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ALLAN YU IWAMA
CAMPINAS - SP
2014
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP)
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS (IFCH)
ALLAN YU IWAMA
CAMPINAS - SP
2014
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Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Paulo Roberto de Oliveira - CRB 8/6272
Título em outro idioma: Risk and vulnerability to climate and environmental changes :
multiscale analysis in the coastal zone of São Paulo - Brasil
Palavras-chave em inglês:
Risk
Vulnerability
Risk perception
Multiscale
Climate changes
Área de concentração: Aspectos Sociais de Sustentabilidade e Conservação
Titulação: Doutor em Ambiente e Sociedade
Banca examinadora:
Mateus Batistella [Orientador]
Leila da Costa Ferreira
Roberto Luiz do Carmo
Cláudio José Ferreira
Diogenes Salas Alves
Data de defesa: 15-12-2014
Programa de Pós-Graduação: Ambiente e Sociedade
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ABSTRACT
The coastal zones are areas of potential environmental risks, particularly in the context of
climatic extreme events. A significant portion of the population living in coastal areas,
emphasizing the importance of characterizing situations of risk and vulnerability in the
context of climate change in these regions. This research project had two main objectives: (1)
identify and characterize vulnerable areas on the coast of São Paulo, with focus on the
Northern coast (UGRHi-3), by municipalities Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião and
Ubatuba; (2) assess the risk perception of people at risk and to analyze their strategies of
adaptation or coping [the hazards/risks they are exposed]. The methodological approach was
based on considering two main scales: regional and local levels, based on a combination of
methods involving spatial data analysis of the physical and demographic variables and the
application of structured questionnaires to analyze the risk perception of the population at
risk and context of climate change. The results point out to a distribution of areas of
geotechnical risks on the coast of São Paulo, ranked as Very High or High susceptibility to
landslides or flooding, especially in areas of restricted access of the population to basic public
services or in slums housing conditions. The results called attention to situations of social
vulnerability that has remained 'continuous' over ten years, together with a scenario of social
contrasts and socio-spatial segregation without an effective intervention or action to reduce
the impacts faced with the risk impending disaster. What has been observed is actions post-
event to 'disasters' and his reasons ranging from insufficient framework of civil defense teams
to meet the full extent of these municipalities by an institutional policy focused on actions for
reconstruction than prevention. This situation has been changing with the implementation of
public policies for the integration of management tools (such as guidelines for land use,
master plans, zoning and risk mapping) and also consider aspects of climate change, however
is still incipient. The results of this research supported the research components within the
thematic ‘Clima’ project - "Population growth, vulnerability and adaptation: social and
ecological dimensions of climate change on the coast of São Paulo" (Fapesp 2008/58159-7), in
the scope the FAPESP Research Program on Global Climate Change (PFPMCG), allowing
possible advances in methods approaches linked to the theme [risks and vulnerabilities] and
adaptation of society against the hazards/risks they are exposed. This approach, also sought
to contribute to the broader issues of the thematic project from FAPESP, seeking interfaces
with public policy.
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SUMÁRIO
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2.2.2.4. Riscos geotécnicos ............................................................................................................... 49
CAPÍTULO 3. MATERIAIS E MÉTODOS: ABORDAGEM MULTIESCALAR ................................. 55
3.1. AQUISIÇÃO E ORGANIZAÇÃO DOS DADOS .......................................................................................58
3.1.1. Variáveis do meio físico......................................................................................... 58
3.1.2. Variáveis sociodemográficas ............................................................................... 60
3.1.2.1. Dados censitários utilizando grades regulares ......................................................... 60
3.1.2.2. Distribuição de variáveis sociodemográficas em áreas de riscos geotécnicos 63
3.1.2.3. Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS) ..................................................... 63
3.1.3. Dados auxiliares ....................................................................................................... 66
3.2. AS MÚLTIPLAS ESCALAS: ABORDAGEM METODOLÓGICA ..............................................................67
3.3. ABORDAGEM QUANTITATIVA DE PERCEPÇÃO DE RISCOS .............................................................70
3.3.1. Delineamento da pesquisa sobre percepção de riscos (Etapa 1) ........... 71
3.3.2. Pré-análise e pré-teste (Etapa 2) ......................................................................... 72
3.3.3. Estimativa do tamanho de amostra (Etapa 3) ............................................... 74
3.3.4. Estratégia de aplicação dos questionários (Etapa 4) .................................. 77
3.3.5. Análise e validação dos resultados (Etapa 5) ................................................ 83
CAPÍTULO 4. ESCALA DE ANÁLISE REGIONAL: OS PERIGOS E OS RISCOS NO CONTEXTO DO ESTADO
DE SÃO PAULO E DA ZONA COSTEIRA PAULISTA ........................................................................ 85
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CAPÍTULO 5. ESCALA DE ANÁLISE REGIONAL: A DINÂMICA DE COBERTURA E USO DA TERRA,
RISCOS GEOTÉCNICOS E VULNERABILIDADE SOCIAL: UGRHI-3 – LITORAL NORTE DE SÃO PAULO
..................................................................................................................................................125
5.1. DINÂMICA DE USO DA TERRA NO LITORAL NORTE PAULISTA ................................................... 125
5.2. MANCHAS DE TRANSIÇÃO PARA ÁREAS URBANAS: RISCOS GEOTÉCNICOS E VULNERABILIDADE
SOCIAL .................................................................................................................................................... 134
5.3. IMPORTÂNCIA DAS ÁREAS PROTEGIDAS PARA REDUÇÃO DOS RISCOS E DESASTRES............... 150
CAPÍTULO 6. ESCALA DE ANÁLISE REGIONAL: OS RISCOS GEOTÉCNICOS NA UGRHI-3 E SUB-
BACIAS ......................................................................................................................................157
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................241
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ANEXO I .................................................................................................................................280
APÊNDICE – A.1 ...................................................................................................................284
APÊNDICE – A.2 ...................................................................................................................287
APÊNDICE – A.3 ...................................................................................................................291
APÊNDICE – A.4 ...................................................................................................................295
APÊNDICE – A.5 ...................................................................................................................299
APÊNDICE – A.6 ...................................................................................................................309
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À Annette Pic e ao Tomás, que juntos me
trouxeram alegria e uma nova vida!
Aos meus pais, pessoas iluminadas.
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AGRADECIMENTOS
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Ao Comitê de Bacias Hidrográficas do litoral norte (CBH-LN), em particular ao Fábio
Pincinato, por toda a sua contribuição, que foi de dados e contatos até a organização
de palestras.
À Defesa Civil dos municípios do litoral norte, em especial ao Walter de Ilhabela,
Emerson e Carlão de São Sebastião, Emanuel e Campos Jr., na época na equipe de
Caraguatatuba, e Delmo e Elias de Ubatuba.
À Secretaria de Educação de Ilhabela, em nome de Rafaela Nery, pelos contatos e
conversas a respeito de entrevistas sobre percepção de riscos da população.
Ao Núcleo Caraguatatuba do Parque Estadual da Serra do Mar (PESM), na época em
nome de Carol S. Daher, Márcia Stasiak e Carlos Zacchi Neto.
Agradeço em especial a Neusa Trevisan, Waldinei Araújo, Débora Mataveli e Fátima,
do NEPAM.
Ao corpo docente do NEPAM, pelas discussões e reflexões sobre as ciências naturais e
ciências sociais e pela integração entre essas dimensões/campos. Pelas aulas
inspiradoras da professora e pesquisadora Leila da Costa Ferreira.
Agradeço aos meus colegas de pesquisa do NEPAM (hoje muito deles ex-NEPAM) e
amigos que, de alguma maneira, têm somado esforços em trabalhos multi e
interdisciplinares, cuja interação me permitiu aprender muito durante o doutorado:
Gabriela M. Di Giulio, Eliane Simões, Simone A. Vieira, Leonardo F. Mello, Fabiana
Barbi, Ramon Bicudo, Francisco Araos, Gabriela F. Asmus, Carolina Joly, Débora
Drucker, Rafael D. Martins e Raquel Carnivalle. Especialmente, agradeço Leonardo R.
Teixeira, Jorge Calvimontes, Juliana S. Farinaci, Roberto Donato, meus queridos
amigos, que, além de trabalhos conjuntos, têm participado de minha trajetória de
pesquisa e vida neste longo e curto período. À turma de doutorado (2010) do NEPAM.
Ao grupo de ‘conflitos’ do NEPAM, pela oportunidade de participar de um debate mais
amplo sobre conflitos, riscos e arenas.
Ao Tiago Duque-Estrada, pela presteza e pela colaboração com dados geoespaciais.
À Maria do Carmo D. Bueno (NEPO e IBGE), pela colaboração e trabalhos conjuntos
que temos desenvolvido em tão pouco tempo, resultando análises que sem suas
‘grades estatísticas’ seria impossível ter desenvolvido parte da tese. À Francine
Modesto (NEPO), pela gentileza e presteza em contribuir para a pesquisa.
A Simone Pallone (Labjor-UNICAMP) e Joana M.G. Nunes (Universidade Federal do Rio
de Janeiro – UFRJ), pelas contribuições para a construção do questionário sobre
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percepção de riscos. À Roberta Guimarães (NEPO), pelas conversas e contribuições
para a abordagem quantitativa de percepção de riscos.
Ao grupo de educadores ambientais do litoral norte de São Paulo (em especial a
Débora Olivato e Márcia Stasiak), pelas contribuições com os pré-testes do
questionário sobre percepção de riscos. À equipe de auxiliares de pesquisa para o
“Survey sobre Percepção de Riscos às Mudanças Climáticas e Ambientais no litoral
norte de São Paulo”: Ricardo Souza, Erika Teles, Silvana Martins, Márcia Stasiak e Fani
Demarchi (Caraguatatuba); Iara Giacomini, Álvaro Rodriguez e Marcelo Morais
(Ilhabela); Sérgio Oliveira, Daiani Silva, Cislaine Santos, Guilherme Lima, Ronaldo
“Pantanal”, Anny Barbosa (São Sebastião); Yara Defavari, Lia Pinheiro, Ana Olinda
(Ubatuba), além de Juliana P. Thiago, Luciana Castro e Carolina Joly (projeto ‘Clima’).
Sem vocês, jamais teríamos desenvolvido o projeto de percepção de riscos desta
pesquisa.
Aos pesquisadores Flávia Feitosa (UFABC) e Antônio Miguel Monteiro (INPE) pelos
‘encontros’ de ideias, trocas de experiências e colaboração no tema vulnerabilidade.
Ao Camilo Rennó (INPE), pela contribuição nos aspectos metodológicos sobre
amostragem estatística. Sobre os métodos de amostragem, agradeço também a
Alexandre Gori (Instituto de Economia da Unicamp – IE-UNICAMP) e Alexandre Silva
(Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ). Ao Diogenes S. Alves (INPE), que me
proporcionou o privilégio de aprender os temas ambientais e interdisciplinares e suas
contribuições nesta pesquisa.
Aos colegas e pesquisadores do projeto REDELITORAL, do ITA, em especial a Wilson
Cabral, que me recebeu abertamente para o diálogo e para darmos início aos trabalhos
em colaboração. A Débora de Freitas, Bruna Pavani e Vitor Zanetti, pelas trocas de
experiências de pesquisa.
À minha família, que me ensina a cada momento o amor – nas coisas que são feitas,
ditas e não ditas, no olhar: meus pais Célio (in memoriam) e Pinha, e irmãos, Aislla e
Arthur. Devo um agradecimento todo especial à minha querida companheira, Annette
Pic, que meu deu a alegria de ser pai de Tomás! À Annette, expresso minha profunda
admiração, pessoa que tem sido essencial em todos os momentos.
Por último, mas não menos importante, gostaria de agradecer ao Fábio B. de Lima
(grande amigo que tive a felicidade de conhecer desde o mestrado e que me ‘salva’ em
todos os momentos que preciso), Emílio F. Moran, Andrea Koga-Vicente, e a todos que
contribuíram direta e indiretamente para a realização deste trabalho.
xix
À Eliana Medeiros, pelo excelente trabalho de revisão ortográfica e gramatical deste
documento. Sem dúvidas o seu trabalho proporcionou à banca examinadora uma
leitura mais fluida e agradável.
Foi um privilégio ter contado com inúmeras pessoas e instituições para o
desenvolvimento desta pesquisa e de trabalhos complementares.
Sou muito grato a todos vocês!
xx
‘Vivendo, se aprende; mas o que se
aprende, mais, é só a fazer outras
maiores perguntas’ [Guimarães Rosa –
Grande Sertão Veredas]
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PREFÁCIO
Nos últimos meses antes de terminar de escrever a tese, achei que seria interessante
explicar um pouco a trajetória e os acontecimentos que me levaram para esta
pesquisa e dar uma ideia não apenas da construção deste trabalho, mas também da
minha formação e aprendizado dentro do doutorado em Ambiente e Sociedade.
Posso dizer que não foi algo premeditado chegar ao NEPAM para apresentar uma
proposta de pesquisa (assim como em minha graduação e mestrado). Por outro lado,
tenho de fazer uma pequena digressão para explicar algumas ‘coincidências’: antes de
chegar ao NEPAM, passei pelo INPE, no mestrado em Sensoriamento Remoto, para
estudar mudanças de uso da terra na Amazônia, em particular o desflorestamento em
áreas já bastante desflorestadas no passado.
Lá tive a oportunidade e a felicidade de encontrar pessoas brilhantes, mas elenco
aquelas que, de alguma maneira, me trouxeram as ‘coincidências’ e que eu só viria a
saber depois: a primeira, Diógenes Alves, meu orientador de mestrado e a quem tenho
uma grande estima. Depois de defender o mestrado, soube por ele que os possíveis
nomes de minha banca poderiam ser: Daniel Hogan e Lúcia Ferreira, que não conhecia
na época. Infelizmente, por motivos particulares e de agenda, não foi possível tê-los
presentes na banca. A segunda, Antônio Miguel Monteiro, coordenador do Programa
Institucional Espaço e Sociedade do INPE e responsável pela disciplina de
Geoprocessamento, ocasião em que desenvolvi uma proposta de análise de dados
socioeconômicos em Áreas de Preservação Permanente e tive a oportunidade de
conhecer Humberto (Biro) e Roberto do Carmo, ambos do NEPO da Unicamp.
As ‘coincidências’ começaram a surgir quando fui para uma primeira reunião com o
grupo do NEPO, em 2009, para trabalhar com geoprocessamento, riscos e
vulnerabilidade no âmbito do tema em população e ambiente. Tive então o privilégio
de conhecer um pouco melhor Daniel Hogan, Roberto do Carmo, Álvaro D’Antona,
Humberto Alves e Eduardo Marandola Jr. e dar início a um trabalho vinculado ao
projeto temático chamado de ‘Clima’, que tinha como coordenação Daniel Hogan e
pesquisadores do NEPO, do NEPAM e de outras instituições (como Instituto de
Biologia – IB). Lá soube pelo Daniel que ele poderia ter sido membro da banca de
mestrado. E foi depois de me juntar ao grupo que fui buscar o NEPAM, em 2010. A
outra ‘coincidência’ aconteceu quando, depois de conhecer Lúcia Ferreira (que, após o
falecimento de Daniel Hogan, aceitou fazer parte da pesquisa de doutoramento como
minha co-orientadora, além de coordenadora do projeto ‘Clima’), soube que ela
também poderia estar presente na banca de mestrado.
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Bom, a banca de mestrado não foi possível com Daniel Hogan e Lúcia Ferreira. O que
aconteceu depois foi que entrei no doutorado em Ambiente e Sociedade com uma
proposta ligada aos impactos da plantação de cana-de-açúcar para a produção de
etanol e a valoração de serviços ecossistêmicos. No primeiro ano, tive a oportunidade
de conhecer o professor Ademar Romeiro e um pouco mais sobre as propostas
metodológicas da economia ecológica. Entretanto, acabei deixando ‘latente’ essa
pesquisa para continuar com o que estava desenvolvendo com o grupo do NEPO, mas
agora no doutorado em Ambiente e Sociedade. E só depois de alguns meses no NEPAM
soube que Mateus Batistella era professor colaborador do núcleo e que, por acaso
(outra ‘coincidência’), esteve em minha banca de mestrado. Foi aí que demos início à
pesquisa, agora formalizada com meus ilustres orientadores: Mateus Batistella e Lúcia
Ferreira.
Faço essa digressão para situar no tempo que, embora eu não tenha planejado desde
sempre o doutorado no NEPAM, acabei ‘cruzando’ com tantas pessoas geniais que, de
algum modo, têm na perspectiva de suas pesquisas e trabalhos o tema da
interdisciplinaridade e me sinto extremamente privilegiado por essas ‘coincidências’
terem me trazido até aqui.
A pesquisa, então, de alguma maneira, começou com um elemento central: a
interdisciplinaridade. Entretanto, não foi e continua a não ser tão óbvio descrever
como a interdisciplinaridade emerge no trabalho. Por isso, tenho de contar como foi a
experiência de desenvolvê-lo, para depois arriscar elencar algumas características que
eu descreveria como parte de um trabalho ou projeto interdisciplinar.
A pergunta. Primeiro de tudo, foi discutir qual era o problema ou a questão da
pesquisa. E ela estava relacionada a questões ambientais e aos temas sobre mudanças
climáticas. Além disso, o tema vulnerabilidade – termo polissêmico e
multidimensional, exigiu-me buscar tantas leituras que tenho certeza de que quatro
anos foi pouco tempo para me debruçar profundamente sobre o tema.
O método. Depois da pergunta mais ou menos formulada, a questão que se
apresentou foi qual método utilizar para tratar o tema. Busquei todos os periódicos ao
alcance e, ao mesmo tempo, as mais diversas fontes de dados e instituições para saber
mais sobre percepção de riscos (às mudanças climáticas), tema que até então estava
dando início à pesquisa. Procurei a Secretaria de Meio Ambiente, o Instituto Geológico,
o Instituto de Pesquisas Tecnológicas, o Comitê de Bacias Hidrográficas, assim como
também fiz consultas a colegas da comunicação, das ciências sociais e da demografia
que tive o prazer de conhecer durante o doutorado. Ainda fui atrás de colegas
estatísticos para saber sobre os métodos de amostragem apropriados para populações
em risco ambiental.
xxiv
Depois de juntar tantos dados e informações, comecei a reescrever e a reestruturar
todo o conteúdo da proposta de tese. Lembro-me de um comentário de uma das
pessoas que me ajudaram nesse projeto: ‘...veja bem o que você quer responder (na
tese), porque assim você não corre atrás de dados que depois não vai utilizar. Não
adianta um monte de dados, se não você não faz ideia de aonde quer chegar... e também
não adianta misturar coisas que podem não fazer sentido’. Fiquei com isso na cabeça e
provavelmente vou carregar sempre esse desafio. Mas foi a partir daí que comecei a
estruturar melhor ‘minha pergunta’, meus dados e métodos e o que eu esperava com
isso (ou o que pesquisas semelhantes já haviam observado). O que não significa que
foi trivial e obtive sucesso. A disciplina de ‘Seminário de Tese (AS003)’ do doutorado
do NEPAM foi essencial para organizar melhor as ideias.
O trabalho de campo. Essa foi uma das partes mais instigantes, prazerosas e
trabalhosas. Busquei todas as defesas civis da área de estudo, gente que eu já conhecia
na região, para encontrar pessoas-chave e locais para realizar as entrevistas de
percepção de riscos. Aqui tenho mais uma vez que agradecer às ‘coincidências’, pois
em boa parte dessa campanha de campo estive acompanhado de Gabriela Di Giulio, na
época pesquisadora de pós-doutorado sobre percepção de riscos na região. Na
ocasião, pude aprender muito com ela e otimizar o tempo da pesquisa. Fiz uma série
de levantamentos preliminares, quando apliquei questionários-teste na área de
estudo com colegas, pesquisadores e até com a família. Reformulei as questões
inúmeras vezes. Depois de questionário estruturado e contatos estabelecidos, tive a
sorte de conhecer algumas pessoas na região que me ajudaram a montar uma equipe
para aplicar os questionários sobre percepção de riscos. Fizemos um pré-treinamento.
Expliquei o propósito da pesquisa, como deveríamos abordar as pessoas e, em
algumas ocasiões, a usar o GPS e o Google Earth como apoio ao campo. Concluímos,
então, eu e mais vinte pessoas que compuseram a equipe, nosso ‘projeto de percepção
de riscos às mudanças climáticas no litoral norte paulista’.
Minha maior satisfação, mesmo sem mostrar os resultados a todos eles, foi ouvir:
‘Agora, sim, estou fazendo uma pesquisa acadêmica na prática’; ou ‘eu quero fazer
pós-graduação...’; ou ‘ficar na outra posição (de entrevistador), de apenas ouvir o que
eles têm para dizer (entrevistados), me fez questionar as ações que tenho feito no dia
a dia’ ou de receber um mapa desenhado à mão das áreas entrevistadas e dos riscos
como ele mesmo percebia o lugar. Agora, após a conclusão dessa etapa, certamente
farei o que combinei com todos eles: apresentar esses resultados nos locais que
visitamos, como forma de demonstrar o respeito inspirado pelo aprendizado que tive
com todos eles e para tentar realizar uma pesquisa mais participativa.
Nesta pesquisa, a interdisciplinaridade significou (para mim):
xxv
– ter uma pergunta que sozinho, ou apenas disciplinarmente, eu saberia que jamais
poderia responder ou pelo menos tentar responder. Por isso, tive de ‘expandir’ esta
pesquisa, muitas vezes até onde nem imaginava. Ou seja, tratando-se de questões
ambientais, foi imprescindível o trabalho ou a pesquisa em colaboração.
– se, por um lado, pude ‘expandir’ as capacidades e também ter um olhar mais
abrangente sobre a pesquisa em si, também tive dificuldades para sintetizar tudo em
um eixo central e norteador da pesquisa. Para mim, isso ficou evidente na abordagem
metodológica. Quando iniciei a pesquisa, pensava que teria uma única proposta
metodológica, mas, no final, propus um misto de métodos (disciplinares) para tentar
compreender os processos em diferentes escalas. A temática interdisciplinar
propiciou uma revisão contínua das abordagens propostas no início, sempre exigindo
um olhar integrado sobre as ‘duas culturas’ (ciências humanas e naturais, segundo C.P.
Snow 1), debatidas há décadas e que se colocavam nesta pesquisa. Um risco, diga-se de
passagem, de me perder no meio do caminho.
– eis, portanto, a importância de ter um eixo central e norteador da pesquisa, pois, a
cada nível de análise mais atento, mais eu percebia que ainda faltava muito e que
lacunas ainda permaneciam. A verdade é que termino o documento da tese com mais
perguntas e indagações do que havia feito no início. Por outro lado, estou um pouco
mais consciente de não ter uma resposta definitiva para todos os processos ou
fenômenos, pois sempre há algo mais para conhecer e compreender [e sei que essa
consciência não me isenta de questionamentos – mas sei que fazem parte de toda essa
construção].
– a pesquisa trazendo pessoas que vivem na área de estudo, onde pudemos trocar
informações e aprendizados mútuos, me pareceu ter potencial como abordagem
interdisciplinar. Obviamente isso não é novidade, mas sempre que possível acredito
que seja uma estratégia proveitosa para todos os lados envolvidos em uma pesquisa
participativa, entre pesquisadores e sociedade. O uso das ferramentas de SIG
possibilitou (dentro de todas as limitações) ‘transitar’ entre as duas ‘culturas’, por
meio de uma análise que buscou responder: ONDE (estão as áreas de riscos), O
QUE/OU QUEM (está em risco – e seus atributos).
– e finalmente, concordando com um dos pesquisadores que cito de ‘cabo a rabo’ neste
documento, mas também ampliando para as análises ambientais de um modo geral, é
que mesmo com o método mais robusto ou apropriado para determinado objetivo de
pesquisa, ainda assim, apenas iremos tangenciar o fenômeno analisado.
1 1a edição publicada em 1959 [Two Cultures]. Versão em português: SNOW, Charles Percy. As Duas Culturas e uma
segunda leitura: uma versão ampliada das duas culturas e a revolução científica. São Paulo: EDUSP, 1995.
xxvi
E para mim, ter a oportunidade de desenvolver esse projeto em colaboração com
diversas instituições e pessoas inspiradoras, me motiva a continuar no caminho de
exercer trabalhos e pesquisas que tenham alguma dessas características mencionadas
e, sobretudo, aberto para novas experiências e aprendizados que uma pesquisa
interdisciplinar pode oferecer.
xxvii
xxviii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. 1. Esquemas ilustrativos sobre (a) perigos; (b) perigo calculável ou risco
(adaptado de AMARAL; GUTJAHR, 2011); (c) suscetibilidade a um perigo de
escorregamento (adaptado de KOBIYAMA et al., 2006); e (d) registros fotográficos de
moradias em encostas em Ilhabela – litoral norte de São Paulo (pesquisa em campo:
IWAMA, 2011). .................................................................................................................... 11
Figura 1. 2. O termo vulnerabilidade como produto/resultado ou ‘outcome’ e
‘contextual’ da análise e suas interpretações e consequências para a adaptação às
mudanças climáticas. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Kelly, Adger (2000) e
O’Brien et al. (2004a; 2007). .............................................................................................. 18
Figura 1. 3. Vulnerabilidade segundo o tipo de abordagem e propostas de análise (ver
lista de principais publicações no APÊNDICE – A.1, p. 318)............................................ 19
Figura 1. 4. Diagrama conceitual e analítico de riscos e vulnerabilidades. Fonte:
Elaborado pelo autor, baseado em Luers, 2005; Adger, 2006; Birkmann, 2006; 2007
UNISDR, 2009; IPCC, 2012. ................................................................................................ 25
Figura 2. 1. Área estudo: zona costeira do estado de São Paulo, abrangendo a UGHRi-3
– litoral norte (Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba), UGRHi-7 – baixada
santista (Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Santos e São
Vicente) e UGRHi-11 – Ribeira do Iguape e litoral sul (contém o complexo estuarino-
lagunar de Cananeia, Iguape e Ilha Comprida)............................................................................. 33
Figura 2. 2. Localização do litoral norte no estado de São Paulo e o mosaico de áreas
protegidas na região. .............................................................................................................................. 35
Figura 2. 3. Localização da rede de dutos e gasodutos relacionados à indústria de
petróleo e gás na região do litoral norte de São Paulo. Fonte: Adaptado de Teixeira
(2013)........................................................................................................................................................... 36
Figura 2. 4. Áreas prioritárias para conservação na região do litoral norte de São
Paulo. Fonte: PPBIO-MMA, 2006. ...................................................................................................... 37
Figura 2. 5. População urbana, rural (e total) no litoral norte do estado de São Paulo
(período 1980-2010) (Fundação SEADE, 2010; IBGE, 2011). *Dados da estimativa do
Censo Demográfico 2010. Fonte: Elaborado pelo autor. .......................................................... 39
Figura 2. 6. Taxa média geométrica de crescimento anual (em %) nos municípios do
litoral norte paulista, estado de São Paulo e Brasil. ................................................................... 41
Figura 2. 7. Litoral norte paulista: evento de grandes escorregamentos e corridas de
lama associado com precipitações prolongadas e intensas, causando grandes perdas
xxix
humanas em 1967, em Caraguatatuba. Em 2008, registro fotográfico ilustrando a
reocupação na mesma área afetada.................................................................................................. 42
Figura 2. 8. Mapa Geológico. Classes de rochas principais na região do litoral norte de
São Paulo (Serviço Geológico do Brasil - CPRM, 2011). ............................................................ 45
Figura 2. 9. Mapa Geomorfológico. Classes de relevo na região do litoral norte de São
Paulo (Serviço Geológico do Brasil - CPRM, 2009). .................................................................... 47
Figura 2. 10. Mapa de solos. Tipos de solo: (i) Espodossolos – Grupo 1 (G1); (ii)
Cambissolos – Grupo 2 (G2); (iii) Latossolos (Vermelhos-Amarelos) – Grupo 3 (G3)
(IAC-EMBRAPA, 2005). .......................................................................................................................... 49
Figura 2. 11. Mapa de riscos geotécnicos. Tipos de risco: (Ra) – riscos de
escorregamento; (Rb) – riscos de inundação; (Rc) – riscos de recalque diferenciado ou
instabilizações por corte/aterro/infiltração de água (IPT, 1994). * Riscos
predominantemente induzidos por ação antrópica; ** riscos relacionados às
inundações em margens de rios......................................................................................................... 50
Figura 2. 12. Mapa de potenciais riscos: (Ra) – riscos de escorregamento; (Rb) – riscos
de inundação (IPT, 1994; 2010) e riscos de escorregamento e inundação (IG-SP, 2006;
UNESP, 2006). * Riscos relacionados às inundações em margens de rios ........................ 51
xxx
Figura 3. 7. Diagrama de formação da equipe de entrevistadores sobre percepção de
riscos às mudanças climáticas e ambientais: rede de relações entre o Coordenador da
pesquisa (C), Entrevistadores – E(c) = Caraguatatuba; E(i) = Ilhabela; E(ss) = São
Sebastião; E(u) = Ubatuba, e os Elos (Elo) ou principais contatos. ......................................... 78
Figura 3. 8. Material de apoio para a equipe auxiliar de campo: (a) Crachá de
identificação, manual do entrevistador, questionários; (b) Mapa das áreas de risco nos
bairros do Rio do Ouro, Jaraguazinho e Caputera – Caraguatatuba; e (c) Mapa das
áreas de risco em Topolândia, Olaria e Itatinga – São Sebastião........................................... 81
Figura 3. 9. Treinamento da equipe: (a) em campo com entrevistador-líder no Morro
do Algodão – Caraguatatuba; (b) em campo com equipe de entrevistadores dos bairros
Olaria, Topolândia e Itatinga – São Sebastião; (c) Croquis realizados durante a
preparação para a aplicação dos questionários. .......................................................................... 82
xxxi
sul de Caraguatatuba (a) < 1 salário mínimo (SM) e (b) > 10 SM; e zona centro-norte
de Ilhabela e de São Sebastião (c) < 1 salário mínimo (SM) e (d) > 10 SM......................101
Figura 4. 9. UGRHi-3 – litoral norte. Distribuição da população pela grade regular em
áreas de riscos geotécnicos na segundo a variável idade: zona centro-sul de
Caraguatatuba (a) 0 a 14 anos e (b) > 60 anos; e zona centro-norte de Ilhabela e de São
Sebastião (c) 0 a 14 anos e (d) > 60 anos. ....................................................................................102
Figura 4. 10. UGRHi-7 – baixada santista. (a) Distribuição da população pela grade
regular na zona central de Santos; (b) moradias em potenciais áreas de risco de
escorregamento na vila Progresso (BARBI, 2014); (c) subsidência em edifício no
centro de Santos, em frente à praia do Boqueirão (HACHICH, 1997; TOMINAGA et al.,
2009); (d) erosão costeira na orla de Santos (IG/SMA, em AMARAL; GUTJAHR, 2011);
(e) vista do morro José Menino (abaixo da foto) e do morro Santa Therezinha (acima
da foto): contraste no perfil de construção de moradias em mesma situação de
perigo/risco [registro fotográfico de J.C. Carvalho]; (f) ruptura em moradia causada
por recalque ou subsidência do solo em São Vicente (IG/SMA, em AMARAL; GUTJAHR,
2011). .........................................................................................................................................................105
Figura 4. 11. UGRHi-7 – baixada santista. Distribuição da população pela grade regular
em áreas de risco geotécnico segundo a variável ‘renda domiciliar’: (a) < 1 salário
mínimo (SM) e (b) > 10 SM, na zona central de Santos, São Vicente, Praia Grande, parte
de Guarujá e Cubatão............................................................................................................................107
Figura 4. 12. UGRHi-7 – baixada santista. Assentamentos precários ou cortiços
distribuídos nos canais de São Vicente: (a) núcleo Sambaituba e Dique Caixeta e do
Piçarro; (b) Núcleos Saquaré; e (c) assentamentos precários na região noroeste de
Santos, (d) Dique da vila Gilda no rio dos Bugres, Santos [Fonte: Imagens Google Earth
e Instituto Ecofaxina – registro fotográfico de William R. Schepis). ....................................110
Figura 4. 13. UGRHi-7 – baixada santista. Distribuição da população pela grade regular
em áreas de risco geotécnico segundo a variável idade (a) entre 0 a 14 anos e (b) > 60
anos na zona central de Santos, São Vicente, Praia Grande, parte de Guarujá e Cubatão.
.......................................................................................................................................................................112
Figura 4. 14. UGRHi-7 – baixada santista. Distribuição da população (a) total em
células ou grades regulares nas áreas centrais de Santos, São Vicente, Guarujá e parte
de Cubatão. Distribuição de pessoas em áreas de risco geotécnico [Re –
escorregamentos; Ri ou Rr – inundações ou recalques do solo] segundo a raça/cor (b)
branca, (c) preta e (d) parda. ............................................................................................................113
Figura 4. 15. UGRHi-11 – porção litoral sul. (a) Distribuição da população pela grade
regular na zona central de Cananeia, Iguape e Ilha Comprida; (b) moradia destruída
pelo avanço da maré, na praia do leste de Iguape (CBH-RB, 2013, foto registrada em
2011); (c) moradia destruída pelo avanço da maré, na ponta da praia de Ilha Comprida
(MODESTO, 2014, em prep.); (d) potenciais áreas de risco de inundação e de
escorregamento, situadas nas proximidades do morro São João, ao sul de Cananeia
(CBH-RB, 2013, foto registrada em 2011). ...................................................................................116
Figura 4. 16. UGRHi-11 – porção litoral sul. Distribuição da população pela grade
regular em áreas de riscos geotécnicos segundo a variável renda domiciliar (a) < 1
xxxii
salário mínimo (SM) e (b) > 10 SM, na zona central de Cananeia, Iguape e Ilha
Comprida. ..................................................................................................................................................118
Figura 4. 17. UGRHi-11 – porção litoral sul. Distribuição da população pela grade
regular em áreas de riscos geotécnicos segundo a variável idade (a) entre 0 a 14 anos
e (b) > 60 anos, na zona central de Cananeia, Iguape e Ilha Comprida.............................120
xxxiii
Figura 5. 12. Ilhabela: (a) região centro-norte: bairros de (a1) Santa Teresa, (a2)
Cantagalo - Vila, (a3, a4) Morro dos Mineiros – Itaquanduba; (b) região central:
bairros de (b1) Barra Velha, Água Branca Reino, (b2) Zabumba, (b3, b4) Buraco do
Morcego. ....................................................................................................................................................148
Figura 5. 13. Vulnerabilidade multidimensional – manchas de transição para áreas
urbanas – período 1990-2010, áreas em situação de vulnerabilidade social expostas
aos riscos de escorregamento e/ou inundação: (a) Caraguatatuba – região centro-sul:
os bairros do Morro do Algodão (distrito Porto Novo), Rio do Ouro, Benfica,
Jaraguazinho, Cantagalo, Jardim Olaria e Casa Branca; (b) Ubatuba – região central: os
bairros de Bela Vista, Marafunda, Ipiranguinha, Pedreira, Horto, além de Perequê-
Mirim (inclui o ‘sertão’) e Enseada; (c) São Sebastião – região central: Olaria,
Topolândia, Itatinga, Morro do Abrigo e São Francisco. Ilhabela – região central: os
bairros que abrangem Barra Velha, Morro dos Mineiros (Itaquanduba), Green Park,
Reino, Buraco do Morcego, Zabumba.............................................................................................150
xxxiv
Figura 7. 1. Distribuição dos pontos (GPS) coletados em campo (2011-2012) e
distribuição das entrevistas por equipe auxiliar de campo (entrevistas sobre
percepção de riscos) por sub-bacias. .............................................................................................179
Figura 7. 2. Sexo, idade, escolaridade e rendimento mensal dos entrevistados sobre
percepção de riscos ligados às mudanças climáticas...............................................................183
Figura 7. 3. Naturalidade dos entrevistados sobre a percepção de riscos: (a) por
estados e (b) por município da UGRHi-3 – litoral norte. ........................................................184
Figura 7. 4. Participação dos entrevistados em algum tipo de associação de bairro,
religiosa, assistência social, entres outras. ..................................................................................185
Figura 7. 5. Participação dos entrevistados em algum tipo de associação (de bairro,
religiosa, assistência social, entres outras). Mapa da distribuição das entrevistas sobre
percepção de riscos – Caraguatatuba: (a) Morro do Algodão (em 2010, com os efeitos
da inundação de afluente do rio Juqueriquerê e em 2012); (b) bairro Benfica
(nov/2012); (c) bairro Rio do Ouro (out/2012); (d) Sumaré (jan/2011); e (e) bairro
Olaria (dez/2012). .................................................................................................................................188
Figura 7. 6. Mapa da distribuição das entrevistas sobre percepção de riscos – Ilhabela:
(a) Zabumba (nov/2012); (b) e (c) Zabumba e Barra Velha – área denominada “Buraco
do Morcego” (nov/2011); (d) bairro Itaquanduba – área denominada de “Morro dos
Mineiros (out/2012); (e) Itaquanduba – ‘Morro dos Mineiros’ (nov/2011); e (f) bairro
Santa Teresa – vista geral de moradias de alto padrão (nov/2011)..................................189
Figura 7. 7. Mapa da distribuição das entrevistas sobre percepção de riscos – São
Sebastião: (a) Juquehy – área denominada “Vila Pantanal” (nov/2012); (b) Vila Sahy
(nov/2012); (c) Camburi (nov/2012); (d) Maresias (nov/2012); (e) Topolândia
(jan/2011); e (f) Morro do Abrigo (nov/2012). ........................................................................190
Figura 7. 8. Mapa da distribuição das entrevistas sobre percepção de riscos – Ubatuba:
(a) Sertão do Araribá (dez/2012); (b) Corcovado (dez/2012); (c) Bela Vista
(dez/2012); (d) Pedreira (jun/2012); (e) Picinguaba (jan/2011); e (f) Camburi
(dez/2012). ..............................................................................................................................................191
Figura 7. 9. Perfil dos entrevistados sobre a questão: ‘Você já ouviu falar de mudanças
climáticas?’, tema II do survey de percepção de riscos. ..........................................................193
Figura 7. 10. Percepção de riscos às mudanças climáticas e ambientais: (a) ritmo em
que acontecem; (b) preocupações; (c) causas; e (d) os mais afetados. ............................196
Figura 7. 11. Percepções de riscos – dos problemas que podem ser agravados pelas
mudanças climáticas e ambientais, qual a gravidade atribuída para: (a) aumento de
doenças; (b) falta de água potável; (c) aumento da poluição e contaminação por lixões
e esgotos; (d) aumento de deslizamentos em encostas; (e) aumento de inundações ou
alagamentos; e (f) elevação do nível do mar. ..............................................................................198
Figura 7. 12. Percepções de perigos segundo o grau de risco atribuído pelos
entrevistados: (a) inundações; (b) escorregamentos; (c) ressacas do mar; (d) elevação
do nível do mar; e (e) erosões costeiras. ......................................................................................200
xxxv
Figura 7. 13. Percepções de perigo, segundo o grau de risco de: (a) inundações e (b)
escorregamentos, de acordo com o sexo dos entrevistados. ................................................202
Figura 7. 14. Percepções de perigo, de acordo com o grau de risco de inundações e
escorregamentos segundo as características de: (a) e (b) faixa etária; (c) e (d)
escolaridade; e (e) e (f) rendimento mensal. ..............................................................................203
Figura 7. 15. Percepções de perigo de acordo com o grau de risco de inundações e
escorregamentos segundo as características de: (a) e (b) religião; (c) e (d) tempo de
moradia; (e) e (f) se sempre morou na mesma residência. ...................................................205
Figura 7. 16. Percepções e estratégias de adaptação aos riscos. O que impediria o
entrevistado de mudar de lugar de moradia para outro mais seguro? (a) não tenho
dinheiro para comprar outro imóvel; (b) o aluguel em outros locais é mais caro; (c)
gosto de morar aqui, apesar do risco; (d) deixo nas mãos de Deus. ..................................208
Figura 7. 17. Percepções e estratégias de adaptação aos riscos. A quem pediria ajuda
em caso de perigo iminente? (a) família; (b) vizinhos; (c) igreja; (d) defesa civil; ou (e)
prefeitura. .................................................................................................................................................213
Figura 7. 18. Percepções e governança dos riscos. Quem é o maior responsável para
evitar os riscos? (a) governo estadual; (b) prefeitura; (c) universidade; (d) ONGs; (e)
você e toda a população. .....................................................................................................................215
Figura 7. 19. Percepções e comunicação dos riscos. Para receber informações sobre as
mudanças climáticas e os riscos, qual é o grau de importância atribuído aos seguintes
meios de comunicação: (a) televisão; (b) rádio; (c) jornais (impresso); (d) internet; (e)
audiências públicas. ..............................................................................................................................219
xxxvi
Figuras Apêndice
Figura A. 1. (a) Setores censitários no litoral norte Paulista e (b) faixa de 500 metros a
partir do limite da costa. .....................................................................................................................288
Figura A. 2. Grade de células (100 x 100 metros) e faixa – buffer – de 500 metros da
costa em (a) São Sebastião, (b) Ubatuba, (c) Caraguatatuba, (d) Ilhabela. .....................289
Figura A. 3. Mudanças climáticas e ambientais: respostas dos três grupos de
entrevistados. ..........................................................................................................................................300
Figura A. 4. Mudanças climáticas e ambientais: respostas dos três grupos de
entrevistados em relação ao peso ou gravidade que atribuiriam aos problemas que
podem ser agravados por essas mudanças..................................................................................301
Figura A. 5. Riscos socioambientais e adaptação: respostas dos três grupos de
entrevistados em relação a atribuição do grau de riscos a (a) inundação/alagamentos,
(b) escorregamentos/deslizamentos, (c) ressacas do mar, (d) erosões costeiras........302
Figura A. 6. Riscos socioambientais e adaptação: respostas dos três grupos de
entrevistados em relação a estratégia de adaptação aos riscos socioambientais (a)
permanecer no mesmo bairro e casa, (b) permanecer no mesmo bairro, em outra casa,
(c) mudar de bairro, (d) mudar de cidade. ...................................................................................303
Figura A. 7. Governança e comunicação de riscos: respostas dos três grupos de
entrevistados em relação ao grau de responsabilidade que consideram de (a)
prefeituras, (b) universidade, (c) ONGs, (d) toda a população. ...........................................304
Figura A. 8. Governança e comunicação de riscos: respostas dos três grupos de
entrevistados em relação aos meios de comunicação que consideram mais
importantes para receber informações sobre mudanças climáticas e ambientais. .....306
xxxvii
xxxviii
LISTAS DE TABELAS E QUADROS
xxxix
Tabela 5. 1. Principais transições de cobertura/uso da terra na área de estudo nos
períodos entre 1990, 1999 e 2010. .................................................................................................128
Tabela 5. 2. Manchas de transição de cobertura e uso da terra [cobertura florestal,
vegetação secundária e áreas agricultáveis] para áreas urbanas, segundo os riscos de
escorregamento e inundação. ...........................................................................................................139
Quadros
Quadro 5. 1. Riscos a desastres: exemplos nos estados do Rio de Janeiro, de São Paulo
e área de estudo......................................................................................................................................151
Quadro 5. 2. Riscos de escorregamentos e inundação associados à expansão urbana
em Caraguatatuba. .................................................................................................................................153
Quadro 5. 3. Riscos de escorregamento e queda de blocos: moradias de alto e médio
padrão em Ilhabela................................................................................................................................154
Quadro 5. 4. Riscos de escorregamentos e movimentos de massa associados à
expansão urbana em São Sebastião. ...............................................................................................155
Quadro 5. 5. Riscos de ressaca do mar associados à elevação do nível do mar,
escorregamentos, associados a conflitos com o Parque Estadual da Serra do Mar, em
Ubatuba......................................................................................................................................................156
xl
Tabelas Anexo
Tabelas Apêndice
xli
xlii
INTRODUÇÃO. APRESENTAÇAÃ O DA PESQUISA
AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E AMBIENTAIS
2 O termo “mudanças climáticas e ambientais” utilizado nesta pesquisa tem referência em trabalhos de Benedick
(2000), Hogan (2001) e Hogan e Tolmasquim (2001), no qual utilizam o termo “mudanças ambientais globais”
que inclui as mudanças climáticas (associadas com o buraco na cama de ozônio, a perda da biodiversidade, a
poluição das águas, entre outros).
3 De acordo com Giddens (2005; 2010), observa-se que os riscos e perigos trazidos pelas mudanças climáticas em
curso não são palpáveis, imediatos ou visíveis na vida cotidiana, especialmente nos países desenvolvidos. Nessa
situação, a sociedade pouco ou nada faz de concreto para reduzi-los ou se adaptar. Entretanto, se forem
considerarados os riscos em regiões costeiras, sobretudo em regiões carentes de infraestrutura, a espera para
que sejam feitas ações mais urgentes se mostra como um grande desafio para se estabelecer uma política de
mudança climática, dada a incerteza envolvida nesse tema.
1
(LECZ), áreas contíguas ao longo da costa com menos de dez metros acima do nível do
mar - residem cerca de 10% da população mundial e 13% da população urbana
mundial (McGRANAHAN, BALK, ANDERSON, 2007).
Satterthwaite et al. (2009), utilizando dados estatísticos das Nações
Unidas, observaram um aumento gradual de populações urbanas no mundo,
mostrando que 13,5% da população na América Latina e Caribe é urbana (em 2010).
No Brasil, dados da Contagem 2007 (IBGE, 2010a) indicam que aproximadamente 43
milhões de habitantes (18% da população total) residem na zona costeira, onde se
localizam dezesseis das 28 regiões metropolitanas brasileiras (MMA, 2008). Nos
municípios da zona costeira, em 2007, aproximadamente 70% da população residia
em municípios com sede em altitudes inferiores a vinte metros; 16,77%, em cidades
com altitudes entre zero e dois metros – especialmente no Rio de Janeiro e Santos
(CARMO; SILVA, 2009). Em 2010, 45,6% dos municípios costeiros no Brasil
apresentaram urbanização maior do que 80% (enquanto em outros municípios foi de
27,2%), e quase um quarto (24,6%) da população brasileira se concentrava em zonas
costeiras (IBGE, 2011).
O processo de urbanização no Brasil tem se caracterizado por problemas
recorrentes: ocupações irregulares em encostas ou nas margens dos corpos de água;
precariedade de abastecimento de água potável e de saneamento básico, desigualdade
ao acesso de bens de serviços públicos, entre outros elementos indicativos de
inadequação e de má distribuição dos serviços e da infraestrutura no meio urbano
(MORAES, 2007; RIBEIRO, 2008; CARMO; SILVA, 2009; CARMO, 2014).
Tais problemas, somados à falta de um controle sobre o uso e a ocupação
do solo e menos ainda à oferta (por parte do Estado) de alternativas habitacionais
legais, às ocupações irregulares ou favelas (BONDUKI; ROLNIK, 1982; MARICATO,
1996; 2011) e ao cenário de aumento da intensidade e frequência de eventos
climáticos extremos, tendem a acentuar as situações de riscos e vulnerabilidade em
áreas litorâneas (HOGAN, 2001; HUQ et al., 2007; CARMO; SILVA, 2009; CARMO et al.,
2012).
2
No cenário brasileiro, considerando as políticas públicas com diretrizes
que buscam minimizar esses problemas ou impactos às mudanças climáticas,
podemos citar a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC 4) e a Política
Estadual de São Paulo sobre Mudanças Climáticas (denominada PEMC 5). No geral,
ambas estabeleceram, entre outros elementos, diretrizes que promovam o
desenvolvimento de pesquisas científico-tecnológicas como forma de identificar
fatores de vulnerabilidade para que sejam adotadas medidas de adaptação adequadas.
Além das políticas de mudanças climáticas, um importante marco é a
criação da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDC – Lei 12.608/2012,
BRASIL, 2012), que abrange ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e
recuperação voltadas à proteção e defesa civil de forma integrada às políticas de
ordenamento territorial, desenvolvimento urbano, saúde, meio ambiente, mudanças
climáticas, gestão de recursos hídricos, geologia, infraestrutura, educação, ciência e
tecnologia e às demais políticas setoriais.
No âmbito estadual, o Decreto estadual n.° 57.512/2011 (SÃO PAULO,
2011), que instituiu o Programa Estadual de Prevenção de Desastres Naturais e de
Redução de Riscos Geológicos (PDN), também traz considerações sobre as diversas
instâncias e instituições no estado de São Paulo, bem como a necessidade de articular
e otimizar as ações existentes.
No contexto dessas diretrizes relacionadas aos riscos, vulnerabilidades e
mudanças climáticas e ambientais, buscar mecanismos para caracterizar as situações
de risco e vulnerabilidade nas zonas costeiras tem sido fundamental para as agendas
científicas relacionadas à temática das dimensões humanas das mudanças climáticas e
ambientais. Para isso, é proposta uma análise geoespacial utilizando dados ambientais
(físico-territoriais) e dados socioeconômicos. Por meio da integração desses dois
conjuntos de dados (ambientais e socioeconômicos) é feita uma análise regional (por
municípios e bacias hidrográficas) e uma análise local (com auxílio de uma grade
4 Lei n.o 12.187/2009 (BRASIL, 2009), instituindo a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC).
5 Lei estadual n.o 13.798/2009 (SÃO PAULO, 2009), instituindo a Política Estadual de Mudanças Climáticas no
estado de São Paulo, regulamentada pelo Decreto n.° 55.947/2010.
3
celular de 100 x 100 m e levantamento em campo), considerando os efeitos entre as
múltiplas escalas de análises no litoral norte de São Paulo.
QUESTÕES E HIPÓTESES
6 Esta pesquisa procurou identificar os principais riscos a escorregamento, inundação e proximidade da linha
costeira que podem ou não estar associados às mudanças climáticas e ambientais.
4
Considerando as questões levantadas pela pesquisa, algumas hipóteses
foram levantadas:
OBJETIVOS
7 Os riscos são diferenciados porque dependem do contexto histórico, social, econômico e geográfico dos perigos
aos quais as pessoas estão expostas (BLAIKIE et al., 1994; HEWITT, 1997; KELLY; ADGER, 2000; CUTTER,
BORUFF, SHIRLEY, 2003; VALENCIO et al., 2004; 2005; 2009; VEYRET, 2007; WISNER et al., 2004; 2011; SMITH,
2013). Outro fator importante é como esses riscos são percebidos (SLOVIC, 2000; VEYRET, 2007; SLOVIC et al.,
2010). O alto risco de escorregamento (ou inundação) em uma dada área pode atingir uma população de forma
mais (ou menos) intensa de acordo com uma dada situação ou contexto, ou seja, há uma situação de
vulnerabilidade diferenciada para um dado perigo ou situação de risco (HOGAN et al., 2001; MARANDOLA Jr.;
HOGAN, 2005; 2006a,b; 2009; HOGAN; MARANDOLA Jr., 2007; 2012; LEARY et al., 2008a)
5
(3) analisar a percepção de risco da população em situações de perigo e/ou
risco relacionadas às mudanças climáticas e ambientais e suas estratégias de
enfrentamento ou de adaptação.
CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA
6
Figura 1. Diagrama dos componentes de trabalho do projeto ‘Clima’ (no. 2008/58159-
7) da Fapesp. Fonte: Elaborado pelo autor.
7
8
CAPÍTULO 1. VULNERABILIDADES AÀ S MUDANÇAS CLIMAÁ TICAS E
AMBIENTAIS: CONCEITOS E ABORDAGEM 9
9 Parte do Capítulo 1 foi submetido como um artigo na revista Ambiente & Sociedade: IWAMA, A.Y.; BATISTELLA,
M.; FERREIRA, Lúcia C.; ALVES, D.S.; FERREIRA, Leila C. Riscos, vulnerabilidades e adaptação às mudanças
climáticas: múltiplas escalas e interdisciplinaridade. Ambiente & Sociedade. [submetido em julho de 2014].
9
vidas ou ferimentos à pessoa, danos às propriedades, rupturas sociais ou degradação
ambiental. O risco é, portanto, um perigo calculável (VEYRET, 2007; TOMINAGA,
2009), na medida em que se aceita(m) o(s) dano(s) [ou possível sucesso] como
consequência de sua decisão (ver BRÜSEKE, 2007; LUHMANN, 2008).
O ocupação humana em áreas de perigo geológico, bem como o tipo de
ocupação (alvenaria, madeira, com ou sem fundação ou proteção de infraestrutura)
potencializa a ocorrência de desastres (AMARAL; GUTJAHR, 2011). Muitas vezes a
ocupação ocorre desordenadamente, sobretudo em áreas de elevada suscetibilidade a
escorregamentos (ver KOBIYAMA et al., 2006) ou a de outros riscos geológicos.
A Figura 1. 1 ilustra exemplos de perigo e perigo calculável (risco) e
suscetibilidade ao perigo de escorregamento segundo o padrão construtivo da
moradia. Na mesma figura também pode ser observada a diferenciação entre um
evento natural – quando o mesmo fenômeno ocorre em uma área sem moradias
(Figura 1. 1a), acidente – quando ocorrem óbitos ou pessoas são afetadas, mas sem
atingir pelo menos um desses fatores (Figura 1. 1b): ≥ 10 óbitos, ou ≥ 100 pessoas
afetadas, ou declaração de estado de emergência ou calamidade pública pelo
município, estado ou país; pedido de auxílio internacional. Ocorre um desastre
quando pelo menos um desses critérios mencionados é atingido (Figura 1. 1c)
(segundo critérios de SCHEUREN et al., 2008).
10
Figura 1. 1. Esquemas ilustrativos sobre (a) perigos; (b) perigo calculável ou risco
(adaptado de AMARAL; GUTJAHR, 2011); (c) suscetibilidade a um perigo de
escorregamento (adaptado de KOBIYAMA et al., 2006); e (d) registros fotográficos de
moradias em encostas em Ilhabela – litoral norte de São Paulo (pesquisa em campo:
IWAMA, 2011).
11
previsíveis” e define que a intensidade ou severidade da lesão resultante de um
acidente ou evento adverso é considerada um dano.
No início da década de 1940, houve muita pesquisa e interesse político
para compreender a ocupação humana em áreas/zonas de risco (WHITE; HASS, 1975;
CUTTER et al., 2009) e foi a partir da década de 1980 que o termo vulnerabilidade
surgiu com maior frequência no âmbito da pesquisa sobre riscos e perigos (WISNER,
2009). Os estudos sobre riscos/perigos e vulnerabilidade tiveram os aspectos
populacionais presentes, buscando identificar quem vive em áreas ou zonas de risco e
os fatores que levam à maior ou à menor perda diante um risco/perigo (HEWITT;
BURTON, 1971; WHITE; HASS, 1975; WISNER et al., 2004; 2011).
O conceito de risco deve ser inserido em uma dimensão contextual da
produção dos perigos, dos danos potenciais, em um contexto histórico e de relações
com o espaço geográfico, ou seja, com os modos de ocupação territorial e as relações
sociais existentes (HEWITT; BURTON, 1971; HEWITT, 1997; VEYRET, 2007;
MARANDOLA Jr., 2009; 2012; MARANDOLA Jr.; HOGAN, 2005; 2009; WISNER et al.,
2004; 2011; SMITH, 2013), que mudam com o tempo e de acordo com diferentes
culturas 10 (VEYRET, 2007).
No cenário de aumento de eventos climáticos extremos (IPCC, 2007 11;
2012; 2014; WIGLEY, 2009; COUMOU, RAHMSTORF, 2012; WMO, 2013) associados às
intervenções humanas inadequadas no espaço físico (ocupações sem planejamento
em encostas declivosas, áreas contaminadas ou várzeas, por exemplo), as situações de
10 Além do contexto histórico e social, o conceito de risco tem relações com os aspectos culturais, que influenciam o
modo como os indivíduos percebem os riscos e suas atitudes ante eles. Para maior aprofundamento desse tema,
ver trabalhos de Douglas, Wildavsky, (1983); Douglas, (1994); Kahan et al., (2006; 2007); Satterfield et al. (2010);
Slovic (2010).
11 Segundo os resultados do 4º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas
(IPCC), as mudanças climáticas estão ocorrendo e o aumento da temperatura média da superfície da Terra é
consequência de atividades humanas – em função das emissões de gases de efeito estufa associada com a
variabilidade natural do clima (IPCC, 2007). Mesmo com incertezas relacionadas aos resultados do 4º relatório do
IPCC, após uma revisão do relatório de um comitê de cientistas mundiais – o InterAcademy Council (IAC), as
conclusões de que a mudança climática é resultado da atividade humana foram mantidas. Rosenzweig et al.
(2008) e Thornton et al. (2014) já apontaram para impactos significativos dessas mudanças (climáticas
“antropogênicas”) sobre os sistemas biofísicos e/ou biológicos, além de riscos para a segurança alimentar e, se
não forem combatidos seus efeitos adversos, os custos da falta de ação sobre mudanças climáticas serão maiores
do que os custos de ação para a redução (UNFCCC, 2011).
12
riscos sociais e ambientais (e tecnológicos) tendem a aumentar e ficar mais difíceis de
serem antecipadas, avaliadas e comunicadas (IPCC, 2012), podendo ter efeitos graves
para a população nessas situações ou condições.
Beck (2010) argumenta que as mudanças climáticas acentuam as
desigualdades existentes entre os pobres e os ricos, ou entre o centro e a periferia. Por
outro lado, essa desigualdade deixa de existir à medida que aumenta globalmente o
perigo ou a ameaça, situação que nem mesmo os mais ricos e poderosos poderão
evitar. Nessa perspectiva, tem-se evidenciado que os riscos – de poluição ambiental,
riscos tecnológicos e os riscos das mudanças climáticas – atingem a todos e não têm
fronteiras – (ver BECK, 1992; 2006; 2009; 2010). Os riscos, além de serem
ambivalentes (BECK, 2010), uma vez que dependem da maneira como são
compreendidos (SLOVIC, 2000; 2010; VALENCIO et al., 2004; 2005; SLOVIC et al.,
2010), também possuem um grau de incerteza inerente que influencia as ações,
atitudes e o enfrentamento desses riscos (BECK, 2010; GIDDENS, 2010; WISNER,
2009; 2010).
Estudos sobre como os riscos são percebidos pelos diferentes atores vêm
se mostrando cada vez mais importantes no campo das mudanças climáticas e
ambientais, uma vez que as diferentes percepções de risco influenciam na adaptação
ou na estratégia de resposta diante dessas mudanças.
No âmbito das mudanças climáticas, Brody et al. (2008a) argumentam que
a percepção de riscos dos indivíduos é maior à medida que há também maior
experiência ou vivência do problema, tal como residir em áreas de alto risco de
inundação ou elevação do nível do mar, onde os efeitos das precipitações extremas
são sentidas de forma negativa (BRODY et al., 2008a).
Estudos para analisar a percepção de riscos com abordagens quantitativas
e qualitativas têm demonstrado que essas percepções são fortemente influenciadas
13
por: (a) fatores psicológicos e socioculturais 12; (b) elementos relacionados ao lugar e à
proximidade de riscos (VEYRET, 2007; BRODY et al., 2008a; SANTOS e MARANDOLA
Jr., 2012; MARANDOLA Jr. e MODESTO, 2012); e (c) pelo acesso às informações e a
forma como são divulgadas pelos peritos e pela mídia (WARDEKKER, 2004;
GARDNER, 2008; DI GIULIO et al., 2013; MOSER, 2006; MOSER e LUGANDA, 2006;
MOSER, 2010a,b; WOLF e MOSER, 2011).
Esses fatores, associados a diferentes comportamentos, crenças ou atitudes
e experiências, interferem nas condutas individuais e coletivas 13 e nas ações de
mitigação e adaptação às mudanças climáticas e ambientais (BRODY et al., 2008a;
HOGAN e MARANDOLA Jr, 2009; VIGNOLA et al., 2013).
Compreender como as percepções de risco são influenciadas por esses
fatores mencionados anteriormente tem sido fundamental para identificar como os
riscos são percebidos e como essas percepções (indivíduos/grupos sociais) têm
exercido papel sobre a extensão dos riscos (CUTTER et al., 2003; VALENCIO et al.,
2004; 2005; VEYRET, 2007; VARGAS, 2009; SLOVIC, 2000; DI GIULIO et al., 2012; DI
GIULIO et al., 2013; ADGER et al., 2013), pois influencia a vulnerabilidade e a
adaptação mediante um perigo ou desastre associado aos eventos climáticos
extremos.
O presente trabalho, longe de esgotar o assunto sobre a percepção de
riscos às mudanças climáticas, busca uma análise mais detalhada para o contexto
social na construção das diferentes percepções de risco, reconhecendo as limitações,
mas buscando contextualizar as análises propostas. Nesse sentido, é necessário
compreender melhor como as percepções de risco são construídas diante das
situações de perigo e risco e influenciam na sua vulnerabilidade, pois se mostram
12 Com base nos autores (ALEXANDER, 2011; BOSTROM et al., 1994; ADGER et al., 2009; DOUGLAS; WILDAVSKY,
1993; DOUGLAS, 1994; SLOVIC, 2000; RENN, 2008; SLOVIC et al., 2010; LORENZONI e PIDGEON, 2006;
LEISEROWITZ, 2006; ZAHRAN et al., 2006; LEISEROWITZ e BROAD, 2008; BRODY et al., 2008a; WEBER, 2010;
VIGNOLA et al., 2013).
13 Ver autores: DUNLAP, 1998; VALENCIO et al., 2004; 2005; LORENZONI e PIDGEON, 2006; ZAHRAN et al., 2006;
DIETZ et al., 2007; VEYRET, 2007; RENN, 2008; FLYNN; SLOVIC, 2000; SLOVIC, 2000; SLOVIC et al., 2010;
WEBER, 2010; VIGNOLA et al., 2013.
14
como um dos fatores importantes para compreender a adaptação (ou não) ante a
essas situações.
Esta pesquisa buscou captar a percepção de risco de pessoas que vivem na
zona costeira paulista (litoral norte) – por meio da aplicação de questionários semi-
estruturados, um survey – a fim de analisar como são construídas [suas percepções] e
como influenciam sua vulnerabilidade, tendo em vista distinguir a percepção
‘materializada’ em suas respostas ou discursos, das atitudes e ações tomadas ante a
um risco. Os resultados do survey estão apresentados no CAPÍTULO 7. ESCALA DE
1.3. VULNERABILIDADE
15
Kaztman (1999; 2000) considera que a vulnerabilidade está relacionada à
(in)capacidade de uma pessoa ou uma família de se aproveitar das oportunidades
disponíveis, em distintos âmbitos socioeconômicos, para melhorar sua situação de
bem-estar. A vulnerabilidade, segundo o autor, poderia ser reduzida se as
oportunidades oferecidas pelo mercado, pelo Estado e pela sociedade permitissem às
pessoas ou grupos sociais acessá-las e utilizá-las. Dessa maneira, os grupos sociais
mais vulneráveis seriam aqueles mais expostos aos perigos (situações de risco), mais
sensíveis a essas situações e com menor capacidade de mobilização dos diversos
ativos disponíveis (CUTTER, 1994; 1996; MOSER, 1998; CUTTER, BORUFF, SHIRLEY,
2003; KAZTMAN, 1999; 2000; CARMO; HOGAN, 2006; DE SHERBININ, SCHILLER,
PULSIPHER, 2007; HOGAN; MARANDOLA Jr., 2007; 2012; MARANDOLA Jr., 2009).
Essa perspectiva da vulnerabilidade remete à economia, ligada a ativos financeiros de
pessoas ou grupo de pessoas como recurso em alguma situação necessária – por
exemplo, um risco ambiental iminente.
A vulnerabilidade possui diversos significados ou conceitos 16 (KELLY e
ADGER, 2000; ADGER, 2006; O’BRIEN et al., 2004a; 2007), mas pode ter pelos menos
duas diferentes interpretações com implicações no tratamento do problema e em sua
solução. Uma primeira interpretação tem, geralmente, um enfoque em aspectos
biofísicos para a análise da vulnerabilidade. Estudos nessa direção tendem a
considerar que os mais vulneráveis são aqueles que vivem em ambientes físicos
precários ou em ambientes que terão os efeitos físicos (das mudanças climáticas) mais
dramáticos (LIVERMAN, 2001; TOMINAGA et al., 2009). Nesse caso, a capacidade de
resposta (de um indivíduo ou grupo social) as mudanças climáticas determina ou
influencia sua vulnerabilidade. Essa análise considera a vulnerabilidade como um
produto/resultado da análise (outcome vulnerability – ver O’BRIEN et al., 2007).
Por outro lado, há múltiplos fatores e processos ambientais, sociais,
econômicos, políticos e culturais que influenciam a vulnerabilidade dos indivíduos e
16Dada a riqueza ou polissemia do conceito de vulnerabilidade, Feitosa e Monteiro (2012) sugerem que há um
potencial para seu uso como um conceito mediador.
16
sua capacidade de resposta diante dos efeitos das mudanças climáticas 17,18. Buscar
compreendê-los é um pré-requisito para sua redução (O’BRIEN et al., 2004b; 2007).
Nessa perspectiva (segunda interpretação), a vulnerabilidade é analisada
contextualmente (contextual vulnerability – ver O’BRIEN et al., 2007) e determina ou
influencia a capacidade de resposta às mudanças climáticas 19. A Figura 1. 2 traz um
quadro-resumo sobre o termo vulnerabilidade e suas diferentes interpretações e
implicações 20.
17 Segundo alguns autores, a pobreza pode ser um indicativo de maior vulnerabilidade diante a um determinado
perigo ou risco, uma vez que há menos recursos para gastar em medidas preventivas, suprimentos de emergência
ou esforços de recuperação (PEACOCK et al., 2000; FOTHERGILL; PEEK, 2004; MASOZERA et al., 2007; CUTTER et
al., 2009; IBARRARÁN et al., 2009).
18 Sobre os múltiplos fatores que influenciam a vulnerabilidade dos indivíduos, ver autores: BLAIKIE et al., 1994;
CANNON, 1994; CUTTER, 1994; 1996; HEWITT, 1997; CUTTER, BORUFF, SHIRLEY, 2003; PELLING et al., 2003;
TURNER II et al., 2003; BANKOFF et al., 2004; LEARY et al., 2008a; 2008b; O’BRIEN et al., 2004a,b; 2007; 2008;
WISNER et al., 2004; 2011; ADGER et al., 2009; 2013; SMITH, 2013.
19 Adger et al. (2009) citam quatro pressupostos que consideram limitantes para a capacidade de resposta e/ou
adaptação às mudanças climáticas: (i) a questão ética – o que a sociedade considera “crítico” ou “aceitável” como
medidas de adaptação depende de diferentes valores e prioridades; (ii) a falta de conhecimento (incertezas)
sobre as mudanças climáticas é frequentemente citada como um dos motivos para a demora para a adaptação;
(iii) a percepção de riscos, na ocasião em que a sociedade não acredita que o risco seja suficiente para uma ação
imediata ou urgente; e (iv) a desvalorização dos aspectos culturais nos momentos de crise, em relação às
interpretações, escolhas e estratégias de ação para a redução de riscos (ver EISER et al., 2012).
20 As diferentes interpretações sobre o termo vulnerabilidade dependem ou são influenciadas pelos variados
backgrounds dos pesquisadores em estudos interdisciplinares sobre mudanças climáticas, bem como seus
pressupostos e origem da pesquisa. As diferentes interpretações têm implicações sobre como são endereçadas as
mudanças climáticas para os tomadores de decisão e, sobretudo, em seu diagnóstico e tratamento/solução
(O’BRIEN et al., 2004a; 2007; ADGER, 2006).
17
Figura 1. 2. O termo vulnerabilidade como produto/resultado ou ‘outcome’ e
‘contextual’ da análise e suas interpretações e consequências para a adaptação às
mudanças climáticas. Fonte: Elaborado pelo autor com base em Kelly, Adger (2000) e
O’Brien et al. (2004a; 2007).
18
A Figura 1. 3 apresenta diversas pesquisas e trabalhos segundo o tipo de
abordagem e proposta de análise sobre o tema da vulnerabilidade. O conjunto de
pesquisas elencadas não teve o objetivo de abranger todas as pesquisas e trabalhos
associados ao tema de vulnerabilidade, mas traz uma ideia de como esse conceito tem
sido utilizado e variado de acordo com as diferentes disciplinas ou campos do
conhecimento (mais detalhes sobre a evolução do conceito de vulnerabilidade,
capacidade adaptativa e resiliência, ver TURNER II et al., 2003a; CARDONA, 2004;
ADGER, 2006; SMIT; WANDEL, 2006; ADGER; BROWN, 2010; MILLER et al., 2010;
MOSER, 2010b; O’BRIEN, 2012).
19
Nesse sentido, o presente trabalho buscou relacionar os conceitos chaves
para uma abordagem multiescalar de riscos, percepções de riscos e vulnerabilidades
às mudanças climáticas e ambientais.
1.4.1. Escalas
21Cash et al. (2006) diferenciam pelo menos sete tipos de escalas: (a) espacial; (b) temporal; (c) jurisdicional; (d)
institucional; (e) gerenciamento; (f) redes; e (g) conhecimento. Este trabalho aborda as escalas espacial, temporal
e jurisdicional (essa última representada como unidades como municípios, bacias hidrográficas e setores
censitários, entre outros, criadas por meios constitucionais e legais).
20
que ocorrem em várias escalas e em um mosaico de situações espaciais Tanto
processos sociais quanto ecológicos podem operar em diferentes extensões espaciais
e períodos de tempo (TURNER et al., 1989; TURNER II et al., 1990; ALLEN;
HOEKSTRA, 1992; EHLERINGER; FIELD, 1993; YOUNG, 1994; WILBANKS; KATES,
1999; CASH; MOSER, 2000; GUNDERSON; HOLLING, 2002; ROTMANS; ROTHMAN,
2003; WILBANKS, 2003;TURNER II et al., 2003; ZERMOGLIO et al., 2005; CASH et al.,
2006; MEA, 2006; VANWEY et al., 2009). A análise multiescalar, portanto, possui um
uso potencial como abordagem analítica em estudos sobre as mudanças climáticas e
ambientais e, em algumas ocasiões, é imprescindível.
21
climáticas e ambientais (e.g. WU, YARNAL, FISHER, 2002, sobre vulnerabilidades
sociais a inundação na região costeira de Nova Jersey, nos Estados Unidos; TURNER II
et al., 2003, sobre sistemas sociais e ecológicos e implicações nas respostas aos riscos
e vulnerabilidades em três estudos de casos – Yucatán e Yaqui Valley no México e na
região do Ártico; DOUKAKIS, 2005, sobre riscos e vulnerabilidades na região costeira
(Peloponeso) da Grécia; DIEZ et al., 2007, em Buenos Aires; FEDESKI; GWILLIAM,
2007, na Inglaterra; MARULL et al., 2007, na Espanha; ALESSA et al., 2008, no Alasca;
BRODY et al., 2008b, nos Estados Unidos; RAO et al., 2008, na Índia, SVANCARA et al.,
2009, nos Estados Unidos).
No Brasil, há uma importante produção de pesquisas orientadas para a
identificação de suscetibilidade aos perigos e riscos do ponto de vista geológico-
geomorfológico (TATIZANA et al., 1987; IPT, 1988; 1994; 1999; 2010; AUGUSTO
FILHO, 1995; MACEDO, 2001; SANTORO et al., 2005; TAVARES et al., 2004;
TOMINAGA et al., 2004; 2005; 2009; CERRI, 2006; OLIVEIRA et al., 2007; FERREIRA et
al., 2008a; BITAR, 2009), e alguns trabalhos direcionando análises para quantificar ou
esquematizar vulnerabilidades (ROSSINI-PENTEADO et al., 2007; ALVES, 2009; HORA
e GOMES, 2009; FERREIRA e ROSSINI-PENTEADO, 2011; MELLO et al., 2010; 2012;
NICOLODI e PETERMANN, 2010; ALVES et al., 2010; 2011; ANAZAWA et al., 2013).
22Com base nos autores (CLARK, 1985; TURNER II et al., 1990; ALLEN; HOEKSTRA, 1992; EHLERINGER; FIELD,
1993; YOUNG, 1994; WILBANKS; KATES, 1999; CASH; MOSER, 2000; GUNDERSON; HOLLING, 2002; ROTMANS;
22
métodos adequados para compreender e medir a vulnerabilidade e a capacidade de
adaptação das populações diante de situações provocadas por mudanças climáticas e
ambientais (HOGAN e MARANDOLA Jr., 2007; ALVES, 2009; MORAN, 2009b;
MARANDOLA Jr. e D’ANTONA, 2014).
ROTHMAN, 2003; WILBANKS, 2003; MEA, 2003; 2006; BATISTELLA; BRONDIZIO, 2004; BATISTELLA; MORAN,
2005; ZERMOGLIO et al., 2005; CASH et al., 2006; EVANS et al., 2009; VANWEY et al., 2009; MORAN, 2011).
23
em áreas reconhecidamente de perigos ou riscos ambientais ou geológicos, muitas
vezes também vulneráveis do ponto de vista social.
Nessas condições, há um importante processo que tem sido observado no
Brasil e no mundo: os perigos e os riscos cumulativos (ver UNISDR, 2011; 2013),
entendidos como a exposição de pessoas, moradias ou atividades econômicas em
regiões de intensos perigos ambientais ou climáticos associados a uma alta
vulnerabilidade social ou segregação socioespacial, gerando frequentemente uma
cascata de impactos de dimensões sociais, ambientais e tecnológicas 23.
É nesse contexto que a Figura 1. 4 ilustra três componentes de análise da
vulnerabilidade (a exposição, a sensibilidade e a capacidade adaptativa de grupos
sociais vulneráveis) e suas possíveis causas ou forçantes que têm operado
simultaneamente e muitas vezes de forma interconectada: de um lado, o uso
inadequado da terra; de outro, uma fraca governança associada a um modelo de
desenvolvimento baseado no crescimento econômico strictu sensu. Essa situação, em
conjunto, tem potencializado a degradação ambiental e, ao mesmo tempo, gerado
desigualdades sociais ou condições precárias de desenvolvimento das comunidades
ou da sociedade como um todo. E todo esse intrincado processo tem, de certa forma,
intensificado a exposição aos riscos e amplificado a vulnerabilidade – influenciada por
contextos geográficos, socioculturais e psicológicos/simbólicos, como já observado –
de grupos sociais ou de indivíduos. No cenário de eventos climáticos extremos, essas
situações tendem a ser intensificadas e a se tornarem de grande magnitude.
23Podem ser citados alguns exemplos que tomam a dimensão de riscos cumulativos e interdependentes: acidentes
tecnológicos no Porto de Santos e Cubatão (Terminal Barnabé, Vila Socó – CETESB, 1985, POFFO, 2007) e
Terminal Aquaviário de São Sebastião (TEBAR) – POFFO (1996), com implicações negativas para moradores e
ecossistemas – ver IWAMA et al. (prelo). Casos mais recentes no mundo, como a região costeira de Fukushima, no
Japão, transcendendo os impactos ambientais e sociais, gerando riscos para a saúde dos moradores locais e os de
uma grande extensão territorial (WHO, 2011).
24
Figura 1. 4. Diagrama conceitual e analítico de riscos e vulnerabilidades. Fonte:
Elaborado pelo autor, baseado em Luers, 2005; Adger, 2006; Birkmann, 2006; 2007
UNISDR, 2009; IPCC, 2012.
25
riscos e vulnerabilidade no contexto de mudanças climáticas e ambientais: a
interdisciplinaridade (ver PHILIPPI Jr. et al., 2000; FLORIANI, 2000; FERREIRA,
2000; 2004; van KERKHOFF, 2005; BARRY et al., 2008; BROTO et al., 2009; BUARQUE
et al., 2014) como pressuposto para estudos técnicos e científicos sobre a temática
abordada – Floriani (2000) argumenta que ‘o conhecimento científico moderno é
obrigado a lidar com uma complexidade crescente da realidade’. Para lidar com essa
complexidade, portanto, a interdisciplinaridade deve ser premissa básica e
fundamental em estudos em ambiente e sociedade (ou sociedade e natureza),
considerando pontos de vista e análises complementares. Esse tema exige pelo menos
alguns desses aspectos: (i) uso de indicadores (geoespaciais ou não) acompanhados
de análises contextuais, para qualificar os resultados investigativos; (ii) análise
multiescalar, para captar o fenômeno em diferentes escalas ou níveis de análise; (iii)
uso de diferentes metodologias e abordagens, ou métodos mistos (ver também
MARANDOLA Jr. e D’ANTONA, 2014), em que pese os métodos e os enfoques
epistemológicos específicos de cada uma das ciências – natureza e sociais (FLORIANI,
2000; ALVES, 2012a); e (iv) pesquisas ou estudos técnicos colaborativos e
participativos como estratégia para a articulação entre pesquisa-sociedade e gestão.
A integração de políticas de ordenamento territorial (UNISDR, 2004;
2009; 2011; PNGRD, 2012, FERREIRA, 2012; BRASIL, 2012) para articular diretrizes e
ações para a redução da vulnerabilidade diante dos riscos e desastres – umas das
premissas da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (BRASIL, 2012) – é ‘[...]
incorporar a redução do risco de desastre [...] entre os elementos da gestão territorial
[...]’. Nesse sentido, é importante destacar dois aspectos necessários, que devem atuar
conjuntamente: maior ação social e mobilização política, como forças atuantes para a
formalização de convenções, políticas ou instrumentos de ordenamento territorial
(ver ALVES, 2012b; 2014).
Um terceiro aspecto está relacionado a uma cultura de governança do
risco e comunicação de riscos que esteja aberta para adaptações e reflexões
segundo cada contexto de riscos. Entretanto, essa cultura de risco se apresenta em
26
construção no contexto brasileiro. Renn (2008) destaca que há pelo menos quatro
dimensões que afetam e estruturam a governança dos riscos: capacidade
organizacional, que considere os riscos em diversos níveis (local, estadual ou
nacional) ou em níveis combinados (ver também DI GIULIO e FERREIRA, 2013);
política e regulação de riscos baseadas em aspectos culturais, como importante fator
para balizar uma aproximação global de como os mesmos riscos podem afetar
diferentemente a decisão política sobre um determinado elemento de risco (ver
BRÜSEKE, 2007); rede de atores ou indivíduos, que envolva a participação (de
sociedade civil, ONGs, governos locais) na construção de riscos e de seus julgamentos
que permitam uma apropriada decisão para a gestão de riscos – nesse caso, é
fundamental a comunicação de riscos (MOSER, 2006; MOSER e LUGANDA, 2006;
MOSER, 2010a,b; WOLF e MOSER, 2011; DI GIULIO et al., 2013) como estratégia de
orientação e empoderamento da sociedade diante os riscos em que estão ou são
submetidas; um entendimento das dimensões sociais das mudanças climáticas e a
cultura do risco como importante fator de contribuição para o preparo de estratégias
que reduzam ou atenuem os riscos.
Esses três aspectos – a interdisciplinaridade, a integração de políticas
públicas e a governança de risco associada à comunicação de riscos – embora
ainda apresentem muitos desafios a serem superados, têm avançado nos últimos anos,
trazendo perspectivas positivas para ações de redução de riscos e desastres e estudos
ambientais. Obviamente a solução para o tema não é trivial e não deve ser reduzida
aos três aspectos mencionados, mas podem ser considerados pontos-chave para
estudos de riscos e vulnerabilidade.
Do ponto de vista da contribuição de pesquisas técnico-científicas com
interlocução entre sociedade e gestão pública, abordagens que utilizem a participação
de comunidades como protagonistas na produção das pesquisas – bem como
pesquisas colaborativas (ver WINOWIECKI et al., 2011) – podem ser uma interessante
estratégia de pesquisa interdisciplinar, uma vez que envolvem a participação da
27
sociedade para uma produção sinérgica e profícua que ofereça subsídios efetivos aos
órgãos gestores.
O Capítulo 1, portanto, abordou questões conceituais sobre a
vulnerabilidade e suas possíveis implicações metodológicas e analíticas. Em
específico, tratou-se de dois conceitos chaves da análise da vulnerabilidade: um que a
direciona para a identificação e quantificação de locais ou grupos sociais mais
vulneráveis, tendo como base os aspectos biofísicos ou do meio físico: por exemplo,
por meio do mapeamento de riscos geotécnicos e da distribuição espacial do perfil
sociodemográfico da população – dados secundários –, elenca-se as áreas mais
vulneráveis [às mudanças climáticas] em relação às outras. Com base nessas questões
e abordagem, é a capacidade adaptativa que influencia a vulnerabilidade, partindo do
pressuposto que pessoas com menor acesso às estruturas econômicas são aquelas
com menor capacidade para se adaptarem ante a um desastre ou a um perigo
iminente. Essa análise, segundo a proposta de O’Brien et al. (2007; 2013), é chamada
de vulnerabilidade como resultado ou outcome.
O outro conceito da vulnerabilidade se relaciona com a identificação de
fatores sociais, econômicos, políticos, culturais e psicológicos, como ponto de partida
da análise da vulnerabilidade. Essa análise indica que são as pessoas mais vulneráveis
– idosos, crianças, com pouca experiência vivida frente aos desastres – que têm menor
capacidade adaptativa. Entretanto, diferentemente da proposta anterior, a abordagem
metodológica para alcançar esses resultados, parte do conhecimento do lugar onde
vivem as pessoas, além de suas percepções sobre o risco (ou das mudanças
climáticas). Essa análise é chamada de vulnerabilidade contextual, segundo O’Brien
et al. (2007; 2013).
Nesta pesquisa, foram utilizados os dois conceitos, que implicaram em
diferentes abordagens: a primeira, usando dados do meio físico e sociodemográficos e,
a segunda, utilizando um survey de percepção de riscos. O fio condutor em toda a
pesquisa foi, portanto, utilizar esses dois conceitos e abordagens para uma análise
complementar: a vulnerabilidade de complementaridade, buscando quantificá-la,
28
quando possível, mas sempre contextualizá-la nas diferentes escalas de análise.
Portanto, a contribuição desta pesquisa traz a utilização de diferentes abordagens
epistemológicas e metodológicas, para analisar a vulnerabilidade de maneira
complementar, sendo entendida como um processo.
29
30
CAPÍTULO 2. AÁ REA DE ESTUDO
2.1. O LITORAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
24 No Brasil, o Decreto n.º 5.300, de 7 de dezembro de 2004, que regulamentou a Lei n.o 7.661/1988 (BRASIL, 2004
-Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro – PNGC) considera a zona costeira um espaço geográfico de interação
do ar, do mar e da terra, incluindo seus recursos renováveis ou não, abrangendo uma faixa marítima e uma faixa
terrestre. A faixa terrrestre é definida como o espaço compreendido pelos limites dos municípios que sofrem
influência direta dos fenômenos ocorrentes na zona costeira, além daqueles (i) defrontantes com o mar; (ii) não
defrontantes com o mar, localizados nas regiões metropolitanas litorâneas; (iii) não defrontantes com o mar,
contíguos às capitais e às grandes cidades litorâneas, que apresentem conurbação; (iv) não defrontantes com o
mar, distantes até 50 km da linha da costa, que contemplem, em seu território, atividades ou infra-estruturas de
grande impacto ambiental na zona costeira ou ecossistemas costeiros de alta relevância; (v) estuarino-lagunares;
(vi) não defrontantes com o mar, mas que tenham todos os seus limites com municípios referidos nos itens (i) a
(v); (vii) desmembrados daqueles já inseridos na zona costeira.
25 As UGRHIs constituem unidades territoriais ‘com dimensões e características que permitam e justifiquem o
gerenciamento descentralizado dos recursos hídricos’ (Política Estadual de Recursos Hídricos – Lei Estadual
7663/1991 – SÃO PAULO, 1991). Em geral, são formadas por partes de bacias hidrográficas ou por um conjunto
delas, que de forma alguma podem ser consideradas bacias hidrográficas. Por outro lado, deve-se observar que os
estudos devem sempre ter a bacia hidrográfica como unidade de planejamento. No estado de São Paulo há 22
UGRHIs. Ver também: <http://www.daee.sp.gov.br/acervoepesquisa/perh2204_2207/perh08.pdf>.
31
Segundo o Instituto Pólis (POLIS, 2012a,b), o litoral paulista tem
experimentado grandes transformações nas últimas décadas, com processos de
urbanização muitas vezes desordenados, que frequentemente vêm impactando a
região. Há uma tendência cada vez maior de as pessoas procurarem o litoral como
lugar de moradia ou lazer, sobretudo no contexto ou na perspectiva da instalação e da
ampliação de grandes empreendimentos de infraestrutura na região do litoral norte.
Por outro lado, o litoral paulista possui uma grande extensão de áreas
protegidas, situadas na Serra do Mar em direção às planícies da zona costeira. Por sua
relevância ambiental e geológica (as serras do Mar e de Paranapiacaba abrangem
grande extensão do litoral paulista), em 1985 foi tombada como Patrimônio Histórico
do estado de São Paulo, devido ao seu valor geológico e à riqueza de sua fauna e flora
(SÃO PAULO, 1985), com diversas áreas protegidas pelo Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC, BRASIL, 2000) ou pela Fundação Nacional do Índio
(Terras Indígenas – FUNAI, BRASIL, 1988; 1996) – Figura 2. 1.
32
Figura 2. 1. Área estudo: zona costeira do estado de São Paulo, abrangendo a UGHRi-3 – litoral norte (Caraguatatuba,
Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba), UGRHi-7 – baixada santista (Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá,
Peruíbe, Santos e São Vicente) e UGRHi-11 – Ribeira do Iguape e litoral sul (contém o complexo estuarino-lagunar de
Cananeia, Iguape e Ilha Comprida).
33
A região é marcada pelo relevo da Serra do Mar (caracterizado como
escarpa 26), que atua como importante fator de intensificação orográfica (SANT’ANNA
NETO, 1990; ROSEGHINI, 2007) e, associado aos fluxos atmosféricos originários do
oceano e a uma zona de encontro de sistemas atmosféricos, propicia uma dinâmica de
altos montantes pluviais (ver NUNES, 1990; 1997). Em períodos de chuvas intensas e
prolongadas na região, são frequentes os registros de aumento de movimentos de
massa, como escorregamentos, rolamentos, queda de blocos e corridas (ver TAVARES
et al., 2004; MARCELINO, 2004; KOGA-VICENTE, 2010; KOGA-VICENTE; NUNES, 2011;
SCOFIELD et al., 2014).
26 Elevação súbita do solo, normalmente > 45º, caracterizada pela formação de um penhasco ou uma encosta
íngreme.
27 Atualmente as APAs marinhas estão em processo de elaboração de seus respectivos planos de manejo
28 Os dados digitais de UCs municipais estão disponíveis no sítio do Ministério do Meio Ambiente (MMA) -
34
Figura 2. 2. Localização do litoral norte no estado de São Paulo e o mosaico de áreas
protegidas na região.
35
local de instalação da Unidade de Tratamento de Gás de Caraguatatuba – UTGCA. Além
disso, a produção de gás associada à exploração de petróleo nos campos do pré-sal
será parcialmente escoada através de um sistema de dutos marinhos interligados ao
Complexo Mexilhão (TEIXEIRA 29, 2010 – comunicação oral; TEIXEIRA, 2013) – Figura
2. 3.
29Leonardo R. Teixeira – Analista Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis – IBAMA, Escritório Regional de Caraguatatuba/SP.
36
impactos significativos, capazes de comprometer a integridade da Mata Atlântica e
desencadear e/ou aumentar a frequência e a intensidade de perigos naturais e a
resolução de questões institucionais (FILET et al., 2001, SOUZA, 2004; HOGAN, 2009b;
CARMO et al., 2012; TEIXEIRA, 2013). Essa situação na região – vocação para
conservação e turismo ao mesmo tempo em que há influência da instalação de
grandes empreendimentos de infraestrutura – também configura alta prioridade para
ações voltadas à conservação da área (Figura 2. 4).
Por essa razão, a área de estudo abrange a zona costeira de São Paulo como um todo,
mas aprofunda a análise na UGRHi-3 – litoral norte, abrangendo os municípios de
Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba.
37
2.2.1. População
30Estimativa sem considerar eventuais mudanças demográficas por conta de inciativas ligadas às atividades de
exploração de petróleo na camada pré-sal na região (Campo de Tupi, na Bacia de Santos) (SMA/CPLA, 2011a,b).
38
Figura 2. 5. População urbana, rural (e total) no litoral norte do estado de São Paulo
(período 1980-2010) (Fundação SEADE, 2010; IBGE, 2011). *Dados da estimativa do
Censo Demográfico 2010. Fonte: Elaborado pelo autor.
39
a migração não seja um processo significativo em termos de volume – podem levar a
uma transformação na estrutura etária da população, acarretando em uma população
mais envelhecida.
40
Figura 2. 6. Taxa média geométrica de crescimento anual (em %) nos municípios do
litoral norte paulista, estado de São Paulo e Brasil.
41
2.2.2. Meio físico
42
2.2.2.1. Geologia; 2.2.2.2. Geomorfologia; 2.2.2.3. Solos; e 2.2.2.4. Riscos geotécnicos. Os
resultados específicos de cada tema apoiaram as discussões dos resultados nos
capítulos de resultados desta pesquisa.
2.2.2.1. Geologia
31 Aproximadamente um total de 1.802 km2, com base no cálculo dos dados digitais em escala 1:750.000,
disponíveis no banco de dados do Serviço Geológico do Brasil (CPRM, 2011).
32 Souza e Luna (2008) mapearam cerca de 16% de unidades quaternárias (depósitos sedimentares) no território
43
Tabela 2. 1. Tipos de grupos de rochas formadoras de solos e percentual na região do
litoral norte de São Paulo.
Rochas
Municí Principais unidades Área
Hierarquia Litologia principais (%)
pios geológicas (km2)
(classes)
Complexo Pico do Complexo
Biotita granito Ígnea 206,4 44,9
Papagaio granítico
Metagabro, Enderbito, Diorito, Ígnea,
Bairro do Marisco Complexo 14,5 3,2
Caraguatatuba
Ilha de São Sebastião Corpo (Não definido) (Não definido) 204,1 66,9
Costeiro, unidade Migmatito, Biotita gnaisse, Gnaisse,
Complexo Metamórfica 98,7 32,3
ortognáissica Ortognaisse
Total 305,2 100,0
Complexo Pico do
Complexo
Papagaio; Granito São Biotita granito Ígnea 74,8 20,1
granítico
Sebastião
Costeiro, unidade de
São Sebastião
Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados do Serviço Geológico do Brasil (CPRM, 2009;
2011).
44
Os dois primeiros grupos estão distribuídos ao longo de toda a região,
predominantemente na porção continental, onde se localiza o PE da Serra do Mar
(PESM). As rochas sedimentares estão localizadas nas proximidades da linha costeira,
nos domínios de restinga, com depósitos aluvionares e marinhos.
Souza e Luna (2008) mapearam sete tipos de unidades quaternárias
(característicos de depósitos de sedimentos de período de tempo geológico
relativamente curto – cerca de 1,8 milhão de anos), sendo seis de planície costeira e
um tipo relacionado à baixa encosta, que se situam geograficamente em planícies ao
longo da costa litorânea e onde há forte pressão na vegetação relacionada a esses
ambientes sedimentares quaternários (SOUZA; LUNA, 2008) 33. A Figura 2. 8 mostra a
distribuição das rochas principais distribuídas no território do litoral norte de São
Paulo.
33Em média, quase 50% das fitofisionomias nativas originalmente existentes nessas planícies costeiras e baixas
encostas já foram suprimidas, variando entre 71% em Ilhabela, 64,6% em Caraguatatuba, 35,4% em São
Sebastião e 28,5% em Ubatuba (SOUZA e LUNA, 2008).
45
2.2.2.2. Geomorfologia
46
Figura 2. 9. Mapa Geomorfológico. Classes de relevo na região do litoral norte de São
Paulo (Serviço Geológico do Brasil - CPRM, 2009).
2.2.2.3. Solos
Na região do litoral norte de São Paulo há pelo menos três grandes grupos: (i)
espodossolos; (ii) cambissolos e (iii) latossolos (Vermelhos-Amarelos) 34, sendo a
maior parte da área coberta pelos Cambissolos (88%), distribuídos em toda a região
de estudo. Aproximadamente 8,4% representam os espodossolos, situados em faixas
mais próximas da linha costeira e característicos de domínios de restinga – ver
Tabela 2. 3 sobre as características de cada tipo de solo.
34(i) Espodossolos, solos muito arenosos desde sua superfície, com acúmulo de compostos de ferro e/ou alumínio
e/ou matéria orgânica ao longo do perfil, geralmente solos pobres e muito ácidos, com altos teores de alumínio,
sendo distribuídos de maneira esparsa e nos domínios de restinga e da costa brasileira (EMBRAPA, 2003; 2012);
(ii) Cambissolos – distribuem-se por todo o território nacional, caracterizados por solos pouco desenvolvidos,
com horizonte B pouco evoluído (fragmentos de rochas e minerais primários) (EMBRAPA, 2003; 2012); (iii)
Latossolos (Vermelhos-Amarelos) – caracterizados por horizonte B latossólico, intemperização intensa dos
constituintes minerais, com concentração de óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio. São solos mais profundos,
abrangendo superfícies mais velhas e estáveis de paisagem. Ocupam aproximadamente 39% do território
nacional, sendo os solos mais representativos do país (EMBRAPA, 2003; 2012).
47
Tabela 2. 3. Tipos de solos e percentual na região do litoral norte de São Paulo.
Classes
Classes de Área
Tipos de solos Descrição de solo
solo (km2)
(%)
Espodossolos Ferrocárbicos órticos A proeminente e A
Grupo 1 (G1) - moderado com textura arenosa + Neossolos
ES1 150 8,4
Espodossolos Quartzarênicos órticos distróficos A moderado, ambos com
relevo plano
48
Figura 2. 10. Mapa de solos. Tipos de solo: (i) Espodossolos – Grupo 1 (G1); (ii)
Cambissolos – Grupo 2 (G2); (iii) Latossolos (Vermelhos-Amarelos) – Grupo 3 (G3)
(IAC-EMBRAPA, 2005).
49
produzido para o estado de São Paulo (IPT, 1994) com sua distribuição segundo os
graus de suscetibilidade.
De 70% a 73% dos riscos geotécnicos estão dentro das UCPIs (PE da Serra
do Mar e PE de Ilhabela).
Para analisar os potenciais riscos de danos materiais ou riscos para a
população no litoral norte de São Paulo, foi feita a análise considerando: (1) os riscos
de Muito Alta e Alta suscetibilidade a deslizamento, inundação e/ou recalque e
instabilização do solo; (2) áreas fora das Unidades de Conservação (UCs) de Proteção
Integral, o PE da Serra do Mar (PESM) e o PE de Ilhabela (PEI) – uma vez que são áreas
de conservação que restringem a ocupação humana (ver BRASIL, 2000 – Lei
9.985/2000, SNUC); (3) a localização de áreas de riscos mapeadas pelo Instituto
Geológico (IG-SP, 2006a,b,c) e UNESP – Rio Claro (UNESP, 2006) e Instituto de
50
Pesquisas Tecnológicas (IPT, 2010), em escalas de detalhe variando entre 1:1.800 e
1:3.000. Para isso, foram feitas operações algébricas do mapa de riscos geotécnicos
(ver Figura 2. 11) com os limites das UC de Proteção Integral (UCPIs) e com os limites
das áreas de riscos a escorregamentos e inundação em escala de mapeamento de até
1:1.800 (IG-SP, 2006 a,b,c; UNESP, 2006; IPT, 2010).
A Figura 2. 12 apresenta a distribuição das áreas com potenciais riscos
geotécnicos situadas fora das UCPIs e em sobreposição com as áreas de riscos
mapeamentos em escala de maior detalhamento (IG-SP a,b,c, 2006; UNESP, 2006; IPT,
2010).
51
fora das Unidades de Conservação de Proteção Integral) de áreas sujeitas a riscos de
deslizamento/escorregamento e inundação.
Esse mapeamento é o produto técnico utilizado pela Defesa Civil nos
quatro municípios, sendo referência para sua atuação em áreas de riscos
eminentes/iminentes de mortes ou prejuízos aos domicílios/moradias. Observa-se
que em Caraguatatuba, Ilhabela e São Sebastião há predominância de riscos com
Muito Alta suscetibilidade a escorregamentos em relação às outras categorias de
riscos geotécnicos (48,4%, 100% e 58%, respectivamente). Ubatuba possui 26,7% dos
riscos associados à suscetibilidade a escorregamento, sendo predominantes no
município os riscos de recalque e instabilização do terreno (39%) e de inundação
(34%).
Esses resultados, considerados em conjunto para a região, reforçam a
necessidade de maior atenção para a redução desses riscos, ampliando as medidas
preventivas e as adaptações necessárias da infraestrutura instalada/planejada
(BITAR, 2009), buscando o ordenamento territorial por meio de Planos Diretores,
Zoneamentos-Ecológico-Econômico (ZEE) que considerem os riscos de desastres
naturais (FERREIRA, 2012).
A Tabela 2. 4 mostra o resumo da análise dos riscos geotécnicos no litoral
norte de São Paulo considerando os riscos de deslizamento/escorregamento (Ra),
inundação e recalque (Rb) e recalques diferenciados e/ou instabilizações do terreno
(Rc), por municípios.
52
Tabela 2. 4. Riscos geotécnicos segundo grau de suscetibilidade e município no litoral
norte de São Paulo.
Tipo de
Municípios Descrição dos riscos geotécnicos Área km2 – (%)
Risco (R)
Muito alta suscetibilidade a escorregamentos (naturais e
Ra 0,236 (48,4)
induzidos)
Caraguatatuba Baixa suscetibilidade a recalques e inundações Rb 0,200 (41,1)
Média suscetibilidade a recalques diferenciais, instabilizações
Rc 0,052 (10,6)
por corte/aterro/infiltração d'água
Total 0,488 (100,0)
Muito alta suscetibilidade a escorregamentos (naturais e
Ilhabela Ra 0,176 (100,0)
induzidos)
Total 0,176 (100,0)
Muito alta suscetibilidade a escorregamentos (naturais e
Ra 0,854 (58,0)
induzidos)
São Sebastião Baixa suscetibilidade a recalques e inundações Rb 0,445 (30,2)
Média suscetibilidade a recalques diferenciais, instabilizações
Rc 0,174 (11,8)
por corte/aterro/infiltração d'água
Total 1,473 (100,0)
Muito alta suscetibilidade a escorregamentos (naturais e
Ra 1,421 (26,7)
induzidos)
Ubatuba Baixa suscetibilidade a recalques e inundações Rb 1,826 (34,3)
Média suscetibilidade a recalques diferenciais, instabilizações
Rc 2,075 (39,0)
por corte/aterro/infiltração d'água
Total 5,322 (100,0)
36As escarpas da Serra do Mar, os morros isolados e os terrenos em planícies costeiras e baixadas litorâneas
situadas ao nível de oscilação das marés, terraços marinhos antigos e sujeitos a enchentes e inundações (BITAR,
2009).
53
anos, com a influência da instalação e ampliação de megaprojetos de infraestrutura,
bem como trazer uma caracterização dos aspectos populacionais e do meio físico que
contribuiriam para a análise e discussão dos capítulos posteriores desta pesquisa,
resumidamente contextualizados pelos aspectos relacionados à transição demográfica
e do envelhecimento da população na região e dos aspectos geológicos e
geomorfológicos como importantes elementos na formação dos riscos geotécnicos e
no processo de ocupação do território.
Este capítulo reuniu um esforço inicial de apresentar separadamente
alguns elementos que influenciam a análise da vulnerabilidade na região permitindo,
portanto, uma discussão nos capítulos dos resultados – do CAPÍTULO 4. ESCALA DE
RISCO E O LUGAR (p. 179) não apenas do ponto de vista físico-ambiental, mas, sobretudo,
do ponto de vista das dimensões humanas no contexto da região.
54
CAPÍTULO 3. MATERIAIS E MEÉ TODOS: ABORDAGEM MULTIESCALAR
O método proposto foi dividido em três etapas principais:
37Utilizou-se o termo ‘lugar’ buscando analisar o contexto local, ou seja, a maior escala de análise da
vulnerabilidade: as pessoas como resultado de suas percepções sobre os riscos e estratégias de adaptação. Não
apenas suas percepções, mas procurou-se também realizar a contextualização do local onde elas vivem. Mais
detalhes sobre essa linha de análise ver trabalhos de Cutter et al. (2003), Marandola Jr. e Hogan (2009),
Marandola Jr. (2011).
55
(III) Análise dos resultados, por meio de uma avaliação da
vulnerabilidade como resultado, proposta por O’Brien et al. (2004; 2007; 2013), e
análise contextual, discutida na seção 1.3. VULNERABILIDADE (p. 15). A Figura 3. 1
apresenta as etapas da metodologia adotada, contendo a abordagem proposta em
múltiplas escalas ligadas com suas respetivas análises da vulnerabilidade, a como
resultado e a contextual, a fim de responder às hipóteses apresentadas na seção
QUESTÕES E HIPÓTESES (p. 4) desta pesquisa.
56
Figura 3. 1. Metodologia contendo elos entre a abordagem multiescalar e sua análise
para responder às hipóteses H(1), H(2) e H(3) da pesquisa: (I) Aquisição e organização
de dados, (II) Abordagem em multiescalas: regional e local, (III) Análises da
vulnerabilidade: como resultado e contextual.
57
3.1. AQUISIÇÃO E ORGANIZAÇÃO DOS DADOS
58
Para analisar a distribuição espacial de dados do meio físico, foram
utilizados mapas digitais de riscos geotécnicos (IPT, 1994) – perigos de
escorregamento, inundação, recalque e/ou subsidência do solo [segundo Mendes
(2009), recalque/subsidência do solo é o termo utilizado em engenharia civil para
designar o fenômeno que ocorre quando uma edificação sofre um rebaixamento
devido ao adensamento do solo sob sua fundação, muitas vezes associado com
movimentos de marés e/ou infiltrações de água no solo], associados a mapas de
altimetria (Modelo Digital de Elevação) e mapa de declividade (IBGE, 2011, a partir de
curvas de nível em escala 1:50.000), com base na adaptação de critérios utilizados em
diversos trabalhos técnico-científicos (ver IPT, 1988; AUGUSTO FILHO; VIRGILI, 1998;
MACEDO, 2001; TOMINAGA et al., 2004; CERRI, 2006; McGRANAHAN et al., 2007;
FERREIRA et al., 2008; SANTOS; VIEIRA, 2009; FARIA; AUGUSTO FILHO, 2013; DINIZ
et al., 2012).
59
manualmente e relacionados à legenda estabelecida para o mapeamento. As
imagens de alta resolução foram mapeadas através da interpretação visual
em tela;
(iii) A avaliação da acurácia das classificações foi feita com os dados coletados
em campo para gerar uma amostra de referência, resultando na estimativa
kappa (k) de 0,89 para o mapeamento de 1:100.000 e k=0,94 para o
mapeamento 1:10.000, resultados considerados “muito bons” (HUDSON;
RAMM, 1987).
60
Estudos realizados nos estados do Pará e de São Paulo (Brasil) mostram
pelo menos duas vantagens em relação a outros métodos de agregação de dados: (i) a
possibilidade de integração de dados de origens diversas, com ênfase nos dados
ambientais; e (ii) a compilação de dados demográficos para áreas que não se adequam
às unidades de disseminação correntes, como divisões político-administrativas e
setores censitários (ver trabalhos de BUENO; DAGNINO, 2011; BUENO; D’ANTONA,
2012a,b; JOHANSEN et al., 2013; BUENO, 2014).
61
As variáveis sociodemográficas utilizadas por células foram: (i) número de
pessoas (moradores); (ii) sexo (pessoas responsáveis pelo domicílio do sexo
masculino ou feminino); (iii) renda; (iv) idade; (v) raça ou cor e (vi) alfabetização,
todas agregadas por grades regulares ou células como unidade de análise – Tabela 3.
1.
62
3.1.2.2. Distribuição de variáveis sociodemográficas em áreas de riscos
geotécnicos
39Mais detalhes sobre a metodologia utilizada para a construção do IPVS, ver SEADE (2000; 2013), disponível em:
IPVS (2010) – <http://www.iprsipvs.seade.gov.br/view/pdf/ipvs/metodologia.pdf>; IPVS (2000), disponível em:
<http://www.al.sp.gov.br/web/ipvs/index_ipvs.htm>.
63
Tabela 3. 2. Variáveis utilizadas para a construção de grupos de Vulnerabilidade do
IPVS-SEADE (2000 e 2010)
Componente do IPVS IPVS (2000) IPVS (2010)
% de pessoas responsáveis pelo
Presente Presente
domicílio alfabetizadas
% de pessoas responsáveis de 10 a 29
Presente Presente
anos
Idade média das pessoas
Presente Presente
responsáveis
% de crianças de 0 a 5 anos de idade Presente Presente
% de mulheres responsáveis de 10 a
Ausente Presente
29 ano
Ausente (não captada no
Rendimento nominal médio do
Presente questionário do
responsável pelo domicílio
universo)
Ausente (não captada no
% de responsáveis com menos de 3
Presente questionário do
salários mínimos
universo)
Ausente (não captada no
Renda domiciliar per capita Presente
questionário do universo)
Ausente (não
Rendimento médio da mulher disponibilizada para o
Presente
responsável pelo domicílio banco de dados do
questionário do universo)
% de domicílios com renda domiciliar Ausente (não captada no
Presente
per capita de até 1/2 salário mínimo questionário do universo)
% de domicílios com renda domiciliar
Ausente (não captada no
per capita de até 1/4 de salário Presente
questionário do universo)
mínimo
Ausente (não captada no
% de pessoas responsáveis com ensino
Presente questionário do
fundamental incompleto
universo)
Ausente (não captada no
Anos médios de estudo Presente questionário do
universo)
Fonte: Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (SEADE, 2000; 2013).
64
vulnerabilidade (setores urbanos) e alta vulnerabilidade (setores rurais), totalizando
sete grupos de vulnerabilidade social (SEADE, 2013) – Figura 3. 3.
65
3.1.3. Dados auxiliares
(a) Foram criados mapas de células de 100 x 100 metros (grades regulares) no
software TerraView 4.2, a partir dos limites municipais (e de áreas/planos de
informação de interesse), utilizando o menu “Plano -> Criar Células” (INPE,
2012, disponível em <http://www.dpi.inpe.br/terraview/>).
(b) Imagens de média resolução espacial (30 metros) - foram utilizadas 6
imagens do sensor TM/Landsat 5, composição colorida falsa cor R(5)G(4)B(3),
sendo utilizadas duas (2) cenas para cada período: 1990, 1999 e 2010. As
imagens foram obtidas no catálogo de imagens do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), <http://www.dgi.inpe.br/CDSR/> (ver
órbitas/ponto e data de aquisição na Tabela I. b, ANEXO I, p. 280). Imagens
de alta resolução espacial (1 metro) – foram utilizadas as imagens Ikonos e
GeoEye (com resolução espacial de 1 metro), no período 2000-2010 para apoio
das análises, obtidas com a EngeSat Imagens de Satélites Ltda (ver datas de
aquisição na Tabela I. c, ANEXO I, p. 280). Essas imagens de média e alta
resolução foram ortorretificadas (corrigidas geometricamente com base em
cartas do Instituto Geográfico e Cartográfico – IGC, em escala 1:10.000) e
validadas em conformidade com o Padrão de Exatidão Cartográfico (PEC)40
classe A, estabelecido pelo Decreto-Lei n.º 89.817/1984 (BRASIL, 1984) – ver
Tabela I. d e Tabela I. e no ANEXO I (p. 280). Essas imagens corrigidas foram
utilizadas como base para interpretação do mapeamento temporal de
cobertura e uso da terra na região de estudo, em escala 1:100.000 e 1:10.000,
nos respectivos períodos.
40O Padrão de Exatidão Cartográfico (PEC) pode ser considerado classe A, B ou C, quando a exatidão planimétrica
for 0,5, 0,8 ou 1 mm da escala da carta/mapa (BRASIL, 1984).
66
Parte dos dados auxiliares – células e conjunto de imagens de satélite – foi
utilizada para um levantamento prévio de situação de vulnerabilidade em relação aos
perigos na linha costeira – eminentemente de erosões costeiras ou elevação do nível
do mar. A abordagem adotada e os resultados dessa análise inicial podem ser vistos no
APÊNDICE – A.2 (p. 284). Esses grupos de variáveis foram organizados em um
Sistema de Informação Geográfica (SIG), a fim de distribuir espacialmente as áreas
vulneráveis e a construção de indicadores. Essas variáveis foram organizadas em
sistema de projeção Universal Transversa de Mercator (UTM) e Datum World Geodetic
System 1984 (WGS84).
41 Embora o termo multiescalar seja variado, pois é um conceito que depende de diferentes disciplinas (GIBSON et
al., 2000), pode-se pensar nesse termo como escalas que variam de acordo com o: (a) interesse social – níveis do
indivíduo, unidades domiciliares, comunidades, estado e internacional; ou de acordo com: (b) as escalas que
variam conforme o interesse ecológico – indivíduo, população, ecossistemas, manchas de paisagens (VANWEY et
al., 2009).
67
(iii) do total de sub-bacias, vinte delas foram amostradas para as
entrevistas de percepção de riscos. Destacam-se duas sub-bacias e respectivos
bairros que as compõem, situadas nas regiões centrais dos municípios de
Caraguatatuba e São Sebastião, na UGRHi-3: sub-bacia do rio Santo Antônio, em
Caraguatatuba; sub-bacia São Sebastião, em São Sebastião. O critério de seleção dessas
sub-bacias levou em consideração (a) a localização central em cada município, onde
há os principais acessos para os bairros dessas sub-bacias; (b) o histórico de ocupação
do território, associado com à implantação das rodovias (Tamoios – SP-099 e trechos
da rodovia Rio-Santos) ou da instalação de empreendimentos de infraestrutura (como
é o caso do Porto de São Sebastião e Terminal Aquaviário Almirante Barroso –
TEBAR); (c) os mapeamentos anteriores de riscos (IG/SMA, 2006a,b, c; IPT, 1999,
2010; UNESP-Rio Claro, 2006), que já indicavam essas áreas como susceptíveis a
eventos geológicos ou de origem hídrica. Além disso, eventos geológicos que
ocorreram anteriormente (caso de 1967 e 1996 em Caraguatatuba) também foram
considerados como fatores relevantes para a seleção; (d) condições de
vulnerabilidade social, representada pela análise prévia da distribuição espacial de
setores censitários segundo o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS); (e) o
lventamento de dados em campo sobre a percepção de riscos, que se concentraram
nessas áreas para fornecer uma análise contextual da vulnerabilidade.
68
descritos em detalhe no CAPÍTULO 7. ESCALA DE ANÁLISE LOCAL: AS PERCEPÇÕES DE RISCO E O
LUGAR (p. 179), pois exigiu a construção de uma abordagem específica para aplicação
de questionários. Também, sempre que necessário, buscou-se apoio em ferramentas
de geoprocessamento e SIG para contribuir na análise.
69
3.3. ABORDAGEM QUANTITATIVA DE PERCEPÇÃO DE RISCOS
70
Figura 3. 6. Fluxograma das fases/etapas para a aplicação dos questionários sobre
percepção de riscos às mudanças climáticas/ambientais (baseado em GIL, 2002;
NEUMAN, 2011).
71
dos riscos. Foram consideradas questões fechadas, ou seja, com opções de escolha para
posteriormente serem analisadas no software Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS).
Um das atividades da pré-análise foi buscar apoio das lideranças locais (ver
trabalhos de FESTINGER; KATZ, 1974; GIL, 2002). Em algumas campanhas de campo
entre 2011 e 2012 foram feitos contatos com responsáveis pela Defesa Civil e com
representantes da Secretaria de Meio Ambiente de cada um dos municípios, para
levantar informações sobre os riscos. Além desses contatos, foram feitas campanhas
de campo em conjunto com a pesquisadora Gabriela Di Giulio 42, acompanhando os
grupos focais de lideranças locais (comunidade) e de lideranças institucionais, ocasião
em que foi possível também estabelecer contatos com os atores de interesse para a
pesquisa.
42 Professora doutora do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP, realizou
pesquisa sobre situações de risco no litoral norte Paulista considerando uma análise das percepções de risco,
estratégias de comunicação e envolvimento público no enfrentamento dos riscos associados às mudanças
climáticas e ambientais. Detalhes em <http://www.bv.fapesp.br/pt/bolsas/114523/estudo-situacoes-risco-
litoral-norte/>.
72
visitas in loco e na determinação dos estrados ou zonas para auxiliar nas estimativas
do tamanho de amostra.
73
climáticas e ambientais e aos desastres naturais/induzidos. Além disso, permitiu
corrigir (reformular) eventuais perguntas ou a própria estrutura do questionário. Os
resultados do pré-teste também serviram para (re)estruturar algumas hipóteses do
trabalho (sobre aplicações de pré-testes e planejamento de pesquisas, ver
FESTINGER; KATZ, 1974; RICHARDSON, 1999; GIL, 2002; 2008; NEUMAN, 2011).
Sendo,
N = tamanho da população;
p = proporção populacional de indivíduos que pertencem à categoria de interesse 43;
q = (1-p);
Z𝛼/2 = valor crítico que corresponde ao grau de confiança desejado;
E = erro máximo de estimativa.
Com base em estimativas disponíveis de domicílios nos municípios do
litoral norte de São Paulo e de estimativas de domicílios em áreas de riscos (a
deslizamentos e a inundação) – ver Tabela 3. 3, foi possível estimar o tamanho da
amostra (Tabela 3. 4).
43Como os valores p e q são desconhecidos foi utilizado o valor de 0,5 para cada proporção, pela estimativa de
LEVINE, BERENSON, STEPHAN (2000), que leva em consideração a máxima variabilidade do objeto de estudo.
74
Tabela 3. 3. Domicílios em áreas de riscos (escorregamentos e inundação – Triscos, IG-
SP, 2006a,b,c, UNESP-Rio Claro; IPT, 2010) e total de domicílios nos 4 municípios
(Censo Demográfico de 2010 – Tcenso2010, IBGE, 2012).
No. domicílios1
Total de No. total de
Áreas (em áreas de
Municípios setores domicílios
em risco risco) – Triscos -
em riscos (Tcenso2010)
2006
Caraguatatuba 18 49 250 31.934
Ilhabela 12 27 451 9.015
São Sebastião 28 93 3.139 23.603
Ubatuba 54 149 5.126 25.075
Total - litoral
norte de São 112 318 8.966 89.627
Paulo
1Nos relatórios técnicos do Instituto Geológico (IG-SP, 2006a,b,c), da equipe da Universidade Estadual
Paulista (UNESP-Rio Claro, 2006) e do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT, 2010), o termo
“moradia” é frequentemente utilizado nos documentos oficiais. Neste trabalho optou-se pelo termo
“domicílios” como referência aos dados dos Censos Demográficos do IBGE, que usam domicílios para se
referir à casas/moradias.
44 Com as estimativas baseadas em amostragem simples, foram solicitados orçamentos para empresas
especializadas em surveys, levando em consideração o tempo, o custo e o desenho amostral da pesquisa. Após o
retorno dos orçamentos, foi estabelecido um tamanho de amostra que tinha como critério a restrição
75
dos domicílios situados em áreas de risco de escorregamentos, inundação e
proximidade da linha costeira – e Estrato B – 40% dos domicílios situados fora de
áreas de risco.
Total - litoral
norte de São 1.059 1.505 1.000 600 400
Paulo
orçamentária e o tempo para a execução da presente pesquisa. Assim considerou-se um desenho amostral para
uma abordagem estratificada com um total de 1.000 (n) questionários no litoral norte de São Paulo
45 Um método probabilístico é caracterizado quando cada elemento da população tem a mesma chance de ser
selecionado. Esse método assume técnicas rígidas de estatísticas para determinados tipos de amostragem
aleatória.
76
3.3.4. Estratégia de aplicação dos questionários (Etapa 4)
46As “pessoas-chave” eram líderes de bairro, educadores ambientais ou analistas em Secretarias de Meio Ambiente
do litoral norte de São Paulo.
77
- E(ss) = entrevistadores de São Sebastião,
- E(u) entrevistadores de Ubatuba
- Elos = contatos fundamentais para a estruturação da equipe, mas que não
participaram na aplicação dos questionários.
Para a construção do digrama foi utilizado o software UCINET 47, programa
específico para a análise de dados de redes sociais (BORGATTI et al., 2002, disponível
em <https://sites.google.com/site/ucinetsoftware/home>). O UCINET vem
acompanhado do aplicativo NetDraw (BORGATTI, 2002), utilizado para criar a rede de
relações.
47O tutorial utilizado para o manuseio do software foi o livro “Introduction to Social Network Methods”
(HANNEMAN; RIDDLE, 2005). Disponível em <http://faculty.ucr.edu/~hanneman/networks/nettext.pdf> e
“Manual Introdutório de Análise às Redes Sociais”, disponível em
<http://www.aprende.com.pt/fotos/editor2/Manual%20ARS%20[Trad].pdf> (AIRES et al., 2006)
78
Após a estruturação da equipe, foram feitos um treinamento e uma
explanação sobre a abordagem das entrevistas. Em um primeiro momento, esse
treinamento consistiu em: (a) apresentar a estratégia de abordagem das entrevistas,
baseada em uma adaptação do método de amostragem por cotas, na qual o
pesquisador entrevista um número definido de pessoas (ou um tamanho de amostra
pré-definido) em cada uma das categorias ou estratos de interesse. A seleção (das
amostras) em cada estrato é normalmente deixada a critério do entrevistador ou
pesquisador (ver trabalhos de MOSER; STUART, 1953; HANSEN, HURWITZ, MADOW,
1966; COCHRAN, 1977; MARSH; SCARBOROUGH, 1990; DOHERTY, 1995; CURTICE;
SPARROW, 1997; FAO, 1997; SCHIFFMAN; KANUK, 2000; OLIVEIRA, 2001; SCHUTT,
2006).
Mapas de riscos de escorregamento e de inundação e faixas de distância
dos principais cursos d’água e da linha costeira foram elaborados para auxiliar a
identificação das áreas (estratos) a serem entrevistadas. Esses mapas foram
elaborados com base em dados obtidos pelo Instituto Geológico do estado de São
Paulo (IG-SP), e técnicas de geoespaciais para a delimitação de distâncias dos
principais cursos d’água da região e a partir da linha da costa do litoral norte de São
Paulo.
Para auxiliar o levantamento de campo, os layers dos mapas de risco de
cada município foram sobrepostos às imagens de alta resolução disponíveis para a
área (obtidas no Banco de Dados Geográficos do projeto temático, BDG, 2011). Em
áreas onde não havia sobreposição com essas imagens do projeto temático, a
sobreposição foi realizada com imagens do Google Earth, que auxiliaram identificar as
áreas/domicílios a serem entrevistados pela equipe auxiliar de campo.
Os critérios para selecionar as áreas a serem entrevistadas, portanto, levou
em consideração: (i) as informações sobre as áreas de risco mais críticas em períodos
intensos/prolongados de chuvas, obtidas em reuniões com os responsáveis da Defesa
Civil dos municípios do litoral Norte de São Paulo; (ii) as observações feitas por
moradores, educadores ambientais e lideranças locais sobre as potenciais áreas de
79
risco, durante a pré-análise (entre 2011 e 2012); e (iii) os recursos disponíveis para a
campanha de campo, realizada de outubro a dezembro de 2012.
No segundo momento do treinamento, foram explicadas quais eram as
informações necessárias a serem coletadas (por exemplo, sempre anotar o endereço
do domicílio, quando possível com um croqui de localização – ou no papel ou no
Google Earth); quando disponível, coletar pontos com um aparelho de GPS nos
domicílios entrevistados; se factível, registrar em fotos as moradias e o entorno.
Nessa etapa de treinamento, foi entregue o material dos entrevistadores:
(a) crachá do entrevistador, com nome da instituição NEPAM/Unicamp, junto com os
questionários impressos e o “manual do entrevistador”, no APÊNDICE – A.4 (p. 295);
mapas de áreas de riscos onde deveriam ser realizadas as entrevistas, contendo o
número esperado de entrevistas a serem realizadas por bairro e áreas de riscos – (b)
em formato digital e (c) em formato impresso (ver Figura 3. 8).
80
Figura 3. 8. Material de apoio para a equipe auxiliar de campo: (a) Crachá de
identificação, manual do entrevistador, questionários; (b) Mapa das áreas de risco nos
bairros do Rio do Ouro, Jaraguazinho e Caputera – Caraguatatuba; e (c) Mapa das
áreas de risco em Topolândia, Olaria e Itatinga – São Sebastião.
81
Figura 3. 9. Treinamento da equipe: (a) em campo com entrevistador-líder no Morro
do Algodão – Caraguatatuba; (b) em campo com equipe de entrevistadores dos bairros
Olaria, Topolândia e Itatinga – São Sebastião; (c) Croquis realizados durante a
preparação para a aplicação dos questionários.
82
semana de dezembro de 2012 – foi feito para cobrir a área não levantada pelas quatro
equipes auxiliares e realizado pela equipe do projeto ‘Clima’.
83
84
CAPÍTULO 4. ESCALA DE ANAÁ LISE REGIONAL: OS PERIGOS E OS RISCOS NO
CONTEXTO DO ESTADO DE SAÃ O PAULO E DA ZONA COSTEIRA PAULISTA
85
e vendavais ou ciclones. Outros perigos foram agrupados por não serem recorrentes
na região da Serra do Mar.
48Grandes regiões com influência destacada de fatores de relevo e climáticos na dinâmica do ambiente para fins de
setorização do território brasileiro.
86
erosão e de movimentos coletivos de solo, que têm afetado as áreas urbanas de
algumas grandes aglomerações humanas brasileiras localizadas em morros
(AB’SABER, 1970; 2003 apud BITAR, 2009).
A Figura 4. 2 mostra a distribuição dos diferentes riscos geotécnicos na
zona costeira de São Paulo, em sobreposição às Unidades de Conservação de Proteção
Integral (UCPIs), áreas destinadas à manutenção dos ecossistemas livres de alterações
causadas por interferência humana, admitindo apenas o uso indireto dos seus
atributos naturais (Lei SNUC, BRASIL, 2000), que correspondem aos Parques
Estaduais da Serra do Mar (PESM) e de Ilhabela (PEI) no litoral norte; PESM e Parque
Estadual Xixová-Japuí na baixada santista e Parques Estaduais do Prelado, Itinguçu e
Cardoso e Estação Ecológica Juréia-Itatins no litoral sul.
87
Figura 4. 2. Distribuição de riscos geotécnicos associados com perigos de
escorregamentos (movimento de massa em geral), inundações, recalques ou
subsidência do solo e erosões. Fonte: Adaptado de IPT (1994).
88
84,7%, e baixada santista (UGRHi-7), com 50,2%. Analisando os riscos associados aos
perigos de inundação e subsidência – Ri e Rr (frequentes em planícies de baixa
altitude), nota-se que o litoral sul (porção da UGRHi-11) é mais afetado quando
comparado às duas outras regiões, representando cerca de 20,5% (inundações) e
41,5% (subsidência). Além desses riscos, também ocorrem erosões continentais e
outros processos do meio físico, mas em menores proporções. Assim, foram
agrupados em ‘outros riscos’ – Tabela 4. 1.
89
Contudo, salienta-se que extensa porção do território está sob proteção
ambiental (Unidades de Conservação de Proteção Integral – no litoral norte
representa cerca de 72,4% do território em UCPI e áreas Re, 37,7% na baixada
santista e 10,5% no litoral sul), reduzindo proporcionalmente os números associados
aos riscos de escorregamentos nas três regiões.
Por outro lado, chama a atenção os riscos associados a escorregamento ou
movimentos de massa em geral situados fora das UCPIs (no litoral norte,
aproximadamente 229 km2/12,3%, na baixada santista 298 km2/12,5% e no litoral
sul 723,6 km2/22,1%) – ver Figura 4. 2 e Tabela 4. 1. Esses riscos localizam-se,
normalmente, em encostas de morros e em áreas urbanas ou peri-urbanas, onde se
concentra o maior número da população e, portanto, as potenciais áreas de risco para
os moradores.
Em relação aos riscos geotécnicos associados a perigos de inundação e
recalque ou subsidência do solo, observa-se que os considerados de muito alta ou alta
suscetibilidade são mais frequentes no litoral sul (respectivamente 48% e 73%) e na
baixada santista (52% e 26%) – Figura 4. 3b e Figura 4. 3c.
90
Figura 4. 3. Distribuição espacial de riscos geotécnicos (perigos de escorregamentos
ou erosões, inundações ou recalques ou subsidência do solo).
91
área metropolitana no entorno do município de Santos49. e destacam como os
investimentos recentes em infraestrutura para a exploração de petróleo e gás
impactam o litoral norte (ver também trabalhos de HOGAN, 2009; BITAR, 2009;
FERREIRA et al., 2011; TEIXEIRA et al., 2012; TEIXEIRA, 2013), provocando um
processo de expansão da ocupação e dinamização econômica, com efeitos sociais e
ambientais significativos (CARMO et al., 2012).
49 De acordo com Carmo et al. (2012), a baixa disponibilidade de terras a serem ocupadas no município de Santos,
associada ao alto custo da moradia, foi um dos elementos propulsores do crescimento populacional nos
municípios vizinhos, gerando uma dinâmica metropolitana no seu entorno (SANTOS, 2008; CARMO et al., 2012).
Os autores citam um crescimento triplicado entre 1970 e 2010 nas cidades de São Vicente e Guarujá. Já Cubatão
teve sua população dobrada nesse mesmo período.
50 Parte desta seção está em preparação para submissão de artigo: IWAMA, A.Y.; BUENO, M.C.D.; D’ANTONA, A.O.;
BATISTELLA, M.; CARMO, R.L.; FERREIRA, Lúcia C. Geotechnical hazards-risks and sociodemographic regular
grids: vulnerability approach in Brazilian coastal zone. Regional Environmental Change (em prep.).
92
Figura 4. 4. Distribuição de riscos geotécnicos em grades regulares (250 x 250m –
urbano e 1000 x 1000m – rural), segundo o número de pessoas: (a) UGRHi-3 – litoral
norte; (b) UGRHi-7 –baixada santista [região metropolitana de Santos]; e (c) UGRHi-
11 – na porção do litoral sul [complexo estuarino-lagunar].
93
domicílios de maior vulnerabilidade social (população menos servida ou favorecida
de serviços básicos, maior proporção de jovens ou mulheres como responsáveis pelo
domicílio).
Situações semelhantes foram observadas por Feitosa et al. (2012; 2013) e
Mello et al. (2012) na UGRHi-3 – litoral norte, e Marques (2010) em municípios da
baixada santista (porção da UGRHi-7), apontando que, genericamente, os setores
censitários próximos ao mar apresentaram melhores condições sociais (em relação a
renda e educação), enquanto os setores nas proximidades de rios e de morros ou de
encostas íngremes, apresentaram piores condições. Feitosa et al. (2012; 2013)
argumentam que esse padrão tende a ocorrer porque as pessoas/famílias buscam
ocupar as áreas mais consolidadas, onde o acesso às oportunidades oferecidas pela
cidade é facilitado – normalmente em áreas centrais e/ou próximas ao mar.
Em uma primeira análise, pode-se observar a distribuição de setores
censitários segundo o Índice de Vulnerabilidade Social Paulista (IPVS) de 2010. As
áreas mais próximas de encostas ou distantes da linha costeira (chamadas de
‘sertões’) – que muitas vezes coincidem com áreas onde estão situados os
aglomerados subnormais ou núcleos de transição entre o urbano e rural – são os
setores com indicativos de situação de maior vulnerabilidade social. A exceção é uma
área de São Sebastião situada nas montanhas da Serra do Mar e sobreposta ao seu
Parque Estadual, que é indicada como setor de baixíssima ou muito baixa
vulnerabilidade social, com pouca ou nenhuma ocupação. O mapa de vulnerabilidade
social (Figura 4. 5), a partir da distribuição dos setores censitários, indica um padrão
de segregação socioespacial tendo os setores mais próximos às encostas ou em áreas
de transição do urbano para áreas de urbanização não consolidada representados
pelas classes 5, 6 ou 7 do IPVS, com características de ocupação de menor faixa de
rendimento domiciliar, concentração de pessoas jovens (0 a 14 anos) e menores
proporções de alfabetização.
94
Figura 4. 5. Distribuição de setores censitários, segundo o Índice Paulista de
Vulnerabilidade Social (IPVS) de 2010: (a) UGRHi-3 – litoral norte; (b) UGRHi-7 –
baixada santista; e (c) UGRHi-11 – na porção do litoral sul [complexo estuarino-
lagunar].
Obviamente esse panorama não pode ser generalizado, pois varia segundo
o histórico de ocupação de cada bairro e da região propriamente dita, envolvendo
processos de especulação imobiliária e de ações de política de ordenamento
territorial. Para oferecer uma análise contextualizada, os resultados e a discussão são
apresentados para as três regiões que abrangem as UGRHis da zona costeira paulista.
95
considerando o total de pessoas (~172 mil moradores em grades regulares ou células)
em situações de riscos a subsidência ou inundação, processos muitas vezes
relacionados a áreas de baixa altitude (em áreas de planícies, como é o caso da
planícies da bacia do rio Juqueriquerê em Caraguatatuba, onde situam-se os bairros
do Morro do Algodão e Tinga).
As áreas de baixo risco de subsidência (Rr) são as mais densamente
povoadas nas regiões centrais dos municípios de Caraguatatuba, Ilhabela, São
Sebastião e Ubatuba. Por outro lado, cerca de 71% dos moradores de potenciais áreas
de risco a escorregamentos e movimentos de massa em geral (Re), segundo grades
regulares, encontram-se em situações de muito alto risco a esses processos do meio
físico. A Figura 4. 6 e Figura 4. 7 apresentam um panorama geral das situações de
risco encontradas na região centro-sul da UGRHi-3 em relação ao número total de
moradores por células.
Figura 4. 6. UGRHi-3 – litoral norte. (a) Distribuição da população pela grade regular
na zona centro-sul de Caraguatatuba; (b) padrão de ocupação no bairro Jardim Santa
Rosa (em direção ao norte do município); (c) moradias no bairro Rio do Ouro; e (d)
situação de alagamento em 2012 no Morro do Algodão (próximo ao rio Juqueriquerê).
[registros fotográficos em campanha de campo].
96
Figura 4. 7. UGRHi-3 – litoral norte. (a) Distribuição da população pela grade regular
na zona centro-norte de Ilhabela e de São Sebastião; (b) moradias de alto padrão
construtivo no bairro Santa Tereza, Ilhabela; (c) morro do Cantagalo, moradias em
contraste no padrão de construção situado no bairro da Vila, ao lado de Santa Tereza,
Ilhabela; e (d) moradia em potencial área de risco de escorregamento, bairro de
Topolândia, São Sebastião [registros fotográficos em campanha de campo].
97
percentual no total de pessoas segundo o sexo, indica um olhar mais atento para
situações de vulnerabilidade em locais onde predominam o número de mulheres. Se
for comparado o litoral paulista como um todo – regiões da UGHRi-7 e porção da
UGRHi-11 -, nota-se que há também um pequeno aumento percentual de mulheres em
relação aos homens. Esses aspectos devem ser atentamente analisados, sobretudo
considerando a inserção das mulheres no mercado de trabalho (ver CAMARANO;
KANSO, 2009; CARMO et al., 2012).
(b) a renda - de maneira geral, os maiores percentuais de domicílios com
renda inferior a 1 salário mínimo (< 1 SM) se encontram em situações de alto (4,2%)
ou muito alto risco (11,2%) a escorregamentos (Re). Domicílios com renda > 10 SM
estão em menores proporções nessas áreas (0,3%, um pouco mais 90 domicílios). A
distribuição de domicílios por células com renda < 1SM (em células de > 200
domicílios) tende a se concentrar nos bairros um pouco mais distantes da linha
costeira, situação que pode ser vista nos bairros centrais de Caraguatatuba – de
Jaraguazinho em direção ao norte do município, até o Jardim Santa Rosa (Figura 4.
8a), de São Sebastião – os bairros de Topolândia, Olaria e Itatinga e de Ilhabela –
Zabumba, Reino e Itaquanduba (Figura 4. 8c).
Também pode-se verificar essa situação em Ubatuba, em bairros como
Ipiranguinha, Horto, Bela Vista, Sumidouro e Pedreira, na região central do município.
Entretanto, mesmo que possa ser identificado esse padrão mais ‘regional’ da
distribuição do perfil de domicílios, não se pode generalizar em todo o território da
UGRHi-3 e demais regiões do litoral paulista: por exemplo, na Figura 4. 7b e Figura 4.
7c há situações de domicílios em Ilhabela sujeitos ao mesmo grau de riscos de
escorregamento, mas em situações de vulnerabilidade social distintas (bairros de
Santa Tereza e Vila – no morro do Cantagalo, separando construções de alto padrão
das de baixo padrão construtivo). Situações semelhantes ocorrem no bairro de
Juquehy e Barra do Sahy, na costa sul de São Sebastião, retrato do contraste social e de
segregação observado em muitas cidades brasileiras.
98
Em relação aos potenciais riscos de inundação e subsidência do solo, a
maior parte de domicílios com renda < 1 SM (11,8%) está em situação de baixo risco.
A concentração de domicílios por grades regulares com > 10 SM (células com > 100
domicílios) é maior nas proximidades da linha costeira (abrangendo os bairros
centrais de Caraguatatuba – Centro até Martim de Sá (Figura 4. 8b).
Embora a maior parte dos riscos de subsidência (Rr) seja considerado de
grau baixo, não significa que eles não ocorram na região (ver PANIZZA, 2004, em
Ubatuba – praia das Toninhas, registro de prédio em situação de recalque do solo). Já
nos bairros de Tinga, Rio do Ouro (planície) e distrito do Porto Novo, há uma
tendência de concentração de domicílios/células com < 1SM nessas situações (Figura
4. 8a).
99
Tabela 4. 2. Distribuição de riscos geotécnicos na zona costeira de São Paulo (UGRHi-
3 – litoral norte), associados com perigos de escorregamentos, inundações, recalques
ou subsidência do solo em grades regulares proposta por Bueno (2014).
UGRHi-3 - litoral norte - riscos, segundovariáveis sociodemográficas
Variáveis do Censo Inundaç Recalques ou subsidência do
Escorregamentos (Re)
Demográfico (2010) ões (Ri) solo (Rr) - altitude < 10m
Muito Total
Médio Alto Total Médio Baixo Médio
Alto [Ri+Rr]
População
0,02 28,2 71,7 74.340 2,9 74,0 23,1 172.379
(pessoa)
Homens
0,01 14,4 35,6 37.127 1,5 36,4 11,6 85.350
(pessoa)
Mulheres
0,01 13,9 36,2 37.212 1,4 37,6 11,4 87.028
(pessoa)
Resp.
Sexo
15-59 anos 0,00 18,2 46,0 47.755 1,8 47,6 14,8 110.673
> 60 anos 0,00 2,4 6,3 6.470 0,1 8,4 1,6 17.433
Branca 0,00 14,6 38,8 39.693 1,1 47,5 12,5 105.336
Raça ou cor
(Pessoa)
Não é
0,00 1,5 4,2 4.205 0,2 3,9 1,6 9.892
alfabetizado
100
Figura 4. 8. UGRHi-3 – litoral norte. Distribuição da população pela grade regular
em áreas de riscos geotécnicos na segundo a variável renda domiciliar em: zona
centro-sul de Caraguatatuba (a) < 1 salário mínimo (SM) e (b) > 10 SM; e zona
centro-norte de Ilhabela e de São Sebastião (c) < 1 salário mínimo (SM) e (d) > 10
SM.
(c) a variável idade - grande parte das pessoas com idade média entre 15-
59 anos ocupam áreas de riscos geotécnicos associadas a Re e/ou [Ri+Rr] (mais de
45% da população nessa faixa etária distribuída em células), sendo a maior proporção
de crianças/jovens em áreas de muito alto risco de escorregamentos (17%) – em
locais que coincidem em boa parte onde há concentração de domicílios com renda < 1
101
SM, tais como Topolândia, Olaria e Itatinga, São Sebastião e situação de risco baixo de
subsidência associada a inundações (17%) – como na região de planície do distrito
Porto Novo, Caraguatatuba, com tendência de concentração também em bairros mais
distantes da linha costeira (Figura 4. 9a - Caraguatatuba e Figura 4. 9c – Ilhabela e
São Sebastião). Em relação à população idosa, parece indicar uma distribuição
homogênea segundo classes de risco geotécnico (Figura 4. 9b e Figura 4. 9d)
102
(d) a variável raça ou cor - no geral, grande parcela da população é branca
ou parda e situa-se em áreas mais centrais e próximas à linha costeira, com baixo risco
de subsidência (Rr) – mais do que a 2/3 da população distribuídas nas células. Dado o
maior volume da população segundo pessoas da cor branca ou parda, também se
observa que essas ocupam densamente as áreas consideradas de muito alto risco de
escorregamento (38,8% das pessoas brancas e 24,8% das pardas, do total de pessoas
em riscos potenciais de escorregamentos – Re).
Em menor proporção aparecem as pessoas que se declararam de raça
preta, amarela ou indígena. Estudos específicos e mais aprofundados devem ser
considerados sobre a população indígena, uma vez que, em princípio, essa tem maior
conhecimento do lugar e das condições ambientais de onde vive, propiciando maior
capacidade adaptativa diante dos perigos – na UGRHi-3, encontra-se a Terra Indígena
(TI) Boa Vista, no sertão de Promirim, em Ubatuba, situada em área de risco de
escorregamentos.
103
É importante ressalvar que essas áreas são as mais densamente ocupadas:
Santos, São Vicente, Cubatão e Guarujá, com células de > 500 moradores distribuídos
nas áreas centrais (Figura 4. 10) e em menor proporção nos municípios em direção
aos extremos da região: Bertioga, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe (maior
proporção de células possui < 500 moradores).
104
Figura 4. 10. UGRHi-7 – baixada santista. (a) Distribuição da população pela grade
regular na zona central de Santos; (b) moradias em potenciais áreas de risco de
escorregamento na vila Progresso (BARBI, 2014); (c) subsidência em edifício no
centro de Santos, em frente à praia do Boqueirão (HACHICH, 1997; TOMINAGA et al.,
2009); (d) erosão costeira na orla de Santos (IG/SMA, em AMARAL; GUTJAHR, 2011);
(e) vista do morro José Menino (abaixo da foto) e do morro Santa Therezinha (acima
da foto): contraste no perfil de construção de moradias em mesma situação de
perigo/risco [registro fotográfico de J.C. Carvalho 51]; (f) ruptura em moradia causada
por recalque ou subsidência do solo em São Vicente (IG/SMA, em AMARAL; GUTJAHR,
2011).
Analisando o perfil de moradores ou domicílios em áreas de risco
geotécnico na UGRHi-7 (ver Tabela 4. 3) quanto:
105
(a) ao sexo - as mulheres representam, no total, percentuais relativamente
superiores ao número de homens em situações de riscos geotécnicos. Comparando-as
com a UGRHi-3 – litoral norte, diferem em relação ao grau de suscetibilidade a
escorregamentos (Re), considerados alto (36,2% homens e 39,5% mulheres).
Já no litoral norte a proporção maior da população/célula está em situação
de risco muito alto a escorregamentos. Em relação aos responsáveis pelos domicílios,
os homens responsáveis pelos domicílios em situações de riscos geotécnicos ainda
estão em número um pouco maior em relação às mulheres. Chama a atenção para uma
proporção relativamente maior de mulheres em situação de baixo risco de recalques
do solo (Rr) associados com processos hidrológicos em relação aos homens (Rr –
29,2% homens e 32,7% mulheres) e de alto risco de Rr (Rr – 12,9% homens e 13,3%
mulheres). A situação da baixada santista comparada ao litoral norte é diferente em
relação ao grau de suscetibilidade: enquanto na UGRHi-7 há pouco mais de 12% da
população de ambos os sexos em situação de alto risco de recalque ou
subsidência do solo, no litoral norte o percentual (cerca de 11%) corresponde a
pessoas em situação de médio risco de Rr. É relevante essa situação (e diferente em
relação à UGRHi-3 – litoral norte) porque indica que a região da baixada santista está
mais sujeita a riscos associados à subsidência do solo e a inundações em relação à
região paulista situada mais ao norte – embora ocorram também os mesmos
processos, numa proporção menor – e, sobretudo, porque são mulheres a maioria sob
responsabilidade dos domicílios nessas situações de perigo e risco (Rr ou Ri),
reforçando a atenção sobre as situações de vulnerabilidade em que a mulher está na
posição de decisão para responder aos perigos a que estão expostas.
106
proporção de domicílios em situação de vulnerabilidade (econômica, segundo a renda
domiciliar) quando comparado ao litoral norte. A distribuição de domicílios em grades
regulares, segundo a renda, em potenciais áreas de risco de escorregamento (Re)
indica alguns aspectos de segregação espacial: domicílios com renda < 1 SM se
concentram ao norte de Santos: morro da Penha, Santa Maria, da Boa Vista, Marapé,
São Bento, Nova Cintra, Saboó e Vila Progresso, bairros com frequentes eventos
associados a escorregamentos em períodos de muitas chuvas (Figura 4. 11a).
Constrastando com o bairro Marapé, nota-se a concentração de domicílios com renda
> 10 SM no morro da Santa Therezinha, situado em parte do bairro Marapé e em parte
do bairro José Menino, de frente para a praia de José Menino e com vista para toda a
extensão da orla de Santos. Nessa área verificam-se moradias com alto padrão de
construção, muitas delas com piscinas (Figura 4. 11b).
107
Tabela 4. 3. Distribuição de riscos geotécnicos na zona costeira de São Paulo (UGRHi-
7 – baixada santista), associados com perigos de escorregamentos, inundações,
recalques ou subsidência do solo em grades regulares proposta por Bueno (2014).
UGRHi-7 - baixada santista - riscos, segundovariáveis sociodemográficas
Variáveis do Inundaçõ
Censo Escorregamentos (Re) Recalques ou subsidência do solo (Rr)
es (Ri)
Demográfico Mui Total Total
(2010) Médi Méd Mé Muito
Alto to estima Alto Baixo Alto estimado
o io dio Alto
Alto do [Ri+Rr]
População 103.43 26,6
3,3 75,7 21,0 1,97 0,00 61,95 0,20 9,23 1.519.249
(pessoa) 7 5
Homens 12,9
1,7 36,2 10,6 50.140 0,94 0,00 29,23 0,10 4,55 725.462
(pessoa) 2
Mulheres 13,7
1,7 39,5 10,4 53.297 1,03 0,00 32,72 0,10 4,67 793.786
(pessoa) 3
Resp.
Sexo
homens 0,6 13,3 4,2 18.773 0,36 0,00 11,29 0,04 4,40 1,50 267.326
(domicílio)
Resp.
mulheres 0,3 11,3 1,9 14.009 0,31 0,00 9,16 0,02 3,34 1,19 212.751
(domicílio)
< 1 SM 0,5 10,0 4,1 15.133 0,26 0,00 7,75 0,03 4,25 1,69 212.704
(domicílios)
domiciliar
Renda
1-3 SM 0,4 10,3 1,9 12.970 0,23 0,00 8,32 0,02 3,06 0,88 189.969
3-10 SM 0,1 3,9 0,2 4.255 0,15 0,00 3,85 0,00 0,41 0,12 68.658
> 10 SM 0,0 0,4 0,0 417 0,03 0,00 0,51 0,00 0,01 0,00 8.495
0-14 anos 0,8 16,4 6,0 23.934 0,47 0,00 13,15 0,05 6,69 2,56 348.155
(pessoa)
Idade
17,5
15-59 anos 2,1 49,3 13,8 67.446 1,26 0,00 39,32 0,11 6,10 977.142
2
> 60 anos 0,4 9,9 1,1 11.725 0,26 0,00 9,67 0,02 2,63 0,63 200.662
12,7
Branca 1,8 44,7 8,1 56.463 1,15 0,00 39,40 0,08 3,80 869.390
8
Raça ou cor
Preta 0,2 4,9 1,6 6.914 0,11 0,00 3,13 0,01 2,01 0,73 91.014
(pessoa)
Amarela 0,0 0,6 0,1 712 0,02 0,00 0,590,00 0,13 0,05 12.053
11,5
Parda 1,2 24,4 10,8 37.689 0,69 0,00 18,24 0,08 4,55 533.065
4
Indígena 0,0 0,1 0,0 130 0,00 0,00 0,10 0,01 0,04 0,02 2.558
É
Alfabetização
22,9
alfabetizad 2,8 66,1 17,5 89.272 1,71 0,00 54,98 0,15 7,71 1.329.315
(Pessoa)
4
o
Não é
alfabetizad 0,2 3,9 1,5 5.698 0,11 0,00 2,70 0,02 1,63 0,69 78.374
o
108
Young (2008) e Marques (2010) nos morros de Guarujá. Em Cubatão observa-se uma
grande quantidade de assentamentos precários em situações de risco de inundação e
escorregamento, localizados nos chamados ‘bairros-cota’, situados nas cotas de
altitudes que dão origem ao nome, variando da cota 95 m a 400 m a partir do nível do
mar.
109
Figura 4. 12. UGRHi-7 – baixada santista. Assentamentos precários ou cortiços
distribuídos nos canais de São Vicente: (a) núcleo Sambaituba e Dique Caixeta e do
Piçarro; (b) Núcleos Saquaré; e (c) assentamentos precários na região noroeste de
Santos, (d) Dique da vila Gilda no rio dos Bugres, Santos [Fonte: Imagens Google Earth
e Instituto Ecofaxina – registro fotográfico de William R. Schepis52).
Jakob et al. (2006) e Young (2008) também observaram esse padrão na
baixada santista, além de indicarem os condomínios de alto padrão situados,
normalmente, à beira-mar e áreas centrais.
110
Analisando as faixas de crianças adolescentes (0 a 14 anos) e idosos (> 60
anos), observa-se a seguinte distribuição espacial: concentração de células com > 300
pessoas de idade variando de 0 a 14 anos em áreas marginais aos canais de água,
situados a sudoeste de São Vicente (onde também se concentram domicílios com
renda < 1 SM), ou em área de morros de Santos, onde estão localizadas a Vila
Progresso ou morro do Saboó com esse mesmo perfil de domicílios. Esse ‘padrão’
também pode ser visto no Guarujá – na Vila Santa Clara –ou em Cubatão – morro do
Ondio, Sítio Novo e Vila Natal – Figura 4. 13a.
Por outro lado, mais de 300 pessoas de idade superior a 60 anos
(distribuídas por células), estaõ concentradas na área central de Santos, em áreas
próximas à orla marítima – Figura 4. 13b, áreas sujeitas a subsidência do solo (Rr),
inundações (Ri) ou erosões costeiras. Essa concentração (células com pessoas de > 60
anos) pode indicar a busca da moradia pelo maior acesso a serviços dessa faixa etária
e pela qualidade de vida. Essas situações devem ser mais aprofundadas em trabalhos
específicos, a fim de conhecer também aspectos de grau de dependência a família ou
conhecidos, opções de moradia – viver sozinho ou em família – e acesso aos serviços
(ver ALVES; CAVENAGHI, 2012; CAMARGOS et al., 2011; CARNEIRO et al., 2012).
111
Figura 4. 13. UGRHi-7 – baixada santista. Distribuição da população pela grade
regular em áreas de risco geotécnico segundo a variável idade (a) entre 0 a 14 anos e
(b) > 60 anos na zona central de Santos, São Vicente, Praia Grande, parte de
Guarujá e Cubatão.
112
Figura 4. 14. UGRHi-7 – baixada santista. Distribuição da população (a) total em
células ou grades regulares nas áreas centrais de Santos, São Vicente, Guarujá e parte
de Cubatão. Distribuição de pessoas em áreas de risco geotécnico [Re –
escorregamentos; Ri ou Rr – inundações ou recalques do solo] segundo a raça/cor (b)
branca, (c) preta e (d) parda.
113
Mbya); Itanhém – TI de Rio Branco de Itanhaém (grupo Guarani) e Peruíbe – TI de
Piaçaguera (grupo Guarani Nhandeva) e de Peruíbe (Guarani).
114
total de 23 áreas de riscos associados a processos geológicos-hidrológicos (ver
também relatório de situação de recursos hídricos do CBH-RB, 2013) - Tabela 4. 4.
115
Figura 4. 15. UGRHi-11 – porção litoral sul. (a) Distribuição da população pela
grade regular na zona central de Cananeia, Iguape e Ilha Comprida; (b) moradia
destruída pelo avanço da maré, na praia do leste de Iguape (CBH-RB, 2013, foto
registrada em 2011); (c) moradia destruída pelo avanço da maré, na ponta da praia de
Ilha Comprida (MODESTO, 2014, em prep.); (d) potenciais áreas de risco de inundação
e de escorregamento, situadas nas proximidades do morro São João, ao sul de
Cananeia (CBH-RB, 2013, foto registrada em 2011).
Analisando o perfil de moradores ou domicílios em áreas de riscos geotécnicos na
UGRHi-11 – porção do litoral sul (ver Tabela 4. 5) quanto:
116
UGRHis da área de estudo: em áreas de médio Re, os homens representam 11%,
enquanto as mulheres correspondem a 3,4%. Quando comparada às outras duas
regiões, a relação também é um pouco maior em áreas de baixo Rr (homens, 15,7%;
mulheres, 11,7%).
117
Figura 4. 16. UGRHi-11 – porção litoral sul. Distribuição da população pela grade
regular em áreas de riscos geotécnicos segundo a variável renda domiciliar (a) < 1
salário mínimo (SM) e (b) > 10 SM, na zona central de Cananeia, Iguape e Ilha
Comprida.
118
Tabela 4. 5. Distribuição de riscos geotécnicos na zona costeira de São Paulo (UGRHi-
11 – porção do litoral sul), associados com perigos de escorregamentos, inundações,
recalques ou subsidência do solo em grades regulares proposta por Bueno (2014).
UGRHi-11 - porção litoral sul - riscos, segundo variáveis
sociodemográficas
Variáveis do Censo Escorregamentos Inundaç
Recalques ou subsidência do solo (Rr)
Demográfico (2010) (Re) ões (Ri)
Médi Méd Muito Total
Alto Total Alto Baixo Alto
o io Alto [Ri+Rr]
População
66,9 33,1 2.805 0,9 90,4 2,4 5,1 1,2 36.570
(pessoa)
Homens (pessoa) 35,2 17,5 1.477 0,4 44,3 1,3 2,8 0,7 18.108
Mulheres (pessoa) 31,7 15,6 1.328 0,5 46,1 1,1 2,3 0,6 18.462
Sexo
Resp. homens
11,0 3,8 414 0,1 15,7 0,4 0,9 0,1 6.289
(domicílio)
Resp. mulheres
3,4 2,1 156 0,1 11,7 0,1 0,4 0,1 4.522
(domicílio)
< 1 SM 13,5 5,5 532 0,1 16,9 0,5 1,0 0,2 6.846
(domicílios)
domiciliar
Renda
15-59 anos 29,4 13,0 1.190 0,4 52,2 1,0 2,3 0,4 20.600
> 60 anos 6,1 2,2 234 0,2 12,7 0,2 0,7 0,1 5.057
Branca 18,0 10,0 785 0,5 53,4 0,7 2,3 0,5 20.940
Raça ou cor
Preta 4,5 3,1 213 0,0 2,6 0,2 0,1 0,0 1.106
(pessoa)
É alfabetizado 37,7 16,9 1.532 0,6 74,4 1,3 3,3 0,6 29.320
tizaçã
o
Não é alfabetizado 9,2 3,2 349 0,1 5,2 0,3 0,4 0,1 2.177
119
300 pessoas de 0-14 anos): Cananeia – bairros entre a estrada do Quarentenário ou
Humaitá; Iguape – bairro do Rocio - Figura 4. 17.
Figura 4. 17. UGRHi-11 – porção litoral sul. Distribuição da população pela grade
regular em áreas de riscos geotécnicos segundo a variável idade (a) entre 0 a 14 anos
e (b) > 60 anos, na zona central de Cananeia, Iguape e Ilha Comprida.
120
(e) à alfabetização - 54,6% das pessoas em áreas de risco de
escorregamento (médio ou alto Re) são alfabetizadas. Esse percentual é maior em
áreas de riscos de recalques ou subsidência do solo, também associada a inundações
(baixo Rr – 74,4%). Comparando-se com as duas UGRHis analisadas (litoral norte e
baixada santista), há uma proporção de pessoas relativamente menor (nas duas
observou-se > 80% das pessoas alfabetizadas). Esse breve diagnóstico (de dados de
alfabetização), embora não ofereça análises diretas de adaptação ou respostas às
mudanças climáticas nas três regiões analisadas, pode trazer contribuições mais
gerais para a caracterização do perfil da população nas áreas de risco geotécnico que
subsidiem futuras pesquisas.
121
que já são densamente ocupadas ou urbanizadas e que, se não são obras de
engenharia para reduzir os riscos e a vulnerabilidade (caso dos edifícios em Santos 53),
são a própria aceitação dos riscos pela população de continuar vivendo nessas áreas 54.
Também há que mencionar os diferentes métodos de agregação existentes que podem
influenciar nas estimativas absolutas – sendo assumido um erro de cerca de 5% para
menos do total populacional, devido a ausência de dados, informações inconsistentes
ou que não puderam ser espacializadas. Além disso, há o sigilo de dados domiciliares –
omissão de informações por células com < 5 domicílios –, fator que também leva a
variações nas estimativas absolutas das variáveis sociodemográficas selecionadas.
122
domicílios com menor renda, jovens ou idosos – situação de vulnerabilidade
social ampliada, por assim dizer –, ocupando as encostas mais suscetíveis a
escorregamento ou áreas com maior instabilidade geológica, áreas nas proximidades
de cursos de água ou ambientalmente protegidas (ver ALVES et al., 2010; 2011;
ALVES, 2013; ANAZAWA et al., 2013; D’ANTONA et al., 2010; FEITOSA et al., 2012;
2013; JAKOB et al., 2006; MARANDOLA Jr. et al., 2013; MARQUES, 2010; MELLO et al.,
2010; 2012; POLIS, 2012; TOMINAGA et al., 2009; YOUNG, 2008).
123
multiescalar surge como pressuposto fundamental para compreender melhor os
efeitos temporais e espaciais que influem sobre a capacidade de resposta daqueles
que vivem os riscos de natureza geológica ou hidrológica, além daqueles que não
foram analisados neste trabalho, mas que são de grande importância: tecnológicos
(ver SANTOS; MARANDOLA Jr., 2012; IWAMA et al., prelo 55), meteorológicos
(associados a chuvas ou secas intensas, entre outros); (4) aspectos da migração,
mobilidade e população flutuante ou de segunda residência, normalmente
pessoas sem experiência alguma dos processos físicos e ambientais da região,
favorecendo a falta de resposta (ou de capacidade adaptativa) diante de um perigo de
escorregamento ou de inundação mais intenso – ou a migração como estratégia de
adaptação aos perigos advindos das mudanças climáticas. Trabalhos na região
(BUENO; D’ANTONA, 2012; CARMO et al., 2012; JAKOB et al., 2006; MARANDOLA Jr. et
al., 2013; MARANDOLA Jr.; D’ANTONA, 2014; MARQUES, 2010; YOUNG, 2008) e no
mundo (ADAMO, 2010; BLACK et al., 2011; HOGAN; MARANDOLA Jr., 2012; MARTINE;
SCHENSUL, 2013; MCLEMAN, 2010; PERCH-NIELSEN et al., 2008) já têm levantado
esse aspectos como um importante tema para as mudanças ambientais globais e/ou
mudanças climáticas, e em última instância, sobre a vulnerabilidade da população
exposta aos diferentes riscos geológicos-hidrológicos; (5) aspectos sobre raça e cor e
vulnerabilidade às mudanças climáticas ainda têm sido pouco explorados no Brasil,
mas também surgem como importante tema de análise, sobretudo pela segregação
social existente que carrega, até certa medida, um histórico de segregação também de
raças. Estudos mais detalhados podem, inclusive, qualificar e/ou desmitificar essa
noção/pré-conceito.
55Trabalho enviado como ‘input paper’ para compor o relatório de avaliação global - Global Assessment Report 2015
(GAR15) – das Nações Unidas para Redução de Riscos e Desastres (UNISDR), intitulado ‘Interconnected, inter-
dependent technological and environmental risks in the context of climate change’.
124
CAPÍTULO 5. ESCALA DE ANAÁ LISE REGIONAL: A DINAÂ MICA DE
COBERTURA E USO DA TERRA, RISCOS GEOTEÉ CNICOS E VULNERABILIDADE
56Trechos do Capítulo 5 foram parcialmente utilizados para compor um capítulo do livro organizado por Lúcia da
Costa Ferreira, publicação no âmbito da Rede Iberoamericana de Pesquisa em Ambiente e Sociedade.
IWAMA, A.Y.; BATISTELLA, M.; FERREIRA, Lúcia C.; TEIXEIRA, L.R. Dinâmica de cobertura e uso da terra e
implicações para conservação e áreas de riscos geodinâmicos no litoral norte de São Paulo. In: Lúcia da C. Ferreira
(Org.). Dimensões humanas das mudanças ambientais e climáticas em áreas protegidas e vulneráveis da Ibero-
América, p.137-170, 2014 (prelo).
125
Figura 5. 1. Distribuição espacial de cobertura e uso da terra no litoral norte de São
Paulo – (a) 1990; (b) 1999; e (c) 2010.
Essa análise indicou que: (i) houve uma redução nas transições em
relação ao total de área entre os períodos 1990-1999 e 1999-2010 (por exemplo, as
transições para áreas urbanas foram de 2.220 hectares (ha) para 786 há; para áreas
agricultáveis de 998,2 ha para 761,8 ha); (ii) a vegetação secundária ou
regeneração aumentou em 38,1 ha (de 1.045,4 para 1.198,3 hectares), de 1990 para
2010; (iii) as transições para áreas urbanas ou áreas agricultáveis parecem
mostrar um processo de intensificação 57 de uso da terra na área de estudo. De
57A intensificação de uso da terra, nesse caso, se refere a um processo associado com a substituição de áreas
agricultáveis por áreas urbanas.
126
fato, no período 1990-1999, foi observada a substituição de áreas agricultáveis
(28,9%) e vegetação secundária (28,3%) por áreas urbanas. No período 1999-2010
essas mesmas transições (substituição de áreas agricultáveis e vegetação secundária
por áreas urbanas) representaram, respectivamente, 25% e 30,1%; (iv) houve uma
redução relativa de cobertura vegetal (incluindo floresta ombrófila densa,
vegetação secundária e restinga) para áreas urbanas ou agricultáveis. Nos períodos
1990-1999 e 1999-2010, houve, respectivamente, a transição de 11,7% e 12,2% de
cobertura vegetal para áreas urbanas. A transição de cobertura vegetal para áreas
agricultáveis foi de 11,4% e 19,1% nos mesmos períodos.
127
Tabela 5. 1. Principais transições de cobertura/uso da terra na área de estudo nos
períodos entre 1990, 1999 e 2010.
1990-1999 (hectares, 1999-2010 (hectares,
(1) Transição para áreas urbanas
%) %)
Áreas agricultáveis para áreas urbanas 930,4 (41,9) 387,7 (49,3)
Cobertura vegetal nativa para áreas
378,6 (17,1) 188,7 (24,0)
urbanas
Vegetação secundária para áreas urbanas 911,0 (41,0) 209,7 (26,7)
Total 2.220,0 (100,0) 786,0 (100,0)
(2) Transição para áreas agricultáveis
Cobertura vegetal nativa para áreas
367,8 (36,8) 295,9 (38,8)
agricultáveis
Vegetação secundária para áreas
630,4 (63,2) 465,9 (61,2)
agricultáveis
Total 998,2 (100,0) 761,8 (100,0)
(3) Transição para cobertura vegetal
Áreas agricultáveis para cobertura vegetal
28,3 (2,7) 20,4 (1,7)
nativa
Áreas agricultáveis para vegetação
1,017,1 (97,3) 1,177,9 (98,3)
secundária
Total 1.045,4 (100,0) 1.198,3 (100,0)
128
Figura 5. 2. Diagrama das transições de cobertura e uso da terra nos períodos (a)
1990-1999 e (b) 1999-2010.
129
Embora o foco deste trabalho seja analisar as implicações das mudanças de
cobertura e uso da terra sobre os riscos geotécnicos ou de natureza geológica-
hidrológica, é possível observar, com base nos resultados do período analisado,
importantes mudanças, que devem ser aprofundadas no âmbito da teoria da transição
florestal em trabalhos posteriores, a partir de uma análise temporal de maior
abrangência e produtos de sensoriamento remoto de melhor resolução (para mais
detalhes, ver trabalhos de MATHER, 1990, 1992; MATHER; NEEDLE, 1998; BARBIER
et al., 2010; DRUMMOND; LOVELAND, 2010; PTAFF; WALKER, 2010; RUDEL et al.,
2010; FARINACI, 2013; FARINACI; FERREIRA; BATISTELLA, 2013).
130
Figura 5. 3. Transições de cobertura/uso da terra – períodos 1990-1999 e 1999-2010 – (1) transição para áreas urbanas
(incluindo áreas de mineração); (2) transição para áreas agricultáveis; (3) transição para cobertural florestal: (a)
Caraguatatuba e (b) Ilhabela.
131
Figura 5. 4. Transições de cobertura/uso da terra – períodos 1990-1999 e 1999-2010 – (1) transição para áreas urbanas
(incluindo áreas de mineração); (2) transição para áreas agricultáveis; (3) transição para cobertural florestal: (a) São
Sebastião e (b) Ubatuba.
132
As transições ocorridas entre 1990-1999, analisadas em conjunto com a
perda significativa de vegetação secundária (incluindo SV submontana e de terras
baixas), para terras agrícolas e terras agrícolas para áreas urbanas (Caraguatatuba,
24,3%; Ilhabela, 42%; São Sebastião, 41,4%; e Ubatuba; 52,6%) têm um histórico de
ocupação com forte influência da instalação do Porto de São Sebastião durante as
décadas de 1930-1940 e das principais rodovias da região: a rodovia federal Rio-
Santos (BR-101), que liga o estado do Rio de Janeiro a São Paulo, vira a rodovia
estadual SP-055 nos municípios do litoral norte de São Paulo; a Tamoios (SP-099),
construída na década de 1950, liga o município de São José dos Campos a
Caraguatatuba; a Osvaldo Cruz (SP-125), liga Taubaté a Ubatuba; e a SP-135 tem toda
a sua extensão no município de Ilhabela.
De acordo com diversos autores (SILVA, 1975; CAMPOS, 2000; SMA, 1998,
2006; SOUZA, 2010), esse conjunto de obras de infraestrutura influenciou o acesso
para a ocupação e o processo de urbanização do território. Essa situação tem sido
observada também em outras regiões, mostrando a influência da implantação de
estradas e da topografia, sugerindo uma relação com os efeitos associados à
fragmentação da paisagem (TEIXEIRA, 2005; FREITAS et al., 2010 na região do
planalto de Ibiúna). Por outro lado, a criação das Unidades de Conservação de
Proteção Integral na área de estudo (Parques Estaduais da Serra do Mar e de Ilhabela,
criados em 1977) é um dos fatores com forte influência sobre a dinâmica de cobertura
e uso da terra, e em alguns casos pode indicar a ação combinada entre processos de
globalização e planos locais que incorporam o uso de recursos naturais atrelados a
programas de conservação (ZIMMERER, 2006; MEYFROIDT et al., 2013).
TRANSIÇÃO PARA ÁREAS URBANAS: RISCOS GEOTÉCNICOS E VULNERABILIDADE SOCIAL (p. 134), com
133
disso, parte desses resultados subsidiou a preparação de um documento com foco nas
mudanças de cobertura/uso da terra sobre o estoque de carbono na região 58.
SOCIAL
58Artigo em preparação: IWAMA, A.Y; VIEIRA, S.A.; BATISTELLA, M.; FARINACI, J.S.; JOLY, C.A.; FERREIRA, Lúcia C.
Land use- cover dynamics in Brazilian Southeast coastal zone: perspectives on carbon storage. Global
Environmental Change. (em prep.).
134
Figura 5. 5. Distribuição espacial das principais transições de cobertura e uso da terra (1990 a 2010), áreas protegidas e
riscos geotécnicos (IG/SMA e IPT) – Caraguatatuba.
135
Figura 5. 6. Distribuição espacial das principais transições de cobertura e uso da terra (1990 a 2010), áreas protegidas e
riscos geotécnicos (IG/SMA e IPT) – Ilhabela.
136
Figura 5. 7. Distribuição espacial das principais transições de cobertura e uso da terra (1990 a 2010), áreas protegidas e
riscos geotécnicos (IG/SMA e IPT) –São Sebastião.
137
Figura 5. 8. Distribuição espacial das principais transições de cobertura e uso da terra (1990 a 2010), áreas protegidas e
riscos geotécnicos (IG/SMA e IPT) –Ubatuba.
138
Com foco na transição para áreas urbanas, observa-se que: em áreas de
riscos associados a escorregamentos, as principais transições ocorridas nos quatro
municípios do litoral norte (UGRHi-3) estão relacionadas a mudanças de vegetação
secundária para áreas urbanas (se comparado a outras transições, como cobertura
florestal ou áreas agricultáveis para as manchas urbanas). Os municípios de São
Sebastião (27,1% em áreas de alto risco – R3; 22,9% em áreas de médio risco – R2) e
Ubatuba (27,5% em áreas de médio risco – R2) são os que apresentam maiores
percentuais de manchas urbanas em áreas de risco de escorregamentos. Ilhabela
também mostra percentuais que chamam atenção para a expansão de manchas
urbanas sobre áreas de risco de escorregamento: cerca de 21,7% das manchas em
áreas de risco baixo, médio ou alto (R1, R2 ou R3) – Tabela 5. 2.
139
Total 100,0 (23)
Transições de cobertura e uso da Riscos Manchas (%,
Município Perigos
terra (1990-2010) (classes) n)
I (Cobertura florestal) R3 2,1 (1)
I (Cobertura florestal) R2 8,3 (4)
II R4 8,3 (4)
II Escorregamentos R3 27,1 (13)
II R2 22,9 (11)
São Sebastião
II R1 4,2 (2)
III R3 6,2 (3)
I (Restinga) R4 2,1 (1)
I (Restinga) R3 4,2 (2)
I (Restinga) R2 2,1 (1)
Inundações
II R3 2,1 (1)
III R3 8,3 (4)
III R2 2,1 (1)
Total 100,0 (48)
Transições de cobertura e uso da Riscos Manchas (%,
Município Perigos
terra (1990-2010) (classes) n)
I (Cobertura florestal) R2 2,5 (1)
II R4 2,5 (1)
II R3 10,0 (4)
II Escorregamentos R2 27,5 (11)
III R3 15,0 (6)
III R2 20,0 (8)
Ubatuba
140
secundária para áreas urbanas em áreas mapeadas com risco de inundação alto (R3) e
12,5% de médio risco (R2). Além disso, a substituição de áreas agricultáveis também
apresentou importantes mudanças, principalmente na região da planície da bacia
hidrográfica do rio Juqueriquerê, onde estão situados os bairros do Morro do Algodão,
Tinga, fazenda Serra Mar e as instalações da Unidade de Tratamento de Gás de
Caraguatatuba (UTGCA). Em áreas de alto risco de inundação (R3), mostrou 17,5% de
manchas de transição e em áreas de médio risco (R2), 15%.
141
Figura 5. 9. Caraguatatuba: (a) – região central: bairros de (a1) Jardim Olaria, (a2)
Casa Branca, (a3) Cantagalo, (a4) Benfica, (a5) Rio do Ouro; (b) região sul: bairros do
Morro do Algodão, no período de verão em situação de (b1) inundação em 2012, (b2)
sem inundação em 2010, (b3, b4) equipe em campo para entrevistas sobre a
percepção de riscos da comunidade afetadas no morro do Algodão.
142
Em Ubatuba, há importantes manchas de transição para áreas urbanas
situadas em áreas de encostas e próximas ao limite do Parque Estadual da Serra do
Mar: a região central abrange os bairros do Horto, Ipiranguinha, Bela Vista, Pedreira,
além de Enseada e Perequê-Mirim – Figura 5. 10a, áreas expostas aos riscos de
escorregamento. Também nessa situação observam-se os bairros situados ao sul de
Ubatuba, como o Corcovado, Sertão da Quina e Sertão de Araribá – Figura 5. 10b.
143
Figura 5. 10. Ubatuba: (a) região central: bairros de (a1) Pedreira, (a2) Bela Vista,
(a3) Ipiranguinha, (a4) Horto, (a5) Enseada, (a6) Perequê-Mirim. (b) região sul:
bairros do (b1) Rio Escuro, (b2) Corcovado, (b3) Sertão da Quina, (b4) Sertão do
Araribá.
144
No caso de São Sebastião, essas manchas (urbanas) em áreas de risco de
escorregamentos podem ser observadas principalmente nos bairros de Topolândia,
Olaria e Itatinga (região central do município) e do Morro do Abrigo, situado no bairro
São Francisco, região centro-norte do município. Na região da costa sul de São
Sebastião, os bairros de Barra do Sahy e Juquehy (extremo sul) e Maresias e
Boiçucanga apresentam também as manchas de transição para áreas urbanas em
situações de risco de escorregamentos – Figura 5. 11a e Figura 5. 11b.
Nas áreas mais planas e próximas aos cursos d’água, são frequentes os
eventos hidrológicos associados a inundações: caso do bairro Cambury (nas vilas de
Lobo-Guará e Areião) ou mesmo de Boiçucanga e os referidos bairros centrais de
Topolândia e Itatinga.
145
Figura 5. 11. São Sebastião: (a) região central: bairros de (a1) Morro do Abrigo –
(a2) São Francisco, (a3,a4) Olaria, Topolândia e Itatinga, (b) costa sul: bairros de (b1)
Maresias, (b2) Boiçucanga, (b3) Cambury, (b4) Barra do Sahy, (b5) Morro dos
Esquimós - Juquehy.
146
Em Ilhabela, as sobreposições de manchas de transição para áreas urbanas
em áreas de riscos de escorregamentos são observadas, principalmente nos bairros
centrais e em áreas próximas ao limite do Parque Estadual de Ilhabela: os bairros de
Santa Teresa e Vila – região centro norte – Figura 5. 12a e os bairros do Reino, Água
Branca, Barra Velha, Zabumba (Buraco do Morcego) e Itaquanduba (Morro dos
Mineiros), na região central do município – Figura 5. 12b.
147
Figura 5. 12. Ilhabela: (a) região centro-norte: bairros de (a1) Santa Teresa, (a2)
Cantagalo - Vila, (a3, a4) Morro dos Mineiros – Itaquanduba; (b) região central:
bairros de (b1) Barra Velha, Água Branca Reino, (b2) Zabumba, (b3, b4) Buraco do
Morcego.
148
Uma situação comum nas áreas onde houve as manchas de transição para
áreas urbanas se refere a sua localização geográfica nos municípios: normalmente
estão em áreas na faixa entre a região central (beira-mar) e em direção às encostas –
por influência do relevo, de certa maneira, e são áreas onde a população se encontra
frequentemente em situações de vulnerabilidade social (ANAZAWA et al., 2013;
MARANDOLA Jr. et al., 2013; MELLO et al., 2010; 2012).
São áreas, portanto, onde existe algum deficit social resultante não apenas
de problemas associados a ausência ou falhas na articulação de instrumentos de
políticas de ordenamento territorial (tais como de regulação do uso do solo, de
habitação e de áreas de risco), mas também de um processo histórico de ocupação
frequentemente ligado ao crescimento econômico ‘tradicional’, que não considera o
desenvolvimento social e a redução de desigualdades. Esse quadro agrava os
processos de especulação imobiliária e deixa as terras mais suscetíveis a riscos de
escorregamento e inundação para aqueles que têm menos recursos ou maior
dificuldade de acesso aos ativos financeiros 59 – tal processo amplia a vulnerabilidade
social dos moradores na região, resultando em ações cada vez mais complexas para
reduzir os riscos de desastres naturais ou os efeitos das mudanças climáticas – Figura
5. 13.
59Ver Valencio et al. (2011); Valencio (2012) sobre a sociologia dos desastres; Acserald (2002; 2010) sobre justiça
ambiental; matéria publicada na Folha de São Paulo em 2011, com especialistas Nabil Bonduki (FAU/USP) e
Eduardo Macedo (IPT): <http://www1.folha.uol.com.br/multimidia/podcasts/859506-crescimento-economico-
empurra-moradores-para-as-encostas-ouca-especialistas.shtml>
149
Figura 5. 13. Vulnerabilidade multidimensional – manchas de transição para áreas
urbanas – período 1990-2010, áreas em situação de vulnerabilidade social expostas
aos riscos de escorregamento e/ou inundação: (a) Caraguatatuba – região centro-
sul: os bairros do Morro do Algodão (distrito Porto Novo), Rio do Ouro, Benfica,
Jaraguazinho, Cantagalo, Jardim Olaria e Casa Branca; (b) Ubatuba – região central:
os bairros de Bela Vista, Marafunda, Ipiranguinha, Pedreira, Horto, além de Perequê-
Mirim (inclui o ‘sertão’) e Enseada; (c) São Sebastião – região central: Olaria,
Topolândia, Itatinga, Morro do Abrigo e São Francisco. Ilhabela – região central: os
bairros que abrangem Barra Velha, Morro dos Mineiros (Itaquanduba), Green Park,
Reino, Buraco do Morcego, Zabumba.
5.3. IMPORTÂNCIA DAS ÁREAS PROTEGIDAS PARA REDUÇÃO DOS RISCOS E DESASTRES
150
de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHi-03); (b) conservação da paisagem; (c)
manutenção da estabilidade geológica, com influência na redução de riscos e desastres
naturais.
Quadro 5. 1. Riscos a desastres: exemplos nos estados do Rio de Janeiro, de São Paulo
e área de estudo.
151
Bairros de Topolândia, Olaria e Itatinga (São Sebastião) – área Bairro Buraco do Morcego (Ilhabela/SP) –
sujeita a riscos de escorregamentos e inundações. Fonte: Allan construções em área sujeita a riscos de
Yu Iwama (Out/2012) escorregamentos. Fonte: Allan Yu Iwama
(Abr/2011)
152
[urbanas] que têm resultado na concentração de moradias no entorno desse curso
d’água. Em período de chuvas intensas, como o de 2010, são recorrentes os problemas
associados a inundações e perdas materiais.
153
queda de blocos nos bairros de Perequê, Itaguaçu e Itaquanduba (no conhecido Morro
dos Mineiros) e entre os bairros da Vila, Cantagalo e Santa Teresa 60 (Quadro 5. 3). Ao
sul do município, no período de 1990 a 2010, houve manchas de expansão urbana
pouco associadas aos riscos geodinâmicos.
Bairros da Vila, Cantagalo e Santa Tereza Morro dos mineiros (bairro de Itaquanduba,
(Ilhabela/SP) – moradias de alto padrão em Ilhabela/SP) – moradias sujeitas a riscos de
encostas. Fonte: Allan Yu Iwama (Nov/2011) escorregamentos. Fonte: Iara Giacomini e Allan
Yu Iwama (Out/2012)
154
município, denominada ‘costa sul’, as manchas urbanas ocorrem principalmente em
Maresias, Boiçucanga e Cambury, bairros que nos últimos anos têm sofrido
recorrentemente com problemas de escorregamento ou inundação durante o verão 61.
Além desses bairros, observaram-se manchas urbanas relativamente menores nos
bairros de Juquey, Barra do Sahy e Boraceia (Quadro 5. 4).
Bairro de Boiçucanga (São Sebastião/SP) – Bairro Cambury, em local chamado Pedreira (São
moradia em áreas sujeita a risco de Sebastião/SP) – moradias sujeitas a riscos de
escorregamento. Fonte: Juliana Portes e Allan Yu escorregamentos. Fonte: Allan Yu Iwama (Nov/2012)
Iwama (Nov/2012)
61Jornal ‘O Globo’, em 23/2/2013 – Corpo de criança foi encontrado pela Defesa Civil na manhã deste sábado, em
Boiçucanga, na costa sul de São Sebastião. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/pais/deslizamento-de-terra-
deixa-um-morto-na-imigrantes-em-sp-7656842#ixzz2LlH1kgSX>
Prefeitura de São Sebastião, em 23/2/2013 – O Fundo Social de Solidariedade e a comunidade da Costa sul de São
Sebastião se mobilizaram e fizeram neste sábado (23/2/13) a primeira doação de auxílio às vítimas da forte
chuva que caiu na região, principalmente nos bairros de Boiçucanga, Cambury e Maresias. Disponível em:
<http://www.saosebastiao.sp.gov.br/finaltemp/news.asp?id=N232201315125>
155
(d) Dentre as principais transições para áreas urbanas, Ubatuba
apresentou mudanças na parte central (nos bairros do Ipiranguinha, Horto, Figueira,
Ressaca, Mato Dentro, Estufa II, Sumidouro e Taquaral), no extremo sul do município
(nos bairros do Rio da Prata, Sertão de Araribá, Sertão da Quina e Sertão do Meio) e
em direção ao sul-centro (nos bairros de Folha Seca e Rio Escuro). Na parte ao norte
do município, no geral, observam-se conflitos entre o uso de recursos naturais em
áreas próximas ao Parque Estadual da Serra do Mar (PESM), em particular nos bairros
de sertão de Ubatumirim, Picinguaba e Camburi (ver SIMÕES, 2010; CALVIMONTES,
2013). Além desses conflitos, foram observadas áreas com riscos de ressaca do mar e
escorregamentos em alguns desses bairros (Quadro 5. 5).
156
CAPÍTULO 6. ESCALA DE ANAÁ LISE REGIONAL: OS RISCOS GEOTEÉ CNICOS
NA UGRHI-3 E SUB-BACIAS 62
62O Capítulo 6 é um artigo aceito para publicação no periódico Ambiente & Sociedade: IWAMA, A.Y.; BATISTELLA,
M.; FERREIRA, Lúcia C. Os riscos geotécnicos e vulnerabilidades sociais na UGRHi-3 e sub-bacias. Ambiente &
Sociedade (artigo aceito para edição especial ‘Desastres Naturais e Socioambientais’).
157
Tabela 6. 1. Riscos de escorregamento (total e em áreas fora das Unidades de
Conservação de Proteção Integral – Parques Estaduais da Serra do Mar e de Ilhabela) -
Re, inundações – Ri e recalques ou subsidência do solo – Rr na UGRHi-3 – litoral norte.
Riscos geotécnicos - percentual e área (km2) em relação
ao total distribuído no território (escala 1:500.000)
Escorregamentos (Re) % do total de
Recalques do solo
Porção fora riscos
Municípios (Rr ) –
Total em dos Inundaçõ geotécnicos
território em
cada Parques es (Ri) por município
baixas altitudes <
município Estaduais 10m
(UCPIs)
Caraguatatub
23,0 (431,8) 2,3 (42,5) 1,2 (23) 6 (113,4) 30,3
a
Ilhabela 17,3 (324,3) 2,7 (50,3) - - 17,3
São Sebastião 13,2 (247,1) 2,3 (43,9) 0,6 (10,9) 3,0 (55,9) 16,7
Ubatuba 31,2 (584,4) 4,9 (93,1) - 4,5 (84,6) 35,7
Distribuição 84,7 12,3 1,8
13,5 (253,9) 100,0
na UGRHI-3 (1.587) (229,8) (33,9)
158
Figura 6. 1. Mapa riscos geotécnicos: (Re) – riscos de escorregamento; (Ri) – riscos de
inundação; (Rr) – riscos de recalque diferenciado ou instabilizações por
corte/aterro/infiltração de água, associados com o movimento de marés (IPT, 1994).
(a) em relação ao território da UGRHi-3, (b) em relação às áreas sujeitas à ocupação
do território, em baixas altitudes e fora dos limites das Unidades de Conservação de
Proteção Integral.
159
Em relação aos riscos geotécnicos associados aos processos de
movimentos de massa, em específico aos escorregamentos, cerca de 52% do total de
Re são considerados de Muito Alta suscetibilidade no município de Ubatuba, 25% em
São Sebastião e 22% em Caraguatatuba. Embora o percentual de riscos associados a
escorregamentos de Muito Alta suscetibilidade seja relativamente inferior nos dois
últimos municípios supracitados, esses riscos são relevantes por estarem relacionados
a áreas de implantação de importantes infraestruturas: o complexo rodoviário da
Tamoios (no trecho Serra de Caraguatatuba e no trecho montanhoso de São Sebastião,
sobrepondo bairros como Morro do Abrigo, Topolândia, Itatinga e Olaria).
160
Figura 6. 2. Riscos geotécnicos, segundo as classes de grau de suscetiblidade: (a)
processos associados a escorregamentos; (b) processos associados a inundações e
recalques do solo influenciados pelo movimento das marés.
161
instabilizações do solo associados ao movimento das marés; (2) áreas não sobrepostas
às Unidades de Conservação (UCs) de Proteção Integral, o PE da Serra do Mar (PESM)
e o PE de Ilhabela (PEI) – uma vez que são áreas de conservação que restringem a
ocupação humana (BRASIL, 2000 – Lei 9.985/2000, SNUC); (3) a localização de áreas
de riscos mapeadas pelo Instituto Geológico (IG-SP, 2006a,b,c), UNESP-Rio Claro
(UNESP, 2006) e Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT, 2010), em escalas de
detalhe variando entre 1:1.800 e 1:3.000. Esse mapeamento é o produto técnico
utilizado pela Defesa Civil nos quatro municípios, sendo referência para sua atuação
em áreas de risco eminente/iminente de mortes ou prejuízos aos
domicílios/moradias. Segundo os relatórios técnicos de riscos para a UGRHi-3, há
cerca de 112 áreas de riscos de escorregamentos ou inundação distribuídos no
território com estimativa aproximada de quase 9 mil residências ou domicílios
sujeitos aos riscos geológicos-hidrológicos – Tabela 6. 2.
baixo até muito alto risco (R1, R2, R3, R4). 2 Estimativas com base em relatórios técnicos do IG (2006a,
b, c); UNESP (2006). 3 Estimativa com base no relatório técnico do IPT (2010).
162
que nos ‘extremos’ dos municípios – áreas próximas aos limites municipais ou
estaduais, ou mais distantes da zonas centrais – tende a aumentar, ao passo que nas
áreas centrais e próximas à linha costeira existem os setores com menor
vulnerabilidade social (MELLO et al., 2012).
163
uma área do distrito de Porto Novo e o bairro Morro do Algodão, com riscos
recorrentes de inundação (Figura 6. 3). Segundo relato de moradores:
164
Figura 6. 3. (a) Mapa de potenciais riscos: (Re) – riscos de escorregamento; (Ri) – riscos de inundação (IPT, 1994; 2010) e
riscos de escorregamento e inundação (IG-SP, 2006; UNESP, 2006); (b) Mapa do IPVS (2000); e (c) Mapa do IPVS (2010),
ambos distribuídos por setores censitários.
165
(b) em Ilhabela, há predominância de riscos associados a
escorregamentos e quedas de blocos. Nota-se que, em relação aos outros municípios, a
variação no índice de vulnerabilidade social não teve setores com expressivas
alterações no período de 2000-2010.
Se por um lado algumas áreas obtiveram um aumento da vulnerabilidade
social (nas sub-bacias do córrego São Sebastião e Ilhabela, por exemplo), por outro,
houve áreas que mantiveram a baixa vulnerabilidade entre os anos 2000-2010. No
polígono indicado como (1) na Figura 6. 4, que está inserido na sub-bacia do córrego
Paquera/Cego, o principal acesso a Ilhabela, as áreas de alto risco de escorregamento
estão situadas em setores censitários que mantiveram a alta vulnerabilidade social
(incluem os bairros Reino, Barra Velha e Itaquanduba, em locais como Buraco do
Morcego, Green Park e Morro dos Mineiros).
166
Figura 6. 4. (a) Mapa de potenciais riscos: (Re) – riscos de escorregamento e riscos à escorregamento e inundação (IG-SP,
2006; UNESP, 2006); (b) Mapa do IPVS (2000); e (c) Mapa do IPVS (2010), ambos distribuídos por setores censitários.
167
(c) em São Sebastião, houve importantes mudanças no que diz respeito à
vulnerabilidade social em toda a extensão do município. Destacam-se, na Figura 6. 5,
os polígonos indicados (1) na sub-bacia de São Sebastião, abrangendo bairros centrais
como Vila Amélia, Porto Grande, Topolândia, Itatinga e Olaria. Esses bairros estão
próximos às instalações do Terminal Marítimo Almirante Barroso (TEBAR) e a
oleodutos, além de estarem situados nas proximidades do porto de São Sebastião.
Nessa região já houve acidentes tecnológicos associados a esses empreendimentos
ligados à indústria de petróleo e gás (POFFO et al., 1996; POFFO, 2008), com impactos
negativos para a população e o ambiente.
Atualmente o porto de São Sebastião vem sendo ampliado e, assim como a
Unidade de Tratamento de Gás de Caraguatatuba, tende a amplificar os riscos de
natureza ambiental e geológica associados a riscos tecnológicos. Ainda que existam
programas para a redução de riscos tecnológicos, como o Alerta e Preparação de
Comunidades para Emergências Locais, conhecido como APELL – da sigla Awareness
and Preparedness for Emergencies at Local Level –, é sabido que suas ações somente
são efetivas quando integradas a outros programas de longo prazo.
Muitas vezes os riscos tecnológicos se apresentam como ‘invisíveis’ ou
ignorados pelos moradores locais, ou porque se acredita que o sistema de segurança
do empreendimento é 100% seguro e, dessa maneira, os moradores aceitam o risco,
ou porque a experiência do risco/perigo vivida indica que o que aconteceu no passado
não causou dano significativo e não voltou a ocorrer nos anos seguintes (mais
detalhes em Santos e Marandola Jr., 2012).
O polígono (2), situado na sub-bacia do rio Maresias, abrangendo o bairro
Maresias, mostra clara divisão de dois estratos de moradia ou assentamento urbanos:
no período de 2000-2010, um estrato com característica de baixa vulnerabilidade
social, situado na planície e próximo à linha costeira, com moradias de médio e alto
padrão e local de turismo na praia de Maresias; outro estrato, apontado como de alta
vulnerabilidade social – e classificado contendo assentamentos subnormais ou
precários, situado na área próxima às encostas da Serra do Mar (o ‘sertão’ de
168
Maresias), com moradias ou assentamentos de baixo padrão de construção,
vulneráveis aos riscos ou perigos geotécnicos. A ‘linha’ divisória entre os dois estratos
é a rua da CESP (Companhia Energética de São Paulo), onde passa uma linha de
transmissão, que tem alagamentos sazonais na área.
O polígono (3) indica as sub-bacias do rio Camburi, Barra do Sahy e
Juquehy, abrangendo os bairros Camburi, Barra do Sahy, Juquehy e núcleos ou vilas
como Lobo Guará, Areião, Rua da Rosa e da Calçada em Camburi; Vila Progresso,
Morro do Esquimó e Vila Pernambuco em Juquehy.
Situações semelhantes de risco de inundações e escorregamentos com
danos para as comunidades locais são continuamente vivenciadas na Barra do Una
(extremo sul de São Sebastião) e no bairro de Boiçucanga, situado na sub-bacia do Rio
Grande.
Esses ‘retratos’ contínuos de situações de alta vulnerabilidade social em
áreas de risco geotécnico podem ser encontrados em quase a toda extensão da UGRHi-
3, muitas vezes nas áreas chamadas de ‘sertão’, situadas próximas às encostas da
Serra do Mar.
169
Figura 6. 5. (a) Mapa de potenciais riscos: (Re) – riscos de escorregamento; (Ri) – riscos de inundação; (Rr) – riscos de
recalque do solo associados ao movimento das marés (IPT, 1994; 2010) e riscos de escorregamentos e inundação (IG-SP,
2006; UNESP, 2006); (b) Mapa do IPVS (2000); e (c) Mapa do IPVS (2010), ambos distribuídos por setores censitários.
170
(d) em Ubatuba, a região central do município a com maior proporção de
mudanças da vulnerabilidade social, com setores censitários variando de média para
alta ou muita alta vulnerabilidade social no período 2000-2010. Essa área é indicada
pelo polígono (1) da Figura 6. 6, na sub-bacia do rio Grande de Ubatuba. Os bairros
com recorrência de riscos de escorregamentos e riscos pontuais de inundação que
tiveram um aumento da vulnerabilidade social foram: Ipiranguinha, Mato Dentro,
Horto, Estufa II, Sesmaria, Bela Vista e Marafunda. Na sub-bacia do rio Indaiá/Capim
Melado, em particular no bairro do Sumidouro e Pedreira, há uma alta vulnerabilidade
social associada a um alto risco de escorregamentos. Olivato (2013) observou que
parte dos moradores do bairro Sumidouro não percebe os perigos relacionados a
escorregamentos, embora a área seja mapeada e haja recorrências desse tipo de
perigo/risco. Essa situação indica a necessidade de se articular os produtos técnicos-
científicos com a comunidade afetada aos desastres, uma vez que traz indícios de falta
de preparação ou de adaptação aos perigos ambientais ou geotécnicos. Outras
situações semelhantes também ocorrem no extremo sul de Ubatuba, na sub-bacia do
rio Maranduba/Araribá (riscos de escorregamento nos bairros do Sertão de Araribá e
da Quina, Rio Escuro/Comprido (abrangem os bairros Corcovado e Rio Escuro).
No polígono (2) da Figura 6. 6, área situada na sub-bacia do Iriri/Onça, no
período de 2000-2010 houve um aumento da vulnerabilidade social no bairro de
Ubatumirim (alta para muita alta) e no sertão de Ubatumirim. Destaca-se essa área
como importante porque, embora seja menos densamente povoada, com
características que se aproximam de áreas rurais, é uma região com potencial risco de
escorregamentos. Nessa sub-bacia, há um aspecto particular: nela encontram-se
residentes tradicionais, com atividades voltadas para a plantação de mandioca e de
banana (SIMÕES, 2010; SILVA, 2010), e pode-se verificar o convívio da cultura caiçara
e seus laços com a mata e o mar (SILVA, 2010; CALVIMONTES, 2013). Apesar de
alguns autores argumentarem sobre uma capacidade adaptativa maior de grupos ou
comunidades tradicionais – por terem maior vínculo e conhecimento do lugar e seu
ambiente –, ainda é necessário investigar até que ponto estão preparados diante de
171
um perigo iminente. Se ainda há incerteza em relação aos riscos geotécnicos, quanto
aos aspectos de conservação essa população exerce papel fundamental (ver SILVA,
2010; SIMÕES, 2010; CALVIMONTES, 2013).
172
Figura 6. 6. (a) Mapa de potenciais riscos: (Re) – riscos de escorregamento (IPT, 1994; 2010) e riscos de escorregamento
e inundação (IG-SP, 2006; UNESP, 2006); (b) Mapa do IPVS (2000); e (c) Mapa do IPVS (2010), ambos distribuídos por
setores censitários.
173
6.2. VULNERABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL: ASPECTOS DE UM DESENVOLVIMENTO DESIGUAL
174
assentamentos precários e em condições de alta vulnerabilidade social 63. Essa
situação é marcada também pela localização geográfica, recorrente em regiões
denominadas de ‘sertão’ – distantes da linha costeira e situadas em áreas de encostas
declivosas e/ou próximas aos cursos d’água.
Em contraste, observa-se um determinado grupo da população com maior
acesso aos serviços básicos de infraestrutura urbana e que se apropriam dos
benefícios do desenvolvimento econômico, disponíveis frequentemente em regiões
mais próximas à linha costeira (e regiões centrais dos munícipios).
O ‘retrato’ de contrastes e acentuada segregação socioespacial nos
municípios da área de estudo (e também nas cidades litorâneas brasileiras – por
exemplo, ver os casos no estado do Rio de Janeiro, na Costa Verde fluminense em 2010
–, caso de Angra dos Reis, e na região Serrana em 2011 – caso de Petrópolis e Nova
Friburgo, entre outros), grosso modo, pode ser visto pelos grupos sociais de padrão
socioeconômico mais elevado ocupando regiões à beira-mar e aqueles com padrão
socioeconômico menos elevado ocupando as encostas muito declivosas ou áreas
próximas aos cursos d’ água com perigo/risco de inundações (por exemplo, os bairros
Juquehy, Barra do Sahy, Maresias, na costa sul de São Sebastião; ou Barra Velha, em
Ilhabela). O contraste não é apenas observado com os diferentes perigos: por exemplo,
os bairros da Vila e Santa Teresa, em Ilhabela, ilustram situações de domicílios
sujeitos ao mesmo grau de riscos de escorregamento, mas em situações de
vulnerabilidade social distintas.
No âmbito mais amplo sobre o processo de ocupação da terra, o
desenvolvimento urbano informal e a irregularidade têm se tornado a principal regra
de acesso ao solo urbano e à moradia (FERNANDES, 2006; CARVALHO, 2007;
MARICATO, 2011), gerando não apenas problemas sociais, mas o aumento da
degradação ambiental. E essa regra não deve ser simplesmente entendida como um
modelo de ‘desenvolvimento’ socioeconômico, mas como um modelo que tem
63Koga-Vicente (2010) em uma análise da distribuição da precipitação associada a eventos impactantes (chuvas
intensas resultando em mortes ou desalojados) no litoral norte e baixada santista, indica áreas de alta taxa de
população concentrada nas áreas urbanas ocupando morros ou planícies de inundação, situação que resulta em
alta frequência de impactos (sociais e ambientais) em períodos de chuvas intensas.
175
perpetuado as desigualdades sociais ao longo do tempo, um modelo de
‘desenvolvimento por si mesmo’, como menciona Fernandes (2006). Segundo
Valencio e Valencio (2011) há uma ética corporativa dos agentes públicos que endossa
as relações assimétricas e desloca a preocupação sobre o bem comum, ratificando um
modelo de desenvolvimento concentrado e excludente ao mesmo tempo.
176
criação, em âmbito federal, da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC – Lei
12.187/2009, BRASIL, 2009) e da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDC
– Lei 12.608/2012, BRASIL, 2012), que abrangem ações de prevenção, mitigação,
preparação, resposta e recuperação voltadas à proteção e à defesa civil de forma
integrada às políticas de ordenamento territorial, desenvolvimento urbano, saúde,
meio ambiente, mudanças climáticas, gestão de recursos hídricos, geologia,
infraestrutura, educação, ciência e tecnologia e às demais políticas setoriais.
No âmbito estadual, a legislação de São Paulo sobre mudanças climáticas –
a PEMC (Lei 13.798/2009 – SÃO PAULO, 2009) – junto com o Decreto estadual
57.512/2011 (SÃO PAULO, 2011), que instituiu o Programa Estadual de Prevenção de
Desastres Naturais e de Redução de Riscos Geológicos (PDN), também trazem
considerações sobre as diversas instâncias e instituições no estado de São Paulo, bem
como apontam a necessidade de articular e otimizar as ações existentes.
Considerando que o desastre constitui-se não apenas como acontecimento
físico, mas sobretudo um desastre social, consistindo na ruptura da dinâmica social
(SIENA, 2011), é necessário um compromisso do poder público com os grupos sociais
vulneráveis (VARGAS, 2006; VALENCIO et al., 2009; VARGAS, 2010), com aporte de
uma pesquisa técnico-científica que subsidie intervenções efetivas para a redução e a
mitigação de riscos.
Esses resultados, considerados em conjunto para a região da UGRHi-3,
reforçam a necessidade de maior atenção para a redução desses riscos, ampliando as
medidas preventivas e as adaptações necessárias da infraestrutura
instalada/planejada (BITAR, 2009) e buscando o ordenamento territorial por meio de
Planos Diretores, Zoneamentos-Ecológico-Econômico (ZEE) que considerem os riscos
de desastres. Nesse sentido, um importante passo vem sendo efetuado com a
consideração do tema de riscos e desastres nos atuais ZEE da área de estudo
(FERREIRA, 2012), embora ainda sejam ações incipientes.
177
178
CAPÍTULO 7. ESCALA DE ANAÁ LISE LOCAL: AS PERCEPÇOÕES DE RISCO E O
LUGAR
64Sub-bacias amostradas: 1 – rio Fazenda/Bicas; 6 – rio Indaiá/Capim Melado; 7 – rio Grande de Ubatuba; 8 – rio
Perequê-Mirim; 9 – rio Escuro/Comprido; 10 – rio Maranduba/Araribá; 13 – rio Massaguaçu/Bacuí; 14 – rio
Guaxinduba; 15 – rio Santo Antônio; 16 – rio Juqueriquerê; 17 – rio São Francisco; 18 – rio São Sebastião; 19 –
179
Tabela 7. 1. Total amostrado por municípios, além dos percentuais em relação à
estimativa do total de domicílios em áreas de risco e a proporção de áreas de risco em
cada município.
Percentual de
%
Total de amostra
Total de entrevist
moradias em deentrevistas
Municípios Sub-bacias da UGRHi-3 entrevis as por
áreas de risco em áreas de
tas sub-
(N) - 2006* risco, por
bacias
município (%)
13 - rio Massaguaçu/Bacuí 11 4,2
14 - rio Guaxinduba 43 16,4
Caraguatat 15 - rio Santo Antônio 107 40,8
250* - 377** 69,5
uba 16 - rio Juqueriquerê 101 38,5
Sub-bacias -
262 100,0
Caraguatatuba
29 - córrego
Ilhabela/Cachoeira (Setor 44 29,9
Centro-Norte)
29 - córrego
Ilhabela Ilhabela/Cachoeira (Setor 21 14,3 451 32,6
Norte)
30 - córrego Paquera/Cego 82 55,8
Sub-bacias - Ilhabela 147 100,0
17 - rio São Francisco 74 25,5
18 - São Sebastião 99 34,1
19 - ribeirão Grande 7 2,4
21 - rio Maresias 16 5,5
São 22 - rio Grande 24 8,3
3.139 9,2
Sebastião 23 - rio Cambury 30 10,3
24 - rio Barra do Sahy 20 6,9
25 - rio Juquehy 20 6,9
Sub-bacias - São
290 100,0
Sebastião
01 - rio Fazenda/Bicas 20 9,3
06 - rio Indaiá/Capim
20 9,3
Melado
07 - rio Grande de Ubatuba 86 40,0
Ubatuba 5.126 4,2
08 - rio Perequê-Mirim 35 16,3
09 - rio Escuro/Comprido 28 13,0
10 - rio Maranduba/Araribá 26 12,1
Sub-bacias - Ubatuba 215 100,0
Total (UGRHi-3 - litoral
914 9.093 10,1
norte)
* Estimativas baseadas nos relatórios técnicos (IG-SMA, 2006a,b,c; UNESP, 2006). * * IPT (2010). Parecer
Técnico no. 18 578–301-43/281, de mapeamento exclusivamente de escorregamentos.
ribeirão Grande; 21 – rio Maresias; 22 – rio Grande; 23 – rio Camburi; 24 – rio Barra do Sahy; 25 – rio Juquehy; 29
– córrego Ilhabela/Cachoeira; 30 – córrego Paquera/Cego.
180
Retomando os temas abordados no survey de percepção de riscos aplicado
na UGRHi-3 – litoral norte, foram analisados: (I) perfil socioeconômico dos
entrevistados, como percebem (II) as mudanças climáticas e/ou ambientais, (III)
os riscos e sua adaptação e (IV) os aspectos de governança e comunicação dos
riscos.
Essa análise foi encaminhada da seguinte maneira: primeiro foi analisado
o perfil dos entrevistados, a fim de indicar algumas características da população
expostas aos riscos no litoral norte de São Paulo. Além do perfil dos entrevistados,
também foi feita uma análise sobre sua origem, participação em associações
(comunitárias ou religiosas), religiosidade e nível de ‘união’ entre a comunidade (o
entrevistado e sua vizinhança). Segundo, como as pessoas percebem as mudanças
climáticas e seus efeitos na saúde e no ambiente e terceiro, qual a influência das
características dos entrevistados sobre a percepção de riscos propriamente ditos, suas
estratégias de adaptação e quem deve(ria) se responsabilizar pela redução dos efeitos
[desses riscos].
Ainda nessa terceira análise, também foi observado quais são os principais
meios de comunicação que os entrevistados consideram como importantes para
receberem as informações sobre as mudanças climáticas e os riscos.
181
homens). A Figura 7. 2a ilustra, de certa maneira, a influência desses dois aspectos
supracitados sobre o percentual de entrevistados segundo o sexo.
Em relação à idade dos entrevistados, a maioria tinha entre 41 a 60 anos
(35,6%), sendo Caraguatatuba e Ubatuba os municípios onde essa faixa etária
representou um pouco mais de 30% dos entrevistados (100 e 104, respectivamente).
Pessoas com idade superior a 60 anos foram maioria em Caraguatatuba, com 64
entrevistados (Ilhabela, município com menor proporção de pessoas com > 60 anos,
totalizou 13 entrevistados) – Figura 7. 2b.
Quanto à escolaridade dos entrevistados, 42,9% tinham o ensino
fundamental completo (da 1ª à 8ª série), seguido do ensino médio (31,2%). Aqueles
com superior completo representaram 6,6% dos entrevistados, quase a maioria
localizados à beira-mar ou em bairros da região central – Figura 7. 2c. Em muitos
casos, não foi possível fazer a pesquisa nos condomínios fechados, que não
permitiram acesso para dos entrevistadores, com exceção de Ilhabela – nos bairros de
Santa Teresa e Vila –, onde a Defesa Civil esteve junto no levantamento de campo.
Em relação ao rendimento mensal, 70,2% (354) dos entrevistados
tinham renda igual ou inferior a dois salários mínimos (≤ 2 SM – sendo 31,5% dos
entrevistados na faixa ≤ 1 SM) – Figura 7. 2d. Aqueles com renda mensal entre 2 a 5
SM representaram 14,9% do total de entrevistados, sendo a maioria (50 pessoas) em
Ilhabela. Foram entrevistados apenas 5 pessoas com renda superior a 10 SM,
localizados em Ilhabela e São Sebastião nas áreas próximas a linha costeira.
182
Figura 7. 2. Sexo, idade, escolaridade e rendimento mensal dos entrevistados sobre
percepção de riscos ligados às mudanças climáticas.
183
Norte (RN), Goiás (GO), Mato Grosso do sul (MS), Distrito Federal (DF), Mato Grosso
(MT) e Rio Grande do sul (RS). Quase a maioria natural de cidades do interior desses
estados. Também foram entrevistadas duas pessoas nascidas fora do Brasil, uma na
Alemanha (em Ubatuba) e outra na Itália (Ilhabela). Em relação aos nascidos no
estado de São Paulo, 1/3 dos entrevistados é natural das cidades da UGRHi-3 - litoral
norte (308 pessoas) ou de cidades que compõem o Vale do Paraíba (como Natividade
da Serra, Paraibuna) ou da capital São Paulo.
184
(b) sobre a participação de algum tipo de associação de bairro (Figura
7. 4) a grande maioria não participa de nenhum tipo de associação de bairro (63,9%
dos entrevistados, totalizando 584 pessoas), enquanto, dentre os tipos de associações,
a religiosa (entendida por participar de atividades sociais vinculadas à igreja),
representa 28,7% (262 pessoas). Embora não seja possível generalizar para todo o
litoral norte paulista, há indícios de que a participação ativa da sociedade em algum
tipo de associação que envolva ação social para reduzir os riscos ou problemas
ambientais em geral, fique limitada às ONGs ou servidores públicos ligados ao tema de
educação. Segundo Araújo (2006) até 2006 havia 55 ONGs, sendo a maioria ligada ao
tema de Educação Ambiental. Um estudo mais recente, de 2010, indica a existência de
76 ONGs e ressalta que a ‘maior parte delas desenvolve trabalhos em educação
ambiental, envolvendo as áreas de recursos hídricos, unidades de conservação, lixo e
interface com o ambiente marinho’, sendo também organizações ainda jovens – 70%
têm igual ou menor do que 10 anos de existência, o que propicia a falta de articulação
e ações fragmentadas 65.
185
(c) sobre a religiosidade, a maioria dos entrevistados respondeu ser ou
católica (44,4%, 406 pessoas) ou evangélica (37,1%, 339 pessoas), seguidos daqueles
que não têm religião (13,2%, 121 pessoas). Perguntados sobre a frequência de
práticas religiosas, 30,5% (279 pessoas) disseram que não praticam e 24,8% praticam
pelo menos uma vez por semana. Dos que praticam uma vez por semana, 109 eram
católicos e 110 evangélicos. Todavia, são os evangélicos mais assíduos (10,3%, 94
pessoas), enquanto 15,8% dos católicos (144 pessoas) disseram não ser praticantes –
ver Tabela 7. 2.
Tabela 7. 2. Total de entrevistados sobre percepção de riscos, segundo o tipo de
religião e a frequência da prática religiosa.
Uma vez
Entrevista Todo Uma vez por
NR por Não pratica Outra Total (%)
dos dia mês
semana
NR 6 0 0 0 0 0 6 (0,7)
Católico 6 9 109 102 144 36 406 (44,4)
Evangélico 3 94 110 33 41 58 339 (37,1)
Espírita 0 1 2 4 3 2 12 (1,3)
Sem
35 0 0 1 83 2 121 (13,2)
religião
Outra 2 5 5 4 8 6 30 (3,3)
51 109 104
Total, (%) 227 (24,8) 144 (15,8) 279 (30,5) 914 (100,0)
(5,6) (11,9) (11,4)
186
Tabela 7. 3. Total de entrevistados sobre percepção de riscos, segundo o grau de
união entre os entrevistados e sua vizinhança ou família.
Grau de união entre os entrevistados e sua vizinhança e/ou família
Entrevistados Sem 1 - Muito 5 - Muito
2 - Baixa 3 - Média 4 - Alta Total, (%)
união baixa alta
Família NR 6 1 1 1 0 3 12 (1,3)
reside Sim 10 69 68 198 75 197 617 (67,5)
próximo
? Não 3 46 38 82 39 77 285 (31,2)
19 116 107 281 114 277 914
Total, (%)
(2,1) (12,7) (11,7) (30,7) (12,5) (30,3) (100,0)
187
Figura 7. 5. Participação dos entrevistados em algum tipo de associação (de bairro, religiosa, assistência social, entres
outras). Mapa da distribuição das entrevistas sobre percepção de riscos – Caraguatatuba: (a) Morro do Algodão (em
2010, com os efeitos da inundação de afluente do rio Juqueriquerê e em 2012); (b) bairro Benfica (nov/2012); (c) bairro
Rio do Ouro (out/2012); (d) Sumaré (jan/2011); e (e) bairro Olaria (dez/2012).
188
Figura 7. 6. Mapa da distribuição das entrevistas sobre percepção de riscos – Ilhabela: (a) Zabumba (nov/2012); (b) e (c)
Zabumba e Barra Velha – área denominada “Buraco do Morcego” (nov/2011); (d) bairro Itaquanduba – área denominada
de “Morro dos Mineiros (out/2012); (e) Itaquanduba – ‘Morro dos Mineiros’ (nov/2011); e (f) bairro Santa Teresa – vista
geral de moradias de alto padrão (nov/2011).
189
Figura 7. 7. Mapa da distribuição das entrevistas sobre percepção de riscos – São Sebastião: (a) Juquehy – área
denominada “Vila Pantanal” (nov/2012); (b) Vila Sahy (nov/2012); (c) Camburi (nov/2012); (d) Maresias (nov/2012);
(e) Topolândia (jan/2011); e (f) Morro do Abrigo (nov/2012).
190
Figura 7. 8. Mapa da distribuição das entrevistas sobre percepção de riscos – Ubatuba: (a) Sertão do Araribá (dez/2012);
(b) Corcovado (dez/2012); (c) Bela Vista (dez/2012); (d) Pedreira (jun/2012); (e) Picinguaba (jan/2011); e (f) Camburi
(dez/2012).
191
7.2. PERCEPÇÕES DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E AMBIENTAIS E SEUS EFEITOS PARA VULNERABILIDADE
E ADAPTAÇÃO
‘[...] antes era possível ler os sinais do céu [...] hoje não
dá mais...’ (entrevistado, sobre se já ouviu falar de
mudanças climáticas e em que ritmo estão
acontecendo. Ubatuba, 5/12/2012).
Quanto ao sexo, o percentual de homens e mulheres que não ouviram falar
de mudanças climáticas varia de 11% a 12%, respectivamente, apesar que, em
números absolutos, há mais mulheres do que homens que desconhecem a expressão
‘mudanças climáticas’. Em relação à idade dos entrevistados, em todas as faixas
etárias analisadas (do grupo jovem ao mais idoso), mais de 80% responderam que
conhecem o termo mudanças climáticas.
192
respostas sobre já terem ouvido falar de mudanças climáticas. De modo inversamente
proporcional, há um indicativo de que a baixa escolaridade e a [baixa] renda dos
entrevistados favoreciam respostas negativas sobre ouvir a expressão ‘mudanças
climáticas’ 66 – Figura 7. 9.
Figura 7. 9. Perfil dos entrevistados sobre a questão: ‘Você já ouviu falar de mudanças
climáticas?’, tema II do survey de percepção de riscos.
66É importante mencionar que, quase a totalidade dos entrevistados era pessoas que viviam no meio urbano, com
atividades de trabalho relacionadas com à cidade, sem um vínculo ou trabalho direto com os aspectos da terra ou
do ambiente. Essa relação com o lugar onde vivem e seu ambiente merece estudos mais detalhados sobre as
comunidades rurais, ou pequenos agricultores e comunidades tradicionais, uma vez que suas percepções das
mudanças ambientais (e climáticas) são mais associadas à sua experiência e à relação do lugar do que com seu
perfil socioeconômico.
193
mudanças climáticas, enquanto 21% consideram que são causas naturais e atividades
humanas conjuntamente, e 10,2% consideram que as mudanças climáticas acontecem
por causas naturais. Aproximadamente 4,2% disseram ser indiferentes às causas
dessas mudanças – Figura 7. 10b.
194
como princípio condutas prospectivas – que levem em consideração ações em função
do risco ainda não existente, mas que pode ser previsto – para redução dos atuais e
potenciais riscos em relação às mudanças climáticas.
195
Figura 7. 10. Percepção de riscos às mudanças climáticas e ambientais: (a) ritmo em
que acontecem; (b) preocupações; (c) causas; e (d) os mais afetados.
196
sobre os problemas sentidos localmente. Estudos conduzidos nos Estados Unidos
sobre percepção ambiental e mudanças climáticas (DUNLAP; SAAD, 2001;
LEISEROWITZ, 2005), indicaram que o aquecimento global (ou as mudanças
climáticas) não era uma questão nacional prioritária para os norte-americanos – a
maioria considerava um risco moderado, enquanto colocava economia, educação e
expansão urbana como alta prioridade – e que seria improvável que o fosse
(prioritário) até que considerassem um problema local.
197
Figura 7. 11. Percepções de riscos – dos problemas que podem ser agravados pelas
mudanças climáticas e ambientais, qual a gravidade atribuída para: (a) aumento de
doenças; (b) falta de água potável; (c) aumento da poluição e contaminação por lixões
e esgotos; (d) aumento de deslizamentos em encostas; (e) aumento de inundações ou
alagamentos; e (f) elevação do nível do mar.
198
7.3. PERCEPÇÕES DE RISCOS E ESTRATÉGIAS DE ADAPTAÇÃO
199
Figura 7. 12. Percepções de perigos segundo o grau de risco atribuído pelos
entrevistados: (a) inundações; (b) escorregamentos; (c) ressacas do mar; (d) elevação
do nível do mar; e (e) erosões costeiras.
200
Os riscos considerados médio e muito alto, sobretudo daqueles ligados a
perigos de escorregamento (risco 3 – médio: 17,9%, 164 pessoas; risco 5 – muito alto:
14,8%, 135 pessas) e inundações (3 – risco médio: 14,1%, 129 pessoas e 5 – risco
muito alto: 17,4%, 159 pessoas), apesar de apresentarem menores percentuais de
respostas em relação ao risco 1 – baixo, são percebidos principalmente em locais de
recorrência de chuvas intensas, com desencadeamento de escorregamentos (Caputera
e Jaraguazinho, em Caraguatatuba, vila Pantanal e morro dos Esquimós, em Juquehy,
São Sebastião) ou inundações (Caputera, Morro do Algodão em Caraguatatuba; Barra
Velha em Ilhabela e Areião em Cambury, São Sebastião). Entretanto, chama a atenção
para outros bairros onde são recorrentes esses mesmo efeitos, mas que a maioria
considera de baixo risco, como Topolândia, Itatinga, Boiçucanga e Maresias, em São
Sebastião; ou Rio do Ouro, Sumaré ou Jardim Olaria, em Caraguatatuba; Horto,
Ipiranguinha, Sumidouro e Corcovado, em Ubatuba; e morro dos Mineiros – no bairro
Itaquanduba e Cantagalo – no bairro Vila, em Ilhabela.
201
estão expostos aos riscos. Essa tendência é observada quanto ao sexo
(proporcionalmente mais mulheres do que homens, efeito do conjunto amostral
analisado, que obteve mais entrevistas com responsáveis por domicílios do sexo
feminino) – Figura 7. 13 e faixa etária, escolaridade e renda – Figura 7. 14.
Figura 7. 13. Percepções de perigo, segundo o grau de risco de: (a) inundações e (b)
escorregamentos, de acordo com o sexo dos entrevistados.
202
Figura 7. 14. Percepções de perigo, de acordo com o grau de risco de inundações e
escorregamentos segundo as características de: (a) e (b) faixa etária; (c) e (d)
escolaridade; e (e) e (f) rendimento mensal.
203
proximidade aos familiares contribuem para uma maior capacidade das pessoas para se
adaptarem a uma situação ou iminência de um perigo/desastre.
204
Figura 7. 15. Percepções de perigo de acordo com o grau de risco de inundações e
escorregamentos segundo as características de: (a) e (b) religião; (c) e (d) tempo de
moradia; (e) e (f) se sempre morou na mesma residência.
67A memória ‘curta’ refere-se aos aspectos institucionais ou governamentais para dar resposta aos desastres
somente em situações emergenciais. Quanto aos indivíduos, é preciso relativizar, uma vez que há diversos
205
que explica [em parte] porque as mudanças efetivas ocorrem, normalmente,
imediatamente após o evento – caracterizando, portanto, uma gestão de risco de
desastres corretiva (e menos prospectiva). Keefer et al. (2010), analisando os
impactos de terremotos sobre a população e as políticas de prevenção, argumentam
que a mortalidade de evento pós-sismos tende a ser menor em países que sofrem com
terremotos, e, por outro lado, maior onde os terremotos ocorrem raramente, porque
(i) o evento ‘inesperado’ e para o qual não há um precedente histórico, a população
frequentemente não se encontra preparada para dar respostas (UNISDR, 2011), (ii)
nos países onde ocorrem terremotos com pouca frequência, os governos são menos
propensos a encontrar incentivos políticos para investir em gestão de risco de
desastres.
trabalhos que têm apontado para os traumas vividos pela sociedade diante de desastres (ver VALENCIO et tal.,
2009; SIENA, 2009) e que, muitas vezes, fica em situações de abandono (VALENCIO et al., 2011).
206
Buscando compreender melhor como é que as condições ou situações
contextuais dos entrevistados poderiam influenciar as estratégias de adaptação (ou
não), foram analisadas as respostas dos entrevistados segundo alternativas como: o
que faria em relação a sua moradia ou residência em que vive [em uma situação de
risco] e a quem pediria ajuda [em caso de perigo iminente].
207
Figura 7. 16. Percepções e estratégias de adaptação aos riscos. O que impediria o
entrevistado de mudar de lugar de moradia para outro mais seguro? (a) não tenho
dinheiro para comprar outro imóvel; (b) o aluguel em outros locais é mais caro; (c)
gosto de morar aqui, apesar do risco; (d) deixo nas mãos de Deus.
208
‘[...] eu já teria saído se tivesse condição [...]’
(entrevistado sobre ‘o que o impediria de mudar caso
houvesse algum tipo de risco’, Caraguatatuba,
3/12/2012).
Por outro lado, há aqueles que optam por permanecer no local pelo vínculo
afetivo ao lugar, ou porque [as pessoas] não consideram um risco tão grave,
‘aceitando’ 68 viver no local e dispostas a enfrentar o perigo quando alguém de fora
avisá-las:
‘[...] os riscos não são tão grandes [...] mas não deixaria
nas mãos de Deus [diante uma situação de perigo]’
(entrevistado, sobre ‘o que o impediria de mudar caso
houvesse algum tipo de risco’, Ubatuba, 29/10/2012).
209
à ausência de alternativas de alguns grupos de moradores (ou sociais) para viver no
espaço urbano com mínimas condições adequadas. Frequentemente, esses grupos são
aqueles que vivem nas periferias das cidades e/ou em condições de alta
vulnerabilidade social, resultado de um mercado imobiliário [associado, muitas vezes,
a uma fraca governança (UNISDR, 2009; 2011)] que privilegia aqueles com maior
poder aquisitivo em áreas apropriadas para ocupação, enquanto desfavorece a
ocupação dessas áreas aos grupos sociais menos capitalizados, como visto
anteriormente nas seções 4.2.1. A UGRHi-3 – litoral norte (p. 95) e 6.2.
VULNERABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL: ASPECTOS DE UM DESENVOLVIMENTO DESIGUAL (p. 174).
69Em 1981 um morador de Petrópolis (região Serrana do Rio de Janeiro) tentou salvar vidas durante um episódio
de chuvas intensas e consequentes deslizamentos [...] e passados 32 anos, perdeu sua família em um deslizamento
no mesmo lugar. Disponível em: <http://extra.globo.com/noticias/rio/heroi-no-resgate-de-vitimas-das-chuvas-
em-1981-perde-familia-em-deslizamento-no-mesmo-lugar-em-petropolis-7910278.html#ixzz2P8KBDXXf>.
210
pessoas; 30,4%, 278 pessoas; 29,5%, 270 pessoas, respectivamente) ou muito
importante (5) (30,6%, 280 pessoas; 38,9%, 356 pessoas; 33,3%, 304 pessoas) –
Figura 7. 17.
211
construção – apesar de, desde 2011, importantes instrumentos de defesa civil, como a
Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDC, 2012, por exemplo, o art. 6°,
parágrafo XIII: ‘apoiar a comunidade docente no desenvolvimento de material didático-
pedagógico relacionado ao desenvolvimento da cultura de prevenção de desastres’) e o
Programa Estadual de Prevenção de Desastres Naturais e de Redução de Riscos
Geológicos (PDN, 2011), virem subsidiando ações de prevenção voltadas para a
comunidade afetada, com diretrizes orientadas para o desenvolvimento de uma
cultura de defesa civil, além de importantes trabalhos acadêmicos que têm buscado
uma interface com a comunidade em áreas de risco (ver OLIVATO, 2013, em estudo
sobre a bacia hidrográfica do rio Indaiá, em Ubatuba).
212
Figura 7. 17. Percepções e estratégias de adaptação aos riscos. A quem pediria ajuda
em caso de perigo iminente? (a) família; (b) vizinhos; (c) igreja; (d) defesa civil; ou (e)
prefeitura.
213
7.4. PERCEPÇÕES SOBRE GOVERNANÇA E COMUNICAÇÃO DOS RISCOS
214
Figura 7. 18. Percepções e governança dos riscos. Quem é o maior responsável para
evitar os riscos? (a) governo estadual; (b) prefeitura; (c) universidade; (d) ONGs; (e)
você e toda a população.
215
Algumas considerações que podem ser feitas à luz desses resultados: (i) as
respostas dos entrevistados sobre colocarem responsabilidade em si próprios para
reduzir ou evitar os problemas sugerem que existe um certo envolvimento da
população para agir diante dos riscos a que está exposta. Entretanto, alguns relatos
dos entrevistados sugerem que não saberiam o que fazer para evitá-los ou reduzi-los:
216
Não obstante, é importante diferenciar qual a responsabilidade e o papel
dos tomadores de decisão e qual o papel da universidade – esta, voltada para a
produção científica e avanço do conhecimento – para reduzir os riscos. Mas há uma
importante contribuição que a universidade pode desempenhar por meio de
pesquisas participativas, como um modelo alternativo para construção da confiança,
de um objetivo comum, e de motivação entre os grupos sociais para que possam
definir sua própria vulnerabilidade, usando métodos relativamente simples (tais como
cartografia social e grupos focais) como forma de auto-avaliação da comunidade,
chamado por Wisner (2009) de uma gestão de desastres baseada na comunidade por
meio de uma pesquisa-ação participativa (da sigla em inglês, PAR – participatory
action research).
217
Os resultados sobre o tema de comunicação de riscos mostram apenas os
meios de comunicação mais utilizados pelos entrevistados para receber informações
sobre as mudanças climáticas e, por outro lado, destacam trabalhos de Di Giulio e
Ferreira (2013) e Olivato (2013) com aplicação de métodos de pesquisa participativos
com a comunidade ou grupos sociais, servindo de elo de comunicação entre a pesquisa
acadêmica e a comunidade.
218
Figura 7. 19. Percepções e comunicação dos riscos. Para receber informações sobre
as mudanças climáticas e os riscos, qual é o grau de importância atribuído aos
seguintes meios de comunicação: (a) televisão; (b) rádio; (c) jornais (impresso); (d)
internet; (e) audiências públicas.
219
220
CAPÍTULO 8. CONSIDERAÇOÕES PARA A ANAÁ LISE DA VULNERABILIDADE E
AÇOÃ ES DE REDUÇAÃ O DE RISCOS E DESASTRES
221
(a) exposição aos perigos (Atlas de Desastres, produzido pelo CEPED, 2011,
da UFSC, no período de 1990 a 2010), indicando quais eram os principais perigos
encontrados no estado de São Paulo – as inundações foram os tipos de perigo mais
recorrentes. Com o ‘olhar’ na zona costeira paulista, verificou-se que a escala e o tipo
de dado podem implicar na observação dos fenômenos contextualizados. Foi com base
em dados do IPT de riscos geotécnicos (IPT, 1994; em escala 1:500.000) que foi
observado que os principais perigos e riscos estavam associados a escorregamentos.
Todavia, se analisado nos níveis das Unidades de Gerenciamento de Recursos
Hídricos, como uma aproximação das unidades de planejamento de bacias
hidrográficas, foi observado que eles variam de região para região (por exemplo, a
UGRHi-11 – litoral sul é mais afetada por riscos associados a inundações, recalques do
solo ou erosões costeiras em relação à UGRHi-7 – baixada santista e UGRHI-3 – litoral
norte).
222
reduzir as incertezas e as limitações de dados [riscos geotécnicos] em escalas como a
1:500.000, foram utilizados mapeamentos de risco em escala 1:3.000 (IG/SMA, 2006;
UNESP, 2006; IPT, 2010) e pesquisas bibliográficas sobre o fenômeno analisado na
área de estudo. Como em todo downscaling desta pesquisa (do regional para o local),
há a inerente limitação e incerteza da escala do dado para representar o objeto
estudado e para contornar essas limitações, sempre que possível foram utilizadas
informações levantadas em campo.
223
Figura 8. 1. Diagrama da abordagem multiescalar da vulnerabilidade: escalas espacial
e temporal e aspectos da análise da vulnerabilidade como resultado ou outcome e
contextual.
224
análise para a vulnerabilidade segundo o perfil de grupos sociais específicos,
permitindo identificar características e fenômenos mais adequados para representar a
capacidade de enfrentamento de elementos expostos a escorregamentos e inundações
no nível local.
Nesse aspecto, ressalta-se que tal integração não consistiu em utilizar uma
única abordagem (universal), mas um conjunto de métodos de disciplinas distintas,
para uma abordagem complementar. Se, por um lado, a ausência de uma abordagem
universal da vulnerabilidade reduz as comparações significativas de avaliação de
vulnerabilidade, por outro, contribui para reconhecer a utilidade de se aproximar a
vulnerabilidade a partir de diferentes perspectivas (O’BRIEN et al., 2013).
225
muito menos oferecem uma análise que permita concluir causa e efeito da
vulnerabilidade.
226
8.2. GESTÃO DE RISCOS DE DESASTRE: ANTIGOS DILEMAS E PERSPECTIVAS NO CONTEXTO DE
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
227
Esse problema, especialmente em época de desastres, requer foco no
processo de planejamento ou ordenamento do território coletivo para efetivamente
promover interações e relações que permitam troca de conhecimentos, formação
conjunta e avaliação da capacidade expandida, apoio mútuo, bem como se
comprometer com a atualização contínua da socialização de informações sobre riscos
de desastre (QUARANTELLI, 2005).
O tema da dinâmica de uso da terra tem sido cada vez mais importante
para entender melhor a trajetória e o histórico de ocupação do território, bem como
as dinâmicas sociais e culturais envolvidas no processo de transformação da paisagem
para uma eficaz redução do risco de desastres. Nesse sentido, os instrumentos de
ordenamento territorial podem ser úteis para a gestão de riscos e redução da
vulnerabilidade, particularmente em áreas de rápido crescimento urbano (UNISDR,
2004; 2011), ou de transformações ambientais, como é o caso da região analisada.
228
Além disso, há uma necessidade da gestão do risco de desastres para reconhecer as
relações entre o crescimento populacional, as exigências físicas de assentamento
humano, o planejamento e a economia do uso mais adequado da terra disponível
(UNISDR, 2004).
229
Tabela 8. 1. Políticas públicas para a redução de riscos de desastres: oportunidades para a integração de instrumentos de
planejamento ou de gestão.
Nível Federal Objetivos Possíveis aplicações
Lei federal (n°. 12608/2012) - Ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e (1) Possibilidade de integração
Política Nacional de Proteção e recuperação para proteger civis, integrando as políticas públicas de ordenamento do de cartas de riscos com
de Defesa Civil (PNPDC) território, a saúde, o ambiente, as alterações climáticas para promover um desenvolvimento mapeamentos de cobertura e uso
sustentável da terra por grades regulares
Lei federal (n°. 12187/2009.) - Orientações para a adaptação: iniciativas e medidas para (2) Cruzamento de mapeamentos
Política Nacional de Mudanças
reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos para efeitos esperados da de riscos com survey de
Climáticas
mudança do clima percepção de riscos
Nível Estadual (regional) Objetivos Possíveis aplicações
Decreto Estadual (n°. 57512/2011.) - Ações para definir áreas prioritárias de deslizamento Idem (1)
Programa Estadual para
de terra, inundações, erosão e perigo de aluimento de terras para o mapeamento de áreas de
Prevenção e Redução de
riscos no estado de São Paulo; estratégias de uso da terra e planejamento ambiental para
Riscos Geológicos (PDN)
promover a ocupação adequada
Política Estadual de Mudanças Lei estadual (n° 13798/2009 -. Estado de São Paulo, objetivo de proporcionar as condições Idem (2)
Climáticas para as adaptações às mudanças climáticas
Decreto estadual (n°. 49215/2004.) - Instrumento de ordenamento do território. Atualmente Idem (1) e (2)
Zoneamento Ecológico-
em fase de atualização, incluindo abordagem de desastres naturais e riscos geológicos para
Econômico (ZEE)
zoneamento *
Nível municipal (local) Objetivos Possíveis aplicações
Planos Preventivos de Defesa (3) Uso de métodos baseados em
Evitar a ocorrência de mortes, com realocação preventiva e temporária da população em
Civil e planos de contingência pesquisas de campo sobre
áreas de risco (ações intensivas a cada verão)**
(PPDC) – regional/local percepção de riscos
A partir de 2004, foi iniciado o mapeamento das áreas de risco para reduzir, mitigar ou Idem (2) e (3)
Mapeamentos de riscos
eliminar o risco, além de apoiar as ações da Defesa Civil Municipal em situações de
geológicos
emergência**
As ações envolvem o treinamento dos funcionários da Prefeitura para preparação, prevenção Idem (3)
Plano Municipal de Redução
e gestão de riscos. O apoio financeiro a planos de redução de riscos, a compatibilidade com os
de Riscos (PMRR)***
programas de habitação de regularização fundiária ****
* Ferreira (2012). ** Brollo e Tominaga, 2012; Brollo et al. (2011; 2012); CEPED (2011). *** Apenas o município de Caraguatatuba
possui o PMRR. **** Carvalho e Galvão (2006); Marchiori-Faria e Santoro (2009).
230
Nesse quadro atual de instrumentos de gestão e ordenamento territorial
para a região de estudo, no contexto de cidades ‘resilientes’ (UNISDR, 2012b), há
alguns aspectos considerados essenciais que devem ter maior atenção: (1) incluir a
redução do risco de desastres em novas regulamentações de planejamento urbano,
planos e atividades de desenvolvimento; (2) instituir conselhos/comitês de gestão de
desastres dedicados à redução de riscos de desastre e engajar-se na consulta de
múltiplos lados interessados. Ou seja, criar espaços de diálogo entre tomadores de
decisão, pesquisa científica e, sobretudo, a sociedade; (3) promover a melhoria da
infraestrutura atenuante do perigo/risco; e (4) estabelecer programas de
educação/sensibilização/formação (por exemplo, avaliação de desastres nas escolas –
UNISDR, 2012c).
Por outro lado, os governos ainda têm de avançar em uma gestão mais
eficiente entre as escalas regionais e locais para propiciar ações que favoreçam a
resolução de ‘antigos’ dilemas, como desigualdade social, serviços básicos
inadequados ou saneamento básico, ocupações irregulares em áreas de preservação
ambiental ou potenciais riscos de deslizamento de terra e áreas de inundação –
Figura 8. 2.
231
A comunicação de risco e a participação ou inclusão da sociedade civil para
combater os riscos climáticos e ambientais são essenciais no contexto da gestão de
risco de desastres (RENN 2008; 2011; MOSER; LUGANDA, 2006; MOSER, 2010a, b; DI
GIULIO; FERREIRA, 2013). A ausência de diálogo entre as políticas públicas e
comunidade/sociedade e de feedback sobre os problemas reais que afetam as
políticas e os instrumentos de gestão compromete os principais objetivos para reduzir
ou mitigar os riscos. A comunicação de risco deve ser uma estratégia de orientação e
capacitação da sociedade e, portanto, deve servir como um elo entre as políticas
públicas, a sociedade civil e a investigação científica, visando evitar os problemas que
hoje são vistos com frequência.
232
Os resultados colocam em perspectiva que os temas ‘perigo’, ‘risco’ e
‘vulnerabilidade’ requerem ser abordados sob alguns aspectos: (i) utilização de
indicadores geoespaciais (ou não) acompanhados de análise contextual para qualificar
os resultados de investigação; (ii) análise multiescalar para capturar o fenômeno em
diferentes escalas ou níveis de análise; (iii) utilização de diferentes metodologias e
abordagens ou métodos mistos (ver também MARANDOLA Jr. e D'ANTONA, 2014);
(iv) estudos e pesquisas colaborativas como estratégia de articulação pesquisa-
ciência, gestão e sociedade.
233
Os resultados apontam para uma distribuição das áreas de riscos
geotécnico no litoral paulista, com análise enfatizada na UGRHi-3 (litoral norte de São
Paulo), classificados como ‘Muito Alta’ ou ‘Alta’ suscetibilidade a escorregamentos ou
inundações, sobretudo em áreas com acesso restrito da população aos serviços
públicos básicos, ou em condições precárias de moradia. Em particular, chama
atenção para situações de vulnerabilidade social, que têm se mantido ‘contínuas’ ao
longo de dez anos, associadas a um retrato de contrastes sociais e segregação
socioespacial, sem uma efetiva intervenção ou ação preventiva 70 para reduzir os
impactos ante a um perigo iminente de desastre.
70 Os Planos Preventivos de Defesa Civil (PPDC), que funcionam durante o período de verão [dezembro a
fevereiro], visam atender a população no período que é reconhecidamente mais chuvoso. Entretanto, as ‘efetivas
intervenções ou ações preventivas’ aqui referenciadas, se relacionam a uma articulação entre os diferentes
instrumentos de planejamento urbano, a fim de reduzir os problemas já enfrentados pela população: distribuição
de água e esgoto adequada, coleta de lixo, planos de habitação em áreas geologicamente frágeis, e assim por
diante., prevenindo os possíveis danos para a comunidade em períodos de chuvas intensas.
234
Esta pesquisa buscou avançar nas discussões teóricas e metodológicas
sobre os riscos e vulnerabilidades, por meio de uma abordagem multiescalar,
identificando as áreas de riscos (geotécnicos) e as situações de vulnerabilidades às
mudanças climáticas e ambientais.
Um tema pouco explorado nesta pesquisa, mas que de certa forma foi
tangenciado, foi o da construção social do risco no contexto de mudanças
climáticas. Nos resultados do levantamento de percepção de riscos, emergiu que a
noção de risco se baseia em interpretações causais dos acontecimentos – ficou
evidente a ambivalência que pode ser interpretada nas respostas sobre a adaptação
às mudanças climáticas – a maioria disse que o risco é do vizinho, havendo uma
235
negação do indivíduo sobre o risco em que está colocado e suas causas são
multifatoriais: religiosas, econômicas, culturais até a incerteza dos fenômenos
climáticos e do mapeamento de áreas riscos, colocando em xeque a técnica – como
previsto na teoria de U. Beck. E na prática, parece que a baixa frequência de grandes
catástrofes como escorregamentos de terra, inundações fornece alguns indícios de
que o risco é interpretado de acordo com os acontecimentos – sociais e ambientais –,
mostrando que parte dos entrevistados permanece em suas moradias ante o risco,
porque o risco ‘é do outro’; em última instância, o risco é contingente 72 – pode ser
que aconteça ou não. Entretanto, também foi observado nas respostas de percepção
de risco que as mudanças climáticas estão acontecendo e que a própria população tem
responsabilidade para reduzir os possíveis impactos advindos dessas mudanças. E
neste ponto é chave considerar a reflexividade da sociedade sobre os riscos em que
ela está colocada, sendo relevante a contribuição de A. Giddens para este tema.
236
Retomando as hipóteses levantadas no início da pesquisa, buscou-se
responder a hipótese H(1) – Os riscos às mudanças climáticas atingem a todos, mas em
graus variados. Os resultados dos Capítulos 4, 5 e 6 apontaram que, ainda que em um
contexto de incertezas sobre as mudanças climáticas, os riscos [advindos dos efeitos
negativos dessas mudanças] podem atingir indistintamente ‘ricos’ e ‘pobres’, porém
seu grau [de risco] varia de acordo com os aspectos socioeconômicos e de acesso aos
recursos que propiciam uma resposta ou uma adaptação mais rápida diante de um
perigo iminente. Esses resultados, no contexto da discussão teórica proposta por
O’Brien et al. (2007; 2013) ilustram exemplos de uma análise da vulnerabilidade como
resultado ou outcome.
Em relação à hipótese H(2), nas seções 7.1, 7.2 e 7.3 foram observadas
algumas respostas contraditórias, em princípio – por exemplo, a grande maioria dos
entrevistados percebe os riscos quanto aos problemas que podem ser agravados pelas
mudanças climáticas, entretanto, não percebe os riscos a que estão expostos. Parte da
explicação advém de que, muitas vezes, o risco é negado ou simplesmente não
percebido por quem está sujeito a ele, ao passo que o risco para os ‘vizinhos’ [dos
entrevistados] existem na sua percepção. Os resultados, à luz de exemplos também
observados fora do Brasil [em grande parte em países em desenvolvimento], apontam
que ainda há pouca preparação para agir em uma situação de emergência, pois ainda
não há consolidada uma ‘cultura de prevenção do risco’.
237
tendem a negar [seja porque estão numa situação em que não têm opção de moradia,
seja por que têm um vínculo com o lugar onde vivem ou porque, simplesmente,
ignoram os riscos e aceitam viver seu cotidiano entregues às mãos de Deus].
Obviamente não é uma tarefa trivial, uma vez que a pesquisa técnico-
científica ainda tem o desafio de avançar os trabalhos em múltiplas escalas e de
238
integrar os métodos tradicionalmente chamados de ciências “duras” (naturais) e
ciências “suaves” (sociais) – ver ALVES 2012a; ALVES, 2012b) – e, especialmente, de
‘traduzir’ os resultados de forma comunicável para os gestores (muitas vezes essa
‘tradução’ aumenta a confusão conceitual e metodológica – ver O’BRIEN et al., 2013;
PICKETT et al., 1999).
239
como parte de um processo de auto-conhecimento dos problemas ou dificuldades
vividas no dia a dia).
240
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90 p.
279
ANEXO I
280
Tabela I. b. Datas de aquisição das imagens TM/Landsat 5.
Órbita/Ponto Data
218/076 09/07/1990
218/076 29/04/1999
218/076 02/09/2010
218/077 09/07/1990
218/077 29/04/1999
218/077 02/09/2010
281
Carta Internacional ao Milionésimo (MI) Nomenclatura
086/135 SF-23-Z-C-I-3-NE-D
085/125 SF-23-Y-D-III-3-NW-B
085/126 SF-23-Y-D-III-3-NE-A
085/128 SF-23-Y-D-III-4-NW-A
085/129 SF-23-Y-D-III-4-NW-B
085/133 SF-23-Z-C-I-3-NW-B
085/134 SF-23-Z-C-I-3-NE-A
084/125 SF-23-Y-D-III-1-SW-F
084/126 SF-23-Y-D-III-1-SE-E
084/128 SF-23-Y-D-III-2-SW-E
083/125 SF-23-Y-D-III-1-SW-D
083/126 SF-23-Y-D-III-1-SE-C
088/135 SF-23-Z-C-I-3-SE-B
086/129 SF-23-Y-D-III-4-NW-D
282
Bairros
Topolândia,
14 0,61 0,59
Olaria e Itatinga
(São Sebastião)
283
APÊNDICE – A.1
284
Janeiro); Neves, Muehe, 2008 (Brasil); Rao et al., 2008 (Índia); Alves et al., 2011
(Portugal); Farinaccio et al., 2009 (Brasil - Santos e São Vicente/SP); MacGrahan, Balk,
Anderson, 2007 (Asia - China e Bangladesh); Souza, 2004; 2009; 2012 (Brasil);
Kontogianni et al., 2012 (Grécia); (d) Outros (vulnerabilidade associada a
derramamento de petróleo, poluição ou qualidade do ar, áreas mineradas):
Ferreira et al., 2008b (Brasil, Ubatuba-SP); Ferreira; Cripps, 2010; Andrade et al., 2010
(Brasil - São Luís do Maranhão); Toro et al., 2012 (Colômbia).
(2) Vulnerabilidade socioeconômica: Adrianto; Matsuda, 2002 (Japão);
Cutter, Boruff, Shirley, 2003; Ibarrarán et al., 2006; Cutter; Finch, 2008 (Estados
Unidos); Ferreira, Dini, Ferreira, 2006 (Brasil - São Paulo)73; De Sherbinin; Schiller;
Pulsipher, 2007 (Brasil, Indonésia e China); Zou; Thomalla, 2008 (Ásia); Maantay et
al., 2010 (Estados Unidos); Marandola Jr. et al., 2013 (Brasil - Caraguatatuba/SP).
(3) Vulnerabilidade socioambiental: Hogan et al., 2001 (Brasil -
Campinas/SP); Alves, 2009; 2013 (Brasil - São Paulo e Cubatão); Alves et al., 2010;
2011 (Brasil - litoral de São Paulo e baixada santista); Mello et al., 2010 (Brasil - litoral
norte de São Paulo); D'Antona et al., 2010 (litoral de São Paulo; Nicolodi; Petermann,
2010 (Brasil); Saito, 2011 (Brasil – Florianópolis/SC); Gamba, Ribeiro, 2012 (Brasil -
São Paulo/SP); Mello, Batistella, Ferreira, 2012 (Brasil - litoral norte de São Paulo);
Almeida, 2012.
Em relação à abordagem qualitativa, destacam-se:
(4) Vulnerabilidade social ou sociologia dos desastres: Moser, 1998;
Blaikie et al., 2004; Hewitt, 1997; Aragón-Durand, 2007 (México); Marandola Jr;
Hogan, 2006a,b; 2009 (Brasil - Campinas/SP); Cutter et al., 2009; Hardoy; Pandiella,
2009 (América Latina); Leighton, 2011; Wisner et al., 2004; 2011; Wisner, 2009;
2010; Cannon, 1994; Cutter, 1994; 1996; Cutter, Boruff, Shirley, 2003; Pelling et al.,
2003; Bankoff et al., 2004; Leary et al., 2008a; Alexander, 2011; Wisner et al., 2004;
2011; Santos, Marandola Jr., 2012 (Brasil - São Sebastião/SP); Adger et al., 2009;
2013; Smith, 2013; Valencio et al., 2004; 2005; Valencio et al., 2009; Valencio, 2012a,b.
73Ferreira, Dini e Ferreira (2006) - utilizam a abordagem de indicadores estritamente para a questão da pobreza
na região metropolitana de São Paulo.
285
Em relação à abordagem integrada 74, destacam-se:
(5) Vulnerabilidade, adaptação ou capacidade adaptativa: Kelly; Adger,
2000; Brooks, 2003; Brooks et al., 2005; Few, 2003; Tompkins; Adger, 2005; Adger;
Vincent, 2005 (África); Luers, 2005 (México); Adger, 2006; Vincent, 2007; Polsky, Neff,
Yarnal, 2007; Awuor et al., 2008 (Kenya); Revi, 2008 (Índia); Adger et al., 2009; 2013;
O’Brien; Leichenko, 2000; O’Brien et al., 2004; 2007; Fussel; Klein, 2006; Leary et al.,
2008b.
(6) Vulnerabilidade e/ou resiliência: Turner II et al., 2003a; Folke,
Cloding, Berkes, 2003; Olsson, Folke, Hahn, 2004 (Suécia); Folke et al., 2010.
(7) Vulnerabilidade socioecológica: Turner II et al., 2003b (México e
Ártico); Alessa et al., 2008; Feitosa e Monteiro (2012); Anazawa, Feitosa, Monteiro,
2013 (Brasil - Caraguatatuba e São Sebastião/SP).
Em relação à gestão de riscos e desastres, considerando também uma
abordagem integrada, destacam-se:
(8) Impactos, vulnerabilidade, exposição e adaptação: UNEP, 2003;
Macedo, Santoro, Araújo, 2004 (Brasil - São Paulo/SP); Carvalho; Galvão, 2006
(Brasil); Kobiyama et al., 2006; Fell et al., 2008; O'Brien et al., 2008; Birkmann et al.,
2009; Brollo, 2009 (Brasil); Tominaga et al., 2009 (Brasil); Narváez, Lavell, Ortega,
2009; Mitchell, 2010, 2011; Mitchell, van Aalst, Villanueva, 2010; Mitchell et al., 2010;
Alheiros, 2011; Ekstrom, Moser, Tom, 2011; Guimarães et al., 2012 (Brasil); UNISDR,
2009, 2011; 2012a; 2013b; Ferreira, 2012; Ferreira et al., 2013 (Brasil - São
Paulo/SP); PNGRD 75, 2012; IPCC, 2012; WMO, 2013.
74 Cardona (2003) e Miller et al. (2010) mostram que, apesar dos conceitos de resiliência e vulnerabilidade
possuírem raízes diferentes e, portanto, abordagens diferentes, há forte convergência em ambos os conceitos, e
seu uso integrado é uma das possiblidades de encaminhamento das análises de vulnerabilidade.
75 Plano Nacional de Gestão de Riscos e Respostas aos Desastres - PNGRD, elaborado pela FGV Projetos, Defesa Civil
286
APÊNDICE – A.2
76Trabalho publicado em anais de congresso da V Anppas: IWAMA, Allan Yu; D'ANTONA, A.O.; ALVES, H.P.F.;
CARMO, R.L. Análise da Vulnerabilidade Socioambiental nas Áreas Urbanas do litoral norte de São Paulo. In: V
ENANPPAS...Anais, Florianópolis-SC, 2010.
287
censitários urbanos dos municípios do litoral norte de São Paulo. Assim, a população
de uma unidade do setor censitário foi distribuída igualmente na grade de células que
correspondem a essa unidade.
Para este trabalho foi estimada apenas a população ao longo da faixa costeira, situadas
em faixas entre 0 a 50 metros de altitude. Para isso, foi criada uma faixa – buffer – de
500 metros a partir da linha da costa, baseada no limite dos municípios do litoral
norte Paulista (Figura A. 1). Como há uma varição da escala ao se comparar as
distâncias da linha da costa gerada a partir do limite dos municípios, foram feitas
algumas edições sobre um mosaico de imagens SPOT (resolução de 2,5 metros) e
algumas cenas das imagens Ikonos e GeoEye (resoluções de 1 metro e 0,5 metro,
respectivamente). Imagens do Google Earth também foram utilizadas como apoio para
identificação de limites à linha costeira.
Figura A. 1. (a) Setores censitários no litoral norte Paulista e (b) faixa de 500 metros a
partir do limite da costa.
288
Os mapas de células foram sobrepostos com essa faixa de 500 metros, para estimar a
população ao longo da faixa costeira (Figura A. 2). Foram consideradas áreas de
sobreposição somente onde as células estavam totalmente inseridas na faixa de 500 m
da linha costeira.
Figura A. 2. Grade de células (100 x 100 metros) e faixa – buffer – de 500 metros da
costa em (a) São Sebastião, (b) Ubatuba, (c) Caraguatatuba, (d) Ilhabela.
Com as células espacializadas por setores, foi calculada a razão entre o total de
domicílios e população em 2000 (IBGE, 2000a,b - Censo Demográfico) com o total de
células (Tabela 3. 5), para cada município no litoral norte Paulista. Essa razão foi
multiplicada com o total de células na faixa de 500 m a partir da linha costeira. Foram
estimados cerca de 17,5 mil domicílios e quase 62 mil pessoas ao longo da faixa de
500 metros da costa do litoral norte de São Paulo.
Tabela 3. 5. Total de células (100 x 100 metros) por setor censitário e ao longo da
faixa de 500 metros da costa.
Grade de células (100 m x 100 m)
Municípios
Total de células (por setor censitário) No. de células (Faixa de 500m da costa)
Caraguatatuba 6.507 1.573
Ilhabela 26.236 5.642
São Sebastião 14.078 3.883
Ubatuba 19.768 7.060
Total 66.589 18.158
Fonte: Adaptado Mello et al. (2010)
289
Os municípios de Ubatuba e Caraguatatuba são os que concentram a maior parte dos
domicílios e da população na situação de vulnerabilidade em zonas próximas ao limite
da costa litorânea, somando aproximadamente 11,7 mil domicílios e um pouco mais
de 41 mil pessoas. Em percentuais, cerca de 28% da população (do total de 219.292
pessoas em 2000) encontravam-se em situação de vulnerabilidade pela proximidade à
linha costeira.
O esforço inicial buscou reunir e organizar os dados para essa primeira análise e
abordagem, que posteriormente levará em conta métodos que forneçam análises de
problemas multifacetados e em diferentes escalas (MARANDOLA Jr, 2009; FERREIRA,
FERREIRA, JOLY, 2011; MORAN, 2011).
290
APÊNDICE – A.3
Pesquisa de percepção de riscos socioambientais no litoral norte de SP
Nome do entrevistador Início da entrevista (hora:minutos)
Data da entrevista (dia/mês/ano)
Coordenadas geográficas/planas (graus decimais ou
Término da entrevista (hora:minutos)
metros)
(I) Caracterização do responsável pelo domicílio
Nome do entrevistado (opcional)
E-mail
Endereço/Bairro
Local de nascimento (naturalidade)
(1) Idade
(2) Sexo
(4) Escolaridade
291
(12) Sobre religiosidade. Você pratica:
Dos problemas que podem ser agravados pelas mudanças climáticas e ambientais, qual
a gravidade que você atribui a (1,2 = pouco grave; 3 = razoavelmente grave; 4,5 = muito
grave):
292
(25) Elevação do nível do mar
(27) Deslizamentos/escorregamentos
Caso haja algum dos riscos citados anteriormente, o que o impede de mudar de lugar de
moradia para outro mais seguro? (1,2 = menos importante; 3 = importância razoável;
4,5 = mais importante)
(37) Igreja/associações
293
(38) Defesa Civil
(39) Prefeitura
(41) Prefeitura
(42) Universidade
(43) ONGs
(45) Televisão
(46) Rádio
(47) Jornais
(48) Internet
294
APÊNDICE – A.4
MANUAL DE INSTRUÇÕES
PERCEPÇÃO DE RISCOS ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E
AMBIENTAIS
Caro entrevistador
Este manual tem o objetivo de auxiliá-lo na aplicação dos questionários. É importante seguir
as instruções e tê-lo sempre à mão para quaisquer dúvidas.
1. Orientações Gerais
Quando possível, é recomendável a formação de grupos de entrevistadores para a aplicação
do questionário, sendo que cada grupo deve conter pelo menos 2 entrevistadores por
domicílio, sendo
1.1. Uma pessoa responsável pelo preenchimento do questionário e;
1.2. Outra pessoa responsável pela coleta de pontos de GPS, registro fotográfico entorno do
domicílio que será entrevistado e descrição sucinta dos equipamentos públicos.
1.3. Ao se apresentar, explicando que a pesquisa se refere a um projeto da UNICAMP/NEPAM
(se for possível, identificar-se apresentando um crachá);
1.4. informar os objetivos da pesquisa: uma descrição geral dessa pesquisa – “pretende
analisar como as pessoas percebem as situações de risco e quais são as motivações para
enfrentar ou não o risco na qual são colocadas. Além disso, busca identificar quais grupos sociais
têm maior capacidade para se mobilizar e enfrentar os problemas. Os dados dessa pesquisa tem
o objetivo de articular o tema de percepção do risco nos estudos das dimensões humanas das
mudanças climáticas e ambientais. Os resultados desse trabalho visam atender aos objetivos do
projeto de pesquisa intitulado “Análise Multiescalar da Vulnerabilidade Socioambiental no
litoral norte Paulista”, para indicar quantitativamente a percepção dos riscos
(socioambientais)”.
1.5. garantir o sigilo das informações fornecidas pelo entrevistado;
1.6. após informar os objetivos perguntar se o entrevistado concorda em fornecer as
informações
1.7. vestir-se de forma discreta e simples;
1.8. tratar de maneira respeitosa o entrevistado;
1.9. caso o entrevistado tenha dificuldade ou dúvida, esclarecê-lo tomando o cuidado para não
induzir as respostas do entrevistado;
1.10. escrever de maneira legível (letra de forma) a caneta e não deixar quaisquer dos
campos em branco
Para o preenchimento das informações do domicílio, o ENTREVISTADOR deverá utilizar o
mapa de áreas de riscos fornecido pelo responsável do projeto, que deverá ser utilizado em
campo.
1.11. De acordo com o termo de referência, deverão ser entrevistadas entre 70 a 100
pessoas num prazo de 25 dias, nas áreas de riscos a definir com o coordenador da
pesquisa.
1.12. O entrevistador utilizará o método buscando otimizar as distâncias percorridas entre
cada domicílio (de cada bairro em cada cidade), começando pelo centro da cidade e visitando
295
os domicílios precisamente em áreas de riscos e seu entorno e regressando ao ponto inicial.
Após realizada a primeira entrevista em campo, a próxima deve ser feita a partir do domicílio
entrevistado a cada 2-3 domicílios (adiante) e alternando entre os lados das ruas, buscando
um amostra bem distribuída das áreas de riscos. O entrevistador deve utilizar todo o material
de apoio disponível para o planejamento das entrevistas (mapas de riscos, imagens do Google
Earth, croquis).
1.13. Caso a pessoa a ser entrevistada for moradora do domicílio ou pessoa de referência,
mas não o proprietário ou responsável pelo imóvel (por exemplo, o caseiro da casa), o
entrevistador deve aplicar o questionário.
1.14. Quando o responsável pelo domicílio ou pessoa de referência do domicílio não
estiver presente, ANOTAR o número de tentativas “frustradas”. ANOTAR caso não havia
ninguém, ou porque não quis responder o questionário.
1.15. Se na segunda tentativa não for possível falar com responsável do domicílio ou
pessoa de referência do domicílio, perguntar a pessoa presente se seria possível responder
em casa e enviar para o responsável da pesquisa. Caso for positivo, solicitar para enviar ao e-
mail do responsável da pesquisa o arquivo digitalizado/escaneado. Se não, considerar o
domicílio vizinho para a próxima entrevista.
2. Preenchimento do Questionário
Preenchimento do ENTREVISTADOR
2.1. Preencher o nome completo do entrevistador
2.2. Marcar a data da entrevista (dia/mês/ano)
2.3. Preencher as coordenadas geográficas ou planas do domicílio
2.4. Preencher o início e término da entrevista
296
2.1.10. Situação ocupacional – por ocupação entende-se toda a função, cargo, profissão ou
ofício exercido. Não confundir ocupação com especialização ou formação profissional. Por
exemplo: a pessoa formada em geografia, que esteja dirigindo uma escola pública terá como
ocupação: Diretor de Escola Pública ou a pessoa formada em psicologia, mas que trabalhe num
banco como caixa, terá como ocupação: caixa de banco.
2.1.11. Renda – colocar os valores aproximados para todos aqueles que exercem ocupação.
Como a pergunta se refere ao número de salários mínimos, se a pessoa tiver dúvida, informar
o valor aproximado em reais (R$) para cada faixa de salários. Exemplo:
- ≤ 1 salário mínimo (1 SM) = ≤ R$ 622,00
- 1 a 2 salários mínimos (1 a 2 SM) = R$ 1.244,00
- 2 a 5 salários mínimos (2 a 5 SM) = R$ 1.244,00 a R$ 3.110,00
- 5 a 10 salários mínimos (5 a 10 SM) = R$ 3.110,00 a R$ 6.220,00
- > 10 salários mínimos (> 10 SM) = > R$ 6.220,00
2.1.12. Tempo de moradia (“Há quanto tempo você mora nesse domicílio?”) – marcar no
questionário a resposta que mais se aproxima do tempo de moradia informado pelo
entrevistado
2.1.13. Lugar (“Você sempre morou nessa residência?”) – idem 2.1.9.
2.1.14. Participação em associações – quando possível, anotar o NOME do tipo de associação
2.1.15. Religião – perguntar ao entrevistado se ele tem algum tipo de religião. Se for
afirmativo, anotar o NOME da religião. Fazer o registro completo do nome ou ramo da religião
ou seita. Por exemplo: católica apostólica romana, assembleia de Deus, católica ortodoxa,
testemunhas de jeová, candomblé, umbanda, quimbanda, maometana (islamita), adventista,
kardecista, xintoísta, budista, batista, anglicana, etc. Quando possível, perguntar e anotar a
frequência às reuniões/missas religiosas.
2.1.16. Proximidade dos familiares – anotar número aproximado de familiares residentes NO
MESMO BAIRRO do entrevistado
2.1.17. União da vizinhança – a escala de 1 a 5 indica do pouco unido para muito unido. Se
houver dúvida, explicar que
1 = sem união,
2 = pouco unidos,
3 = mais/menos unidos,
4 = unidos,
5 = muito unidos
297
5 = muito alta.
2.2.5. Sobre quem será mais afetado pelas mudanças climáticas/ambientais – pretende-se
saber a escala de preocupação/percepção do entrevistado sobre os problemas relacionados as
mudanças climáticas/ambientais.
2.2.6. Da questão 20 a 25, sobre os problemas que podem ser agravados pelas mudanças
climáticas/ambientais – se o entrevistado tiver dúvidas, informar que a escala de 1 a 5 indica
do pouco grave para muito grave. Se houver dúvida, explicar que
1 = nada grave,
2 = pouco grave,
3 = razoavelmente grave,
4 = grave,
5 = muito grave.
298
APÊNDICE – A.5
77
Trabalho publicado em anais do congresso da VI Anppas: MELLO, A.Y.I.; DI GIULIO, G.M.; FERREIRA, Lúcia C.;
BATISTELLA, M.; CARMO, R.L. Abordagem quantitativa em estudos sobre percepção de riscos às mudanças
climáticas: análise no litoral norte de São Paulo. In: VI ENAnppas. Anais...Belém-PA, 2012.
299
geograficamente e temporalmente distantes das pessoas (ver LEISEROWITZ, 2005;
2006). A Figura A. 3 apresenta as respostas relacionadas ao tema (ii), sobre
“Mudanças Climáticas e Ambientais” do questionário.
Ainda nesse tema, também foi perguntado para as pessoas sobre de quais problemas
que podem ser agravados pelas mudanças climáticas e ambientais, qual a gravidade
que elas atribuíam ao aumento de doenças, falta e água potável, aumento de
escorregamentos/deslizamentos em encostas de morros, aumento de
inundações/alagamentos (Figura A. 4). Observou-se que, no geral, as pessoas estão
preocupadas com o agravo desses problemas. Entre os problemas que parecem ser
mais graves é o de falta de água potável, principalmente se considerar as respostas
dos educadores ambientais da região em estudo. Entre os problemas relacionados aos
escorregamentos e inundações, as respostas seguiram um padrão semelhante
300
(consideram muito grave ou grave), mas parece que problemas relacionados à
inundação são mais evidentes quando comparados aos problemas de
escorregamentos.
301
ressacas do mar e erosões costeiras, típicos de regiões litorâneas, são os mais
percebidos pelas pessoas que vivem no local – respostas mais frequentes dos
moradores locais em risco extremamente alto (Figura A. 5c e Figura A. 5d).
302
riscos e que não presenciam em seu cotidiano eventos relacionados às mudanças
climáticas e ambientais.
Por outro lado, moradores da região (grupos G2 e G3) responderam que permanecer
no mesmo bairro onde vivem é muito importante (Figura A. 6a e Figura A. 6b). Ainda
que esses entrevistados também considerem muito importante mudarem dos bairros
ou de cidade, essas percepções podem ajudar a entender também sobre a ideia de
pertencimento do lugar das pessoas, por variadas razões (não tem opção de moradia,
não possuem condições financeiras para sair do lugar onde vive, mesmo que sejam
recorrentes os riscos) – ver trabalhos de VALENCIO et al., 2005; 2006; VEYRET, 2007;
VARGAS, 2009; DI GIULIO et al. 2010a; 2010b; 2012).
303
como Prefeitura, Universidades, Organizações Não Governamentais (ONGs) e das
próprias pessoas ou sociedade (Figura A. 7), para evitar os riscos socioambientais.
Mais de 80% das respostas consideram muito importante a responsabilidade das
prefeituras para reduzir ou evitar os riscos, sendo que as ONGs e Universidades com
menores proporções sobre a atribuição de responsabilidades (menos do que 70% das
respostas, respectivamente, nessas categorias).
304
Os entrevistados também foram perguntados sobre quais meios de comunicação
(televisão, rádio, jornais impressos, internet e audiências públicas) consideram mais
importantes para receber informações sobre mudanças climáticas e ambientais
(Figura A. 8).
No geral, todos entrevistados consideram que esses meios de comunicação são muito
importantes. Entre as respostas de muita importância, observa-se que a televisão é
canal que mais utilizam para receber essas informações e a internet é mais utilizada
pelos grupos (G1 e G3). Os moradores locais do bairro do Rio do Ouro (Caraguatatuba-
SP) – G2 – são os que mais utilizam os jornais impressos, quando comparado aos
outros grupos.
305
Figura A. 8. Governança e comunicação de riscos: respostas dos três grupos de
entrevistados em relação aos meios de comunicação que consideram mais
importantes para receber informações sobre mudanças climáticas e ambientais.
306
eventos climáticos ou ambientais que ocorrem (exemplo, chuvas, ressacas do mar,
deslizamentos e inundação). Pessoas que residem nessas áreas (de riscos), em geral,
parece que possuem uma relação de pertencimento ao lugar onde vivem. Essa relação
é fundamental e deve ser investigada em trabalhos futuros para ajudar a entender
melhor como as pessoas tem articulado suas estratégias de adaptação, muitas vezes
dependente de seu contexto (do lugar e situação em que vivem).
Esses resultados iniciais não devem ser vistos, em última análise, como um padrão
estabelecido sobre as percepções de riscos, mas podem contribuir para esse tema e
indica mais investigações, considerando um tamanho de amostra representativo da
população. Como uma proposta, considera-se de suma importância a aplicação do pré-
teste antes de realizar o survey, para (re)adequação do questionário de forma a captar
melhor as questões formuladas nessa pesquisa sobre percepção de riscos às
mudanças climáticas e ambientais.
307
pensando em identificar se a família do entrevistado já passou por alguma situação
relacionada aos eventos climáticos extremos (inundação, deslizamento de terra, etc.).
Essa informação pode ser importante para captar o contexto em que o entrevistado se
insere que pode influenciar suas percepções de risco; (iii) a definição do público alvo,
considerando obter clareza das pessoas que serão entrevistadas (definir o
responsável pelo domicílio ou a “dona de casa”, por exemplo, implica em diferentes
análises por "sexo e idade”).
308
APÊNDICE – A.6
Alto
Juqueriquerê
100,
Total 568,2
0
100,
Total 324,3
0
São Sebastião
309
26 - Rio Una 3 - Alto 10,5 3,3
Rr
21 - Rio Maresias; 22 - Rio Grande; 23 - Rio Camburi; 24 -
2 - Médio 27,9 8,9
Rio Barra do Sahy; 26 - Rio Una
Re
310
8 - Rio Perequê-Mirim; 9 - Rio Escuro/Comprido; 10 -
Rio Maranduba/Araribá
100,
Total 669,0
0
Total
1875,4
UGRHi-3
311