinas de Geotecnia (com visitas a
obras geotécnicas onde são destacados os condicionantes). A Figura 3 ilustra fotos de visita
técnica realizada recentemente a UHE Monte Claro, situada em Veranópolis/RS.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ensino de Geologia de Engenharia para acadêmicos de Engenharia Civil é uma tarefa


desafiadora, pois implica em despertar em um aluno sob o impacto das disciplinas básicas de
Engenharia a importância das Geociências aplicadas.
A FURG mostrou nos últimos seis anos um avanço neste sentido, com a concepção atual
de uma disciplina de Geologia de Engenharia onde, através de propostas criativas e
motivacionais, busca dotar o aluno deste mínimo “raciocínio geológico” tão importante como base
aos estudos de Geotecnia ao longo do curso, assim como diretamente na sua futura atuação
profissional como engenheiro civil.

REFERÊNCIAS

ABGE (2015) Estatuto da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental. São


Paulo/SP: ABGE. Disponível em http://www.abge.org.br/index.php/abge/Institucional. Acesso em
26/04/2015.
COMUNITEXTO (2014) O quebra cabeça chamado Geotecnia. Disponível em
http://www.comunitexto.com.br/o-quebra-cabeca-chamado-geotecnia/#.VT0NjZNvDOw. Acesso
em 26/04/2015

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 5


FURG (2014) Reforma Curricular do Curso de Engenharia Civil Costeira e Portuária. Deliberação
97/2014 do Conselho de Ensino, Pesquisa, Extensão e Administração da Universidade Federal do
Rio Grande – FURG. Disponível em: http://www.conselho.furg.br/delibera/coepea/09714.pdf.
Acessado em 26/04/2015
MACIEL FILHO, C.M.; GANDOLFI, N. (2012) O ensino da Geologia de Engenharia nos cursos de
Engenharia Civil do Brasil. Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental. São
Paulo/SP:ABGE, vol.2(1), p.117-125.

Exercício sobre Risco Geológico

A figura abaixo apresenta uma carta de risco de inundação produzida por uma equipe
multidisciplinar formada por diversos profissionais, para o período crítico de inverno (baixa
estação), pois no verão não ocorrem problemas. A carta da esquerda apresenta a divisão em
quatro zonas (linhas): I – Alto risco: área inundada de duas à três por ano, com duração de 3
semanas de imersão; II – Médio Risco: área inundada uma vez a cada cinco anos, com
duração de um dia; III – Baixo Risco: área sujeita a inundação uma vez a cada 200 anos; IV –
Sem Risco: área não sujeita a inundação pelo estudo. Na direita é apresentado um conjunto de
alternativas para o plano diretor idealizado pela municipalidade. Com base nestas informações
responda. :
KM KM

0 0,2 0,5 1,0 0 0,2 0,5 1,0

RIO RIO
(4)
(1)
(7) (6)
MAR MAR
(5)

(3)

Residências Escola/Hospital... Condôminio


(2) de luxo
Quiosques de palha Shopping Center
A) Indique (escreva e/ou represente por setas) na carta da esquerda cada uma das zonas de
risco.
B) Na carta da direita, verifique se a tomada de decisão está correta ou não, justifique sua
resposta:
(1) Plantação de mata ciliar; (2) Remoção da comunidade; (3) Remoção e desmatamento para
a ampliação da zona urbana; (4) Construção de um dique; (5) permanência dos quiosques
(sem alteração); (6) Implantação de condomínio de luxo (classe A) após a construção do
dique; (7) Construção de Shopping Center após a construção do dique.
C) Faltou alguma ação mitigadora?
Figura 2. Exemplo de trabalho proposto na disciplina

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 6


Figura 3. Visita técnica na UHE Monte Claro em Veranópolis/RS

15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 7

Você também pode gostar