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2. Desenvolvimento
2.1 Fundamentação teórica
O semiárido nordestino é uma região ao mesmo tempo rica em
sua diversidade, complexo em suas inter-relações entre os organis-
mos e sensível aos impactos que potencialmente pode vir a sofrer
(CAVALCANTI et al., 2006; OLIVEIRA, 2007).
A diversidade botânica é uma das suas principais riquezas, pois o
meio com altas temperaturas, disponibilidade hídrica sazonal e forte
incidência luminosa, dentre outros aspectos, faz com que a vegetação
nativa desenvolva diversas defesas químicas ou morfológicas que são
usadas direta ou indiretamente pela população local seja no setor ma-
deireiro, seja como fonte de fitoterápicos, artesanato, dentre outros
usos. A diversidade zoológica é também bastante peculiar, pois ao
longo do tempo, este ambiente foi responsável pela evolução de uma
gama de espécies animais únicas, muitas delas endêmicas, e todas de
fundamental importância para o equilibrado funcionamento do se-
miárido como um todo. Além das riquezas biológicas, é importante
destacar a riqueza cultural da população desta região, o que torna a
interligação dos aspectos ecológicos e culturais algo interessante de
ser abordado em ações educacionais (RODRIGUEZ; SILVA, 2009).
A região semiárida tem mostrado um desenvolvimento urbano
20 Fábio de Oliveira Matos / Francisco Herbert Lima Vasconcelos
Germano de Oliveira Ribeiro / Thomaz Edson Veloso da Silva
e rural considerável. Algo que, consequentemente, tem resultado
em impactos ambientais relevantes, que refletem no aumento dos
índices de desmatamento da caatinga, na diminuição da diversida-
de zoológica local, no desenfreado uso do solo, com consequente
esgotamento de seu potencial produtivo. Este último fator tem sido
responsável pela migração da população rural para zonas urbanas
em busca de novas perspectivas de vida. Este fato está ligado ao
mau uso dos recursos naturais no meio rural, e a descaracterização
da identidade da população de regiões semiáridas, que muitas ve-
zes tem uma visão distorcida da sua relação com o semiárido. Logo,
a Educação Ambiental surge como uma ferramenta para mudar o
conceito que muitos indivíduos, pertencentes à população rural, têm
de seu próprio meio. O educador ambiental é um agente que pode
construir um novo paradigma de convivência com o meio ambiente
nesta realidade (MATTOS; KUSTER, 2004).
O Ceará é um dos estados do Nordeste Brasileiro que tem se
destacado como polo agrícola importante na região, inclusive com
uma participação considerável nas exportações no setor da fruticul-
tura. Além disso, percebe-se um desenvolvimento industrial e econô-
mico no interior do estado, que tem acarretado impactos ambientais
sobre recursos naturais importantes para a região como rios e solos
agricultáveis. Quando se analisa a questão dos recursos hídricos nos
estados que constituem o semiárido brasileiro, esta região é carac-
terizada por fatores que a tornam relativamente vulnerável quando
comparada a outras regiões do Brasil. Contribuem para esta vulnera-
bilidade os solos geralmente rasos, inviabilizando a formação natural
de aquíferos de grande volume; rios em sua maioria intermitentes,
eventos hidrológicos extremos frequentes (cheias e secas) e uma mé-
dia de precipitação de 800mm anuais com médias de evaporação em
torno de 2000mm por ano (VIEIRA; FILHO, 2006). Estes fatores fazem
com que a população desta região tenha que conviver com incerte-
zas na oferta de água, seja para consumo humano, seja para o de-
senvolvimento de atividades economicamente importantes como a
agricultura e pecuária.
Do ponto de vista quantitativo, os recursos hídricos no Ceará
ainda são mal distribuídos, pois enquanto a região metropolitana de
2.2 Metodologia
Curso Vigilantes da Água.
Este trabalho teve como objetivo desenvolver a conscientização
dos moradores locais do município de Forquilha, Ceará, e o treina-
mento destes no monitoramento bacteriológico da qualidade da
água do açude Forquilha, no período de maio a dezembro de 2010, a
fim de revelar suas condições para abastecimento humano.
A meta a ser alcançada foi a capacitação de agentes comunitá-
rios do município de Forquilha a fim de, ao final do projeto, os pró-
prios moradores do entorno realizarem o monitoramento da quali-
dade da água e desenvolverem ações para a preservação do corpo
hídrico.
Educação Ambiental: da teoria à prática 23
Primeiramente foram organizados encontros de sensibilização
com os moradores do entorno do açude, onde os professores e alunos
do Instituto Federal do Ceará (Campus Sobral) realizaram palestras
com integrantes da comunidade. Os encontros foram realizados na
Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Forquilha.
As palestras abordaram conceitos como o ciclo hidrológico, bacia hi-
drográfica e poluição dos corpos hídricos. Foram realizadas três ofici-
nas de capacitação de novos vigilantes da água do município de For-
quilha, os quais foram habilitados a realizar os procedimentos para a
análise microbiológica de maneira barata, de fácil entendimento mas
com resultado cientificamente válido. Esta metodologia, adequada
à comunidade, foi trazida para o Ceará pela Embrapa Agroindústria
Tropical e já foi testada em outros municípios. O procedimento de
análise da água compreende: coleta de água a ser analisada, ino-
culação em placas de petri advindas do IFCE, incubação em estufas
artesanais de isopor e leitura dos resultados obtidos nas análises.
Também se discutiram nas oficinas as práticas de higiene e medidas
sanitárias adequadas para a prevenção de doenças de veiculação hí-
drica; e formas de preservação dos recursos hídricos utilizados pela
população. Posteriormente foi desenvolvido, juntamente com os
participantes, um plano de monitoramento do açude Forquilha. Foi
feito um levantamento de informações a respeito dos usos da água
do açude, das condições microbiológicas da água e identificação de
fontes pontuais e difusas de poluição. Para tanto, saídas de campo
com os participantes da capacitação foram organizadas. Todas as
etapas do projeto foram realizadas com o apoio da Embrapa Agroin-
dústria Tropical, através do projeto Vigilantes da Água.
Por meio do conhecimento dos moradores da região e do que
foi aprendido nas palestras, foram identificados pontos de poluição
no entorno do açude. A seguir, cinco pontos foram escolhidos para se
realizar as análises laboratoriais. Foram coletadas do açude Forquilha
(Forquilha-CE) cinco amostras de água mensalmente, de maio a de-
zembro (exceto julho) de 2010, em cinco pontos distintos que repre-
sentaram maior heterogeneidade, sob maior influência de atividades
do entorno. Recipientes de vidro, esterilizados e com capacidade para
300ml, foram introduzidos fechados na água a uma profundidade de
3. Palestras e Oficinas
A abordagem teórica foi realizada por meio de sete palestras,
duas oficinas e uma vivência. Todas as abordagens foram pensadas
de forma a terem seus assuntos interligados, mesmo com palestran-
tes diferentes, os assuntos se mostraram complementares entre si.
A palestra de abertura tratou sobre Educação no Campo, espe-
cificamente descrevendo as experiências com a população indígena,
gestão ambiental e territorial com os índios da região norte do Cea-
rá. A pressão agrícola sobre o território indígena e como é a relação
dos índios com os produtores daquela região foi relatada, inclusive
tratando também de possíveis ações a respeito da situação no local.
A palestra seguinte abordou aspectos sobre a demarcação de terras
e os conflitos territoriais da população indígena e quilombolas. As
ações ambientais dentro da temática indígena que foram tratadas
estão todas inseridas no contexto do semiárido e os usos de seus re-
4. Considerações finais
Por meio dos eventos realizados, conclui-se que estas interven-
ções colaboram positivamente no empoderamento comunitário e
também de estudantes universitários em formação que atuarão na
realidade semiárida.
A capacitação Vigilantes da Água foi uma experiência bastante
satisfatória de como a população local pode e deve fazer parte das
soluções de problemas ambientais onde vivem. Os moradores locais
são os mais aptos, por conhecerem a localidade e também por terem
maior potencial de mobilização dentro da comunidade.
O curso “Multiplicadores Ambientais para o Semiárido” mostrou
aos participantes não apenas uma abordagem técnica e teórica da
situação na região Nordeste, mas inovou trazendo um olhar mais hu-
mano ao tema, aproximando os educadores da realidade ecológica
e social de uma área preservada do semiárido, e das experiências e
benefícios que a conservação traz para a região.
5. Referências
AIRES, R.; NASCIMENTO, F. R.; GIRÃO, E. G.; ARAÚJO, L. F. P.; GOMES, R. B.; ALVES, A.
B.; ARAÚJO, T. M. S.; ROSA, M. F.; FIGUEIREDO, C. B. Monitoramento participativo
em comunidades rurais no vale do Jaguaribe: a experiência do Assentamento
Rural Santa Bárbara em Jaguaretama-CE como alternativa viável. In: VII ENCONTRO
DE PESQUISA E PÓS GRADUAÇÃO E VII ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E
TECNOLÓGICA DO CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO CEARÁ.
Fortaleza: Anais, 2007.
ARAÚJO, T. M. S.; GIRÃO, E. G.; ROSA, M. F.; ARAÚJO, L. F. P. Monitoramento partici-
pativo da qualidade da água de fontes hídricas em comunidades rurais: o caso